Jerônimo
Artigo Mauricio Berwald
fonte WIKIPEDIA
Doutor da Igreja
Nascimento ca. 347 em
Estridão (provavelmente Strido Dalmatiae), fronteira entre a Dalmácia e a
Panônia.Morte 30 de setembro de 420 (73 anos) em Belém, Palestina Prima.
Jerônimo (português brasileiro) ou Jerónimo (português europeu) (em
latim: Eusebius Sophronius Hieronymus; em grego: Εὐσέβιος Σωφρόνιος Ἱερώνυμος),
também conhecido por Jerônimo de Estridão, foi um sacerdote cristão ilírio[1] ,
destacado como teólogo e historiador e considerado confessor e Doutor da Igreja
pela Igreja Católica. Filho de Eusébio, da cidade de Estridão, na fronteira
entre a Dalmácia e a Panônia, é mais conhecido por sua tradução da Bíblia para
o latim (conhecida como Vulgata) e por seus comentários sobre o Evangelho dos
Hebreus, mas sua lista de obras é extensa .
São Jerônimo é reconhecido como santo pelos católicos, ortodoxos e
anglicanos e sincretizado como o orixá Xangô na umbanda. Não é tido como santo
para os luteranos, pelo fato de estes não canonizarem personalidades.
Biografia
Eusébio Sofrônio Jerônimo nasceu em Estridão por volta de 347 , mas só
foi batizado entre 360 e 366 quando viajou para Roma com seu amigo Bonoso - que
pode ou não ser o mesmo Bonoso que Jerônimo identifica como sendo seu
companheiro quando foi viver como eremita numa ilha no Adriático - para
continuar seus estudos sobre retórica e filosofia. Lá, Jerônimo estudou com o
gramático Élio Donato, aprendeu latim e um pouco de grego[6] , embora não tenha
adquirido a proficiência que, anos depois, alegaria ter obtido como estudante.
Ainda como estudante em Roma, Jerônimo se envolveu no comportamento
errático dos colegas mais despreocupados, o que lhe provocava depois terríveis
ataques de arrependimento. Para apaziguar a consciência, visitava aos domingos
as sepulturas dos mártires e dos apóstolos nas catacumbas, uma experiência que
lhe lembrava dos terrores do inferno:
“Frequentemente me encontrava entrando naquelas profundas criptas
escavadas na terra, com suas paredes de ambos os lados preenchidas com os
corpos dos mortos, onde tudo era tão escuro que parecia quase como se as
palavras do salmista tivessem se realizado: «Desçam vivos ao Cheol» (Salmos
55:15). Aqui e ali, a luz, não vinda de janelas, mas descendo através das
valas, aliviava o horror da escuridão. Mas novamente, tão logo você se via
caminhando cuidadosamente adiante, a noite escura se fechava a sua volta e
vinha-me à mente o verso de Virgílio: "Horror ubique animos, simul ipsa
silentia terrent" ”.
.
Jerônimo utilizou de uma passagem de Virgílio — "Por todos os lados
o horror se espalhava; o profundo silêncio inspirava o terror na
minh'alma" — para descrever o horror do inferno. No início de sua
carreira, ele utilizava termos de autores clássicos para descrever conceitos
cristãos (como "Cheol", um termo para o inferno) , um indicativo de
sua educação clássica. Embora inicialmente cético em relação ao cristianismo,
no fim acabou se convertendo] .
Depois de muitos anos na capital
imperial, Jerônimo viajou com Bonoso para a Gália e se assentou em Augusta
Treveroro (moderna Trier, na Alemanha), onde é possível que tenha primeiro se
dedicado aos seus estudos teológicos e, depois, a copiar para seu amigo Tirânio
Rufino o comentário de Hilário sobre os "Salmos" e o tratado "De
Synodis". Depois disso, Jerônimo viveu vários meses (pelo menos) ou,
possivelmente, anos, com Rufino em Aquileia, onde fez muitos amigos cristãos.
Alguns deles o acompanharam quando ele partiu, por volta de 373, numa
viagem através da Trácia e da Ásia Menor até o norte da Síria. Em Antioquia,
onde ficou por mais tempo, dois de seus companheiros morreram e ele próprio
ficou seriamente doente mais de uma vez. Durante uma destas enfermidades (perto
do inverno de 373-374), Jerônimo teve uma visão que levou-a a abandonar seus
estudos seculares para dedicar-se completamente a Deus. Ele parece ter trocado
uma grande quantidade de tempo que dispendia no estudo dos clássicos para
estudar a Bíblia, dirigido por Apolinário de Laodiceia, que na época ensinava
em Antioquia e ainda não dava sinais de sua futura condenação por heresia (vide
apolinarismo).
Tomando por um súbito desejo de viver em penitência asceta, Jerônimo
passou um tempo no deserto de Cálcis, para o sudoeste de Antioquia, uma região
conhecida como "Tebaida Síria", onde moravam numerosos eremitas.
Durante este período, ele parece ter encontrado tempo para estudar e escrever.
Lá também dedicou-se a aprender pela primeira vez o hebraico, sob a tutela de
um judeu convertido e é possível que ele tenha mantido correspondência com os
judeo-cristãos de Antioquia. Por volta desta época, Jerônimo contratou uma
cópia de um "Evangelho Hebreu", do qual fragmentos foram preservados
em suas notas e que é hoje conhecido como "Evangelho dos Hebreus",
considerado o verdadeiro Evangelho de Mateus pelos nazarenos . Depois disso,
ele próprio traduziu partes da obra para o grego .
De volta em Antioquia em 378 ou 379, foi ordenado pelo bispo Paulino de
Antioquia, aparentemente contra sua vontade e sob a condição de poder continuar
sua vida asceta. Logo depois, viajou para Constantinopla para continuar seus
estudos sobre as Escrituras com Gregório Nazianzeno. Ele passou por volta de
uns dois anos por lá e partiu novamente para Roma, onde passou os três anos
seguintes (382-385) na corte do papa Dâmaso I e a liderança cristã da cidade. O
motivo da viagem foi um convite para que participasse do concílio de 382
realizado para acabar com o cisma na Igreja de Antioquia, que na época tinha
mais de um patriarca alegando ser o verdadeiro. Acompanhando um deles, Paulino,
pretendia apoiá-lo nos trabalhos, acabou se destacando junto ao papa e passou a
exercer um importante papel durante seus concílios.
Jerônimo então recebeu diversos encargos em Roma e realizou ali uma revisão
da Bíblia Latina (Vetus Latina) baseando-se em manuscritos gregos do Novo
Testamento. Ele também atualizou o saltério contendo o "Livro dos
Salmos" que era na época utilizado em Roma baseando-se na Septuaginta
grega. Embora não tenha ficado claro para ele na ocasião, a tradução de muito
do que depois se tornaria a Vulgata latina demoraria ainda muitos anos e
tornar-se-ia seu mais importante legado ..
Em Roma, Jerônimo estava rodeado por um círculo de mulheres bem-nascidas
e bem-educadas, incluindo algumas oriundas das mais nobres famílias patrícias
romanas, como as viúvas Leia, Marcela e Paula, com suas filhas Blesila e
Eustóquia. Como resultado da crescente inclinação destas mulheres pela vida
monástica, da indulgente lascividade que imperava em Roma e mais a crítica
feroz de Jerônimo ao clero secular, que não poupava ninguém, logo irrompeu um
conflito contra o clero romano e seus aliados. Depois da morte de Dâmaso, seu
patrono (10 de dezembro de 384), Jerônimo foi forçado a abdicar de suas funções
em Roma quando um inquérito foi aberto pelos seus inimigos para investigar uma
suposta relação inapropriada entre ele e Paula.
Além disso, sua condenação ao estilo de vida hedonista de Blesila levou-a
a adotar práticas ascetas que acabaram afetando sua saúde e a tornaram tão
fraca fisicamente que ela morreu apenas quatro meses depois de começar a seguir
suas instruções. A maior parte da população romana ficou enfurecida com
Jerônimo, acusando-o de causar a morte prematura de uma jovem tão altiva.Para
piorar, sua insistência de que Paula não deveria lamentar a morte dela e suas
reclamações de que o luto por ela era excessivo foram vistos como cruéis e
polarizaram ainda mais a opinião pública contra ele .
Jerônimo com Santa Paula e sua filha Eustóquia, duas de suas principais
devotas. Uma rica viúva, Paula deu condições para que Jerônimo pudesse viver
sem preocupações financeiras e se dedicasse aos estudos. Ela seguiu-o depois
para Belém e morreu com ele na Terra Santa.
1638-1640. Por Francisco de Zurbarán, atualmente na Galeria Nacional de
Arte.
Em agosto de 385, Jerônimo abandonou Roma definitivamente e voltou para
Antioquia com seu irmão Pauliniano e diversos amigos; logo depois vieram Paula
e Eustóquia, decididas a terminar suas vidas na Terra Santa. No inverno do
mesmo ano, Jerônimo viajou com elas na função de conselheiro espiritual. O
grupo, acompanhado do bispo Paulino de Antioquia, peregrinou por Jerusalém,
Belém e os lugares santos da Galileia antes de seguir para o Egito, onde viviam
os heróis da vida asceta, os monges do deserto.
Na Escola Catequética de Alexandria, Jerônimo ouviu Dídimo, o Cego,
ensinar sobre o profeta Oseias e contar o que se lembrava de Santo Antão, que
morrera trinta anos antes. Depois, passou algum tempo na Nítria admirando a
disciplinada vida comunitária dos numerosos habitantes da "cidade do
Senhor", percebendo que, mesmo ali, "serpentes escondidas", ou
seja, a influência do polêmico teólogo alexandrino Orígenes. No final do verão
de 388, voltou para a Terra Santa e passou o resto de sua vida numa cela
eremítica perto de Belém rodeado por uns poucos amigos, homens e mulheres
(incluindo Santa Paula e Eustóquia), a quem ele atendia como sacerdote e
professor.
Com recursos financeiros suficientes providenciados pela rica Paula, que
investia também em aumentar sua biblioteca, Jerônimo passou a levar uma vida de
incessante produção literária. A estes últimos trinta e quatro anos de sua
carreira pertencem suas mais importantes obras; sua versão do Antigo Testamento
traduzida do original hebraico, o melhor de seus comentários sobre as
Escrituras, seu catálogo de autores cristãos (De Viris Illustribus) e o seu
diálogo contra os pelagianos, de perfeição reconhecida até pelos seus
adversários.
A este período também pertence a maior parte de suas polêmicas, obras que
o distinguem dos demais Padres da Igreja da época, incluindo tratados contra o
origenismo (crença que seria depois anatemizada) do bispo João II de Jerusalém
e de seu antigo amigo Rufino.
Em 416, como consequência de suas obras contra o pelagianismo,
partidários inflamados da crença invadiram os edifícios monásticos perto de
onde vivia, atearam-lhes fogo, atacaram os moradores e mataram um diácono,
forçando Jerônimo a se refugiar numa fortaleza nas imediações.
Jerônimo morreu perto de Belém em 30 de setembro de 420, uma data que
aparece na "Crônica" de Próspero da Aquitânia. Diz-se que seus
restos, originalmente enterrados em Belém, foram trasladados para a Basílica de
Santa Maria Maior, em Roma, embora outros locais no ocidente também
reivindiquem a posse de alguma relíquia relacionada ao santo.
Traduções e comentários
Tradições artísticas sobre Jerônimo
Jerônimo e o Leão, de Hans Memling. Além do hábito vermelho de cardeal,
Jerônimo ainda aparece curando a pata do leão, uma história proveniente da
fusão de sua história com a de São Gerásimo.Jerônimo e o Leão, de Hans Memling.
Além do hábito vermelho de cardeal, Jerônimo ainda aparece curando a pata do
leão, uma história proveniente da fusão de sua história com a de São
Gerásimo."Jerônimo no Deserto", na famosa representação de Leonardo.
Jerônimo aparece como um eremita, semi-nu e à mercê dos
elementos."Jerônimo no Deserto", na famosa representação de Leonardo.
Jerônimo aparece como um eremita, semi-nu e à mercê dos elementos.Jerônimo
escrevendo em seu estúdio. Além do material de escrita, aparecem também o leão
e a cor vermelha, característica do cardinalato.Jerônimo escrevendo em seu
estúdio. Além do material de escrita, aparecem também o leão e a cor vermelha,
característica do cardinalato.
Jerônimo foi um acadêmico numa época que o título implicava em fluência
no grego, mas ele sabia também alguma coisa de hebraico quando começou seu
projeto de tradução. Para reforçar seus conhecimentos, mudou-se para Jerusalém
estudando os comentários judaicos sobre as Escrituras. Paula, a rica
aristocrata romana que era uma de suas seguidoras, financiou sua estadia num
mosteiro em Belém onde ele pôde concluir sua tradução.
O trabalho começou em 382, com a correção da versão latina do Novo
Testamento utilizada na época, a Vetus Latina. Em 390, iniciou a tradução da
Bíblia Hebraica a partir do original, tendo já traduzido algumas partes
utilizando a Septuaginta grega originária de Alexandria. Jerônimo acreditava
que o Concílio de Jâmnia - da corrente principal do judaísmo rabínico - havia
rejeitado a Septuaginta como versão válida das Escrituras judaicas por conta do
que ele aferiu serem erros de tradução e elementos heréticos helenísticos. O
trabalho terminou em 405.
Antes da Vulgata de Jerônimo, todas as traduções do Antigo Testamento
eram baseadas na Septuaginta e não na Bíblia Hebraica. Porém, a decisão de
utilizar esta ao invés daquela, que era também uma tradução do hebraico, como
fonte foi contrária às recomendações da maioria dos cristãos de seu tempo,
incluindo Santo Agostinho, que considerava a Septuaginta inspirada. O consenso
acadêmico moderno, porém, tem lançado dúvidas sobre o quanto Jerônimo de fato
conhecia de hebraico e muitos acreditam que, na realidade, a
"Hexapla" grega teria sido a principal fonte para a tradução
"iuxta Hebraeos" de Jerônimo do Antigo Testamento .
Seus comentários patrísticos se alinham de forma muito próxima à tradição
judaica e ele se entrega às sutilezas alegóricas e místicas no estilo de Fílon
e da "Escola de Alexandria". Ao contrário de seus contemporâneos,
Jerônimo enfatizava a diferença entre os apócrifos da Bíblia Hebraica e os
livros protocanônicos da Hebraica veritas ("verdeira [Bíblia]
Hebraica"). Evidências disso aparecem em suas introduções para os
apócrifos salomônicos (como os "Salmos de Salomão") e os livros de
Tobias e Judite. Mais notável, porém, é sua afirmação na introdução de seu
comentário aos Livros de Samuel:“ Este
prefácio às Escrituras podem servir como uma introdução defensiva para todos os
livros que traduzimos do hebraico para o latim, para que possamos estar seguros
que o que ficou de fora deve ser deixado de lado como obras apócrifas. ”
.
Os comentários de Jerônimo se dividem em três grupos principais:
Suas traduções ou versões de textos gregos de outros autores, incluindo
quatorze homilias sobre o Livro de Jeremias e um mesmo número sobre o Livro de
Ezequiel de Orígenes (traduzidas por volta de 380 em Constantinopla); duas
homílias de Orígenes sobre os Salmos de Salomão (em Roma, ca. 383); e trinta e
nove sobre o Evangelho de Lucas (ca. 389 em Belém).
As nove homilias de Orígenes sobre o Livro de Isaías incluídas entre suas
obras não são de sua autoria. Deve-se mencionar aqui também, como uma
importante contribuição para o estudo da topografia de Israel, sua obra
"De situ et nominibus locorum Hebraeorum", uma tradução com algumas
adições e algumas infelizes omissões do "Onomasticon" de Eusébio. Ao
mesmo período (ca. 390) pertence também a "Liber interpretationis nominum
Hebraicorum", baseada numa obra que supostamente remontaria à época de
Fílon e que foi expandida por Orígenes.
Comentários originais sobre o Antigo Testamento. Ao período anterior de
sua mudança para Belém e aos cinco anos depois disso pertencem uma série de
curtos estudos sobre o Antigo Testamento: "De seraphim", "De
voce Osanna", "De tribus quaestionibus veteris legis"
(geralmente incluído entre suas epístolas, as de número 18, 20 e 36);
"Quaestiones hebraicae in Genesim"; "Commentarius in
Ecclesiasten"; "Tractatus septem in Psalmos 10-16" (perdida);
"Explanationes in Michaeam", "Sophoniam",
"Nahum", "Habacuc", "Aggaeum". Depois de 395, ele
compôs uma série de comentários mais longos e num tom mais derrogatório:
primeiro sobre Jonas e Obadias (396), depois sobre Isaías (ca. 395 - ca. 400),
Zacarias, Malaquias, Oseias, Joel e Amós (a partir de 406), sobre Daniel (ca.
407), Ezequiel (entre 410 e 415) e Jeremias (depois de 415 e não terminado).
Comentários sobre o Novo Testamento. Entre eles sobre as epístolas a
Filêmon, Gálatas, Efésios e Tito (escrita apressadamente entre 387 e 388);
sobre Mateus (ditada numa quinzena em 398), Marcos, passagens selecionadas de
Lucas, do Apocalipse e do prólogo do João.
Obras
Obras históricas e hagiográficas
Jerônimo também é conhecido como historiador. Uma de suas primeiras obras
sobre o tema foi sua Crônica (ou ainda Temporum liber), escrita por volta de
380 quando ele estava em Constantinopla. É uma tradução para o latim das
tabelas cronológicas da segunda parte da Crônica de Eusébio de Cesareia com um
suplemento cobrindo o período entre 325 e 379. Apesar dos diversos erros,
alguns herdados de Eusébio e outros próprios, trata-se de uma obra valiosa,
menos pelo conteúdo e mais pelo impulso que proporcionou para cronistas
posteriores como Próspero, Cassiodoro e Vítor de Tununa, que continuaram
complementando os anais.
Importante também foi sua "De Viris Illustribus", escrita em
Belém em 392, com título e arranjo emprestados da "Vida dos Doze
Césares" de Suetônio. Ela contém breves notas biográficas e lista de obras
de 135 autores cristãos, de São Pedro até o próprio Jerônimo. Para os primeiros
setenta e oito, a "História Eclesiástica" de Eusébio é a fonte
principal; no segundo grupo, começando com Arnóbio e Lactâncio, Jerônimo
incluiu uma boa quantidade de informações independentes, especialmente para os
autores ocidentais.
Jerônimo escreveu ainda quatro obras de natureza hagiográfica (biografias
de santos):
A "Vita Pauli monachi", escrita durante sua primeira passagem
por Antioquia (ca. 376), na qual o material lendário deriva da tradição
monástica egípcia;
A "Vitae Patrum (Vita Pauli primi eremitae)", uma hagiografia
de São Paulo de Tebas;
A "Vita Malchi monachi captivi" (ca. 391), provavelmente
baseada num trabalho anterior, apesar de se propor derivar das conversas com o
idoso asceta Malco com o próprio Jerônimo no deserto de Cálcis;
A "Vita Hilarionis" (ca. 391), contendo informações históricas
mais confiáveis que as anteriores e baseada parcialmente na biografia de
Epifânio e parcialmente na tradição oral.
O chamado "Martyrologium Hieronymianum" ("Martirológio de
Jerônimo") é espúrio; ele foi aparentemente composto por um monge
ocidental no final do século VI ou início do século VII e faz referência a uma
expressão de Jerônimo do primeiro capítulo da "Vita Malchi", na qual
ele fala de sua intenção de escrever uma história dos santos e mártires da era
apostólica.
CARTAS
As epístolas de Jerônimo formam uma importante porção do que restou de
suas obras literárias, tanto pela enorme variedade de temas quanto pela
qualidade estilística. Independente de estar discutindo os problemas do ensino
acadêmico ou argumentando em casos de consciência, reconfortando os aflitos ou
apenas fazendo elogios aos amigos, atacando os vícios e corrupções de sua época
ou a imoralidade sexual no clero , exortando à vida asceta e a renúncia do
mundo ou se digladiando com seus adversários, Jerônimo apresenta uma imagem
vívida não apenas de sua mente, mas de sua época com características
peculiares. Como não existia naquele tempo uma distinção entre documentos
pessoais e públicos, frequentemente encontramos em suas cartas tanto
confidências pessoais quanto tratados direcionados a terceiros lado a lado..
As mais frequentemente republicadas ou citadas são as exortativas, como
"Ad Heliodorum de laude vitae solitariae" (Ep. 14), "Ad
Eustochium de custodia virginitatis" (Ep. 22), "Ad Nepotianum de vita
clericorum et monachorum" (Ep. 52), uma espécie de epítome de teologia
pastoral do ponto de vista ascético, "Ad Paulinum de studio
scripturarum" (Ep. 53), de mesmo objetivo, De institutione monachi (Ep.
57), "Ad Magnum de scriptoribus ecclesiasticis" (Ep. 70) e "Ad
Laetam de institutione filiae" (Ep. 107).
Obras teológicas
Praticamente todas as obras de Jerônimo no campo do dogma tem um caráter
polêmico de tom mais ou menos veemente, direcionadas principalmente contra os
defensores de doutrinas contrárias às ortodoxas. Até mesmo a tradução de um
tratado de Dídimo, o Cego, sobre o Espírito Santo para o latim (iniciada em
Roma em 384 e completada em Belém) revela uma tendência apologética contra os
arianos e os pneumatomachoi.
O mesmo vale para sua versão para "De principiis", de Orígenes
(ca. 399), cujo objetivo era sobrepujar a tradução incorreta de Rufino. Obras
mais polêmicas, stricto sensu, foram escritas em todos os períodos de sua vida,
em diferentes contextos.
Durante suas passagens por Constantinopla e Antioquia,
por exemplo, Jerônimo estava mais preocupado com a controvérsia ariana e,
especialmente, com o cisma em Antioquia protagonizado por Melécio de Antioquia
e Lúcifer Calaritano. Duas cartas ao papa Dâmaso (Ep. 15 & 16) trazem
reclamações a ambos os partidos em disputa, os melecianos e os paulinianos, que
tentavam atraí-lo para a controvérsia sobre a relação entre Deus Pai e Deus
Filho na Trindade e, mais especificamente, à aplicação de termos como ousia
(substância) e hipóstase a esta relação.
Na mesma época ou pouco depois
(373), ele compôs sua "Liber Contra Luciferianos", na qual ele
utiliza o diálogo de forma bastante inteligente para combater os princípios da
facção dos calaritanos, principalmente sua rejeição ao batismo realizado por
heréticos (uma tese de cunho donatista, já rejeitada antes).
Em Roma (por volta de 383), Jerônimo escreveu uma apaixonada resposta aos
ensinamentos de Helvídio defendendo a doutrina da virgindade perpétua de Maria
e da superioridade da castidade sobre o matrimônio. Um adversário de natureza
similar foi Joviniano, com quem debateu em 392 ("Adversus Jovinianum"
e a defesa desta obra endereçada ao seu amigo Pamáquio - Ep. 48). Em 406, uma
vez mais Jerônimo defendeu as práticas piedosas católicas e sua própria ética
asceta contra o presbítero gaulês Vigilâncio, que era contrário à veneração dos
mártires e das relíquias, ao voto de pobreza e ao celibato clerical.
Em paralelo, participou ainda da
controvérsia com João II de Jerusalém e Rufino sobre a ortodoxia do origenismo.
A este período pertencem algumas de suas mais apaixonadas e completas obras
polêmicas: a "Contra Joannem Hierosolymitanum" (398 ou 399); duas
obras intimamente relacionadas, "Apologiae contra Rufinum" (402) e
sua "última palavra", escrita poucos meses depois, "Liber
tertius seu ultima responsio adversus scripta Rufini".
A última obra polêmica de Jerônimo foi sua "Dialogus contra
Pelagianos" (415), contra a heresia do pelagianismo.
Legado
Jerônimo é o segundo autor mais prolífico do cristianismo antigo tardio
(depois de Santo Agostinho). Na Igreja Católica, ele é reconhecido como santo
padroeiro dos tradutores, bibliotecários e enciclopedistas .
.Arte
A Bíblia de Gutenberg da Biblioteca Pública de Nova Iorque, uma das
edições da Vulgata, a obra-prima de Jerônimo.Na arte, Jerônimo geralmente
aparece representado como um dos quatro doutores latinos, juntamente com Santo
Agostinho, Santo Ambrósio e São Gregório Magno. Como um membro proeminente do
clero romano, ele foi muitas vezes representado - anacronisticamente - com o
hábito vermelho de cardeal. Mesmo quando ele aparece representado como um
anacoreta semi-nu, com a cruz, a caveira (símbolo da mortalidade) e a Bíblia
como únicas mobílias de sua cela, o chapéu cardinalício ou outro indicativo de
sua posição de cardeal aparece, via de regra, em algum lugar da obra.
Jerônimo é também geralmente representado na companhia de um leão, uma
referência a uma conhecida lenda de como ele teria domado um leão ao curar um
ferimento em sua pata. A origem da história, quase idêntica à contada sobre São
Gerásimo, foi possivelmente uma confusão entre os nomes em latim dos dois
santos, "Gerasimus" e "Geronimus"[a][b]. Hagiografias de
Jerônimo contam que ele passou muitos anos nos desertos da Síria romana e
diversos artistas intitularam sua obras "São Jerônimo no Deserto",
entre eles Pietro Perugino e Lambert Sustris .
Ele é por vezes também representado com uma coruja, o símbolo da
sabedoria e da erudição . Finalmente, a iconografia de São Jerônimo inclui
ainda materiais de escrita (pena, tinteiro, papel etc.) e a trombeta do Juízo
Final.
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