Em toda a Ásia Menor, não havia igreja mais obreira,
dinâmica e ortodoxa do que a de Éfeso. O seu preparo teológico era tão sólido,
que o seu pastor capacitara-se, inclusive, a confrontar os que se diziam
apóstolos (Ap 2.2). Éfeso era a igreja apologética por excelência. Ela
destacava-se também por seu testemunho, esforço e extenuante labor pela
expansão do Reino de Deus.
Até o próprio Cristo elogiou os efésios. Eles eram uma
referência em toda aquela região. Apesar de todas as suas inegáveis virtudes e
qualidades, havia um sério problema com Éfeso. Se ela, porém, se dispusesse a
resolvê-lo seria uma igreja perfeita.
I. ÉFESO, UMA IGREJA SINGULAR
1. Paulo em Éfeso. O Evangelho chegou a Éfeso, a mais
notável metrópole da Ásia Menor, durante a segunda viagem missionária de Paulo
(At 18.19). Mas a igreja só viria a florescer entre os efésios a partir da
terceira viagem do apóstolo. A chegada do Reino de Deus à cidade foi
acompanhada por um grande avivamento. Houve batismos com o Espírito Santo,
curas divinas e não poucas conversões (At 19).
2. A solidez doutrinária de Éfeso. O preparo bíblico e
teológico de Éfeso era singular. Afinal, tivera o privilégio de ter como
pastor, durante três anos, o maior teólogo do Cristianismo (At 20.31). Durante
esse tempo, Paulo lhe expôs todo o conselho de Deus (At 20.27). Pode haver um
curso bíblico mais completo? E a epístola que o apóstolo lhes enviou? (Ef
1.1-5). Aqueles cristãos doutoraram-se na Palavra de Deus.
3. Uma igreja de ministros excelentes. Além de Paulo, a
igreja em Éfeso foi pastoreada, também, por Timóteo e Tíquico. Dizem alguns
estudiosos que o seu púlpito teria sido ocupado, ainda, por João, o discípulo
amado. Os obreiros que por lá passaram eram de comprovada excelência. Que outra
igreja, excetuada a de Jerusalém, desfrutou de mais privilégios? No entanto,
conforme já dissemos, havia um sério problema com Éfeso.A solidez doutrinária
denotava a singularidade da igreja de Éfeso.
II. O PROBLEMA DE ÉFESO
1. Um grave problema. Sim, havia um sério problema com a
igreja em Éfeso. A sua lua de mel com o Senhor Jesus havia chegado ao fim. E
ela não o percebera. Já não se lembrava do amor — primeiro e belo — que
dedicara ao Cordeiro de Deus. Não agira assim Israel em relação a Jeová? (Jr
2.1-13). No entanto, não podemos evitar a pergunta: Se ela foi, de fato,
pastoreada pelo discípulo do amor, como veio a esquecer-se, justamente, do
primeiro amor?
2. O primeiro amor. Não sei como definir o primeiro amor,
mas posso senti-lo. Para mim, é a alegria da salvação que o salmista temia
perder (Sl 51.12). Sim, uma alegria que nos impulsiona a declarar toda a nossa
afeição a Deus: “Amo o Senhor” (Sl 116.1). O primeiro amor é o enlevo que, no
início, fez com que os efésios vivessem nas regiões celestiais em Cristo Jesus
(Ef 1.3). É também a disposição que leva o obreiro a semear, num misto de
lágrimas e júbilo, a preciosa semente do Evangelho (Sl 126.5).
3. Amnésia do amor. Sendo o primeiro amor tão sublime e
inefável, pode alguém vir a esquecê-lo? Apesar de Éfeso ainda entregar-se
denodadamente à obra de Deus, não mais se entregava amorosamente ao Deus da
obra. Embora teológica e biblicamente ortodoxa, já não conservava o ardor
daquele sentimento que, um dia, fez a Sulamita palpitar pelo esposo: “Eu sou do
meu amado, e o meu amado é meu; ele se alimenta entre os lírios” (Ct 6.3).
Era-lhe, urgente, pois, voltar ao primeiro amor.
III. VOLTANDO AO PRIMEIRO AMOR
Esquecer o primeiro amor não é incidente teológico, é queda
espiritual. Semelhante pecado demanda contrição e arrependimento. Por isso, o
Senhor Jesus insta, junto ao pastor em Éfeso, a que volte de imediato ao
primeiro amor.
1. Rica em obras, pobre em amor. Apesar de já não se lembrar
do primeiro amor, Éfeso ainda era rica em obras. Aliás, o próprio Cristo
realçou-lhe esta característica (Ap 2.2). No entanto, já não praticava as obras
que a haviam distinguido no início da fé: o amor que santificara ao Senhor
Jesus. Sim, a igreja em Éfeso era rica em obras e paupérrima em amor.
Se as obras sem a fé nada são, o que delas resta sem o amor?
Até mesmo o auto-sacrifício sem amor nada é, conforme destaca o apóstolo Paulo:
“E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e
ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada
disso me aproveitaria” (1 Co 13.3).
2. Amar é a mais elevada das obras. Não há obra tão elevada
como amar a Deus: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e
de toda a tua alma, e de todo o teu poder.” (Dt 6.5). Há crentes que se limitam
a amar as bênçãos. Há outros que, mesmo sem as bênçãos, amam o abençoador. Que
belo exemplo temos em Habacuque (Hc 3.17,18).Embora rica em obras, a igreja de
Éfeso se esqueceu de que amar é a mais elevada das obras.
IV. LEMBRANDO SE DO PRIMEIRO AMOR
Como voltar ao primeiro amor? A resposta vem do próprio
Cristo: “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as
primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu
castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.5).
1. Lembrar-se de onde caiu. A Bíblia exorta-nos a
lembrar-nos de Deus, porque Ele jamais se esquece de nós (Ec 12.1; Is 44.21;
49.15). O cristão, infelizmente, corre o risco de esquecer-se daquEle que se
esquece somente de nossos pecados (Hb 8.12). Não é constrangedor esquecer o
nome de um amigo? No entanto, se não formos diligentes, corremos o risco de não
mais lembrarmos daquele amigo que é mais chegado que um irmão (Pv 18.24).
2. Voltar à prática das primeiras obras. Se Éfeso já era
rica nas segundas obras, por que voltar à prática das primeiras? Nenhuma obra é
completa e perfeita sem o amor. É o que poetiza o apóstolo Paulo no décimo
terceiro capítulo de sua Primeira Epístola aos Coríntios. Leia atentamente esta
passagem; medite nela e, através dela, afira o seu amor. Veja se você ainda ama
o Cristo como Ele tem de ser amado. Ou será necessário que o próprio Senhor pergunte-lhe:
“Amas-me mais do que estes?” (Jo 21.15).
Se não devotarmos a Cristo o primeiro amor, como haveremos
de ansiar por sua volta? Talvez, o anjo de Éfeso já não almejasse o retorno do
Senhor. O ativismo acabara por matar-lhe o primeiro amor e o segundo também.
Era-lhe urgente e necessário, pois, não somente amar a Cristo como antes, como
também amar-lhe a vinda como nunca.
3. Amar a vinda de Cristo. Assim como o Cristo ama a Noiva e
suspira por sua chegada aos céus, também devemos nós, como o seu corpo místico,
almejar por sua vinda: “Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a
qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também
a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.8). Você realmente ama a vinda de
Cristo? Em breve Ele voltará. Amém. Ora vem Senhor Jesus!
Lembrar-se de onde caiu é o primeiro passo para se voltar ao
primeiro amor.
Sem amor não pode haver Cristianismo. Sua base é o amor
primeiro e belo do início de nossa fé. Um amor que jamais deve morrer, mas renovar-se
a cada manhã. Se você já não ama a Cristo como antes, arrependa-se desse pecado
grave e evite que as consequências se agravem. Voltar ao primeiro amor não
significa voltar à imaturidade espiritual, mas ao ardor do início de nossa fé.
Lembre-se de onde caiu. Volte imediatamente ao primeiro
amor. Rogue ao Pai que o reconduza à sala do banquete, onde o Noivo está à
nossa espera: “Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte em mim era o
amor” (Ct 2.4).
“Introdução às
Sete Cartas
Igrejas são como pessoas. Não há duas iguais. Cada uma tem
sua própria personalidade, forma e tamanho. Possuem suas próprias forças e
fraquezas, vivendo também em lugares diferentes.Isto acontecia no primeiro
século. Jesus endereçou-se às igrejas de Apocalipse 2 e 3, porque elas não eram
iguais. Cada uma tinha sua identidade e personalidade.
Consequentemente, o que Jesus tem a dizer a cada igreja é
algo singular. Cada carta é feita sob medida; leva em conta as necessidades
específicas, forças e fraquezas de cada congregação.
Cada carta segue um padrão comum.
I. O cenário. Em primeiro lugar, Jesus identifica cada
igreja pela cidade em que se localiza.
II. O remetente. Cada carta tem uma descrição única de Jesus
Cristo, o remetente. Cada uma ajusta-se apropriadamente às necessidades de cada
igreja.
III. As virtudes. O Senhor elogia cada igreja — exceto
Laodiceia — pelo serviço particular que lhe presta.
IV. O pecado. Cada igreja é admoestada, algumas vezes
severamente, por causa de seu compromisso com o mundo. Há duas exceções,
Esmirna e Filadélfia, as mais perseguidas” (LAWSON, S. J. As Setes Igrejas do
Apocalipse: O Alerta Final para o seu povo. 5.ed., RJ: CPAD, 2004, pp.73,74).
“O Cenário [da igreja de Éfeso]
Uma viagem à velha Éfeso era como ir hoje a Nova Iorque ou
Los Angeles. Era uma próspera metrópole, a mais proeminente cidade da Ásia
Menor. Localizada no Rio Caster, a três milhas do Mar Egeu, Éfeso era o maior
centro comercial da Ásia. Aí, embarcavam-se as mercadorias através do
Mediterrâneo, subindo o Caster, onde eram distribuídas ao mundo todo.
Éfeso ficava na encruzilhada do mundo. Aqui, entrelaçavam-se
quatro grandes estradas, trazendo negociantes e mercadores das mais importantes
províncias romanas. Os efésios, por isso, eram mui avançados culturalmente.
Eram cosmopolitas nas artes, dramas e urbanização.
Éfeso era uma cidade livre. Por sua lealdade a Roma, estava
autorizada a ter governo próprio. Nela, não havia guarnição romana. Nenhuma
opressão pairava sobre a cidade. Era imune à influência e à tirania romanas.
Éfeso era também o centro do paganismo. Uma das sete
maravilhas do velho mundo está ali — o templo de Diana. Lugar de intensa
idolatria, o templo era tão extenso quanto dois campos de futebol. Nele, floresciam
a prostituição, as bebedeiras e as orgias. Não admira que tantos negócios
viessem ao templo de Diana.
No templo, criminosos achavam asilo. Era um céu para o
perverso. Com suas prostitutas, eunucos, dançarinas e cantores, era o esgoto da
iniquidade. Mas no meio dessa cidade, Deus plantara uma próspera igreja. É
melhor desempenhar uma missão nas portas do inferno do que pregar ao coral dos
anjos. Deus sempre constrói sua Igreja onde as circunstâncias parecem menos
favoráveis. Esta é a graça de Deus.
O Remetente
Para esta igreja, localizada em meio à tamanha idolatria e
imoralidade, Jesus identifica-se da seguinte maneira:
Escreve ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele
que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de
ouro:... (Ap 2.1).
O Remetente não é nominado. Mas, obviamente, trata-se de
Jesus Cristo. Ele é o mesmo que se revelara a João na estrondosa visão de
Patmos. É o próprio Senhor ditando e elaborando a carta.
Jesus
dirige a carta ao anjo da igreja. A palavra anjo significa mensageiro.
Refere-se ao que tem como ministério primordial levar a mensagem à congregação.
Hoje, o chamaríamos de pastor ou ancião. É através dele que esta mensagem é
trazida à igreja” (LAWSON, S. J. As Setes Igrejas do Apocalipse: O Alerta Final
para o seu povo. 5.ed., RJ: CPAD, 2004, pp.79,80).fonte CPAD
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