II - A INSTITUIÇÃO DOS DIÁCONOS
1. O conceito da função.
DIÁCONO
Sua forma verbal (diakonein) significa "servir", particularmente
"servir às mesas" (cf. Arndt, p. 183). Tem a conotação de um serviço
muito pessoal, intimamente relacionado com servir por amor. Para os gregos, o
serviço era raramente dignificado; o desenvolvimento próprio deveria ser a meta
de uma pessoa ao invés da humilhação própria. Enquanto a LXX não usa a palavra
diakonein ("servir"), o judaísmo conserva uma visão diferente sobre o
serviço. Isso está exemplificado no segundo mandamento: "Amarás o teu
próximo como a ti mesmo" (Lv 19.18; cf. Mc 12.31). Foi isso que o nosso
Senhor ensinou quando lavou os pés de seus discípulos, acrescentando:
"Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós
também" (Jo 13.15). O uso generalizado da palavra "diácono" no
NT foi classificado por H. W. Beyer ("Diakoneo, etc", TDNT, II.
81-93) e foram sugeridas as seguintes formas adaptadas: (1) "o servente em
uma refeição" (Jo 2.5,9); (2) "o servo de um mestre" (Mt 22.13;
Jo 12.26); (3) "o servo de um poder espiritual", bom (Cl 1.23; 2 Co
3.6; Rm 15.8) ou mau (2 Co 11.14ss; Gl 2.17); (4) "o servo de Deus"
(2 Co 6.3ss.) ou de Cristo (2 Co 11.23) como no caso de Paulo, ou como foi
aplicado a seus companheiros de trabalho (1 Ts 3.1-3; 1 Timóteo 4.6; Cl 1.7;
4.7); (5) "os [gentios como] servos de Deus" (Rm 13.1-4); (6)
"um servo da igreja" (Cl 1.24,25; 1 Co 3.5). Nos escritos gregos esse
nome está relacionado muito de perto com o sentido do verbo. Ele descreve um
atendente à mesa, um servo, um mensageiro, um garçom e ainda era usado com
referência a ocupações específicas, como padeiro ou cozinheiro. O termo aparece
poucas vezes na LXX e sempre comum sentido secular. Ele descreve os servos do
rei em Ester 1.10; 2.2; 6.3,5. Em Provérbios 10.4 (na LXX) o tolo deve ser
"servo" do sábio. Josefo, o historiador da nação judaica,
caracterizou Eliseu como "discípulo e servo" de Elias".
Quando a
palavra diaconato apareceu pela primeira vez na igreja primitiva? Foi em Atos
6.1-6? Na passagem que trata da escolha e nomeação dos sete, a palavra
"diácono" não aparece. E enquanto os termos diakonia
("ministério" ou "serviço") e diakonein ("servir a uma
mesa") realmente aparecem (At 6.1,2,4) eles são usados, segundo parece, em
um sentido não técnico, isto é, eles se referem a trabalhadores e não aos
ocupantes de um posto. Isso está indicado pela expressão "servir às
mesas" e pela referência ao ministério da Palavra, onde o mesmo termo
aplica-se a ambos os tipos de serviço. Lightfoot (na obra Philippians, pp.
188ss.) considera os sete como os primeiros diáconos, pois
(1) seus deveres
eram semelhantes àqueles que desde essa época haviam caracterizado o
"diaconato"; por exemplo, o cuidado para com as viúvas e os órfãos, e
a prática de atos de caridade.
(2) Era uma função recém criada sem se igualar
ao ministério levítico, nem ao ministro da Sinagoga (o Chazan). E,
(3) o
ministério de ensinar como, por exemplo, o de Estevão e Felipe, era um
incidente do ofício introduzido apenas pela necessidade das circunstâncias.
Rackam (na obra Acts, pp. 82-86) conclui que o "ofício" em Atos 6 era
"único, isto é, único no mesmo sentido do apostolado". Os sete diáconos
correspondem aos 12 discípulos, e a lista completa de seus nomes mostra essa
relação. Portanto, nesses dois grupos estão os ancestrais dos presbíteros e dos
diáconos. Em Romanos 16.1, Paulo refere-se a Febe como diakonon
("diaconisa" q.v.) da igreja de Cencréia. Seria ela uma ocupante do
cargo ou a palavra simplesmente descreve seus serviços na comunidade? E
impossível dizer. Por exemplo, no caso da referência às mulheres em 1 Timóteo
3.11 seriam elas esposas dos diáconos ou seriam "diaconisas"? Com
referência a uma pessoa que ocupa um cargo específico na igreja, a palavra
diakonos ("diácono") ocorre em apenas duas passagens do NT.
Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8,12. O texto em Filipenses 1.1 contém a saudação
de Paulo aos "bispos e diáconos".
Embora nenhuma atividade esteja
especificada aqui, elas representam duas funções existentes e relacionadas,
consideradas como distintas no corpo dos santos em geral. Em 1 Timóteo 3.13,
podemos observar a mesma relação: o "bispo" (w. 1-7) e o
"diácono" (vv. 8-13). Os diáconos deviam ser homens de caráter
disciplinado e de elevada reputação moral (w. 8,9), deviam estar qualificados
para o cargo por se mostrarem "irrepreensíveis" (v. 10) e ter o
controle de seus próprios
lares (v.
12). O fato de em seus ministérios de caridade e de auxílio entrarem em contato
com o povo e com posses materiais, exigia qualidades especiais de caráter. Não
deviam ser de "língua dobre" nem "cobiçosos de torpe
ganância" (v. 8). Paulo não especifica como os diáconos deveriam ser
escolhidos, no entanto eles deviam ser primeiramente "provados" e
Timóteo esperava, certamente, estar capacitado a aprová-los. O desenvolvimento
histórico do cargo do diácono está ligado ao do bispo. Veja Bispo para a
questão da seleção. Em outras passagens do NT, Paulo usa o termo ministro para
indicar a presença de seus companheiros no ministério do Evangelho -Timóteo (1
Ts 3.2), Tíquico (Cl 4.7), Epafras (Cl 1.7). O ministério do próprio Paulo (1
Co 3.5; 2 Co 3.6; 6.4; 11.15) assim como o ministério de Cristo (Em 15.8) também
são designados dessa maneira. Essas últimas referências indicam que esse termo
não era, de forma alguma, aplicado a serviços inferiores. W. M. D. e A. F. J.PFEIFFER
.Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 552-553.
DIÁCONO
diakonos
(em português, “diácono”), denota primariamente "criado", quer aquele
que faz trabalhos servis, ou o ajudante que presta serviços voluntários, sem
referência particular ao seu caráter.
A palavra
está provavelmente relacionada com o verbo diõkõ. “apressar-se após,
perseguir" (talvez dito originalmente acerca de um corredor). "Ocorre
no Novo Testamento em alusão aos criados domésticos (Jo 2.5.9); ao governante
civil (Rm 13.4); a Cristo (Rm 15.8; Gl 2.17); aos seguidores de Jesus em sua
relação com o Senhor (Jo 12.26: Ef 6.21; Cl 1.7; 4.7); aos seguidores de Jesus
em relação uns com os outros (Mt 20.26: 23.11: Mc 9.35; 10.43); aos servos de
Cristo no trabalho de orar e ensinar (1 Co 3.5: 2 Co 3.6: 6.4; 11.23: Ef 3.7;
Cl 1.23.25: 1 Ts 3.2; I Tm 4.6); àqueles que servem nas igrejas (Rm 16.1 [usado
acerca de uma mulher só aqui no Novo Testamento]; Fp 1.1; 1 Tm 3.8.12); aos
falsos apóstolos, servos de Satanás (2 Co 11.15).
O termo
diakonos é usado uma vez onde. aparentemente, a referência é aos anjos (Mt
22.13); em Mt 22.3. onde a referência é aos homens, o termo doulos é usado**
(extraído de Notes on Thessalonians, de Hogg e Vine. p. 91).
O termo
diakonos deve. falando de modo geral, ser distinguido do termo doidos,
"servo, escravo”: o lernio diakonos encara o servo em relação ao seu
trabalho: o termo doidos o vê em relação ao seu mestre.
Veja. por
exemplo. Mt 22.2-14; aqueles que chamam os convidados e os trazem (Mt
22.3.4.6.8.10) são os douloi: aqueles que executam a sentença do rei (Mt 22.13)
são os diakonoi. Nota: Quanto aos termos sinônimos, leitourgos denota
"aquele que executa deveres públicos"; misthios e misthôtos, “servo
contratado"; oiketes, “servo doméstico**; huperetes. “funcionário
subordinado que serve seu superior" (designava, originalmente. o remador
da fileira de baixo numa galera de guerra); therapon, aquele CUJO serviço é O
de liberdade e dignidade. Veja MINISTRO. SERVO.
Os
denominados “sete diáconos" em At 6 não são mencionados por esse nome.
embora o tipo de serviço no qual estavam engajados era do caráter daquele
consignado para tal.W. E. VINE; Merril F. UNGER;
Wllliam WHITE Jr. Dicionário VINE. Editora CPAD.
pag. 563.
2. Origem
do diaconato.
O
ministério ou serviço dos diáconos surgiu a partir de uma bênção, de um
problema e de uma murmuração. A bênção foi o crescimento extraordinário dos que
criam em Jesus e o aceitavam como Salvador, deixando o judaísmo e outras
religiões e tornavam-se cristãos. O problema foi causado pela situação social
de muitos que aceitavam a fé, especialmente envolvendo viúvas dos gregos ou
gentios, que aceitavam o evangelho. A murmuração foi a reclamação desses, que
se julgavam discriminados pelos líderes da Igreja, em relação ao atendimento de
suas necessidades básicas. Diz o texto:
“Ora,
naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos
gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério
cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é
razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei,
pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito
Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas
nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou
a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e
Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de
Antioquia; e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram
as mãos. E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o
número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” (At 6.1-7 —
grifo nosso).
Mas os
líderes da Igreja foram sábios. Não procuraram resolver tamanha questão
sozinhos. Reuniram a multidão, em assembleia, a eclésia, e elegeram sete homens
com qualidades exemplares sobre aquele “importante negócio”, para que os
líderes pudessem perseverar “na oração e no ministério da palavra”. Na maioria
das igrejas, os diáconos estão desviados da função para que foram instituídos,
que foi cuidar da assistência social dos carentes. Mas sua escolha é de grande
valor para o funcionamento ministerial das igrejas cristãs.Elinaldo
Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com
poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 141.
A
instituição do diaconato
O diácono
é o único ministério cristão a originar-se de um fato social; surgiu de uma
premente necessidade da Igreja Primitiva: o socorro às viúvas helenistas.
Atenhamo-nos no que diz o texto que escreveu Lucas (At 6.1-7). Do texto
sagrado, apontemos alguma das razões que levaram os apóstolos a instituírem o
diaconato:
a) O
crescimento da Igreja
Do
Pentecostes à instituição do diaconato, a Igreja Primitiva cresceu de três mil
convertidos, a cinco mil; a partir daí, o rebanho do Senhor não mais parou de
multiplicar-se (At 2.41; 4.4). De forma que, em atos capítulo seis, o número de
discípulos já havia superado a capacidade estrutural da Igreja (At 6.1).
Crescendo o número de fiéis, cresceram também os problemas. Tivesse a Igreja se
limitado aos cento e vinte, certamente nenhuma dificuldade teriam os primitivos
cristãos. Não haveriam de precisar de diáconos, nem de pastores, e até os
mesmos apóstolos seriam prescindíveis. Acontece que as grandes igrejas
enfrentam grandes desafios, e demandam, por conseguinte, grandes soluções. Com
a chegada das ovelhas, vai o aprisco deixando sua rotina, vai o pastoreio
desdobrando-se em cuidados e desvelos pelas almas, e o Reino de Deus vai
alargando suas fronteiras e descortinando os mais promissores horizontes.
b) O
descontentamento social
Relata-nos
Lucas que “houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as
viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. Tal
contingência não podia esperar; exigia imediata solução. Caso não houvesse uma
alternativa urgente e satisfatória, a situação deteriorar-se-ia, agravando a
injustiça social, e aprofundando a fissura entre os dois principais segmentos
culturais da igreja em Jerusalém: os hebreus e os helenistas.A
situação que se desdenhava deixou os apóstolos mui preocupados. Como
israelitas, sabiam eles que a injustiça e a desigualdade social eram
intoleráveis aos olhos de Deus (Dt 15.7,11).
c) O
comprometimento do ministério apostólico
Continuassem
os apóstolos a suprir as necessidades dos órfãos e das viúvas, haveriam de
comprometer de forma irremediável as principais funções de seu ministério (At
6.2-4). Por isso deliberaram: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de
Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de
boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos
deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (At
6.2-4). Como seria maravilhoso se os pastores seguissem o exemplo dos
apóstolos! Infelizmente, não são poucos os que se acham de tal forma empenhados
com os negócios materiais do rebanho, que já não têm tempo de orar, nem mais
ligam importância à exposição da Palavra. Transformaram-se em meros executivos.
Vivem mais preocupados com os rendimentos financeiros do redil do que com o
bem-estar das ovelhas. Será que ainda não perceberam ter sido o diaconato
instituído justamente para que os pastores nos entregassem amorosamente à oração
e à proclamação dos conselhos de Deus? Queira o Senhor que, no termino de nosso
ministério, possamos dizer como o apostolo Paulo: “Porque jamais deixei de vos
anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).
d) A
organização ministerial da Igreja
Até a instituição
dos diáconos, a Igreja conhecia apenas o ministerial apostólico. Eram os
apóstolos responsáveis inclusive pelo socorro cotidiano. E isto, como vimos,
por pouco não compromete o desempenho do principal magistério da Igreja. Com a
instituição dos diáconos, porém, formou-se a base do ministério eclesiástico.
Levemos em conta também os anciãos; estavam eles sempre prontos a secundar os
apóstolos. Mais tarde, o termo ancião (ou presbítero) passaria a ser sinônimo
de pastor e bispo. Desde então, apesar das várias formas de governo
eclesiásticos, a Igreja vem funcionando a contendo, cumprindo suas varias
tarefas, tendo como base o modelo de Atos dos Apóstolos.Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
A
discordância infeliz entre alguns membros da igreja, a qual poderia ter trazido
consequências maléficas, mas foi prudentemente apaziguada e repreendida a
tempo: Crescendo o número dos discípulos (pois assim eram chamados os cristãos
no princípio: os aprendizes de Cristo) a muitos milhares em Jerusalém, houve
-uma murmuração (v. 1).
1. Nosso
coração se sente bem ao descobrir que cresceu o número dos discípulos (v. 1), à
proporção inversa que, sem dúvida, irritou o coração dos sacerdotes e saduceus
(cap. 4.1; 5.17) pelo mesmo motivo. A oposição que a pregação do evangelho
enfrentou, em vez de deter seu progresso, contribuiu para o seu sucesso. Quanto
mais afligiam os membros da igreja cristã incipiente, como fizeram com os
membros da igreja judaica infante no Egito, tanto mais se multiplicavam e tanto
mais cresciam (Ex 1.12). Os pregadores eram surrados, ameaçados e maltratados,
mas, mesmo assim, as pessoas recebiam sua doutrina. Eram atraídas, sem dúvida,
pela maravilhosa paciência e alegria nas provações que demonstravam. Esse comportamento convencia as pessoas de
que eles tinham e eram sustentados por um espírito melhor que o deles próprio.
2.
Causa-nos desalento descobrir que o crescimento do número dos discípulos (v. 1)
dá oportunidade para discórdias. Até agora, todos eles eram unânimes em uma
mesma opinião. Esta. observação frequente significava uma honra para eles. Mas
agora que cresciam em número, começaram a murmurar, semelhantemente ao que
ocorreu no velho mundo. Quando os homens começaram a multiplicar-se, eles se
corromperam (Gn 6.1,12). Tu multiplicaste este povo e a alegria lhe aumentaste
(Is 9.3). Quando as famílias de Abraão e Ló aumentaram, houve contenda entre os
pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló (Gn 13.7). O mesmo estava
ocorrendo aqui: Houve urna murmuração, não uma desavença aberta, mas um
ressentimento secreto. (1) Os queixosos eram os gregos, ou helenistas, contra
os hebreus (v. 1). Os gregos eram os judeus que se espalharam pela Grécia e
outras regiões, falavam comumente a língua grega e liam o Antigo Testamento na
versão grega, não no original hebraico. Muitos deles estavam em Jerusalém para
a festa quando aceitaram a fé cristã e foram acrescentados à igreja. Estes
murmuraram contra os hebreus, que eram os judeus nativos que usavam o original
hebraico do Antigo Testamento. Alguns pertencentes a cada um desses grupos se
tornaram cristãos, mas, pelo visto, essa aceitação conjunta da fé não teve
sucesso, como deveria, em extinguir os poucos ciúmes que tinham uns dos outros
antes da conversão. Eles retiveram um pouco do fermento velho e não entenderam
ou não se lembraram de que em Cristo Jesus não há nem grego nem judeu (Cl 3.9).
Portanto, não há distinção entre hebreus e helenistas, mas todos são igualmente
acolhidos em Cristo, e deveriam ser, por causa dele, queridos uns dos outros.
(2) A
murmuração destes gregos era que as suas viúvas eram desprezadas no ministério
cotidiano (v. 1), quer dizei; na distribuição dos fundos de caridade pública, e
as viúvas hebreias eram mais bem cuidadas. Veja que a primeira controvérsia na
igreja cristã envolveu finanças. E pena que as pequenas coisas deste mundo
sejam pontos de discórdia entre os que admitem ter relações com as grandes
coisas do outro mundo. Juntaram muito dinheiro para a assistência social aos
pobres, mas, como frequentemente ocorre em tais casos, era impossível agradar a
todos na distribuição do montante. Os apóstolos, a cujos pés o dinheiro foi
depositado (cap. 4.34), fizeram o que puderam para distribuí-lo de modo a
atender as expectativas dos doadores. Fizeram a distribuição, obviamente, com a
mais absoluta imparcialidade, e nem de longe intentaram respeitar os hebreus
mais que os gregos.
Contudo,
houve queixa deles, que diziam estarem as viúvas gregas sendo desprezadas.
Embora elas fossem aptas a receber esse tipo de assistência social, os
apóstolos não lhes deram o suficiente, ou não contemplaram todas, ou não deram
exatamente a mesma soma oferecida às viúvas hebréias.
[1] Talvez esta
murmuração (v. 1) fosse infundada e injusta, sem motivo algum. Mas aqueles que,
por qualquer razão, se encontram em situação desfavorável (como estavam os
judeus gregos em comparação com os que eram hebreus de hebreus), são
susceptíveis a, por ciúme, acharem que estão sendo desprezados quando na
verdade não estão. É erro comum de pessoas pobres que, em vez de serem gratas
pelo que recebem, se queixem e reclamem. Tendem a pensar que recebem pouco, ou
que os outros ganham mais que elas. Há inveja e cobiça, raízes de amargura que
se encontram tanto entre os pobres quanto entre os ricos, apesar das situações
humilhantes em que estão e às quais devem se adaptar.
[2] Partamos do
pressuposto de que havia motivo para a murmuração. Em primeiro lugar, certos
estudiosos sugerem que os outros pobres no grupo dos gregos tinham a
subsistência provida, embora as suas viúvas fossem desprezadas (v. 1). Essa
falha acontecia porque os gerentes administravam de acordo com uma regra antiga
observada entre os hebreus: a viúva deve ser sustentada pelos filhos do seu
marido (veja 1 Tm 5.4). Em segundo lugar, as viúvas, ao meu ver, são citadas no
lugar de todos os pobres, porque muitos desses que estavam nos registros da
igreja e recebiam esmolas, eram viúvas que tinham sido fartamente sustentadas
pelas atividades dos seus maridos enquanto estavam vivos, mas que caíram em
grandes dificuldades financeiras quando faleceram. Os que administram a justiça
pública devem de uma maneira particular proteger as viúvas de injustiças (Is
1.17; Lc 18.3), assim os que administram os fundos da caridade pública devem de
uma maneira particular sustentar as viúvas no que for necessário (veja 1 Tm
5.3). Perceba que estas viúvas e os outros pobres recebiam uma ajuda diária (v.
1). Talvez, após um cálculo prévio, sabiam que não podiam acumular sua porção
para o futuro. Então os administradores dos fundos, num gesto de bondade,
davam-lhes dia a dia o pão necessário. Eles dependiam do quinhão do dia para
viver. Pelo visto, as viúvas gregas foram, comparativamente, desprezadas.
Talvez os
que distribuíam o dinheiro consideraram que os hebreus ricos contribuíam mais
para o fundo do que os gregos ricos, que não tinham propriedades para vender,
como os hebreus. Por conseguinte, os gregos pobres deveriam ter menos direito
ao fundo. Embora houvesse certa dose de tolerância, tratava-se de procedimento
cruel e injusto. Veja que mesmo na igreja mais bem organizada do mundo sempre
haverá algo impróprio, administração incompetente, queixas ou, pelo menos,
algumas reclamações.HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa.
Editora CPAD. pag. 59-60.
A palavra
discípulos (1) aparece aqui pela primeira vez no livro de Atos (ver os
comentários sobre 1.15). Ela significa, literalmente, “aprendizes”. É usada nos
Evangelhos para referir-se aos seguidores de João Batista (e.g., Mt 9.14), dos
fariseus (e.g., Mc 2.18), de Moisés (Jo 9.28) e de Jesus (e.g., Lc 6.17). A sua
aplicação mais frequente é em relação aos doze apóstolos. No livro de Atos
(vinte e oito vezes), normalmente refere-se aos cristãos em geral. Nas outras partes
deste livro, eles são chamados “santos” (9.13), “irmãos” (1.15, em algumas
versões; 9.30), “nazarenos” (24.5). Mas discípulos é “talvez a palavra mais
característica dos cristãos no livro de Atos”.159
Crescendo
o número dos discípulos significa literalmente “enquanto os discípulos se
multiplicavam” (particípio presente, indicando um crescimento contínuo). Quanto
mais membros uma igreja tem, mais problemas em potencial ela apresentará.
Agora, iniciava-se uma murmuração — o som da palavra grega sugere o zumbir das
abelhas — por parte dos gregos. A palavra grega é hellenistes, que deveria ser
traduzida como “helénicos”. Diz-se que esta foi “a primeira aparição desta
palavra na literatura grega”.160 Ela é encontrada somente duas outras vezes no
Novo Testamento (9.29; 11.20). Aparentemente, significa pessoas “de língua
grega”. Bruce escreve: “O contexto irá então determinar mais exatamente que
tipo de pessoas de língua grega são elas: aqui, cristãos judeus de língua
grega; em 9.29, provavelmente judeus de língua grega nas sinagogas; em 11.20,
provavelmente gentios”.
Em
contraste com os helénicos, estavam os hebreus. Isto parece querer dizer
“judeus de língua hebraica ou aramaica”.162 No Novo Testamento, a palavra
aparece novamente somente em 2 Coríntios 11.22, e em Filipenses 3.5. Em ambos
os casos, Paulo aplica-a a si mesmo, como um rígido observador da lei — ou
possivelmente como um judeu de puro sangue.
A causa
desse murmúrio era que as suas viúvas eram desprezadas — “negligenciadas”
(somente aqui no NT) — no ministério cotidiano. Com respeito a viúvas, Lake e
Cadbury afirmam: “Em geral, o termo ‘viúvas’ vem a ter um duplo sentido: (a)
todas as mulheres que tinham perdido os seus maridos; (b) um número seleto de
classe elevada, que era indicado a uma posição definida dentro da organização
da igreja como parte do ‘clero’” (cf. clérigos). O significado anterior
provavelmente aplica-se às viúvas aqui, e o último àquelas de 1 Timóteo 5.9-10.
A palavra
grega para ministério é traduzida como “socorro” em 11.29. Esta é,
evidentemente, a idéia aqui. Com os fundos que os cristãos tornavam disponíveis
(cf. 2.44- 45; 4.32-37), os pobres e os necessitados eram cuidados no cotidiano
com uma doação de alimentos. Knowling faz esta sugestão significativa: “E bem
possível que as viúvas helénicas tivessem sido ajudadas anteriormente com o
tesouro do Templo, e que essa ajuda tenha cessado, visto que elas se uniram à
comunidade cristã”.
A
palavra chera, viúva, aparece nove vezes no Evangelho de Lucas — somente três
vezes nos demais Evangelhos juntos — e três vezes no livro de Atos. Ela está de
acordo com a ênfase de Lucas sobre as mulheres (ver a introdução do Evangelho
de Lucas). Em outras passagens do Novo Testamento, a palavra é encontrada com
maior frequência na primeira carta a Timóteo (oito vezes). Poderia ser um dos
diversos itens menores que indicam a possibilidade de que Lucas foi o
escrevente de Paulo para as epístolas pastorais (cf. 2 Tm 4.11)?Ralph Earle.
Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 247-248
fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com
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PAZ DO SENHOR
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