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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Historia da Assembleia de Deus (church revival)


             Vingren e Daniel Berg: os pioneiros das 

                                Assembleias de Deus


Da Suécia para os Estados Unidos e daí para o Brasil




Gunnar Vingren e Daniel Berg nasceram em uma época difícil na história da Suécia. Entre 1867 e 1886, quase 450 mil suecos deixaram o país por causa da escassez de alimentos e de empregos. A maioria imigrou para o meio-oeste dos Estados Unidos. Gunnar

Era a chamada “febre dos Estados Unidos”. Embora a situação tivesse melhorado, Daniel viajou para lá em 1902, com 18 anos, e Gunnar, no ano seguinte, com 24. Os dois se conheceram em uma igreja sueca em Chicago, no ano de 1909, dez anos depois da morte do famoso evangelista Dwight L. Moody, que viveu naquela cidade. A essa altura, Gunnar já tinha feito teologia em um seminário batista sueco e pastoreava uma igreja em Menominee, no Michigan, e Daniel trabalhava em uma quitanda em Chicago. Em uma conferência realizada na Primeira Igreja Batista Sueca de Chicago, Gunnar passou pela experiência do chamado batismo com o Espírito Santo e falou em línguas. 

A partir daí, começou a pregar a doutrina pentecostal; porém, metade da igreja de Menominee não o quis mais como pastor. Assumiu, então, o pastorado de outra igreja batista sueca, dessa vez em South Bend, na fronteira de Indiana com Michigan, e a transformou em uma igreja pentecostal. Uma de suas ovelhas era Adolf Ulldin, que, pouco depois, anunciou-lhe o que ouvira da parte de Deus a respeito de seu ministério além-mar. Por inspiração do Espírito Santo, Daniel foi visitar Gunnar em South Bend e ali ouviu a mesma profecia, que também foi dirigida a ele. Em obediência à orientação recebida, ambos viajaram para Nova York e lá encontraram, de fato, o navio Clement, que sairia na data indicada por Adolf: 5 de novembro de 1910. Por falta de recursos, compraram uma passagem de terceira classe. Duas semanas depois, com miseráveis 90 dólares no bolso, desembarcaram em Belém do Pará, sem saber uma palavra em português e sem alguém para recebê-los no porto. Assim começou a obra das Assembleias de Deus no Brasil.


Verão de janeiro a dezembro

Enquanto as denominações protestantes históricas começaram seu trabalho na região Sudeste (congregacionais, presbiterianos, metodistas e salvacionistas), no Rio Grande do Sul (luteranos e episcopais) e na Bahia (batistas), a Assembleia de Deus começou no extremo Norte do país. Os missionários pioneiros eram todos suecos, ao contrário do que acontecia da Bahia para o Sul, onde quase todos eram americanos e britânicos.

O Pará é 2,7 vezes maior que a Suécia, que tinha, na época, mais de 5,5 milhões de habitantes. Em vez das precisas quatro estações, com as quais estavam acostumados, Gunnar e Daniel encontraram aqui um verão contínuo. Na Suécia, eles adoravam participar da festa que celebrava a volta do verão, entre os dias 19 e 26 de junho, dançando a noite toda ao redor de mastros com enfeites coloridos. Os dois jovens missionários chegaram ao Pará exatamente quando começou o declínio da economia na Amazônia, devido à queda da produção de borracha, provocada pelos mercados asiáticos.

Gunnar e Daniel eram muito diferentes no aspecto físico e nos dotes pessoais. Cinco anos mais jovem, Daniel tinha muita saúde e resistência física. Era “um ganhador de almas incomum”, como diz Geziel Gomes. Praticava com sucesso a colportagem (venda de Bíblias) e o evangelismo pessoal de casa em casa, quase de ilha em ilha, e “de enfermaria em enfermaria”, quando já tinha 78 anos e estava internado em um hospital na Suécia. Além da mala cheia de Bíblias e folhetos, carregava sempre o violão, ao som do qual cantava hinos em português e em sueco para evangelizar. Em compensação, Gunnar era mais preparado e se tornou, naturalmente, o líder do trabalho. Ele era quem mais pregava, quem mais batizava e quem ia consolidando e ampliando a obra com a organização de novos pontos de pregação e congregações. Morreu trinta anos antes de Daniel, quando faltava um mês e meio para completar 54 anos.


“A mensagem completa do evangelho”

Os missionários evangélicos do século 19 foram, em parte, beneficiados pela chamada pré-evangelização, realizada pela Igreja Católica Romana nos 300 anos anteriores à sua chegada ao Brasil (de 1549 a 1855). Os missionários pentecostais foram muito beneficiados pela evangelização realizada pelos missionários evangélicos nos 55 anos anteriores ao início de seu trabalho (de 1855 a 1910). Em alguns poucos casos, o trabalho das Assembleias de Deus começava com a pentecostalização de uma igreja evangélica já existente, como aconteceu com a Igreja Batista Sueca de South Bend, no início de 1910. Em outros casos, começava com alguns crentes que deixavam suas congregações de origem para abraçar a “novidade” pentecostal. Foi o que aconteceu em Belém do Pará e em muitos lugares por esse Brasil afora, especialmente nos primeiros anos. Todavia, a maior parte da membresia das Assembleias de Deus procedia das trevas da ignorância religiosa e das trevas do pecado e da incredulidade.

Gunnar Vingren, Daniel Berg e a geração de pastores nacionais que surgiu com eles não anunciavam apenas Jesus. Pregavam “a salvação em Jesus e o batismo com o Espírito Santo”. Esta era “a mensagem completa do evangelho”. Tal pregação certamente encontrava guarida entre os cristãos que, à semelhança dos discípulos de Éfeso, nem sequer sabiam da existência do Espírito Santo (At 19.2), por culpa da omissão de seus pastores. Encontrava guarida também entre os cristãos cujos pastores atribuíam toda honra ao Espírito Santo sem, contudo, usar a nomenclatura teológica dos pentecostais.


O folheto de 27 páginas de Raimundo Nobre 

Por certo período houve muito desgaste emocional e de tempo por causa do atrito entre as denominações plantadas na segunda metade do século 19 e as Assembleias de Deus. Houve atitudes precipitadas, exageros e falta de amor de ambas as partes. O encarregado da congregação batista de Belém, Raimundo Nobre, acolheu os dois suecos no porão de sua casa e permitiu a participação deles nos cultos, o que redundou na divisão da igreja. Aborrecido e preocupado com a situação, Raimundo escreveu um folheto de 27 páginas contra a pregação de Gunnar e Daniel, e mandou imprimir 20 mil exemplares, que foram enviados para as igrejas evangélicas de todo o Brasil. Gunnar ensinava que a prova do batismo com o Espírito Santo era falar em línguas. Anos depois, a declaração de fé oficial das Assembleias de Deus amenizou a questão, afirmando que falar em outras línguas conforme a vontade soberana de Deus é evidência do batismo com o Espírito. Da parte dos pentecostais, havia muita ênfase em línguas, revelações, curas e milagres. Daniel chamou de milagre o fato de um peixe ter pulado para dentro do barco quando os passageiros estavam com muita fome. 


Cem mil batizados em 36 anos

A primeira igreja pentecostal foi organizada há exatos cem anos, em 18 de junho de 1911, seis meses depois da chegada dos dois suecos ao Pará, com o nome de Missão da Fé Apostólica, o mesmo nome dado por William Seymour à igreja da rua Azuza, em Chicago, cinco anos antes. O nome Assembleia de Deus foi adotado seis anos e meio depois, em janeiro de 1918. 

Nenhuma denominação evangélica experimentou um crescimento tão rápido e tão grande como as Assembleias de Deus. Nos quatro primeiros anos (1911-1914) houve 384 batismos “nas águas”. No final da primeira década, a nova denominação estava estabelecida em sete estados das regiões Norte (Pará e Amazonas) e Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas). Na década de 20, os assembleianos ocuparam os demais estados do Norte e Nordeste e começaram o trabalho nas regiões Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e Sul (Paraná e Rio Grande do Sul). Em 33 anos de história (de 1911 a 1944), já estavam instalados em todos os estados da Federação. Na ocasião da 8ª Convenção Nacional das Assembleias de Deus, realizada em São Paulo, em 1947, o Brasil já era contado como o terceiro país em número de crentes pentecostais em todo o mundo, com 100 mil fiéis batizados.

O “colégio de Jesus” e a educação teológica das Assembleias de Deus


Não foi fácil mudar a mentalidade das Assembleias de Deus quanto ao preparo formal de seus pastores e líderes. Em uma reunião realizada na Assembleia de Deus em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em maio de 1943, com a presença de 93 obreiros, o missionário Lawrence Olson propôs a abertura de institutos bíblicos, escolas teológicas e seminários pelo país. Paulo Leiva Macalão, pastor da Assembleia de Deus em Madureira, afirmou que seria perigoso investir na educação teológica do obreiro. Segundo ele, a muita sabedoria, o muito estudo e o intelectualismo poderiam esfriar espiritualmente a alma.

Cinco anos depois, na Convenção Geral de 1948, realizada em Natal, RN, o assunto voltou ao plenário e encontrou várias objeções. Para Francisco Pereira, “um instituto bíblico é uma fábrica de pregadores, sendo que, segundo Efésios 4.11, o ministério é dado pelo Senhor”. O pastor Eugênio Pires argumentou: “Temos uma escola, a de Jesus, que não pode nem deve ser orientada por determinada pessoa”. O missionário sueco Gustavo Nordlund aproveitou a ocasião para afirmar que não sentia falta de um seminário por causa do “colégio de Jesus”, onde começou e ainda permanecia.

Passados 18 anos, na Convenção Geral de 1966, realizada em Santo André, SP, o pastor João Pereira de Andrade e Silva declarou que “o melhor educandário é o colégio do Espírito Santo”. O pastor Anselmo Silvestre, de Belo Horizonte, reafirmou que em um seminário os candidatos correm o risco de ficarem com a cabeça cheia e o coração vazio. O último a falar foi o pastor Antônio Petronilo dos Santos: “Os institutos bíblicos desejam realizar um trabalho psicológico nas Assembleias de Deus no Brasil”. Petronilo afirmou ainda que eles são desnecessários, pois, “nestes 55 anos, as Assembleias de Deus no Brasil cresceram imensamente sem o concurso dos institutos bíblicos”. 

Foi o missionário sueco Gustav Bergström, naturalizado americano que, na Convenção Geral de 1937, pediu a criação de uma escola bíblica anual, com duração de pelo menos dois meses, para todos os obreiros e aspirantes ao ministério. Uma delas só aconteceu oito anos mais tarde, em Belém do Pará, com 101 alunos. Essas escolas foram os primeiros seminários teológicos pentecostais informais com cursos de curta duração.

Mais tarde, começaram a surgir outros em todo o país. O mais antigo é o Instituto Bíblico das Assembleias de Deus (IBAD), em Pindamonhangaba, SP, fundado em 1958, que já formou mais de 5 mil alunos e alunas. O Instituto Bíblico das Assembleias de Deus no Amazonas (IBADAM), com sede em Manaus, e a Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus (EETAD), em Campinas, SP, foram fundados em 1979. O primeiro já formou mais de 1.500 alunos, e o segundo, mais de 40 mil (graças ao programa de educação por extensão e à distância, com quatrocentos núcleos espalhados pelo Brasil e outros dez países). O campus da EETAD ocupa uma área de 53 mil metros quadrados. Em junho de 1989, surgiu a Escola de Missões da Assembleia de Deus no Brasil (EMAD), hoje sediada em Campo Limpo Paulista, SP.

A partir de 1983, recomendava-se oficialmente que os candidatos ao “santo ministério”, entre outros requisitos, fossem “qualificados teologicamente para o manejo da Palavra”. A essa altura, o pastor Walter Brunelli, então diretor do Instituto Bíblico de Santos, já havia advertido à Convenção de 1981: 

Sofremos hoje problemas de infraestrutura, por não ter havido no passado uma preocupação com a educação teológica. A ênfase demasiada na obra do Espírito Santo talvez tenha originado o conceito de que era desnecessária qualquer preocupação nesse sentido. Creio que caímos num tipo de pietismo que levou as pessoas a dizerem coisas exageradas e a quererem que o Espírito Santo as endossassem. Deveria haver um equilíbrio, e só mesmo um conhecimento mais apropriado da Palavra de Deus pode levar os obreiros a esse estado de equilíbrio.

Na verdade, tanto os assembleianos como os membros das denominações históricas precisam de ambos: do “colégio de Jesus” e dos seminários teológicos. Hoje, 100 anos após a chegada dos primeiros missionários, todos os grandes ministérios das capitais e das cidades grandes abriram escolas ou seminários teológicos. Muitas dessas instituições estão buscando o reconhecimento do MEC. 

Na escola superior de teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie estudam quinze alunos das Assembleias de Deus. Na pós-graduação em ciências da religião há outros dois. Há de se registrar também que em agosto de 2005 começou a funcionar a Faculdade Evangélica de Ciências, Tecnologia e Biotecnia, da Convenção Geral das Assembleias de Deus, oferecendo a princípio quatro cursos: administração de empresas, comércio exterior, direito e teologia. Essa faculdade já obteve o seu reconhecimento pelo MEC.

Questões éticas sob o ponto de vista Assembleiano


Em agosto de 1999, líderes assembleianos de todas as regiões do país reuniram-se no Rio de Janeiro para discutir o posicionamento das Assembleias de Deus no Brasil frente a certas questões difíceis e polêmicas. As resoluções a seguir foram acatadas pela Convenção Geral e publicadas no jornal “Mensageiro da Paz” e na revista “Obreiro”.

Aborto

Foram rechaçadas as interrupções de gestação por motivos egoístas ou razões eugênicas. O aborto provocado é crime, pois a vítima não pode defender-se. Ele não seria configurado como transgressão à Palavra de Deus em três casos: por motivos naturais, acidentais ou terapêuticos (para salvar a vida da mãe).
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Luta armada
Segundo a Bíblia, não constitui pecado o cristão participar de uma guerra servindo nas Forças Armadas de seu país. Porém, se for o caso de uma guerra injusta, as opiniões se dividem.

Eutanásia
Essa prática é pecado, pois o dever do cristão é amenizar o sofrimento e não deixar a cargo dos médicos a responsabilidade de decidir sobre a vida ou a morte de uma pessoa. Deve-se empregar esforços para preservar a vida, mesmo que seja a de um moribundo. Deus não ouviu as orações de Elias e Jonas, quando eles lhe pediram a morte.

Pena de morte
O Novo Testamento concede ao Estado o direito de estabelecer a pena capital. Neste caso, ela não pode ser considerada pecado, desde que seja feita a justiça. Todavia, a prática da pena de morte não é o melhor meio punitivo, nem uma medida essencial ao cristianismo. O ideal seria que as igrejas se pronunciassem não favoráveis à pena capital. Em casos de crime hediondo, a prisão perpétua seria mais indicada.

Doação de órgãos
Se o cristão quiser doar seus órgãos, não peca. Se não desejar fazê-lo, também não. Trata-se de um ato de amor e, por isso, deve ser voluntário.

Sexo
Deus fez o sexo para ser desfrutado no âmbito exclusivo do matrimônio e este deve ser venerado. Sexo fora do casamento é inadmissível para um cristão, pois é sinônimo de fornicação, quando se dá entre pessoas solteiras, e de adultério, quando envolve pessoas casadas.


O crescimento assombroso das Assembleias de Deus no Brasil e suas razões.


“As Assembleias de Deus crescem por causa da importância dada à pessoa e à obra do Espírito Santo”. Seus membros levam a sério o revestimento com o poder sobrenatural do Espírito para testemunhar e realizar o trabalho do Senhor, como Jesus mesmo ordenou (Lc 24.49; At 1.4-5). “O Espírito Santo é a razão do avanço da igreja”, lembrou José Wellington Bezerra da Costa, na abertura da Convenção Geral de janeiro de 2003, no Estádio Rei Pelé, em Maceió, AL. Porém, pode acontecer, às vezes, de os assembleianos se lembrarem mais do batismo do que da plenitude do Espírito, mais do poder do que do fruto do Espírito. (Ver O poder para a missão, de René Padilla)

“As Assembleias de Deus crescem por causa do seu ardor evangelístico”. A evangelização faz parte da cultura assembleiana. Na Convenção Geral de 1981, realizada no Estádio Felippe Drummond (conhecido como “Mineirinho”), em Belo Horizonte, MG, o missionário Bernhard Johnson declarou que as maiores necessidades das Assembleias de Deus no Brasil são “preservar a agressividade evangelística que as tem caracterizado e preservar a doutrina”. O mesmo disse Alcebíades Pereira Vasconcelos, de Manaus, AM: “Mais do que nunca, a Assembleia de Deus precisa arrepender-se e, ajoelhada, confessar a Deus o seu pecado de omissão evangelística”. Na mesma oportunidade, o missionário John Peter Kolenda lembrou que o alvo de qualquer despertamento religioso é a evangelização e aproveitou para dar uma alfinetada: “Quando estamos preocupados com a evangelização, não se oferecem tantas oportunidades para a contenda”.

“As Assembleias de Deus crescem por causa da oração”. Para ganhar 50 milhões de almas para Cristo, preparar 100 mil novos obreiros e estabelecer 50 mil novas igrejas na chamada “década da colheita”, foi necessário “levantar um exército de 3 milhões de intercessores”, conforme foi dito na Convenção de 1990. A prática da oração é outro ponto forte entre os assembleianos. Em 1943, houve um forte apelo para as igrejas começarem a orar todos os dias, pela manhã, das 4 às 5 horas e das 5 às 6 horas, em favor de um avivamento no país. Nesse mesmo ano lançou-se o Círculo de Oração, uma reunião de oração semanal que começava de manhã e durava até às 16 horas. Depois de algumas décadas, o Círculo de Oração passou a ser uma atividade mais desenvolvida pelas mulheres, em um dia útil da semana, à tarde.

“As Assembleias de Deus crescem porque começaram com missionários pobres (imigrantes suecos nos Estados Unidos) e se infiltraram nas camadas mais desfavorecidas do país”. Seus obreiros sabem falar a linguagem dos pobres e oferecem não só salvação para a alma, mas também esperança de cura para o corpo. Chamam a atenção para o sobrenatural (o fenômeno de línguas estranhas, a expulsão de demônios, o dom de profecia e os possíveis milagres de cura). As classes sociais que eles atingem têm menos resistência ao evangelho, menos satisfações a dar, menos distrações para tomar o tempo da religião. Além de tudo, elas acreditam fervorosamente na existência de Deus e enxergam com mais facilidade suas próprias carências pessoais e familiares, sociais e afetivas. Pelo menos era assim até pouco tempo. O país deve às Assembleias de Deus e a várias outras igrejas evangélicas a diminuição do analfabetismo e a recuperação de marginais.


Eu sou de São Cristóvão” e “Eu sou de Madureira”


Há quase 40 anos alguém gritou que as Assembleias de Deus no Brasil corriam perigo e que esse risco deveria ser proclamado. Por causa dele, os servos de Deus, em vez de toscanejar, deveriam se precaver e se colocar em prontidão. O alerta foi dado no “Mensageiro da Paz”, órgão oficial da denominação, em janeiro de 1973, por João Pereira de Andrade e Silva, duas vezes diretor da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). Na época, a preocupação era com os ventos de doutrina, as inovações diversas, a aceitação de costumes que “não nos são lícitos”, a falta de santidade etc.

João Pereira dizia que o perigo estava às portas. E estava mesmo. Ele era e é o mesmo que rondava a igreja de Corinto: a grande quantidade de partidos dentro da comunidade. Provavelmente, o pastor John Phillip, preletor inglês especialmente convidado para pregar durante a Convenção Geral de 1981 -- no Estádio Jornalista Felipe Drummond (conhecido por “Mineirinho”), em Belo Horizonte, MG --, pressentiu o problema.

 Na abertura da reunião, ele abordou o assunto “A liderança segundo o conceito bíblico” e baseou-se exatamente no terceiro capítulo da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Phillip referiu-se aos partidos existentes naquela igreja: o grupo “fundador” (“Eu sou de Paulo”), o grupo “intelectual” (“Eu sou de Apolo”), o grupo “tradicionalista” (“Eu sou de Pedro”) e o grupo dos “falsamente piedosos” (“Eu sou de Cristo”). O pregador visitante terminou sua mensagem assim: “Tanto o grande Paulo como o eloquente Apolo não passavam de dois jardineiros. Tudo o que você pode ter é um pedaço de pau para furar o chão e nele plantar a semente, ou um balde d’água com que regar as plantas. Nada mais. 

De fato, nós mesmos nada somos. Por isso precisamos uns dos outros. De nada adianta plantar, se não houver quem regue. De nada vale regar, se ninguém plantou. Somos, isto sim, cooperadores. Juntos formamos uma grande unidade com Deus”.

As palavras de João Pereira e de John Phillip foram proféticas, tanto para ontem como para hoje. Antes, o atrito era entre os megaministérios: “Eu sou de São Cristóvão”, “Eu sou de Madureira”, “Eu sou de Belém”, “Eu sou do Brás”. Hoje, ele é personalizado: “Eu sou de José Wellington”, “Eu sou de Manoel Ferreira”, “Eu sou de Samuel Câmara”, “Eu sou de Silas Malafaia”. Antes, era dentro das quatro paredes da denominação. Hoje, é público (usam-se inclusive os programas evangélicos de televisão). Em sã consciência, nenhum asssembleiano tem condições de repetir o que John Phillip disse há trinta anos no Mineirinho: “Juntos formamos uma grande unidade com Deus”. 

Nesses 100 anos de história, a unidade sempre foi difícil nas Assembleias de Deus (bem como em outras denominações). De vez em quando, havia um clamor em favor da unidade, como o do pastor Altomires Sotero da Cunha, que, na Convenção Geral de 1971, propôs que a liderança de Madureira visitasse a igreja de São Cristóvão e vice-versa, “para selar a paz”, o que de fato aconteceu. Nessa ocasião, “houve perdão e abraços e muita alegria”. Contudo, 18 anos depois, em setembro de 1989, aconteceu a maior e mais importante divisão das Assembleias de Deus no Brasil, com o desligamento do Ministério de Madureira e suas convenções.

É consenso que as divisões assembleianas nunca aconteceram por questões doutrinárias, mas por disputas de campos territoriais ou por cargos. Essa é a opinião de Paulo Romeiro, que desenvolve uma pesquisa sobre os movimentos pentecostais brasileiros para a Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Segundo o assembleiano Gedeon Freire de Alencar, diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e doutorando em ciências da religião (PUC-SP), “uma igreja que nunca teve uma direção nacional instituída, abriu espaço para figuras isoladas se fortalecerem”1. O problema é complexo e pecaminoso, porque envolve uma rivalidade entre os megaministérios e seus pastores presidentes. Os chamados “ministérios” são como denominações dentro de uma mesma denominação.

Em junho, duas comemorações separadas do centenário foram realizadas na mesma cidade, onde tudo começou, Belém do Pará: uma no dia 10, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, e a outra no dia 16, no Estádio Olímpico do Pará (Mangueirão). 
Na primeira comemoração, presidida por José Wellington Bezerra, a tensão diminuiu com a presença de Samuel Câmara, pastor da Assembleia de Deus de Belém. Na segunda, presidida por Samuel Câmara, ela foi de igual modo reduzida pela presença de José Wellington.

A reconciliação dos diferentes grupos pode ser difícil. Porém, de acordo com Alfredo Borges, “quando Deus exige do homem coisas que ele [com suas próprias forças] não poder fazer sem uma graça especial, ele mesmo, junto com a ordem providencia ao mesmo tempo essa graça”.2 

Em meio ao barulho das comemorações, seria bom ouvir o apelo de Paulo endereçado a duas ovelhas na mesma situação dos assembleianos: “E agora eu quero suplicar àquelas duas estimadas senhoras, Evódia e Síntique: “Por favor, com a ajuda do Senhor, vivam em harmonia” (Fp 2.2, BV). (Veja Vocês são irmãos e não deviam estar brigando)

Notas
ALENCAR, Gedeon Freire. “Assembleias de Deus; origem, implantação e militância” (1911-1946). São Paulo: Arte Editorial. p. 131.
TEIXEIRA, Alfredo Borges. “Meditações cristãs”. São Paulo: Editora Metodista, 1967. p. 187.]]

                     Pérolas pentecostais


Mais do que nunca, o verdadeiro profeta de Deus nos nossos dias é aquele que faz o que Deus quer que seja feito.
Owe Lindeskär, pastor da Igreja Filadélfia, em Estocolmo (1993)

Há muitas igrejas novas que pensam que barulho produz poder, mas a Palavra de Deus nos ensina que é o poder de Deus que gera barulho.
Humberto Schimitt, pastor da Assembleia de Deus de Porto Alegre (2001)

O trem que está indo para a cidade celestial trafega sobre dois trilhos: o trilho de sangue [aquele que foi construído com o sacrifício de Jesus] e o trilho de fogo [aquele que foi construído no dia de Pentecostes].
Nils Kastberg, missionário sueco (1930)

A igreja que pratica a cura divina tem de viver em maior consagração e santificação do que aquela que não a pratica.
Frida Vingren, esposa de Gunnar Vingren (1930)

Quantos pregadores mencionam ao pecador a cor e o perfume da rosa, mas se esquecem de avisá-lo dos espinhos.
Paulo Leivas Macalão, presidente da Convenção Geral de 1937 (1930)

O livro de Atos pode ser resumido em três palavras: ascensão, descensão e extensão do evangelho. Cristo subiu, o Espírito Santo desceu e nós propagamos o evangelho.
Myer Pearlman, teólogo pentecostal e escritor de origem judaica (1932)

Qualquer religião que nega a salvação do homem por meio do sangue de Jesus é uma religião falsa.
Bernhard Johnson Jr., fundador da Escola Teológica das Assembleias de Deus (1970)

Um grande vazio existe na vida da igreja e nas igrejas. Essa é a questão que não pode ser indefinidamente adiada. Tornou-se coisa comum lamentar a ausência e a ênfase acerca do Espírito Santo na teologia e na vida da igreja.
Donald Gee, na abertura da Conferência Mundial Pentecostal, em Helsinque, Dinamarca (1965)

O método audiovisual divino [“Vocês são o sal da terra” e “Vocês são a luz do mundo”] deve ser usado [na evangelização] para que os homens não somente ouçam, mas também vejam.
Ângelo Estevam de Souza, líder da Assembleia de Deus em São Luiz do Maranhão (1981).


         Deus chama quem quer, quando quer e como quer


O americano Ashbel era filho de médico. Os suecos Gunnar e Daniel eram filhos de sitiante e jardineiro, respectivamente. Os três nasceram em lares evangélicos e foram criados no temor do Senhor: Ashbel era presbiteriano; Gunnar e Daniel, batistas. A vida de Ashbel foi afetada por um avivamento religioso ocorrido em Harrisburg, na Pensilvânia, na primeira metade de 1855; as vidas de Gunnar e Daniel, por um avivamento ocorrido em Chicago, por volta de 1909. Como consequência, os três se consagraram ao Senhor. O que chamou a atenção de Ashbel para missões transculturais foi um sermão de seu professor de teologia sistemática, Charles Hodge, pregado na capela do Seminário Teológico de Princeton, uma cidadezinha entre Nova York e Filadélfia, no estado de Nova Jersey, na primavera de 1855. Ashbel tinha então 22 anos. 

O que chamou a atenção de Gunnar e Daniel para missões transculturais foi uma profecia de um patrício e irmão na fé chamado Adolf Ulldin, proferida na cozinha da casa deste em South Bend, uma cidade no extremo norte do estado de Indiana, no verão de 1910. Naquele ano, Gunnar tinha 31 anos e Daniel, 26. Os três eram solteiros e sentiram claramente o chamado de Deus para exercerem seus ministérios no Brasil. O que levou Ashbel a se decidir pelo Brasil foi o desafio a ele apresentado pelo secretário da Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. O que levou Gunnar e Daniel a se decidirem pelo Brasil foram os detalhes da visão de Adolf Ulldin: Deus os estava chamando para um lugar, em alguma parte do globo, que se chamava Pará, de clima muito diferente, e a viagem seria em um navio que sairia de Nova York em 5 de novembro daquele ano. Depois de pesquisarem em uma biblioteca, os dois jovens suecos descobriram que o Pará era um estado do Norte do Brasil. 

Os três, ainda solteiros, vieram para o Brasil: Ashbel desembarcou no Rio de Janeiro em agosto de 1859; Gunnar e Daniel desembarcaram em Belém do Pará, meio século depois, em novembro de 1910. Em obediência às indicações do Senhor, o americano Ashbel Green Simonton fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil, e os suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg fundaram as Assembleias de Deus no Brasil. Até hoje há quem julgue fantástico demais o chamado de Gunnar e Daniel. Entre estes estão os membros das denominações históricas. Até hoje há quem julgue racional demais o chamado de Ashbel. Entre estes estão os membros das denominações pentecostais. O certo, porém, é que Deus é soberano e fala “muitas vezes e de muitas maneiras” (Hb 1.1), até mesmo por meio de uma jumenta (Nm 22.28). O que se requer, em todos os casos, é a autenticidade do processo, que o tempo se encarrega de mostrar, como explicou ao Sinédrio o sábio Gamaliel (At 5.33-39).

fonte WIKIPEDIA


                  

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