Historia e geografia das igrejas da Asia
Artigo Mauricio Berwald
ÉFESO
Localização
e Caracterização Geral
Éfeso era
uma antiga cidade grega no território da Lídia, na Ásia Menor. Ficava localizada na desembocadura do rio
Caister, cerca de cinquenta e seis quilômetros a suleste de Izmir (a antiga
Esmirna mencionada no Novo Testamento).
Ficava entre as duas antigas cidades de
Esmirna e Mileto. Era uma das mais importantes cidades da Ásia Menor,
no que atualmente é a Turquia. Na época do surgimento do cristianismo, Éfeso
também estava ficando mais importante do que as cidades vizinhas. Em parte,
devia sua prosperidade aos favores feitos por seus governantes. Lisímaco chamou
a cidade de Arisone, em honra à sua segunda esposa. Atalo Filadelfo construiu
excelentes docas e instalações portuárias. Éfeso tornou-se o grande empório da
Ásia Menor, no lado ocidental das montanhas do Taurus, conforme nos diz
Estrabão (14.5.641,663). Era a capital da Ásia proconsular, uma cidade rica e o
principal porto da costa ocidental da Ásia Menor. Seu nome, mui provavelmente,
significa «desejável». Quanto ao aspecto religioso, era conhecida mundialmente
por causa de seu famoso templo de Ártemis. O lago antigo fica
agora a onze quilômetros da beira-mar, por causa do depósito de entulho, no
processo de muitos séculos.
História
Ao que
parece, Éfeso foi fundada por gregos jônicos, em cerca de 1050 A.C.,
especificamente sob a direção de Androclus, filho do rei ateniense, Codro.
Desde os dias mais antigos, competia com Mileto e Esmirna, para ser o porto de
exportação da Ásia Menor. Creso, rei da Lídia, obteve o controle de Éfeso em cerca
de 562 A.C., somente para que os lídios perdessem esse controle para os persas,
em 546 A.C. Os persas mantiveram o domínio sobre Éfeso até que Alexandre, o
Grande, devolveu a cidade aos domínios gregos. Os macedônios (334-283 A.C.), os
selêucidas (280-187 A.C.) e os pergamenes (187-133 A.C.), foram os governantes
da área, em sucessão. Então veio Atalo III, rei de Pérgamo, que, em 133 A.C., doou a cidade aos
romanos. Não foi muito tempo depois disso que Éfeso tornou-se a capital da
província romana da Ásia. Então ela cresceu de tal modo em importância que
chegou a rivalizar com Antioquia da Síria, com Alexandria e com Constantinopla
(atual Istambul, na Turquia Europeia).
Éfeso
tornou-se um dos grandes centros do movimento cristão primitivo. De fato, depois
que Jerusalém foi destruída, no ano 70 D.C., tornou-se o centro cristão mais
importante da época. Paulo passou ali três
anos, evangelizando a cidade e a região em derredor, de tal modo que a
Igreja cristã ficou bem estabelecida na Ásia Menor (na porção ocidental da
moderna Turquia). Ver Cl 1:7 e 2:1. Paulo usava essa cidade como sua sede de
operações na Ásia Menor. Durante esse tempo ele escreveu suas epístolas aos
crentes de Corinto.
É bem
possível que Paulo tenha lutado literalmente com feras, naquela cidade, onde
pode ter sofrido um período de detenção que não é mencionado. Ver I Co 15:32.
Alguns estudiosos supõem que as chamadas «cartas da prisão», de Paulo, ou, pelo
menos, uma parte delas, tenham sido escritas em Éfeso, e não em Roma, conforme
tradicionalmente se pensa. Mas, também pode tê-las escrito parcialmente em
Éfeso e parcialmente em Roma.
Quando
Paulo deixou a cidade, deixou Timóteo encarregado da igreja cristã local (I Tm
1:3). E não demorou muito para que a igreja fosse invadida, juntamente com
outras, por falsos ensinamentos, conforme Paulo havia predito que sucederia (At 20:29,30 e II Tm 4:3).
É possível
que o décimo sexto capítulo da epístola aos Romanos na realidade tenha sido uma
carta enviada a Éfeso. Mas, como é claro, temos a epístola de
Paulo aos Efésios, que pode ter sido uma epístola «circular», e não
especificamente enviada aos crentes de Éfeso, visto que as palavras «em Éfeso»,
no primeiro versículo do primeiro capítulo dessa epístola, não aparecem no
original.
As tradições
também fazem o apóstolo João ter vivido ali, como também Maria, mãe de
Jesus, que fora entregue por ele aos cuidados do discípulo amado, segundo se
aprende em João 19:27. João, pois, teria
recebido jurisdição sobre as sete principais igrejas daquela área. Mas
há probabilidades de que não tenha sido ele o autor do livro de Apocalipse, que
foi dirigido a essas cidades (incluindo Éfeso). Antes, o autor do Apocalipse
teria sido João, o vidente, e não João, o apóstolo, embora ele também fizesse
parte do grupo joanino. Isso reflete a opinião de alguns eruditos, contra a
opinião de outros, que dizem precisamente o contrário. Em favor da associação
de João com a cidade de Éfeso, temos o testemunho de Irineu e Eusébio (3.21),
dois pais da Igreja, que deixaram registrados vários incidentes da vida do
apóstolo João, que ocorreram ali. Mais tarde, Inácio (Efésios 11)
adicionou mais algumas informações sobre a questão. Subsequentemente, Éfeso
tomou-se um importante centro do cristianismo e um certo número de concílios
foi efetuado nessa cidade.
A cidade
de Éfeso era vulnerável aos ataques, pelo que foi saqueada repetidas vezes por
invasores. Os godos atacaram-na e obtiveram controle sobre a mesma, em 262 D.C.
Os árabes, em 655 e 717 D.C. Os turcos, em 1090 e, por duas vezes, novamente,
no século XIV. Os mongóis, sob Tamerlão, completaram a destruição da cidade, em
1403. Finalmente, o islamismo chegou a controlar toda aquela região, pondo fim
ao poder do cristianismo naquela região do mundo. Atualmente, uma pequena
cidade turca, de nome Ayasaluk,assinala o local antigo.
Religião
O décimo
nono capítulo do livro de Atos fala sobre o conflito que o cristianismo
precisou enfrentar para estabelecer ali um centro de operações. Desde o começo
de sua história, Éfeso fora um centro forte do politeísmo. Diana (Ártemis)
tornou-se a principal deusa da cidade e um grande empreendimento comercial foi
estabelecido em torno de seu nome. Ártemis
era o nome grego de Diana, conforme os romanos chamavam essa divindade.
A semelhança de Apolo, ela era representada armada de arco e flechas, que ela
usava a fim de subjugar monstros e gigantes. Era considerada uma divindade
benéfica e ajudadora. Apolo era tido como o deus luminoso do dia e ela, com sua
tocha, era a deusa da luz, à noite. Veio a ser identificada com a deusa da lua
e da noite. Seu domínio era a natureza. Todas as feras eram consagradas e ela,
embora fosse considerada uma caçadora. Também foi assumindo os aspectos da
deusa da guerra, Minerva. O paganismo retrata deuses e deusas sob muitos
aspectos, pelo que ela também aparecia como a Deusa Virgem, reverenciada pelas
donzelas como sua protetora. No entanto, nos primeiros tempos de sua história,
foram-lhe oferecidos sacrifícios humanos.
O templo
de Diana, em Éfeso, chegou a ser
uma das maravilhas do mundo antigo. Foi erigido em 550 A.C. Era uma obra
magnificente da arquitetura jônica. Ficava em uma plataforma com cerca de cento
e trinta metros de comprimento por cerca de setenta e três metros de largura.
Dez degraus levavam ao pavimento dessa plataforma e mais três degraus levavam
ao nível do pavimento do próprio templo. O templo tinha cem metros de
comprimento por cinquenta metros de largura. Havia duas fileiras de oito
colunas cada, na frente e na parte de trás do edifício e duas fileiras de vinte
colunas de cada lado do santuário, totalizando cento e dezoito colunas. Cada
coluna era um monólito de mármore, com 16,75 m de altura; e dezoito dessas
colunas, em cada extremidade, eram elaboradamente esculpidas. O teto era coberto
com grandes telhas de mármore branco. O santuário interno era circundado por
colunas, tendo trinta e dois metros de comprimento por vinte e um metros de
largura. Havia uma ornamentação interna de inigualável beleza, muito
intrincada. Havia obras de Fídias, de Praxíteles, de Scopas, de Parrásio e de
Apeles, grandes artistas plásticos do passado.
Juntamente
com a própria cidade de Éfeso, o templo de Diana teve uma história muito
agitada. Sofreu vários saques e, pelo menos por duas vezes, foi incendiado. O
incêndio que ficou mais notório foi o de 336 A.C., ateado por um efésio de nome
Herostrato, o que ele teria feito apenas com o propósito de imortalizar o seu
nome. Mas esse templo sempre era reconstruído pelos efésios, após cada novo
ataque sofrido. Todavia, em 262 D.C.,
os bárbaros godos arrasaram-no e assim terminou a sua história.
Em Atos
19:36 nos é dada a informação de que a imagem que era adorada naquele templo
havia «caído do céu». Sem dúvida isso significa que algum meteorito foi
recolhido e amoldado para formar uma imagem. Somente em tempos modernos
aceitou-se a queda de meteoritos. Até bem recentemente, os céticos afirmavam
que é impossível caírem rochas do firmamento. O fato é que os santuários
tornavam-se pontos de exploração comercial; e questões econômicas causaram
maiores dificuldades para Paulo em Éfeso (ver At 19:23ss) do que as
questões religiosas, em suas lutas contra o paganismo.
O culto
idólatra em Éfeso tinha o apoio de livros sagrados chamados Ephesia
grammata, que eram numerosos livros que continham encantamentos, artes
mágicas, etc. Quando o evangelho lançou raízes em Éfeso, grande quantidade
desse material foi queimado, avaliado em cinquenta mil peças de prata
(equivalentes cerca de cento e sessenta anos de trabalho de um operário comum —
At 19:19). Mediante essas artes mágicas, os homens procuram
empregar forças desconhecidas (ocultas), em seu benefício, ou, outras vezes,
para prejudicar seus inimigos. Essas artes são uma espécie de excursão pelas
dimensões dos poderes ocultos que os homens sempre pensam que os cercam, no
mistério que é a vida.
Nos dias
do Novo Testamento havia uma numerosa colônia
judaica em Éfeso. Assim, com o vigoroso paganismo que ali medrava, com uma boa
comunidade judaica e com um cristianismo crescente, Éfeso veio a ser uma
cidade cosmopolita quanto a questões religiosas. E, em tempos de intolerância,
isso sempre significará convite a dificuldades. O cristianismo, porém,
gradualmente foi ganhando terreno, só tendo
sido suplantado, séculos mais tarde, pelo islamismo, que conquistava
territórios com a força da espada dos fanáticos seguidores de Maomé. Mas, antes
disso, Éfeso finalmente chegou a contar com templos cristãos que procuravam
copiar a majestade da adoração à deusa Diana. O imperador Justiniano edificou
um templo cristão em honra a João, no local do antigo templo de Diana. É
irônico que o quarto crescente do islamismo veio a rebrilhar sobre as cúpulas
das anteriores igrejas cristãs. E ainda mais irônico é que, ainda mais tarde, o
lugar tornou-se desolado, onde nem imagens pagãs, nem cruzes e nem quartos
crescentes eram exibidos. O próprio mar retirou-se do antigo porto de Éfeso,
que agora fica a onze quilômetros de distância da beira-mar. Atualmente há um
pantanal cheio de canas onde, antigamente, grandes navios traziam suas mercadorias,
provenientes de todas as partes do mundo antigo.
Em Éfeso
esteve a igreja cristã que perdera seu primeiro amor (Ap 2:4) e que fora
advertida no sentido de que, se não se arrependesse, teria removido o seu candeeiro
(Ap 2:5). Isso acabou acontecendo, embora no processo de vários séculos.
Importantes concílios cristãos foram efetuados ali, antes do triste fim da
cidade.
Éfeso e a
Arqueologia
Após muita
pesquisa paciente, o arqueólogo J.T. Woods descobriu as minas do
grande templo de Diana. Isso ocorreu em 1870. Mostrou que era quatro vezes
maior que o Partenon de Atenas. As escavações demonstraram a grandiosidade da
estrutura, descrita na terceira seção, acima. O Instituto Austríaco de Arqueologia
realizou notáveis escavações nesse lugar, desde o ano de 1896; e os labores de
vários outros estudiosos vieram juntar-se a isso. Ficou demonstrado que Éfeso
contava com muitos edifícios públicos, típicos das cidades greco-romanas. A
porção principal da cidade contava com esplêndidos teatros, banhos,
bibliotecas, a agorá (praça do mercado) e ruas pavimentadas de
mármore. A descoberta de muitas moedas e de artefatos conferem uma compreensão
ainda maior quanto à cultura e à história dessa cidade. Havia sobre o monte
Piom um grande teatro, com capacidade entre vinte e cinco mil a cinquenta mil
espectadores.
A
arqueologia tem provado que a cidade continuou a prosperar, mesmo quando o seu
porto diminuiu de importância. Sob o imperador Cláudio, foi remodelado o seu
teatro (meados do século I D.C.). Nos dias de Trajano (início do século II
D.C.), houve novas obras nesse teatro. Foi Cláudio quem mandou pavimentar com
mármore certas ruas da cidade. Nero conferiu à cidade um estádio. Domiciano
alargou e embelezou a avenida central. Outros melhoramentos foram realizados,
antes do ataque dos bárbaros godos, em 262 D.C. (AM RAM UNA Z)
LAODICÉIA
A forma
grega dessa palavra é Laodikia (Laodikeia), que indicava a
cidade da Ásia Menor desse nome, e seus habitantes. Essa palavra significa
«justiça do povo», dando a entender alguma forma de governo democrático.
Todavia, a referência poderia ser a algum juiz do povo, conforme
outros têm opinado. O adjetivo pátrio para os habitantes da cidade, no grego,
é laodikoi.
Várias Laodicéias
na Antiguidade
Três eram
as cidades desse nome, na antiguidade bíblica:
1. Laodicéia
ad Mare, atual Lataquia, o principal porto de mar da Síria.
2. Laodicéia
Combusta, atual Ladique, na Turquia, a cinquenta e três quilômetros a sudoeste
de Samsun.
3. A
Laodicéia do Novo Testamento (ver Ap 3:14-22), onde havia uma das sete igrejas
para onde foram endereçadas as cartas do Apocalipse.
Havia
ainda outras três cidades que tinham esse nome na antiguidade, mas que não se
revestem de qualquer interesse bíblico.
A Laodicéia
do Novo Testamento
Essa
cidade era chamada Laodicéia ad Lycum, e ficava próxima da moderna cidade de
Denizli, na atual Turquia ocidental. Ficava cerca de cento e oitenta
quilômetros a suleste de Esmirna, atual Izmir, na Turquia. Supõe-se que
Laodicéia foi fundada em cerca de 250 A.C., por Antíoco II. Posteriormente,
tornou-se a sede de uma das igrejas cristãs primitivas da Ásia Menor. Seu nome
lhe foi dado em honra aLaodice, esposa de Anfíoco II.
A mensagem
da carta aos laodicenses tem sido vista, tradicionalmente, como uma advertência
clássica contra uma igreja corrupta e míope, dotada de uma fé cristã
superficial. O desafio contido em Ap 3:20,21 não tem igual na literatura
religiosa, considerando-se a brevidade dessa passagem.
Ai pelo
século IV D.C., essa cidade era a sede episcopal central da Frigia, porém, foi
destruída e abandonada durante as sangrentas guerras que houve entre os
islamitas da Idade Média. As ruínas chamadas Eski Hissar, são
tudo o que resta da cidade de Laodicéia, antes tão orgulhosa e
autossuficiente. Eski Hissar, no turco, significa «castelo
antigo».
Descrições
Essa era
uma cidade da província romana da Ásia Menor, na parte ocidental da moderna
Turquia Asiática. No século III A.C., foi fundada uma cidade no local, por
Selêucida Antíoco II, quando então recebeu nome baseado no nome próprio de sua
esposa, «Laodice». Nos tempos romanos, sua posição geográfica favorecia seu
desenvolvimento e prosperidade. Jazia na importante intersecção de estradas
principais da Ásia Menor, que de Laodicéia ia para o ocidente, até os portos de
Mileto e Éfeso, cerca de cento e sessenta quilômetros de distância. Para o
oriente, essa mesma estrada conduzia ao planalto central e, dali, até à Síria.
Uma outra estrada, que atravessava Laodicéia, corria para o norte, para a
capital principal, Pérgamo, e também para o sul, até às costas de Ataléia.
Essas estradas encorajavam o comércio em Laodicéia, que se tornou um centro
bancário e comercial. Várias indústrias surgiram ali, como a da lã, a de
tabletes medicinais e a de fabrico de roupas. Após os tempos neotestamentários,
aumentou mais ainda a prosperidade material de Laodicéia. Até mesmo durante os
dias da república, e nos dias dos primeiros imperadores, já era uma das mais
importantes e florescentes cidades da Ásia Menor. Laodicéia, na qualidade
de cidade-mãe, veio a incorporar uma área onde havia nada
menos de vinte e cinco aldeias, de tal modo que era uma autêntica «metrópole»,
conforme é chamada em inscrições daquele lugar, que sobreviveram até nós.
A cidade estava sujeita a constantes terremotos, o que, finalmente, forçou o seu
abandono. Atualmente, é um lugar desértico, mas muitas ruínas testificam
sobre sua antiga grandeza. A arqueologia tem conseguido recuperar uma pista de
corridas, três teatros (um dos quais tem cento e trinta e seis metros de
diâmetro), além de numerosos outros itens.
O trecho
de Cl 4:15,16 mostra-nos que, nos tempos de Paulo, Laodicéia já contava com uma
comunidade cristã. Poderia ter sido iniciada mediante o trabalho de
evangelistas enviados de Éfeso, a capital cristã daquela região, talvez um
trabalho patrocinado pela igreja de Colossos. Alguns estudiosos têm pensado que
a epístola chamada aos Efésios, na realidade foi a carta
mencionada naqueles versículos da epístola aos Colossenses, mas essa teoria não
tem muita coisa que a recomende.
Já
que Laodice era um nome feminino comum, nos tempos do N.T.,
seis cidades receberam tal nome, nos período helenista. Por essa razão, a Laodicéia
de Ap 3:14 era chamada de Laodicéia do Lico, isto é, do rio Lico, conforme
assevera Estrabão (578). Ficava localizada na margem sul desse
rio, a dez quilômetros ao sul de Hierápolis e a dezesseis quilômetros a oeste
de Colossos.
PÊRGAMO
Esta palavra
estava relacionada a purgos, isto é, «torre» ou «castelo», ou
seja, «fortificada». Pérgamo era a
«cidadela» de Tróia. E, de fato, nos escritos clássicos, tal palavra era
usada para indicar a «cidadela» ou «fortaleza» de qualquer cidade. Sua suposta
significação de «casada» não é apoiada nos dicionários. É verdade que aquela
igreja entrou em matrimônio com o mundo, quando ficou sob o favorimperial, mas
tal significado não é ilustrado no nome da cidade.
Pérgamo
era uma cidade da província romana da Ásia, nos dias neotestamentários, na
parte ocidental do que agora é a Turquia Asiática. Fora a antiga capital de
Atalo, a cidade-estado doada ao império romano, em 133 A.C. Geograficamente,
ocupava importante posição, próxima do extremo marítimo do largo vale do rio
Caico. Também tinha boa importância comercial e politica, além de sua
importância religiosa. Existia ali uma antiga forma de adoração ao diabo.
Também era a sede de um antigo culto de mágicas babilônicas, e tornou-se
importantíssimo centro da propagação do «culto ao imperador», que era apenas
outra forma de religião falsa, usada pelas forças satânicas. Tornou-se a sede
de quatro dos maiores cultos pagãos, a saber, de Zeus, de Atena, de Dionísio e
de Ásclépio. Também se estabeleceu ali o culto dos Magos, de origem babilônica.
O sacerdote desse culto era de Pontifex Maximus ou então de
«Principal Construtor da Ponte», e sua suposta tarefa era preencher o vácuo
entre o homem e os poderes superiores, os quais se tornavam objetos de
adoração. Os habitantes de Pérgamo eram chamados de «principais guardiães do
templo» da Ásia.
Quando o
«culto ao imperador» cresceu em importância, dentro do império romano, Pérgamo
se tornou um de seus centros principais, embora outros falsos cultos ali nunca
tivessem fenecido completamente. A alusão
que temos ao «trono de Satanás», mui provavelmente, diz respeito a esse culto (ver
Ap 2:13). Satanás impulsionava homens a adorarem um mero homem; esse era o seu
«ardil», naqueles tempos.
Política e
economicamente a cidade florescia, tendo sido chamada por Plínio de «a mais
ilustre de todas as cidades da Ásia». Todas as principais estradas da Ásia
ocidental convergiam para ali. Fabricava unguentos, vasos e pergaminho (que
assumiu seu nome dessa cidade). Esse tipo de «papel» (feito de peles de
animais) chegou a ser chamado «charta pergamena», por ser fabricado em Pérgamo,
de onde era distribuído. Não foi a cidade
que derivou seu nome desse tipo de papel; deu-se exatamente o contrário.
Em 29 A.C.
foi dedicado um templo a Augusto em Roma, por parte do sínodo provincial (ver
Tácito, Anais iv.37), e isso «oficializou» o culto ao
imperador em Pérgamo, — que naquele tempo, era a principal cidade da província
da «Ásia». Um segundo templo foi ali edificado, em honra a Trajano, e ainda um
terceiro, em honra a Severo. Desse modo, a adoração religiosa pagã ali se
centralizou e consolidou. Por detrás da cidade havia uma colina em forma
cônica, com cerca de trezentos metros de altura, a qual, desde tempos antigos,
vivia recoberta de templos e altares pagãos, o que fazia significativo
contraste com o «monte de Deus», referido em Is 14:13 e Ez 28:14,16. Este
último foi chamado também de «trono de Deus» (ver I Enoque 25:3). O culto ao
imperador criou ali um «trono de Satanás», talvez havendo nisso alusão à colina
acima descrita. O grande e idólatra culto ao imperador incorporava em si mesmo
todo o paganismo que tornou Pérgamo famosa, embora não houvesse eliminado
totalmente todas as outras formas. E a igreja cristã, que se recusava a participar
desse «culto», automaticamente foi tachada de «traidora», tendo de sofrer as
consequências de sua recusa.
Hoje em
dia não resta mais glória à antiquíssima cidade. Uma pequena aldeia, de nome
Bergama, ocupa o seu lugar, na planície abaixo do local da antiga Pérgamo.
A Igreja em
Pérgamo
A paganização da
igreja de Pérgamo (historicamente, nos fins do primeiro século, e no segundo e
terceiro séculos, especialmente mediante o gnosticismo libertino, e,
profeticamente, na época de Constantino, quando a igreja ficou sob o favor
imperial) exigiu que a mesma recebesse um severo julgamento. Isso salienta-o
«imperativo moral» do evangelho. A santificação é necessária à «salvação» (ver
II Ts 2:13), e não meramente para a «comunhão com o Senhor». É falso o evangelho
que não envolve exigências morais, ou que as subestima.
«Nessa
igreja de Pérgamo, muita coisa havia que precisava de cirurgia moral. Era
mister alguma amputação e execução morais, para que tudo fosse corrigido — a
separação de coisas que não se harmonizavam entre si, bem como a destruição de
males que se tinham instaurado e estavam atuando de forma desfavorável... A
exibição do cutelo prefigurava a separação e a dissecação morais, no que não se
poderia poupar qualquer erro, devendo morrer tudo quanto fosse estranho e
prejudicial à igreja... Uma das razões por que tantas pessoas evitam e odeiam à
verdade de Deus é que ela os fere, despertando os açoites da consciência e
destruindo totalmente as suas esperanças. E essa forma de ferimento agora descera
sobre aquela igreja». (Seiss, em Ap 2:12).
TIATIRA
No
grego, Thuateíra. Tiatira
ficava cerca de trinta e dois quilômetros a suleste de Pérgamo, em uma estrada
na planície aluvial entre os rios Hermo e Caico. Tanto nos dias da liderança de
Pérgamo sobre a Ásia Menor, como posteriormente, quando a política
internacional atraiu os romanos para a grande península, essa cidade derivava
sua riqueza e influência do fato de que era um ponto central de comunicações.
Essa cidade foi fundada por Seleuco I, um dos generais de Alexandre, o Grande.
Foi Seleuco I quem, de todos os seus herdeiros, herdou o território mais
extenso. O reino de Seleuco ia desde além de Antioquia da Síria até o vale do
rio Hermo, onde suasfronteiras chegavam bem perto das de Lisímaco, o qual
mantinha nas mãos parte do antigo litoral jônico da Ásia Menor. Seleuco
implantou ali um grupo de veteranos desmobilizados de Alexandre. Esses
macedônios deveriam formar uma barreira contra todas as tentativas de perturbar
as suas fronteiras.
Em 282 A.C.,
rebelou-se Filetero, e foi fundado o dinâmico estado de
Pérgamo, destinado a perdurar por um século e meio. O novo estado era uma área
tampão entre Seleuco e Lisímaco. Porém, um estado fundado sob tais
circunstâncias não podia ser militarmente alerta; e Tiatira, um posto avançado
na estrada para o oriente, impedia qualquer agressão possível que partisse do
leste. A história do lugar, alinhavada, precariamente, com base em ruínas e
moedas, sugere que Tiatira, em suas sempre flutuantes fronteiras, com frequência,
mudava de mãos, ao sabor da sorte nas armas das forças sírias ou de Pérgamo,
que faziam avançar ou recuar as fronteiras.
Tiatira, tendo de desempenhar permanentemente
esse inevitável papel de posto militar avançado, não contava com uma acrópole
poderosa, como se dava com Sardes e com Pérgamo. A cidade ficava em uma pequena
colina. E só era valiosa, estrategicamente falando, porque uma confiante força
de defesa, ali postada, era capaz de quebrar o ímpeto de qualquer assalto
hostil, enquanto que uma defesa mais decisiva era organizada mais atrás. Esse
dever militar impunha sobre aquela vulnerável cidade um estado de prontidão.
Seus habitantes sabiam enfrentar o perigo e lutar, sem dependerem de qualquer
defesa natural, mas contando exclusivamente com a sua coragem pessoal. A
religiosidade refletia ali essa atitude de dever. Os soldados macedônios que a
princípio foram ali estabelecidos, adotaram a adoração a um certo herói local,
que lhes servia de patrono, e que aparece nas primeiras moedas cunhadas ali,
representando um guerreiro montado, armado de machado de guerra. E isso talvez
explique o simbolismo do Cristo ressurreto, na carta apocalíptica de João.
As tropas
romanas apareceram com toda a sua força na Ásia Menor, após terem derrotado a
sírio Antíoco, em 189 A.C., quando então a região passou, permanentemente, para
o controle romano, quando o último dos monarcas de Pérgamo, intuindo os rumos
da história futura, doou o seu reino à nascente república, em 133 A.C.
Juntamente com a tranquilidade da «paz romana», houve a aceitação da cidadania
romana. Sob o imperador Cláudio, Tiatira começou a cunhar novamente as suas
próprias moedas, após um lapso de nada menos de dois séculos.
A abundância
dessas moedas cunhadas em Tiatira, que continuaram sendo produzidas até o
século III D.C., sugere um vigoroso comércio. A primeira pessoa a se converter
a Cristo, sob o ministério de Paulo, foi Lídia, uma mulher de Tiatira, que
vendia panos de púrpura em Filipos, a centenas de quilômetros longe de sua
terra natal. A tinta púrpura ou carmesim, dos tecidos vendidos por Lídia, era
uma manufatura local, extraída das raízes da planta chamada garança, um rival
mais barato que o corante fenício, extraído de um molusco, o murex.
A
prosperidade comercial atraiu
uma minoria judaica respeitável para Tiatira, pois os judeus, antes dedicados às atividades agrícolas, começaram a se
interessar pelo mundo dos negócios e do comércio, no exílio. De fato,
esse tipo de atividade haveria de tornar-se uma das marcas registradas dos filhos
de Israel, na dispersão. Famosos artigos de exportação, de Tiatira, eram
tecidos e vestes tingidos, além de armaduras de bronze. Uma moeda de Tiatira
exibe Hefesto, o
ferreiro divino, a moldar um capacete na bigorna. E a palavra grega chalcolibanos, «bronze
polido» em nossa versão portuguesa (ver Ap 1:15 e 2:18), pode ter sido um nome
comercial próprio de Tiatira, usado para emprestar certo colorido local à carta
do Senhor Jesus à igreja cristã ali localizada. Realmente, é possível que as
atividades comerciais fossem a questão crucial dos problemas dos cristãos da
cidade. Não têm sido encontradas inscrições em grande quantidade, mas as poucas
que ali têm sido descobertas falam em trabalhadores em lã, linho, couro e
bronze, além de oleiros, padeiros, tintureiros e comerciantes com escravos.
Cada um dos grupos profissionais contava com a sua guilda particular, como a
dos ourives de Éfeso.
As
epístolas de Paulo aos crentes de Corinto servem de clara indicação de que as
guildas comerciais, com sua exigente vida social, com seus ritos pagãos e com
suas festas periódicas, haveriam de ser problemas sérios para os cristãos fiéis
que, por motivo de consciência, quisessem repelir a licenciosidade do mundo ao
redor deles.
Era
difícil alguém se abster das festividades das guildas sem perder alguma coisa
no mundo dos negócios, em termos de aceitação e prestígio social. Por outro
lado, ajustar-se a tais costumes era expor-se à licenciosidade dos ritos
pagãos, que assinalavam os banquetes das guildas. Aquela seção da Igreja
cristã, com ritos de sua pureza, buscava alguma forma de transigência. Estamos
falando sobre os nicoláitas. Parecem ter sido liderados por uma habilidosa
mulher, a quem João apodou de Jezabel. Esse apelido foi escolhido
deliberadamente, com base no casamento de Acabe,
rei de Israel, com Jezabel, filha do rei de Tiro. Esse casamento fora um
compromisso, com o intuito de fomentar o comércio entre Samaria e os fenícios.
Tal matrimônio foi um grande desastre, conforme Elias demonstrou. João, autor
do Apocalipse, denunciou essa mulher, proferindo contra ela uma horrível
condenação: «Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que
com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os
seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e
corações e vos darei a cada um, segundo as vossas obras» (Ap 2:22,23).
Uma inscrição encontrada por Ramsay, em
Tiatira, mostra que ali, nos festejos públicos, as mulheres eram segregadas dos
homens. Portanto, que as vítimas daquela pervertida mulher a abandonassem,
deixando-a cair na condenação que inevitavelmente lhe sobreviria.
Essa forma
de heresia estava destinada a tornar-se generalizada na Igreja antiga, conforme
a última carta de João, III João, o demonstra. Talvez esse tipo de heresia
tivesse começado em Tiatira. E a exortação da carta do Senhor Jesus aos crentes
de Tiatira, conclui como segue: «Digo, todavia, a vós outros, os demais de
Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles
dizem, as cousas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão
somente conservai o que tendes, até que eu venha» (Ap 2:24,25).
O
simbolismo existente nessa carta a Tiatira é local e muito chama à atenção. Em
Apocalipse 2:18, Cristo aparece como quem tinha «os pés semelhantes ao bronze
polido». Ora, o bronze era um dos produtos mais conhecidos de Tiatira. A
promessa de Cristo, nos versículos 26 e 27, também reflete a natureza militar
dessa cidade. Jezabel é uma personagem extremamente simbólica, desde o Antigo
Testamento, falando em transigência e apostasia, por amor ao comércio, devido a
sociedade firmada com um poder pagão.
SARDES
No
grego, Sárdeis. Aparece somente no Novo Testamento: Ap 1:11;
3:1,4. Era uma das cidades para cuja Igreja cristã o Senhor Jesus enviou uma
carta, dentro da revelação dada a João. A cidade de Sardes ficava na junção das
principais estradas que ligavam Éfeso, Esmirna e Pérgamo com o platô montanhoso
do interior da Ásia Menor. A Lídia, da qual Sardes era a antiga capital e sede
real, ficava bem no meio da rota de comunicações entre a costa do mar Egeu e o
interior do continente. Em consequência, era uma área onde as culturas grega e
nativa mesclaram-se de forma criativa. Nos dias de Croeso, cujo nome tornou-se
legendário como indicação de riqueza e prosperidade, bem como do infortúnio
que, da maneira mais chocante, ocasionalmente sobrevêm aos ricos e afortunados,
Sardes tornara-se famosa devido às suas riquezas. Moedas de ouro e de prata
foram cunhadas ali pela primeira vez; e o rio Pactolo tornou-se famoso devido
ao seu ouro de aluvião, bem perto da cidade.
A própria
topografia do lugar contribuía para sua grandeza. Em um dos elevados
promontórios da região, uma extensão do monte Tmolo, dominando o vale plano do
rio Hermo, ficava a fortaleza de Sardes, em posição quase inexpugnável. À
semelhança da mais antiga Tróia, Sardes era uma cidadela e um lugar de refúgio,
residência de reis e cortesãos. Tornou-se localidade importante desde o começo
do reino lídio, no século XIII A.C.
Na época
de Croeso, na idade áurea de Sardes, o poder lídio chegava até às costas do mar
Egeu e até às cidades dos gregos jônicos: Esmirna, Éfeso e as demais. O
historiador Heródoto dizia que o poder e as riquezas provocam a arrogância, e
que a arrogância termina em ruína. Até parece que ele conhecia Provérbios
11:28: «Quem confia nas suas riquezas cairá...» Croeso via com apreensão o
levantamento do poder persa, que mais e mais se aproximava de Lídia. Uma de
suas precauções foi consultar o oráculo de Delfos, que, com a costumeira
ambiguidade, respondeu: «Se cruzares o rio Halis, destruirás um grande
império». Foi o bastante para ele cruzar sua fronteira, a fim de combater os
persas. E um grande império foi destruído—o de Croeso!
Posteriormente,
Alexandre, o Grande, destruiu o império persa, e Sardes foi passando de mão em
mão, sob sucessivos regimes. Primeiramente ficou com Antígono; depois, com os
Selêucidas da Síria; e, finalmente, com Pérgamo.
Em 133 A.C.
chegaram os romanos, quando Átalo III, cônscio de que os romanos eram os donos
do mundo de então, entregou seu reino à república romana. Então Sardes
tornou-se um dos centros administrativos da Ásia romana. Quando, em 26 D.C., as
cidades da província contenderam pela honra de edificar um segundo templo para
cultuar ao imperador, os enviados falaram com eloquência acerca do passado de
glória da cidade. Conforme a carta do Apocalipse diz: «...tens nome de que
vives, e estás morto...» (Ap 3:1).
Ao que parece,
os cristãos que ali havia, na época da visão dada a João, tinham cedido à
complacência própria do lugar. Apenas alguns poucos não haviam contaminado «as
suas vestiduras», sendo dignas de andar de branco com o Senhor. Evidentemente,
muitos deles tinham transigido com a adoração a Cibele, aquele horrendo culto
de histeria e mutilação, de que falam os antigos historiadores. Algumas
inscrições cristãs têm sido encontradas em Sardes, embora coisa alguma se saiba
a respeito das origens e do fim da comunidade cristã do lugar. Ultimamente, têm
estado a trabalhar em pesquisas arqueológicas equipes das Universidades de
Harvard e Cornell. O templo de Ártemis, cuja adoração acabou absorvendo a de
Cibele, naquela cidade, foi descoberto, juntamente com alguma evidência de que
tal templo fora transformado em igreja cristã.
ESMIRNA
No local
ocupado por Esmirna, desde tempos remotos, havia uma cidade. Os gregos a
colonizaram em tempos recuados, tendo exercido a hegemonia sobre a região por
longo tempo. Foi destruída uma antiga cidade, ali existente, no princípio do
século VI A.C. Foi fundada uma nova cidade por Lisímaco (301—281 A.C.).
Desse
tempo em diante, tornou-se uma das mais prósperas cidades da Ásia Menor.
Esmirna foi aliada fiel de Roma, desde os tempos quando os romanos começaram a
intervir nos negócios do Oriente Próximo, e muito antes de ter-se estabelecido
como um império mundial. Em 195 A.C. (de acordo com Tácito, Anais iv.56), foi
ali erigido um templo, em honra à deusa de Roma. Sua grandiosidade comercial
se devia ao fato de que jazia no fim de uma das grandes estradas que
atravessavam a Lídia para o leste, partindo da Frigia, servindo também de
escoadouro marítimo para a inteira área comercial do vale do rio Hermo.
Competia com Éfeso e Pérgamo pelo título de «Primeira (cidade) da Ásia». Em 26
D.C., foi-lhe permitido erigir um templo dedicado a Tibério, Lívia e o senado
romano. Por causa desse privilégio, pôde reivindicar o direito ao Neocorato
Imperial.
E um segundo Neocorato lhe foi dado por Adriano, e ainda um terceiro,
por Severo. Sua aliança apertada com Roma, tornou-a um forte centro de culto ao
imperador, a adoração obrigatória ao imperador romano. Isso deixou os cristãos
dali em circunstâncias desesperadoras, e a perseguição e a morte foram resultados
apenas naturais para eles.
Esmirna
foi a terra da fábula de Dionísio,
um deus que supostamente fora assassinado, mas que ressuscitara. Era o local
da celebração dos jogos olímpicos, e contava com um dos maiores anfiteatros de
toda a Ásia, ruínas do qual existem até hoje. Atualmente, a cidade que ocupa o
local antigo se chama Izmir, é a maior cidade da Turquia Asiática.
O nome
dessa cidade significa mirra, substância extraída de uma
planta, por esmagamento. — Era usada no fabrico de perfumes, mas também para
embalsamamentos. Esses fatos ilustram as condições que existiam na comunidade
cristã dali, quando o livro de Apocalipse foi escrito. Os crentes dali foram
literalmente esmagados, tornando-se um perfume de suave cheiro a Deus; mas,
embora esmagados até à morte, foram preservados em espírito, de modo a poderem
viver de novo.
Esse nome
vem do grego smúrna, «mirra». A cidade de Esmirna está situada
no fundo do golfo no qual flui o rio Hermus. Essa cidade é um porto bem
protegido, bem como a saída natural para o mar, das principais rotas comerciais
que se internam na região, ao longo do vale do rio Hermus. É possível que os
primeiros povoadores da região tenham sido gregos eólios, uma comunidade que
veio a ser dominada pelos gregos jônicos, que ali chegaram mais tarde e que
eram militarmente mais poderosos. Contudo, os fatos históricos são poucos e
obscuros, quando retrocedemos até o primeiro milênio A.C., quando foram
fundados aqueles povoados às margens do mar Egeu.
Quando a
história torna-se melhor delineada, após esse período inicial, assinalado pelas
invasões dos povos dóricos, que foi a última onda de tribos helênicas que se
infiltrou no mundo miceno, Esmirna já aparece como uma robusta comunidade,
preparada para impor-se contra o poderoso reino vizinho da Lídia. Em poemas
antigos aprendemos que houve conflitos e tensões entre as cidades de Esmirna e
de Sardis. Parece que Esmirna foi destruída em 600 A.C., por Aliates, da Lídia;
e o local ficou devastado pelo espaço de três séculos. Foi dentre as cinzas que
a cidade ressurgiu, o que talvez explique a frase que achamos na carta
apocalíptica de Apocalipse 2:8: «Estas cousas diz o primeiro e o último, que
esteve morto e tornou a viver». É evidente que a alusão primária é à morte e à
ressurreição de Cristo, mas alguns estudiosos pensam que também há uma
referência ao ressurgimento da cidade de Esmirna.
Lisímaco, que governou a
Trácia e a porção noroeste da Ásia Menor, após a divisão do império de
Alexandre, reconstruiu Esmirna, em 290 A.C. E assim Esmirna tornou-se novamente
uma cidade grega; e, graças à sua boa localização, entrou em uma era de
vitalidade e prosperidade, que até hoje tem prosseguimento. A moderna cidade
turca de Izmir é uma das mais fortes comunidades urbanas da Turquia moderna. Esse
progresso foi fomentado porque seus habitantes tiveram a intuição de reconhecer
o domínio de Roma sobre toda a região da Ásia Menor. Isso ocorreu em uma época
em que Antíoco, o Grande, da Síria (241—187 A.C.) pressionava para oeste,
querendo consolidar suas fronteiras. Mas os romanos, conscientes das ambições
de Antíoco, avançavam na direção leste. Ora, Esmirna era uma excelente cabeça
de ponte em uma grande península, que Roma vinha considerando cada vez mais uma
região tampão.
Além disso, Esmirna servia de fortim romano contra a força
marítima de Rodes, o que significava assegurar o domínio romano sobre a porção
oriental do mar Mediterrâneo.
Um dos
fatos significantes da importância de Esmirna, dentro do império romano, é que
ela foi escolhida para tornar-se o local do segundo templo asiático dedicado à
divindade de Roma e do imperador, bem como a sede do sinistro culto ao
imperador, que tanto sofrimento haveria de causar aos cristãos, dentro de
alguns séculos. Em Esmirna, como em outros lugares do império, a política
imperial de supressão foi efetuada esporadicamente, e Domiciano, sem dúvida,
foi a causa dessa explosão perseguidora, com a ajuda de uma hostil sinagoga
judaica, contra cujas maquinações João teve uma palavra zombeteira a dizer, em
Apocalipse 2:9: «Conheço a tua tribulação, a tua pobreza, mas tu és rico, e a
blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus, e não são, sendo antes
sinagoga de Satanás».
Esmirna
vinha adorando ao espírito de Roma desde 195 A.C. E o templo construído por
Tibério aumentou ainda mais o orgulho que ela tinha em seu papel histórico.
Portanto, a exortação para que os crentes de Esmirna suportassem tudo e
recebessem «a coroa da vida», talvez tenha tido como pano de fundo um diadema
de pórticos que circundava o alto de sua colina, que foi descrita por Apolônio
de Tiana (1—96 D.C.?). De fato, esse diadema tornou-se tão famoso que «a coroa
de Esmirna» passou a ser reconhecida como uma imagem de retórica, conforme se
vê nos escritos de dois escritores da época.
Precisamos
ainda mencionar Policarpo, um dos discípulos do apóstolo João e bispo mártir de
Esmirna, — que faleceu em 155 D.C. Esse crente, pois, serviu de elo de ligação
entre a era apostólica e os meados do século II D.C.
Não se
sabe como o cristianismo chegou a Esmirna. Provavelmente, ocorreu como
resultado das atividades de Paulo em Éfeso. Depois, João passou muitos e
muitos anos nesta cidade. Com base na epístola apocalíptica de Ap 2:8-11,
parece que os cristãos de Esmirna caminhavam bem no século I D.C. Na verdade,
por ocasião das invasões armadas islâmicas, Esmirna foi uma das cidades da Ásia
Menor que por mais tempo resistiu aos turcos. Essa resistência de Esmirna
permitiu que os remanescentes do Império Romano do Oriente tivessem tempo para
recompor-se do golpe. Na verdade, os
cruzados, que estiveram naquelas regiões, trouxeram conhecimentos que, com o
tempo, produziram a renascença. Sabe-se que a renascença foi uma das
causas da Reforma Protestante, porquanto, durante o renascimento foram reestudados
os escritos clássicos gregos e latinos, incluindo o Novo Testamento grego. A
história mesma tem comprovado que o Senhor Jesus tinha razão para elogiar a
igreja cristã de Esmirna, conforme fez naquele trecho do Apocalipse.
FILADÉLFIA
Esse
apelativo significa amor fraternal. No fim da era presente,
quando a tribulação ameaçar o mundo, Deus se dirigirá à humanidade em amor, o
que beneficiará a comunidade daqueles que derem lugar ao amor de Cristo em seus
corações, assim amando-se uns aos outros. Haverá um refúgio que nos abrigará de
toda a contenda; haverá calmaria para as águas agitadas; haverá um oásis no
grande deserto espiritual do fim. Isso se encontrará na comunidade da Igreja do
Amor Fraternal, cujo Senhor será o Cristo.
Filadélfia
era uma cidade da província romana da Ásia, na porção ocidental do que agora é
a Turquia Asiática. Ficava localizada a cento e vinte quilômetros a suleste de
Sardes. Nos tempos do N.T., era a segunda cidade mais importante da Lídia.
Originalmente, a cidade foi fundada por Eumenes, rei de Pérgamo, no século II
A.C., tendo recebido nome de seu irmão, Atalo, cuja lealdade lhe ganhara o
título de «Filadelfo». Filadélfia jazia perto do limiar de um trecho fértil da
região do planalto, o que lhe dava grande parte de sua prosperidade. No ano de
17 D.C. a cidade foi destruída por um terremoto; mas uma doação imperial ajudou
em sua restauração. Então adquiriu o nome de Neokaisareia e, posteriormente,
sob o imperador Vespasiano, recebeu o nome imperial, Flávia.
Conforme
se dava com a maioria das cidades daquela área, Filadélfia estava imersa na
idolatria e, mais tarde, mergulhou no «culto ao imperador». Era famosa pelo
número e grandiosidade de seus templos e de suas festividades religiosas.
Como é bem
conhecido hoje em dia, a área geral onde estavam localizadas as sete igrejas do
Apocalipse, e que recebeu originalmente esse livro, não é mais uma área
cristã. Porém, dentre todas as sete igrejas, a de Filadélfia foi onde o
cristianismo sobreviveu por mais tempo.
A
localidade é agora ocupada por uma aldeia turca, Allah Shehr, nome
que significa «Cidade de Deus». No dizer de Vincent (in loc.): «A
situação é pitoresca, pois a aldeia ocupa quatro ou cinco colinas, estando bem
suprida de árvores, e o clima é saudável. Acredita-se que uma das mesquitas ali
existentes era o lugar das reuniões da igreja endereçada no Apocalipse. Uma
coluna solitária, de grande antiguidade, com frequência tem sido notada,
lembrando as pessoas sobre as palavras de Ap 3:12: ‘Ao vencedor, fá-lo-ei
coluna no santuário do meu Deus...’».
O geógrafo
Estrabão (em 20 D.C.), observou a instabilidade geológica da região
onde ficava essa cidade, porquanto estava sujeita a muitos tremores de
terra. No entanto, aquele que é fiel, dentro da família de Deus, pode tornar-se
como uma COLUNA que resiste firmemente a todos os ataques e problemas. Ver Ap
3:12: «Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais
sairá...»
Filadélfia
ficava em uma área fronteiriça de cultura, como portão de entrada para a Ásia
Menor. Tinha um estilo cosmopolita de vida, não grego e não romano, ainda que,
como é óbvio, fosse influenciado por ambos. Essa maneira «aberta» e irrestrita
de viver pode ter inspirado o autor do livro de Apocalipse a falar sobre a
«porta aberta» oferecida àquela igreja local, no campo das atividades
missionárias. Ver Ap 3:7,8.
Um
versículo controvertido é Apocalipse 3:10. Alguns pensam que o mesmo é prova de
que a igreja de Filadélfia (que representaria a Igreja evangélica de nossos
próprios dias) é que será arrebatada, o que seria indicado pela expressão
«...também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo
inteiro...» Mas isso não precisa indicar mais do que o fato de que o Senhor
protegeria aqueles crentes, em meio à tribulação que viria. A ideia é que o
Senhor haveria de mantê-los na fidelidade ao Senhor. Todavia, penso que a
questão continua aberta à investigação. Não penso que alguém realmente saiba a
interpretação certa, com certeza. Nosso artigo sobre a Parousia presta
maiores informações sobre esse particular.
O nono
versículo desse mesmo terceiro capítulo do Apocalipse é uma ácida alusão
às atividades dos judeus perseguidores. Os judeus dali tendiam por ser
amargamente nacionalistas e defensivos, em razão do que ocorriam abusos.
A cidade
de Filadélfia teve uma longa história subsequente. No século XIV D.C., quando o
Império Romano do Ocidente perdeu aquelas terras da Ásia Menor, devido às
pressões dos islamitas, uma pequena comunidade cristã, representativa, resistiu
em Filadélfia, demonstrando que eles se tinham tornado colunas inabaláveis (Ap
3:12).
Bibliografia
J. M. Bentes, enciclopédia de teologia e filosofia, 2005
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PAZ DO SENHOR
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