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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Historia geografia das igrejas da ASIA



Historia e geografia das igrejas da Asia

Artigo Mauricio Berwald



                                              ÉFESO   
                     Localização e Caracterização Geral

Éfeso era uma antiga cidade grega no território da Lídia, na Ásia Menor. Ficava localizada na desembo­cadura do rio Caister, cerca de cinquenta e seis quilômetros a suleste de Izmir (a antiga Esmirna mencionada no Novo Testamento).

 Ficava entre as duas antigas cidades de Esmirna e Mileto. Era uma das mais importantes cidades da Ásia Menor, no que atualmente é a Turquia. Na época do surgimento do cristianismo, Éfeso também estava ficando mais importante do que as cidades vizinhas. Em parte, devia sua prosperidade aos favores feitos por seus governantes. Lisímaco chamou a cidade de Arisone, em honra à sua segunda esposa. Atalo Filadelfo construiu excelentes docas e instalações portuárias. Éfeso tornou-se o grande empório da Ásia Menor, no lado ocidental das montanhas do Taurus, conforme nos diz Estrabão (14.5.641,663). Era a capital da Ásia proconsular, uma cidade rica e o principal porto da costa ocidental da Ásia Menor. Seu nome, mui provavelmente, significa «desejável». Quanto ao aspecto religioso, era conhecida mundialmente por causa de seu famoso templo de Ártemis. O lago antigo fica agora a onze quilômetros da beira-mar, por causa do depósito de entulho, no processo de muitos séculos.

                                          História

Ao que parece, Éfeso foi fundada por gregos jônicos, em cerca de 1050 A.C., especificamente sob a direção de Androclus, filho do rei ateniense, Codro. Desde os dias mais antigos, competia com Mileto e Esmirna, para ser o porto de exportação da Ásia Menor. Creso, rei da Lídia, obteve o controle de Éfeso em cerca de 562 A.C., somente para que os lídios perdessem esse controle para os persas, em 546 A.C. Os persas mantiveram o domínio sobre Éfeso até que Alexandre, o Grande, devolveu a cidade aos domínios gregos. Os macedônios (334-283 A.C.), os selêucidas (280-187 A.C.) e os pergamenes (187-133 A.C.), foram os governantes da área, em sucessão. Então veio Atalo III, rei de Pérgamo, que, em 133 A.C., doou a cidade aos romanos. Não foi muito tempo depois disso que Éfeso tornou-se a capital da província romana da Ásia. Então ela cresceu de tal modo em importância que chegou a rivalizar com Antioquia da Síria, com Alexandria e com Constantinopla (atual Istambul, na Turquia Europeia).

Éfeso tornou-se um dos grandes centros do movimento cristão primitivo. De fato, depois que Jerusalém foi destruída, no ano 70 D.C., tornou-se o centro cristão mais importante da época. Paulo passou ali três anos, evangelizando a cidade e a região em derredor, de tal modo que a Igreja cristã ficou bem estabelecida na Ásia Menor (na porção ocidental da moderna Turquia). Ver Cl 1:7 e 2:1. Paulo usava essa cidade como sua sede de operações na Ásia Menor. Durante esse tempo ele escreveu suas epístolas aos crentes de Corinto.

É bem possível que Paulo tenha lutado literalmente com feras, naquela cidade, onde pode ter sofrido um período de detenção que não é mencionado. Ver I Co 15:32. Alguns estudiosos supõem que as chamadas «cartas da prisão», de Paulo, ou, pelo menos, uma parte delas, tenham sido escritas em Éfeso, e não em Roma, conforme tradicionalmente se pensa. Mas, também pode tê-las escrito parcialmente em Éfeso e parcialmente em Roma.

Quando Paulo deixou a cidade, deixou Timóteo encarregado da igreja cristã local (I Tm 1:3). E não demorou muito para que a igreja fosse invadida, juntamente com outras, por falsos ensinamentos, conforme Paulo havia predito que sucederia (At 20:29,30 e II Tm 4:3).

É possível que o décimo sexto capítulo da epístola aos Romanos na realidade tenha sido uma carta enviada a Éfeso. Mas, como é claro, temos a epístola de Paulo aos Efésios, que pode ter sido uma epístola «circular», e não especificamente enviada aos crentes de Éfeso, visto que as palavras «em Éfeso», no primeiro versículo do primeiro capítulo dessa epístola, não aparecem no original.

As tradições também fazem o apóstolo João ter vivido ali, como também Maria, mãe de Jesus, que fora entregue por ele aos cuidados do discípulo amado, segundo se aprende em João 19:27. João, pois, teria recebido jurisdição sobre as sete principais igrejas daquela área. Mas há probabilidades de que não tenha sido ele o autor do livro de Apocalipse, que foi dirigido a essas cidades (incluindo Éfeso). Antes, o autor do Apocalipse teria sido João, o vidente, e não João, o apóstolo, embora ele também fizesse parte do grupo joanino. Isso reflete a opinião de alguns eruditos, contra a opinião de outros, que dizem precisamente o contrário. Em favor da associação de João com a cidade de Éfeso, temos o testemunho de Irineu e Eusébio (3.21), dois pais da Igreja, que deixaram registrados vários incidentes da vida do apóstolo João, que ocorreram ali. Mais tarde, Inácio (Efésios 11) adicionou mais algumas informações sobre a questão. Subsequentemente, Éfeso tomou-se um importante centro do cristianismo e um certo número de concílios foi efetuado nessa cidade.

A cidade de Éfeso era vulnerável aos ataques, pelo que foi saqueada repetidas vezes por invasores. Os godos atacaram-na e obtiveram controle sobre a mesma, em 262 D.C. Os árabes, em 655 e 717 D.C. Os turcos, em 1090 e, por duas vezes, novamente, no século XIV. Os mongóis, sob Tamerlão, completaram a destruição da cidade, em 1403. Finalmente, o islamismo chegou a controlar toda aquela região, pondo fim ao poder do cristianismo naquela região do mundo. Atualmente, uma pequena cidade turca, de nome Ayasaluk,assinala o local antigo.


                                            Religião

O décimo nono capítulo do livro de Atos fala sobre o conflito que o cristianismo precisou enfrentar para estabelecer ali um centro de operações. Desde o começo de sua história, Éfeso fora um centro forte do politeísmo. Diana (Ártemis) tornou-se a principal deusa da cidade e um grande empreendimento comercial foi estabelecido em torno de seu nome. Ártemis era o nome grego de Diana, conforme os romanos chamavam essa divindade. A semelhança de Apolo, ela era representada armada de arco e flechas, que ela usava a fim de subjugar monstros e gigantes. Era considerada uma divindade benéfica e ajudadora. Apolo era tido como o deus luminoso do dia e ela, com sua tocha, era a deusa da luz, à noite. Veio a ser identificada com a deusa da lua e da noite. Seu domínio era a natureza. Todas as feras eram consagradas e ela, embora fosse considerada uma caçadora. Também foi assumindo os aspectos da deusa da guerra, Minerva. O paganismo retrata deuses e deusas sob muitos aspectos, pelo que ela também aparecia como a Deusa Virgem, reverenciada pelas donzelas como sua protetora. No entanto, nos primeiros tempos de sua história, foram-lhe ofereci­dos sacrifícios humanos.

O templo de Diana, em Éfeso, chegou a ser uma das maravilhas do mundo antigo. Foi erigido em 550 A.C. Era uma obra magnificente da arquitetura jônica. Ficava em uma plataforma com cerca de cento e trinta metros de comprimento por cerca de setenta e três metros de largura. Dez degraus levavam ao pavimento dessa plataforma e mais três degraus levavam ao nível do pavimento do próprio templo. O templo tinha cem metros de comprimento por cinquenta metros de largura. Havia duas fileiras de oito colunas cada, na frente e na parte de trás do edifício e duas fileiras de vinte colunas de cada lado do santuário, totalizando cento e dezoito colunas. Cada coluna era um monólito de mármore, com 16,75 m de altura; e dezoito dessas colunas, em cada extremidade, eram elaboradamente esculpidas. O teto era coberto com grandes telhas de mármore branco. O santuário interno era circundado por colunas, tendo trinta e dois metros de comprimento por vinte e um metros de largura. Havia uma ornamentação interna de inigualável beleza, muito intrincada. Havia obras de Fídias, de Praxíteles, de Scopas, de Parrásio e de Apeles, grandes artistas plásticos do passado.

Juntamente com a própria cidade de Éfeso, o templo de Diana teve uma história muito agitada. Sofreu vários saques e, pelo menos por duas vezes, foi incendiado. O incêndio que ficou mais notório foi o de 336 A.C., ateado por um efésio de nome Herostrato, o que ele teria feito apenas com o propósito de imortalizar o seu nome. Mas esse templo sempre era reconstruído pelos efésios, após cada novo ataque sofrido. Todavia, em 262 D.C., os bárbaros godos arrasaram-no e assim terminou a sua história.

Em Atos 19:36 nos é dada a informação de que a imagem que era adorada naquele templo havia «caído do céu». Sem dúvida isso significa que algum meteorito foi recolhido e amoldado para formar uma imagem. Somente em tempos modernos aceitou-se a queda de meteoritos. Até bem recentemente, os céticos afirmavam que é impossível caírem rochas do firmamento. O fato é que os santuários tornavam-se pontos de exploração comercial; e questões econômi­cas causaram maiores dificuldades para Paulo em Éfeso (ver At 19:23ss) do que as questões religiosas, em suas lutas contra o paganismo.

O culto idólatra em Éfeso tinha o apoio de livros sagrados chamados Ephesia grammata, que eram numerosos livros que continham encantamentos, artes mágicas, etc. Quando o evangelho lançou raízes em Éfeso, grande quantidade desse material foi queimado, avaliado em cinquenta mil peças de prata (equivalentes cerca de cento e sessenta anos de trabalho de um operário comum — At 19:19). Mediante essas artes mágicas, os homens procuram empregar forças desconhecidas (ocultas), em seu benefício, ou, outras vezes, para prejudicar seus inimigos. Essas artes são uma espécie de excursão pelas dimensões dos poderes ocultos que os homens sempre pensam que os cercam, no mistério que é a vida.

Nos dias do Novo Testamento havia uma numerosa colônia judaica em Éfeso. Assim, com o vigoroso paganismo que ali medrava, com uma boa comunida­de judaica e com um cristianismo crescente, Éfeso veio a ser uma cidade cosmopolita quanto a questões religiosas. E, em tempos de intolerância, isso sempre significará convite a dificuldades. O cristianismo, porém, gradualmente foi ganhando terreno, só tendo sido suplantado, séculos mais tarde, pelo islamismo, que conquistava territórios com a força da espada dos fanáticos seguidores de Maomé. Mas, antes disso, Éfeso finalmente chegou a contar com templos cristãos que procuravam copiar a majestade da adoração à deusa Diana. O imperador Justiniano edificou um templo cristão em honra a João, no local do antigo templo de Diana. É irônico que o quarto crescente do islamismo veio a rebrilhar sobre as cúpulas das anteriores igrejas cristãs. E ainda mais irônico é que, ainda mais tarde, o lugar tornou-se desolado, onde nem imagens pagãs, nem cruzes e nem quartos crescentes eram exibidos. O próprio mar retirou-se do antigo porto de Éfeso, que agora fica a onze quilômetros de distância da beira-mar. Atual­mente há um pantanal cheio de canas onde, antigamente, grandes navios traziam suas mercado­rias, provenientes de todas as partes do mundo antigo.

Em Éfeso esteve a igreja cristã que perdera seu primeiro amor (Ap 2:4) e que fora advertida no sentido de que, se não se arrependesse, teria removido o seu candeeiro (Ap 2:5). Isso acabou acontecendo, embora no processo de vários séculos. Importantes concílios cristãos foram efetuados ali, antes do triste fim da cidade.



                               Éfeso e a Arqueologia

Após muita pesquisa paciente, o arqueólogo J.T. Woods descobriu as minas do grande templo de Diana. Isso ocorreu em 1870. Mostrou que era quatro vezes maior que o Partenon de Atenas. As escavações demonstraram a grandiosidade da estrutura, descrita na terceira seção, acima. O Instituto Austríaco de Arqueologia realizou notáveis escavações nesse lugar, desde o ano de 1896; e os labores de vários outros estudiosos vieram juntar-se a isso. Ficou demonstrado que Éfeso contava com muitos edifícios públicos, típicos das cidades greco-romanas. A porção principal da cidade contava com esplêndidos teatros, banhos, bibliotecas, a agorá (praça do mercado) e ruas pavimentadas de mármore. A descoberta de muitas moedas e de artefatos conferem uma compreensão ainda maior quanto à cultura e à história dessa cidade. Havia sobre o monte Piom um grande teatro, com capacidade entre vinte e cinco mil a cinquenta mil espectadores.

A arqueologia tem provado que a cidade continuou a prosperar, mesmo quando o seu porto diminuiu de importância. Sob o imperador Cláudio, foi remode­lado o seu teatro (meados do século I D.C.). Nos dias de Trajano (início do século II D.C.), houve novas obras nesse teatro. Foi Cláudio quem mandou pavimentar com mármore certas ruas da cidade. Nero conferiu à cidade um estádio. Domiciano alargou e embelezou a avenida central. Outros melhoramentos foram realizados, antes do ataque dos bárbaros godos, em 262 D.C. (AM RAM UNA Z)



                                           LAODICÉIA 


A forma grega dessa palavra é Laodikia (Laodikeia), que indicava a cidade da Ásia Menor desse nome, e seus habitantes. Essa palavra significa «justiça do povo», dando a entender alguma forma de governo democrático. Todavia, a referência poderia ser a algum juiz do povo, conforme outros têm opinado. O adjetivo pátrio para os habitantes da cidade, no grego, é laodikoi.

Várias Laodicéias na Antiguidade

Três eram as cidades desse nome, na antiguidade bíblica:

1.      Laodicéia ad Mare, atual Lataquia, o principal porto de mar da Síria.

2.      Laodicéia Combusta, atual Ladique, na Tur­quia, a cinquenta e três quilômetros a sudoeste de Samsun.

3.      A Laodicéia do Novo Testamento (ver Ap 3:14-22), onde havia uma das sete igrejas para onde foram endereçadas as cartas do Apocalipse.

Havia ainda outras três cidades que tinham esse nome na antiguidade, mas que não se revestem de qualquer interesse bíblico.


                       A Laodicéia do Novo Testamento

Essa cidade era chamada Laodicéia ad Lycum, e ficava próxima da moderna cidade de Denizli, na atual Turquia ocidental. Ficava cerca de cento e oitenta quilômetros a suleste de Esmirna, atual Izmir, na Turquia. Supõe-se que Laodicéia foi fundada em cerca de 250 A.C., por Antíoco II. Posteriormente, tornou-se a sede de uma das igrejas cristãs primitivas da Ásia Menor. Seu nome lhe foi dado em honra aLaodice, esposa de Anfíoco II.

A mensagem da carta aos laodicenses tem sido vista, tradicionalmente, como uma advertência clássica contra uma igreja corrupta e míope, dotada de uma fé cristã superficial. O desafio contido em Ap 3:20,21 não tem igual na literatura religiosa, considerando-se a brevidade dessa passagem.

Ai pelo século IV D.C., essa cidade era a sede episcopal central da Frigia, porém, foi destruída e abandonada durante as sangrentas guerras que houve entre os islamitas da Idade Média. As ruínas chamadas Eski Hissar, são tudo o que resta da cidade de Laodicéia, antes tão orgulhosa e autossuficiente. Eski Hissar, no turco, significa «castelo antigo».

                                            Descrições

Essa era uma cidade da província romana da Ásia Menor, na parte ocidental da moderna Turquia Asiática. No século III A.C., foi fundada uma cidade no local, por Selêucida Antíoco II, quando então recebeu nome baseado no nome próprio de sua esposa, «Laodice». Nos tempos romanos, sua posição geográfica favorecia seu desenvolvimento e prosperi­dade. Jazia na importante intersecção de estradas principais da Ásia Menor, que de Laodicéia ia para o ocidente, até os portos de Mileto e Éfeso, cerca de cento e sessenta quilômetros de distância. Para o oriente, essa mesma estrada conduzia ao planalto central e, dali, até à Síria. 

Uma outra estrada, que atravessava Laodicéia, corria para o norte, para a capital principal, Pérgamo, e também para o sul, até às costas de Ataléia. Essas estradas encorajavam o comércio em Laodicéia, que se tornou um centro bancário e comercial. Várias indústrias surgiram ali, como a da lã, a de tabletes medicinais e a de fabrico de roupas. Após os tempos neotestamentários, aumentou mais ainda a prosperidade material de Laodicéia. Até mesmo durante os dias da república, e nos dias dos primeiros imperadores, já era uma das mais importantes e florescentes cidades da Ásia Menor. Laodicéia, na qualidade de cidade-mãe, veio a incorporar uma área onde havia nada menos de vinte e cinco aldeias, de tal modo que era uma autêntica «metrópole», conforme é chamada em inscrições daquele lugar, que sobreviveram até nós.

A cidade estava sujeita a constantes terremotos, o que, finalmente, forçou o seu abandono. Atualmente, é um lugar desértico, mas muitas ruínas testificam sobre sua antiga grandeza. A arqueologia tem conseguido recuperar uma pista de corridas, três teatros (um dos quais tem cento e trinta e seis metros de diâmetro), além de numerosos outros itens.

O trecho de Cl 4:15,16 mostra-nos que, nos tempos de Paulo, Laodicéia já contava com uma comunidade cristã. Poderia ter sido iniciada mediante o trabalho de evangelistas enviados de Éfeso, a capital cristã daquela região, talvez um trabalho patrocinado pela igreja de Colossos. Alguns estudiosos têm pensado que a epístola chamada aos Efésios, na realidade foi a carta mencionada naqueles versículos da epístola aos Colossenses, mas essa teoria não tem muita coisa que a recomende.

Já que Laodice era um nome feminino comum, nos tempos do N.T., seis cidades receberam tal nome, nos período helenista. Por essa razão, a Laodicéia de Ap 3:14 era chamada de Laodicéia do Lico, isto é, do rio Lico, conforme assevera Estrabão (578). Ficava localizada na margem sul desse rio, a dez quilômetros ao sul de Hierápolis e a dezesseis quilômetros a oeste de Colossos.



                                                     PÊRGAMO

Esta palavra estava relacionada a purgos, isto é, «torre» ou «castelo», ou seja, «fortificada». Pérgamo era a «cidadela» de Tróia. E, de fato, nos escritos clássicos, tal palavra era usada para indicar a «cidadela» ou «fortaleza» de qualquer cidade. Sua suposta significação de «casada» não é apoiada nos dicionários. É verdade que aquela igreja entrou em matrimônio com o mundo, quando ficou sob o favorimperial, mas tal significado não é ilustrado no nome da cidade.

Pérgamo era uma cidade da província romana da Ásia, nos dias neotestamentários, na parte ocidental do que agora é a Turquia Asiática. Fora a antiga capital de Atalo, a cidade-estado doada ao império romano, em 133 A.C. Geograficamente, ocupava importante posição, próxima do extremo marítimo do largo vale do rio Caico. Também tinha boa importância comercial e politica, além de sua importância religiosa. Existia ali uma antiga forma de adoração ao diabo. Também era a sede de um antigo culto de mágicas babilônicas, e tornou-se importantís­simo centro da propagação do «culto ao imperador», que era apenas outra forma de religião falsa, usada pelas forças satânicas. Tornou-se a sede de quatro dos maiores cultos pagãos, a saber, de Zeus, de Atena, de Dionísio e de Ásclépio. Também se estabeleceu ali o culto dos Magos, de origem babilônica. O sacerdote desse culto era de Pontifex Maximus ou então de «Principal Construtor da Ponte», e sua suposta tarefa era preencher o vácuo entre o homem e os poderes superiores, os quais se tornavam objetos de adoração. Os habitantes de Pérgamo eram chamados de «principais guardiães do templo» da Ásia.

Quando o «culto ao imperador» cresceu em importância, dentro do império romano, Pérgamo se tornou um de seus centros principais, embora outros falsos cultos ali nunca tivessem fenecido completa­mente. A alusão que temos ao «trono de Satanás», mui provavelmente, diz respeito a esse culto (ver Ap 2:13). Satanás impulsionava homens a adorarem um mero homem; esse era o seu «ardil», naqueles tempos.

Política e economicamente a cidade florescia, tendo sido chamada por Plínio de «a mais ilustre de todas as cidades da Ásia». Todas as principais estradas da Ásia ocidental convergiam para ali. Fabricava unguentos, vasos e pergaminho (que assumiu seu nome dessa cidade). Esse tipo de «papel» (feito de peles de animais) chegou a ser chamado «charta pergamena», por ser fabricado em Pérgamo, de onde era distribuído. Não foi a cidade que derivou seu nome desse tipo de papel; deu-se exatamente o contrário.

Em 29 A.C. foi dedicado um templo a Augusto em Roma, por parte do sínodo provincial (ver Tácito, Anais iv.37), e isso «oficializou» o culto ao imperador em Pérgamo, — que naquele tempo, era a principal cidade da província da «Ásia». Um segundo templo foi ali edificado, em honra a Trajano, e ainda um terceiro, em honra a Severo. Desse modo, a adoração religiosa pagã ali se centralizou e consolidou. Por detrás da cidade havia uma colina em forma cônica, com cerca de trezentos metros de altura, a qual, desde tempos antigos, vivia recoberta de templos e altares pagãos, o que fazia significativo contraste com o «monte de Deus», referido em Is 14:13 e Ez 28:14,16. Este último foi chamado também de «trono de Deus» (ver I Enoque 25:3). O culto ao imperador criou ali um «trono de Satanás», talvez havendo nisso alusão à colina acima descrita. O grande e idólatra culto ao imperador incorporava em si mesmo todo o paganismo que tornou Pérgamo famosa, embora não houvesse eliminado totalmente todas as outras formas. E a igreja cristã, que se recusava a participar desse «culto», automaticamente foi tachada de «traidora», tendo de sofrer as consequências de sua recusa.

Hoje em dia não resta mais glória à antiquíssima cidade. Uma pequena aldeia, de nome Bergama, ocupa o seu lugar, na planície abaixo do local da antiga Pérgamo.


                                A Igreja em Pérgamo

paganização da igreja de Pérgamo (historicamen­te, nos fins do primeiro século, e no segundo e terceiro séculos, especialmente mediante o gnosticismo liber­tino, e, profeticamente, na época de Constantino, quando a igreja ficou sob o favor imperial) exigiu que a mesma recebesse um severo julgamento. Isso salienta-o «imperativo moral» do evangelho. A santificação é necessária à «salvação» (ver II Ts 2:13), e não meramente para a «comunhão com o Senhor». É falso o evangelho que não envolve exigências morais, ou que as subestima.

«Nessa igreja de Pérgamo, muita coisa havia que precisava de cirurgia moral. Era mister alguma amputação e execução morais, para que tudo fosse corrigido — a separação de coisas que não se harmonizavam entre si, bem como a destruição de males que se tinham instaurado e estavam atuando de forma desfavorável... A exibição do cutelo prefigurava a separação e a dissecação morais, no que não se poderia poupar qualquer erro, devendo morrer tudo quanto fosse estranho e prejudicial à igreja... Uma das razões por que tantas pessoas evitam e odeiam à verdade de Deus é que ela os fere, despertando os açoites da consciência e destruindo totalmente as suas esperanças. E essa forma de ferimento agora descera sobre aquela igreja». (Seiss, em Ap 2:12).


                                                 TIATIRA

No grego, Thuateíra. Tiatira ficava cerca de trinta e dois quilômetros a suleste de Pérgamo, em uma estrada na planície aluvial entre os rios Hermo e Caico. Tanto nos dias da liderança de Pérgamo sobre a Ásia Menor, como posteriormente, quando a política internacional atraiu os romanos para a grande península, essa cidade derivava sua riqueza e influência do fato de que era um ponto central de comunicações. Essa cidade foi fundada por Seleuco I, um dos generais de Alexandre, o Grande. Foi Seleuco I quem, de todos os seus herdeiros, herdou o território mais extenso. O reino de Seleuco ia desde além de Antioquia da Síria até o vale do rio Hermo, onde suasfronteiras chegavam bem perto das de Lisímaco, o qual mantinha nas mãos parte do antigo litoral jônico da Ásia Menor. Seleuco implantou ali um grupo de veteranos desmobilizados de Alexandre. Esses macedônios deveriam formar uma barreira contra todas as tentativas de perturbar as suas fronteiras.

Em 282 A.C., rebelou-se Filetero, e foi fundado o dinâmico estado de Pérgamo, destinado a perdurar por um século e meio. O novo estado era uma área tampão entre Seleuco e Lisímaco. Porém, um estado fundado sob tais circunstâncias não podia ser militarmente alerta; e Tiatira, um posto avançado na estrada para o oriente, impedia qualquer agressão possível que partisse do leste. A história do lugar, alinhavada, precariamente, com base em ruínas e moedas, sugere que Tiatira, em suas sempre flutuantes fronteiras, com frequência, mudava de mãos, ao sabor da sorte nas armas das forças sírias ou de Pérgamo, que faziam avançar ou recuar as fronteiras.

Tiatira, tendo de desempenhar permanentemente esse inevitável papel de posto militar avançado, não contava com uma acrópole poderosa, como se dava com Sardes e com Pérgamo. A cidade ficava em uma pequena colina. E só era valiosa, estrategicamente falando, porque uma confiante força de defesa, ali postada, era capaz de quebrar o ímpeto de qualquer assalto hostil, enquanto que uma defesa mais decisiva era organizada mais atrás. Esse dever militar impunha sobre aquela vulnerável cidade um estado de prontidão. Seus habitantes sabiam enfrentar o perigo e lutar, sem dependerem de qualquer defesa natural, mas contando exclusivamente com a sua coragem pessoal. A religiosidade refletia ali essa atitude de dever. Os soldados macedônios que a princípio foram ali estabelecidos, adotaram a adoração a um certo herói local, que lhes servia de patrono, e que aparece nas primeiras moedas cunhadas ali, representando um guerreiro montado, armado de machado de guerra. E isso talvez explique o simbolismo do Cristo ressurreto, na carta apocalíptica de João.

As tropas romanas apareceram com toda a sua força na Ásia Menor, após terem derrotado a sírio Antíoco, em 189 A.C., quando então a região passou, permanentemente, para o controle romano, quando o último dos monarcas de Pérgamo, intuindo os rumos da história futura, doou o seu reino à nascente república, em 133 A.C. Juntamente com a tranquilidade da «paz romana», houve a aceitação da cidadania romana. Sob o imperador Cláudio, Tiatira começou a cunhar novamente as suas próprias moedas, após um lapso de nada menos de dois séculos. 

A abundância dessas moedas cunhadas em Tiatira, que continuaram sendo produzidas até o século III D.C., sugere um vigoroso comércio. A primeira pessoa a se converter a Cristo, sob o ministério de Paulo, foi Lídia, uma mulher de Tiatira, que vendia panos de púrpura em Filipos, a centenas de quilômetros longe de sua terra natal. A tinta púrpura ou carmesim, dos tecidos vendidos por Lídia, era uma manufatura local, extraída das raízes da planta chamada garança, um rival mais barato que o corante fenício, extraído de um molusco, o murex.

A prosperidade comercial atraiu uma minoria judaica respeitável para Tiatira, pois os judeus, antes dedicados às atividades agrícolas, começaram a se interessar pelo mundo dos negócios e do comércio, no exílio. De fato, esse tipo de atividade haveria de tornar-se uma das marcas registradas dos filhos de Israel, na dispersão. Famosos artigos de exportação, de Tiatira, eram tecidos e vestes tingidos, além de armaduras de bronze. Uma moeda de Tiatira exibe Hefesto, o ferreiro divino, a moldar um capacete na bigorna. E a palavra grega chalcolibanos, «bronze polido» em nossa versão portuguesa (ver Ap 1:15 e 2:18), pode ter sido um nome comercial próprio de Tiatira, usado para emprestar certo colorido local à carta do Senhor Jesus à igreja cristã ali localizada. Realmente, é possível que as atividades comerciais fossem a questão crucial dos problemas dos cristãos da cidade. Não têm sido encontradas inscrições em grande quantidade, mas as poucas que ali têm sido descobertas falam em trabalhadores em lã, linho, couro e bronze, além de oleiros, padeiros, tintureiros e comerciantes com escravos. Cada um dos grupos profissionais contava com a sua guilda particular, como a dos ourives de Éfeso.

As epístolas de Paulo aos crentes de Corinto servem de clara indicação de que as guildas comerciais, com sua exigente vida social, com seus ritos pagãos e com suas festas periódicas, haveriam de ser problemas sérios para os cristãos fiéis que, por motivo de consciência, quisessem repelir a licenciosidade do mundo ao redor deles.

Era difícil alguém se abster das festividades das guildas sem perder alguma coisa no mundo dos negócios, em termos de aceitação e prestígio social. Por outro lado, ajustar-se a tais costumes era expor-se à licenciosidade dos ritos pagãos, que assinalavam os banquetes das guildas. Aquela seção da Igreja cristã, com ritos de sua pureza, buscava alguma forma de transigência. Estamos falando sobre os nicoláitas. Parecem ter sido liderados por uma habilidosa mulher, a quem João apodou de Jezabel. Esse apelido foi escolhido deliberadamente, com base no casa­mento de Acabe, rei de Israel, com Jezabel, filha do rei de Tiro. Esse casamento fora um compromisso, com o intuito de fomentar o comércio entre Samaria e os fenícios. Tal matrimônio foi um grande desastre, conforme Elias demonstrou. João, autor do Apocalip­se, denunciou essa mulher, proferindo contra ela uma horrível condenação: «Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações e vos darei a cada um, segundo as vossas obras» (Ap 2:22,23).

Uma inscrição encontrada por Ramsay, em Tiatira, mostra que ali, nos festejos públicos, as mulheres eram segregadas dos homens. Portanto, que as vítimas daquela pervertida mulher a abandonassem, deixando-a cair na condenação que inevitavelmente lhe sobreviria.

Essa forma de heresia estava destinada a tornar-se generalizada na Igreja antiga, conforme a última carta de João, III João, o demonstra. Talvez esse tipo de heresia tivesse começado em Tiatira. E a exortação da carta do Senhor Jesus aos crentes de Tiatira, conclui como segue: «Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as cousas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão somente conservai o que tendes, até que eu venha» (Ap 2:24,25).

O simbolismo existente nessa carta a Tiatira é local e muito chama à atenção. Em Apocalipse 2:18, Cristo aparece como quem tinha «os pés semelhantes ao bronze polido». Ora, o bronze era um dos produtos mais conhecidos de Tiatira. A promessa de Cristo, nos versículos 26 e 27, também reflete a natureza militar dessa cidade. Jezabel é uma personagem extrema­mente simbólica, desde o Antigo Testamento, falando em transigência e apostasia, por amor ao comércio, devido a sociedade firmada com um poder pagão.


                                         SARDES

No grego, Sárdeis. Aparece somente no Novo Testamento: Ap 1:11; 3:1,4. Era uma das cidades para cuja Igreja cristã o Senhor Jesus enviou uma carta, dentro da revelação dada a João. A cidade de Sardes ficava na junção das principais estradas que ligavam Éfeso, Esmirna e Pérgamo com o platô montanhoso do interior da Ásia Menor. A Lídia, da qual Sardes era a antiga capital e sede real, ficava bem no meio da rota de comunicações entre a costa do mar Egeu e o interior do continente. Em consequência, era uma área onde as culturas grega e nativa mesclaram-se de forma criativa. Nos dias de Croeso, cujo nome tornou-se legendário como indicação de riqueza e prosperidade, bem como do infortúnio que, da maneira mais chocante, ocasionalmente sobrevêm aos ricos e afortunados, Sardes tornara-se famosa devido às suas riquezas. Moedas de ouro e de prata foram cunhadas ali pela primeira vez; e o rio Pactolo tornou-se famoso devido ao seu ouro de aluvião, bem perto da cidade.

A própria topografia do lugar contribuía para sua grandeza. Em um dos elevados promontórios da região, uma extensão do monte Tmolo, dominando o vale plano do rio Hermo, ficava a fortaleza de Sardes, em posição quase inexpugnável. À semelhança da mais antiga Tróia, Sardes era uma cidadela e um lugar de refúgio, residência de reis e cortesãos. Tornou-se localidade importante desde o começo do reino lídio, no século XIII A.C.

Na época de Croeso, na idade áurea de Sardes, o poder lídio chegava até às costas do mar Egeu e até às cidades dos gregos jônicos: Esmirna, Éfeso e as demais. O historiador Heródoto dizia que o poder e as riquezas provocam a arrogância, e que a arrogância termina em ruína. Até parece que ele conhecia Provérbios 11:28: «Quem confia nas suas riquezas cairá...» Croeso via com apreensão o levantamento do poder persa, que mais e mais se aproximava de Lídia. Uma de suas precauções foi consultar o oráculo de Delfos, que, com a costumeira ambiguidade, respon­deu: «Se cruzares o rio Halis, destruirás um grande império». Foi o bastante para ele cruzar sua fronteira, a fim de combater os persas. E um grande império foi destruído—o de Croeso!

Posteriormente, Alexandre, o Grande, destruiu o império persa, e Sardes foi passando de mão em mão, sob sucessivos regimes. Primeiramente ficou com Antígono; depois, com os Selêucidas da Síria; e, finalmente, com Pérgamo.

Em 133 A.C. chegaram os romanos, quando Átalo III, cônscio de que os romanos eram os donos do mundo de então, entregou seu reino à república romana. Então Sardes tornou-se um dos centros administrativos da Ásia romana. Quando, em 26 D.C., as cidades da província contenderam pela honra de edificar um segundo templo para cultuar ao imperador, os enviados falaram com eloquência acerca do passado de glória da cidade. Conforme a carta do Apocalipse diz: «...tens nome de que vives, e estás morto...» (Ap 3:1).

Ao que parece, os cristãos que ali havia, na época da visão dada a João, tinham cedido à complacência própria do lugar. Apenas alguns poucos não haviam contaminado «as suas vestiduras», sendo dignas de andar de branco com o Senhor. Evidentemente, muitos deles tinham transigido com a adoração a Cibele, aquele horrendo culto de histeria e mutilação, de que falam os antigos historiadores. Algumas inscrições cristãs têm sido encontradas em Sardes, embora coisa alguma se saiba a respeito das origens e do fim da comunidade cristã do lugar. Ultimamente, têm estado a trabalhar em pesquisas arqueológicas equipes das Universidades de Harvard e Cornell. O templo de Ártemis, cuja adoração acabou absorvendo a de Cibele, naquela cidade, foi descoberto, juntamente com alguma evidência de que tal templo fora transformado em igreja cristã.


                                      ESMIRNA

No local ocupado por Esmirna, desde tempos remotos, havia uma cidade. Os gregos a colonizaram em tempos recuados, tendo exercido a hegemonia sobre a região por longo tempo. Foi destruída uma antiga cidade, ali existente, no princípio do século VI A.C. Foi fundada uma nova cidade por Lisímaco (301—281 A.C.).

 Desse tempo em diante, tornou-se uma das mais prósperas cidades da Ásia Menor. Esmirna foi aliada fiel de Roma, desde os tempos quando os romanos começaram a intervir nos negócios do Oriente Próximo, e muito antes de ter-se estabelecido como um império mundial. Em 195 A.C. (de acordo com Tácito, Anais iv.56), foi ali erigido um templo, em honra à deusa de Roma. Sua grandiosi­dade comercial se devia ao fato de que jazia no fim de uma das grandes estradas que atravessavam a Lídia para o leste, partindo da Frigia, servindo também de escoadouro marítimo para a inteira área comercial do vale do rio Hermo. Competia com Éfeso e Pérgamo pelo título de «Primeira (cidade) da Ásia». Em 26 D.C., foi-lhe permitido erigir um templo dedicado a Tibério, Lívia e o senado romano. Por causa desse privilégio, pôde reivindicar o direito ao Neocorato Imperial. 

E um segundo Neocorato lhe foi dado por Adriano, e ainda um terceiro, por Severo. Sua aliança apertada com Roma, tornou-a um forte centro de culto ao imperador, a adoração obrigatória ao imperador romano. Isso deixou os cristãos dali em circunstâncias desesperadoras, e a perseguição e a morte foram resultados apenas naturais para eles.

Esmirna foi a terra da fábula de Dionísio, um deus que supostamente fora assassinado, mas que ressusci­tara. Era o local da celebração dos jogos olímpicos, e contava com um dos maiores anfiteatros de toda a Ásia, ruínas do qual existem até hoje. Atualmente, a cidade que ocupa o local antigo se chama Izmir, é a maior cidade da Turquia Asiática.

O nome dessa cidade significa mirra, substância extraída de uma planta, por esmagamento. — Era usada no fabrico de perfumes, mas também para embalsamamentos. Esses fatos ilustram as condições que existiam na comunidade cristã dali, quando o livro de Apocalipse foi escrito. Os crentes dali foram literalmente esmagados, tornando-se um perfume de suave cheiro a Deus; mas, embora esmagados até à morte, foram preservados em espírito, de modo a poderem viver de novo.

Esse nome vem do grego smúrna, «mirra». A cidade de Esmirna está situada no fundo do golfo no qual flui o rio Hermus. Essa cidade é um porto bem protegido, bem como a saída natural para o mar, das principais rotas comerciais que se internam na região, ao longo do vale do rio Hermus. É possível que os primeiros povoadores da região tenham sido gregos eólios, uma comunidade que veio a ser dominada pelos gregos jônicos, que ali chegaram mais tarde e que eram militarmente mais poderosos. Contudo, os fatos históricos são poucos e obscuros, quando retrocede­mos até o primeiro milênio A.C., quando foram fundados aqueles povoados às margens do mar Egeu.

Quando a história torna-se melhor delineada, após esse período inicial, assinalado pelas invasões dos povos dóricos, que foi a última onda de tribos helênicas que se infiltrou no mundo miceno, Esmirna já aparece como uma robusta comunidade, preparada para impor-se contra o poderoso reino vizinho da Lídia. Em poemas antigos aprendemos que houve conflitos e tensões entre as cidades de Esmirna e de Sardis. Parece que Esmirna foi destruída em 600 A.C., por Aliates, da Lídia; e o local ficou devastado pelo espaço de três séculos. Foi dentre as cinzas que a cidade ressurgiu, o que talvez explique a frase que achamos na carta apocalíptica de Apocalipse 2:8: «Estas cousas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver». É evidente que a alusão primária é à morte e à ressurreição de Cristo, mas alguns estudiosos pensam que também há uma referência ao ressurgimento da cidade de Esmirna. 

Lisímaco, que governou a Trácia e a porção noroeste da Ásia Menor, após a divisão do império de Alexandre, reconstruiu Esmirna, em 290 A.C. E assim Esmirna tornou-se novamente uma cidade grega; e, graças à sua boa localização, entrou em uma era de vitalidade e prosperidade, que até hoje tem prosseguimento. A moderna cidade turca de Izmir é uma das mais fortes comunidades urbanas da Turquia moderna. Esse progresso foi fomentado porque seus habitantes tiveram a intuição de reconhecer o domínio de Roma sobre toda a região da Ásia Menor. Isso ocorreu em uma época em que Antíoco, o Grande, da Síria (241—187 A.C.) pressionava para oeste, querendo consolidar suas fronteiras. Mas os romanos, conscientes das ambições de Antíoco, avançavam na direção leste. Ora, Esmirna era uma excelente cabeça de ponte em uma grande península, que Roma vinha considerando cada vez mais uma região tampão.

 Além disso, Esmirna servia de fortim romano contra a força marítima de Rodes, o que significava assegurar o domínio romano sobre a porção oriental do mar Mediterrâneo.

Um dos fatos significantes da importância de Esmirna, dentro do império romano, é que ela foi escolhida para tornar-se o local do segundo templo asiático dedicado à divindade de Roma e do imperador, bem como a sede do sinistro culto ao imperador, que tanto sofrimento haveria de causar aos cristãos, dentro de alguns séculos. Em Esmirna, como em outros lugares do império, a política imperial de supressão foi efetuada esporadicamente, e Domiciano, sem dúvida, foi a causa dessa explosão perseguidora, com a ajuda de uma hostil sinagoga judaica, contra cujas maquinações João teve uma palavra zombeteira a dizer, em Apocalipse 2:9: «Conheço a tua tribulação, a tua pobreza, mas tu és rico, e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus, e não são, sendo antes sinagoga de Satanás».

Esmirna vinha adorando ao espírito de Roma desde 195 A.C. E o templo construído por Tibério aumentou ainda mais o orgulho que ela tinha em seu papel histórico. Portanto, a exortação para que os crentes de Esmirna suportassem tudo e recebessem «a coroa da vida», talvez tenha tido como pano de fundo um diadema de pórticos que circundava o alto de sua colina, que foi descrita por Apolônio de Tiana (1—96 D.C.?). De fato, esse diadema tornou-se tão famoso que «a coroa de Esmirna» passou a ser reconhecida como uma imagem de retórica, conforme se vê nos escritos de dois escritores da época.

Precisamos ainda mencionar Policarpo, um dos discípulos do apóstolo João e bispo mártir de Esmirna, — que faleceu em 155 D.C. Esse crente, pois, serviu de elo de ligação entre a era apostólica e os meados do século II D.C.

Não se sabe como o cristianismo chegou a Esmirna. Provavelmente, ocorreu como resultado das ativida­des de Paulo em Éfeso. Depois, João passou muitos e muitos anos nesta cidade. Com base na epístola apocalíptica de Ap 2:8-11, parece que os cristãos de Esmirna caminhavam bem no século I D.C. Na verdade, por ocasião das invasões armadas islâmicas, Esmirna foi uma das cidades da Ásia Menor que por mais tempo resistiu aos turcos. Essa resistência de Esmirna permitiu que os remanescentes do Império Romano do Oriente tivessem tempo para recompor-se do golpe. Na verdade, os cruzados, que estiveram naquelas regiões, trouxeram conhecimentos que, com o tempo, produziram a renascença. Sabe-se que a renascença foi uma das causas da Reforma Protestante, porquanto, durante o renascimento foram reestudados os escritos clássicos gregos e latinos, incluindo o Novo Testamento grego. A história mesma tem comprovado que o Senhor Jesus tinha razão para elogiar a igreja cristã de Esmirna, conforme fez naquele trecho do Apocalipse.


                                        FILADÉLFIA

Esse apelativo significa amor fraternal. No fim da era presente, quando a tribulação ameaçar o mundo, Deus se dirigirá à humanidade em amor, o que beneficiará a comunidade daqueles que derem lugar ao amor de Cristo em seus corações, assim amando-se uns aos outros. Haverá um refúgio que nos abrigará de toda a contenda; haverá calmaria para as águas agitadas; haverá um oásis no grande deserto espiritual do fim. Isso se encontrará na comunidade da Igreja do Amor Fraternal, cujo Senhor será o Cristo.

Filadélfia era uma cidade da província romana da Ásia, na porção ocidental do que agora é a Turquia Asiática. Ficava localizada a cento e vinte quilômetros a suleste de Sardes. Nos tempos do N.T., era a segunda cidade mais importante da Lídia. Original­mente, a cidade foi fundada por Eumenes, rei de Pérgamo, no século II A.C., tendo recebido nome de seu irmão, Atalo, cuja lealdade lhe ganhara o título de «Filadelfo». Filadélfia jazia perto do limiar de um trecho fértil da região do planalto, o que lhe dava grande parte de sua prosperidade. No ano de 17 D.C. a cidade foi destruída por um terremoto; mas uma doação imperial ajudou em sua restauração. Então adquiriu o nome de Neokaisareia e, posteriormente, sob o imperador Vespasiano, recebeu o nome imperial, Flávia.

Conforme se dava com a maioria das cidades daquela área, Filadélfia estava imersa na idolatria e, mais tarde, mergulhou no «culto ao imperador». Era famosa pelo número e grandiosidade de seus templos e de suas festividades religiosas.

Como é bem conhecido hoje em dia, a área geral onde estavam localizadas as sete igrejas do Apocalip­se, e que recebeu originalmente esse livro, não é mais uma área cristã. Porém, dentre todas as sete igrejas, a de Filadélfia foi onde o cristianismo sobreviveu por mais tempo.

A localidade é agora ocupada por uma aldeia turca, Allah Shehr, nome que significa «Cidade de Deus». No dizer de Vincent (in loc.): «A situação é pitoresca, pois a aldeia ocupa quatro ou cinco colinas, estando bem suprida de árvores, e o clima é saudável. Acredita-se que uma das mesquitas ali existentes era o lugar das reuniões da igreja endereçada no Apocalip­se. Uma coluna solitária, de grande antiguidade, com frequência tem sido notada, lembrando as pessoas sobre as palavras de Ap 3:12: ‘Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus...’».

O geógrafo Estrabão (em 20 D.C.), observou a instabilidade geológica da região onde ficava essa cidade, porquanto estava sujeita a muitos tremores de terra. No entanto, aquele que é fiel, dentro da família de Deus, pode tornar-se como uma COLUNA que resiste firmemente a todos os ataques e problemas. Ver Ap 3:12: «Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá...»

Filadélfia ficava em uma área fronteiriça de cultura, como portão de entrada para a Ásia Menor. Tinha um estilo cosmopolita de vida, não grego e não romano, ainda que, como é óbvio, fosse influenciado por ambos. Essa maneira «aberta» e irrestrita de viver pode ter inspirado o autor do livro de Apocalipse a falar sobre a «porta aberta» oferecida àquela igreja local, no campo das atividades missionárias. Ver Ap 3:7,8.

Um versículo controvertido é Apocalipse 3:10. Alguns pensam que o mesmo é prova de que a igreja de Filadélfia (que representaria a Igreja evangélica de nossos próprios dias) é que será arrebatada, o que seria indicado pela expressão «...também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro...» Mas isso não precisa indicar mais do que o fato de que o Senhor protegeria aqueles crentes, em meio à tribulação que viria. A ideia é que o Senhor haveria de mantê-los na fidelidade ao Senhor. Todavia, penso que a questão continua aberta à investigação. Não penso que alguém realmente saiba a interpretação certa, com certeza. Nosso artigo sobre a Parousia presta maiores informações sobre esse particular.

O nono versículo desse mesmo terceiro capítulo do Apocalipse é uma ácida alusão às atividades dos judeus perseguidores. Os judeus dali tendiam por ser amargamente nacionalistas e defensivos, em razão do que ocorriam abusos.

A cidade de Filadélfia teve uma longa história subsequente. No século XIV D.C., quando o Império Romano do Ocidente perdeu aquelas terras da Ásia Menor, devido às pressões dos islamitas, uma pequena comunidade cristã, representativa, resistiu em Filadélfia, demonstrando que eles se tinham tornado colunas inabaláveis (Ap 3:12).

Bibliografia J. M. Bentes, enciclopédia de teologia e filosofia, 2005


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