Gunnar
Vingren e Daniel Berg
A história dos fundadores da
Assembléia de Deus no
Brasil
Artigo Mauricio Berwald
No ano de
20111, completou-se 100 anos que os pioneiros suecos Adolf Gunnar Vingren e
Daniel Högberg, mais conhecidos como Gunnar Vingren e Daniel Berg, deram início
ao maior Movimento Pentecostal do mundo – as Assembleias de Deus no Brasil.
Mas, como se deu a chamada deles ao Brasil?
Berg e
Vingren se conheceram poucos anos antes de fundarem a AD brasileira, quando
ainda estavam nos Estados Unidos – Berg, dedicando-se apenas aos trabalho
secular e Vingren, como pastor ordenado pela Igreja Batista Sueca nos EUA.
Ambos já haviam sido inflamados pelas chamas do Movimento Pentecostal
norte-americano quando compartilharam entre si suas experiências e, juntos, em
oração, receberam o chamado para o nosso país.
Gunnar Vingren
nasceu em Ostra Husby, Ostergotland, Suécia, a 8 de agosto de 1879. Era filho
de pais batistas, que lhe ensinaram desde cedo a trilhar nos caminhos santos.
Ainda muito pequeno, seus pais o levavam à Escola Dominical, onde seu pai era
dirigente.
Em 1897, aos
18 anos, foi batizado nas águas na Igreja Batista em Wraka, Smaland, Suécia.
Nessa época, assumiu a direção da Escola Dominical de sua igreja, substituindo
seu pai. Em 14 de julho daquele ano, um artigo de uma revista, que falava sobre
os sofrimentos de tribos nativas no exterior, o levou às lagrimas e a uma
decisão que mudaria o rumo de sua vida. “Subi para o meu quarto e ali prometi a
Deus pertencer-lhe e pôr-me à sua disposição, para honra e glória de seu nome.
Orei também insistentemente para que Ele me ajudasse a cumprir esta promessa”,
relata o homem de Deus.
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Em outubro de
1898, deixou a direção da Escola Dominical e foi participar de uma Escola
Bíblica em Götabro, Närke. “Nunca mais na minha vida recebi uma instrução
bíblica tão profunda como aquela. Pastor Kihlstedt nos quebrantava
completamente com a Palavra de Deus. Ele nos tirava tudo, tudo, até que
ficássemos inteiramente aniquilados como pó diante dos pés do Senhor. Depois
vinha o irmão Emílio Gustavsson com o óleo de Gileade, e sarava as feridas da
alma, alimentando nossos corações famintos com o melhor trigo dos celeiros de
Deus. Oh, que tempo aquele! Fez-me bem pelo resto de toda a minha vida”, conta
Vingren em suas memórias.
Aquela Escola
Bíblica durou um mês e fazia parte de uma Federação Evangélica que tinha o
objetivo de ganhar almas para Cristo. Depois dela, Vingren foi enviado com o
evangelista Soderlund à província de Skane, seu primeiro campo de trabalho. Em
seguida, evangelizou nas províncias de Västergötland e Tidaholm, onde adoeceu
de papeira e foi curado instantaneamente após a oração de um grupo de irmãos.
De lá, evangelizou em Rönneholm e retornou a Skane.
Após o
serviço militar, foi atraído pela “Febre dos Estados Unidos”. Em 30 de outubro
de 1903, embarcou na cidade de Gotemburgo num vapor que o levou à cidade de
Hull, na Inglaterra. Dali, foi de trem para Liverpool, onde pegou outro vapor,
com destino a Boston, Massachusets (EUA). Chegando lá, tomou um trem até Kansas
City, onde morava seu tio Carl. Depois de uma semana, começou a trabalhar como
foguista em Greenhouse até o verão. Foi porteiro de uma grande casa comercial
na região e jardineiro, profissão que aprendera com seu pai. Em fevereiro de
1904, conseguiu um emprego no Jardim Botânico de Saint Louis. Aos domingos,
Vingren assistia os cultos de uma igreja sueca estabelecida naquela cidade.
Em setembro
de 1904, iniciou um curso de quatro anos no Seminário Teológico Batista Sueco,
em Chicago. Durante o tempo em que morou em Kansas, pertencera à Igreja Batista
sueca, onde fora exortado a voltar a estudar. Durante o curso, foi convidado a
pregar em vários igrejas. Pelo Seminário, estagiou sete meses na Primeira
Igreja Batista em Chicago, Michigan. Depois, estagiou nas Igrejas Batistas em
Sycamore, Illinois; Blue Island, também em Illinois; e, por fim, em Mountain,
Michigan.
Concluiu seus
estudos e foi diplomado em maio de 1909. Nesse período, entregou uma
solicitação para ser enviado como missionário. Enquanto a resposta não chegava,
foi convidado para assumir o pastorado da Igreja Batista em Menominee,
Michigan. Em junho daquele ano, assumiu a direção da igreja.
Nesse
período, participou da Convenção Geral Batista dos Estados Unidos, onde foi
decidido que seria enviado missionário para Assam, na Índia, juntamente com sua
noiva. A Convenção Batista do Norte o sustentaria. No início, Vingren
convenceu-se de que esta era a vontade de Deus, mas, durante a Convenção, Deus
mostrou-lhe o contrário. Voltando à sua igreja, enfrentou uma grande luta por
causa de sua decisão. Finalmente, resolveu não aceitar a designação e comunicou
sua decisão à Convenção por escrito. Por esse motivo, a moça com quem se
enamorara rompeu o noivado. Ao receber a carta dela, respondeu: “Seja feita a
vontade do Senhor”.
Por esse
tempo, despontava um grande avivamento nos Estados Unidos, que culminou no
atual Movimento Pentecostal que se espalhou pelo mundo no século 20. Nessa
época, uma irmã que tinha o dom de interpretar línguas foi usada por Deus para
dizer-lhe que seria enviado ao campo missionário, mas “somente depois de
revestido de poder”.
No verão de
1909, Deus encheu o coração de Vingren com o desejo de receber o batismo no
Espírito Santo. Em novembro daquele ano, ele pediu permissão à sua igreja para
visitar a Primeira Igreja Batista Sueca, em Chicago, onde se realizava uma
série de conferências. O seu objetivo era buscar o batismo no Espírito Santo.
Após cinco dias de busca incessante, foi revestido de poder, falando em outras
línguas como os discípulos no Dia de Pentecostes.
Foi nessas
conferências que conheceu Daniel Berg, que se tornaria mais à frente seu grande
amigo.
O encontro
entre Berg e Vingren
Daniel
Högberg, conhecido no Brasil como Daniel Berg, nasceu a 19 de abril de 1884, na
pequena cidade de Vargon, na Suécia, às margens do lago de Vernern. Quando o
Evangelho começou a entrar nos lares de Vargon, seus pais, Gustav Verner
Högberg e Fredrika Högberg, o receberam e ingressaram na Igreja Batista. Logo
procuraram educar o filho segundo os princípios cristãos. Em 1899, Daniel
converteu-se e foi batizado nas águas.
Em 1902, aos
18 anos, pouco antes do início da primavera nórdica, deixou seu país. Embarcou
a 5 de março de 1902, no porto báltico de Gothemburgo, no navio M.S.Romeu, com
destino aos Estados Unidos. “Como tantos outros haviam feito antes de mim”,
frisava. O motivo foi a grande depressão financeira que dominara a Suécia
naquele ano.
Em 25 de
março de 1902, Daniel desembarcou em Boston. No Novo Mundo, sonhava, como
tantos outros de sua época, em realizar-se profissionalmente. Mas, Deus tinha
um plano diferente e especial para sua vida.
De Boston,
viajou para Providence, Rhode Island, para se encontrar com amigos suecos, que
lhe conseguiram um emprego numa fazenda. Permaneceu nos Estados Unidos por sete
anos, onde se especializou como fundidor. Com saudades do lar, retornou à
cidade natal, onde o tempo parecia parado. Nada havia se modificado. Só seu
melhor amigo, companheiro de infância, não morava mais ali. “Vive em uma cidade
próxima, onde prega o Evangelho”, explicou sua mãe.
Logo chegou a
seu conhecimento que seu amigo recebera o batismo no Espírito Santo, coisa nova
para sua família. A mãe do amigo insistiu para que Daniel o visitasse. Aceitou
o convite. No caminho, estudou as passagens bíblicas onde se baseava a “nova
doutrina”. Chegando à igreja do amigo, encontrou-o pregando. Sentou e prestou
atenção na mensagem. Após o culto, conversaram longamente sobre a “nova
doutrina”. Daniel demonstrou ser favorável. Em seguida, despediu-se e partiu,
pois sua intenção não era permanecer na Suécia, mas retornar à América do
Norte.
Em 1909, após
despedir-se dos pais, em meio à viagem de retorno aos Estados Unidos, Daniel
orou com insistência a Deus, pedindo o batismo no Espírito Santo. Como não
estava preocupado como da primeira vez, posto que já conhecia os EUA, canalizou
toda a sua atenção à busca da bênção. Ainda no navio, ao aproximar-se das
plagas norte-americanas, sua oração foi respondida.
A partir de
então, sua vida mudou. Daniel passou a evangelizar como nunca e a contar seu testemunho
a todos. Foi então que, por ocasião das já mencionadas conferências em Chicago,
Daniel encontrou-se com o pastor batista Gunnar Vingren, que também fora
batizado no Espírito Santo. Os dois conversaram horas sobre as convicções que
tinham. Uma delas é que tanto um como o outro acreditavam que tinham uma
chamada missionária. Quanto mais dialogavam, mais suas chamadas eram
fortalecidas.
Ao voltar à
sua igreja em Menominee após as conferências em Chicago, Vingren começou a
pregar a verdade de que “Jesus batiza no Espírito Santo e com fogo”. Em
fevereiro de 1910, Vingren foi intimado a se afastar da igreja, que ficou
dividida: metade cria na promessa e a outra a rejeitava. Os que rejeitaram
obrigaram-no a deixar o pastorado.
No entanto,
Vingren recebeu o apoio da Igreja Batista em South Bend, Indiana. Todos ali o
receberam e creram na verdade. Na primeira semana, Jesus batizou dez pessoas no
Espírito Santo. Naquele verão, quase vinte pessoas receberam a promessa. Assim,
Deus transformou a Igreja Batista de South Bend em uma igreja pentecostal.
Vingren pastoreou-a até 12 de outubro de 1910, quando começou a preparar-se
para a viagem ao Brasil.
Quando
Vingren voltou a South Bend, Berg estava trabalhando em uma quitanda em Chicago
quando o Espírito Santo mandou que se mudasse para South Bend. Berg abandonou
seu emprego e foi até lá, onde encontrou Vingren pastoreando aquela Igreja
Batista. “Irmão Gunnar, Jesus ordenou-me que eu viesse me encontrar com o irmão
para juntos louvarmos o seu nome”, disse Berg. “Está bém!”, respondeu Vingren
com singeleza. Passaram, então, a encontrarem-se diariamente para estudar as
Escrituras e orar juntos, esperando uma orientação de Deus.
O chamado e a
chegada ao Brasil
Foi em South
Bend que Vingren e Berg foram revelados pelo Espírito Santo, através da
instrumentalidade do irmão Olof Uldin (que havia conhecido Vingren e Berg),
sobre vários acontecimentos futuros a respeito dos dois. Entre outras coisas,
Deus lhes disseras que deveriam ir para um lugar chamado Pará; que o povo desse
lugar era de um nível social muito simples; que Gunnar deveria lhes ensinar os
rudimentos da doutrina bíblica; que Berg e ele comeriam comidas simples, mas
não lhes faltaria nada; e que Vingren casaria com uma moça chamada Strandberg
(Anos depois, quando de retorno à Suécia após o início da obra no Brasil,
Vingren conheceria a enfermeira Frida Strandberg, com quem se casaria).
Ao ouvirem
pela primeira vez o nome do lugar para onde Deus os chamara, não sabendo onde
era, foram até a biblioteca pública da cidade, onde descobriram que o Pará
ficava no Norte do Brasil. Depois de orarem, Berg e Vingren aceitaram o
destino.
Após a
revelação divina dada ao irmão Olof Uldin de que o lugar para onde deveriam ir
era o Pará, no Brasil, Daniel Berg, contra a vontade dos seus patrões,
abandonou o emprego. Eles argumentaram: “Aqui você pode pregar o Evangelho
também, Daniel; não precisa sair de Chicago”. Mas, ele estava convicto da
chamada e não voltou atrás.
Ao se
despedir, Berg recebeu de seu patrão uma bolacha e uma banana. Essa era uma
tradição antiga nos Estados Unidos. Simbolizava o desejo de que jamais faltasse
alimento para a pessoa que recebesse a oferta. Esse gesto tocou o coração de
Berg, que em seguida partiu com Vingren para Nova Iorque, e de lá para o Brasil
em um navio.
Deus proveu
milagrosamente a quantia certa para a viagem. Durante a viagem, ganharam um
tripulante para Cristo. Quatorze dias após saírem de Nova Iorque, chegaram ao
Pará. Era o dia 19 de novembro de 1910.
Em
Belém, moraram no porão da Igreja Batista localizada na Rua Balby, 406. Depois,
passaram um tempo na casa do irmão presbiteriano Adriano Nobre, em Boca do
Ipixuna, às margens do Rio Tajapuru. Hospedaram-se no mesmo quarto onde morava
o irmão Adrião Nobre, primo de Adriano. De volta a Belém, retornaram ao porão
da igreja. Por esse tempo, já falavam um pouco de português. O primeiro
professor deles fora o irmão Adriano.
FONTE CPAD NEWS
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