Gregório de Níssa
Artigo Mauricio Berwald
Artigo Mauricio Berwald
Fonte Wikipédia.
Gregório de Nissa (Cesareia, Capadócia:330 -395): Teólogo, místico e
escritor cristão. Padre da Igreja e irmão de Basílio Magno, faz parte, com este
e com Gregório Nazianzeno, dos assim denominados padres capadócios. É neto de
Santa Macrina Maior,
Esboço biográfico
Educado pelo seu irmão mais velho, Basílio Magno, Gregório de Níssa.
Influenciado pelos trabalhos de Orígenes e Platão, foi professor de retórica.
Havia sido casado com Teosebeia. Desiludido com a função de professor,
tornou-se padre e eremita, sendo que sua mãe e uma irmã já haviam abraçado a
vida monástica. Após um período em que se dedicou à vida espiritual em
Necesareia, foi consagrado bispo de Nissa, na Capadócia - atual Turquia - em
371 e depois arcebispo de Sebaste.
Personalidade benevolente e
compassiva, foi violentamente atacado pelos adeptos do arianismo. Esteve preso
por ordem de Demóstenes, governador do Ponto; escapou e foi deposto de sua sé
episcopal, por se recusar a entrar em contendas que em pouco abonavam à
caridade cristã. Depois da morte do imperador Valente, adepto desta corrente
cristã herética, reassumiu o cargo em 378. Participou ativamente no Primeiro
Concílio de Constantinopla, realizado em 381. Combateu a heresia meleciana.
A obra teológica
Teologia e filosofia
“ A Solicitude amorosa de Deus:
Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida;
morta, ser ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la
restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos,
esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador.
Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus a ponto
de fazê-lo descer até nossa natureza humana para visitá-la, uma vez que a
humanidade se encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?.'”
Gregório de Nissa foi, no século IV, aquele que mais utilizou a filosofia
nas suas reflexões. Tal como Orígenes, critica a esterilidade da filosofia
pagã, mas advoga um discreto uso dela, ao serviço da teologia cristã, a fim de
resgatar a sabedoria pagã (a que reconhece a existência), e dar-lhe um fim
elevado. Considera que a filosofia não pode ser independente ou absoluta, pois
deve harmonizar-se com a Escritura.
Gregório de Nissa recorre muito a filósofos pagãos, mas mantendo sempre
uma atitude cristã. Foi influenciado sobretudo por Platão, pelo neoplatonismo e
também por elementos estóicos. Era convicção sua que devia utilizar a razão
para procurar demonstrar os mistérios da Revelação. Contudo, na impossibilidade
de o fazer, considerava que a fé havia que ser transmitida tal como fora
recebida.
A Trindade
Para explicar este mistério, Gregório de Nissa recorre a Platão,
enveredando por uma explicação demasiado realista: compara a natureza divina à
humana, referindo que ao dizermos “homem” queremos referir a natureza humana,
de modo que não poderemos dizer “três homens”. Com isto, mostra admitir a ideia
platónica de que há uma só essência para muitos indivíduos, confundindo o
abstrato com o concreto. Para explicar a Trindade, defende que a ideia
universal é algo real.
A distinção das pessoas divinas dá-se somente nas suas relações
imanentes. A ação externa é una e comum às três pessoas. A distinção dá-se no
imanente, entre o que gera e o que é gerado. O Espírito Santo procede do Pai
através do Filho, contudo, o Espírito de Deus é também Espírito do Filho.
Gregório de Nissa vai mais além do que os outros no aprofundamento das relações
entre o Espírito Santo e Cristo.
Cristologia
Gregório de Nissa apresenta uma nítida distinção entre as duas naturezas
de Cristo. Não existe confusão quando consideramos cada uma delas em si mesma.
Assim, nem a carne existe desde sempre, nem o Verbo começou a existir no fim
dos tempos. Em relação aos restantes atributos de Cristo, conserva-se esta
distinção, podendo uns ser atribuídos à sua natureza humana e outros à sua
natureza divina. No entanto, Gregório de Nissa admite totalmente a comunicado idioma por causa da união, os atributos próprios de cada uma das naturezas
pertencem a ambas.
As duas naturezas continuam distintas mesmo após a exaltação de Cristo.
Mas, apesar destas duas naturezas, existe em Cristo uma só pessoa.
Antropologia
A antropologia de Gregório de Nissa caracteriza-se pela descrição do
Homem como o ponto de convergência da natureza e do espírito. Criado e plasmado
à semelhança de Deus, o Homem é um ser privilegiado pois foi dotado pelo
Criador, por Deus, de todos os bens. Criado para ser participante, pela Graça,
da divindade, é dotado de livre arbítrio que, ao mesmo tempo, o dota de uma
certa inconstância. Por o livre arbítrio ser criado, é igualmente propenso para
a mutabilidade, isto é, para a possibilidade de fazer o Homem escolher o bem ou
o mal ("A Grande Catequese" 6, 28 C).
Para Gregório o mal é,
precisamente, esta escolha livre de optar contra Deus: não é "algo",
mas a inexistência de algo que deveria existir, a saber, a decisão por Deus
("A Grande Catequese" 5, 24 C). Este estado não é, porém,
irreversível, pois - como aduz continuamente ao longo da sua Teologia -,
segundo a Biblia todo o Homem foi chamado a uma Nova Vida em Jesus Cristo que o
pode levar, ao cooperar com os dons deste, à restauração da semelhança com Deus
perdida pelo pecado. Para Gregório, Jesus só pôde salvar o Homem na medida em
que, como atestam incoativa, mas inequivocamente, os textos bíblicos, era
«verdadeiramente Homem e verdadeiramente Deus», pois «aquilo que Deus não
assumiu, não redimiu».
Escatologia
Gregório de Nissa, neste ponto, mostra-se bastante fiel a Orígenes.
Contudo, diferencia-se dele nalgumas doutrinas: nega ideias como a da
pré-existência ou transmigração das almas, e ainda que a sua união ao corpo se
deva a um castigo pelo pecado. Partilha com Orígenes, porém, a doutrina da
apocatástase.
Para S. Gregório, as penas infernais nunca poderão ser eternas, mas
apenas temporárias, e têm um sentido de purificação. Apesar de ameaçar, nos
seus escritos, os pecadores com o fogo eterno, tal expressão tem para ele o
significado dum longo período de tempo, pois não pode conceber uma separação
definitiva entre Deus e as suas criaturas. No fim dos tempos, virá a
restauração completa, em que Deus será tudo em todos, e essa será a conclusão
de toda a história da salvação (enquanto para Orígenes era apenas um fim dum
ciclo, devendo repetir-se tudo de novo)
Misticismo
A teologia mística é, em Gregório de Nissa, um dos pontos cimeiros.
Ultimamente, foi dada a importância devida a esta dimensão da sua obra,
reconhecendo-se o seu contributo para a mística cristã e a sua influência,
direta ou indireta, em muitos teólogos místicos posteriores.
A imagem de Deus no homem
À semelhança de variados filósofos, S. Gregório concebe o homem como um
microcosmos: ele exibe em si, na devida proporcionalidade, a mesma ordem que
encontramos no universo. Contudo, a sua maior grandeza está, não em ser à
imagem do universo, mas sim à imagem de Deus. O homem é ícone de Deus, devido
aos dons com que a sua alma está dotada: razão, livre arbítrio e virtude. Por
isso, o homem é superior a todas as criaturas do mundo, porque nenhuma, senão
ele, foi feita à imagem de Deus.
Intuição de Deus
A semelhança com Deus permite ao homem conhecê-Lo, pois, como diziam os
antigos (e S. Gregório partilha a ideia), o “semelhante é conhecido pelo
semelhante”. A imagem de Deus que existe em cada homem supera todas as
insuficiências da sua humana fragilidade e permite alcançar a visão mística de
Deus.
“A divindade é pureza, ausência de toda a paixão e separação de todo o
mal. Se em ti existe tudo isto, Deus está efetivamente em ti. Por conseguinte,
se o teu pensamento não tem mistura de mal e está livre de toda a paixão e
livre de mancha, és feliz pela tua clarividência, pois, por estares purificado,
podes perceber o que é invisível para os que não estão purificados” (6º sermão
sobre as bem-aventuranças)
Esta visão mística é antecipação da visão beatífica, “uma divina e sóbria
embriaguez”, graça que só pode ser dada a quem estiver disposto a uma
purificação total, a fim de encontrar Deus dentro de si.
A ascensão mística
A partir de tudo isto, é possível ao homem subir ao Céu, para junto de
Deus. Ao tornar-se semelhante a Deus, pela prática das virtudes, o homem passa
automaticamente à vida celeste, pois o Céu não é um lugar físico. A escolha do
bem comporta de imediato a posse do mesmo bem; ao escolher Deus, o homem tem
Deus consigo. E se tem Deus consigo, está em Deus, onde Deus está. O convite
divino é a passarmos para outro lugar.
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