Martinho Lutero
Artigo Maurico Berwald
FOTO WIKIPEDIA
Fonte Wikipédia
Lutero em 1529 por Lucas Cranach
Nome completo Martinus Luter
(Martin Luther)
Nascimento 10 de novembro de
1483
Eisleben
Banner of the Holy Roman Emperor (after 1400).svg Sacro Império
Romano-Germânico
Morte 18 de fevereiro de
1546 (62 anos)
Eisleben
Banner of the Holy Roman Emperor (after 1400).svg Sacro Império
Romano-Germânico
Cônjuge Catarina von Bora
(1525-1546)
Filho(s) Johannes (Hans)
(1526–75)
Elizabeth (1527–28)
Magdalena (1529–42)
Martin Jr. (1531–1565)
Paul (1533–93)
Margarete (1534–70)]
Ocupação teólogo
Principais trabalhos 95 Teses
Catecismo Maior de Lutero Catecismo Menor de Lutero Liberdade de um
Cristão
Assinatura
Martinho Lutero, em alemão: Martin Luther (Eisleben, 10 de novembro de
1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546), foi um monge agostiniano e professor
de teologia germânico que tornou-se uma das figuras centrais da Reforma
Protestante. Levantou-se veementemente contra diversos dogmas do catolicismo
romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser
adquiridos pelo comércio das indulgências.
Essa discordância inicial resultou
na publicação de suas famosas 95 Teses em 1517, em um contexto de conflito
aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel. Sua recusa em
retratar-se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X em 1520 e do imperador
Carlos V na Dieta de Worms em 1521, resultou em sua excomunhão da Igreja Romana
e em sua condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano
Germânico.
Lutero propôs, com base em sua interpretação das Sagradas Escrituras,
especialmente da Epístola de Paulo aos Romanos, que a salvação não poderia ser
alcançada pelas boas obras ou por quaisquer méritos humanos, mas tão somente
pela fé em Cristo Jesus (sola fide), único salvador dos homens, sendo
gratuitamente oferecida por Deus aos homens. Sua teologia desafiou a
infalibilidade papal em termos doutrinários, pois defendia que apenas as
Escrituras (sola escriptura) seriam fonte confiável de conhecimento da verdade
revelada por Deus.] Opôs-se ao sacerdotalismo romano (isto é, à consagrada
divisão católica entre clérigos e leigos), por considerar todos os cristãos
batizados como sacerdotes e santos. Aqueles que se identificaram com os
ensinamentos de Lutero acabaram sendo chamados de luteranos.
Em seus últimos anos, Lutero mostrou-se radical em suas propostas
contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive considerado posteriormente
um antissemita. Essas e outras de suas afirmações fizeram de Lutero uma figura
bastante controversa entre muitos historiadores e estudiosos. Além disso, muito
do que foi escrito a seu respeito sofre da reconhecida parcialidade resultante
de paixões religiosas.
Primeiros anos de vida
Martinho Lutero, cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, era
filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld, onde seu
pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo, Hans Luther
desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário público, melhorando,
assim, as condições da família. Com esse objetivo, enviou o já velho Martinho
para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.
Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt,
onde tocava alaúde e onde recebeu o apelido de O Filósofo. Ainda na
Universidade de Erfurt, estudou a filosofia nominalista de Ockham (as palavras
designam apenas coisas individuais; não atingem os “universais”, as realidades
presentes em todos os indivíduos, como por exemplo a natureza humana; em
consequência, nada pode ser conhecido com certeza pela razão natural, exceto as
realidades concretas: esta pessoa, aquela coisa). Esse sistema dissolvia a
harmonia multissecular entre a ciência e a fé que tanto havia sido defendida
pela escolástica de "São Jesus Cristo", pois essa filosofia
baseava-se unicamente na vontade de Deus.
O jovem estudante graduou-se bacharel em 1502 e concluiu o mestrado em
1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos. Seguindo os desejos maternos, inscreveu-se na
escola de direito da mesma universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade
com descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu
próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos pais.
Aterrorizado, teria, então, gritado: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei
um monge!"
Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus
livros, com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de
Frankfurt, a 17 de julho de 1505.
Vida monástica e academia
Lutero com a tonsura monástica.
O jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à vida no mosteiro,
empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao
próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à meditação,
às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à
confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de
seus pecados.Johann von Stauptuioz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem
necessitava de mais trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão.
Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507,
Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar teologia na
Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em estudos bíblicos
em 19 de março de 1508. Dois anos depois, visitou Roma, de onde regressou
bastante decepcionado.Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se
Doutor em Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi "recebido no
Senado da Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em
Bíblia". Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua
autoridade onze monastérios.
Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no
significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que
logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.
A controvérsia acerca das indulgências
Além de suas atividades como professor, Martinho Lutero ainda colaborava
como pregador e confessor na igreja de Santa Maria, na cidade. Também pregava
habitualmente na igreja do Castelo (chamada de "Todos os Santos" -
porque ali havia uma coleção de relíquias, estabelecidas por Frederico III da
Saxônia). Foi durante esse período que o jovem sacerdote se deu conta dos
problemas que o oferecimento de indulgências aos fiéis, como se esses fossem
fregueses, poderia acarretar.
A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal
imputado a alguém por conta dos seus pecados (aplicável apenas a alguém que
esteja em estado de graça, ou seja, livre de pecados graves, e arrependido de
todos os seus pecados veniais). Naquele tempo, o papa havia concedido uma
indulgência plenária para quem doasse qualquer quantia para a reforma da
Basílica de São Pedro. O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através
dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, mas sua campanha
tomou a linha de uma venda, pois este frade, posteriormente punido por isso,
dizia que "Assim que uma moeda tilinta no cofre, uma alma sai do
Purgatório".
Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia
confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de
lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu, então, três sermões
contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, em 31 de outubro de
1517 foram afixadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg,
com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas. Essas teses
condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como
um abuso e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam.
Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava diretamente a
autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.
As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e
impressas. Ao cabo de duas semanas se haviam espalhado por toda a Alemanha e,
em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em
que a imprensa teve papel fundamental, pois facilitou a distribuição simples e
ampla do documento.
A resposta do Papado
Depois de fazer pouco caso de Lutero, dizendo que ele seria um
"alemão bêbado que escrevera as teses", e afirmando que "quando
estiver sóbrio mudará de opinião"[9] o Papa Leão X ordenou, em 1518, ao
professor de teologia dominicano Silvestro Mazzolini que investigasse o
assunto. Este denunciou que Lutero se opunha de maneira implícita à autoridade
do Sumo Pontífice, quando discordava de uma de suas bulas. Declarou ser Lutero
um herege e escreveu uma refutação acadêmica às suas teses. Nela, mantinha a
autoridade papal sobre a Igreja e condenava as teorias de Lutero como um desvio
e uma apostasia.
Lutero replicou de igual forma (academicamente), dando assim início à
controvérsia.
Enquanto isso, Lutero tomava parte da convenção dos agostinianos em
Heidelberg, onde apresentou uma tese sobre a escravidão do homem ao pecado e a
graça divina. No decorrer da controvérsia sobre as indulgências, o debate se
elevou até o ponto de duvidar do poder absoluto e autoridade do Papa, pois as
doutrinas de "Tesouraria da Igreja" e "Tesouraria dos
Merecimentos", que serviam para reforçar a doutrina e venda e das
indulgências, haviam se baseado na bula papal "Unigenitus", de 1343,
do Papa Clemente VI. Por causa de sua oposição a esta doutrina, Lutero foi
qualificado como heresiarca e o Papa, decidido a suprimir por completo os seus
pontos de vista, ordenou que ele fosse chamado a Roma, viagem que deixou de ser
realizada por motivos políticos.
Lutero, que anteriormente professava a obediência implícita à Igreja,
negava agora abertamente a autoridade papal e apelava para que fosse realizado
um Concílio. Também declarava que o papado não formava parte da essência
imutável da Igreja original.
Desejando manter relações amistosas com o protetor de Lutero, Frederico,
o Sábio, o Papa engendrou uma tentativa final de alcançar uma solução pacífica
para o conflito. Uma conferência com o representante papal Karl von Miltitz em
Altenburg, em janeiro de 1519, levou Lutero a decidir guardar silêncio, tal
qual seus opositores. Também escreveu uma humilde carta ao Papa e compôs um
tratado demonstrando suas opiniões sobre a Igreja Católica. A carta nunca
chegou a ser enviada, pois não continha nenhuma retratação; e no tratado que
compôs mais tarde, negou qualquer efeito das indulgências no Purgatório.
Quando Johann Ecko desafiou um colega de Lutero, Andreas Carlstadt, para
um debate em Leipzig, Lutero juntou-se à discussão (27 de junho-18 de julho de
1519), no curso do qual negou o direito divino do solidéu papal e da autoridade
de possuir o as chaves do Céu que, segundo ele, haviam sido outorgadas apenas
ao próprio Apóstolo Pedro, não passando para seus sucessores. Negou que a
salvação pertencesse à Igreja Católica ocidental sob a autoridade do Papa, mas
que esta se mantinha na Igreja Ortodoxa, do Oriente. Depois do debate, Ecko
afirmou que forçara Lutero a admitir a semelhança de sua própria doutrina com a
de João Huss, que havia sido queimado na fogueira da Inquisição.
Aumenta a cisão
Lutero durante os acontecimentos
.
Não parecia haver esperanças de entendimento. Os escritos de Lutero
circulavam amplamente, alcançando França, Inglaterra e Itália, em 1519, e os
estudantes dirigiam-se a Wittenberg para escutar Lutero que, naquele momento,
publicava seus comentários sobre a Epístola aos Gálatas e suas
"Operationes in Psalmos" (Trabalho nos Salmos).
As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver
suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento Abençoado
do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades", ampliou o
significado da Eucaristia para incluir também o perdão dos pecados e ao
fortalecimento da fé naqueles que a recebem. Além disso, ele ainda apoiava a
realização de um concílio a fim de restituir a comunhão.
O conceito luterano de "igreja" foi desenvolvido em seu
"Von dem Papsttum zu Rom" (Sobre o Papado de Roma), uma resposta ao
ataque do franciscano Augustin von Alveld, em Leipzig (junho de 1520). Enquanto
o seu "Sermon von guten Werken" (Sermão das Boas Obras), publicado na
primavera de 1520, era contrário à doutrina católica das boas obras e dos atos
como meio de perdão, mantendo que as obras do crente são verdadeiramente boas,
quer para o secular como para o clérigo, se ordenadas por Deus.
Os tratados de 1520
A Nobreza alemã
A disputa havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse contato
com os humanistas, especialmente Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que
por sua vez também influenciara ao nobre Franz von Sickingen. Von Sickingen e
Silvestre de Schauenbur queriam manter Lutero sob sua proteção, convidando-o
para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na
Saxônia, em virtude da proscrição papal.
Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães,
Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de 1520),
onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a
reforma requerida por Deus, mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela
primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo .
As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões
doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos:
a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal;
a abolição das rendas do Papa;
o reconhecimento do governo secular;
a renúncia da exigência papal pelo poder temporal;
a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão;
a abolição das peregrinações nocivas;
a eliminação dos excessivos dias santos;
a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade;
a reforma das universidades;
a ab-rogação do celibato do clero;
e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.
Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã,
revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato de terem que
enviar riquezas a Roma.
O cativeiro babilônico
Lutero gerou muitas polêmicas doutrinárias com seu "Prelúdio no
Cativeiro Babilônico da Igreja", em especial no que diz respeito aos
sacramentos.
Eucaristia - apoiava que fosse devolvido o "cálice" ao laicado;
na chamada questão do dogma da transubstanciação, afirmava que era real a
presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia, mas refutava o
ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus.
Batismo - ensinava que trazia a justificação apenas se combinado com a fé
salvadora em o receber; de fato, mantinha o princípio da salvação inclusive
para aqueles que mais tarde se convertessem.
Penitência - afirmou que sua essência consiste na palavra de promessa de
desculpas recebidas com fé.
Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados,
pois sua instituição era divina e a promessa da salvação de Deus estava conexa
a eles. Contudo, em sentido estrito, apenas o batismo e a eucaristia seriam
verdadeiros sacramentos, pois apenas eles tinham o "sinal visível da
instituição divina": a água no batismo e o pão e vinho da eucaristia.
Lutero negou, em seu documento, que a confirmação (Crisma), o matrimônio, a
ordenação sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos.
Liberdade de um Cristão
Da mesma forma, o completo desenvolvimento da doutrina de Lutero sobre a
salvação e a vida cristã foi exposto em "A Liberdade de um Cristão"
(publicado em 20 de novembro de 1520, onde exigia uma completa união com Cristo
mediante a palavra através da fé, e a inteira liberdade do cristão como
sacerdote e rei sobre todas as coisas exteriores, e um perfeito amor ao
próximo).
As duas teses que Lutero desenvolve nesse tratado são aparentemente
contraditórias, mas, em verdade, são complementares:
"O cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém
sujeito";
"O cristão é um servo oficiosíssimo de tudo, a todos sujeito".
A primeira tese é válida "na fé"; a segunda, "no amor".
A excomunhão
A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula "Exsurge
Domine", onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de
setenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja..
Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um
Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa:"Eu não me
submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".
Enquanto isso, um rumor chegara de que Johan Ech saíra de Meissem com uma
proibição papal, enquanto este se pronunciara realmente a 21 de setembro. O
último esforço de paz de Lutero foi seguido, em 12 de dezembro, da queima da
bula, que já tinha expirado há 120 dias, e o decreto papa de Wittenberg,
defendendo-se com seus "Warum des Papstes und seiner Jünger Bücher
verbrannt sind" e "Assertio omnium articulorum". O Papa Leão X
excomungou Lutero a 3 de janeiro de 1521, na bula "Decet Romanum
Pontificem".
A execução da proibição, com efeito, foi evitada pela relação do Papa com
Frederico III da Saxônia, e pelo novo imperador, Carlos I de Espanha (Carlos V
de Habsburgo), que julgou inoportuno apoiar as medidas contra Lutero, diante de
sua posição face à Dieta.
Castelo Wartburg em Eisenach.
A Dieta de Worms.
O Imperador Carlos V inaugurou a Dieta real a 22 de janeiro de 1521.
Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos e foi-lhe outorgado um
salvo-conduto para garantir-lhe o seguro deslocamento.
A 16 de abril, Lutero apresentou-se diante da Dieta. Johann Eck,
assistente do Arcebispo de Trier, mostrou a Lutero uma mesa cheia de cópias de
seus escritos. Perguntou-lhe, então, se os livros eram seus e se ele acreditava
naquilo que as obras diziam. Lutero pediu um tempo para pensar em sua resposta,
o que lhe foi concedido. Este, então, isolou-se em oração e depois consultou
seus aliados e amigos, apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando a Dieta
veio a tratar do assunto, o conselheiro Eck pediu a Lutero que respondesse
explicitamente à seguinte questão:
"Lutero, repeles seus livros e os erros que eles contêm?"
Lutero, então, respondeu:
"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros
argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que
está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos - pelos
textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e
unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada,
porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável."
De acordo com a tradição, Lutero, então, proferiu as seguintes palavras:
"Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me
ajude!Nos dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para
determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada, Lutero
abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu.O Imperador
redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero
fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras.
Processo Romano
Martinho Lutero e o Cardeal Caetano, em 1557
Em Junho de 1518, foi aberto o processo contra Lutero, com base na
publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele
incorria em heresia. Nas aulas que ministrava na Universidade de Wittenberg,
espiões registravam seus comentários negativos sobre a excomunhão. Depois
disso, em agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória. Lutero
foi convidado a ir a Roma, onde teria que desmentir sua doutrina.
Lutero recusou-se a fazê-lo, alegando razões de saúde; e pretendeu uma
audiência em território alemão. O seu pedido baseava-se no argumento
(Gravamina) da Nação Alemã. Seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma
audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano), durante a reunião das
cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de outubro de 1518,
Lutero falou a Caetano. Este pediu-lhe que revogasse sua doutrina. Lutero
recusou-se a fazê-lo.
Do lado romano, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador
Maximiliano I (janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos no andamento do
processo. O Imperador tinha decidido que o seu sucessor seria Carlos (futuro
Carlos V). Por causa das pertenças de Carlos em Itália, o papa renascentista
Leão X receava o cerco do Estado da Igreja e procurava evitar que os
príncipes-eleitores alemães (Kurfürsten) renunciassem a Carlos.
O papel de protetor de Lutero assumido por Frederico, o sábio, levou a
que Roma pedisse que Karl von Miltiz intercedesse junto ao príncipe por uma
solução razoável. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de
1519), o processo de Lutero voltaria a ser alvo de preocupações e trabalhos.
O selo de Lutero.
Em junho de 1520, reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge
Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem"
excomungou Lutero. Seguiu-se, então, a ameaça oficial do imperador
(Reichsacht).
Notável é, no entanto, que Lutero foi, mais uma vez, recebido em
audiência, o que também deixou claras as diferenças entre o papado e o império.
Carlos foi o último rei (após uma reconciliação) a ser coroado imperador pelo
papa. Nos dias 17 e 18 de abril de 1521 Lutero foi ouvido na Dieta de Worms
(conferência governativa) e, após ter negado a revogação da sua doutrina, foi
publicado o Édito de Worms, banindo Lutero.
Exílio no Castelo de Wartburg
O seqüestro de Lutero durante a sua viagem de regresso da Dieta de Worms
foi arranjado. Frederico, o sábio ordenou que Lutero fosse capturado por um
grupo de homens mascarados a cavalo, que o levaram para o Castelo de Wartburg,
em Eisenach, onde ele permaneceu por cerca de um ano. Deixou crescer a barba e
tomou as vestes de um cavaleiro, assumindo o pseudônimo de Jörg. Durante esse
período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua célebre tradução da Bíblia
para o alemão.
Martinho Lutero pregando no Castelo Wartburg, quadro de Hugo Vogel.Com o
início da estadia de Lutero em Wartburg, começou um período muito construtivo
de sua carreira como reformista. Em seu "Deserto" ou
"Patmos" (como ele mesmo chamava, em suas cartas) de Wartburg,
começou a tradução da Bíblia, da qual foi impresso o Novo Testamento, em
setembro de 1522.
Em Wartburg, ele produziu outros escritos, preparou a primeira parte de
seu Guia para Párocos e "Von der Beichte" (Sobre a Confissão), em que
nega a obrigatoriedade da confissão, e admite como saudável a confissão privada
voluntária. Também escreveu contra o Arcebispo Albrecht, a quem obrigou, com
isso, a desistir de retomar a venda das indulgências. Em seus ataques a Jacobus
Latomus, avançou em sua visão sobre a relação entre a graça e a lei, assim como
sobre a natureza revelada pelo Cristo, distinguindo o objetivo da graça de Deus
para o pecador que, por acreditar, é justificado por Deus devido à justiça de
Cristo, pois a graça salvadora reside dentro do homem pecador. Ainda mostrou
que o "princípio da justificação" é insuficiente, ante a persistência
do pecado depois do batismo - pela inerência do pecado em cada boa obra.
Lutero, amiúde, escrevia cartas a seus amigos e aliados, respondendo-lhes
ou perguntando-lhes por seus pontos de vista e respondendo-lhes aos pedidos de
conselhos.
Por exemplo, Felipe Melanchthon lhe escreveu perguntando como
responder à acusação de que os reformistas renegavam a peregrinação e outras
formas tradicionais de piedade. Lutero respondeu-lhe em 1 de agosto de 1521:"Se és um pregador da misericórdia, não pregues uma misericórdia
imaginária, mas sim uma verdadeira. Se a misericórdia é verdadeira, deve
penitenciar ao pecado verdadeiro, não imaginário. Deus não salva apenas aqueles
que são pecadores imaginários. Conheça o pecador, e veja se os seus pecados são
fortes, mas deixai que tua confiança em Cristo seja ainda mais forte, e que se
alegre em Cristo que é o vencedor sobre o pecado, a morte e o mundo.
Cometeremos pecados enquanto estivermos aqui, porque nesta vida não há um só
lugar onde resida a justiça. Nós todos, sem embargo, disse Pedro (2ª Pedro
3:13), estamos buscando mais além um novo céu e uma nova terra onde a justiça
reinará".
Enquanto isso, alguns sacerdotes saxônicos haviam renunciado ao voto de
castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos.
Lutero, em seu De votis monasticis (Sobre os votos monásticos), aconselhava-os
a ter mais cautela, aceitando, no fundo, que os votos eram geralmente tomados
"com a intenção da salvação ou à busca de justificação". Com a
aprovação de Lutero em seu "De abroganda missa privata (Sobre a abrogação
da missa privada), mas contra a firme oposição de seu prior, os agostinianos de
Wittenberg realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas.
Sua violência e intolerância certamente desagradaram Lutero que, em princípios
de dezembro, passou alguns dias entre eles.
Ao retornar para Wartburg, escreveu "Eine treue Vermahnung … vor
Aufruhr und Empörung" (Uma sincera admoestação por Martinho Lutero a todos
os cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião). Apesar disso, em
Wittengerg, Carlstadt e o ex-agostiniano Gabriel Zwilling reclamavam a abolição
da missa privada e da comunhão em duas espécies, assim como a eliminação das
imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato.
Regresso a Wittenberg e os Sermões
No final do ano de 1521, os anabatistas de Zwickau se entregam à
anarquia. Contrário a tais concepções radicais e temendo seus resultados,
Lutero regressou em segredo a Wittenberg, em 6 de março de 1522. Durante oito
dias, a partir de 9 de março (domingo de Invocavit) e concluindo no domingo
seguinte, Lutero pregou outros tantos sermões que tornaram-se conhecidos como
os "Sermões de Invocavit".
Nessas pregações, Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve em
consideração a consciência daqueles que ainda não estivessem persuadidos a
acolher a Reforma. A consagração do pão foi restaurada por um tempo e o cálice
sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O cânon das
missas, devido ao seu caráter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento
da confissão ter sido abolido, verificou-se a necessidade que muitas pessoas
ainda tinham de confessar-se em busca do perdão. Esta nova forma de serviço foi
dada a Lutero em "Formula missæ et communionis" (Fórmula da missa e
Comunhão), de 1523. Em 1524 surgiu o primeiro hinário de Wittenberg, com quatro
hinos.
Como aquela parte da Saxônia era governada pelo Duque Jorge, que proibira
seus escritos, Lutero declarou que a autoridade civil não podia promulgar leis
para a alma. Fez isso em sua obra: "Über die weltliche Gewalt, wie weit
man ihr Gehorsam schuldig sei" (Autoridade Temporal: em que medida deve
ser obedecida).
Matrimônio e família
Catarina von Bora, esposa de Lutero (retrato feito por Lucas Cranach o
Velho - 1526).Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do
cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina
von Bora, filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de
1525. Desta união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin,
Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que manteve a
linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da família Lutero é o
ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.
O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento
de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento
definitivo com a Igreja Romana.
A guerra dos camponeses
A guerra dos camponeses (1524-1525) foi, de muitas maneiras, uma resposta
aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já
tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na
Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas
outras até o século XVIII. Mas muitos camponeses julgaram que os ataques
verbais de Lutero à Igreja e sua hierarquia significavam que os reformadores iriam
igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia social. Por causa dos fortes
laços entre a nobreza hereditária e os líderes da Igreja que Lutero condenava,
isso não seria surpreendente.
Já em 1522, enquanto Lutero estava em Wartburg, seu seguidor Thomas
Münzer, comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma
sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada, Lutero
por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era
vontade divina, motivo pelo qual eles romperam. Lutero, desde cedo, argumentou
com a nobreza e os próprios camponeses sobre uma possível revolta e também
sobre Müntzer, classificando-o como um dos "profetas do assassínio" e
colocando-o como um dos mentores do movimento camponês. Lutero escreveu a
"Terrível História e Juízo de Deus sobre Tomas Müntzer", inaugurando
essa linha de pensamento.
Na iminência da revolta (1524), Lutero escreveu a "Carta aos
Príncipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso", mostrando a tirania dos
nobres que oprimiam o povo e a loucura dos camponeses em reagir através da
força e a confiar em Müntzer como pregador. Houve pouca repercussão sobre esse
escrito.
Ainda em 1524, Müntzer mudou-se para a cidade imperial de Mühlhausen,
oferecendo-se como pregador. Lutero escreveu a "Carta Aberta aos
Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade da Cidade de Mühlhausen", com o
propósito de alertar sobre as intenções de Müntzer. Também esse escrito não
teve repercussão, pois o conselho da cidade se limitou a pedir informações
sobre Müntzer na cidade imperial de Weimar.
O principal escrito dos camponeses eram os "Doze Artigos", onde
suas reivindicações eram expostas. Neles havia artigos de fundo teológico
(direito de ouvir o Evangelho através de pregadores chamados por eles próprios)
e artigos que tratavam dos maus tratos (exploração nos impostos, etc.) impostos
a eles pelos nobres. Os artigos eram fundamentados com passagens bíblicas e
dizia-se que se alguém pudesse provar pelas Escrituras que aquelas
reivindicações eram injustas, eles as abandonariam. Entre aqueles que se
consideravam dignos de fazer tal coisa estava o nome de Martinho Lutero.
De fato, Lutero escreveu sobre os "Doze artigos" em seu livro
"Exortação à Paz: Resposta aos Doze artigos do Campesinato da Suábia",
de 1525. Nele, Lutero ataca os príncipes e senhores por cometerem injustiças
contra os camponeses e ataca os camponeses pela rebelião e desrespeito à
autoridade.
Também esse escrito não teve repercussão e, durante uma viagem pela
região da Turíngia, Lutero pôde testemunhar as revoltas camponesas, o que o
motivou a escrever o "Adendo: Contra as Hordas Salteadoras e Assassinas
dos Camponeses", onde disse: "Contras as hordas de camponeses (…),
quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não
há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde".[46]
Tratava-se de um apêndice de "Exortação à Paz …", mas que,
rapidamente, tornou-se um livro separado. O Adendo foi publicado quando a
revolta camponesa já estava no final e os príncipes cometiam atrocidades contra
os camponeses derrotados, de modo que o escrito causou grande revolta da
opinião pública contra Lutero. Nele, Lutero encorajava os príncipes a
castigarem os camponeses até mesmo com a morte.
Essa repercussão negativa obrigou Lutero a pregar um sermão no dia de
pentecostes, em 1525, que se tornou o livro "Posicionamento do Dr.
Martinho Lutero Sobre o Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e
Assassinos", onde o reformador contesta os críticos e reafirma sua posição
anterior.
Como ainda havia repercussão negativa, Lutero novamente se posicionou
sobre a questão no seu "Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho
Contra os Camponeses", onde lamenta e exorta contra a crueldade que estava
sendo praticada pelos príncipes, mas reafirma sua posição anterior.Por fim, a
pedido de um amigo, o cavaleiro Assa von Kram, Lutero redigiu "Acerca da
Questão, Se Também Militares Ocupam uma Função Bem-Aventurada", em 1526,
com o propósito de esclarecer questões sobre consciência do cristão em caso de
guerra e sua função como militar.
A discordância com João Calvino
João Calvino (Retrato de Calvino jovem, da coleção da Biblioteca de
Genebra).No movimento reformista (também chamado de Reforma), Lutero não
concordou com o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero
queria reformar a Igreja Católica,[48] enquanto João Calvino, acreditava que a
Igreja estava tão degenerada, que não havia como reformá-la. Calvino se
propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns
costumes), seria idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas
afastou-se desse objetivo, fundando, então, o Protestantismo, que não seguia
tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e costumes
não ficariam presos a convenções ou épocas.
A doutrina luterana está explicitada no "Livro de Concórdia", e
não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a
época.
Falecimento
O ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve morte natural, embora não
haja um consenso entre os seus biógrafos acerca da sua causa de morte. O
historiador Frantz Funck-Brentano, por exemplo, escreveu em sua obra
"Martim Lutero":"Os dois médicos, que o tinham tratado nos
últimos momentos, não puderam chegar a um acordo sobre a causa de sua morte,
opinando um por um ataque de apoplexia, outro por uma angina pulmonar."
A propósito, em 1521, por ocasião da Dieta de Worms (uma espécie de
audiência imperial), foi publicado pelo Imperador Carlos V o Edito de Worms,
pelo qual qualquer pessoa, ao menos teoricamente, estaria livre para matar
Lutero sem correr o risco de sofrer qualquer sanção penal, já que, pelo
referido Edito do Imperador, Lutero foi banido do Império como um fora-da-lei.
Por receio de que algo de mal pudesse acontecer a Lutero durante viagem de
regresso de Worms, Frederico III (ou Frederico, o Sábio), Príncipe-Eleitor da
Saxônia, ordenou que Lutero fosse capturado e levado para o Castelo de Wartburg,
onde estaria a salvo.
Provavelmente, foi por causa desse risco de morte que Lutero passou a
correr que seu amigo disse que "tentaram matá-lo". Encontra-se
sepultado na Igreja de Wittenberg em Wittenberg.
Obras importantes
As 95 Teses, de Lutero
Foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão, algo
que não era permitido até então sem especial autorização eclesiástica. Lutero,
contudo, não foi o primeiro tradutor da Bíblia para alemão. Já havia várias
traduções mais antigas. A tradução de Lutero, no entanto, suplantou as
anteriores porque foi uma forma unificada do Hochdeutsch (dialetos alemães da
região central e sul) e foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão
por meio da imprensa, desenvolvida por Gutenberg, em 1453.
Lutero introduziu a palavra alleyn, que não aparece no texto grego
original[53] no capítulo 3:28 da Epístola aos Romanos. O que gerou
controvérsia. Lutero justificou a manutenção do advérbio como sendo uma necessidade
idiomática do alemão como por ser a intenção de Paulo .
O latim, língua do extinto Império Romano, permanecia a lingua franca
européia, imediatamente conotada com o passado romano unificado, sendo também a
língua da Vulgata traduzida por São Jerônimo no século V, tal como tinham sido
transmitidos às províncias do Império. Por mais longínquas que fossem, nos
menos de cem anos que separam a oficialização da religião cristã pelo Imperador
Romano Teodósio I em 380 d.C. e a deposição do último imperador de Roma pelo
Germânico Odoacro, em 476 d.C. (data avançada por Edward Gibbon e
convencionalmente aceita como ano da queda do Império Romano do Ocidente), toda
a região do antigo Império, ao longo dos seguintes 500 anos, e de forma mais ou
menos homogênea, se cristianizou. O fim da perseguição à religião cristã pelo
império romano se deu em 313 d.C. com o [Édito de Milão.
No entanto, o domínio do latim era, no século XVI, no fim da Idade Média
(terminada oficialmente em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos Otomanos)
e princípio da chamada Idade Moderna, apenas o privilégio de uma percentagem
ínfima de população instruída, entre os quais os elementos da própria Igreja. A
tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de desobediência e um
pilar da sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista como
uma língua inferior, dos servos e ignorantes. É preciso adicionar que Lutero
não se opunha ao latim, e chegou mesmo a publicar uma edição revisada da
tradução latina da Bíblia (Vulgata). Lutero escrevia tanto em latim como em
alemão. A tradução da Bíblia para o alemão não significou, portanto, rejeição
do latim como língua acadêmica.
Foi também autor da polêmica obra "Sobre os judeus e suas
mentiras" (Von den Juden und ihren Lügen). Pouco conhecida, mas muito
apreciada pelo próprio Lutero, foi sua resposta a "Diatribe" de
Erasmo de Roterdã intitulada De servo arbitrio (Título da publicação em
português: Da vontade cativa).
Martinho Lutero defendia o princípio da mortalidade da alma contrastando
com a crença de João Calvino, que chamou à crença de Lutero "sono da
alma".
Reabilitação de Lutero?
Segundo a Revista editada em conjunto pela Igreja Evangélica Metodista
Portuguesa e a Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, Portugal
Evangélico, em sua edição nº 932[55] , de 2008, o Papa Bento XVI, poderia vir a
reabilitar Lutero. Segundo o texto, "Vozes autorizadas do Vaticano
adiantavam que o Papa reabilitaria Martinho Lutero argumentando que nunca teria
sido sua intenção dividir a Igreja mas sim lutar contra os abusos e práticas de
corrupção da mesma".
E complementa dizendo que "O
Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da
Unidade dos Cristãos, antecipava que estas declarações dariam nova coragem ao
diálogo ecuménico e contradiriam, até certo ponto, as afirmações feitas em
Julho do ano anterior denegrindo a fé, a ortodoxa e protestante, ao não
considerar estes dois ramos do cristianismo como verdadeiras Igrejas".
Porém, nesse mesmo ano, o site Agência Ecclesia, agência de notícias da Igreja
Católica em Portugal, desmentiu essa notícia citando uma declaração do diretor
da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi dada ao jornal
britânico Financial Times.[56] Segundo o religioso, essa afirmação “não tem
nenhum fundamento” e que o termo “reabilitação” nunca seria o correto neste
caso.
Depois dessas notícias não houve mais informações até o momento sobre uma
possível reabilitação de Lutero pela Igreja Católica.
Declaração conjunta sobre a doutrina da Justificação pela Fé
Em 31 de outubro de 1999, foi assinada uma Declaração Conjunta Sobre a
Doutrina da Justificação pela Fé , redigida e aprovada pela Federação
Luterana Mundial e pela Igreja Católica Apostólica Romana. O preâmbulo do
documento diz que a declaração "quer mostrar que, com base no diálogo, as
Igrejas luteranas signatárias e a Igreja católica romana estão agora em
condições de articular uma compreensão comum de nossa justificação pela graça
de Deus na fé em Cristo.
Esta Declaração Comum (DC) não
contém tudo o que é ensinado sobre justificação em cada uma das Igrejas, mas
abarca um consenso em verdades básicas da doutrina da justificação e mostra que
os desdobramentos distintos ainda existentes não constituem mais motivo de
condenações doutrinais". A declaração pode ser resumida neste trecho:
"Confessamos juntos que o pecador é justificado pela fé na acção salvífica
de Deus em Cristo; essa salvação lhe é presenteada pelo Espírito Santo no
baptismo como fundamento de toda a sua vida cristã. Na fé justificadora o ser
humano confia na promessa graciosa de Deus; nessa fé estão compreendidos a
esperança em Deus e o amor a Ele".
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