Pietismo Artigo Mauricio Berwald
Fonte Wikipédia.
O pietismo é um movimento oriundo do luteranismo que valoriza as
experiências individuais do crente. Tal movimento surgiu no final do século
XVII, como oposição à negligência da ortodoxia luterana para com a dimensão
pessoal da religião, e teve seu auge entre 1650-1800.
O pietismo combinava o luteranismo do tempo da Reforma Protestante,
enfatizando a conversão pessoal, a santificação, a experiência religiosa,
diminuição na ênfase aos credos e confissões, a necessidade de renunciar o
mundo, a fraternidade universal dos crentes e uma abertura à expressão
religiosa das emoções.O mentor e pioneiro do movimento, Philip Jacob Spener
(1635-1705), conhecido pela sua obra Pia desideria (1676) influenciou outras
figuras como August Hermann Francke, Albrecht Bengel, Paul Anton e Johann
Kaspar Schade.
O pietismo influenciou o surgimento de movimentos religiosos
independentes de inspiração protestante tais como o metodismo[3] , o Movimento
de Santidade, o evangelicalismo, pentecostalismo, o neo-pentecostalismo e
grupos carismáticos, além de influenciar a teologia liberal de Friedrich
Schleiermacher e a filosofia de Immanuel Kant .
Histórico
A origem do pietismo é atribuída a Philip Jacob Spener . Nascido em
Rappoltsweiler na Alsácia no dia 13 de janeiro de 1635. Treinado por uma
madrinha devota que se utilizava de livros de devoção como Wahres Christentum
de Johann Arndt, Spener foi convencido da necessidade de uma reforma moral e
religiosa no luteranismo germânico. Ele estudou teologia em Strasbourg, onde os
professores da época (especialmente Sebastian Schmidt) tinham inclinação para o
"cristianismo prático" em vez da disputa teológica. Posteriormente,
Spener passou um ano em Genebra e foi influenciado pela rígida disciplina
eclesiástica e pela vida moral estrita aí prevalecente. Influenciaram-lhe
também pela pregação e piedade do professor valdense Antoine Leger[8] e do
pregador jesuíta convertido ao protestantismo Jean de Labadie .
Philip Jacob Spener
(1635-1705) pioneiro do pietismo.
Durante uma estada em Tübingen, Spener leu o Waechterstimme aus dem
Verwuesteten Zion de Teophilus Grossgebauer, panfleto que criticava a
morosidade espiritual das igrejas de então. Em 1666 Spener recebeu seu primeiro
encargo pastoral em Frankfurt com a opinião de que a vida cristã no seio do
luteranismo estava a ser sacrificada pelo rígido zelo da ortodoxia. O pietismo,
como um movimento distinto na Igreja alemã, originando-se através de Spener que
promovia reuniões religiosas em sua casa (collegia pietatis) em que pregava
seus sermões, expondo passagens do Novo Testamento e induzindo os presentes a
participar na discussão de questões religiosas que surgiram. Em 1675 publicou o
Pia desideria ou Desejos pios para a reforma da verdadeira Igreja evangélica,
uma introdução a uma coletânea de sermões de Arndt, mas o ensaio ganhou vida
própria. O título deu origem ao termo "pietistas" e tornou-se um
manifesto para a renovação da Igreja. Nesta publicação fez seis propostas como
o melhor meio de restaurar a vida da Igreja:
Sério e profundo estudo da Bíblia em reuniões privadas em ecclesiolae
ecclesia ( "igrejas dentro da Igreja");
O cristianismo sendo o sacerdócio universal, os leigos devem partilhar no
governo espiritual da Igreja;
O conhecimento do cristianismo deve ser alcançado através da prática;
Em vez de ataques aos incrédulos e heterodoxos, dar um tratamento
simpático e gentil a eles;
Uma reorganização da formação teológica das universidades, dando maior
destaque à vida devocional;
Um estilo diferente de pregação, ou seja, no lugar de retórica agradável,
a implantação do cristianismo, no interior ou novo homem, que é a alma da fé,
devendo trazer frutos para a vida.
Este trabalho produziu uma grande impressão em toda a Alemanha e, embora
um grande número de teólogos e pastores luteranos ortodoxos tenham sido profundamente
ofendidos por Spener em seu livro, as suas reivindicações foram admitidas e
muito bem justificadas. Consequentemente, um grande número de pastores
imediatamente adotaram as propostas de Spener.
Enquanto o pietismo tradicional permaneceu dentro das igrejas luteranas
apesar de suas críticas, o pietismo radical distanciou-se das igrejas
estabelecidas ainda mais[10] . Doutrinariamente, muitas vezes os pietistas
radicais refletem as influências de Jacob Boehme, mas eram separatistas
formando suas próprias congregações. O pietismo radical criticou as noções
luteranas de expiação, a autoridade das Escrituras, sacramentos e no
ministério.
O pietismo prático foi promovido pela nova universidade pietista de Halle
an der Saale. Em Halle, o pastor August Hermann Francke fundou em 1695
orfanatos, asilos e gráficas, dando um caráter de ação social do pietismo. A
Universidade de Halle tornou-se o centro de divulgação de pietismo a partir de
1698. A gráfica social de Francke distribui 80 mil Bíblias completas e 100 mil
Novos Testamentos em apenas sete anos - um fato notável,já que antes na
Alemanha, cerca de 80 anos (1534-1626) foram produzidas apenas 20.000 Bíblias.
Outros movimentos acabaram por ser influenciado pelo pietismo e ganharam
identidades denominacionais próprias, como o metodismo, as Igrejas Livres, os
Dunkers e alguns ramos anabatistas, como a Igreja dos Irmãos Mennonitas.
Um pietismo intimamente ligado a uma organização eclesial surgiu em
Württemberg. Mais tarde, o conde Nikolaus Ludwig von Zinzendorf fundou uma
comunidade dos «irmãos de Herrnhut».
No Brasil o pietismo se encontra presente dentro da Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil por meio da Missão Evangélica União Cristã [13] Há
denominações de identidade pietista como os Dunkers ou Igreja Evangélica dos
Irmãos, a Igreja Evangélica Congregacional do Brasile e a Igreja do
Cristianismo Decidido surgiu no Brasil a partir de uma missão luterana pietista
da Alemanha na cidade de Curitiba.
Doutrina
Caminho largo e caminho estreito, ilustração popular pietista alemã.
O tema central do pietismo é a experiência do crente com Deus, sua
condição de pecador e o caminho para sua salvação. Sublinhava-se a necessidade
da conversão individual e do nascer de uma nova conduta no crente, desapegada
do mundo material e firmada no apoio mútuo da comunidade reunida em culto ao
redor do estudo da Bíblia.
Ao enfatizar a dimensão experiencial e a prática da fé, os pietistas, por
um lado, desenvolveram uma moralidade ascética por vezes áspera, especialmente
no que tange à alimentação, vestimenta e lazer; por outro lado, enfatizaram um
sentimento de responsabilidade para com o mundo, do qual desdobraram-se
atividades de missão e caridade. Além disso, dada a ênfase no contato direto da
pessoa com Deus, as diferenciações entre clero e laicato foram amainadas e o
sentimento de pertença eclesiástica arrefecido nas experiências de pequenos
grupos ecclesiola in ecclesiae, os "collegia pietatis".
Defendia uma experiência vitalista da fé, pela demonstração e comprovação
desta numa piedade prática, através da rejeição do espírito mundano e pela
participação ativa dos leigos em reuniões ou conventículos de «cristãos
conversos».
O pietismo reduzia a importância da jurisdição eclesiástica, dando grande
importância à teologia mística e à contemplação espiritual. Atacava com
veemência a imoralidade que imperava desde a Guerra dos Trinta Anos.
Pietismo radical
Um ramo do pietismo não contentou de ficar no seio das igrejas luteranas
e reformadas. Defensores de uma igreja formada por regenerados, os pietistas
radicais empregaram as influências de Jakob Böhme, Gottfried Arnold, e Philipp
Jakob Spener para propagar um cristianismo separado do mundo e das igrejas
estabelecidas.
Esses grupos separatistas encontraram dificuldades de coexistir em países
de religiões estabelecidas. Muitos emigraram para as Américas e para a Rússia.
Alguns formaram comunidades coletivistas como Nova Harmonia nos Estados Unidos.
Tese de Merton
Semelhante à tese de Max Weber que correlaciona o protestantismo a uma
instituição secular, no caso o espírito do capitalismo, o sociólogo Robert K.
Merton correlaciona o pietismo e o puritanismo ao surgimento das ciências
naturais.
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