Esta
palavra estava relacionada a purgos, isto é, «torre» ou
«castelo», ou seja, «fortificada». Pérgamo era a «cidadela» de Tróia. E,
de fato, nos escritos clássicos, tal palavra era usada para indicar a
«cidadela» ou «fortaleza» de qualquer cidade. Sua suposta significação de
«casada» não é apoiada nos dicionários. É verdade que aquela igreja entrou em
matrimônio com o mundo, quando ficou sob o favor imperial, mas tal
significado não é ilustrado no nome da cidade.
Pérgamo
era uma cidade da província romana da Ásia, nos dias neotestamentários, na
parte ocidental do que agora é a Turquia Asiática. Fora a antiga capital de
Atalo, a cidade-estado doada ao império romano, em 133 A.C. Geograficamente,
ocupava importante posição, próxima do extremo marítimo do largo vale do rio
Caico. Também tinha boa importância comercial e politica, além de sua
importância religiosa. Existia ali uma antiga forma de adoração ao diabo.
Também era a sede de um antigo culto de mágicas babilônicas, e tornou-se importantíssimo
centro da propagação do «culto ao imperador», que era apenas outra forma de
religião falsa, usada pelas forças satânicas. Tornou-se a sede de quatro dos
maiores cultos pagãos, a saber, de Zeus, de Atena, de Dionísio e de Ásclépio.
Também se estabeleceu ali o culto dos Magos, de origem babilônica. O sacerdote
desse culto era de Pontifex
Maximus ou então de «Principal Construtor da Ponte», e sua
suposta tarefa era preencher o vácuo entre o homem e os poderes superiores, os
quais se tornavam objetos de adoração. Os habitantes de Pérgamo eram chamados
de «principais guardiães do templo» da Ásia.
Quando o
«culto ao imperador» cresceu em importância, dentro do império romano, Pérgamo
se tornou um de seus centros principais, embora outros falsos cultos ali nunca
tivessem fenecido completamente. A alusão que temos ao «trono de
Satanás», mui provavelmente, diz respeito a esse culto (ver Ap 2:13).
Satanás impulsionava homens a adorarem um mero homem; esse era o seu «ardil»,
naqueles tempos.
Política
e economicamente a cidade florescia, tendo sido chamada por Plínio de «a mais
ilustre de todas as cidades da Ásia». Todas as principais estradas da Ásia
ocidental convergiam para ali. Fabricava unguentos, vasos e pergaminho (que
assumiu seu nome dessa cidade). Esse tipo de «papel» (feito de peles de
animais) chegou a ser chamado «charta pergamena», por ser fabricado em Pérgamo,
de onde era distribuído. Não foi a cidade que derivou seu nome desse tipo
de papel; deu-se exatamente o contrário.
Em 29
A.C. foi dedicado um templo a Augusto em Roma, por parte do sínodo provincial
(ver Tácito, Anais iv.37),
e isso «oficializou» o culto ao imperador em Pérgamo, — que naquele tempo, era
a principal cidade da província da «Ásia». Um segundo templo foi ali edificado,
em honra a Trajano, e ainda um terceiro, em honra a Severo. Desse modo, a
adoração religiosa pagã ali se centralizou e consolidou. Por detrás da cidade
havia uma colina em forma cônica, com cerca de trezentos metros de altura, a
qual, desde tempos antigos, vivia recoberta de templos e altares pagãos, o que
fazia significativo contraste com o «monte de Deus», referido em Is 14:13 e Ez
28:14,16. Este último foi chamado também de «trono de Deus» (ver I Enoque
25:3). O culto ao imperador criou ali um «trono de Satanás», talvez havendo
nisso alusão à colina acima descrita. O grande e idólatra culto ao imperador
incorporava em si mesmo todo o paganismo que tornou Pérgamo famosa, embora não
houvesse eliminado totalmente todas as outras formas. E a igreja cristã, que se
recusava a participar desse «culto», automaticamente foi tachada de «traidora»,
tendo de sofrer as consequências de sua recusa.
Hoje em
dia não resta mais glória à antiquíssima cidade. Uma pequena aldeia, de nome
Bergama, ocupa o seu lugar, na planície abaixo do local da antiga Pérgamo.
1. Destinatário (3.14a)
A KJV
traduz aqui: “à igreja dos Laodicenses”. Essa tradução tem provocado uma
série de comentários e interpretações. Mas ela praticamente não tem apoio dos
manuscritos gregos. A tradução correta é: “à igreja que está em Laodicéia”.
Ela é similar em
forma com os destinatários das outras igrejas.
Laodicéia
distava cerca de 60 quilômetros a sudeste de Filadélfia. Ela se localizava
junto ao rio Licos, 10 quilômetros ao sul de Hierápolis e 16 quilômetros
a oeste de Colossos. Fundada por Antíoco II (267-246 a.C.),
essa cidade foi chamada de Laodicéia em homenagem à sua
esposa, Laodice. Visto que estava localizada na junção de três estradas
importantes, tornou-se uma grande cidade comercial e administrativa. O
fato de ser um centro financeiro, a tornou tão próspera que foi capaz de
reconstruir-se depois do grande terremoto em 60 d.C. sem o subsídio
imperial. Ela também era conhecida pela fabricação de roupas e tapetes de uma
lã preta, brilhante e macia. Laodicéia também era famosa por causa da
sua renomada escola de medicina.
A igreja
de Laodicéia já existia quando Paulo estava preso em Roma. Ele escreveu uma
carta a ela (cf. Cl 4.16) que evidentemente se perdeu.
A cidade
foi conquistada pelos turcos. No lugar existe hoje uma série de ruínas, ainda
não escavadas.
2. Autor (3.14b)
Jesus
aqui se identifica como o Amém. Isso pode ser um eco de Isaías
65.16, em que encontramos no hebraico: “o Deus do Amém” (ou “o Deus da
verdade”). A palavra foi traduzida do hebraico para o grego e, tempos depois,
para o inglês e outras línguas modernas. Hoje, entre os cristãos de todos os
países e línguas ouvimos o mesmo “Amém!”.
Provavelmente
há uma conexão próxima entre o uso frequente desse termo por Jesus como está
relatado nos Evangelhos. Essa palavra aparece 51 vezes nos Sinóticos e 50 vezes
no Evangelho de João. Ela é traduzida como “na verdade” (sempre duplo em João)
na frase: “Na verdade vos digo”.
O autor
mais adiante se descreve como a testemunha fiel e verdadeira. Isso
provavelmente é sinônimo de o Amém, que é colocado aqui
“porque essa é a última das sete epístolas, para que possa confirmar o todo”.
O
terceiro item na descrição é: o princípio da criação de Deus. Mestres
heréticos têm se aproveitado dessa frase como prova de que Cristo não era
eterno. Mas em Colossenses, em que Ele é designado “o primogênito de toda a
criação” (1.15), é mencionado logo em seguida: “porque nele foram criadas
todas as coisas [...] E ele é antes de todas as coisas” (1.16-17). Além disso,
em seu Evangelho, João diz acerca do Logos: “Todas as coisas foram feitas por
ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). A frase aqui deve ser
interpretada à luz dessas outras passagens. Ela significa “a origem (ou ‘fonte
original’) da criação de Deus”.
3. Aprovação (3.15-17)
No caso
da igreja de Laodicéia não há palavras de aprovação ou recomendação. É um fato
impressionante que não se diga nada aqui acerca dosnicolaítas ou qualquer
outro grupo herético. Pelo que tudo indica, a igreja era ortodoxa. Mas era
uma ortodoxia morta. O que estava errado com a igreja de Laodicéia não era um
problema da cabeça, mas um problema do coração. Isso era muito mais
sério.
A essa
igreja o Senhor disse: Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem
quente. Tomara que foras frio ou quente (15). A palavra grega
para frio(psychros) é usada
somente nos versículos 15-16 e em Mateus 10.42 — “um copo de água fria”. Quente é zestos (somente
nos vv. 15-16 no NT). Essa palavra significa “quente a ponto de
ferver”, assim frio aqui provavelmente significa “frio a
ponto de congelar”. A igreja não era nem friamente indiferente nem fervorosa no
espírito (cf. Rm 12.11).
A
reação do Cabeça da Igreja é expressa com palavras fortes: Assim,
porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca (16).
Alguns alimentos são gostosos somente quando estão frios, outros somente
quando estão quentes. Alguns alimentos são gostosos tanto frios quanto quentes.
A maioria das pessoas gosta de suco gelado e café ou chá quente; mas quem gosta
de uma bebida morna? As palavras gregas para morno evomitar (esta
é emeo, no
grego) são encontradas somente aqui no Novo Testamento.
A pior
coisa a respeito da condição dessa igreja era sua auto complacência: Como
dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (17).
A igreja evidentemente refletia o comportamento da comunidade. Enriquecido significa
literalmente: “acumulei riquezas” (mesma raiz de rico na frase
anterior); em outras palavras: “Obtive minha riqueza com meu próprio esforço”.
A primeira frase expressa autossatisfação; a segunda, orgulho.
Não
existe um exemplo mais triste de orgulho insensível do que o que é exibido na
declaração: de nada tenho falta. Que contraste com a humildade
realista expressa nas palavras do hino “Preciso de Ti a toda hora”. Esse é o
verdadeiro espírito cristão de dependência.
A
avaliação de Cristo acerca dessa igreja era bem diferente da avaliação que essa
igreja fez dela mesma. Ele disse: e não sabes que és um
desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu. O grego é
consideravelmente mais vivido: “e não sabes que thou (enfático
no gr. — tu que tens te vangloriado) és o desgraçado,
e desprezível, e pobre, e cego e nu”. Desgraçado é encontrado
somente aqui e em Romanos 7.24 (no texto grego): “Miserável homem que eu sou!
Quem me livrará do corpo desta morte?”. Miserável ocorre
somente aqui e em 1 Coríntios 15.19: “Se esperamos em Cristo só nesta
vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”.
Swete resume
o restante do versículo da seguinte forma: “Os três adjetivos seguintes
relatam os motivos para a comiseração; um pedinte cego [...] escassamente
vestido (cf. Jo 21.7) não era mais merecedor de compaixão do que essa igreja
rica e presunçosa”. Pobre [...] cego [...] nu devem
ser entendidos metaforicamente, descrevendo a condição espiritual da igreja.
No entanto, pode haver uma alusão indireta aos recursos ostentosos da cidade
onde estavam localizados. A igreja era pobre em um centro
financeiro opulento, cego em uma comunidade que tinha uma
excelente escola de medicina, e nu em um lugar famoso pela
fabricação de roupas feitas de uma lã de alta qualidade. É possível que a
Igreja dos nossos dias prospere exteriormente no meio de prosperidade
material, e mesmo assim seja pobre, cega e espiritualmente nu.
4. Exortação (3.18-20)
A essa
igreja opulenta, que “não tinha falta de nada”, Jesus disse: aconselho-te
que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças(18). O
termo compres é um eco de Isaías 55.1: “vinde, comprai e
comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”. Essa é a
única maneira de comprarmos de Deus. De mim é enfático. Essas
coisas necessárias podem ser adquiridas somente de Cristo.
Provado
no fogo ou “refinado no fogo”, isto é, purificado pelo fogo. A mesma
forma verbal ocorre na Septuaginta em Salmos 18.30 — “a palavra do Senhor é
provada”. Em Provérbios 30.5, lemos “pura” — “Toda palavra de Deus é pura”.
Assim, aqui significa que esse ouro é puro e genuíno.
Além
disso, a igreja precisava de vestes brancas, para que te vistas, e não
apareça a vergonha da tua nudez. A roupa branca e pura estava em
contraste com a lã preta, pela qual Laodicéia era famosa.
Em
terceiro lugar, Jesus aconselhou a igreja para que unjas os
olhos com colírio, para que vejas. Acerca desse remédio, Charles diz:
“Em nosso texto refere-se ao famoso pó da Frigia usado pela escola de medicina
de Laodicéia”.
Não se
deve deixar de notar que as três partes do versículo 18 correspondem aos
últimos três adjetivos do versículo 17: “pobre”, “nu”, “cego”. A igreja de
Laodicéia achava que não precisava de nada. Na verdade, ela sentia falta
das necessidades mais básicas da vida espiritual.
Nesse
versículo, vemos “O que é o Evangelho”: 1) Riqueza divina para nossa pobreza
espiritual; 2) Veste branca de justiça para nossapecaminosidade; 3) Visão
espiritual para nossa cegueira.
A
exortação continua: Eu repreendo e castigo a todos quantos amo;
sê, pois, zeloso e arrepende-te (19). O castigo é um sinal do cuidado
amoroso de Deus como nosso Pai celestial (cf. Hb
12.5-11). É interessante que o verbo amo aqui não é
o costumeiro agapao, mas phileo, que
introduz um toque meigo e sentimental — para a igreja que menos o
merecia! Repreendo é “declarar culpado”. Castigo é
literalmente “educar uma criança”. Tudo isso mostra a compaixão de Cristo em
lidar com essa igreja como uma criança geniosa que precisava do amor e
disciplina do Pai. Swete observa: “Talvez a condição deplorável da
igreja de Laodicéia era devida à falta de correção; não há nenhuma palavra de
quaisquer provas até aqui sofridas por essa igreja”.
Essa
igreja tinha falta de “tempero” (veja comentários acerca de “quente”, v. 15).
Ela carecia de zelo. Assim, o Senhor disse: sê, pois, zeloso(imperativo
presente, sê constantemente zeloso). Arrepende-te está
no aoristo, requerendo uma ação imediata em uma decisão crucial.
Pode
parecer estranho que sê [...] zeloso preceda arrepende-te. Plumptre observa:
“A raiz da maldade da igreja de Laodicéia e seus representantes era sua
indiferença e mornidão, a ausência de qualquer zelo, de qualquer seriedade. E o
primeiro passo, portanto, para coisas mais elevadas era passar para um estado
em que esses elementos de vida não mais seriam manifestos pela sua ausência”.
A esse
chamado para arrependimento “Cristo acrescenta a mensagem mais terna encontrada
nessas cartas”: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha
voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo (20). Esse
é um dos mais importantes textos do evangelho no Novo Testamento e deveria ser
citado frequentemente na evangelização pública e na abordagem pessoal. Por esse
motivo, esse versículo deveria ser memorizado por todo cristão e ganhador de
almas.
A
simplicidade do evangelho é expressa de maneira singular nessa passagem. Cristo
está parado à porta do coração de cada pecador, batendo e esperando para
entrar. Ele não vai demolir a porta e forçar a entrada, porque nos criou com
vontade própria e não violará esse aspecto. Mas se o pecador abrir a porta, o
que só ele pode fazer, o Salvador promete entrar. A grande tela de Holman Hunt,
“A Luz do Mundo”, é a evangelização tornada visual.
A ideia
de “cear” é de comunhão, e mais especificamente de uma comunhão sem pressa ao
redor da mesa do jantar, quando a agitação do dia passou. O pensamento é
expresso belamente pela NEB: “e sentar para jantar com ele”. Esse aspecto
também antevê o banquete eterno com Cristo.
A
comunhão é dupla. G. Campbell Morgan a descreve da seguinte forma: “Primeiro,
serei seu Convidado, ‘Eu cearei com ele’. Ele será o meu convidado, ‘e ele
comigo’. Sentarei à mesa que o seu amor provê e satisfarei o meu coração. Ele
sentará à mesa que o meu amor proverá e satisfará o seu coração”.
5. Recompensa (3.21)
A
promessa final é: Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo
no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono.
Esse é um
eco e extensão da promessa que Jesus fez aos seus doze apóstolos em Mateus
19.28 e Lucas 22.29,30. Jesus venceu todas as tentações e provações na sua vida
na terra e recebeu sua recompensa. Para aqueles que o seguem plena e fielmente
até o fim, uma recompensa igual o estará aguardando. Essa promessa obviamente
antecipa a vida futura.
6. Convite (3.22)
Mais uma
vez os ouvintes dessas cartas são admoestados a ouvir o que o Espírito
diz às igrejas. Todas as sete mensagens estão repletas de advertências
e exortações salutares para os cristãos de hoje. Faríamos bem se prestássemos
atenção a elas.
fonte CPAD
(Bibliografia comentario biblico Ralph Earle )
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