O sétimo flagelo (16:17-21).
O sétimo flagelo
é um relato antecipado do julgamento de Deus sobre Babilônia, a sede do poder
da besta. O relato detalhado do julgamento e a queda de Babilônia
segue nos próximos dois capítulos (17-18), que será comentado na próxima
lição. Alguns comentadores encontram aqui dois eventos diferentes: uma derrota
preliminar de Roma, que dá ao Anticristo poder universal, seguida do
julgamento de Roma por Deus. Mas João já antecipou diversas vezes o fim, tanto
em termos de salvação como de julgamento, para depois estender-se sobre os
eventos do fim (veja em 6:12ss.; 11:15ss.; 14:8; 14:14ss., 15:2ss.). Na
verdade João já tinha anunciado a queda de Babilônia (14:8), de maneira
antecipada. Assim como o sexto selo trouxe o dia da ira de Deus (6:12-17), e
assim como a sétima trombeta fez um anúncio do fim (11:15ss.), assim o sétimo
flagelo traz o julgamento de Babilônia, acrescentando os detalhes deste
julgamento mais adiante.
17. Então
derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do
lado do trono, dizendo: Feito está. Esta voz aparentemente é a mesma do v. 1 —
a voz de Deus — já que vem do templo e do trono de Deus. A voz
anuncia prolepticamente, a consumação do julgamento de Deus sobre a
capital da besta. A frase “Feito está” representa uma só palavra
grega que indica ação completa. Novamente nos deparamos com a técnica
literária de João, de anunciar um fato como realizado, para depois detalhar o
conteúdo do fato.
18. Ao
pronunciamento da sentença sobre a capital da besta seguem os fenômenos
apocalípticos que são manifestações da glória e do poder de Deus:
relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve
igual desde que há gente sobre a terra. Fenômenos semelhantes tinham seguido a
sétima trombeta (11:19), e estavam relacionados com a visão de Deus em 4:5 e
com a preparação para o soar das sete trombetas (8:5). Estes fenômenos são
manifestações comuns do poder e da glória divinos.
19. O
resultado desta teofania é o colapso completo da civilização humana,
ateísta. A grande cidade, Babilônia, a capital da
besta, se dividiu em três partes; em outras palavras, foi
transformada em ruínas. Em 11:8 as mesmas palavras, “a grande
cidade”, foram usadaspara Jerusalém; mas o contexto deixa bem claro que
nesta passagem a cidade em questão é Babilônia. Jerusalém já tinha sido
destruída em um grande terremoto (11:13). Nesta visão João vê a cidade sendo
arruinada por um terremoto; tudo o que esta destruição significa está descrito
de diversas maneiras nos dois capítulos seguintes.
Caíram as cidades das
nações. Mais
uma vez João vê antecipadamente a destruição das cidades que apoiaram a besta.
Os detalhes estão em 17:12-14, onde diz que o Cordeiro guerreará contra os
reis que apoiaram a besta, vencendo-os. Veja também 18:9, onde os reis da terra
lamentam a queda da grande cidade.
Lembrou-se Deus da grande
Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira. Babilônia deu às nações
da terra “do vinho do furor da sua prostituição” para beber, deixou “os reis da
terra se prostituírem com ela” e possibilitou aos comerciantes da terra
“enriquecerem à custa da sua luxúria” (18:3). Deus, por seu lado, dá
a Babilônia e às nações que a seguiram um outro cálice para beber, o
cálice da sua ira. Este tema já foi comentado em 14:8,10.
“Lembrou-se
Deus da grande Babilônia.” Estas palavras são dolorosas. Durante o curto
período do reinado do Anticristo parecerá que Deus esqueceu o seu povo. O mal
aparentemente estará vencendo; não há perspectivas de libertação. Meu Deus não
esquece. Deus se lembra, e ele se lembrará do poderoso inimigo do seu povo,
para lhe retribuir com justiça.
20. Mais
uma vez João descreve o fim que ainda não veio, que compreenderá a
renovação de todo o sistema criado e o início de um novo céu e nova terra. Isto
só se realiza depois da volta de Cristo (19:11ss.), e será mesmo um sistema
totalmente transformado (21:lss.). João já pode dar uma ideia de como será isto
falando, em linguagem apocalíptica, do fim do sistema antigo: Toda ilha fugiu, e os montes não foram achados. João já usou em uma passagem
anterior expressões semelhantes para descrever a vinda do fim: quando o sexto
selo foi aberto ele deixou transparecer a dissolução do sistema atual
(6:12ss.).
21. Também desabou do céu sobre os homens grande
saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo
da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era
sobremodo grande. Não
sabemos com certeza que medida de peso foi usada, mas parece que as pedras
pesavam mais de cinquenta quilos.
A
narrativa apocalíptica de João está agora se aproximando rapidamente do seu
fim. Ele nos levou através do tempo de grande tribulação, com a terrível
perseguição dos santos pelo Anticristo, e nos mostrou uma civilização rebelde
e anticristã, que não se curva e não se arrepende sob a ira de Deus derramada
sobre ela nas pragas das sete trombetas e das sete taças. O sétimo flagelo não
foi uma praga, somente anunciou o fim, a destruição de Babilônia em particular,
um acontecimento já anunciado (14:8). Agora só falta relatar a vinda do fim.
João dá primeiro o lado negativo da vitória divina, ou seja, a destruição da
civilização rebelde, anunciada pelo sétimo flagelo (capítulos 17 e 18), e
depois fala da volta de Cristo em triunfo, seu reinado vitorioso, e por fim o
estabelecimento do novo sistema, com novo céu e nova terra (capítulos 19-22).
Bibliografia
George Ladd,coment. do apocalipse,1990
Tudo o
que temos sob a taça anterior é preparatório para o derramamento final de ira
de Deus, o grande dia da ira de Apocalipse19:11-16. Então, e só então, os
rebeldes serão esmagados e removidos da terra (Mt 13:40-43). Na sexta taça
temos a conglomeração das nações da terra contra Israel para a batalha contra
Deus e o remanescente de seu povo (Is 11:15, 16).
Agora sobrevêm uma destruição que excede em magnitude tudo o que
jamais foi testemunhado desde que o homem deu início à sua história de
sofrimento fora do jardim do Éden.
O sétimo
anjo derramou sua taça no
ar. Por
que todos os homens respiram o ar, que é essencial à vida, aqui temos o juízo
divino visitando o fôlego de vida dos povos. E por que Satanás é mencionado
como príncipe da potestade do ar (Ef 2:2), temos também nesta taça a
consumação do juízo sobre as influências perniciosas do diabo. Assim, o reino
de Satanás sofre sob esta praga horrível. A “grande voz” é a voz de Deus, como
no versículo 1 do capítulo 16, exceto que aqui o santuário e o trono se unem.
No santuário resideDeus e no trono ele reina. A voz divina clama: “Está feito”, significando
que a série toda de pragas agora está completa. Está feito! Aconteceu. Compare
a voz de Deus nesta consumação final com a voz de Cristo na cruz quando a obra
da expiação foi completada: “Está consumado!” O “está consumado” do Salvador
foi totalmente rejeitado, de modo que aqui vem o “está feito” do Juiz da
terrível retribuição divina.
Chegou o
fim da ira de Deus. Mais tarde acontecerá a exibição medonha da ira do
Cordeiro. Sob a sétima taça, Deus dá à Babilônia “o cálice do vinho do furor da
sua ira”. Esta frase sugere raiva fervente e ira incontida, e a ambas
encontramos referência em Jeremias30:23, 24. Aqui se afirma o fato da
destruição da Babilônia. Nos capítulos 17 e 18 temos o relato com mais detalhes
do breve resumo dado sob esta taça. Deus é o Criador; ele produz convulsões de
natureza tal como a que lançou a terra no caos antes da criação do mundo.
Três Expressões da Ira
Nos
“relâmpagos e vozes e trovões” (sempre expressivos do poder dominante do juízo)
temos a fórmula da visitação divina calculada para infundir terror nos corações
dos homens. Estes sinais e expressões da ira retributiva são
visitados sobre a terra na forma do maior terremoto que a terra já
experimentou. Todos os terremotos até esta altura nada significam quando comparados
com esta sublevação sem paralelo. (Veja Hb 12:25, 26).
As Três Partes da Cidade
Tão
destruidor é este vasto terremoto que Jerusalém é dividida em três partes. Roma
e todas as grandes cidades da terra são reduzidas à ruína. Destrói-se para
sempre toda a soberania exercida sobre os reis da terra, que Roma e Babilônia
representam. “A grande Babilônia” é individualizada como estando madura para “o
grande terremoto” e “uma praga. . . excessivamente grande.” O lugar e seu
orgulho são condenados à destruição eterna (Jr 51:62-64), cuja destruição é
celebrada no céu em Apocalipse 19:1-4.
Para
aumentar o terror da hora há o desaparecimento de ilhas e montes. Sob o sexto
selo estes foram “removidos dos seus lugares” (6:14). Aqui eles
“fugiram” e “não mais se acharam”. Que catástrofe maciça!
O
ato coroador do juízo é a queda de saraivas enormes sobre a terra. A
saraiva, como já mostramos, é símbolo da ira divina (Is 28:2; Ez38:22). (Para
outras saraivas, veja Ap 8:7; 11:19.) Ninguém pode imaginar
completamente quais serão os efeitos desta última saraivada súbita e
devastadora. A natureza esmagadora e avassaladora deste juízo torna-se clara ao
lembrarmo-nos de que as pedras da saraiva “pesavam quase um talento” cada. Um
talento equivalia, aproximadamente a 20 quilos. Assim a severidade do
juízo reservado contra o dia da batalha e guerra no “tesouro da saraiva” de
Jeová é horrível ao extremo (Jó 38:22, 23; Sl 105:32).
Estes
juízos, porém, resultam em blasfêmia em vez de arrependimento! A persistência
no pecado endurece a consciência. A tragédia é que o homem não se quebranta nem
se arrepende; permanece sem mudança. Com a exposição do poder judicativo de
Deus, os homens deviam ter-se voltado para ele, dando-lhe glória; em vez disso,
perecem amaldiçoando-o. Que efeito diverso a apresentação do poder de Deus
exerce sobre o seu povo: dão glória ao Deus do céu (11:13).
(Bibliografia
H. Lockyer + ,coment.do apocalipse G.ELADD,1980).
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