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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Liderança cristã DIACONATO (3)






                                    Professor Mauricio Berwald


II - A INSTITUIÇÃO DOS DIÁCONOS
1. O conceito da função.

DIÁCONO Sua forma verbal (diakonein) significa "servir", particularmente "servir às mesas" (cf. Arndt, p. 183). Tem a conotação de um serviço muito pessoal, intimamente relacionado com servir por amor. Para os gregos, o serviço era raramente dignificado; o desenvolvimento próprio deveria ser a meta de uma pessoa ao invés da humilhação própria. Enquanto a LXX não usa a palavra diakonein ("servir"), o judaísmo conserva uma visão diferente sobre o serviço. Isso está exemplificado no segundo mandamento: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19.18; cf. Mc 12.31). Foi isso que o nosso Senhor ensinou quando lavou os pés de seus discípulos, acrescentando: "Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13.15). O uso generalizado da palavra "diácono" no NT foi classificado por H. W. Beyer ("Diakoneo, etc", TDNT, II. 81-93) e foram sugeridas as seguintes formas adaptadas: (1) "o servente em uma refeição" (Jo 2.5,9); (2) "o servo de um mestre" (Mt 22.13; Jo 12.26); (3) "o servo de um poder espiritual", bom (Cl 1.23; 2 Co 3.6; Rm 15.8) ou mau (2 Co 11.14ss; Gl 2.17); (4) "o servo de Deus" (2 Co 6.3ss.) ou de Cristo (2 Co 11.23) como no caso de Paulo, ou como foi aplicado a seus companheiros de trabalho (1 Ts 3.1-3; 1 Timóteo 4.6; Cl 1.7; 4.7); (5) "os [gentios como] servos de Deus" (Rm 13.1-4); (6) "um servo da igreja" (Cl 1.24,25; 1 Co 3.5). Nos escritos gregos esse nome está relacionado muito de perto com o sentido do verbo. Ele descreve um atendente à mesa, um servo, um mensageiro, um garçom e ainda era usado com referência a ocupações específicas, como padeiro ou cozinheiro. O termo aparece poucas vezes na LXX e sempre comum sentido secular. Ele descreve os servos do rei em Ester 1.10; 2.2; 6.3,5. Em Provérbios 10.4 (na LXX) o tolo deve ser "servo" do sábio. Josefo, o historiador da nação judaica, caracterizou Eliseu como "discípulo e servo" de Elias".

Quando a palavra diaconato apareceu pela primeira vez na igreja primitiva? Foi em Atos 6.1-6? Na passagem que trata da escolha e nomeação dos sete, a palavra "diácono" não aparece. E enquanto os termos diakonia ("ministério" ou "serviço") e diakonein ("servir a uma mesa") realmente aparecem (At 6.1,2,4) eles são usados, segundo parece, em um sentido não técnico, isto é, eles se referem a trabalhadores e não aos ocupantes de um posto. Isso está indicado pela expressão "servir às mesas" e pela referência ao ministério da Palavra, onde o mesmo termo aplica-se a ambos os tipos de serviço. Lightfoot (na obra Philippians, pp. 188ss.) considera os sete como os primeiros diáconos, pois 
(1) seus deveres eram semelhantes àqueles que desde essa época haviam caracterizado o "diaconato"; por exemplo, o cuidado para com as viúvas e os órfãos, e a prática de atos de caridade. 
(2) Era uma função recém criada sem se igualar ao ministério levítico, nem ao ministro da Sinagoga (o Chazan). E,
 (3) o ministério de ensinar como, por exemplo, o de Estevão e Felipe, era um incidente do ofício introduzido apenas pela necessidade das circunstâncias. Rackam (na obra Acts, pp. 82-86) conclui que o "ofício" em Atos 6 era "único, isto é, único no mesmo sentido do apostolado". Os sete diáconos correspondem aos 12 discípulos, e a lista completa de seus nomes mostra essa relação. Portanto, nesses dois grupos estão os ancestrais dos presbíteros e dos diáconos. Em Romanos 16.1, Paulo refere-se a Febe como diakonon ("diaconisa" q.v.) da igreja de Cencréia. Seria ela uma ocupante do cargo ou a palavra simplesmente descreve seus serviços na comunidade? E impossível dizer. Por exemplo, no caso da referência às mulheres em 1 Timóteo 3.11 seriam elas esposas dos diáconos ou seriam "diaconisas"? Com referência a uma pessoa que ocupa um cargo específico na igreja, a palavra diakonos ("diácono") ocorre em apenas duas passagens do NT. Filipenses 1.1 e 1 Timóteo 3.8,12. O texto em Filipenses 1.1 contém a saudação de Paulo aos "bispos e diáconos".

 Embora nenhuma atividade esteja especificada aqui, elas representam duas funções existentes e relacionadas, consideradas como distintas no corpo dos santos em geral. Em 1 Timóteo 3.13, podemos observar a mesma relação: o "bispo" (w. 1-7) e o "diácono" (vv. 8-13). Os diáconos deviam ser homens de caráter disciplinado e de elevada reputação moral (w. 8,9), deviam estar qualificados para o cargo por se mostrarem "irrepreensíveis" (v. 10) e ter o controle de seus próprios
lares (v. 12). O fato de em seus ministérios de caridade e de auxílio entrarem em contato com o povo e com posses materiais, exigia qualidades especiais de caráter. Não deviam ser de "língua dobre" nem "cobiçosos de torpe ganância" (v. 8). Paulo não especifica como os diáconos deveriam ser escolhidos, no entanto eles deviam ser primeiramente "provados" e Timóteo esperava, certamente, estar capacitado a aprová-los. O desenvolvimento histórico do cargo do diácono está ligado ao do bispo. Veja Bispo para a questão da seleção. Em outras passagens do NT, Paulo usa o termo ministro para indicar a presença de seus companheiros no ministério do Evangelho -Timóteo (1 Ts 3.2), Tíquico (Cl 4.7), Epafras (Cl 1.7). O ministério do próprio Paulo (1 Co 3.5; 2 Co 3.6; 6.4; 11.15) assim como o ministério de Cristo (Em 15.8) também são designados dessa maneira. Essas últimas referências indicam que esse termo não era, de forma alguma, aplicado a serviços inferiores. W. M. D. e A. F. J.PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 552-553.


DIÁCONO

diakonos (em português, “diácono”), denota primariamente "criado", quer aquele que faz trabalhos servis, ou o ajudante que presta serviços voluntários, sem referência particular ao seu caráter.
A palavra está provavelmente relacionada com o verbo diõkõ. “apressar-se após, perseguir" (talvez dito originalmente acerca de um corredor). "Ocorre no Novo Testamento em alusão aos criados domésticos (Jo 2.5.9); ao governante civil (Rm 13.4); a Cristo (Rm 15.8; Gl 2.17); aos seguidores de Jesus em sua relação com o Senhor (Jo 12.26: Ef 6.21; Cl 1.7; 4.7); aos seguidores de Jesus em relação uns com os outros (Mt 20.26: 23.11: Mc 9.35; 10.43); aos servos de Cristo no trabalho de orar e ensinar (1 Co 3.5: 2 Co 3.6: 6.4; 11.23: Ef 3.7; Cl 1.23.25: 1 Ts 3.2; I Tm 4.6); àqueles que servem nas igrejas (Rm 16.1 [usado acerca de uma mulher só aqui no Novo Testamento]; Fp 1.1; 1 Tm 3.8.12); aos falsos apóstolos, servos de Satanás (2 Co 11.15).
O termo diakonos é usado uma vez onde. aparentemente, a referência é aos anjos (Mt 22.13); em Mt 22.3. onde a referência é aos homens, o termo doulos é usado** (extraído de Notes on Thessalonians, de Hogg e Vine. p. 91).
O termo diakonos deve. falando de modo geral, ser distinguido do termo doidos, "servo, escravo”: o lernio diakonos encara o servo em relação ao seu trabalho: o termo doidos o vê em relação ao seu mestre.
Veja. por exemplo. Mt 22.2-14; aqueles que chamam os convidados e os trazem (Mt 22.3.4.6.8.10) são os douloi: aqueles que executam a sentença do rei (Mt 22.13) são os diakonoi. Nota: Quanto aos termos sinônimos, leitourgos denota "aquele que executa deveres públicos"; misthios e misthôtos, “servo contratado"; oiketes, “servo doméstico**; huperetes. “funcionário subordinado que serve seu superior" (designava, originalmente. o remador da fileira de baixo numa galera de guerra); therapon, aquele CUJO serviço é O de liberdade e dignidade. Veja MINISTRO. SERVO.

Os denominados “sete diáconos" em At 6 não são mencionados por esse nome. embora o tipo de serviço no qual estavam engajados era do caráter daquele consignado para tal.W. E. VINE; Merril F. UNGER; Wllliam WHITE Jr. Dicionário VINE. Editora CPAD. pag. 563.

2. Origem do diaconato.

O ministério ou serviço dos diáconos surgiu a partir de uma bênção, de um problema e de uma murmuração. A bênção foi o crescimento extraordinário dos que criam em Jesus e o aceitavam como Salvador, deixando o judaísmo e outras religiões e tornavam-se cristãos. O problema foi causado pela situação social de muitos que aceitavam a fé, especialmente envolvendo viúvas dos gregos ou gentios, que aceitavam o evangelho. A murmuração foi a reclamação desses, que se julgavam discriminados pelos líderes da Igreja, em relação ao atendimento de suas necessidades básicas. Diz o texto:
“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé” (At 6.1-7 — grifo nosso).
Mas os líderes da Igreja foram sábios. Não procuraram resolver tamanha questão sozinhos. Reuniram a multidão, em assembleia, a eclésia, e elegeram sete homens com qualidades exemplares sobre aquele “importante negócio”, para que os líderes pudessem perseverar “na oração e no ministério da palavra”. Na maioria das igrejas, os diáconos estão desviados da função para que foram instituídos, que foi cuidar da assistência social dos carentes. Mas sua escolha é de grande valor para o funcionamento ministerial das igrejas cristãs.Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 141.


A instituição do diaconato

O diácono é o único ministério cristão a originar-se de um fato social; surgiu de uma premente necessidade da Igreja Primitiva: o socorro às viúvas helenistas. Atenhamo-nos no que diz o texto que escreveu Lucas (At 6.1-7). Do texto sagrado, apontemos alguma das razões que levaram os apóstolos a instituírem o diaconato:

a) O crescimento da Igreja

Do Pentecostes à instituição do diaconato, a Igreja Primitiva cresceu de três mil convertidos, a cinco mil; a partir daí, o rebanho do Senhor não mais parou de multiplicar-se (At 2.41; 4.4). De forma que, em atos capítulo seis, o número de discípulos já havia superado a capacidade estrutural da Igreja (At 6.1). Crescendo o número de fiéis, cresceram também os problemas. Tivesse a Igreja se limitado aos cento e vinte, certamente nenhuma dificuldade teriam os primitivos cristãos. Não haveriam de precisar de diáconos, nem de pastores, e até os mesmos apóstolos seriam prescindíveis. Acontece que as grandes igrejas enfrentam grandes desafios, e demandam, por conseguinte, grandes soluções. Com a chegada das ovelhas, vai o aprisco deixando sua rotina, vai o pastoreio desdobrando-se em cuidados e desvelos pelas almas, e o Reino de Deus vai alargando suas fronteiras e descortinando os mais promissores horizontes.

b) O descontentamento social    

Relata-nos Lucas que “houve uma murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas daqueles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. Tal contingência não podia esperar; exigia imediata solução. Caso não houvesse uma alternativa urgente e satisfatória, a situação deteriorar-se-ia, agravando a injustiça social, e aprofundando a fissura entre os dois principais segmentos culturais da igreja em Jerusalém: os hebreus e os helenistas.A situação que se desdenhava deixou os apóstolos mui preocupados. Como israelitas, sabiam eles que a injustiça e a desigualdade social eram intoleráveis aos olhos de Deus (Dt 15.7,11).

c) O comprometimento do ministério apostólico
     
Continuassem os apóstolos a suprir as necessidades dos órfãos e das viúvas, haveriam de comprometer de forma irremediável as principais funções de seu ministério (At 6.2-4). Por isso deliberaram: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarreguemos deste serviço. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra” (At 6.2-4). Como seria maravilhoso se os pastores seguissem o exemplo dos apóstolos! Infelizmente, não são poucos os que se acham de tal forma empenhados com os negócios materiais do rebanho, que já não têm tempo de orar, nem mais ligam importância à exposição da Palavra. Transformaram-se em meros executivos. Vivem mais preocupados com os rendimentos financeiros do redil do que com o bem-estar das ovelhas. Será que ainda não perceberam ter sido o diaconato instituído justamente para que os pastores nos entregassem amorosamente à oração e à proclamação dos conselhos de Deus? Queira o Senhor que, no termino de nosso ministério, possamos dizer como o apostolo Paulo: “Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).

d) A organização ministerial da Igreja

Até a instituição dos diáconos, a Igreja conhecia apenas o ministerial apostólico. Eram os apóstolos responsáveis inclusive pelo socorro cotidiano. E isto, como vimos, por pouco não compromete o desempenho do principal magistério da Igreja. Com a instituição dos diáconos, porém, formou-se a base do ministério eclesiástico. Levemos em conta também os anciãos; estavam eles sempre prontos a secundar os apóstolos. Mais tarde, o termo ancião (ou presbítero) passaria a ser sinônimo de pastor e bispo. Desde então, apesar das várias formas de governo eclesiásticos, a Igreja vem funcionando a contendo, cumprindo suas varias tarefas, tendo como base o modelo de Atos dos Apóstolos.Valdemir P. Moreira. Manual do Diácono.

A discordância infeliz entre alguns membros da igreja, a qual poderia ter trazido consequências maléficas, mas foi prudentemente apaziguada e repreendida a tempo: Crescendo o número dos discípulos (pois assim eram chamados os cristãos no princípio: os aprendizes de Cristo) a muitos milhares em Jerusalém, houve -uma murmuração (v. 1).

1. Nosso coração se sente bem ao descobrir que cresceu o número dos discípulos (v. 1), à proporção inversa que, sem dúvida, irritou o coração dos sacerdotes e saduceus (cap. 4.1; 5.17) pelo mesmo motivo. A oposição que a pregação do evangelho enfrentou, em vez de deter seu progresso, contribuiu para o seu sucesso. Quanto mais afligiam os membros da igreja cristã incipiente, como fizeram com os membros da igreja judaica infante no Egito, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam (Ex 1.12). Os pregadores eram surrados, ameaçados e maltratados, mas, mesmo assim, as pessoas recebiam sua doutrina. Eram atraídas, sem dúvida, pela maravilhosa paciência e alegria nas provações que demonstravam.  Esse comportamento convencia as pessoas de que eles tinham e eram sustentados por um espírito melhor que o deles próprio.

2. Causa-nos desalento descobrir que o crescimento do número dos discípulos (v. 1) dá oportunidade para discórdias. Até agora, todos eles eram unânimes em uma mesma opinião. Esta. observação frequente significava uma honra para eles. Mas agora que cresciam em número, começaram a murmurar, semelhantemente ao que ocorreu no velho mundo. Quando os homens começaram a multiplicar-se, eles se corromperam (Gn 6.1,12). Tu multiplicaste este povo e a alegria lhe aumentaste (Is 9.3). Quando as famílias de Abraão e Ló aumentaram, houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló (Gn 13.7). O mesmo estava ocorrendo aqui: Houve urna murmuração, não uma desavença aberta, mas um ressentimento secreto. (1) Os queixosos eram os gregos, ou helenistas, contra os hebreus (v. 1). Os gregos eram os judeus que se espalharam pela Grécia e outras regiões, falavam comumente a língua grega e liam o Antigo Testamento na versão grega, não no original hebraico. Muitos deles estavam em Jerusalém para a festa quando aceitaram a fé cristã e foram acrescentados à igreja. Estes murmuraram contra os hebreus, que eram os judeus nativos que usavam o original hebraico do Antigo Testamento. Alguns pertencentes a cada um desses grupos se tornaram cristãos, mas, pelo visto, essa aceitação conjunta da fé não teve sucesso, como deveria, em extinguir os poucos ciúmes que tinham uns dos outros antes da conversão. Eles retiveram um pouco do fermento velho e não entenderam ou não se lembraram de que em Cristo Jesus não há nem grego nem judeu (Cl 3.9). Portanto, não há distinção entre hebreus e helenistas, mas todos são igualmente acolhidos em Cristo, e deveriam ser, por causa dele, queridos uns dos outros.

(2) A murmuração destes gregos era que as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano (v. 1), quer dizei; na distribuição dos fundos de caridade pública, e as viúvas hebreias eram mais bem cuidadas. Veja que a primeira controvérsia na igreja cristã envolveu finanças. E pena que as pequenas coisas deste mundo sejam pontos de discórdia entre os que admitem ter relações com as grandes coisas do outro mundo. Juntaram muito dinheiro para a assistência social aos pobres, mas, como frequentemente ocorre em tais casos, era impossível agradar a todos na distribuição do montante. Os apóstolos, a cujos pés o dinheiro foi depositado (cap. 4.34), fizeram o que puderam para distribuí-lo de modo a atender as expectativas dos doadores. Fizeram a distribuição, obviamente, com a mais absoluta imparcialidade, e nem de longe intentaram respeitar os hebreus mais que os gregos.
Contudo, houve queixa deles, que diziam estarem as viúvas gregas sendo desprezadas. Embora elas fossem aptas a receber esse tipo de assistência social, os apóstolos não lhes deram o suficiente, ou não contemplaram todas, ou não deram exatamente a mesma soma oferecida às viúvas hebréias. 
[1] Talvez esta murmuração (v. 1) fosse infundada e injusta, sem motivo algum. Mas aqueles que, por qualquer razão, se encontram em situação desfavorável (como estavam os judeus gregos em comparação com os que eram hebreus de hebreus), são susceptíveis a, por ciúme, acharem que estão sendo desprezados quando na verdade não estão. É erro comum de pessoas pobres que, em vez de serem gratas pelo que recebem, se queixem e reclamem. Tendem a pensar que recebem pouco, ou que os outros ganham mais que elas. Há inveja e cobiça, raízes de amargura que se encontram tanto entre os pobres quanto entre os ricos, apesar das situações humilhantes em que estão e às quais devem se adaptar. 
[2] Partamos do pressuposto de que havia motivo para a murmuração. Em primeiro lugar, certos estudiosos sugerem que os outros pobres no grupo dos gregos tinham a subsistência provida, embora as suas viúvas fossem desprezadas (v. 1). Essa falha acontecia porque os gerentes administravam de acordo com uma regra antiga observada entre os hebreus: a viúva deve ser sustentada pelos filhos do seu marido (veja 1 Tm 5.4). Em segundo lugar, as viúvas, ao meu ver, são citadas no lugar de todos os pobres, porque muitos desses que estavam nos registros da igreja e recebiam esmolas, eram viúvas que tinham sido fartamente sustentadas pelas atividades dos seus maridos enquanto estavam vivos, mas que caíram em grandes dificuldades financeiras quando faleceram. Os que administram a justiça pública devem de uma maneira particular proteger as viúvas de injustiças (Is 1.17; Lc 18.3), assim os que administram os fundos da caridade pública devem de uma maneira particular sustentar as viúvas no que for necessário (veja 1 Tm 5.3). Perceba que estas viúvas e os outros pobres recebiam uma ajuda diária (v. 1). Talvez, após um cálculo prévio, sabiam que não podiam acumular sua porção para o futuro. Então os administradores dos fundos, num gesto de bondade, davam-lhes dia a dia o pão necessário. Eles dependiam do quinhão do dia para viver. Pelo visto, as viúvas gregas foram, comparativamente, desprezadas.

Talvez os que distribuíam o dinheiro consideraram que os hebreus ricos contribuíam mais para o fundo do que os gregos ricos, que não tinham propriedades para vender, como os hebreus. Por conseguinte, os gregos pobres deveriam ter menos direito ao fundo. Embora houvesse certa dose de tolerância, tratava-se de procedimento cruel e injusto. Veja que mesmo na igreja mais bem organizada do mundo sempre haverá algo impróprio, administração incompetente, queixas ou, pelo menos, algumas reclamações.HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 59-60.

A palavra discípulos (1) aparece aqui pela primeira vez no livro de Atos (ver os comentários sobre 1.15). Ela significa, literalmente, “aprendizes”. É usada nos Evangelhos para referir-se aos seguidores de João Batista (e.g., Mt 9.14), dos fariseus (e.g., Mc 2.18), de Moisés (Jo 9.28) e de Jesus (e.g., Lc 6.17). A sua aplicação mais frequente é em relação aos doze apóstolos. No livro de Atos (vinte e oito vezes), normalmente refere-se aos cristãos em geral. Nas outras partes deste livro, eles são chamados “santos” (9.13), “irmãos” (1.15, em algumas versões; 9.30), “nazarenos” (24.5). Mas discípulos é “talvez a palavra mais característica dos cristãos no livro de Atos”.159

Crescendo o número dos discípulos significa literalmente “enquanto os discípulos se multiplicavam” (particípio presente, indicando um crescimento contínuo). Quanto mais membros uma igreja tem, mais problemas em potencial ela apresentará. Agora, iniciava-se uma murmuração — o som da palavra grega sugere o zumbir das abelhas — por parte dos gregos. A palavra grega é hellenistes, que deveria ser traduzida como “helénicos”. Diz-se que esta foi “a primeira aparição desta palavra na literatura grega”.160 Ela é encontrada somente duas outras vezes no Novo Testamento (9.29; 11.20). Aparentemente, significa pessoas “de língua grega”. Bruce escreve: “O contexto irá então determinar mais exatamente que tipo de pessoas de língua grega são elas: aqui, cristãos judeus de língua grega; em 9.29, provavelmente judeus de língua grega nas sinagogas; em 11.20, provavelmente gentios”.
Em contraste com os helénicos, estavam os hebreus. Isto parece querer dizer “judeus de língua hebraica ou aramaica”.162 No Novo Testamento, a palavra aparece novamente somente em 2 Coríntios 11.22, e em Filipenses 3.5. Em ambos os casos, Paulo aplica-a a si mesmo, como um rígido observador da lei — ou possivelmente como um judeu de puro sangue.
A causa desse murmúrio era que as suas viúvas eram desprezadas — “negligenciadas” (somente aqui no NT) — no ministério cotidiano. Com respeito a viúvas, Lake e Cadbury afirmam: “Em geral, o termo ‘viúvas’ vem a ter um duplo sentido: (a) todas as mulheres que tinham perdido os seus maridos; (b) um número seleto de classe elevada, que era indicado a uma posição definida dentro da organização da igreja como parte do ‘clero’” (cf. clérigos). O significado anterior provavelmente aplica-se às viúvas aqui, e o último àquelas de 1 Timóteo 5.9-10.
A palavra grega para ministério é traduzida como “socorro” em 11.29. Esta é, evidentemente, a idéia aqui. Com os fundos que os cristãos tornavam disponíveis (cf. 2.44- 45; 4.32-37), os pobres e os necessitados eram cuidados no cotidiano com uma doação de alimentos. Knowling faz esta sugestão significativa: “E bem possível que as viúvas helénicas tivessem sido ajudadas anteriormente com o tesouro do Templo, e que essa ajuda tenha cessado, visto que elas se uniram à comunidade cristã”.
A palavra chera, viúva, aparece nove vezes no Evangelho de Lucas — somente três vezes nos demais Evangelhos juntos — e três vezes no livro de Atos. Ela está de acordo com a ênfase de Lucas sobre as mulheres (ver a introdução do Evangelho de Lucas). Em outras passagens do Novo Testamento, a palavra é encontrada com maior frequência na primeira carta a Timóteo (oito vezes). Poderia ser um dos diversos itens menores que indicam a possibilidade de que Lucas foi o escrevente de Paulo para as epístolas pastorais (cf. 2 Tm 4.11)?Ralph Earle. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 247-248
fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com

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