E O REINO DO MESSIAS
Professor Mauricio Berwald
A partir
deste capítulo, o sete, iniciaremos outro gênero de narrações sobre o profeta Daniel
e os seus amigos. Até o capítulo seis o gênero predominante no livro é
classificado como história. Mas a partir do capítulo sete, o gênero que passa a
dominar a obra é o das visões de Daniel. Uma série de visões dadas por Deus ao
profeta é revelada a respeito do futuro do mundo e do Reino de Deus.
Considere
também que os muitos interpretes de Daniel tendem a colocar a profecia do
capítulo 7 e 8 como uma continuação do capítulo 2. Lembra do que trata este
capítulo? Os impérios são representados por uma grande estátua com cabeça de
ouro; peito e braços de prata; ventre e quadris de bronze; pés de ferro e de
barro. Entretanto, a estátua é derrubada por uma pedra. Esta pedra é o Reino de
Deus destruindo toda a concepção humana de imperialismo.
Além do
primeiro, do segundo e do terceiro, o quarto animal traz algo bastante
específico: "dez chifres" e um "chifre pequeno". Quando o
professor explicar estes elementos considere que ao longo dos anos muitas
especulações foram feitas a respeito dessas duas figuras. Não vá além do que
menciona o texto bíblico.
No
passado, muitos crentes sinceros consideraram Hitler o pequeno chifre, isto é,
o Anticristo. Outros consideraram Stalin o líder mundial. Alguns disseram que o
Comunismo iria gerar o Anticristo. Outros ainda compreenderam que o papa João
Paulo II era o Anticristo. A história provou que todas estas especulações não
se sustentaram. Não sabemos a respeito do Anticristo porque simplesmente a sua
identidade não foi ainda declarada. Ao que parece, nem saberemos. Não seremos
arrebatados antes? Revista
Ensinador Cristão. Editora CPAD. pag. 40.
COMENTÁRIO INTRODUÇÃO
Os
estudiosos do livro de Daniel dividem o livro em duas partes, histórica e
profética. Os capítulos 1 a 6 o identificam como históricos, mesmo contendo uma
parte profética no capítulo 2. Os capítulos 7 a 12 são tratados como sendo
proféticos. É interessante notar que os acontecimentos dos capítulos 7 e 8
antecedem os descritos nos capítulos 5 e 6. Se no capítulo 6, Daniel já passava
dos 80 anos de idade, no capítulo 7, ele tinha aproximadamente uns 70 anos.
Quando Daniel organizou o seu livro tratando das interpretações dos sonhos nos
capítulos 2 e 6 e as visões que ele recebeu de Deus as separou da parte
histórica.
No
capítulo 7 inicia-se, essencialmente, a parte profética do livro de Daniel, o
verdadeiro Apocalipse do Antigo Testamento.
Esse capítulo 7 com a sua visão dos
impérios mundiais é paralelo com o capítulo 2 que tem o sonho de Nabucodonosor.
O capítulo 2 apresenta quatro impérios representados por quatro figuras do
mundo material. A visão do capítulo 2 foi dada a um rei pagão, o rei
Nabucodonosor e a visão do capítulo 7 foi dada a um servo de Deus, o príncipe
Daniel. A Nabucodonosor a visão revela o lado político e material dos impérios,
representados na figura da grande Estátua. A Daniel Deus revelou o lado moral e
espiritual desses impérios representados pelas figuras dos quatro animais. Os
fatos são os mesmos, mas o objetivo das duas visões difere nas finalidades.
Deus mostra a decadência desses impérios e o surgimento do reino eterno do
Messias.
Igualmente,
os acontecimentos preditos e proféticos nos capítulos 7 a 12 se darão em
sequência cronológica. As duas primeiras visões dos capítulos 7 e 8 se deram
antes da festa de Belsazar, descrita no capítulo 5. Porém, a visão do capítulo
9 precedeu à experiência de Daniel na cova dos leões no capítulo 6. Já, a
quarta visão de Daniel (cap.10 a 12) se deu no “ano terceiro de Ciro,rei da
Pérsia”(Dn 10.1).Elienai
Cabral. Integridade Moral e Espiritual. O Legado do Livro de Daniel para a
Igreja Hoje. Editora CPAD. pag. 97-98.
Os seis
capítulos anteriores desse livro eram históricos.
Ingressamos agora com temor e
tremor nos seis posteriores, que são proféticos, e onde existem muitas coisas
misteriosas e difíceis de serem entendidas, das quais certamente não ousamos
determinar o sentido, e ainda muitas coisas claras e proveitosas, das quais eu
creio que Deus nos permitirá fazer um bom uso. Nesse capítulo, temos: I. Avisão
de Daniel dos quatro animais (1-8). II. Sua visão do trono de domínio e juízo
de Deus (9-14). III. A explicação dessas visões, que lhe foram dadas por um
anjo que estava presente (15-28). E difícil dizer se essas visões procuram
antecipar o fim dos tempos, ou se elas deveriam ter um rápido cumprimento. Nem
mesmo os intérpretes mais criteriosos estão completamente de acordo neste
ponto.HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora
CPAD. pag. 868.
Este
capítulo inicia a segunda parte do livro de Daniel. Nos capítulos 1 a 6 vimos a
parte histórica do livro; agora, nos capítulos 7 a 12, veremos a parte
profética.O livro
de Daniel é chamado de “O Apocalipse do Antigo Testamento”. Ele trata da saga
dos reinos do mundo e da vitória triunfal do Reino de Cristo. É um livro
escatológico e apocalíptico.
Edward
Young diz que o capítulo 7 de Daniel trata do mesmo assunto que foi tratado no
capítulo 2. Ele afirma que esses dois capítulos são paralelos. José Grau sugere
que para um claro entendimento, esses dois capítulos devem ser lidos
conjuntamente. Evis Carballosa corretamente afirma que o capítulo 2 apresenta
um panorama na perspectiva do homem, enquanto o capítulo 7 apresenta uma
perspectiva divina do mesmo tema. Como a revelação divina é progressiva, o
capítulo 7 acrescenta detalhes importantes à revelação dada no capítulo 2.
O
capítulo 7 está dividido em duas grandes partes: os versículos 1 a 14 retratam
o sonho de Daniel; os versículos 15 a 28, a interpretação do sonho. Daniel 7
trata do desenrolar da história humana até o fim do mundo. Se olharmos apenas
para os reinos deste mundo somos o povo menos favorecido da terra, mas se
olharmos para o trono de Deus somos o povo mais feliz da terra. Os impérios do
mundo surgem, prosperam e desaparecem, mas o Reino de Cristo permanece para
sempre.LOPES.
Hernandes Dias. DANIEL Um homem amado no céu. Editora Hagnos. pag. 89-90.
Esta
visão, na realidade, foi um sonho espiritual, e, quanto ao título, difere das
visões que se seguem nos capítulos 8-12. Novamente encontramos os quatro
impérios, paralelos às quatro partes da imagem do sonho de Nabucodonosor
(capítulo 2).
Os quatro
im périos são sim bolizados pelos quatro anim ais que correspondem aos quatro
diferentes metais da visão do capítulo 2. Aqui também achamos uma escala
descendente de valor e poder, descendo do leão, passando pelo urso e pelo
leopardo, e chegando finalmente a um animal não chamado pelo nome, os quais
correspondem ao ouro, à prata, ao bronze e ao ferro da visão anterior. Em ambas
as visões, o reino de Deus (que é eterno) vem depois dos reinos terrenos. Há aí
um toque escatológico que nos leva à era do reino milenar de Deus. Atenção especial
é dada ao pequeno chifre, o último rei do quarto império, o qual é
variegadamente identificado. Se os santos do Senhor serão especialmente
perseguidos por ele, as páginas do livro da história o encerrarão, ao passo que
o Reino de Deus prosseguirá infinitamente depois do milênio. Este capítulo
divide-se naturalmente em três partes: vs. 1; vss. 2-7 e vs. 28. Também há
certo número de claras subdivisões.CHAMPLIN,
Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora
Hagnos. pag. 3401.
I – A
VISÃO DOS QUATROS ANIMAIS (Dn 7.1-8)
1. A
visão.
Daniel,
em sua visão, viu “os quatro ventos do céu agitavam o Mar Grande” (7.2) que
simbolizam os poderes celestiais movimentando o mundo nos quatro pontos
cardeais. São ventos que representam as grandes comoções políticas, os
conflitos bélicos e sociais nas nações do mundo.
“margrande”(v.
2) e “subiam do mar”(v. 3). O “Mar Grande” tem sido interpretado de dois modos:
Alguns estudiosos veem o “mar grande” como sendo a humanidade; outros veem o
“Mar Grande” como sendo o Mar Mediterrâneo, pelo fato, de que os quatro
impérios da visão surgem junto ao Mediterrâneo. Por outro lado, “o mar”, nas
profecias escatológicas da Bíblia é interpretado, também, como sendo “as nações
gentílicas” (Is 17.12,13). Minha opinião particular, fruto das avaliações que
fiz do texto é de que “o Mar Grande” é o Mediterrâneo. O versículo 3 diz que
“subiam do mar” e isto indica que se trata das nações adjacentes ao
Mediterrâneo. Uma das razões é que, o último império do capítulo 2 e 7, é o
Império Romano, cujas dimensões alcançavam as nações gentílicas adjacentes a
Roma.
Os quatro
animais como já dissemos estão ligados com o Mar Mediterrâneo. O uso simbólico
e profético do “mar” revela as turbulências e inquietações promovidas pelas
lideranças desses personagens dos quatro impérios. Esses animais são diferentes
uns dos outros e possuem caraterísticas que revelam a brutalidade daqueles dias
de forma irracional porque as ações desses animais ultrapassarão o nível da
racionalidade. Era o retrato que Deus dava desses impérios nas figuras
animalescas do texto para revelar o surgimento deles ao longo da vida de Israel
e do mundo, bem como, destacar o último grande império mundial sob a égide de
Satanás, representado pelo Anticristo.
“o
primeiro era como leão e tinha asas de águia” (7.4.). O leão, do mundo animal,
o rei dos animais, simboliza a Babilônia, profetizado, também, pelo Profeta
Jeremias (Jr 4.6,7). Comparando as visões do capítulo 2, a “cabeça de ouro”(Dn
2.32,37,38) é a “Babilônia” representada no capítulo 7 pelo “leão com asas de
águia” (Dn 7.4), percebemos o paralelo entre os dois capítulos. Deus se utiliza
de figuras do conhecimento cultural do homem para revelar verdades morais e
espirituais, por isso, na visão de Daniel Deus usou figuras do mundo animal. No
reino animal, o leão é o predador maior, portanto o rei. Aqui no capítulo 7 o
leão representa o Império Babilónico e as “asas de águia” fala da conquista em
extensão desse império que foi o maior do mundo naquela época. Na natureza, na
fauna animal, o leão e a águia são os animais nobres.
O leão é símbolo do rei
dos animais terrestres e a águia é identifica como a rainha das aves do céu. Os
dois, o leão e a águia representam a Babilônia pela ostentação de domínio e riqueza
que tinha em relação ao mundo de então. O leão lembra a bravura, a violência e
a força bruta sobre suas presas. Foi o que Nabucodonosor fez com as nações que
subjugou sob seu domínio. A águia lembra a rapidez e a voracidade. Portanto, o
domínio da Babilônia aconteceu entre os anos 605-539 a.C. Na visão, Daniel viu
que o fim chegou para a Babilônia quando lhe “foram arrancadas as asas” (7.4) e
isto lembra o fato quando Nabucodonosor que ficou demente, agindo como animal
do campo, porque não soube reconhecer a soberania divina. Ora, uma águia sem
asas significa um poder desfeito, sem capacidade de voar. Depois de “arrancadas
as asas”, diz o texto que o mesmo “foi posto em dois pés como homem”, e na sua
recuperação voltou à racionalidade e passou a agir como homem normal. Com esta
experiência, Nabucodonosor teve que reconhecer a soberania divina e lhe dar a
glória que só pertence a Deus (Dn 4.24,25,32,33,36,37).
O segundo
grande animal da visão é UM URSO (7.5).
O urso, pela sua força e voracidade é
quase tão formidável quanto o leão. E um animal pesado que tem um apetite
voraz, carnívoro e que estraçalha suas presas sem dificuldade. E um animal que
age com ataques súbitos e inesperados. Na interpretação de Daniel, esse “urso”
representa o segundo império que sucedeu ao babilónico que foi o “império
medo-persa” (Dn 2.39). Um detalhe interessante é que o texto diz: “o qual se
levantou de um lado” (v. 5). Em outras versões, a compreensão se amplia com a
forma como está escrito, quando diz: “com uma das patas levantada, pronto para
atacar”, conforme está na Bíblia Viva. Subentende-se que o urso não está
dormindo, mas está pronto para atacar e foi o que fez, unindo a Média e a
Pérsia, num ataque violento contra os exércitos de Nabonido. Na visão, o urso
tinha “três costelas entre os dentes” que podem representar o domínio sobre
três pequenas nações conquistadas por Ciro e por Dario. O Império Medo-persa
foi formado com a união das duas nações: a Média e a Pérsia. No capítulo 2, o
peito e os braços da colossal estátua simbolizavam o império que sucedeu ao
Babilónico, que é o medo-persa. Os dois braços simbolizavam a Média e a Pérsia
que se aliaram para atacar a Babilônia e formar um governo só. Em relação a
visão de Daniel, “o grande urso” se levantou de um lado, ou seja, se levantou
para atacar com voracidade e foi o que fez.
Diz mais
o texto que o tinha “três costelas entre os dentes” (v. 5).
Os estudiosos
escatológicos discutem sobre “as três costelas” entre os dentes do grande urso,
que podiam representar três outras nações que foram conquistadas por esse
império. A maioria desses estudiosos entende que se tratava da Babilônia, da
Lídia, na Ásia Menor e do Egito. Essas nações fizeram uma coligação para
suplantar as ameaças de dois reis, Dario e Ciro. Essas três nações (Babilônia,
Lídia e Egito) não conseguiram reagir porque “o urso” atacou com força voraz e
muita violência e os desfez. As “costelas entre os dentes” era o resultado de
outra ordem divina para o ataque do Urso, quando diz: ”Levanta-te, devora muita
carne”. Segundo a história e as profecias bíblicas, especialmente, de Isaías,
Ciro da Pérsia foi usado por Deus e é chamado o seu “ungido” para desfazer a
força da Babilônia (Is 44.28; 45.5). Deus usou um rei pagão para fazer o que
ele estabeleceu em sua soberana vontade para punir aquelas nações e para
restaurar o seu povo em Jerusalém. Porém, na presciência divina, haveria um
tempo para os sucessos do Império Medo-persa e esse tempo chegaria com o
surgimento de outro animal: um leopardo.
O
terceiro grande animal da visão é um LEOPARDO COM QUATRO ASAS (7.6).
A primeira
frase que aparece na sequência da visão depois do segundo animal, o urso, foi a
seguinte: “Depois disso, eu continuei olhando”. Essa frase dá a entender que os
animais apareceram na visão em sequência. Não apareceram todos ao mesmo tempo,
mas um depois do outro, porque Deus queria facilitar a compreensão do seu servo
Daniel em todos os detalhes da visão. O terceiro animal, portanto, era um
leopardo, ou semelhante a um leopardo. A caraterística principal desse animal
era a sua agilidade, a sua rapidez. Acima de tudo, esse leopardo não era
semelhante aos leopardos comuns porque ele tinha “quatro asas nas costas” e
tinha, também, “quatro cabeças”. Deus toma a figura desse animal
extraordinário, porque não havia no mundo animal nenhum semelhante. Esse
leopardo era uma representação da Grécia, que, com estupenda velocidade e
crueldade conquistou o mundo de então que estava sob o domínio medo-persa.
O
leopardo comum, além de ser carnívoro, é capaz de ataques súbitos e
inesperados. Esse ágil e forte leopardo representa, sem dúvida, ao reino grego
sob a força militar de Alexandre em 331 a.C. Como figura mítica, esse leopardo
tinha quatro asas de ave e quatro cabeças. As asas indicam o império depois da
morte de Alexandre (323 a.C.). O Império Grego, no capítulo 2 é representado no
sonho da Estátua de Nabucodonosor representado pelo “ventre e as coxas de
cobre” (Dn 2.32). No capítulo 7, Daniel vê o leopardo alado e com quatro
cabeças como o Império Grego que veio com Alexandre, o Grande, da Macedônia. Em
dez anos, Alexandre com enorme rapidez dominou o Império Medo-persa em 334
a.C., e expandiu o seu domínio na Europa e na índia. Ele tinha uma obsessão em
conquistar outros territórios, e o fez com quatro principais generais de
guerra.
O texto
diz que “foi-lhe dado o domínio”
(v. 6) e, de fato, rapidamente Alexandre
conquistou as nações ao redor e a influência do seu domínio, especialmente, na
cultura, foi capaz de tornar-se referencial cultural para o mundo inteiro até
os tempos modernos. Porém, em 323 a.C., Alexandre teve uma morte súbita e o seu
reino foi dividido por seus quatro generais. A Cassandro, foi-lhe dado a
Macedônia e a Grécia; a Ptolomeu I, a Palestina e o Egito; a Selêuco I, foi-lhe
dado a Síria e a Lisímaco, foi-lhe dado a Asia Menor e Trácia.
Na
linguagem bíblica, a figura da “cabeça” simboliza governo (Is 7.8,9; Ap
13.3,12) e “as quatro cabeças” do leopardo representam os quatro generais que
repartiram entre si o império depois da morte de Alexandre, o Grande. O
leopardo, como um todo, diz o texto no versículo 6 que “foi lhe dado o
domínio”. Naturalmente, entende-se, antes de tudo, que Deus tem o cetro de
governo do universo e deu ao rei grego o poder de dominar por um pequeno
período de tempo. No projeto divino prevalece a sua soberania que domina sobre
as nações do mundo. Esses quatro generais se tornaram reis nas regiões
designadas e se destacaram pela mesma ambição de glória e de poder como seu
líder e desenvolveram conflitos entre si e lutaram entre si. Segundo outra
visão que Daniel teve acerca desse mesmo império no capítulo 11.4: “o seu reino
será quebrado, e repartido para os quatro ventos do céu, mas não para a sua
posteridade”. Mais uma vez, ninguém rouba o cetro de governo de Deus. O Império
Grego também passou e foi superado por outro mais forte e violento, o Império
Romano. O leopardo audaz foi abatido pelo “animal terrível e espantoso”
(Dn7.7).Elienai
Cabral. Integridade Moral e Espiritual. O Legado do Livro de Daniel para a
Igreja Hoje. Editora CPAD. pag. 99-103.
A data
desse capítulo o coloca antes do capítulo 5, que ocorreu no último ano de
Belsazar, e do capítulo 4, que aconteceu no primeiro ano de Dario. Pois Daniel
teve aquelas visões no primeiro ano de Belsazar, quando o cativeiro dos judeus
na Babilônia estava concluindo um ciclo. O nome de Belsazar é aqui, no
original, soletrado diferentemente do que costumava ser. Antes ele era
Bel-sa-zar - Bei é aquele que acumula riquezas. Mas este é Bel-eshe-zar neste
nome, Bei significa aquele que arde em chamas ateadas pelo inimigo. Bei era o
deus dos caldeus. Aquele governante havia prosperado, mas estava então prestes
a ser destruído. Nós temos, nesses versículos, a visão de Daniel das quatro
monarquias que foram opressivas aos judeus. Observe:
I - As
circunstâncias dessa visão.
Daniel havia interpretado o sonho de Nabucodonosor,
e agora ele mesmo é honrado com revelações divinas semelhantes (v. 1): Ele teve
visões da sua cabeça em sua cama, quando estava dormindo. Assim Deus às vezes
revelava aos filhos dos homens tanto a si mesmo como também os seus
pensamentos. Sim, quando caía um sono profundo sobre eles (Jó 33.15). Pois
quando estamos mais isolados do mundo, e afastados das coisas dos sentidos,
estamos mais aptos para a comunhão com Deus. Mas quando estava acordado, ele
escreveu o sonho para seu próprio proveito, para que não o esquecesse como um
sonho que se desvanece. E ele contou o resumo dos assuntos para os seus irmãos
judeus, para o proveito deles, e lhes entregou por escrito, para que pudesse
ser comunicado àqueles que estavam longe, e fosse preservado para seus filhos
que viriam depois, que veriam essas coisas se cumprirem.
Os judeus,
interpretando mal algumas das profecias de Jeremias e Ezequiel, se animaram com
esperanças de que, depois de seu retorno para a sua própria terra, desfrutariam
uma tranqüilidade total e ininterrupta. Mas, para que não se iludissem dessa
forma, e súas desventuras se tornassem duplamente dolorosas pelo
desapontamento, Deus faz com que saibam através desse profeta que terão
tribulações: as promessas de sua prosperidade deveriam ser cumpridas nas
bênçãos espirituais do reino da graça. Cristo diz aos seus discípulos que eles
devem esperar perseguições, e as promessas nas quais confiam serão cumpridas nas
bênçãos eternas do reino da glória. Daniel tanto escreveu essas coisas como as
disse, para indicar que a igreja deveria ser ensinada tanto através da
Escritura quanto pela pregação dos ministros. Pela palavra escrita e
verbalmente. E os ministros, em suas pregações, devem divulgar os pontos
principais dos assuntos que estão escritos.
II - A
própria visão, que prediz as evoluções dos governos naquelas nações, sob cuja
influência estaria a congregação dos judeus nas eras seguintes. mencionou os
quatro ventos combatendo no mar grande (v. 2). Eles lutavam para definir quem
sopraria com mais força e, no longo prazo, quem sopraria sozinho. Isso
representa as contendas entre os príncipes pelo império, e as agitações das
nações por causa dessas disputas, às quais essas poderosas monarquias (das
quais ele devia agora ter um panorama) deviam a sua ascensão. Se um vento de
qualquer direção soprar forte, causará uma grande agitação no mar. Mas que
tumulto deve necessariamente se instaurai- quando os quatro ventos lutam pelo
comando! Este é o ponto importante devido ao qual os reis das nações estão
lutando em suas guerras, que são tão turbulentas e violentas quanto a batalha
dos ventos. Mas como é o mar sacudido, e agitado, quão terríveis são as suas
concussões, e quão violentas são as suas convulsões, enquanto os ventos estão
em luta para decidir qual deles terá o poder exclusivo de atormentá-lo! Note
que este mundo é como um mar violento e tempestuoso, graças aos ventos
orgulhosos e ambiciosos que o atormentam. 2. Ele viu quatro grandes animais
surgirem do mar, das águas agitadas, nas quais as mentes ambiciosas adoram
pescai’. Os monarcas e as monarquias são representados por animais, porque
muito frequentemente é pelo furor selvagem e pela tirania que são engrandecidos
e mantidos. Esses animais eram diferentes uns dos outros (v. 3), de tamanhos
diferentes, para denotar as diferentes índoles e o aspecto geral das nações em
cujas mãos eles estavam alojados.
(1) O primeiro animal era como um leão (v.
4). Esse representava a monarquia cal- déia que era forte e feroz, e tornava os
reis absolutos. Esse leão tinha asas de águia, com as quais voava sobre a
presa, simbolizando a extraordinária rapidez com que Nabucodonosor realizou a
conquista de muitos reinos. Mas Daniel logo vê as asas arrancadas, um ponto
final colocado à carreira dos seus exércitos vitoriosos. Diversas nações que
haviam sido suas tributárias se revoltam e avançam contra ele. De modo que esse
monstruoso animal, esse leão alado, é obrigado a ficar de pé como um homem, e
um coração de homem lhe é dado. Ele perdeu o coração de leão, devido ao qual
havia se tornado célebre (um dos nossos reis ingleses foi chamado de Coeur de
Lion - Coração de Leão), perdeu a sua coragem e se tornou fraco e medroso,
temendo tudo, não ousando fazer mais nada. Eles foram atemorizados, e lhes foi
feito saber que eram apenas homens. Algumas vezes a coragem de uma nação
estranhamente se deteriora, e ela se torna covarde e fraca, de maneira que
aquela que era a cabeça das nações em uma ou duas gerações se torna a cauda
delas.
(2) O segundo animal era semelhante a um urso (v. 5). Este simbolizava a
monarquia persa, menos poderosa e generosa do que a anterior, mas não menos
voraz. Esse urso se levantou de um lado contra o leão, e logo o dominou. Ele
levantou um império. Assim alguns o interpretam. A Pérsia e a Média, que na
estátua de Nabucodonosor eram os dois braços ligados a um peito, agora
estabeleceram um governo conjunto. Esse urso tinha em sua boca três costelas
entre os dentes, os restos das nações que ele havia devorado, que eram o
símbolo de sua voracidade, e ainda um indício de que embora ele tivesse
devorado muito, não poderia devorar tudo. Algumas costelas, que não pôde
conquistar, ficaram grudadas em seus dentes. Como conseqüência disso, foi-lhe
dito: “Levanta-te, devora muita carne”. Deixa em paz os ossos, as costelas,
pois estes não podem ser subjugados. Assim, ataque aquela que será uma presa
mais fácil. Os príncipes encorajarão tanto os reis quanto o povo a prosseguir
em suas conquistas, e a não permitir que nada se oponha a eles. Note que as
conquistas, realizadas injustamente, são apenas como aquelas de animais que
caçam, e nesse aspecto são muito piores, pois os animais não caçam os de sua
própria espécie, como fazem os homens maus e irracionais.
(3) O terceiro animal
era semelhante a um leopardo (v. 6). Este representava a monarquia grega
fundada por Alexandre, o Grande, que era ágil, astucioso, e cruel como um
leopardo. Ele tinha quatro asas como as de uma ave. O leão parece ter tido
apenas duas asas. Mas o leopardo tinha quatro, pois embora Nabucodonosor fosse
rápido em suas conquistas, Alexandre foi muito mais. Em um período de seis anos
ele conquistou todo o império da Pérsia, uma grande parte fora da Ásia,
tornou-se senhor da Síria, Egito, índia, e outras nações. Esse animal tinha
quatro cabeças. Na morte de Alexandre suas conquistas foram divididas entre
seus quatro chefes militares. Seleuco Nicanor ficou com a Ásia Maior. Perdicas,
e depois dele Antígono, ficou com a Ásia Menor. Cassandro ficou com a
Macedônia. E Ptolemeu com o Egito. O domínio foi dado a esse animal. Foi dado
por Deus, o Único de quem vem a promoção.
(4) O
quarto animal era mais feroz, terrível e nocivo do que qualquer um deles,
diferente de todos os outros. Não há nenhuma entre as feras com a qual ele
possa ser comparado (v. 7). Os eruditos não estão de acordo a respeito desse
animal desconhecido. Alguns entendem que seja o império romano, que, quando se
encontrava em sua glória, abrangia dez reinos: Itália, França, Espanha,
Alemanha, Britânia, Sarmatia, Pannonia, Ásia, Grécia e Egito. E então a pequena
ponta que ascendeu através da queda de três das outras pontas (v. 8) entendem
ser o império turco, que ascendeu no lugar da Ásia, Grécia e Egito. Outros entendem
ser este quarto animal o reino da Síria, a família dos selêucidas, que era
muito cruel e opressora para com a nação dos judeus, como encontramos em Josefo
e na história dos macabeus.
E nisso esse império era diferente daqueles que
vieram antes, pois nenhum dos poderes precedentes forçou os judeus a
renunciarem à sua religião, mas os reis da Síria o fizeram, e aproveitaram-se
deles barbaramente. Seus exércitos e comandantes eram os grandes dentes de
ferro com os quais devoraram e fizeram em pedaços o povo de Deus, e eles
pisotearam seus restos. Supõe-se, então, que as dez pontas sejam os dez reis
que reinaram sucessivamente na Síria. Portanto, a ponta pequena é Antíoco
Epifânio, o último dos dez, que de uma forma ou de outra debilitou
gradativamente três dos reis, e conquistou o governo. Ele era um homem de
grande engenhosidade, e então foi dito que tinha olhos iguais aos de um homem.
Ele era muito destemido e ousado, e tinha uma boca que falava grandiosamente.
Nós o encontraremos novamente nessas profecias.HENRY. Matthew. Comentário
Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 868-869.
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PAZ DO SENHOR
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