Em seus
ensinos, Jesus não especificou como seria a organização da Igreja, nos diversos
lugares por onde seu evangelho haveria de promover a conversão de muitas
pessoas pelo poder do Espírito Santo. Ele garantiu que haveria de edificar a
sua Igreja e “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt 16.18). E
a Igreja cresceu e se expandiu pelo mundo todo. E seu crescimento demandou o estabelecimento
de medidas e providências jamais experimentadas por qualquer organização
humana.
Para
começar o grandioso trabalho, só restavam onze apóstolos. Judas, o traidor,
perecera de maneira trágica, indo para “o seu próprio lugar” (At 1.25). A
equipe de Jesus era pequena e diminuíra. Mas a obra precisava ser feita. Em
lugar de Judas foi eleito Matias, que tomou “o seu bispado” (At 1.20). (Esse
texto mostra que o apóstolo também era bispo). Resolvido o problema da
substituição de Judas, os apóstolos encetaram a grande missão de prosseguir com
a obra de Jesus. No cenáculo, receberam o poder do Alto, sendo batizados com o
Espírito Santo. Com a pregação cheia de unção, quase três mil novos crentes
agregaram-se ao pequeno grupo de cristãos (At 2.37-41).
O crescimento
vertiginoso trouxe diversos problemas. Entre os conversos, havia pessoas de
outros lugares, além de judeus. Os problemas não tardaram a surgir. O
evangelista Lucas, escritor dos Atos dos Apóstolos, registrou o que ocorria
naqueles dias, quando a comunidade cristã cresceu grandemente, e surgiram
diversos problemas, inclusive de ordem social (cf. At 6.1-7). E os líderes da
Igreja resolveram reunir a assembleia e buscar a solução para o atendimento
social aos irmãos carentes. A tarefa era um grande desafio. Ou eles cuidavam da
evangelização e do discipulado, ou cuidavam da parte social.
Aquilino
de Pedro afirmou que o diaconato é o ministério por excelência; o serviço é a
sua razão primacial. Se nos voltarmos aos atos dos apóstolos, constataremos que
não exagera o ilustrado teólogo. A diaconia outra coisa não é senão um serviço
incondicional e amoroso a Deus e à sua Igreja. O diácono que não vive para
servir a igreja de Deus, não serve para viver como ministro de Cristo. A
essência do diaconato é o serviço; do diaconato, o serviço também é o amoroso
fundamento. E sem serviço também a diaconia é impossível. Nesse sentido, quão
excelso e perfeito diácono foi o Senhor Jesus!
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
I - A
DIACONIA DE JESUS CRISTO
1.
Significado do termo.
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
Eles
devem ser como o próprio Mestre; e é muito apropriado que eles o fossem, pois,
enquanto estivessem no mundo, deveriam ser como Ele foi quando estava no mundo.
Porque para ambos o estado atual é um estado de humilhação; a coroa e a glória
estavam reservadas para ambos no estado futuro. Eles precisavam considerar que
“o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua
vida em resgate de muitos” (v. 28). O nosso Senhor Jesus aqui se coloca diante
dos seus discípulos como um padrão de duas qualidades anteriormente
recomendadas: a humildade e a utilidade.
[1] Nunca
houve um exemplo de humildade e condescendência como houve na vida de Cristo,
que não veio para “ser servido, mas para servir”. Quando o Filho de Deus entrou
no mundo - o Embaixador de Deus para os filhos dos homens alguém poderia pensar
que Ele deveria ser servido, que deveria ter se apresentado em um aparato que
estivesse de acordo com a sua pessoa e caráter; mas Ele não fez isso; Ele não
agiu como uma celebridade, Ele não teve nenhum séquito pomposo de servos de
Estado para servi-lo, nem se vestiu em túnicas de honra, porque tomou sobre si
a “forma de servo”. Ele, na verdade, viveu como um homem pobre, e isto fez
parte da sua humilhação. Houve pessoas que o serviram com as “suas fazendas”
(Lc 8.2,3); mas Ele nunca foi servido como um grande homem. Ele nunca tomou a
pompa sobre si, não foi servido em mesas, como um dos grandes deste mundo.
Jesus, certa vez, lavou os pés dos seus discípulos, mas nunca lemos que eles
tenham lavado os pés dele. Ele veio para ajudar a todos quantos estivessem em
aflição. Ele se fez servo para os doentes e debilitados; estava pronto para
atender aos seus pedidos como qualquer servo estaria pronto para atender à
ordem do seu senhor, e se esforçou muito para servi-los.
O Senhor
Jesus serviu continuamente visando este fim, negando a si até mesmo o alimento
e o descanso para cumprir essa tarefa.
Cristo
não age assim; o sangue daqueles que lhe são sujeitos é precioso para Ele, e
Ele não é pródigo nisso (SI 72.14); mas, ao contrário, Ele dá a sua honra e a
sua vida como resgate pelos seus súditos. Note, em primeiro lugar, que Jesus
Cristo sacrificou a sua vida como um resgate. A nossa vida perdeu o direito nas
mãos da justiça divina por causa do pecado. Cristo, entregando a sua vida, fez
a expiação pelo pecado, e assim nos resgatou. Ele foi feito “pecado” e uma
“maldição” por nós, e morreu, não só para o nosso bem, mas “em nosso lugar” (At
20.28; 1 Pe 1.18,19). Em segundo lugar, foi um resgate por muitos. Ele foi
suficiente para todos, mas eficaz para muitos; e se foi eficaz para muitos,
então diz a pobre alma duvidosa: “Por que não por mim?” Foi por muitos, para que
por ele muitos pudessem ser feitos justos. Esses muitos eram a sua semente,
pela qual a sua alma sofreu (Is 53.10,11). “De muitos”, assim eles serão quando
forem reunidos, embora parecessem então um pequeno rebanho.
Então
esse é um bom motivo para não disputarmos a precedência, porque a cruz é a
nossa bandeira, e a morte do nosso Senhor é a nossa vida. Esse é um bom motivo
para pensarmos em fazer o bem, e, em consideração ao amor de Cristo ao morrer
por nós, não hesitarmos em “sacrificar as nossas vidas pelos irmãos” (1 Jo
3.16). Os ministros devem estar mais ansiosos do que os outros para servir e
sofrer pelo bem das almas, como o bendito apóstolo Paulo estava (At 20.24; Fp
2.17). Quanto mais interessados, favorecidos e próximos estivermos da humildade
e da humilhação de Cristo, mais prontos e cuidadosos estaremos para imitá-las.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição
completa. Editora CPAD. pag. 261-262.
Mt
20.26-28 Em uma frase, Jesus ensinou a essência da verdadeira grandeza: Todo
aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal. A
grandeza é determinada pelo serviço. O verdadeiro líder coloca as suas
necessidades em último lugar, como Jesus exemplificou na sua vida e na sua
morte. Ser um “servo” não significa ocupar uma posição servil, mas sim ter uma
atitude na vida que atende livremente às necessidades dos outros sem esperar
nem exigir nada em troca. Os líderes que são servos apreciam o valor dos outros
e percebem que não são superiores a ninguém; eles também entendem que o seu
trabalho não é superior a nenhum outro trabalho. Procurar honra, respeito e
atenção dos outros vai em direção contrária às exigências de Jesus para os seus
servos. Jesus descreveu a liderança a partir de uma nova perspectiva. Ao invés
de usar as pessoas, nós devemos servi-las.
A missão
de Jesus era servir aos outros e dar a sua vida por eles. Um verdadeiro líder
tem o coração de um servo. Os discípulos devem estar dispostos a servir porque
o seu Mestre deu o exemplo. Jesus explicou que Ele não veio para ser servido,
mas para servir a outros. A missão de Jesus era servir — em última análise,
dando a sua vida para salvar a humanidade pecadora. A sua vida não foi
“tomada”, Ele a “deu”, oferecendo-a como sacrifício pelos pecados do povo. Um
resgate era o preço pago para libertar um escravo da escravidão. Jesus pagou um
resgate por nós, e o preço exigido foi a sua vida. Jesus tomou o nosso lugar,
Ele morreu a morte que nós mereceríamos.Comentário
do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol 1. pag. 124.
Mt 20. 28
Nesse ponto, Jesus apresenta-se — o Filho do homem (veja comentário sobre 8.20)
— como o supremo exemplo de serviço para os outros. O versículo é claramente
importante para nossa compreensão da percepção de Jesus de sua morte.
Três
questões relacionadas pedem discussão.
1.
Autenticidade. Muitos rejeitam a autenticidade do versículo 28 ou, pelo menos,
de 28a (e do correspondente Mc 10.45) com base em que ele se ajusta mal ao
contexto, uma vez que a morte vicária de Jesus não pode ser imitada por seus
discípulos, que em nenhuma outra passagem registra-se ele falando de sua morte
dessa maneira e que a linguagem usada reflete a influência da igreja helénica.
Ao contrário, a linguagem demonstra ser palestina (Jeremias, Eucharistic Words
[Palavras eucarísticas], p. 179-82); e Jesus não fala de sua morte em termos
distintos de quando instituiu a ceia do Senhor (26.26-29) e também de Lucas
22.37, presumindo que ela se relaciona a uma ocasião distinta. E bastante comum
no Novo Testamento, nas palavras atribuídas a Jesus e a outras existentes em
outros trechos começarem com a necessidade dos discípulos matarem o “eu” e
terminarem com a morte vicária única de Jesus como um exemplo ético — ou, de
forma inversa, começarem com a morte única de Jesus e tê-la aplicada como um
exemplo para os discípulos (Jo 12.23-25; Fp 2.5-11; IPe 2.18-25). Não há
motivos substanciais para negar a autenticidade desse dito (cf. esp. S. H. T.
Page, “The Authenticity of the Ransom Logion [Mark 10.45b]” [“A autenticidade
do dito de resgate (Mc 10.45b)”], em France e Wenham, p. 1:137-61); e suas
nuanças parecem muito mais em harmonia com a forma progressiva como Jesus se
revelou (cf. Carson, “Christological Ambiguities” [“Ambiguidades
cristológicas”]) que com a nítida confissão apostólica pós-ressurreição.
2. Sentido.
É natural entender que o “não veio” como pressupondo, pelo menos, um indício da
pré-existência de Jesus, embora a linguagem não exija absolutamente isso. Ele
não veio para ser servido, como um rei que depende de incontáveis cortesãos e
criados, mas para servir os outros. Stonehouse observa com acerto que esse
versículo presume que o Filho do homem tem todo direito de esperar ser servido,
mas, em vez disso, ele serve. Está implícita a autoconsciência de que o Filho
do homem que, por causa de sua origem celestial, possuía autoridade divina era
aquele que se humilhou a ponto de se submeter a uma morte vicária. A tripla
ruptura das referências do Filho do homem (veja digressão sobre 8.20), até
aqui, é artificial. A demonstração da glória divina brilha com mais esplendor
quando é separada por causa da morte vergonhosa de um homem redentor. Esse é
exatamente o cerne da revelação de si mesmo de Jesus e do evangelho primitivo
(ICo 1.23: “Pregamos a Cristo [Messias] crucificado”).
O Filho
do homem veio para “dar a sua vida em resgate por muitos”. Deissmann (LAE, p.
331s.) observa que lytron (“resgate”) não era usado muito comumente para o
preço de compra da libertação de escravos; e há boa evidência de que, no Novo
Testamento, a noção de “preço de compra” está sempre sugerida no uso de lytron.
No
entanto, outros, ao examinar a palavra na LXX, concluem que, sobretudo quando o
sujeito é Deus, a palavra tem o sentido de “libertação”; e o verbo cognato, de
“libertar”, sem referência ao “preço pago” (veja esp. Hill, Greek Words
[Palavras gregas], p. 58-80). O assunto pode ser difícil de decidir em uma
passagem como Tito 2.14. A perversidade é uma cadeia da qual Jesus por meio de
sua morte nos liberta ou um dono de escravos do qual Jesus por meio de sua
morte nos resgata?. O paralelo em 1 Pedro 1.18 sugere a última opção, embora
(como Turner, Christian Words \Palavras cristãs], p. 105-7, insiste) não haja
nunca qualquer menção no Novo Testamento daquele a quem o preço é pago; e em
Mateus 20.28,
esse
sentido é praticamente assegurado pelo uso de an ti (“para”). A força normal
dessa preposição denota substituição, equivalência, troca (cf. esp. M. J.
Harris, DNTT, 3:1179s.). “A vida de Jesus entregue em morte vicária realiza a
libertação de vidas confiscadas. Ele agiu em favor de muitos ao tomar o lugar
deles” (ibid.,p. 1180).
O termo
“muitos” enfatiza os incomensuráveis efeitos da morte solitária de Jesus: um
morre, muitos encontram sua vida “resgatada, curada, restaurada, perdoada”, uma
grande multidão que nenhum homem pode contar (cf. J. Jeremias, “Das Lõsegeld
für Viele” [“O resgate de muitos”] , Ju d a ica 3 [1948], p. 263). Mas deve-se
lembrar que o termo “muitos” pode se referir, nos PMM e na literatura rabínica,
à comunidade eleita (cf. Ralph Marcus, “‘Mebaqqer’ and ‘Rabbim’ in the Manual
of Discipline vi, 11-13” [“‘Mebaqqer’ e ‘rabbim’ no manual de disciplina
6.11-13”], JBL 75 [1956], p. 298-302). Isso sugere que a morte vicária de Jesus
é o pagamento pelo povo escatológico de Deus e que resulta nesse povo. Isso se
ajusta bem ao “muitos” de Isaías 52.13—53.12.
3.
Dependência de Isaías 53. argumentam que não há alusão a Isaías em Marcos 10.45
e em Mateus 20.28. Eles argumentam isso com base em dois fundamentos:
linguístico e conceituai. Da perspectiva linguística, eles observam que o verbo
grego diakonein (“servir”, v. 28) e seus cognatos não são nunca usados na LXX
para traduzir ‘eb ed (“servo” dos “cânticos de servo” de Isaías) e seus
cognatos. Mas a evidência é frágil, e os paralelos conceituais são próximos — o
Servo de Isaías beneficia os homens por meio de seu sofrimento, e Jesus também
faz isso. Hooker, com certeza, está errado em restringir diakonein a serviço
doméstico (cf. France, “Servant of the Lord” [“Servo do Senhor”], p. 34).
France e Moo (Use o f OT [Uso do AT\, p. 122ss.) também mostram que “dar a sua
vida” tem origem em Isaías 53.10,12 e que lytron (“resgate”) não é uma tradução
impossível para ’ãsãm (“oferta de culpa”) como alguns alegam. A palavra
hebraica ’ãsãm inclui a noção de substituição ou, pelo menos, de um
equivalente. O pecador culpado oferece uma ’ãsãm a fim de remover sua própria
culpa, e em Levítico 5, ’ãsãm refere-se a pagamento compensatório.
Assim,
embora ’ãsãm tenha mais nuanças sacrificiais que lytron, os dois termos incluem
a ideia de pagamento ou compensação. Muitos estudiosos também reconhecem no
termo “muitos” uma clara referência a Isaías (cf. esp. Dalman, p. 171-72). A
implicação da evidência cumulativa é que Jesus se refere explicitamente a si
mesmo como o Servo sofredor de Isaías (veja comentário sobre 26.17-30) e
interpretava sua própria morte sob essa luz — interpretação em que Mateus
seguiu seu Senhor (veja comentário sobre 3.17; 12.15-21).D. A.
CARSON. O Comentário De Mateus. Editora Shedd Publicações. pag. 504-506.
2.
Serviço de escravo.
Diaconia
significa “ministério, serviço”. Jesus Cristo foi exemplo para a Igreja em
todos os aspectos. Em sua Diaconia, Ele foi “apóstolo... da nossa confissão”
(Hb 13.1). Foi profeta (Lc 24.19); foi evangelista (Lc 4.18-19); foi Pastor (Jo
10.11) e também foi diácono. Ele demonstrou seu caráter e sua personalidade,
dando exemplo de humildade. Para cumprir sua missão sacrificial em favor dos
homens, Jesus despojou-se temporariamente de sua glória plena (Jo 17.14). Paulo
diz que Ele assumiu a forma de servo, mais que isso, a forma de “escravo”.
Jesus, “... sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus.
Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo- se semelhante
aos homens-, e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo
obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8 — grifo nosso). A expressão
“tomando a forma de servo”, “significa aparecer em uma condição humilde e
desprezível”.Elinaldo
Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com
poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 140.
Jesus, o
Diácono dos diáconos
Foi o
Senhor um diácono em tudo perfeito. Na declaração que faz Ele em Marcos 10.45,
encontramos a variante da palavra diakonia duas vezes: “O Filho do Hmem também
não veio para ser servido [diakonêthênai], mas para servir [diakonêsai] e dar a
sua vida em resgate de muitos”. Ele era Senhor, e servia a todos. Era Rei
prometido, mas se dizia servo dos servos de Deus. Deveria estar à mesa, mas
ei-lo a lavar os pés dos discípulos.
Embora o
apocalipse mostre-o na plenitude de sua gloria, vemo-lo em Isaias, como o servo
sofredor. A fim de assumir a sua diaconia, despojou-se de suas prerrogativas,
assumiu a nossa forma e pôs-se a servir indistintamente a todos.
Este é o
nosso Senhor; Diácono dos diáconos!
Valdemir
P. Moreira. Manual do Diácono.
A AUTO
HUMILHAÇÃO DE JESUS (13.4-20)
Pelo fato
de a declaração de abertura do capítulo 13 ser longa e detalhada, o leitor deve
considerar que o início da cena da ceia ocorre na primeira oração do versículo
2: E, acabada a ceia (o texto grego diz “durante a ceia”), e então continua com
a primeira oração no versículo 4: levantou-se da ceia. Ao fazê-lo, o Senhor
tirou as vestes (4, cf. 10.17; Fp 2.5-8); i.e., a túnica externa. Então,
tomando uma toalha, cingiu-se, o que “marca a ação de um escravo”. Assim
preparado, Ele pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a
enxuga-los com a toalha com que estava cingido (5). João não declara por que
algum dos discípulos não executou esta tarefa servil, mas evidentemente havia
ocorrido alguma “busca de posição” entre os doze (Lc 22.24). Além disso, Jesus
era o único naquela sala que poderia executar até mesmo o simbolismo da
purificação — pois só Ele estava limpo no sentido teológico e moral da palavra
(cf. 17.19; Hb 13.12). Ele veio para dar ao homem a possibilidade de tornar-se
puro, moralmente limpo, santo.
Quando
Jesus foi lavar os pés de Pedro, este lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a
mim? (6) A resposta de Jesus, não o sabes tu, agora, não só afirmava a
ignorância de Pedro em relação às coisas espirituais (e.g., a vinda do
Espírito), como também incluía uma promessa: tu o saberás depois (7). O que eu
faço era a humilhação do Senhor, simbolizada no ato de levar-lhes os pés; na verdade,
porém, Ele estava proporcionando toda a obra redentora de Deus para o homem.
Hoskyns comenta que a reação de Pedro não é um contraste entre o orgulho de
Pedro e a humildade de Jesus, mas, antes, “entre o conhecimento de Jesus, o
qual é a base da ação, e a ignorância de Pedro, que ainda não percebe que a
humilhação do Messias é a causa efetiva da salvação cristã” (cf. 2.22; 7.39;
12.16; 14.25-26; 15.26; 16.13; 20.9).9 Mas o entendimento do futuro estava
longe demais para Pedro.
Ele só via a incongruência imediata da situação —
Jesus lavando os seus pés. Impulsivamente, ele declarou: “Nunca em nenhum
momento lavarás os meus pés — para sempre” (tradução literal). Pedro esperava
colocar um ponto final em tudo aquilo. Mas Jesus conhecia o caminho para o coração
de Pedro — a ameaça de ser excluído da presença de Jesus, a quem Pedro amava.
Se eu te não lavar, não tens parte comigo (8; cf. Hb 12.14). “Não há lugar na
sociedade dos cristãos para aqueles que não forem purificados pelo próprio
Senhor Jesus”. Se a comunhão só poderia ser adquirida pela purificação (cf. 1
Jo 1.7), então Pedro queria tudo o que pudesse ter — pés, mãos e cabeça (9).
Jesus fez
uma aplicação geral da ideia sobre a qual conversava com Pedro: “Aquele que
está lavado não necessita de lavar senão os pés. Ele está todo limpo”. “Vós
estais limpos, mas não todos” (10). Hoskyns comenta que, no ato da lavagem dos
pés, Jesus “simbolicamente declara a completa purificação deles através da
humilhação da morte do Messias. O cristão fiel é purificado pelo sangue de
Jesus” (1 Jo 1.7; cf. Rm 6.1-3; 1 Co 10.16).14 Se a santidade de coração
estiver no coração da Eucaristia (ver o comentário sobre 6.53), a pureza do
coração está no coração do Pedilavium (lavagem dos pés). Tudo isto era uma
prefiguração simbólica da obra do Espírito que se tornaria possível através da
sua vinda (14.15-17,25-26; 15.26; 16.7-15).
Mas, e
quanto a Judas? Ele estava limpo? Jesus sabia, e soube (6.70-71), quem o
haveria de trair; por isso, disse: Nem todos estais limpos (11). Bernard diz:
“No que diz respeito à limpeza do corpo, não há dúvida de que ele estava nas
mesmas condições dos outros, mas não no sentido espiritual”.Tendo
lavado os pés dos discípulos e vestido a sua túnica, Jesus, estando à mesa,
outra vez perguntou aos discípulos: Entendeis o que vos tenho feito? (12)
Macgregor comenta: “Quando ‘veste a sua túnica’, Jesus assume a sua vida
novamente (10.17ss.) no poder do Espírito, e assim esclarece todas as coisas”
(7).16 Sem esperar por uma resposta, Jesus explicou que isto tinha sido um
exemplo (15), ou modelo, “que estimula ou deve estimular alguém a imitá-lo”.17
Da mesma forma que Ele, seu Mestre (literalmente, “Ensinador”) e Senhor, lhes
tinha feito, assim deveriam fazer uns aos outros (13-14; cf. 34). Hoskyns diz:
“Seu ato de lavar os pés dos discípulos expressa a própria essência da
autoridade cristã”.18 Não parece haver qualquer evidência de que Jesus quisesse
que a lavagem dos pés fosse instituída como um sacramento. Mas fica claro que
Ele estava ensinando, pelo exemplo básico e axiomático, embora paradoxal, que a
única maneira de ser “o maior” (Lc 22.24) ou de ser bem-aventurado (17) é tomar
a estrada do serviço amoroso (13.34) e do sacrifício (10.15), baseado no
conhecimento da vontade de Deus para nós. A palavra traduzida como
bem-aventurado no texto das Beatitudes é makarioi (Mt 5.3-12).
Um dos
doze, no entanto, está se excluindo da execução do serviço amoroso, e
consequentemente das bem-aventuranças implicadas. Sem dúvida alguma pensando em
Judas, o Mestre disse: Não falo de todos vós (18). Então, como para enfatizar o
fato de que o próprio Judas escolhera desempenhar o papel do traidor como um
cumprimento das Escrituras, Ele acrescentou: eu bem sei os que tenho escolhido.
Bernard traduz esta frase com exatidão: “Sei o tipo de homem que escolhi”. A
expressão traduzida por: para que se cumpra a Escritura é um pouco enganosa. O
ensino claro das Escrituras é que as escolhas morais do homem são deixadas
dentro de seu próprio campo de decisão. Barclay esclarece bem a questão quando
comenta: “Toda esta tragédia que está acontecendo, de alguma maneira, está
dentro do propósito de Deus... Foi como as Escrituras disseram que seria”.
trecho das Escrituras que Jesus citou é Salmos 41.9: aquele que comia do meu
pão, levantou contra mim o seu calcanhar. Compartilhar o pão era uma promessa
de amizade. Levantou... o seu calcanhar descreve um ato de violência brutal,
como o coice repentino de um cavalo. Como foi profético!
Em poucos momentos,
Judas sairia, tendo ainda em sua boca o gosto do bocado da escolha que foi
partilhado com Jesus. Ele então retornaria com uma turba de assassinos,
perpetrando o ato violento e brutal jamais dantes praticado, nem sequer
equiparado.Jesus
tinha uma razão especial para expor o problema básico diante dos discípulos.
Isto se tornaria para eles mais uma evidência, a fim de que entendessem a sua
verdadeira natureza. Ele lhes contou o evento da traição antes que acontecesse,
e explicou a razão: para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou (19). O
eu sou (ego eimi) é outra das declarações de Jesus de sua divindade (cf. 16.4;
14.29; Ez 24.24; Mt 24.25). Westcott diz a respeito do eu sou: "... em mim
está a fonte da vida e luz e força; Eu vos apresento a majestade invisível de
Deus; Eu uno a virtude do meu Ser essencial, o que se vê e o que não se vê, o
finito e o infinito”.
Embora
seja verdade que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado, maior
do que aquele que o enviou (16), Jesus assegura aos seus discípulos o
relacionamento com Ele e com o Pai. Pois se alguém receber o que eu enviar, me
recebe a mim, e quem me recebe a mim recebe aquele que me enviou (20).
Joseph H.
Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 116-118.
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PAZ DO SENHOR
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