David Brainerd nasceu a 20 de abril de 1718, no estado de Connecticut, nos
Estados Unidos da América. Seu pai se chamava Ezequias Brainerd, um advogado, e
sua mãe, Dorothy Hobart, era filha do Pr. Jeremias Hobart. David foi o terceiro
filho, de um total de cinco filhos e quatro filhas. Foi um menino de saúde
muito frágil, que acabou sendo privado de uma vida social mais dinâmica com
outros garotos de sua idade. Sempre teve uma natureza sóbria, e um espírito
reservado. Em sua infância, embora preocupado com o destino de sua alma, não
sabia o que era conversão. Seu pai morreu quando ele estava com apenas nove
anos, e aos catorze anos ele perdeu também sua mãe. Tornou-se ainda mais
tristonho e melancólico, e os valores religiosos que recebeu na infância
começaram a declinar em sua juventude.
Entretanto, como fruto da obra preveniente da graça divina, Brainerd
afastou-se de algumas companhias indesejáveis, e começou a dedicar tempo à
oração individual. Começou a ler mais a Bíblia e formou com outros jovens um
grupo para encontros dominicais. Começou a dedicar bastante atenção às
pregações, e procurava aplicá-las à sua vida. Ainda assim, ele não conhecia a
Cristo pessoalmente. Tornou-se ainda mais zeloso no terreno da religiosidade, e
sentiu a convicção e o peso do pecado, adquirindo o mais agudo senso do perigo
e da ira de Deus. Contudo, suas esperanças ainda não estavam depositadas na
justiça de Cristo, mas em si mesmo. Finalmente, o Espírito de Deus o conduziu à
fé em Cristo, e ele passou a experimentar o descanso de uma vida justificada, e
a ação do poder de Deus em uma Novidade de Vida. Tinha vinte e um anos.
Dois meses depois de sua conversão, Brainerd ingressou na Universidade de
Yale. Mesmo num contexto de algumas pressões, ele dedicou bom tempo à comunhão
a sós com Deus. As enfermidades, muitas vezes, atrapalhavam seus estudos. Num
momento particularmente difícil, ele contraiu tuberculose e expelia sangue pela
boca. Ainda assim, ele trabalhou intensamente e obteve distinção como
estudante. Porém, quando estava em seu terceiro ano de universidade, teve de
deixar a escola devido a uma circunstância bastante delicada. Isso significou
um grande desapontamento para ele, pois, mais tarde, no dia em que os outros
colavam grau, Brainerd escreveu em seu diário: “Neste dia eu deveria receber
meu diploma, mas Deus achou conveniente negar-me isso”.
Foi justamente nesse período que se acentuaram suas preocupações com as
almas perdidas. Ele começou a pensar profundamente sobre as pessoas que nunca
tinham ouvido falar de Cristo. Chamou-lhe particular atenção a triste condição
dos índios norte-americanos. Não havia muitos missionários trabalhando entre
eles. Brainerd começou a colocar em prática o seu amor pelos índios, obtendo
maiores informações sobre sua realidade e orando freqüentemente por eles. O desejo
de levar o Evangelho aos índios foi crescendo em seu coração.
A ocasião surgiu em que Brainerd pôde apresentar-se como missionário aos
índios. Sua saúde precária era um fator de preocupação, tendo em vista as
condições inóspitas e difíceis que enfrentaria. Seus amigos lhe diziam: “Se
Deus quer que você vá, Ele lhe dará forças”. Quando tinha vinte e quatro anos,
ele escreveu em seu diário: “Quero esgotar minha vida neste serviço, para a
glória de Deus”. No ano seguinte, começou a dedicar sua vida pregando aos
índios nas florestas solitárias e frias. Vendeu seus livros e roupas que não
usaria, e começou a vida bastante isolada e marcada por uma trajetória de
auto-sacrifício e sofrimento. Mas Deus o abençoou ricamente. Como um “grão de
trigo que morre ao cair na terra”, Brainerd não ficou só; a morte deste “grão
de trigo” produziu muito fruto - tendo tido o privilégio de visitar alguns
lugares relacionados à vida de Brainerd, inclusive o local em que ele
primeiramente pregou aos índios, fiquei pessoalmente impressionado com o seu
caráter e renúncia, fruto da poderosa graça de Deus em sua vida.
Freqüentemente, Brainerd ficou exposto ao frio e à fome. Não podia ter o
conforto da vida normal. Viajava a pé ou cavalgando por longas distâncias, dia
e noite. As viagens eram sempre perigosas. Para atingir algumas tribos
distantes, devia passar por montanhas íngremes na escuridão da noite.
Atravessou pântanos perigosos, rios de forte correnteza, ou florestas
infestadas de animais selvagens. Tinha de viajar quinze a vinte e cinco
quilômetros para comprar pão, e, às vezes, antes de comê-lo, o pão estava azedo
ou mofado. Dormia sobre um monte de palha que estendia sobre tábuas erguidas um
pouco acima do chão. Em muitos momentos estava só, e ficava feliz quando podia
contar com seu intérprete para conversar. Não tinha companheiros cristãos com
quem pudesse dividir o fardo em momentos de comunhão e oração. “Não tenho
nenhum conforto, a não ser o que me vem de Deus”, escreveu ele.
Seu ministério tornou-se bem amplo, alcançando índios nos estados
norte-americanos de Nova Iorque, Nova Jersey, e ao leste da Pensilvânia.
Havendo encontrado os índios em meio a muitas superstições, e recebendo muitas
vezes os efeitos da fúria de seus sacerdotes, Brainerd pôde declarar o poder de
Deus acima de todos os deuses. Apesar de todas as dificuldades, era movido por
um intenso desejo de contemplar a salvação dos índios. Com isto em vista,
aliou, por muitas vezes, o jejum à oração. “Não importa onde ou como vivi, ou
por que dificuldades passei, contanto que tenha, desta maneira, conquistado
almas para Cristo”, escreveu ele. Boa parte de seu trabalho era feito em lutas
físicas, especialmente tendo em vista sua saúde sempre precária, e , como
escreveu Edwards, “sua própria constituição e temperamento natural, muito
inclinado para a melancolia” – e sobre isto, acrescenta Edwards, “ele excedeu a
todas as pessoas melancólicas que conheci”.
O fato é que Deus honrou sobremaneira o ministério de Brainerd. O Espírito
de Deus desceu poderosamente sobre os índios, num grande avivamento que afetou
tribos inteiras. Por volta de 1745, mesmo os índios que viviam de forma
impiedosa, opondo-se à pregação do Evangelho, se convenceram do pecado. Vários
se converteram. Muitos brancos, que apareciam por curiosidade para ouvir o que
Brainerd dizia aos índios, também foram convertidos. Índios de toda floresta
ouviram falar de Brainerd e vinham em grande número ouvi-lo. Era muito comum
ouvir os altos brados dos índios pela misericórdia de Deus, toda vez que
Brainerd pregava. Seu ministério influenciou também as crianças índias. Ele
criou escolas em que elas eram ensinadas a lavrar a terra e a semear, além de
receberem os ensinos do Evangelho de Cristo.
Ao escolher o trabalho nas florestas úmidas, Brainerd sabia que não
poderia esperar viver muito. Ele assistiu seu corpo definhar, pouco a pouco.
Aos vinte e nove anos, foi colocado em seu leito de morte, sofrendo terrível
agonia e dor física. Testemunhou de Cristo em seus momentos finais, e anelava
por encontrar-se com o Senhor. Ele faleceu em 09 de outubro de 1747, tendo sido
sepultado em Northampton, Massachusetts. Jonathan Edwards conduziu o funeral.
Foi uma vida curta, mas que glorificou a Deus grandemente.
Edwards, que o conheceu muito bem, podia dizer de Brainerd:
(...) dotado de um gênio penetrante, de pensamento claro, de raciocínio
lógico e de julgamento muito exato, como era patente para todos que o
conheciam. Possuidor de grande discernimento da natureza humana, perscrutador e
judicioso em geral, ele também sobressaía em juízo e conhecimento teológico, e,
sobretudo, na religião experimental.
Num artigo em 2001, eu escrevi:
David Brainerd é um exemplo de alguém que resolveu colocar sua vida no
altar (...) As privações, o trabalho incansável, as intempéries consumiram o
seu vigor. Uma prolongada enfermidade ceifou sua vida. Devido à sua fragilidade
física e aos rigores do campo missionário, ele contraiu tuberculose. Brainerd
calculou o preço do seguir a Cristo e deliberadamente fez uma escolha que
significava separar-se do mundo civilizado, com suas vantagens, e associar-se à
dureza, ao trabalho e, possivelmente, a uma morte prematura e solitária.
Entretanto, homens como William Carey, Henry Martyn, Robert Mürray McCheyne,
John Wesley, Jonathan Edwards, Charles Spurgeon, Oswald Smith, Jim Elliot,
citando apenas alguns, testemunharam a grande influência da biografia de
Brainerd em suas vidas. Um biógrafo de Brainerd diz que ele “foi como uma vela
que, na medida em que se consumia, transmitia luz àqueles que estavam em
trevas”.
Algo muito importante que Brainerd fez foi escrever um diário, no qual
registrou as experiências que lhe surgiram. Neste diário, editado por Jonathan
Edwards, Brainerd faz uma breve explanação de sua infância e juventude, e
começa a narrar-nos os fatos, escrevendo periodicamente a partir de 18 de
outubro de 1840. Ainda que Brainerd tenha lutado quase que “invencivelmente”
contra a publicação de qualquer porção de seu diário, este, publicado depois de
sua morte, tem sido um instrumento de Deus para influenciar a vida de muitas
pessoas. O Diário de David Brainerd foi publicado em português pela Editora
FIEL, em 1993.
FONTE; http://www.editorafiel.com.br/
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