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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

As sete taças da ira de Deus (introdução)






                    Professor Mauricio Berwald

Chegamos agora a dois capítulos de espanto excepcional. Tendo examinado os instigadores da horrível iniquidade da terra, passamos agora ao juízo terrível das taças. Castigos severos e finais estão prestes a ser infligidos em sucessão aguda e rápida. Assim como o pecado alcançou seu clímax com o homem da iniquidade como já vimos em ebdareiabranca, também agora os juízos de Deus hão de cair do Deus do juízo sobre uma terra culpada. Nos capítulos que agora examinamos temos detalhes concernentes aos juízos de Deus que precedem seu grande dia de ira. Como veremos, o derramar da sétima taça completa a ira de Deus.


O preparo (15:1-8).

1. Vi no céu outro sinal grande e admirável, sete anjos tendo os sete últimos flagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus. A palavra traduzida “sinal” significa milagre ou aparição maravilhosa, como em 12:1,3. Com o simbolismo das sete trombetas João retratou uma série de castigos divinos, na forma de pragas e tormentos, para acordar a humanidade para a verdadeira realidade de Deus. Esta série agora alcança seu clímax; com os flagelos das sete taças, Deus terá derramado total­mente sua cólera no contexto particular das pragas que antecipam o jul­gamento final. O significado destas palavras não é que a ira de Deus acabou; a besta, o falso profeta e todos os que persistirem na maldade ainda serão lançados no lago de fogo, na manifestação derradeira da cólera de Deus contra o pecado. Temos de tomar estas palavras em seu contexto escatológico particular: a cólera de Deus durante a grande tribulação é uma tentativa de fazer com que os adoradores da besta se in­clinem diante da soberania de Deus.

2. Vi como que um mar de vidro, mesclado de fogo, e os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome. Instantes antes das últimas pragas João tem uma visão proléptica dos que venceram a besta. Estes são os santos-mártires mortos pela besta por sua perseverança sob perseguição, sua obediência firme aos mandamentos de Deus e sua fé em Jesus (14:12). Eles venceram a besta por meio do seu martírio, pois nem na morte eles negaram o nome de Jesus. Recusaram adorar a besta, in­clinar-se diante da sua imagem (13:15), e receber o número do seu nome. Apesar de a besta tê-los morto, foram eles que a venceram, permanecen­do fiéis a Jesus; frustraram o propósito dela. Temos de presumir que a perseguição dos santos pela besta continua durante o período dos sete flagelos.

Não há razão suficientemente forte para não interpretarmos o mar de vidro como sendo aquele que estava diante do trono de Deus (4:6). O pensamento central deste simbolismo é que estes vencedores da besta es­tão diante do trono, na presença de Deus. A besta pensou que os venceria matando-os; mas sua morte somente os transportou da terra para o céu. A vitória final foi deles. O mar de vidro mesclado com fogo provavelmente é um símbolo de que este período é de julgamento dos que vivem na terra; pode também se referir à perseguição sangrenta pela qual os ven­cedores passaram. As harpas de Deus que eles tinham em suas mãos são outro símbolo da sua vitória. Harpas expressam louvor e adoração a Deus (5:8; 14:2); os vencedores expressam sua alegria pela vitória cantando hinos de louvor.

3. E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro. Os exegetas estão discutindo se isto quer dizer que eles estão cantan­do dois cânticos ou somente um. Gramaticalmente parece que eles estão cantando dois: um de Moisés e outro do Cordeiro. Pelo contexto a ideia é que os vencedores cantam um hino de triunfo, que tanto os santos do An­tigo Testamento como os do Novo sabiam cantar, porque todos cantam da libertação pelo mesmo Deus. Talvez o cântico de Moisés seja o da liber­tação do Êxodo, quando os israelitas louvaram a Deus por tê-los tirado do Egito. O cântico do Cordeiro, no contexto, não é um hino de salvação pes­soal; é um hino pela libertação do ódio e da hostilidade da besta. Da mes­ma maneira como Deus libertou Israel do Egito, mesmo derramando pragas sobre os egípcios, ele também libertou os santos de adorar a besta, derramando seus juízos sobre os que a adoram.

O hino não fala de redenção espiritual, mas exalta os poderosos feitos de Deus. Isto forçosamente inclui os meios que Deus usa para manifestar sua cólera contra os que perseguiram os santos. O hino está quase totalmente expresso em linguagem do Antigo Testamento, porque Deus é o Deus que liberta o seu povo. Suas obras são grandes e admiráveis (veja Sl 92:5; 111:2; 139:14). Ele é o Senhor Deus, Todo-poderoso, à luz de quem os poderes da besta têm limites. Seus caminhos, mesmo permitindo que os santos sofram, são justos e verdadeiros. Ele é realmen­te o Rei das nações. A versão “Rei dos santos” (ARC), é de um texto gre­go mais recente e não tem muito apoio. Outra versão possível é “Rei dos séculos” (IBB). Neste tempo de grande tribulação, quando parece que a besta tem poder ilimitado para executar seus propósitos demoníacos con­tra os homens e perseguir os santos — na hora mais escura da história da humanidade, quando parece mesmo que Satanás é o deus deste século (2 Co 4:4), os mártires cantam um hino de louvor a Deus, reconhecendo que ele é o Deus vivo e verdadeiro. Eles exaltam o nome de Deus porque, ao contrário de evidências externas, ele é de fato o Rei, de todas as nações e todas as épocas, inclusive durante o tempo de martírio. Este hino é uma das expressões de fé mais comoventes de toda a literatura bíblica.

4. Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos. Fora do contexto estas palavras podem ser interpretadas no sentido de salvação de todas as nações. Nas cartas de Paulo também há trechos correspondentes que soam a salvação universal, tirados do contexto. É plano de Deus “fazer convergir nele todas as coisas” (Ef 1:10). “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:10-11). E “por meio dele recon­ciliasse consigo mesmo todas as coisas que sobre a terra, quer nos céus” (Cl 1:20). Afirmações como estas, porém, devem ser compreendidas dentro do plano bíblico. A Bíblia está sempre olhando no futuro para um dia em que Deus reinará na terra, cercado somente pelos que têm seu prazer em adorá-lo. “Todas as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu nome” (Sl 86:9). “Irão muitas nações, e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó. ...Ele jul­gará entre os povos” (Is 2:3-4; cf. 66:23). “Desde o nascente do sol até ao poente é grande entre as nações o meu nome” (Ml 1:11). É esta a meta do Apocalipse: estabelecer uma cidade onde todas as nações encontrarão cura (22:2). Isto não significa salvação universal: somente que o Reino de Deus será constituído de uma união de pessoas de todas as nações, que ale­gremente se entregam para adorar e cultuar a Deus.

É digno de nota que os mártires não cantam de si mesmos nem de como venceram a besta: eles estão ocupados totalmente com a soberania, além disto não há nenhum vestígio de vingança pessoal contra os inimigos que são atingidos pelo castigo divino.

Os atos de justiça que se fizeram manifestos são as sentenças ju­diciais de Deus em relação às nações, de misericórdia ou de condenação. Para Babilônia e seus habitantes que adoram a besta elas significam ira de Deus; mas as pessoas reconhecerão que “verdadeiros e justos são os teus juízos” (16:7).

5. Depois destas coisas olhei, e abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do testemunho. As sete últimas pragas estão por começar, e são retratadas pelo esvaziar de sete taças que estão na mão de sete anjos que vêm da presença de Deus. O santuário de Deus já apareceu algumas vezes no Apocalipse. João viu, em uma visão proléptica, o santuário de Deus no céu aberto, com a arca da aliança (11:19). Isto foi para lembrá-lo da fi­delidade de Deus às promessas de sua aliança. Aqui a fidelidade de Deus também exige o julgamento do mal.

Este versículo mistura duas referências históricas: a tenda do testemunho, no deserto, e o templo que mais tarde foi construído em Je­rusalém. O tabernáculo no deserto era chamado de “tabernáculo do tes­temunho” (Êx 38:21; Nm 10:11, 17:7; At 7:44). Ele se tornou modelo para o templo, quando este foi construído em Jerusalém, e o templo, por sua vez, foi usado como modelo para a habitação de Deus no céu.

6. E os sete anjos que tinham os sete flagelos saíram do santuário, vestidos de linho puro e resplandecente, e cingidos ao peito com cintas de ouro. Geralmente João não descreve a aparência dos muitos anjos que aparecem em seu drama escatológico. A vestimenta destes anjos tem o ob­jetivo de destacar o esplendor destes seres celestiais. Não há razão para pensar que as cintas de ouro indicam funções sacerdotais.

7. Então um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro, cheias de cólera de Deus. Os quatro seres viventes estavam perto do trono de Deus (4:6); isto é a maneira simbólica de dizer que os sete flagelos estavam integralmente autorizados por Deus. Taça era um prato raso usado para beber e derramar libações. A mesma palavra é usada para as taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, nas mãos dos vinte e quatro anciãos (5:8). Pode haver aqui uma alusão deliberada às taças que contêm o incenso da oração. As orações dos san­tos têm a função de trazer sobre o mundo a manifestação derradeira da justiça e da ira de Deus. A ênfase na eternidade de Deus — aquele que vive pelos séculos dos séculos — lembra que, apesar de parecer que o mal domina os acontecimentos da história humana, Deus é eterno e ninguém pode se interpor aos seus planos, nem mesmo a maldade satânica e demoníaca.

8. O santuário se encheu de fumaça, procedente da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos. No Antigo Testamento quando Deus se manifestava aos homens ele costumava aparecer em uma glória tal que ninguém podia ficar de pé diante dele. “Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo” (Êx 40:35). Os sacerdotes não conseguiram entrar no templo de Salomão quando este foi dedicado, porque a glória da presença divina enchia a casa (1 Rs 8:10). Quando Isaías teve a visão de Deus no templo, cercado de serafins, os fundamentos da construção tremeram à voz divina e o Santuário se encheu de fumaça (Is 6:4). Ezequiel caiu sobre sua face quando teve a visão do templo cheio da glória do Senhor (Ez 44:4). A ênfase não é tanto sobre a impossibilidade de se aproximar de Deus, mas sobre sua majestade e sua glória, em comparação com tudo que é humano e mundano.

Há certas semelhanças entre as pragas trazidas pelas sete taças e as trazidas pelas sete trombetas, e ambas as séries têm semelhanças com as pragas do Egito. As pragas das sete taças, no entanto, são bem mais in­tensas e devastadoras. As pragas das primeiras quatro trombetas atingem primeiramente o ambiente do homem e não tanto a este próprio, mas o primeiro flagelo atinge os homens diretamente. Temos de ver estas pragas no contexto da luta titânica entre o Reino de Deus e o reino de Satanás, retratada com traços tão vívidos no capítulo 12. Estas pragas não são a expressão da ira divina contra o pecado em geral, mas são o castigo por más ações individuais. A ira de Deus é derramada sobre aquele que quer frustrar o plano divino para o mundo — a besta — e sobre os que são leais a ela.


Entre os primeiros seis selos e o sétimo houve um interlúdio, e tam­bém entre as seis primeiras trombetas e a sétima. Nesta terceira série não há interrupção; o sétimo flagelo é a destruição de Babilônia, que veremos na próxima lição — a capital do império do Anticristo. O que o sétimo flagelo anuncia é descrito em detalhes nos dois capítulos seguintes. Estes flagelos são a resposta de Deus ao último e maior esforço de Satanás para derrubar o governo divino.(notas Comentario Normam R.Champlin, do apocalipse).



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