Para começar, o
ganhador de almas tem de ter experiência própria da salvação. É um
paradoxo alguém conduzir
um pecador a Cristo, sem ele próprio conhecer o Salvador. Isto é apontar o caminho do Céu sem conhecê-lo. Quem fala de Jesus
deve ter experiência própria da
salvação. (Ver Sl 34.8 e 2 Tm
1.12.)
1. O uso da
Palavra de Deus e seu estudo constante (2 Tm 2.15)
Este é um dos
fatores do crescimento espiritual e da prática de ganhar almas. Estando nosso
coração
cheio da Palavra de Deus, nossa boca falará dela (Mt 12.34). É evidente que
o ganhador de almas precisa de um conhecimento prático da Bíblia; conhecimento esse,
não só quanto à mensagem do Livro, mas também quanto ao volume em si,
suas divisões,
estrutura em geral, etc. Sim, para ganhar almas é preciso "começar pela Escritura" (At 8.35).
Aquilo que a eloquência, o argumento e a
persuasão humana não podem fazer, a Palavra
de Deus faz, quando apresentada
sob a unção do Espírito Santo. Ela é
qual espelho. Quando você fala a Palavra, está pondo um espelho diante do
homem. Deixe o pecador mirar-se neste maravilhoso espelho! Assim
fazendo, ele aborrecerá a si mesmo ao ver
sua situação deplorável.
Está escrito que
"Pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rm 3.20). Através da poderosa Palavra de Deus,
o homem vê seu retrato sem qualquer retoque, conforme Is 1.6. No estudo da obra
de ganhar almas, há muito proveito no
manuseio de livros bons e inspirados
sobre o assunto. Há livros deste tipo que focalizam métodos de
ganhar almas; outros focalizam
experiências adquiridas, o desafio, o apelo e a paixão que deve haver no ministério em apreço. A igreja de
Éfeso foi profundamente espiritual
pelo fato de Paulo ter ensinado a Palavra ali durante três anos, expondo todo o conselho de Deus
(At 20.27-31). Em Corinto ele ensinou dezoito meses (At 18.11). Veja a diferença entre essas duas igrejas através do
texto das duas epístolas (Coríntios e Efésios).
2. Uma vida
correta
Paulo evangelizando
pessoalmente a Félix, o governador da Judéia, disse: "Procuro sempre ter uma consciência sem ofensa,
tanto para com Deus como
para com os homens" (At 24.16). A consciência nos seus dois lados - para com Deus e para com os homens - deve estar limpa. Muitos crentes
têm sido desaprovados por Deus
por falharem nesta parte.
Trabalham à toda força e frutos não há. Perguntam: "Por que não há
frutos no meu trabalho?" As
Escrituras respondem em Is 52.11. Davi compreendia que o pecado é um impedimento à conversão dos pecadores (Sl
51.2-13). Consideremos aqui os
seguintes textos:
- 1 Pe 1.15 Aqui
a santidade é requerida em todas as maneiras de viver.
- Fp
1.27 Mostra
que a nossa conduta deve ser conforme o Evangelho.
- Rm 12.1,2 O
ensino aqui é que não devemos ter uma
vida conformada com o mundo. O povo de Deus deve caminhar o mais possível distante do mundo.
Certo patrão estava
examinando um grupo de motoristas, a fim de selecionar um deles para
ficar como empregado de sua firma. A certa altura do teste, surgiu a seguinte pergunta dele:
"Se vocês fossem por uma estrada,
beirando um precipício, qual seria a menor distância a que chegariam da beira do abismo, respeitando os limites de
segurança?" Os motoristas querendo demonstrar habilidade e experiência, foram dizendo: "um
metro", "menos de um
metro", "meio metro". Nenhuma resposta agradava o patrão até que um deles disse: "Eu caminharia tão longe quanto possível do
precipício". Este candidato foi aceito para o emprego.Assim deve ser também na vida espiritual... O descrente
não lê a Bíblia, mas lê a vida do crente, que de fato deve ser uma Bíblia aberta! (2 Co 3.2).
3. Aprendendo
com o supremo ganhador de almas - Jesus (Mt 4.19)
Em sacrifício,
amor, serviço e métodos na obra de ganhar almas, Jesus é o nosso perfeito
exemplo. Entre os diversos casos de evangelização pessoal do Senhor Jesus,
abordaremos um - o da mulher samaritana, em João capitulo 4. Se seguirmos os passos de Jesus para
ganhar a samaritana, muito aprenderemos quanto à evangelização pessoal.
Em seu ministério, inúmeras vezes Jesus pregou a milhares de ouvintes;
entretanto, um dos seus mais belos sermões - o de João 4 -, foi proferido
perante uma só alma. Isto revela também a importância do testemunho pessoal.
Noutra ocasião, Jesus dirigiu um extenso estudo bíblico para dois discípulos
(Lc 24.27).
Sigamos, pois, os passos do Senhor ao
ganhar a samaritana:
3.1 Ter
amor, espírito de sacrifício (vv. 4,6,8). O v.4
fala de sacrifício; o v.6, de cansaço; e v.8, de necessidade
(fome). Tudo por causa duma alma perdida. É interessante notar que Jesus estava
cansado
da viagem (v.6), mas não do trabalho. O ganhador de almas deve estar possuído de
ardente amor e compaixão pelos perdidos. O apóstolo Paulo tinha a mesma
paixão (Rm 9.2,3).
3.2 Ir ao
encontro do pecador (v.5). Notai como o Senhor Jesus foi do
geral ao particular: primeiro, à província de Samaria (v.4), depois à cidade
de Sicar (v.5), e por último à fonte de Jacó, para onde a
mulher deveria vir (v.6). Jamais deveremos esperar que os
pecadores venham ao nosso encontro. Jesus mostrou,
em Mt 4.19, que a obra de ganhar almas é
comparada a uma pescaria espiritual. O pescador tem de colocar-se no local da pesca, se quiser apanhar peixes. Noutras passagens da Bíblia
encontramos o mesmo ensino, como em Lc 15.4. O profeta Ezequiel, conduzido pelo
Espírito Santo, foi até os
cativos do seu povo e sentou-se entre
eles (Ez 3.14,15).
3.3 Paciência
(v.6). Diz o texto: "Assentou-se". Assim fez, esperando pelo
pecador. (Ler At 17. 2.)
3.4 Entrar
logo no assunto da salvação (v. 7). Há sempre uma porta aberta para se falar
da salvação. No caso
da samaritana, o assunto do momento era água
e sede, e logo Jesus falou da água da vida que sacia a sede da alma. Vemos um
caso idêntico em Atos capítulo
8. Aí o assunto era leitura e logo o servo de Deus iniciou a conversa com uma pergunta também sobre leitura (v.30). Em
João, capítulo 3, quando Jesus
conversava com Nicodemos, talvez
soprasse uma brisa, e logo Ele usou o vento como figura (v.8).
3.5 Ficar a sós com quem está falando (v.
8). Quando alguém
estiver falando com um pecador
a respeito da salvação, evite perturbá-lo, a menos que seja convidado.
3.6 Deixar os
preconceitos raciais ou sociais (vv. 9,10). Jesus veio
desfazer todas as barreiras que impedem a perfeita relação entre Deus e o
homem, e entre este e seu semelhante. Os preconceitos têm causado grandes males
na sua ação destruidora de separar, ao passo que Jesus veio unir (Ef 2.11-22).
3.7 Não se afastar do
assunto da salvação (vv. 9-13). No v.9, a mulher
alega o problema do preconceito. No v.12, Jesus volta ao assunto inicial: água, mas agora água da
vida. Nos vv.11,12, a mulher apresenta dificuldades. Nos vv.13,14, Jesus
volta ao assunto inicial: salvação. Resultado: no v.15
já há
na pecadora um certo grau de interesse.
3.8 Fazer ver ao
ouvinte que ele é pecador (v.16). Jesus sabia que a
samaritana não tinha marido, mas para motivar uma declaração dela,
disse-lhe: "Chama
o teu marido e vem cá". Muitos pecadores não se podem salvar porque não querem
reconhecer que são pecadores e
muito menos perdidos.
3.9 Não atacar defeitos, nem condenar (v. 18). Isto não quer dizer
que vamos bajular alguém ou concordar com sua vida ímpia e pecaminosa.
3.10 Evitar discussão (vv.
20-24). Não permitir que a conversa degenere em discussão. No v.20, a mulher aponta o
fato de os judeus desacreditarem na
religião dos samaritanos. É costume também o pecador apontar falhas nas igrejas e nas vidas
de certas pessoas crentes. Isto
mostra que tais ouvintes, em lugar
de olhar para Cristo, estão atrás de igrejas e pessoas. O alvo perfeito é Cristo (Hb 12.2). Crentes
errados darão conta de si mesmos (Rm 14.12).
Diz uma autoridade
em Relações Humanas: "Você
nunca vencerá uma discussão. Se perder, perdeu mesmo,
e se ganhar perdeu também, porque um homem convencido contra a vontade,
conserva sempre a opinião anterior. Quem perde numa discussão fica ferido no seu amor próprio".
3.11 O sexo influi, às
vezes (v. 27). O ideal é falar com pessoas
do mesmo sexo, sem contudo fazer disso uma lei. É provável que se uma
mulher falasse à samaritana, talvez não prendesse tanto a sua atenção.
Outros exemplos de
Jesus evangelizando pessoalmente:
a) Jesus e Nicodemos
(Jo 3.1-21).
b) Zaqueu, o publicano
(Lc 19.1-28).
c) O
cego Bartimeu (Mc 10.46-52).
d) O malfeitor na cruz
(Lc 23.39-43).
e) O doutor da lei (Lc
10.25-37).
f) O jovem rico (Mt 19.16-30).
g) A mulher adúltera
(Jo 8.1-11).
h) A mulher enferma
(Mc 5.25-34).
i) A mulher
siro-fenícia (Mc 7.24-30).
j) O paralítico de
Cafarnaum (Mc 2.1-12).
4. Ser cheio do Espírito Santo
Nos negócios
puramente humanos, o homem pode ter êxito e promover o progresso. Isto
acontece nas
construções, nas indústrias, no comércio, na arte, nas ciências, etc, mas no tocante à obra de Deus, só pode de fato haver avanço quando ela
é acionada pelo Espírito de
Deus. Ele é que comunica vida.
Quando o trabalho do Senhor passa a ser dirigido exclusivamente pelo homem, torna-se em organização mecânica, fria e estéril. A Igreja
de Deus, quando dinamizada pelo
Espírito Santo, é de fato um organismo vivo, que cresce sempre para a glória de Deus. A ordem de Jesus à Igreja para
pregar o Evangelho está intimamente
ligada à ordem para receber o
poder do alto, como se vê em Lc 24.49; At 1.8. O poder de Deus faz
a diferença. O apóstolo Pedro, fraco e tímido antes do Pentecoste, tornou-se coluna, após o revestimento de poder.
Todo o crente
nascido de novo tem em si o Espírito Santo (1 Co 3.16), mas o poder
glorioso para o testemunho e serviço de Cristo, vem com toda plenitude aos servos
batizados com o Espírito Santo (At 1.4,5,8; 2.1-4). Após o crente
ter sido cheio do Espírito Santo é preciso permanecer cheio sempre (Ef 5.18). Aí não
se trata de um convite divino, mas de uma ordem.
5. É preciso orar sempre (Ef 6.18,19)
A oração abre
portas e remove barreiras. Ela é o meio de comunicação com Deus. A Igreja
nasceu quando em oração, e é nesse ambiente que ela cresce e se desenvolve (At 1.14). Pedro estava
orando quando Deus o usou para a
salvação de Cornélio, seus
parentes e amigos (At 10). (Ver Sl 126.6; At 20.31.) É mais fácil falar ao pecador sobre Deus,
depois que falamos com Deus sobre o pecador...
6. Fé na operação da
Palavra de Deus.
Quando falamos a Palavra de Deus,
precisamos confiar no seu autor. A nós crentes compete anunciar a Palavra; a Deus, operar. Aquele que
disse "Ide por todo o
mundo", também disse "Eis que estou convosco". Devemos falar a Palavra com plena convicção
de que é o poder de Deus para salvação de
todo o que crê (Is 55.11; Rm 1.16). Há pecadores que aceitam a mensagem da salvação com toda a simplicidade, outros não. Se o
irmão está procurando levar uma alma a Cristo, nunca desanime. Certo
irmão sueco orou 50 anos paraJesus salvar
determinada pessoa, e viu-a aceitar o Salvador. O Dr. R. A. Torrey, célebre ganhador de almas,
orou 15 anos por uma pessoa, e esta veio a crer em Jesus. Os homens que conduziam o paralítico de Lucas 5
só conseguiram chegar à presença de Jesus,
subindo ao eirado, o que não era muito
fácil. Mas não desanimaram. Isto é perseverança. Às vezes é preciso um esforço assim. Qualquer caso, mesmo
os piores, acham solução no Senhor
Jesus. Para Deus nunca houve impossíveis. Ele é especialista nisso! Portanto, é preciso anunciar a Palavra
com plena confiança na sua divina ação.
Quando você estiver falando de Jesus, ore em espírito para que Deus honre a
Palavra dele e manifeste o seu poder
salvador.
7. É preciso amor
Fé e amor andam
juntos na evangelização. Quaisquer outros recursos serão meros
paliativos, como relações humanas, sociologia etc. Jesus
foi a personificação do amor. Ele salvou os pecadores amando-os até o
fim (Jo 13.1). Sua posição ao morrer de braços abertos na cruz é a expressão
máxima do amor. Ali, num gesto de infinito alcance, Ele uniu os dois povos
com seus braços acolhedores (judeus e gentios).
8. A apresentação pessoal
Cuide disso. Sua
aparência é importante, como é importante a mensagem que você leva. Deus
pode usar quem Ele quiser e o que Ele quiser, até uma queixada de
jumento, como no caso de Sansão, mas quanto à sua aparência pessoal, irmão,
fica a seu critério. Cuide de sua apresentação, mas sem exagero. Roupa
passada, gravata no lugar, limpeza geral, inclusive das unhas; barba bem feita,
cuidado com o hálito. O traje deve ser modesto, decente e de bom gosto. Um traje mundano, imoral e
indecente não é próprio do cristão; pode
atrair o povo, mas não para
Cristo. Não permita que seu traje seja motivo de atração para os
ímpios, desviando, assim, a atenção a
Cristo. Diz a Palavra de Deus no Sl 103.1: "Tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome".
9. O uso da fala (1 Co 14.9)
Ao ler a Bíblia ou
falar ao pecador, procure evitar solecismos prosódicos, observando a
pronúncia correta das palavras, o que inclui todas as suas letras. Evite o
pedantismo a todo o custo, porque logo será descoberto. Pedantismo é falsa cultura. Na
pronúncia da língua portuguesa atente para a acentuação, entonação e pontuação. Uma dicção exata impõe-se e dá destaque. Jesus
certamente observava bem estas
regras. O correto emprego das palavras
é também muito importante. Por exemplo, nunca dizer "verso" em lugar
de "versículo",quando referir-se às divisões dos capítulos da Bíblia
o certo é "versículo".
Jesus ensinou seus discípulos a orar,
mas não a pregar, porque aprender
a falar e pregar é tarefa nossa.
Jesus unge a mensagem e opera por meio dela. Por meio da oração buscamos o Senhor para que Ele inspire e ilumine
a pregação. O que é para o homem fazer. Deus não executa. (Ver Jo 11.39.)
Um auxiliar valioso para a grafia
e pronúncia correta dós nossos
vocábulos é o "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa", edição de 1981.
O meio ambiente de pessoas cultas também
influi poderosamente na boa formação linguística e cultural. O apóstolo Paulo nunca desprezou os livros (2 Tm 4.13). É de grande valor o estudo
de bons livros, como
concordância, dicionários, gramáticas,
manuais doutrinários, etc.
10. O
manuseio prático da Bíblia
É muito importante
o pleno desembaraço no manuseio
do volume sagrado. Isto significa saber onde
estão as passagens necessárias e localizá-las no volume sagrado com rapidez. É imperioso conhecer
a abreviatura de cada livro. Como já foi dito,
este curso de evangelismo pessoal adota o sistema mais simples de abreviar os livros da Bíblia: apenas duas
letras para cada livro, sem ponto abreviativo.
Há outros sistemas,
mas esse é o mais simples. Nunca
cite um versículo incompleto ou de maneira
duvidosa. Isso compromete. Também nunca acrescente ou subtraia palavras do texto bíblico, mutilando-o. Quanto a
isso é bom atentar para a advertência
de Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5,6; Ap 22.18,19. Neste curso temos de memorizar muitos
textos da Palavra de Deus. Se isso parecer
difícil ou impossível, lembremo-nos
de Fp 4.13.
11. O uso
de folhetos e literatura em geral
Nunca distribua
nada sem primeiro ler para si. Há um provérbio que diz: "Nem tudo que brilha é ouro".
Ande sempre munido de porções impressas da Palavra de Deus: folhetos, revistas,
Novos Testamentos. Bíblias completas ou
porções dela. Há ocasiões em que
não se pode falar nem ingressar em determinados lugares, mas a
Palavra de Deus pode fazer tudo isso.
Milhares já foram salvos pela mensagem impressa. Distribua a mensagem conforme
a situação do momento.
O agricultor,
quando semeia, escolhe a semente antes de lançá-la ao solo; ele assim faz
porque os terrenos são diferentes. Também se pode evangelizar por meio de cartas pessoais. Neste
caso, as cartas devem sempre ser manuscritas, a fim de conduzir o toque pessoal. Na Bíblia temos muitas mensagens em forma epistolar.
Fonte: Pr Antonio
Gilberto em A pratica do Evangelismo Pessoal,CPAD ,1982
A Igreja em Antioquia (11:19-26)
Esta seção fala de dois movimentos da
Igreja Primitiva ao longo do mar Mediterrâneo. O primeiro foi rumo ao norte, a
partir de Jerusalém para Antioquia, na Síria. O Evangelho foi pregado
livremente naquela cidade distante. O segundo foi rumo ao sul, de Antioquia a
Jerusalém. O primeiro levou as bênçãos espirituais da salvação àqueles que
estavam no Norte. O segundo trouxe bênçãos materiais dos novos convertidos para
os irmãos necessitados em Jerusalém. Como se faz menção de Chipre (uma ilha), é
bem provável que eles tenham viajado por barco.
Rumo ao Norte (11.19-26). As palavras
iniciais deste parágrafo — E os que foram dispersos (19) — são exatamente as
mesmas em grego, na frase inicial de 8.4. Outro ramo da diáspora cristã aqui é
tomado e contado. Esta dispersão teve início com a perseguição que sucedeu por
causa de Estêvão (cf. 8.1).
Os cristãos dispersos viajaram para o
norte até a Fenícia (as cidades de Tiro e Sidom), o Líbano moderno, na costa
norte da Palestina, Chipre — a maior ilha da extremidade leste do mar
Mediterrâneo — e Antioquia. Esta cidade, fundada em 300 a.C, tinha se tornado
a terceira maior cidade do Império Romano, superada apenas por Roma e
Alexandria. Diz-se que as suas muralhas encerravam uma área maior do que as de
Roma. A oito quilômetros da cidade, ficava o bosque de Dafne, um importante
centro de adoração a Apolo e Ártemis [ou Artemisa]. Como um resultado parcial
disto, Antioquia era famosa pela sua imoralidade. Ainda assim, muitos judeus e
prosélitos ali viviam. Eles foram evangelizados em primeiro lugar, pois foi
dito que os primeiros missionários não estavam anunciando a ninguém a Palavra
senão somente aos judeus. Isto provavelmente aconteceu antes da experiência de
Pedro em Cesaréia.
Felizmente, havia alguns homens de
Chipre e Cirene (Norte da África) que eram um pouco mais esclarecidos. Quando
eles chegaram a Antioquia, pregaram o Senhor Jesus aos gregos (20). Embora os
antigos manuscritos gregos façam uma diferença entre Hellenas
("gregos") e Hellenistas (helênicos"), o contexto deixa claro
que esta nova pregação se dirigia aos gentios. Os evangelizadores — anunciando
é a palavra euangelizomenoi — estavam proclamando as Boas Novas sobre o Senhor
Jesus, ou proclamando que Jesus é o Senhor.
Como estavam obedecendo às ordens de
Cristo (Mt 28.19), eles viram o cumprimento da sua promessa (1.8) — a mão do
Senhor era com eles (21), i.e., o seu poder se manifestava no seu ministério. O
resultado foi que grande número creu e se converteu ao Senhor. Antioquia em
pouco tempo tornou-se o principal centro do cristianismo.
A fama do que estava acontecendo em
Antioquia chegou aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém (22).
Preocupados quanto a esta evangelização dos gentios estar de acordo com a ordem
divina, os líderes enviaram Barnabé até Antioquia. Isto pode implicar que ele
verificaria o trabalho na Fenícia (19) no seu caminho para o Norte.
A igreja de Jerusalém não poderia ter
escolhido alguém melhor do que Barnabé para esta missão. Ele era um verdadeiro
"filho da consolação" (4.36), onde quer que fosse. Um cristão judeu
legalista e preconceituoso certamente teria impedido o maravilhoso movimento
do Espírito de Deus em Antioquia. Mas Barnabé o encorajou: o qual, quando
chegou e viu a graça de Deus, se alegrou e exortou a todos a que, com firmeza
de coração, permanecessem no Senhor (23). O generoso Barnabé estava tão
integralmente consagrado ao seu Senhor que se alegrava por ver qualquer pessoa
— até mesmo um gentio — aceitando a Cristo. Ao invés de criticar o novo
movimento, ele lhe deu a sua aprovação e a sua bênção. Ele se alegrou por ver a
graça de Deus em operação nesta cidade tão necessitada. O próprio Barnabé era
um judeu natural de Chipre (4.36), o que fazia com que ele se harmonizasse
perfeitamente com os evangelizadores de Chipre e Cirene. Ele exortou os novos
convertidos, cumprindo assim o significado do seu nome: "filho da
exortação".
A descrição de Barnabé é quase tão nobre
quanto poderia ser a de qualquer homem: Porque era homem de bem e cheio do
Espírito Santo e de fé (24). As três coisas aqui afirmadas a respeito de
Barnabé formaram os pontos principais de muitos sermões fúnebres. O pastor
consagrado sempre fica feliz quando pode dizer essas coisas sobre um membro
falecido de sua igreja. O resultado do caráter e do ministério deste bom homem de
Deus cheio do Espírito Santo e inspirado pela fé foi que muita gente se uniu ao
Senhor. Mas Barnabé precisava de ajuda. A tarefa em Antioquia era
excessivamente grande para ele. Esta metrópole cosmopolita de língua grega
exigia os serviços tanto de um gigante intelectual quanto de um exortador cheio
do Espírito. Assim, Barnabé foi até Tarso, cerca de 200 quilômetros a noroeste
de Antioquia para buscar Saulo (25). Feliz é o homem que percebe as suas
limitações, e que está disposto a trazer um ajudante à altura da situação. O
desprendido Barnabé desejava somente o que era melhor para o Reino. Assim, ele
foi buscar Saulo, o brilhante e altamente educado jovem rabino judeu que havia
se convertido alguns anos antes. Saulo teve um bom início no seu ministério, e
depois tinha sido enviado para casa pela igreja de Jerusalém (9.30), quando
passou a correr um risco de vida.
Achando-o, o conduziu para Antioquia
(25). As palavras "buscar" e achando sugerem que Barnabé teve de
procurar por algum tempo antes de encontrar Saulo. É provável que Saulo
estivesse ocupado evangelizando a sua província da Síria e Cilícia, como ele
mesmo indica (Gl 1.21). Durante todo um ano, Barnabé e Saulo se reuniram
naquela igreja e ensinaram muita gente. Deve ter sido um ano de ministério
muito frutífero para ambos — o generoso Barnabé exortando e encorajando o
povo, e o perspicaz Saulo expondo as Escrituras e exaltando a Cristo. Eles
formavam uma equipe maravilhosa.
Uma afirmação muito interessante aparece
no final deste versículo: Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez,
chamados cristãos. Até agora, eles tinham sido designados como
"fiéis", "irmãos", "santos", "do
Caminho", e, como aqui, "discípulos". Mas como os judeus usavam
normalmente as designações "irmãos" e "discípulos", era
necessário atribuir um nome mais peculiar que inquestionavelmente indicasse os
discípulos de Cristo.
A palavra "cristão" aparece
somente duas outras vezes no Novo Testamento. Agripa disse a Paulo: "Por
pouco me queres persuadir a que me faça cristão" (26.28). E Pedro
escreveu: "se padece como cristão [sendo perseguido pelo mundo por ter
esse nome], não se envergonhe" (1 Pe 4.16). A história da atribuição do
nome, tomada em conjunto com este fato, sugere que cristãos não foi uma designação
escolhida por eles mesmos, mas que lhes foi atribuída por aqueles que estavam
fora da igreja. Além disso, é muito improvável que os judeus chamassem os
crentes por este nome. Gloag observa: "Não se deve supor que eles dariam
esse nome sagrado Christos àqueles que eles consideravam hereges e
apóstatas". Os judeus os chamavam de "nazarenos" (24.5), uma
expressão de desprezo.
Parece claro que a designação cristãos
foi dada aos discípulos pelos gentios de Antioquia, como Meyer afirma. Sempre
se supôs que este termo era usado como uma zombaria. Mas Meyer insiste:
"Não há nada que apóie a opinião de que a palavra foi, a princípio, um
título ridículo". Ao contrário, como os gregos e os romanos normalmente
designavam partidos políticos pelos nomes dos fundadores, assim também eles se
referiam a este grupo como cristãos. Lake e Cadbury observam acertadamente que
a palavra "implica que Christos já tinha sido adotado pela população
gentia como um nome próprio — um hábito ao qual os cristãos surpreendentemente
logo se submeteram, como é demonstrado pelo uso da palavra por Paulo".
Originalmente, "Cristo" — lit., "o Cristo" — significava
"o Messias". Foi um título adicionado ao nome Jesus, "Jesus, o
Cristo", quando pregava aos judeus. Mas os gentios naturalmente o
adotaram como um nome próprio.
O fato de que o povo de Antioquia julgou
necessário dar um nome ao novo movimento na cidade mostra como este movimento
tinha crescido. Ele precisava ser reconhecido e designado. Gloag escreve:
"Enquanto o cristianismo estava confinado aos judeus e aos prosélitos, os
cristãos não eram distinguidos deles, e eram considerados pelos gentios como
uma seita judaica; mas agora o fato de que inúmeros gentios eram recebidos sem
circuncisão dentro da igreja era uma prova de que o cristianismo era diferente
do judaísmo, e assim os discípulos não mais seriam encarados como os saduceus,
fariseus, essênios e outras seitas judaicas".
A história da evangelização de Antioquia
ilustra "Quando o Evangelho tem sucesso":
1. Quando é pregado a gente nova (19);
2. Quando é pregado a todas as classes e
raças (20-21);
3. Quando é pregado por homens cheios do
Espírito (22-26).
Bibliografia NOTAS R. Earle,COMENTARIO BIBLICO
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