Edward Irving
Artigo Mauricio Berwald
fonte wikipedia
Edward Irving (4 de agosto de 1792 – 7 de dezembro de 1834) foi um
ministro religoso escocês e pai do movimento restauracionista que leva o seu
nome.
Irving nasceu en Annan, foi educado na Universidade de Endiburgo.
Tornou-se ministro da Igreja da Escócia ordenado em 1821. Pregador eloquente e
popular, atraiu adeptos em Londres, onde em 1827 inaugurou uma igreja
presbiteriana em Regent Square.Estudioso das profecias bíblicas, traduziu Manuel Lacunza para o inglês e
pregava o iminente retorno de Jesus Cristo. Suas interpretações, principalmente
que nos último dias haveria uma nova manifestação carismática do Espírito
Santo, valeram sua expulsão do presbitério de Londres em 1830.
Os seguidores de Irving organizaram a Holy Catholic Apostolic Church,
intencionando difundir a sua mensagem entre os protestantes, católicos e
ortodoxos. Visavam o restabelecimento de apóstolos, a profecia, o selo
(imposição das mãos para receber o Espírito Santo) e o dom de línguas
(glossolalia religiosa). Por não manifestar esses sinais carismáticos, Irving
acabou perdendo sua influência no movimento. Morreria logo em 1834.
Falecido prematuramente aos 42 anos de idade, Edward Irving, um ministro
da Igreja da Escócia (Presbiteriana), foi uma das mais célebres e
controvertidas personalidades religiosas do século XIX. Pregador eloqüente e
imensamente popular, pastor devotado e amado pelo seu rebanho, homem de
profunda piedade cristã, ele veio a envolver-se em controvérsias teológicas que
acarretaram a sua deposição do ministério presbiteriano e a subseqüente
formação de uma nova confissão religiosa, a Igreja Católica Apostólica.
Com o passar do tempo, aquele que despertara tantas paixões foi sendo
gradativamente esquecido ou então lembrado apenas como um fanático, herege ou
exibicionista. Em décadas recentes, todavia, tem ocorrido no mundo anglo-saxão
uma redescoberta de Irving e um novo interesse pela sua vida e obra. Não só tem
ele recebido atenção como um importante precursor do moderno movimento
carismático, como um número crescente de estudiosos têm entendido que Edward
Irving foi um teólogo consistente e profundo.
O objetivo deste ensaio é proporcionar uma visão introdutória da vida e
realizações deste líder cristão, destacar alguns elementos básicos da sua
reflexão teológica e fazer uma rápida avaliação crítica de suas idéias e
posicionamentos.
Síntese biográfica
Muitas biografias de Edward Irving têm sido escritas ao longo dos
anos.(1) Em resumo, Irving nasceu no dia 14 de agosto de 1792 na pequena cidade
de Annan, na Escócia, sendo o seu pai um humilde curtidor. Ainda menino, foi
aluno de Adam Hope, um professor conceituado e piedoso que alguns anos mais
tarde também seria mestre de Thomas Carlyle, o futuro literato.
Em virtude do alto valor atribuído à educação na cultura presbiteriana
escocesa, aos 13 anos Irving foi estudar na Universidade de Edimburgo, onde se
destacou nos clássicos e na matemática. Nessa época, iniciou também os seus
estudos teológicos, que tiveram prosseguimento após a sua formatura, enquanto
trabalhava como professor. Estes estudos eventualmente o levaram a decidir-se
pelo ministério sagrado.
Após uma série de desapontamentos, Irving foi convidado pelo ilustre Rev.
Thomas Chalmers para ajudá-lo no seu trabalho ministerial em Glasgow. Chalmers
(1780-1847), provavelmente o maior líder evangélico escocês em todo o século
XIX, ouvira Irving pregar e ficara impressionado com as suas qualidades. Em
outubro de 1819 Irving passou a assisti-lo na sua grande obra social e
religiosa junto à população carente daquela cidade.
Em julho de 1822, Irving, então com 30 anos, foi convidado para pastorear
uma pequena congregação da Igreja da Escócia em Londres, a Caledonian Chapel.
No início do ano seguinte, as multidões que se reuniam para ouvi-lo eram tão
numerosas que eventualmente um novo templo precisou ser construído, a majestosa
catedral de Regent Square. Em 1827, quando o novo santuário foi inaugurado,
cerca de mil pessoas freqüentavam os cultos regularmente, fazendo dela a maior
igreja da capital inglesa. Nesse ínterim, em outubro de 1823, Irving havia
contraído núpcias com Isabella Martin, com a qual teve sete filhos, quatro dos
quais morreram na infância.
As razões da grande celebridade de Irving foram várias, a começar pelos
seus extraordinários dotes de oratória, voz possante e bem treinada, aparência
física atraente e personalidade fascinante. Acima de tudo, porém, era a sua
mensagem o maior atrativo para as multidões que buscavam ouvi-lo a cada semana
— seu zelo ardente pelo evangelho de Cristo, sua denúncia intransigente do
materialismo e da fria respeitabilidade da sociedade contemporânea. No dizer de
um estudioso, "nenhum ídolo e nenhum pecado escapavam do açoite profético
de suas denúncias abrasadoras."
Por outro lado, é de se destacar que, mesmo no auge da sua popularidade,
Irving também pregava regular e sistematicamente sobre questões doutrinárias,
como foi o caso de uma série de mensagens sobre a Trindade, no final de 1825. O
fato é que, por alguns anos, a alta sociedade londrina acorreu para ouvi-lo,
inclusive distintas personalidades do mundo político e intelectual, como
Canning, Lord Liverpool, Bentham e Coleridge. Embora os seus sermões se
estendessem em média por
duas horas, era preciso reservar lugares com muitos
dias de antecedência.
A partir de 1825, Irving começou uma longa associação com um grupo de
amigos que se reuniam na casa do banqueiro Henry Drummond, em Albury Park, para
o estudo de escatologia. Dada a condição da igreja e do país, a firme convicção
de Irving de que a volta de Cristo era iminente levou-o com seus companheiros
de Albury e um pequeno grupo da igreja a "buscarem o Senhor", pedindo
um derramamento do Espírito Santo.
No final de 1827 começaram os problemas de Irving, quando o Rev. Henry
Cole, um ministro anglicano, o acusou publicamente de heresia perniciosa. Por
dois anos Irving vinha expondo a sua opinião de que Cristo havia assumido uma
natureza humana decaída, corruptível. Em novembro de 1830 o Presbitério de
Londres declarou Irving culpado de heresia. No entanto, os oficiais da sua
igreja lhe deram respaldo e ele pode continuar o seu ministério sem
impedimento.Enquanto isto, no início de 1830 haviam ocorrido manifestações
carismáticas na Escócia e, no final de 1831, surgiram ocorrências de línguas e
profecias nos cultos de Regent Square. Irving, crendo serem tais manifestações
a operação dos dons do Espírito Santo, recusou-se a proibi-las. Em março de
1832, o Conselho que antes o apoiara denunciou-o perante o presbitério por
transgredir a norma de que somente pessoas ordenadas ou nomeadas pela Igreja da
Escócia podiam dirigir o culto público.
Poucas semanas mais tarde Irving viu-se afastado do pastorado de Regent
Square. O grupo que o acompanhou, mais de 600 pessoas, eventualmente deu origem
a uma nova denominação, a Igreja Católica Apostólica, que não foi fundada por
Irving, embora certamente tenha recebido a sua influência. Irving não chegou a
ocupar nenhum lugar de destaque na nova entidade, caracterizada por uma
eclesiologia desenvolvida e uma liturgia altamente elaborada, além da sua
ênfase carismática.
No mesmo ano, a Assembléia Geral da Igreja da Escócia instruiu o
Presbitério de Annan, o concílio que ordenara Irving, a julgá-lo pelo ensino
concernente à natureza humana de Cristo. No dia 13 de março de 1833 ele foi
deposto do ministério. Em 7 de dezembro do ano seguinte Edward Irving veio a
falecer em Glasgow, vitimado pela tuberculose.
Reflexão teológica
Edward Irving foi um ávido estudioso da teologia cristã, com uma predileção
especial pelos Pais da igreja antiga. Os resultados da sua própria reflexão
podem ser vistos nos muitos sermões que deixou e em um grande número de outros
escritos. Orador e escritor extremamente prolixo, suas obras somam milhares de
páginas, muitas das quais publicadas postumamente.Os principais interesses de
Irving concentram-se nas áreas da cristologia, pneumatologia e escatologia, com
ramificações em todas as demais áreas da teologia cristã. Nós só podemos dar
aqui os contornos básicos do seu pensamento, por vezes bastante complexo.
O aspecto mais peculiar da reflexão de Irving é o seu entendimento da
encarnação e de suas implicações soteriológicas. Ele afirmou nos termos mais
incisivos, muitas vezes chocantes, o caráter radical da humanidade de Jesus e,
neste sentido, argumentou que na encarnação o Filho não assumira uma humanidade
perfeita, incorruptível, mas a própria natureza humana decaída. Se Jesus nasceu
na história humana de uma mãe humana, ponderou Irving, então o seu corpo
necessariamente consistia de matéria que partilhava do caráter decaído do
mundo. E acrescentou: "Que Cristo assumiu nossa natureza decaída é
inteiramente manifesto, pois não existe outra para assumir."
A preocupação principal de Irving ao adotar este ensino era soteriológica.
Ele alegou que se Cristo não tivesse assumido a natureza humana a este ponto,
ele não teria sido um com a humanidade e não poderia ter sido tentado; Ele
também não poderia ter curado, reconciliado e redimido os seres humanos. Neste
aspecto, Irving elaborou alguns pontos de doutrina que tinham se manifestado no
pensamento dos antigos Pais da igreja, e que foram sintetizados na concepção
segundo a qual Cristo não poderia redimir o que ele não assumiu.
Paradoxalmente, Irving afirmou em termos não menos incisivos a perfeição
e a plena santidade da pessoa de Jesus — como o divino Filho de Deus, a pessoa
de Cristo só podia ser santa e incorruptível. E aqui nos deparamos com outro
aspecto intrigante da teologia de Irving. Segundo ele, quando o Filho
humilhou-se a si mesmo e se encarnou, a natureza corruptível por ele assumida
foi inteiramente santificada graças à atuação do Espírito Santo. Em outras
palavras, Irving entendeu que a natureza humana de Cristo, embora tendo a mesma
carne corruptível de sua mãe, foi preservada sem pecado e incorruptível em
virtude de ter sido vivificada e habitada pelo Espírito Santo. Ele afirmou a
certa altura: "Esta é a substância do nosso argumento: que a sua natureza
humana [de Cristo] era santa da única maneira em que a santidade existe ou pode
existir após a queda..., a saber, através da atuação interna ou dinamização do
Espírito Santo."
Através do estudo da pessoa de Cristo nos Evangelhos, Irving concluiu que
o Filho não realizou milagres nem pregou o evangelho do reino graças à sua
divindade intrínseca, mas através do poder do Espírito Santo que lhe foi
conferido pelo Pai no seu batismo. E o que Cristo desfrutou, cria ele, foi
prometido a toda a igreja. Esta perspectiva, aliada à sua firme convicção
pré-milenista no tocante à iminente volta de Cristo, o levou a esperar o
derramamento do Espírito Santo como a única maneira de repelir a maré de
impiedade que inundava a sociedade da sua época, e de fazer a última colheita
de almas antes do retorno do Filho do homem.
As limitações do escopo deste trabalho não nos permitem analisar outros
aspectos do extenso e abrangente sistema teológico desenvolvido por Irving,
como, por exemplo, a complexa relação por ele traçada entre o Filho
preexistente e a concepção bíblica do ser humano.
Avaliação
A teologia de Edward Irving e as ações pastorais decorrentes desta
teologia têm sido avaliadas diversamente pelos estudiosos atuais. Em parte,
pelo fato de Irving ter sido tratado de maneira descaridosa no passado, hoje em
dia há uma tendência de vê-lo por um prisma simpático e receptivo.
Evidentemente, esta atitude é ainda mais explícita quando o analista é filiado
ao movimento pentecostal ou carismático. É o caso, por exemplo, de David Allen
(citado anteriormente), professor de um seminário da Assembléia de Deus na
Inglaterra; Larry Christenson, conhecido luterano carismático dos Estados
Unidos;(12) e particularmente, C. Gordon Strachan, um pastor carismático da
Igreja da Escócia.
No aspecto positivo, é inegável que a ênfase dada por Irving à humanidade
de Jesus Cristo, bem como à centralidade da atuação do Espírito Santo na sua
pessoa e ministério, é algo salutar e necessário para a igreja de todos os
tempos. David Dorries argumenta que tanto os pentecostais clássicos quanto os
carismáticos ou neopentecostais teriam muito a beneficiar-se com a forma de
"pentecostalismo" radicalmente cristocêntrico proposto por Irving.
Uma importante contribuição prática de Irving está na sua ousadia em denunciar
o materialismo e as filosofias ímpias do seu tempo. Porque ele pregava um
Cristo radicalmente humano e comprometido com aqueles a quem veio salvar,
Irving entendia que a função da igreja não era apoiar o status quo ou transigir
com os valores contemporâneos. De igual modo, tanto individual quanto
coletivamente, a capacitação e unção do Espírito foi vista por ele como a
resposta à debilidade crônica da igreja e à sua influência cada vez menor na
sociedade.
Estas são afirmações com as quais podemos concordar. O problema está na
premissa básica de Irving e em algumas de suas implicações. Vale relembrá-las:
ao encarnar, o Filho de Deus assumiu uma natureza humana decaída, corruptível;
no entanto, esta natureza foi inteiramente santificada pelo Espírito Santo e,
portanto, Cristo ficou sempre isento de pecar; o mesmo Espírito que preservou a
Cristo incorruptível e o habilitou a realizar milagres e a pregar o evangelho,
pode santificar os cristãos e capacitá-los através do seus dons para a obra de
Deus no final dos tempos.
Alguns autores, sem negar os aspectos apreciáveis da personalidade, vida
e ministério de Irving, têm questionado estes aspectos radicais e inusitados da
sua teologia. Entre eles, destacamos Donald MacLeod e Arnold Dallimore.
As posições de Irving quanto à humanidade de Cristo têm sido objeto de
várias críticas: sua linguagem é muitas vezes extremada, carente de equilíbrio
e ponderação; ele parece minimizar a diferença que existe entre Cristo e os
cristãos; e, acima de tudo, conflitam-se desnecessariamente com a doutrina
cristã histórica. Tanto as Escrituras quanto as formulações históricas da fé
cristã nada dizem sobre a suposta humanidade decaída de Cristo e a santificação
da mesma pelo Espírito Santo.
MacLeod faz uma série de considerações oportunas sobre a cristologia de
Irving. Quando Gregório Nazianzeno afirmou que "o que não é assumido não é
redimido," ele queria acentuar, ao contrário dos nestorianos, que Cristo
tomou para si um pneuma (espírito) humano, aí incluídos o intelecto, a vontade
e as afeições. Aliás, o próprio Irving estaria sujeito à acusação de
nestorianismo ao afirmar que o que era decaído não era a pessoa de Jesus, mas
somente a sua natureza humana.
Quanto à alegação de que, a menos que Cristo tivesse uma natureza humana
decaída, ele não poderia ter sido semelhante a nós e não poderia ter sido
tentado, o próprio Irving admitiu que havia alguma descontinuidade entre Cristo
e nós, sendo ele sem pecado. A formulação bíblica e histórica permanece válida:
Cristo, em sua auto-humilhação, experimentou as limitações próprias da sua
humanidade (sofrimento, mortalidade, perda da comunhão com Deus na cruz). Ele
nunca conheceu pecado, mas foi feito pecado por nós (2 Co 5.21; Hb 4.15; 7.26).
Com relação à sua pneumatologia, Irving causou males a si próprio e às
suas ovelhas por causa de sua crença na possibilidade de novas revelações e de
sua preocupação excessiva com as manifestações mais espetaculares dos dons
espirituais.(18) Ironicamente, Irving nunca exerceu pessoalmente os dons de
línguas, interpretação ou profecia, ainda que cresse serem os mesmos expressões
legítimas da atuação do Espírito Santo na igreja. Nos seus últimos meses de
vida, Irving estava convicto de que seria curado da enfermidade que o
acometera; porém, a cura não veio e ele deixou de tomar precauções que talvez
pudessem ter evitado a sua morte trágica e prematura.
Todavia, mesmo os críticos mais rigorosos reconhecem a grande sinceridade
e autenticidade de Irving e a sua plena consagração a Cristo. Num célebre
sermão missionário que pregou, ele proferiu as palavras que se encontram nas
páginas de abertura de algumas de suas biografias: "Um homem com um só
pensamento — o evangelho de Cristo; um homem com um só propósito — a glória de
Deus; contente em ser considerado um louco — por Cristo".
Como um orador e escritor apaixonado e polêmico,
Irving foi e continua sendo objeto de críticas as mais variadas. Diversos
autores, mesmo simpatizantes, têm deplorado atitudes de Irving como o seu
exagerado pessimismo pré-milenista, seu gosto por novidades, sua falta de
equilíbrio no trato de certas questões eclesiásticas e pastorais. A sua vida e
ministério apresentam sérias advertências para todos os líderes cristãos no
desempenho de suas responsabilidades ministeriais.
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