Jonathan Edwards ( 1703 - 1758)
Jonathan Edwards nasceu em 5 de outubro de 1703 em Windsor,
Connecticut. Era o único filho além das dez filhas de Timothy Edwards, pastor
congregacional da cidade. De acordo com a tradição, Timothy costumava dizer que
Deus o abençoou com vinte metros de filhas. Timothy ensinou latim a Jonathan
quando o menino tinha 6 anos de idade e o mandou para Yale quando ele completou
12 anos. Yale havia sido fundada fazia apenas quinze anos e estava lutando para
não fechar as portas. Para Jonathan Edwards, porém, tornou-se um lugar de
crescimento e estímulo intelectual intensos.
Como aluno de Yale, aos 15 anos de idade ele leu a obra que se
tornaria seminal para o seu pensamento, Essays on Human Understanding [Ensaios
sobre o entendimento humano], de John Locke. Ele comentou, posteriormente, que
sentiu mais prazer em ler essa obra "do que o mais cobiçoso dos sovinas
sentiria em juntar punhados de moedas de prata e ouro de algum tesouro
recém-descoberto".Já nessa tenra idade, ele começou a formar o padrão de
escrita e de pensamento que canalizaria o grande poder da sua mente e do seu
coração para uma literatura extraordinariamente produtiva.
Quando ainda era menino, começou a estudar com uma pena na mão;
não para copiar os pensamentos de outros, mas com o propósito de anotar e
preservar as idéias sugeridas à sua mente pela matéria que estivesse estudando.
Essa prática extremamente proveitosa teve início muito precoce em diversas
áreas de conhecimento e Edwards a manteve constantemente nos seus estudos ao
longo de toda a vida. Tem-se a impressão de que, em certo sentido, ele estava
sempre com a pena na mão. Preservado com determinação, esse exercício lhe
ofereceu grandes vantagens: pensar de maneira contínua durante cada período de
estudo; pensar com precisão; pensar de maneira interligada; pensar como hábito
o tempo todo.
Ele formou-se em Yale em 1720, fez o discurso de despedida em
latim e continuou os seus estudos por mais dois anos, preparando-se para o
ministério. Foi ordenado aos 19 anos e iniciou o seu pastorado na Igreja
Presbiteriana Escocesa em Nova York, onde permaneceu durante oito meses, de
agosto de 1722 a abril de 1723
No começo do século 18, era visível nas 13 colônias — que em
breve seriam conhecidas como Estados Unidos — o declínio da fé evangélica,
provocado pela influência do processo colonizador, com seu subseqüente aumento
populacional, sucessão de guerras brutais e declínio da espiritualidade dos
ministros.
Um gigante espiritual
Jonathan Edwards nasceu em 1703, único filho homem de Timothy
Edwards, que era pastor congregacional em East Windsor, Connecticut. Pouco
antes de completar 13 anos, entrou no Yale College. Em 1720, recebeu o grau de
bacharel, e aos 20 anos recebeu o grau de mestre em artes. Em abril ou maio de
1721, Edwards experimentou a conversão:
A partir daquele tempo, eu comecei a ter um novo tipo de
compreensão e idéias a respeito de Cristo, e da obra da redenção e do glorioso
caminho da salvação através dele. Eu tinha um doce senso interior dessas
coisas, que às vezes vinham ao meu coração; e a minha alma era conduzida em
agradáveis vistas e contemplações delas. E a minha mente estava grandemente
engajada em gastar meu tempo em ler e meditar sobre Cristo; e a beleza e a
excelência de sua pessoa, e o amável caminho da salvação, pela livre graça nele
[...]. Esse senso que eu tinha das coisas divinas freqüentemente e
repentinamente se inflamava, como uma doce chama em meu coração; um ardor da
alma, que eu não sei expressar.
Em 1727, foi ordenado ao pastorado. Ele diz de sua consagração:
Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a
mim mesmo e tudo que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer
sentido, para não me comportar como quem tivesse direitos de forma alguma
[...], travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim da
vida.
Edwards passou a auxiliar seu avô, Solomon Stoddart, no ministério
da igreja congregacional de Northampton, Massachusetts. Após a morte do avô, um
pastorado que durou sessenta anos, ele assumiu a igreja.
No período entre 1735 e 1737, durante uma série de pregações
sobre a justificação pela graça por meio da fé, começou um pequeno avivamento
em sua congregação. Seus ouvintes sentiram as grandes verdades das Sagradas
Escrituras: toda boca ficará fechada no dia do juízo e "não há coisa
alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no inferno, senão o bel-prazer
de Deus". Em suas palavras, "o Espírito de Deus começou a traba¬lhar
de maneira extraordinária. Muita gente estava correndo para receber Jesus. Esta
cidade estava cheia de amor, cheia de alegria e cheia de temor. Havia sinais
notáveis da presença de Deus em quase cada casa". Entre 1739 e 1741,
George Whitefield pregou em 12 das 13 colônias, e teve um papel central na
continuação desse avivamento. De 25 a 50 mil pessoas se converteram, entrando
para as igrejas — nessa época, a população da Nova Inglaterra era calculada em
250 mil pessoas —, sem contar os já convertidos e membros das igrejas.
Era costume de sua igreja conceder o privilégio a qualquer
pessoa, mesmo sem ser membro da igreja, para participar da ceia do Senhor. Por
requerer uma base estrita para participar da ceia, Edwards foi demitido de sua
igreja em 1750. D. M. Lloyd-Jones disse que essa foi uma das coisas mais
espantosas que já aconteceram, e deve servir como uma palavra de encorajamento
para os ministros e pregadores. Lá estava Edwards — o altaneiro gênio, o
poderoso pregador, o homem que estava no centro do grande avivamento — e,
todavia, foi derrotado na votação de sua igreja, por duzentos e trinta votos,
contra apenas vinte e três a seu favor.
Lloyd-Jones conclui: "Não se surpreendam, portanto, irmãos,
quanto ao que possa acontecer com vocês em suas igrejas".
Depois disso, Edwards foi ser missionário junto aos índios
mohawk e housatonic, num posto na fronteira, em Stockbridge. Foi lá que ele
escreveu alguns de seus tratados teológicos mais importantes. Em 1757, aceitou
a presidência do College of New Jersey, que agora é a Universidade de
Princeton, e, em 1758, depois de receber uma vaci¬na contra varíola, que estava
sendo testada, ele morreu.
Jonatas Edwards
FONTE HEROIS DA FÉ ,CPAD,BRASIL
Jônatas Edwards, entre os homens, era o vulto maior nesse
avivamento, que se intitulava O grande despertamento. Sua vida é um exemplo
destacado de consagração ao Senhor para o desenvolvimento maior do intelecto e,
sem qualquer interesse próprio, de deixar o Espírito Santo usar o mesmo
intelecto como instrumento nas suas mãos. Amava a Deus, não somente de coração
e alma, mas também de todo o entendimento."Sua mente prodigiosa apoderava-se
das verdades mais profundas". Contudo, "sua alma era, de fato, um
santuário do Espírito Santo". Sobaparente calma exterior, ardia nele o
fogo divino, como um vulcão.
Os crentes atuais devem a esse herói, graças à sua perseverança
em orar e estudar sob a direção do Espírito, a volta às várias doutrinas e
práticas da igreja primitiva. Grande é o fruto da dedicação do lar em que
Edwards nasceu e se criou. Seu pai foi o amado pastor de uma só igreja durante
um período de sessenta e quatro anos. Sua piedosa mãe era filha de um pregador
que pastoreou uma igreja durante mais de cinqüenta anos.
Dez das irmãs de Jônatas, quatro eram mais velhas do que ele e
seis mais novas. "Muitas foram as orações que os pais ofereceram a Deus,
para que o único e amado filho fosse cheio do Espírito Santo, e que se
tornasse grande perante o Senhor. Não somente oravam assim, fervorosa e constantemente,
mas mostravam-se igualmente zelosos em criá-lo para Deus. As orações, à volta
da lareira, os estimularam a se esforçarem, e seus esforços redobrados os motivaram
a orarem mais fervorosamente... O ensino religioso e permanente resultou em
Jônatas conhecer intimamente a Deus, quando ainda criança".
Quando Jônatas tinha sete ou oito anos, houve um despertamento
na igreja de seu pai, e o menino acostumou-se a orar sozinho, cinco vezes,
todos os dias, e a chamar outros da sua idade para orarem com ele.
Citamos aqui as suas palavras sobre esse assunto: "A
primeira experiência, de que me lembro, de sentir no íntimo a delícia de Deus
e das coisas divinas, foi ao ler as palavras de 1 Timóteo 1.7: 'Ora, ao Rei
dos séculos, imortal, invisível; ao único Deus seja honra e glória para todo o
sempre. Amém'. Sentia a presença de Deus até arder o coração e abrasar a alma
de tal maneira, que não sei descrevê-la... Gostava de passar o tempo olhando
para a lua e, de dia, a contemplar as nuvens e os céus. Passava muito tempo observando
a glória de Deus, revelada na natureza e cantando as minhas contemplações do
Criador e Redentor... Antes me sentia demasiado assombrado ao ver os
relâmpagos e ouvir a troar do trovão. Porém mais tarde eu me regozijava ao
ouvir a majestosa e terrível voz de Deus na trovoada". Antes de completar
treze anos, iniciou seu curso em Yale College, onde, no segundo ano, leu
atentamente a famosa obra de Locke: Ensaio sobre o entendimento humano.
Vê-se, nas suas próprias palavras acerca dessa obra, o grande desenvolvimento
intelectual do moço: "Achei mais gozo nisso do que o mais ávido avarento,
em ajuntar grandes quantidades de ouro e prata de tesouros
recém-adquiridos".
Edwards, antes de completar dezessete anos, diplomou-se no Yale
College com as maiores honras. Sempre estudava com esmero, mas também
conseguia tempo para estudar a Bíblia, diariamente. Depois de. diplomar-se, continuou
seus estudos em Yale, durante dois. anos e foi então separado para o
ministério.
Foi nessa altura que seu biógrafo escreveu acerca de seu costume
de dedicar certos dias para jejuar, orar e examinar-se a si mesmo.
Acerca da sua consagração, com idade de vinte anos, Edwards
escreveu: "Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando
a mim mesmo e tudo que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em
qualquer sentido, para não me comportar como quem tivesse direitos de forma
alguma... travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim
da vida".
Alguém assim se referiu a Jônatas: "Sua constante e solene
comunhão com Deus, em secreto, fazia com que o rosto dele brilhasse perante o
próximo, e sua aparência, semblante, palavras e todo o seu comportamento eram
acompanhados por seriedade, gravidade e solenidade".
Aos vinte e quatro anos casou-se com Sara Pierrepont, filha de
um pastor, e desse enlace nasceram, como na família do pai de Edwards, onze
filhos.
Ao lado de Jônatas Edwards, no Grande Despertamento, estava o
nome de Sara Edwards, sua fiel esposa e ajudadora em tudo. Como seu marido, ela
nos serve como exemplo de rara intelectualidade. Profundamente estudiosa,
inteiramente entregue ao serviço de Deus, ela era conhecida por sua santa
dedicação ao lar, pelo modo de criar seus filhos e pela economia que praticava,
movida pelas palavras de Cristo: "Para que nada se perca". Mas antes
de tudo, tanto ela como seu marido eram conhecidos por suas experiências em
oração. Faz-se menção destacada especialmente dum período de três anos,
durante o qual, apesar de gozar de perfeita saúde, ficava repetidas vezes sem
forças, por causa das revelações do Céu. A sua vida inteira foi de intenso
gozo no Senhor.
Jônatas Edwards costumava passar treze horas, todos os dias,
estudando e orando. Sua esposa, também, diariamente o acompanhava na oração.
Depois da última refeição, ele deixava toda a lida, a fim de passar uma hora
com a família.
- Mas, quais as doutrinas de que a igreja havia esquecido e
quais as que Edwards começou a ensinar e a observar de novo, com manifestações
tão sublimes?
Basta uma leitura superficial para descobrir que a doutrina, à
qual deu mais ênfase, foi a do novo nascimento, como sendo uma experiência
certa e definida, em contraste com a idéia da Igreja Romana e de várias
denominações.
O evento que marcou o começo do Grande Despertamento foi uma
série de sermões feitos por Edwards sobre a doutrina da justificação pela fé,
que fez os ouvintes sentirem a verdade das Escrituras, de que toda a boca
ficará fechada no dia de juízo, e que "não há coisa alguma que, por um
momento, evite que o pecador caia no Inferno, senão o bel prazer de Deus".
É impossível avaliar o grau do poder de Deus, derramado para
despertar milhares de almas, para a salvação, sem primeiro nos lembrarmos das
condições das igrejas da Nova Inglaterra, e do mundo inteiro, nessa época.
Quem, até hoje, não se admira do heroísmo dos puritanos que colonizaram as florestas
da Nova Inglaterra? Passara, porém, essa glória e a igreja, indiferente e
cheia de pecado, se encontrava face com o maior desastre. Parecia que Deus não
queria abençoar a obra dos puritanos, obra que existiu unicamente para sua
glória. Por isso, no mesmo grau que havia coragem e ardor entre os pioneiros,
houve entre seus filhos, perplexidade e confusão. Se não pudessem alcançar, de
novo, a espiritualidade, só lhes restava esperar o juízo dos céus.O famoso
sermão de Edwards, ''Pecadores nas mãos de um Deus irado", merece menção
especial.
O povo, ao entrar para o culto, mostrava um espírito leviano, e
mesmo de desrespeito, diante dos cinco pregadores que estavam presentes.
Jônatas Edwards foi escolhido para pregar. Era homem de dois metros de altura;
seu rosto tinha aspecto quase feminino, e o corpo magro de jejuar e orar. Sem
quaisquer gestos, encostado num braço sobre a tribuna, segurando o manuscrito
na outra mão, falava em voz monótona. Discursou sobre o texto de Deuteronômio
32.35: "Ao tempo em que resvalar o seu pé".
Depois de explicar a passagem, acrescentou que nada evitava, por
um momento, que os pecadores caíssem no Inferno, a não ser a própria vontade
de Deus; que Deus estava mais encolerizado com alguns dos ouvintes do que com
muitas pessoas que já estavam no Inferno; que o pecado era como um fogo
encerrado dentro do pecador e pronto, com a permissão de Deus, a transformar-se
em fornalhas de fogo e enxofre, e que somente a vontade do Deus indignado os
guardava da morte instantânea.
Prosseguiu, então, aplicando o texto ao auditório: "Aí está
o Inferno com a boca aberta. Não existe coisa alguma sobre a qual vós vos
possais firmar e segurar. Entre vós e o Inferno existe apenas a atmosfera...
há, atualmente, nuvens negras da ira de Deus pairando sobre vossas cabeças,
predizendo tempestades espantosas, com grandes trovões. Se não existisse a
vontade soberana de Deus, que é a única coisa para evitar o ímpeto do vento até
agora, serieis destruídos e vos tornaríeis como a palha da eira... O Deus que
vos segura na mão, sobre o abismo do Inferno, mais ou menos como o homem
segura uma aranha ou outro inseto nojento sobre o fogo, durante um momento,
para deixá-lo cair depois, está sendo provocado em extremo... Não há que
admirar, se alguns de vós com saúde e calmamente sentados aí nos bancos,
passarem para lá antes de amanhã..."
O resultado do sermão foi como se Deus arrancasse um véu dos
olhos da multidão para contemplar a realidade e o horror da posição em que
estavam. Nessa altura o sermão foi interrompido pelos gemidos dos homens e os
gritos das mulheres; quase todos ficaram de pé, ou caídos no chão. Foi como se
um furacão soprasse e destruísse uma floresta. Durante a noite inteira a cidade
de Enfield ficou como uma fortaleza sitiada. Ouvia-se, em quase todas as casas,
o clamor das almas que, até aquela hora, confiavam na sua própria justiça.
Esperavam que, a qualquer momento, o Cristo descesse dos céus com os anjos e
apóstolos ao lado, e que os túmulos entregassem os mortos que neles havia.
Tais vitórias, contra o reino das trevas, foram ganhas de
joelhos. Edwards não abandonara, nem deixara de gozar os privilégios das
orações, costume que vinha desde a meninice. Continuou a freqüentar, também, os
lugares solitários na floresta onde podia ter comunhão com Deus. Como um
exemplo citamos a sua experiência com a idade de trinta e quatro anos, quando
entrou na floresta, a cavalo. Lá, prostrado em terra, foi-lhe concedido ter
uma visão tão preciosa da graça, amor e humilhação de Cristo como Mediador, que
passou uma hora vencido por uma torrente de lágrimas e pranto.
Como era de esperar, o Maligno tentou anular a obra gloriosa do
Espírito Santo no "Grande Despertamento", atribuindo tudo ao
fanatismo. Em sua defesa Edwards escreveu : "Deus, conforme as
Escrituras, faz coisas extraordinárias. Há motivos para crer, pelas profecias
da Bíblia, que sua obra mais maravilhosa seria feita nas últimas épocas do
mundo. Nada se pode opor às manifestações físicas, como as lágrimas, gemidos,
gritos, convulsões, falta de forças... De fato, é natural esperar, ao
lembrarmo-nos da relação entre o corpo e o espírito, que tais coisas
aconteçam. Assim falam as Escrituras: do carcereiro que caiu perante Paulo e
Silas, angustiado e tremendo; do Salmista que exclamou, sob a convicção do
pecado: 'Envelheceram os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo' (Salmo
32.3); dos discípulos, que, na tempestade do lago, clamaram de medo; da Noiva,
do Cântico dos Cânticos, que ficou vencida, pelo amor de Cristo, até
desfalecer..."
Certo é que na Nova Inglaterra começou, em 1740, um dos maiores
avivamentos dos tempos modernos. É igualmente certo que este movimento se
iniciou, não com os sermões célebres de Edwards, mas com a firme convicção
deste, de que há uma "obra direta que o Espírito divino faz na alma
humana". Note-se bem: Não foram seus sermões monótonos, nem a eloqüência
extraordinária de alguns, como Jorge Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito
Santo no coração dos mortos espiritualmente, que, "começando em
Northampton, espalhou-se por toda a Nova Inglaterra e pelas colônias da América
do Norte, chegando até a Escócia e a Inglaterra". De uma época de maior
decadência, a Igreja de Cristo, entre a população escassa da Nova Inglaterra,
despertou e foram arrebatadas de trinta a cinqüenta mil almas do Inferno
durante um período de dois a três anos.
No meio das suas lutas, sem ninguém esperar, a vida de Jônatas
Edwards foi tirada da Terra. Apareceu a varíola em Princeton e um hábil médico
foi chamado de Filadélfia para inocular os estudantes. O nosso pregador e duas
de suas filhas foram também vacinados. Na febre que resultou, as forças de
nosso herói diminuíram gradualmente até que, um mês depois, faleceu.
Assim diz um de seus biógrafos: "Em todo o mundo onde se
falava o inglês, era considerado o maior erudito desde os dias do apóstolo
Paulo ou de Agostinho".
Para nós, a vida de Jônatas Edwards é uma das muitas provas de
que Deus não quer que desprezemos as faculdades intelectuais que Ele nos
concede, mas que as desenvolvamos, sob a direção do Espírito Santo, e que as
entreguemos desinteressadamente para o seu uso.
fonte heois da fá Orlando Boyer ,cpad ,rio de janeiro
Um pastor de múltiplos interesses
Ao considerarmos os escritos de Edwards, temos um vislumbre de
seus interesses e aptidões. Ele escreveu cerca de mil sermões, e seu alvo era
levar os homens a entenderem e sentirem a verdade do evangelho e responderem a
ela. Seus sermões eram esboçados segundo o método puritano, que incluía a
exposição do texto bíblico escolhido, apresentação da doutrina — apoiada por
outros textos bíblicos — e aplicação às questões do dia-a-dia. Ele ocultava sua
erudição por traz de uma clareza deliberadamente simples.
Pecadores nas mãos de um Deus irado (1740), baseado em
Deuteronômio 32.25, é seu sermão mais famoso. Antes desse sermão, por três
dias, Edwards não se alimentara nem dormira; rogara a Deus sem cessar:
"Dá-me a Nova Inglaterra!". O povo, ao entrar para o culto, se
mostrava indiferente e mesmo desrespeitoso diante dos cinco pregadores que
estavam presentes. Edwards iria pregar, e, ao dirigir-se para o púlpito, alguém
disse que ele tinha o semblante de quem fitara, por algum tempo, o rosto de
Deus. Sem quaisquer gestos, encostado num braço sobre o púlpito, segurava o
manuscrito e o lia numa voz calma e penetrante. O resultado do sermão foi como
se Deus arrancasse um véu dos olhos da multidão para contemplar a realidade e o
horror em que estavam. Em certa altura, um homem correu para frente, clamando,
suplicando por oração, sendo interrompido pelos gemidos de homens e mulheres;
quase todos ficaram de pé ou prostrados no chão, alguns se agarrando às colunas
da igreja, pensando que o juízo final havia chegado. Durante a noite inteira
ouviu-se na cidade, em quase todas as casas, o clamor daqueles que, até aquela
hora, confiavam em sua própria justiça. O efeito foi duplo:
Primeiro [...], eles abandonavam as suas práticas pecaminosas
[...]. Depois que o Espírito de Deus começou a ser derramado tão
maravilho¬samente de uma maneira geral sobre a vila, pessoas logo deixaram as
suas velhas brigas, discussões e interferências nos assuntos dos outros. A
taverna logo foi deixada vazia, e as pessoas ficavam em casa; ninguém se
afastava, a não ser para negócios necessários ou por causa de algum motivo
religioso, e todos os dias pareciam, em muitos sentidos, como o dia de domingo.
Segundo, eles começavam a aplicar os meios de salvação; leitura, oração,
meditação, as ordenanças pessoais; seu clamor era: "O que devo fazer para
ser salvo?".
Edwards reconheceu que "mais de 300 almas foram salvas,
trazidas para Cristo", em Northampton. Nesta época sua cidade tinha cerca
de 2 mil habitantes!
Não havia sequer uma pessoa na cidade, velha ou jovem, que não
estivesse interessada nas grandiosas coisas do mundo eterno [...]. O trabalho
de conversão era levado adiante da maneira mais surpreendente; as almas vinham,
multidões delas, a Jesus Cristo.
Outro sermão magistral é uma exposição verso por verso de l joão
4, A verdadeira obra do Espírito (1741). Edwards sabia que problemas acompanham
o avivamento, pois Satanás — o qual, segundo ele observou, foi "treinado
no melhor seminário teológico do universo" — segue a um passo de Deus,
pervertendo ativamente e caricaturando tudo quanto o Criador está fazendo.
Então, na primeira patte de seu sermão, ele passa a mosrrar quais são os sinais
que supostamente negam uma obra espiritual. Na segunda parte, então, ele
demonstra os sinais bíblicos de uma obra do Espírito Santo. São elas:
"amor por Jesus, Filho de Deus e Salvador dos homens", "agir
contra os interesses do reino de Satanás, que busca encorajar e firmar o
pecado, e fomentar as paixões mundanas nos homens", "profunda
consideração pelas Sagradas Escrituras", revelação dos caracteres
"opostos do Espírito de Deus e dos outros espíritos que falsificam suas
obras" e "se o espírito que está em ação em meio a um povo opera como
espírito de amor a Deus e ao homem, temos aí um sinal seguro de que esse é o
Espírito de Deus". Assim era Edwards, nem crédulo nem hipercrítico, sempre
examinando os dois lados.
Seu interesse por temas teológicos se evidencia pela amplidão de
suas obras, abordando quase todos os temas doutrinários. As vezes, ele tem sido
considerado um teólogo-filósofo, por causa de alguns de seus escritos, mas
jamais deixou que a filosofia lhe ensinasse a fé ou que o desviasse da Bíblia.
Ele extraía das Escrituras as convicções, e a verdadeira estatura dele deve ser
aquilatada como um teólogo bíblico.
Como disse J. I. Packer, "por toda a sua vida, Edwards
alimentou a alma com a Bíblia; por toda a sua vida, alimentou o rebanho com a
Bíblia". Ele é mais freqüentemente estudado por causa da sua descrição
agostiniana do pecado humano e da total suficiência da graça de Deus em Cristo
por meio do Espírito. Mark Noli diz que, para Edwards, a raiz da pecaminosidade
humana era o antagonismo contra Deus; Deus era justificado ao condenar os
pecadores que menosprezavam a obra de Cristo em favor deles; a conversão
importava uma mudança radical do coração; o cristianismo verdadeiro envolvia
não somente compreender algo de Deus e dos fatos das Escrituras, como também um
novo senso da beleza, santidade e verdade divinas. Na mente de Edwards, as
implicações para a conversão, que o conceito da natureza humana subentendia,
ocupavam o lugar principal. Ele dizia que um pecador, por natureza, nunca
escolheria glorificar a Deus, a não ser que o próprio Deus mudasse o caráter
daquela pessoa ou — segundo a expressão do próprio Edwards — implantasse um
novo 'senso do coração' para amar e servir a Deus.
A regeneração, ato de Deus, era a base para as ações humanas do
arrependimento e da conversão. Ele cria que o Deus onipotente exigia
arrependimento e fé das suas criaturas; então, proclamava tanto a absoluta
soberania de Deus quanto a urgente responsabilidade dos homens.
O Tratado das afeições religiosas (1746), baseado numa série de
sermões em 1 Pedro 1.8, é um tratado clássico de psicologia da religião. Apesar
de sua educação lógica e racional, Edwards argumentava que a religião
verdadeira reside no coração, no centro das afeições, emoções e inclinações.
Ele detalhava de forma minuciosa os tipos de emoções religiosas que, em grande
medida, são irrelevantes à espiritualidade verdadeira. Esse livro termina com
uma descrição de 12 marcas que indicam a presença da verdadeira espiritualidade
cristã. A primeira era uma afeição que surgia "daquelas influências e
operações sobre o coração, que são espirituais, sobrenaturais e divinas".
A última era a manifestação de afeições genuínas e verdadeiras, que demonstram
seus frutos na prática cristã. A análise cuidadosa de Edwards sobre a fé
genuína enfatizava que não é a quantidade de emoções que indica a presença da
verdadeira espiritualidade, mas as origens de tais afeições em Deus, e a sua
manifestação em obras que o glorifiquem.
Pela influência de seus escritos, ele é considerado o maior
teólogo dos Estados Unidos. Lloyd-Jones, que devia muito aos escritos de
Edwards, disse: "Eu sou tentado, talvez tolamente, a comparar os puritanos
aos Alpes, Lutero e Calvino ao Himalaia e Jonathan Edwards ao monte
Everest". Edwards dependia totalmente da graça de Deus, que dominava sua
peregrinação intelectual, sempre mantendo seu intelecto e estudos subordinados
à Escritura.
A família
Edwards se casou aos 24 anos, em 1728, com Sarah Pierrepont,
filha de um pastor. Ela era uma mulher muito inteligente, porém, como seu
marido, totalmente devota à glória de Deus e a uma experiência de oração que a
levava, algumas vezes, à quase falência física. Sarah sempre acompanhava o
marido nos momentos de oração.
Em seu momento devocional diário, Edwards ia a cavalo para um
bosque, e caminhava sozinho, meditando. Anotava suas idéias em pedaços de papel
e, para não perdê-los, os pendurava no casaco. Ao voltar para casa, era
recebido por Sarah, que o ajudava a tirar as anotações. Eles eram profundamente
dedicados um ao outro, e entre as últimas palavras de Edwards, quando estava à
beira da morte em New Jersey, algumas dirigiam-se a Sarah, que ainda estava em
Stockbridge. Ele disse: "Dê o meu mais bondoso amor para minha esposa, e
diga a ela que a excepcional união, que tem subsistido entre nós por tanto
tempo, tem sido de tal natureza, que eu creio ser espiritual, e, portanto,
continuará para sempre". Pensaram que Edwards havia morrido logo depois de
dizer isso, e começaram a lamentar; então, ele disse suas últimas palavras:
"Confiai em Deus e não precisareis temer".
Eles tiveram 11 filhos, todos cristãos, e sua vida familiar foi
um modelo para todos os que os visitaram.
As missões cristãs
Edwards também escreveu um livro intitulado Uma humilde
tentativa de promover uma clara concordância e união visível do povo de Deus em
extraordinária oração, pelo reavivamento da religião e o avanço do Reino de
Cristo na terra (1748). Nessa obra ele faz um apelo às muitas pessoas, "em
diferentes partes do mundo, por ex-pressa concordância para se chegar a uma
união visível em extraordinária, [...] fervente e constante oração, por aquelas
grandes efusões do Espírito Santo, o qual trará o avanço da igreja e do Reino
de Cristo". Sua convicção era que, "quando Deus tem algo muito grande
a realizar por sua igreja, é de sua vontade que seja precedido pelas
extraordinárias orações do seu povo".
Nesse tempo, a condição espiritual das igrejas batistas na
Inglaterra era deplorável. John Sutcliff, pastor da igreja batista de Olney,
Buckinghamshire, leu o livro de Edwards e propôs aos seus companheiros
pastores, na Associação Northampshire, que separassem uma hora na primeira
segunda-feira à noite de cada mês para orar, para que "o Espírito Santo
possa ser derramado em seus ministérios e igrejas, para que os pecadores possam
ser convertidos, os santos edificados, o interesse da religião revificado e o
nome de Deus glorificado".
Um grande avivamenro se seguiu a tais reuniões. A influência de
Edwards sobre Sutcliff e seus amigos, que incluíam William Carey e Andrew
Fuller, foi tal que este escreveu: "Alguns dizem que, se Sutcliff e alguns
outros tivessem pregado mais de Cristo, e menos de Jonathan Edwards, eles
teriam sido mais úteis", replicando em seguida: "Se aqueles que falam
assim, pregassem Cristo metade do que Edwards fazia, e fossem metade tão úteis
como ele foi, sua utilidade seria o dobro do que ela é". Por causa da
profunda impressão do livro de Edwards, em 1792 esses homens fundaram a
Sociedade Batista Particular para Propagação do Evangelho entre os Pagãos — que
veio a se tornar a Baptist Missionary Society —, sendo Fuller seu primeiro
secretário
O legado
Há pelo menos duas aplicações que podemos fazer. Uma diz
respeito à necessidade de avivamento, em nossa época. Devemos temer e combater
os excessos que ocorrem nesses despertamentos — que mesmo em Atos aconteceram
—, mas não eles. Como Edwards disse: "Pode-se observar que, desde a queda
do homem até os nossos dias, a obra de redenção, em seus feitos, tem sido
realizada principalmente por extraordinárias comunicações do Espírito
Santo". As Escrituras nos exortam a ser cheios do Espírito (Ef 5.18), a
provar os espíritos (ljo 4.1) e a não extinguir o Espírito (lTs 5.19). Edwards
nos ensina que os despertamentos, à semelhança dos dons, são dádivas de Deus
(ICo 12.11), que não podem ser fabricados ou manipulados pelo homem, mas
esperados na misericórdia e soberania de Deus.
A pobreza da reflexão moderna sobre Deus é evidente. Somos uma
geração que perdeu a consciência da beleza da glória do Senhor, quando
comparada com o que podemos aprender daquilo que Edwards compartilha conosco:
Deus é um Deus glorioso. Não há ninguém como ele, que é infinito
em glória e excelência. Ele é o altíssimo Deus, glorioso em santidade, temível
em louvores, que faz maravilhas. Seu nome é excelente em toda a terra, e sua
glória está acima dos céus. Entre todos os deuses não há nenhum como ele [...].
Deus é a fonte de todo o bem e uma fonte inextinguível; ele é um Deus todo
suficiente, capaz de proteger e defender [...] e fazer todas as coisas
[...].Ele é o Rei da glória, o Senhor poderoso na batalha: uma rocha forte, e
uma torre alta. Não há nenhum como o Deus [...] que cavalga no céu [...]: o
eterno Deus é um refugio, e sob ele estão braços eternos. Ele é um Deus que tem
todas as coisas em suas mãos, e faz tudo aquilo que lhe agrada: ele mata e faz
viver; ele leva ao túmulo e ergue de lá; ele faz o pobre e o rico: os pilares
da terra são do Senhor [...]. Deus é um Deus infinitamente santo; não há nenhum
santo como o Senhor. E ele é infinitamente bom e misericordioso. Muitos outros
adoram e servem como deuses, são seres cruéis, espíritos que procuram a ruína das
almas; mas este é um Deus que se deleita na misericórdia; sua graça é infinita,
e permanece para sempre. Ele é o próprio amor, uma infinita fonte e um oceano
dele.
FONTE www.jonathannedwards.com
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