FUNDAMENTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Artigo Mauricio Berwald
ESTUDO DE ATOS (2)
Ao contrário do que supõem os inimigos da Obra Pentecostal, o
batismo com o Espírito Santo não é uma prática destituída de doutrina; acha-se
assentada num forte e inamovível fundamento bíblico-teológico. Os escritores do
Antigo e do Novo Testamento referem-se ao derramamento do Santo Espírito nestes
últimos dias que começaram no Pentecostes.
Moisés. Pressionado pelos
encargos de sua missão, Moisés queixa-se a Deus para que o alivie daquele
insuportável fardo (Nm 11.24,25). Responde-lhe o Senhor, então, que haverá de
repartir-lhe o Espírito entre setenta varões idôneos e incorruptíveis.
E os setenta puseram-se a profetizar, inclusive Eldade e Medade,
que se encontravam fora do arraial. Josué, porém, já enciumado pelo profeta,
fez-lhe uma recomendação carente de oportunidade acerca de ambos: “Senhor meu,
Moisés, proíbe-lho” (Nm 11.28). Voltando-se para seu valoroso servo, o servo de
Jeová repreendeu-o: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do SENHOR
fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.29).
Nesta passagem de Números, os israelitas já podiam ter um
vislumbre, embora pálido, do que seria o Pentecostes.
Isaías. Conhecido como o evangelista do
Antigo Testamento, Isaías vaticina a efusão do Espírito Santo: “Porque
derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca; derramarei o meu
Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes”
(Is 44.3).
Joel. Ele recebe o justo
epíteto de profeta pentecostal, descerra a História da Salvação e mostra a
descida do Espírito Santo como a inauguração do período conhecido como os
derradeiros dias: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre
toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos
terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Há de ser que todo aquele que
invocar o nome do SENHOR será salvo” (Jl 2.28,32a).
João Batista. O predecessor de Nosso
Senhor Jesus Cristo prediz o batismo com o Espírito Santo: “E eu, em verdade,
vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais
poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará
com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
Jesus. O Filho de Deus promete a
efusão do Espírito: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se
ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse
ele), de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós
sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At
1.4,5).
O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA DA IGREJA
O batismo com o Espírito Santo não é um modismo teológico nem
uma criação eclesial do Século 20. É uma promessa feita pelo Pai, ratificada
pelo Filho e operada pelo Consolador. A história da Igreja Cristã mostra que,
do Pentecostes em Jerusalém, aos dias de hoje, houve continuidade na dispensação
dessa tão inefável promessa.
Eis o testemunho de Agostinho (354-430): “Nós faremos o que os
apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o
Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas
línguas”.
Poderíamos citar outros testemunhos. Mas falta-nos espaço. O que
diremos de Lutero? Wesley? Finney?
OS OBJETIVOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
William W. Menzies, um dos mais notáveis teólogos das
Assembléias de Deus dos Estados Unidos, leciona acerca da experiência
pentecostal: “O batismo com o Espírito Santo permite-nos experimentar uma
plenitude espiritual (Jo 7.37-39; At 4.8), uma reverência mais profunda por
Deus (At 2.43; Hb 12.28) e uma intensa consagração por Cristo, por sua Palavra
e pelos perdidos” (Mc 16.20).
Poder e unção a fim de proclamar o Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
O evangelista, missionário e teólogo
metodista Stanley Jones é incisivo (1884-1973): “A vida do cristão começa no
Calvário, mas o trabalho eficiente, no Pentecostes”.Os apóstolos do Cordeiro, antes do Pentecostes, andavam de
timidez em timidez. Já revestidos de poder, correram a alcançar Jerusalém, a
Judeia e os confins da terra com o evangelho. E o que diremos de Daniel Berg e
Gunnar Vingren que, intrépida e corajosamente, percorreram o Brasil empunhando
a flama pentecostal? (At 1.8).
Reverência diante das coisas de Deus. A
efusão do Espírito Santo levou os discípulos, agora como Igreja, a devotar uma
reverência ainda maior ao Senhor Jesus Cristo: “E perseveravam na doutrina dos
apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia
temor, e muitos prodígios e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42,43).
O autêntico avivamento pentecostal plenifica nossa reverência a
Deus.
A experimentação da plenitude espiritual.
Não
podemos conformar-nos com a nossa vida espiritual. Deus tem muito mais a
dar-nos, conforme promete o Senhor Jesus: “Se alguém tem sede, que venha a mim
e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do
seu ventre. E isso disse Ele do Espírito, que haviam de receber os que nele
cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter
sido glorificado” (Jo 7.37-39).
“Falar em Línguas (Glossolalia)
‘Glossolalia’
é um termo técnico freqüentemente utilizado para o falar em línguas; é uma
forma combinada das palavras gregaslalia (‘discurso’,
‘fala’) e glossa (‘língua’,
‘linguagem’). O fenômeno de falar em línguas, ao contrário do vento e do fogo,
é integral para os discípulos que são cheios do Espírito. ‘E todos foram cheios
do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia a verbalização inspirada’ (At 2.4 — [tradução do autor]).
O registro diz que os discípulos ‘começaram [archomai] a falar noutras
línguas’ (At 2.4). Não existe indicação de que os discípulos tenham iniciado,
ou de que eles mesmos ‘começaram’ o falar em línguas. [...] O significado de
‘eles começaram a falar em línguas’ é simplesmente ‘eles falaram em línguas’.
[...] Os discípulos em Pentecostes falaram em línguas ‘conforme o Espírito ia
dando-lhes verbalização inspirada’ [tradução do autor], não sob o próprio ímpeto
deles. A expressão ‘conforme’ (kathos)
pode ser traduzida como ‘na medida em que’ (Ver Mc 16.17; At 2.4; 10.46; 19.6;
1 Co 12.10,28,30; 13.8; 14.2,4-6,13,14,18,19,22,23,26)”.
(notas PALMA, A. D. O Batismo no Espírito Santo e Com
Fogo. Os
Fundamentos Bíblicos e a Atualidade da Doutrina Pentecostal.1.ed.
RJ: CPAD, 2002, pp.61-63).
O Testemunho Pessoal de Donald Gee.
“[...]
numa noite de quarta-feira, em março de 1913, toquei órgão no culto de meio de
semana na igreja Congregacional (que terminava às 21h pontualmente), e depois
corri para desfrutar do restante da reunião de Highbury New Park. Depois do
término da reunião (aproximadamente às 22h30min), o irmão que vinha dirigindo o
culto, um respeitável pastor irlandês, colocou-me à prova numa espécie de
catecismo.
— Tem certeza da salvação?
— Sim.
— Já é batizado? — Sim.
— Já é batizado com o Espírito Santo?
— Não.
— E por que não?
Expliquei-lhe minha aversão a ‘esperas’ que pareciam uma
eternidade. Ele incentivou-me dizendo que isso não era necessário. E, abrindo
sua Bíblia, leu para mim Lucas 11.13, e depois Marcos 11.24. Então perguntou-me
se eu acreditava nesses versículos. Garanti-lhe que sim e, no momento em que
demonstrei-lhe minha fé, era como se Deus jorrasse do Céu para o interior do
meu coração, uma certeza absoluta de que essas promessas estavam sendo
realmente cumpridas em mim. [...]
Desde aquele instante, minha alegria e satisfação foram
intensas, [...]. Experimentei uma nova plenitude acima das palavras, e descobri
que tornava-me cada vez mais difícil adequar à minha voz todo o louvor
existente em minha alma. Essa situação continuou durante duas semanas
aproximadamente [...].
Um louvor crescente afluía agora em minha alma, também nas
reuniões, até que comecei a falar em outras línguas publicamente. Cantava muito
em línguas também quando a pequena congregação era levada pelo Espírito Santo a
esse fim durante nossos momentos de oração e adoração. Toda minha experiência
cristã foi revolucionada. Eu não procurava mais aqui e ali por uma satisfação
espiritual — eu a havia encontrado. Todo meu prazer estava na oração, no estudo
da Bíblia e nos irmãos em Cristo. Isso aconteceu apenas seis semanas antes do
meu casamento, e um velho pastor batista, que veio para tentar questionar-me
sobre minha recente bênção, teve de admitir que nunca havia conhecido um rapaz
tão próximo de um acontecimento feliz, e ainda assim tão interessado nas coisas
espirituais. Minha esposa, felizmente, sentia tudo da mesma forma que eu; e nós
nos alegrávamos juntos”.
(notas GEE, D. Como
receber o Batismo no Espírito Santo. Vivendo e testemunhando com poder. 1.ed.
CPAD, 2001, pp.13-15).
Comunhão na Igreja
Um dos sinais da atuação do Espírito Santo na Igreja Primitiva
era a comunhão entre os seus membros. Mais que oferecer parte ou o todo dos
bens que possuíam, os cristãos mantinham-se unidos por um vínculo comum: eles
pertenciam ao corpo místico de Cristo — a Igreja de Deus. A comunhão faz da
Igreja um organismo espiritual perfeito de homens e mulheres que, apesar de
suas procedências étnicas e diversidades culturais, sentem-se e agem como
irmãos. Somente seremos reconhecidos como filhos de Deus se cuidarmos uns dos
outros e mutuamente nos socorrermos.
A comunhão levou aqueles crentes a partilharem o que tinham, abrindo
as portas para a atuação do Espírito Santo. Assim, ia o Senhor acrescentando o
número dos santos tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria até os
confins daquelas terras.
A COMUNHÃO DOS SANTOS
A comunhão observada na Igreja de Cristo não é um mero fenômeno
social. É o resultado da ação direta do Espírito Santo na vida daqueles que
recebem a Jesus como o seu único e suficiente Salvador (Ef 2.19). É uma
comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da congregação dos filhos de
Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se fossem um só homem (Jz
20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível, no Espírito Santo
e assim estará para todo o sempre.
O que é a comunhão. A comunhão é o
“vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os
cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo” (Dicionário Teológico,
CPAD). A palavra grega koinonia traz
a ideia de cooperação e relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão
da Igreja Primitiva era completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas
também reuniram-se para socorrer os mais necessitados.
A comunhão de sua igreja tem como modelo os cristãos de
Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento social?
A unidade do corpo de Cristo. Eis
um dos mais preciosos capítulos da doutrina da Igreja: sua unidade. O apóstolo
Paulo tinha uma perfeita compreensão desse mistério (Ef 4.1-7). Somente pelo
Espírito Santo podemos compreender a unidade de judeus, árabes, gregos e
bárbaros que, apesar de suas diferenças culturais e étnicas, não apenas
sentem-se e agem como irmãos, mas acham-se espiritualmente vinculados num só
corpo pela ação direta e distintiva do Espírito Santo.
Cada membro, neste corpo, tem uma função específica, mas todos
trabalham pelo bem comum: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo
também” (1 Co 12.12). Quando um de seus membros sofre, todos sofrem com ele.
Por isso, preocupamo-nos uns com os outros e mutuamente nos socorremos (Ef
4.1-6). Você tem preservado a unidade do Corpo de Cristo? Ou tem promovido
divisões e dissensões entre os santos?
A comunhão da Igreja agrada a Deus. Deus
quer e exige que seu povo permaneça unido (1 Co 1.10). Em sua oração sacerdotal,
o Senhor Jesus roga ao Pai pela unidade de seus discípulos (Jo 17.11).
Portanto, se mantemos o vínculo da comunhão, agradamos a Deus (Ef 4.3). Sim,
esse é o vínculo da perfeição que tem como base o amor,
conforme ensina o apóstolo Paulo: “com toda humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4.2).
A COMUNHÃO CRISTÃ CARACTERIZA-SE PELA UNIDADE
A comunhão cristã constitui-se num grande mistério. É algo que a
própria sociologia não pode explicar. Nem o próprio Israel de Deus, no Antigo
Testamento, logrou alcançar tamanha perfeição e excelência. Aliás, as
diferenças entre as doze tribos tornou-lhes impossível a unidade (1 Rs
12.1-16). Vejamos, pois, em que consistia a comunhão da Igreja Primitiva. Que
este seja o nosso modelo até que o Cristo de Deus venha buscar-nos.
Unidade doutrinária. Não
pode haver perfeita união sem unidade doutrinária. Informa-nos Lucas que os
cristãos primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Não era
uma doutrina qualquer; tratava-se do ensinamento emanado do colégio apostólico
constituído pelo Senhor Jesus Cristo. Paulo, ao discorrer sobre o mistério do
corpo de Cristo, fala de uma só fé (Ef 4.5) que deve ser preservada zelosamente
pelos santos (Jd v.3).
Na autêntica comunhão cristã, por conseguinte, não há lugar para
heresias nem apostasias. Estejamos, pois, sempre alertas. Nestes últimos dias,
muitos aparecerão em nosso meio dissimulando suas inverdades doutrinárias, com
o único intuito de destruir a comunhão dos santos (2 Ts 2.3; 2 Pe 2.1).
Unidade na própria comunhão. A
unidade doutrinária conduz a uma comunhão perfeita. Isto significa que não pode
haver genuína comunhão cristã com dois ou três pensamentos teológicos díspares
e contrastantes. As seitas aparecem quando um indivíduo, ou grupo, apresenta
uma doutrina contrária aos profetas e apóstolos de Nosso Senhor. Lembra-se da
doutrina de Balaão? (Jd v.11; Ap 2.14). E dos ensinos de Jezabel? (Ap 2.20).
Muitos são os que mergulham nas profundezas de Satanás e apresentam-se como
especialistas no conhecimento de Deus (Ap 2.24).
Se quisermos, portanto, uma comunhão perfeita, lutemos por
manter a sã doutrina. A heresia causa divisão. Ou melhor: a heresia em si já é
uma divisão. Esta recomendação de Paulo não deve ser esquecida: “Ao homem
herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3.10).
Unidade no partir do pão. Os
crentes primitivos mantinham uma comunhão tão intensa entre si que se reuniam
com alegria e singeleza de coração para celebrar a Santa Ceia. Era o seu
“partir do pão” (At 2.42). Eles em Cristo e Cristo em cada um deles. Pode haver
comunhão mais plena? Não era simplesmente uma cerimônia; era a festa na qual
lembravam a morte e ressurreição de Jesus — a expressão mais sublime do amor
divino.
Voltemos a participar, ou melhor, a celebrar a Santa Ceia como a
reunião mais importante e solene da Igreja. Todas as vezes que nos congregamos
com essa finalidade, lembramo-nos de que Cristo morreu e ressuscitou e
certificamo-nos de que, em breve, virá Ele arrebatar-nos.
Unidade nas orações. Informa-nos
Lucas, também, que a comunhão da igreja Primitiva tinha como base a oração. O
autor sagrado é enfático: “e nas orações” (At 2.42). Isto significa que as
reuniões de clamor e intercessão eram-lhes frequentes e poderosas. Haja vista
que, certa ocasião, a força da oração daqueles santos chegou a abalar a
estrutura do prédio em que estavam reunidos (At 4.31). Sem oração, a comunhão
da Igreja perde a sua força e influência. Sua igreja é uma comunidade de clamor
e intercessão? Ela ainda move o coração de Deus? É hora de clamar!
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