No
grego, Thuateíra. Tiatira
ficava cerca de trinta e dois quilômetros a suleste de Pérgamo, em uma estrada
na planície aluvial entre os rios Hermo e Caico. Tanto nos dias da liderança de
Pérgamo sobre a Ásia Menor, como posteriormente, quando a política
internacional atraiu os romanos para a grande península, essa cidade derivava
sua riqueza e influência do fato de que era um ponto central de comunicações.
Essa cidade foi fundada por Seleuco I, um dos generais de Alexandre, o Grande.
Foi Seleuco I quem, de todos os seus herdeiros, herdou o território mais
extenso. O reino de Seleuco ia desde além de Antioquia da Síria até o vale do
rio Hermo, onde suas fronteiras chegavam bem perto das de Lisímaco, o qual
mantinha nas mãos parte do antigo litoral jônico da Ásia Menor. Seleuco
implantou ali um grupo de veteranos desmobilizados de Alexandre. Esses
macedônios deveriam formar uma barreira contra todas as tentativas de perturbar
as suas fronteiras.
Em 282
A.C., rebelou-se Filetero, e
foi fundado o dinâmico estado de Pérgamo, destinado a perdurar por um século e
meio. O novo estado era uma área tampão entre Seleuco e Lisímaco. Porém, um
estado fundado sob tais circunstâncias não podia ser militarmente alerta; e
Tiatira, um posto avançado na estrada para o oriente, impedia qualquer agressão
possível que partisse do leste. A história do lugar, alinhavada, precariamente,
com base em ruínas e moedas, sugere que Tiatira, em suas sempre flutuantes
fronteiras, com frequência, mudava de mãos, ao sabor da sorte nas armas das
forças sírias ou de Pérgamo, que faziam avançar ou recuar as fronteiras.
Tiatira, tendo de desempenhar permanentemente
esse inevitável papel de posto militar avançado, não contava com uma acrópole
poderosa, como se dava com Sardes e com Pérgamo. A cidade ficava em uma pequena
colina. E só era valiosa, estrategicamente falando, porque uma confiante força
de defesa, ali postada, era capaz de quebrar o ímpeto de qualquer assalto
hostil, enquanto que uma defesa mais decisiva era organizada mais atrás. Esse
dever militar impunha sobre aquela vulnerável cidade um estado de prontidão.
Seus habitantes sabiam enfrentar o perigo e lutar, sem dependerem de qualquer
defesa natural, mas contando exclusivamente com a sua coragem pessoal. A
religiosidade refletia ali essa atitude de dever. Os soldados macedônios que a
princípio foram ali estabelecidos, adotaram a adoração a um certo herói local,
que lhes servia de patrono, e que aparece nas primeiras moedas cunhadas ali,
representando um guerreiro montado, armado de machado de guerra. E isso talvez
explique o simbolismo do Cristo ressurreto, na carta apocalíptica de João.
As tropas
romanas apareceram com toda a sua força na Ásia Menor, após terem derrotado a
sírio Antíoco, em 189 A.C., quando então a região passou, permanentemente, para
o controle romano, quando o último dos monarcas de Pérgamo, intuindo os rumos
da história futura, doou o seu reino à nascente república, em 133 A.C.
Juntamente com a tranquilidade da «paz romana», houve a aceitação da cidadania
romana. Sob o imperador Cláudio, Tiatira começou a cunhar novamente as suas
próprias moedas, após um lapso de nada menos de dois séculos. A abundância
dessas moedas cunhadas em Tiatira, que continuaram sendo produzidas até o
século III D.C., sugere um vigoroso comércio. A primeira pessoa a se converter
a Cristo, sob o ministério de Paulo, foi Lídia, uma mulher de Tiatira, que
vendia panos de púrpura em Filipos, a centenas de quilômetros longe de sua
terra natal. A tinta púrpura ou carmesim, dos tecidos vendidos por Lídia, era
uma manufatura local, extraída das raízes da planta chamada garança, um rival
mais barato que o corante fenício, extraído de um molusco, o murex.
A prosperidade comercial atraiu
uma minoria judaica respeitável para Tiatira, pois os judeus, antes
dedicados às atividades agrícolas, começaram a se interessar pelo mundo dos
negócios e do comércio, no exílio. De fato, esse tipo de atividade haveria de
tornar-se uma das marcas registradas dos filhos de Israel, na dispersão.
Famosos artigos de exportação, de Tiatira, eram tecidos e vestes tingidos, além
de armaduras de bronze. Uma moeda de Tiatira exibe Hefesto, o ferreiro
divino, a moldar um capacete na bigorna. E a palavra grega chalcolibanos, «bronze
polido» em nossa versão portuguesa (ver Ap 1:15 e 2:18), pode ter sido um nome
comercial próprio de Tiatira, usado para emprestar certo colorido local à carta
do Senhor Jesus à igreja cristã ali localizada. Realmente, é possível que as
atividades comerciais fossem a questão crucial dos problemas dos cristãos da
cidade. Não têm sido encontradas inscrições em grande quantidade, mas as poucas
que ali têm sido descobertas falam em trabalhadores em lã, linho, couro e
bronze, além de oleiros, padeiros, tintureiros e comerciantes com escravos.
Cada um dos grupos profissionais contava com a sua guilda particular, como a
dos ourives de Éfeso.
As
epístolas de Paulo aos crentes de Corinto servem de clara indicação de que as
guildas comerciais, com sua exigente vida social, com seus ritos pagãos e com
suas festas periódicas, haveriam de ser problemas sérios para os cristãos fiéis
que, por motivo de consciência, quisessem repelir a licenciosidade do mundo ao
redor deles.
Era
difícil alguém se abster das festividades das guildas sem perder alguma coisa
no mundo dos negócios, em termos de aceitação e prestígio social. Por outro
lado, ajustar-se a tais costumes era expor-se à licenciosidade dos ritos
pagãos, que assinalavam os banquetes das guildas. Aquela seção da Igreja
cristã, com ritos de sua pureza, buscava alguma forma de transigência. Estamos
falando sobre os nicoláitas. Parecem ter sido liderados por uma habilidosa mulher,
a quem João apodou de Jezabel. Esse apelido foi escolhido deliberadamente, com
base no casamento de Acabe, rei de Israel, com Jezabel, filha do rei de
Tiro. Esse casamento fora um compromisso, com o intuito de fomentar o comércio
entre Samaria e os fenícios. Tal matrimônio foi um grande desastre, conforme
Elias demonstrou. João, autor do Apocalipse, denunciou essa mulher, proferindo
contra ela uma horrível condenação: «Eis que a prostro de cama, bem como em
grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras
que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu
sou aquele que sonda mentes e corações e vos darei a cada um, segundo as vossas
obras» (Ap 2:22,23).
Uma inscrição encontrada por Ramsay, em Tiatira,
mostra que ali, nos festejos públicos, as mulheres eram segregadas dos homens.
Portanto, que as vítimas daquela pervertida mulher a abandonassem, deixando-a
cair na condenação que inevitavelmente lhe sobreviria.
Essa
forma de heresia estava destinada a tornar-se generalizada na Igreja antiga,
conforme a última carta de João, III João, o demonstra. Talvez esse tipo de
heresia tivesse começado em Tiatira. E a exortação da carta do Senhor Jesus aos
crentes de Tiatira, conclui como segue: «Digo, todavia, a vós outros, os demais
de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como
eles dizem, as cousas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós;
tão somente conservai o que tendes, até que eu venha» (Ap 2:24,25).
O simbolismo
existente nessa carta a Tiatira é local e muito chama à atenção. Em Apocalipse
2:18, Cristo aparece como quem tinha «os pés semelhantes ao bronze polido».
Ora, o bronze era um dos produtos mais conhecidos de Tiatira. A promessa de
Cristo, nos versículos 26 e 27, também reflete a natureza militar dessa cidade.
Jezabel é uma personagem extremamente simbólica, desde o Antigo Testamento,
falando em transigência e apostasia, por amor ao comércio, devido a sociedade
firmada com um poder pagão.
CARTA À IGREJA DE TIATIRA, 2.18-29
1. Destinatário (2.18a)
Cerca de
65 quilômetros a sudeste de Pérgamo ficava Tiatira. Era uma
cidade da Lídia, perto da fronteira com a Mísia. Construída
por Seleuco I, fundador da dinastia dos Selêucidas, ela foi povoada pelos
veteranos das campanhas de Alexandre, o Grande, na Ásia. Em torno de
190 a.C., Tiatira foi tomada pelos romanos. Embora tivesse um centro
comercial próspero, era muito inferior ao de Éfeso, Esmirna, e Pérgamo. Charles
observa: “A carta mais longa foi dirigida à cidade menos importante das Sete
Cidades”. Evidentemente, havia judeus ali, porque Atos 16.14
menciona “Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia
a Deus”. Parece que na época ela era uma prosélita convertida ao judaísmo.
A igreja
em Tiatira evidentemente era pequena. Fala-se que ela desapareceu no fim do
segundo século.
2. Autor (2.18b)
O autor
dessa carta se identifica como o Filho de Deus, uma frase encontrada
somente aqui no livro de Apocalipse. Jesus reivindicou esse título durante o
seu tempo aqui na terra (Mt 11.27; Lc 10.22) e aprovou Pedro por
professá-lo (Mt 16.16,17). Foi por causa dessa afirmação que Jesus foi
condenado pelo Sinédrio (Mt 26.63; Jo 19.7).
Cristo é
descrito como Aquele que tem os olhos como chama de fogo e os pés
semelhantes ao latão reluzente. Encontramos aqui um eco de 1.14,15. A
adequação da caracterização dupla é expressa da seguinte forma por Swete:
“Essa menção dos olhos que flamejam com indignação justa e os pés que podem
pisotear os inimigos da verdade prepara o leitor para o tom severo da
declaração que se segue”. Erdman se expressa de forma ainda mais sucinta:
“Assim, ele é capaz de penetrar nos segredos de todos os corações e ele tem
poder para castigar e subjugar”. Esses olhos flamejantes penetram e descobrem
todo engano da hipocrisia. Nas Escrituras, o latão frequentemente é o símbolo
do julgamento.
3. Aprovação (2.19)
As
palavras desse versículo na KJV obviamente estão incorretas, porque apresentam
uma lista começando e terminando com tuas obras — uma repetição sem
significado. Além disso, o melhor texto grego traz fé antes
de serviço. A RSV apresenta uma tradução correta: “Conheço as suas
obras, o seu amor, a sua fé, o seu serviço e a sua perseverança, e que suas
últimas obras excedem as primeiras”. A New English Bible traz:
“Vocês agora estão fazendo ainda melhor do que no princípio”.
Cristo
tinha elogiado a igreja de Éfeso pelas suas obras. Mas a igreja de
Tiatira estava um passo à frente. Ela é cumprimentada pela
sua caridade. A palavra grega é ágape e sempre deveria ser
traduzida por “amor”. Caridade representa os caritas da
Vulgata latina, a Bíblia oficial da igreja católica romana.
Hoje, caridade significa um espírito de tolerância ou dar aos
necessitados. Ágape é
um termo muito mais rico do que isso. As pessoas do mundo também podem ser
filantrópicas ou tolerantes. Mas ágape é o amor divino implantado
no coração humano e que flui em um serviço abnegado e sacrificial aos outros.
A palavra
grega pistis pode
significar ou fé ou “fidelidade” (NEB). Não se sabe exatamente qual
das duas palavras se tem em mente aqui. Talvez a melhor saída é permitir
os dois significados (cf. Phillips, “lealdade”).
Serviço é diakonia. Beyer diz
que essa palavra significa “qualquer ‘realização de serviço’ feito com amor
genuíno”. Lenski define diakonia como “serviço voluntário
para o benefício e a ajuda daqueles que precisam dele e realizado
liberalmente”.
Paciência (hypomone)
significa mais do que o suportar passivo de privações ou provações. Essa
palavra significa, na verdade, uma constância ou persistência (“perseverança”,
NASB) positiva.
Devido à
prolongada censura que se segue, é surpreendente que uma aprovação tão
entusiástica é dada a essa igreja. Swete comenta: “É digno de
observação que nessas cartas às igrejas o elogio é apresentado com mais
liberalidade, se é que pode ser feito com justiça, quando segue a censura;
diz-se mais acerca das boas obras das igrejas de Éfeso e Tiatira, do que das
igrejas de Esmirna e Filadélfia, em que não se encontra falta alguma”.Essa
característica está de acordo com a psicologia sadia, que aconselha a dizer tudo
que é positivo antes de se chamar a atenção das faltas da outra pessoa.
4. Censura (2.20-23)
A
primeira parte do versículo 20 deveria ser traduzida da seguinte forma: “No entanto,
contra você tenho isto: que você tolera a mulher Jezabel” (RSV, NASB). A
tolerância do mal era o pecado constante da igreja de
Tiatira. Jezabel é provavelmente um nome simbólico — “Essa
mulher, Jezabel”. A referência é obviamente à esposa de Acabe, que
seduziu os israelitas a adorar Baal (1 Rs 16.31). Também
são mencionados suas “prostituições” e “feitiçarias” (2 Rs 9.22). Uma
vez que alguns manuscritos e versões antigas trazem “tua mulher Jezabel”
(i.e., “tua esposa Jezabel”), Grotius (século dezessete) sugere
que o autor fala da esposa do bispo de Tiatira. Mas essa noção é hoje quase universalmente
rejeitada. Duesterdieck diz que se tem “uma mulher específica em
mente; não a esposa de um bispo, nem uma mulher que é, de fato,
chamada Jezabel, mas uma determinada mulher que diante da ambição de ser
uma profetisa tinha aprovado as doutrinas dos nicolaítas e por esse
motivo foi escolhida a nova Jezabel”. Isso provavelmente representa a
opinião da maioria hoje.
Não era
incomum ter uma profetisa na Igreja Primitiva (cf. At 21.9). No
Antigo Testamento, diversas mulheres recebem esse título (e.g., Miriã,
Débora,Hulda). O único lugar no Novo Testamento em que prophetis (fem.)
ocorre é Lucas 2.36 (Ana).
A
falsa profetisa de Tiatira estava sendo tolerada para que ensine
e engane os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da
idolatria. Essas duas coisas são atribuídas aos seguidores de Balaão
(e nicolaítas?) em Pérgamo (v. 14).
Tiatira
era conhecida pelas suas inúmeras associações comerciais. Isso gerava um
problema especial. Charles escreve: “Agora, visto que a participação de
alguma dessas associações [...] não significava essencialmente nada
além de participar de uma refeição em comum, que era dedicada indubitavelmente
a algum deus pagão, mas que era exatamente por isso sem sentido para o cristão
iluminado; beneficiar-se desse tipo de participação era considerado em certos
círculos liberais algo bastante justificável.
Por
razões comerciais ou sociais, parecia quase imperativo pertencer a alguma associação.
Mas, acredita-se que essas reuniões comerciais frequentemente acabavam em
orgias e bebedeiras. Por isso, a referência à prostituição. Essa
profetisa estava defendendo uma atitude moral e religiosamente liberal.
Evidentemente,
uma advertência peremptória foi dada a essa Jezabel, mas ela tinha se
recusado a se arrepender (v. 21), i.e., mudar sua opinião e caminhos. Portanto,
o Senhor deve lidar com ela severamente. Por causa da
sua prostituição Ele a colocaria numa cama (22). Essa
expressão é somente uma de muitas, que mostram a tendência de João, que, embora
escrevesse em grego, pensava em formas hebraicas. Referente a essa frase,
Charles escreve: “Se a traduzirmos literalmente para o hebraico, descobriremos
que temos aqui uma expressão idiomática hebraica [...] ‘ficar preso à cama’,
‘ficar doente’ (Êx 21.18): consequentemente, ‘colocar numa cama’ significa
‘colocar num leito de enfermidade”.
E sobre
os que adulteram com ela virá grande tribulação, deve provavelmente ser
entendido como um paralelismo hebraico. Adulteraramprovavelmente significa
adultério espiritual. Mas a porta da misericórdia continua aberta — se
não se arrependerem das suas obras. Arrependimento genuíno sempre coloca
o julgamento de lado.
Recusa
contínua de se arrepender resulta em mais castigo severo: E ferirei de
morte a seus filhos (23). Provavelmente, seus filhos significa:
“sua descendência espiritual, como distintos daqueles que foram enganados por
um tempo”. Ferirei de morte é um hebraísmo típico. Ele significa
“matar” (ARA, NVI).
Essa
seria uma advertência para todas as igrejas. Elas saberão que eu
sou aquele que sonda as mentes e os corações (cf. Jr 11.20;
17.10). Mentes(palavra grega somente encontrada aqui no NT)
literalmente significa “os rins”; isto é, “os movimentos da vontade e
afeições”. Corações na psicologia hebraica
referia-se especialmente aos pensamentos. O olhar do Onisciente penetra
até o mais profundo do intelecto, emoções e vontade do homem.
O
julgamento divino sempre é justo. Cada um receberá segundo
as suas obras (cf. Rm 2.6).
5. Exortação (2.24,25)
Há uma
palavra de conforto aos restantes que estão em Tiatira (24) — talvez
a maior parte dos membros — e que não aceitaram a doutrina(ensinamento)
de Jezabel, e não conheceram [...] as profundezas de
Satanás. Para os gnósticos do segundo século, a expressão “as coisas
profundas” era uma frase favorita. Eles reivindicavam um conhecimento esotérico
que era desconhecido pelas pessoas não iniciadas.
Duas
interpretações têm sido apresentadas acerca das profundezas de
Satanás. Uma é que os nicolaítas escarneciam do restante dos
cristãos como aqueles que não conheciam as coisas profundas de Deus; mas essas,
na verdade, se referiam às coisas profundas de Satanás. A outra diz que os
seguidores de Jezabel, na realidade, se vangloriavam em conhecer as
profundezas de Satanás. “Esses falsos mestres entendiam que o homem
espiritual deveria conhecer as coisas profundas de Satanás e que ele deveria
tomar parte da vida pagã da comunidade. Duas das características mais salientes
dessa vida pagã eram suas festas sacrificiais e suas práticas imorais.” Muitos
gnósticos de épocas posteriores afirmavam que, visto que toda a matéria é má e
somente o espírito é bom, não importa o que alguém faça com o seu corpo; sua
alma continua pura. As duas interpretações acima podem ser aplicadas às
doutrinas de mestres imorais de Tiatira.
Como
dizem significa “como as chamam”. Paulo falou dos mistérios profundos da
verdade divina (cf. Rm 11.33; Ef 3.18). Esses falsos mestres estavam
distorcendo essa ideia.
Para
aqueles que permaneceram leais à fé, Cristo declarou: outra carga vos não
porei. Provavelmente, isso esteja relacionado com o versículo 25: Mas
o que tendes, retende-o até que eu venha. Charles interpreta isso assim:
“Definitivamente, dominem (kratesate) com firmeza as tarefas incumbidas a vocês, e afastem-se
completamente das festas sacrificiais dos pagãos e das perversidades morais que
praticam”. Ele acha que outra carga se refere aos decretos
apostólicos de Atos 15.28. Mas muitos comentaristas questionam isso. Parece
duvidoso que esses decretos ainda seriam mencionados numa época bem posterior.
6. Recompensa (2.26-28)
À frase
recorrente ao que vencer (26) é acrescentado aqui: e guardar até
ao fim as minhas obras. Swete observa: “Em Tiatira, a batalha
precisava ser vencida pela adesão resoluta às ‘obras de Cristo’, i.e., à pureza
da vida cristã, em oposição às ‘obras de Jezabel’ ”?
A
recompensa prometida é: eu lhe darei poder (exousia,
autoridade) sobre as nações. O Cristo glorificado compartilhará a sua
autoridade com seus seguidores fiéis. A linguagem dessa cláusula e o que segue
no versículo seguinte são tirados de Salmos 2.8-9, que era
interpretado como um salmo messiânico pelos judeus do século I a.C., de
acordo com Salmos
de Salomão (uma obra apócrifa).
A palavra regerá (27)
literalmente significa “pastorear”. Assim, a vara de ferro se refere
ao cajado do pastor, com a ponta de ferro para torná-la uma arma adequada contra
os inimigos ou animais selvagens. Os ímpios são comparados com vasos de
oleiro que serão quebrados. Embora essas palavras possam ter alguma
aplicação à influência da Igreja no mundo atual, é óbvio que o seu cumprimento
final aguarda o retorno de Cristo. Como também recebi de meu Pai é um
eco de Salmos 2.7 e Atos 2.33.
Na
declaração dar-lhe-ei a estrela da manhã (28), há uma expectativa de
22.16: “Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a resplandecente Estrela da manhã”.
A maior recompensa que qualquer cristão vitorioso pode receber é o próprio
Cristo. Sua presença será o céu em sua glória mais elevada.
7. Convite (2.29)
Nas três
últimas cartas, esse convite precedeu a promessa ao vencedor. Nessa e nas três
cartas seguintes ela segue a promessa.
Alguém
sugeriu (Pulpit Commentary) que
essa carta revela “A Ira do Cordeiro”: 1) Sua realidade (v. 18); 2) Sua
severidade (vv. 22-23); 3) Sua omissão (v. 21); 4) Sua justiça (v. 20); 5) Sua
discriminação (vv. 24-25).
Antes de o Senhor Jesus
censurar o anjo da igreja em Tiatira, passa a destacar-lhe as qualidades.
Aliás, Tiatira, conforme já adiantamos, era tão rica em obras quanto Éfeso.
Além disso, fizera-se elogiável pelo amor que consagrava a Deus. No entanto,
ainda não havia alcançado o padrão de Filadélfia.
Amor. O amor de Tiatira era
maior do que antes, mas ainda não era perfeito. Sua imperfeição não estava em
amar os maus; residia no aquiescer ao mal (1 Co 13.6,7). O amor que tolera o
erro, ainda desconhece o que é certo. Deus ama o pecador, mas odeia o pecado de
Jezabel e a abominação dos que, com ela, fizeram-se repugnantes aos seus olhos.
Serviço. Obreira incansável,
Tiatira vinha notabilizando-se no serviço a Cristo em favor dos santos (Ap
2.19). Evangelizava, socorria os mais necessitados e tudo fazia por expandir o
Reino de Deus. Imitando a apostólica Jerusalém, erguia-se como exemplo para as
demais igrejas. Todavia, seu amor carecia de perfeições (1 Co 13.1-13).
Fé. Por suas obras, Tiatira
demonstra a sua fé (Tg 2.18). Uma fé, aliás, que não se limitava a um mero
assentimento intelectual (Tg 2.19). Sua confiança em Deus era bem fundamentada.
Tinha forças não somente para realizar o impossível, mas para mostrar uma
perseverança que ousava além dos limites humanos.
Paciência. A paciência é a virtude
que nos capacita a suportar o insuportável (Rm 5.4). Sabemos que, juntamente com
a luta, o Senhor vem com o escape sempre oportuno (1 Co 10.13). É por isso que
o anjo de Tiatira mantinha-se perseverante e calmo.
Abundância em obras. O anjo da igreja em
Tiatira jamais se mostrou remisso. Trabalhando e esforçando-se cada vez mais,
foi elogiado por Cristo por serem as suas últimas obras mais abundantes do que
as primeiras (Ap 2.19). Se as primeiras eram boas, as últimas tinham a marca da
excelência.
JEZABEL, E AS
PROFUNDEZAS DE SATANÁS
Não obstante suas inigualáveis
virtudes, o anjo da igreja em Tiatira foi reprovado por Cristo por estar
tolerando uma mulher que, dizendo-se profetisa, encontrava-se a desencaminhar
os fiéis à idolatria e à prostituição.
A Jezabel de Tiatira. Idólatra e adúltera.
Assim era a mulher de Acabe conhecida entre as tribos hebreias. Por causa de
sua reputação, ela serviu para nomear a profetisa que, em Tiatira, induzia os
homens ao adultério e à apostasia. Curiosamente, Jezabel, em hebraico,
significa casta, mas em nada diferia ela de uma rameira (2 Rs 9.22).
O ministério de Jezabel. Jezabel apareceu em
Tiatira com uma nova doutrina que, em essência, era a velha mentira do Diabo
(Gn 3.1-5). Apresentou um ensino novo, uma unção nova e, quem sabe, até um
método novo de crescimento da igreja. Nos bastidores, era tudo isso conhecido
como as profundezas de Satanás (Ap 2.24). O que parecia uma nova revelação era,
na verdade, o engano antigo e caduco que levou nossos pais à ruína (2 Co 11.3).Além de profetizar, Jezabel
ascendera à categoria de mestra na igreja (Ap 2.20). Profetizando e ensinando,
seduzia a todos com a sua doutrina. Como lhe fora possível tamanha ascensão
sobre o ministério? Não havendo ninguém que lhe barrasse os passos, ela
transtornou todo o redil e comprometeu a ortodoxia e a pureza da igreja.
A obra de Jezabel. Através de seus ensinos
e profecias, a perversa Jezabel induz alguns homens à idolatria e ao adultério
(Ap 2.20). Muita vigilância. Não são poucos os que, sob o manto de uma
espiritualidade afetada e caricata, desviam os fiéis a práticas vergonhosas e
abomináveis.
Cuidado com o rebanho que o
Senhor lhe confiou (At 20.28,29). Zele pela sã doutrina e pelos bons costumes.
Jamais permita que o lobo lhe devore as ovelhas, utilizando-se de seu púlpito
(1 Tm 1.3; 4.16).Em sua misericórdia, Deus concedeu um tempo de arrependimento
a Jezabel e aos que com ela pecaram (Ap 2.21). Buscaram eles o favor do Senhor?
Não temos o desfecho dessa história. Apesar de estarmos em plena era da graça,
o Deus do Antigo Testamento não mudou. Se Ele puniu a Acã, não deixou impunes
Ananias e Safira.
Busquemos, pois, no Deus de
amor, a perfeição de nosso amor. Não basta amar mais do que antes, é urgente
amar como nunca: perfeita e integramente. O perfeito e íntegro amor, embora
suporte os maus, não pode tolerar o mal; apesar de amar o pecador, não pode
indultar o pecado.A cidade de Tiatira estava
localizada a aproximadamente sessenta quilômetros a nordeste de Pérgamo. Era um
importante centro industrial e comercial da região de Lídia. Na época em que o
livro do Apocalipse foi elaborado, essa cidade estava em grande desenvolvimento
e ainda viriam dias mais prósperos. Era também a sede de um grande número de
associações de mercadores, inclusive daqueles que trabalhavam com vários
metais. O nome da cidade aparece apenas uma outra vez no Novo Testamento, como
a cidade natal de Lídia, uma cristã vendedora de tecidos de púrpura na cidade
de Filipos (At 16.14).
A descrição de Jesus, com ‘os
olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao latão reluzente’ (2.18) tem
sido, há muito, entendida como referência à florescente indústria de metais de
Tiatira. Uma descrição semelhante aparece duas outras vezes no Apocalipse
(1.14,15; 19.12; cf. Dn 7.9). Essa impressionante imagem lembra o quarto homem,
‘semelhante ao filho dos deuses’ que se colocou no fogo, ao lado de Sadraque,
Mesaque e Abedenego (Dn 3.25). O leitor se lembrará que esses três homens se
recusaram a inclinar-se perante a estátua de um outro imperador com alusões à
divindade — e que Deus os livrou” (ARRINGTON, F. L.; STRONSTAD, R.
(Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. 1.ed.,
RJ: CPAD, 2003, p.851).
Jezabel é julgada.
Apesar de todas as coisas boas
que Jesus disse sobre a igreja em Tiatira, Ele tem contudo outras contra ela. O
problema em Pérgamo parece ter se originado de pressões vindas de forças pagãs
(‘o trono de Satanás’ 2.13), de fora da igreja. Mas o problema em Tiatira foi
iniciado e fomentado por uma mulher apóstata, membro da igreja. No lugar de
‘aquela mulher’, alguns antigos manuscritos trazem ‘sua mulher’, que poderia
significar ‘sua esposa’, ou seja: esposa do pastor. Qualquer que seja o caso, o
pastor e a igreja toleravam-na porque a consideravam profetisa. Jesus,
entretanto, a chama Jezabel.
Na realidade, ela é pior do
que a Jezabel do Antigo Testamento, esposa do rei Acabe, que tentou substituir
a adoração ao Senhor, em Israel, pelo culto a Baal, buscando fazer deste um
deus nacional. Esta Jezabel, que se diz profetisa, colocava suas palavras e
ensinamentos acima dos de Cristo e dos apóstolos. Não somente ensinava que era
lícito, aos olhos de Deus, cometer adultério espiritual — participar das
adorações idolatras e imorais — como também seduzia, com muita perspicácia, os
crentes que realmente procuravam servir ao Senhor, e que lhe eram fiéis. Note
que Jesus chama a estes de ‘meus servos’. As boas coisas que Jesus disse da
igreja poderiam ser ditas sobre eles. Contudo, estavam agora sob a influência
das profecias e ensinos desta Jezabel. Dando-lhe atenção, tornaram-se vítimas.
As profecias devem ser
testadas pelas Escrituras; não podem estar baseadas num único versículo, ou
metade num versículo aqui e a outra noutro lugar. As profecias devem estar de
acordo com os grandes ensinamentos da Bíblia. Os que pertencem ao corpo de
Cristo devem julgá-las (1 Co 14.29). Assim, à medida que nos aprofundamos no
conhecimento das Escrituras, o Senhor mesmo iluminará nossos corações e mentes,
concedendo-nos sua maravilhosa luz.
Jesus já havia tratado com
esta Jezabel, e lhe dado um período de tempo (‘espaço’) para que se
arrependesse. Mas ela não se arrependeu de sua fornicação — o adultério moral e
espiritual. Ela não mudou suas atitudes básicas, e ainda ensinava que a mistura
da verdadeira adoração com práticas e adorações pagãs não constituíam qualquer
pecado” (HORTON, S. M.Apocalipse: As coisas que brevemente devem acontecer. 2.ed., RJ: CPAD, 2001, pp.40,41). fonte CPAD
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PAZ DO SENHOR
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