O
capítulo 7 forma um tipo de interlúdio entre o sexto e o sétimo selos. A
abertura do sétimo selo (8.1) revela as sete trombetas. Assim, essas duas
séries de sete estão interligadas.
Este
capítulo divide-se naturalmente em duas partes, como é indicado pela
frase E, depois destas coisas, vi nos versículos 1 e 9. O que
João viu foi a Igreja Militante na terra (vv. 1-8) e a Igreja Triunfante no céu
(vv. 9-17).
a. Os cento e quarenta e quatro mil são selados (7.1-8). João viu quatro
anjos que estavam sobre os quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da
terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem
contra árvore alguma(1). Os julgamentos de Deus precisavam ser retidos por
um período. Cada um dos quatro anjos estava parado em um
dos quatro cantos da terra — significando as quatro direções
da bússola — retendo (segurando firme, mantendo sob
controle) os quatro ventos da terra, simbolizando os
julgamentos que estavam prestes a ocorrer. Nenhum furacão deveria varrer
a terra ou o mar, nem derrubarárvore
alguma.
João
então viu outro anjo subir da banda do sol nascente (2)
—
literalmente “que subia do nascente do sol” (ARA). Ele tinha o selo do
Deus vivo. O selo “é aqui o anel de sinete [...] que
o monarca Oriental usa para dar validade a documentos oficiais ou para marcar
sua propriedade”. Paulo usa essa figura diversas vezes (2 Co 1.22; Ef 1.13;
4.30). Talvez o paralelo mais próximo no Novo Testamento seja 2 Timóteo
2.19: “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor
conhece os que são seus”. O simbolismo aqui em Apocalipse está provavelmente
relacionado com o texto de Ezequiel 9.3-4, em que um homem vestido de linho e
levando um tinteiro de escrivão recebe a ordem de marcar um sinal na testa de
todos os justos em Jerusalém. Aqueles que não tinham essa marca deveriam ser
mortos.
Os quatro
anjos foram advertidos: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as
árvores, até que hajamos assinalado na testa os servos do nosso Deus (3).
O uso de nosso Deus sublinha o fato de que tanto santos quanto
anjos servem o mesmo Senhor.
O número
selado era cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos dos filhos
de Israel (4). Mas o que representam exatamente os cento e quarenta e
quatro mil? Essa é uma pergunta que tem recebido inúmeras respostas. Alguns
entendem que o número indica o remanescente eleito de Israel (cf. Rm 11.5).
Outros acham que se trata dos cristãos judeus. Afigura cento e quarenta e
quatro mil não deve ser tomada literalmente, mas simbolicamente. Ela
representa aqueles que “foram comprados como primícias para Deus e para o
Cordeiro” (14.4). O número (12 x 12 x 1.000) significa uma multidão grande e
completa. Provavelmente, o melhor ponto de vista seja aquele que diz que os
cento e quarenta e quatro mil representam “todos os fiéis”. Esse parece ser o
caso pela descrição dos cento e quarenta e quatro mil em 14.1-5.
Na lista
das doze tribos (vv. 5-8) aparece um problema: Por que Dã é omitida?
Em diversas listas do Antigo Testamento (Nm 1.5-15,20-43; 13.4-15) o nome de
Levi é deixado fora — “Mas os levitas, segundo a tribo de seus pais, não foram
contados entre eles” (Nm 1.47). Isso ocorria porque eles eram separados para um
serviço sagrado especial. Para que o número continuasse sendo doze, a tribo de
José era dividida em duas tribos, Efraim e Manassés. Eles são mencionados
separadamente aqui, em que José (8) está no lugar de Efraim.Levi (7)
é incluído.
Isso
continua deixando em aberto a questão da omissão de Dã. Essa tribo está
faltando nas listas genealógicas de 1 Crônicas 2.3—8.40. O mesmo ocorre
com Zebulom, por alguma razão desconhecida.
Foi
sugerido que Dã é deixado fora porque essa era a primeira tribo a
enveredar pelo caminho da idolatria (Jz 18). Os antigos escritos rabínicos
ressaltam a apostasia de Dã. O Testamento dos Doze Patriarcas (uma obra pseudepigráfica) sugere uma aliança
entre Dã eBelial.
Duesterdieck diz:
“O simples motivo de a tribo de Dã não ser citada está no fato de que
ela já tinha sido extinta muito antes do tempo de João”. Mas, evidentemente, o
mesmo ocorreu com as outras dez tribos do norte.
A
explicação mais antiga, endossada amplamente pelos antigos Pais da igreja,
foi primeiro oferecida por Irineu (segundo século). Ele entendia
que Dã foi omitida porque o Anticristo deveria emergir dessa tribo
(cf. Jr 8.16). Charles insiste que “essa tradição da origem do Anticristo é
pré-cristã e judaica”.
A ordem
das tribos conforme relacionadas aqui, tem evocado considerável discussão.
Depois de mencionar Judá e Manassés, Charles afirma: “As tribos restantes
são relacionadas em ordem completamente ininteligível”. Swete apresenta
uma explicação mais lógica: “A ordem apocalíptica começa com a tribo da qual
Cristo veio [...] e então continua para a tribo do filho primogênito de Jacó,
que encabeça a maioria das listas do AT. Em seguida vêm as tribos
localizadas no Norte, interrompidas pela menção de Simeão e Levi, que em outras
listas geralmente seguem Rúben ou Judá; enquanto as tribos de José e
Benjamim são mencionadas por último”. Ele acrescenta: “Essa organização parece
ter sido sugerida em parte pela ordem de nascimento dos patriarcas e em parte
pela situação geográfica das tribos”. J. B. Smith traz uma apresentação lógica
ao colocar os nomes em pares, em vez de em triplas como são encontradas na
versificação das nossas Bíblias.
b. A multidão dos redimidos (7.9-17). João viu uma
multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e
línguas (9) parada diante do trono no
céu. As vezes, somos tentados a sentir que somente algumas pessoas
estão servindo o Senhor. Mas o total de redimidos de todos os tempos e todas as
nações é uma multidão incontável.
Eles
trajam vestes brancas — símbolo de pureza e vitória — e
levam palmas nas suas mãos, como fez a multidão alegre na
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Jo 12.13). Swete habilmente
observa: “Acena de Apocalipse 7.9ss. antecipa a condição final da humanidade
redimida. Semelhantemente à Transfiguração antes da Paixão, ela prepara o
vidente a enfrentar o mal que está por vir”.
A
multidão dos redimidos clama: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no
trono, e ao Cordeiro (10). Aqui, como ocorre com frequência no Novo
Testamento, Cristo é adorado junto com o Pai. Todos os anjos, os
vinte e quatro anciãos, e as quatro criaturas
viventes se unem na adoração (v. 11). O relato do louvor (v. 12) é sétuplo,
como em 5.12. Cada um dos sete itens leva o artigo definido no texto grego,
enfatizando-os individualmente.
Um dos
anciãos (13)
ofereceu-se para explicar a visão a João (cf. 5.5). Ele primeiro fez uma
pergunta dupla acerca daqueles que estavam trajando vestes brancas: quem são e
de onde vieram? João respondeu: Senhor, tu sabes (14)
— literalmente: “tu tens conhecimento” (tempo perfeito). Então vem a
explicação: Estes são os que vieram de grande tribulação —
literalmente: “Estes são os que estão vindo de grande tribulação”.
Essa frase tem levado ao nome “A Grande Tribulação”, por um breve período (três
anos e meio ou sete anos), no fim dos tempos. Muitas vezes fala-se que a
referência aqui é aos chamados “santos da tribulação” que são salvos durante a
Grande Tribulação. Em certo sentido, todos os cristãos precisam passar “por
muitas tribulações” (At 14.22). Mas, no fim dos tempos haverá um período de
muita aflição que bem poderia ser entendido como a Grande Tribulação (cf. Dn
12.1). Essa continua sendo uma pergunta aberta, se, de fato, a referência aqui
deveria ser restrita aos santos desse breve período.
Os
redimidos são descritos como aqueles que lavaram as suas vestes e as
branquearam no sangue do Cordeiro. A ideia das vestes serem
literalmente lavadas para se tornarem brancas no sangue é paradoxal. Mas essa
não é uma linguagem literal. Toda a história da salvação é um paradoxo, em que
muitos intelectuais sofisticados têm tropeçado. O fato continua o mesmo: a
única forma de salvação é aceitar humildemente a expiação provida pelo Filho de
Deus, que derramou o seu sangue para todos os pecadores.
Somente
os lavados pelo sangue podem ficar diante do trono de Deus (15)
e desfrutar da sua presença para sempre. Eles o servem de dia e de
noite no seu templo. O céu é um lugar de descanso, mas não de preguiça
ou inatividade. Templo não é hieron, usado para o tempo em Jerusalém, mas naos, “santuário”. No antigo Tabernáculo e no Templo
posterior somente os sacerdotes e levitas podiam entrar no santuário. Mas agora
todos os crentes são sacerdotes e podem servir no
santuário. Swete observa: “O ‘templo’ é aqui a Presença divina,
compreendida e desfrutada”. Ele faz essa aplicação prática para o presente:
“Mas a visão de adoração incessante é compreendida somente quando a vida em si
é entendida como um serviço. A consagração de toda vida para o serviço de Deus
é um alvo para o qual nossa adoração presente aponta”. Na última frase do
versículo 15 ele comenta: “O serviço perpétuo encontrará seu estímulo e sua recompensa
na visão perpétua daquele que é servido”.
O Eterno,
que está assentado sobre o trono, os cobrirá com a sua sombra. O
verbo é skenosei — literalmente,
“estenderá a tenda ou tabernáculo”. Somente João usa essa palavra. Apocalipse
21.3 é semelhante à declaração empregada aqui. Em João 1.14 o termo é usado
para a Encarnação: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós”. A vinda de
Cristo para a terra preparou o caminho para todos que aceitassem a sua salvação
e desfrutassem da presença de Deus para sempre no céu. Assim, essa parte da
frase pode ser traduzida da seguinte forma: “E aquele que está assentado no
trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo” (NVI).
A
bem-aventurança dos redimidos é descrita mais adiante da seguinte
maneira: Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem
calma alguma cairá sobre eles (16). A linguagem desse
versículo e uma boa parte do próximo versículo são tomadas por empréstimo de
Isaías 49.10: “Nunca terão fome nem sede, nem a calma nem o sol os afligirão,
porque o que se compadece deles os guiará e os levará mansamente aos
mananciais das águas”. E, assim, nós lemos: porque o Cordeiro que está
no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas
da vida (17). Há uma reflexão aqui não só de Isaías 40.11 e Ezequiel
34.23, mas também do amado Salmo 23. Somente Cristo é a Água da Vida (cf. Jo
4.14).
O
capítulo termina com a bela promessa: e Deus limpará de seus olhos toda
lágrima. Isso é repetido em 21.4. Swete observa: “Na
verdade, todo o episódio de 7.9-17 tem eco nos últimos dois capítulos do livro,
onde o clímax aqui introduzido é descrito de forma mais completa”.
Os
capítulos 6 e 7 apresentam contrastes marcantes. Richardson observa: “O sexto
capítulo conclui com uma pergunta: ‘quem poderásubsistir?’ O capítulo sete dá a
resposta”. São os salvos e selados pelo sangue de Cristo. Da combinação
encontrada no capítulo 7 ele diz: “Vitória e alegria por meio de luta e
tribulação é a mensagem desse livro”.
c. O Sétimo Selo: Silêncio (8.1)
Quando
o sétimo selo foi aberto, fez-se silêncio no céu quase
por meia hora; isto é, por um breve período. Aparentemente,
esse era o silêncio da apreensão, a calma súbita antes da
tempestade. McDowell sugere: “As multidões do céu são paralisadas e
ficam mudas enquanto olham extasiadas para o Cordeiro enquanto ele move a sua
mão para quebrar o último selo do rolo que ele havia tomado da destra de Deus”.
Richardson chama esse momento de “um silêncio de ‘suspense e tremor’, uma pausa
dramática; um silêncio de reverência, expectativa e oração”. Charles é um pouco
mais específico: “Os louvores das ordens mais elevadas dos anjos no céu são
silenciados para que as orações de todos os
santos sofredores na terra possam ser ouvidas diante do trono. Suas necessidades
são de maior importância para Deus do que toda a salmodia do céu”.
( notas Bibliografia
Ralph Earle,comentatario do apocalipse 2000)
A selagem dos
mártires (Ap 7:1-8).
Consideremos
os fatos abaixo enumerados, conforme os encontramos nas Escrituras, em favor da
ideia que a igreja terá de atravessar a Grande Tribulação:
1. O
livro de Apocalipse foi escrito para confortar à igreja sob perseguição. Historicamente, isso se aplicava aos próprios
dias do autor sagrado, à perseguição movida por Domiciano e pelos imperadores
que se seguiram, cujos atos foram antecipados. Profeticamente, porém, isso se
aplica à igreja que viverá na terra nos tempos do anticristo, o qual promoverá
a mais cruel de todas as perseguições religiosas que o mundo já terá visto ou
poderá ver. Ver a igreja ausente durante esse tempo é negar o
propósito mesmo com que este livro foi escrito.
2. Os
mártires do trecho de Ap 6:9-11 têm de ser mártires cristãos, já que será somente perto do fim do período da
Grande Tribulação que Israel será salva como uma nação. O vidente João não
escreveu este livro a fim de consolar os mártires de Israel; escreveu para uma
igreja perseguida, que já contava com muitos mártires sob Nero. Domiciano foi
apelidado «segundo Nero», e o Apocalipse foi escrito durante o tempo
de Domiciano, pouco antes do fim do primeiro século de nossa era. Por
conseguinte, foi para «mártires cristãos» que João escreveu. Eles é que aqui
pedem vingança a Deus, contra a ímpia Roma. Estão em foco mártires cristãos,
que terão sofrido sob os selos segundo a quarto, e que farão o mesmo
clamor contra o anticristo; e esse é o aspecto «profético» do trecho de Ap
6:9-11.
3. Porém,
antes do golpe final da Grande Tribulação, ou melhor, antes de
desencadear-se a «ira» de Deus, no julgamento inaugurado pela vinda de Cristo
(ver Ap 4:17), os mártires serão selados, e,
portanto, aceitos na presença de Deus, de tal modo que a ira divina não poderá
atingi-los prejudicialmente. O capítulo que temos à nossa frente descreve isso.
Esse capítulo garante-nos que o martírio e todas as temíveis provações da
Grande Tribulação não poderão prejudicar àquele que está firme em Cristo. Seu
propósito é indestrutível, a despeito da ira do homem. Os mártires em potencial
serão selados, e, portanto, protegidos de todo o dano, até que chegue o
momento, dentro da vontade de Deus, de oferecerem o seu sacrifício. Se fosse da
vontade de Deus, alguns crentes ou mesmo todos eles, seriam capazes de desafiar
ao anticristo, até ao fim mesmo da Grande Tribulação. Mas a verdade é que os
crentes, em vastos números, sofrerão o martírio (ver Ap 6:9-11 e
7:9). Observemos quão avantajado é o número deles. É impossível que pudesse
continuar havendo na terra tão «inumerável» companhia de crentes, se a igreja
tivesse de ser arrebatada antes da Grande Tribulação. A «selagem» protegerá os
corpos deles enquanto Deus assim quiser fazê-lo: mas, principalmente, a ideia
dessa selagem é que estarão protegidos da ira de Deus, que se seguirá
imediatamente à Grande Tribulação, bem como estarão protegidos da ira de Deus
que será desfechada durante a Grande Tribulação, a qual meramente será predição
daquela ira maior que se seguirá. Seja como for, esse grupo representa o Israel espiritual, protegido em meio aos horrores da Grande
Tribulação, e não retirados do meio dela.
4. Tudo
isso pode ser confrontado com o trecho de Mt 24:29-31. Será somente
«após a tribulação» que os anjos serão enviados para recolher os eleitos, de
uma à outra extremidade dos céus, de uma à outra extremidade da terra. Esses
estarão «selados» até que tenha lugar esse recolhimento; e isso só terá lugar
«após a tribulação daqueles dias». É impossível ver aqui a nação de Israel, já
convertida, como se fosse ela, exclusivamente, quem está focalizada no quadro,
embora seja verdade que a conversão de Israel antecederá à batalha de Armagedom
por um bom tempo. Contudo, o trecho de Ap 7:9 e ss. certamente
descreve a igreja cristã. Nesta passagem, o «Israel espiritual», embora inclua
judeus convertidos, certamente é a igreja cristã. Do ponto de vista do vidente
João, somente o Israel espiritual pode estar em foco; porém, do ponto de vista
profético, a nação de Israel, futuramente convertida
a Cristo, provavelmente também está em foco. O vidente João, ao
exaltar os mártires cristãos, chama-os de «Israel espiritual». Porém, embora
ele não pudesse saber disso em seus dias, uma vez que a nação de Israel se
converta, sem dúvida haverá a selagem dos mártires em potencial entre eles, de
tal modo que possam escapar ao poder do anticristo. A exposição abaixo aborda o
problema que indaga se o Israel espiritual ou a nação de Israel é que está aqui
em foco, ou se ambos são focalizados neste ponto. A maioria dos intérpretes da
herança da literatura cristã tem opinado que está em pauta o Israel espiritual,
de princípio a fim.
Certo
número de intérpretes supõe que o trecho de Ap 7:1-8 fala da nação
literal de Israel, ao passo que os versículos nono em seguida, desse mesmo
capítulo, falam dos cristãos gentílicos, ou seja, da igreja. Outros acreditam
que o mesmo grupo —a igreja— está em pauta, embora apresentada sob
diferentes condições e perspectivas. Outros eliminam totalmente a
possibilidade da igreja estar presente, preferindo pensar apenas na nação literal
de Israel, que então terá se convertido a Cristo, uma vez que a igreja já foi
arrebatada, supostamente devido ao testemunho de Israel. Esse último ponto de
vista é de origem relativamente recente, dentro da história dos estudos
escatológicos, não sendo aprovado pela herança geral da literatura cristã dos
séculos. Tal posição moderna idealiza o arrebatamento da igreja antes da
tribulação, o que é ponto de vista extremamente duvidoso, embora se tenha
tornado popular em certas esferas do protestantismo evangélico de nossa época.
Também supõe, essa posição, que a nação de Israel, uma vez que a
igreja tenha sido arrebatada, passará a prestar testemunho ao mundo, quase
desde o início da tribulação predita. Mas isso é altamente improvável, ou
melhor, impossível, porque Israel, como nação, só se converterá nos estágios
finais da Grande Tribulação, e não nos seus primeiros desenvolvimentos.
Conforme
se dá com outras porções do Apocalipse, há um grande número de interpretações
acerca deste sétimo capítulo. Apesar de não sermos capazes de dar resposta a
muitas das questões que então se apresentam, porque somente o cumprimento
dos acontecimentos preditos fornecerá a resposta exata para tudo, cremos que
podemos fornecer um quadro geral do que é aqui
tencionado.
O sétimo
capítulo é considerado um parêntesis por muitos eruditos, como se fosse
uma pausa entre o sexto e o sétimo selos. Mas outros estudiosos veem aqui
certos aspectos do sexto selo, ainda sob consideração. O trecho
de Ap 6:17 promete a ira divina contra os rebeldes. Este sétimo
capítulo mostra que essa ira não poderá descarregar-se contra os selados, os quais estão justificados em Cristo. Este
capítulo, pois, representa uma interrupção no ritmo e no estilo do sexto
capítulo. Mas é ponto relativamente destituído de importância se o mesmo faz
parte ou não da descrição do sexto selo.
O
principal problema que envolve o capítulo à nossa frente é a identificação
dos cento e quarenta e quatro mil. Isso é discutido de modo breve mais
acima, e mais amplamente nas notas expositivas sobre o quarto versículo deste
capítulo, onde são expostas as principais opiniões dos intérpretes. O que quer
que digamos sobre os cento e quarenta e quatro mil, este capítulo certamente
retrata a igreja de Cristo durante a Grande Tribulação, sofrendo sob a
ferocidade do anticristo, o qual promoverá a pior perseguição religiosa de
todos os séculos.
7:1 Depois
disto vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quatro
ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sabre o mar,
nem contra arvore alguma.
«...Depois disto...» Essas palavras são um
artificio literário do autor sagrado, a fim de identificar uma mudança de
assunto ou o desenvolvimento do mesmo assunto. Algumas vezes a expressão
aparece em forma plural, «depois destas coisas», e às vezes em forma singular,
como aqui. Os manuscritos minúsculos 1, 27, 30, 33, 47 e os latinos g e n apresentam
aqui o plural, no grego, «tauta»; mas sem dúvida isso é
secundário. A forma singular aparece aqui nos mss Aleph, acp, 046 e na maioria das versões.
«...vi...» Em visão
Esperaríamos
uma descrição sobre o «sétimo» selo, mas a narrativa faz
uma pausa
a fim de dizer-nos como os verdadeiros crentes, durante a Grande Tribulação,
serão ou protegidos, ou então, como, a despeito do seu martírio, não serão
atingidos pela ira de Deus. Esses são os que podem «resistir» no dia da ira do
Senhor, sem sofrerem qualquer dano. Pouco ou nada importa se considerarmos este
sétimo capítulo como a continuação da descrição sobre o sexto selo, ou se o
considerarmos como um parêntesis, uma interrupção na narrativa dos selos.
«...em pé...» Trata-se de uma visão. Pois
nenhum anjo é grande bastante para dar a impressão que está
apoiado sobre o globo terrestre. Quando há tal simbolismo na Bíblia, como
podemos presumir em dizer que a interpretação «simbólica» ou «mística»
prejudica nosso entendimento sobre o Apocalipse? Bem pelo contrário, se sempre
tentarmos interpretar este livro literalmente, nossa compreensão deste livro
será fatalmente distorcida, porquanto o Apocalipse certamente é um documento de
natureza «mística», devendo ser interpretado como tal. Somente a prosaica mente
ocidental é que procura interpretar um livro místico de forma literal «sempre
quepossível», conforme dizem alguns eruditos.
A consulta das «fontes
informativas» do Apocalipse, especialmente das fontes informativas dos vários
apocalipses do período helenista, nos convencerá que devemos ter extremo
cuidado com a interpretação literalista. Como exemplo, disso, em Ap 8:8,
há um «monte» que atinge incendiado o mar, o qual poderíamos identificar de
imediato como um cometa que atingirá o oceano, ou seja, um objeto físico
literal. Ao assim dizermos, teremos simbolizado toda a questão, porquanto um
meteorito não é um monte. E assim teremos preservado um objeto literalmente
físico, como se estivesse aqui em foco. Então, ao consultar outra literatura
apocalíptica, como se vê em I Enoque 18:13, onde há uma cena similar,
poderíamos pensar estar confirmada essa interpretação literal. Mas,
prosseguindo até I Enoque 21:3 e 108:3-6, descobriremos que esse monte é, na realidade, um anjo caído, isto é, um dos
sete que cairão no mar, por terem sido expulsos por Deus dos lugares celestes,
devido à sua desobediência. A terra estremecerá ante a vinda desses anjos.
Talvez, então, nesse caso, o «oceano» represente as nações. Em outras palavras,
o ensino pode ser que anjos caídos, ou poderosos seres demoníacos, estão sendo
enviados para vexar os homens, e isso como castigo devido àquilo que os homens
merecem. Quão diferente é essa interpretação daquela outra que vê aqui um
meteorito a mergulhar em algum de nossos oceanos! Outrossim, a tentativa de
interpretarmos o Apocalipse de maneira literal, «sempre que possível», com
facilidade nos desviará para longe da verdade.
«...quatro anjos...» Consideremos os pontos
abaixo, a esse respeito:
1. O
termo «anjo» pode implicar em seres angelicais literais, dotados de alguma
missão especial a ser realizada na terra. O terceiro versículo deste capítulo
mostra que eles têm missões de juízo a efetuar. Esses anjos tiveram de ser
entravados por um outro anjo, «...que subia do nascente do sol...»
(no segundo versículo). Supomos, pois, que aquilo que têm de fazer deve ser
incorporado dentro do sétimo selo, talvez os juízos das «trombetas», porquanto
aquilo que são impedidos de fazer (no terceiro versículo) é mais ou menos
paralelo àquilo que é realmente feito (em Ap 8:7); e, de modo geral,
no restante das trombetas, porquanto trarão «dano contra a terra». É possível
que esses quatro anjos pertençam ao número dos sete anjos que farão soar as
trombetas, mas não se pode afirmar isso com confiança absoluta. São em número
de «quatro» porque exercem controle sobre as «quatro extremidades» da
terra e sobre os «quatro ventos». Em cada caso, todavia, o número «quatro» fala
de algo completo. A terra «inteira», pois, está debaixo do controle desses
anjos, até ao ponto que Deus lhes determinar.
2. Outros
eruditos creem que o termo «anjo», neste caso, simboliza as operações de Deus,
de sua providência, nada tendo a ver com seres celestes literais.
3. É possível
que o autor sagrado aluda aqui aos «quatro anjos da natureza», as forças
naturais que controlam o meio ambiente terrestre, sob direção divina.
4. Alguns
eruditos supõem que esses anjos são maus, forças espirituais malignas que
invadirão a terra nos últimos dias; mas certamente essa interpretação erra
totalmente o alvo, ainda que aquela invasão também seja predita na Bíblia.
5. As
interpretações históricas veem aqui quatro impérios mundiais; mas estão
equivocadas, sem dúvida alguma.
Pouca
dúvida pode haver que a alusão é ao trecho de Zc 6:5, «...os quatro ventos
do céu...» Isso pode ser comparado aos quatro seres viventes de Ap 4:6,7, e aos
quatro cavaleiros.
«...quatro cantos da
terra...» Os
antigos pensavam que a terra fosse quadrada, e, portanto, dotada de quatro
cantos. Os filósofos gregos jônicos (600 A.C.) modificaram isso, pensando ser a
terra um disco; mas a maioria dos antigos, desde os tempos babilônicos,
aceitava a ideia de uma terra com «quatro cantos». O vidente João contempla a
terra do alto de seu ponto visionário, vendo a terra como um plano retangular,
havendo um imenso anjo de pé sobre cada um de seus cantos.
É indagação inútil
se o vidente João cria ou não em uma terra quadrada. Sem dúvida ele assim cria,
mas isso em nada prejudica a mensagem de sua visão, ainda que inclua o que
agora é uma ideia cosmológica obsoleta. É tão inútil isso como tentar
«modernizar» o autor sagrado, e supor que, enquanto ele escrevia, usando ideias
antigas, ele mesmo sabia melhor do que elas. A questão inteira, sobre o que o
vidente João pensava sobre o formato da terra, não tem peso algum para a fé,
pelo que é inútil a discussão sobre a mesma, positiva ou negativamente.
A
expressão quatro cantos, inteiramente à parte do
fato se expressa ou não o formato da terra, diz-nos que esses anjos controlam a
terra inteira, de todo o ponto de vista, de todos os ângulos, até ao ponto onde
Deus lhes dá permissão. Portanto, podem provocar vastos juízos, se assim lhes
for dado fazer. E quando soarem as trombetas, assim realmente farão; por
enquanto, porém, são impedidos de agir, até que sejam selados os mártires em
perspectiva.
«...para que nenhum vento soprasse sobre a terra...» Os anjos que se acham nos
quatro cantos da terra, conservam presos os quatro ventos. Não lhes é permitido
soprar e nem destruir. Também se vê nas cosmologias babilônica e outras da
antiguidade, a ideia que seres angelicais ou espirituais, controlam os quatro
ventos, mantendo-os sob controle desde o seu posto, nos quatro cantos
da terra. Assim sendo, o vidente João uma vez mais se utiliza de uma expressão
da cosmologia antiga, a qual agora nos é estranha, mas que não o era para os
leitores originais do Apocalipse. Em Dn 7:2,3, vemos os quatro ventos do
céu irrompendo sobre o mar, provocando destruições imensas. É óbvio que esses
ventos não são literais, e, sim, alguma força cósmica e espiritual, que tem o
poder de produziracontecimentos horrendos sobre a face da terra, mediante
forças humanas e sobre-humanas.
Assim,
pois, se insistirmos em uma interpretação «literal», fazendo com que esses
ventos sejam quatro ventos literais, estaremos nos afastando da
verdade. No Apocalipse Siríaco de Pedro, há uma advertência da parte de Deus,
no sentido que quando ele soltar os quatro ventos, haverá saraiva antes do
vendaval, um fogo consumidor diante do vento sul, enquanto montanhas e rochas
serão partidas pelo meio pelo vento ocidental. Mas nada é dito ali sobre o
quarto vento.
No Apocalipse do Pseudojoão 15, a promessa de Deus é
que os quatro ventos deixarão o mar limpo de todo o pecado. Por igual modo,
nas Perguntas de Bartolomeu 4:31-34, aos quatro
anjos será dado o poder de restringir aos quatro ventos, para não liberarem sua
força destruidora sobre a terra. De modo bem geral, pois, o versículo
ensina-nos que Deus controla a terra inteira; que os seus juízos são
administrados como e quando ele quiser, e através dos instrumentos e eventos
que melhor lhe agradarem. Outrossim, ele restringe seus julgamentos a fim de
proteger os seus servos. Além desse significado geral, é perfeitamente possível
que nada mais seja aqui ensinado, e que os objetos da visão, como os anjos, os
quatro cantos e os quatro ventos, sejam apenas imagens necessárias para dar-nos
um quadro interessante, mas que não têm qualquer significado literal ou
metafísico. O número «quatro», entretanto, retém seu simbolismo de algo
«completo». A terra inteira, com todos os seus acontecimentos, são controlados
pela providência divina.
(notas comentario biblico Normam R.Champlin).
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PAZ DO SENHOR
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