Orígenes
Artigo Mauricio Berwald
Fonte Wikipédia.
Orígenes (em grego Ὠριγένης), cognominado Orígenes de Alexandria ou
Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão (Alexandria, Egipto, c. 185 —
Cesareia, ou, mais provavelmente, Tiro, 253 ), foi um teólogo, filósofo neoplatônico
patrístico e é um dos Padres gregos.
Um dos mais distintos pupilos de Amônio de Alexandria , Orígenes foi
um prolífico escritor cristão, de grande erudição, ligado à Escola Catequética
de Alexandria, no período pré-niceno.
Inspirados em Orígenes e na Escola de Alexandria, muitos escritores
cristãos desenvolveram suas obras: Sexto Júlio Africano, Dionísio de
Alexandria, o Grande, Gregório Taumaturgo, Firmiliano, bispo de Cesareia
(Capadócia), Teognosto, Pedro de Alexandria, Pânfilo e Hesíquio.
Orígenes de Alexandria não deve ser confundido com o filósofo Orígenes, o
Pagão (210-280), mais jovem e também integrante da Escola de Alexandria, porém
discípulo de Plotino.
:
Biografia
O maior erudito da Igreja antiga - segundo J. Quasten - nasceu de uma
família cristã egípcia e teve como mestre Clemente de Alexandria.Assumiu, em
203, a direcção da escola catequética de Alexandria - fundada por um estóico
chamado Panteno, que se havia convertido à mensagem de Jesus - atraindo muitos
jovens estudantes pelo seu carisma, conhecimento e virtudes pessoais.
Depois de ter também frequentado, desde 205, a escola de Amônio Sacas,
fundador do neo-platonismo e mestre de Plotino, apercebeu-se da necessidade do
conhecimento apurado dos grandes filósofos.
No decurso de uma viagem à Grécia, no ano de 230, foi ordenado sacerdote
na Palestina pelos bispos Alexandre de Jerusalém e Teoctisto de Cesareia.
Em 231, Orígenes foi forçado a abandonar Alexandria devido à animosidade
que o bispo Demétrio lhe devotava pelo facto de se ter castrado e convocou o
Concílio de Alexandria (231) com esta finalidade. Também, contribui para esse
facto o de Orígenes ter levado ao extremo a apropriação da filosofia platónica,
tendo sido considerado herético.
Orígenes, então, passou a morar num lugar onde Jesus havia muitas vezes
estado: Cesareia, na Palestina, onde prosseguiu suas actividades com grande
sucesso, abrindo a chamada Escola de Cesareia. Na sequência da onda de
perseguição aos cristãos, ordenada por Décio, Orígenes foi preso e torturado, o
que lhe causou a morte, por volta de 253.
Os seus ensinos foram condenados ainda pelo Concílio de Alexandria de 400
e pelo Segundo Concílio de Constantinopla, em 533, o que demonstra terem
perdurado até ao século VI.
A produção teológica
Orígenes escreveu - diz-nos São Jerónimo em De Viris Illustribus - nada
menos que 600 obras, entre as quais as mais conhecidas são: De Princippis;
Contra Celso e a Héxapla. Entre os seus numerosos comentários bíblicos devem
ser realçados: Comentário ao Evangelho de Mateus e Comentário ao Evangelho de
João. O número das suas homílias que chegaram até aos dias de hoje ultrapassam
largamente a centena.
Traços de um pensamento
O Espírito sopra onde quer (Jo 3, 8). Isto significa que o Espírito é um
ser substancial e não, como alguns afirmam, uma simples força ou actividade de
Deus sem existência individual. O Apóstolo (São Paulo), depois de enumerar os
dons do Espírito, prossegue: "um só e o mesmo Espírito opera todas estas
coisas, repartindo particularmente a cada um de acordo com a sua vontade"
(1 Cor 12, 11). Portanto, se actua e distribui de acordo com a sua vontade, é
um ser substancial ativo, e não uma mera actividade ou manifestação.Orígenes,
além dos seus trabalhos teológicos, dedicou-se ao estudo e à discussão da
filosofia, em especial Platão e os filósofos estóicos.
No seu pensamento, podemos referir a tese da pré-existência da alma e a
doutrina da "apocatastase", ou seja, da restauração universal
(palingenesia), ambas posteriormente condenadas no Segundo Concílio de
Constantinopla, realizado em 553, por serem formalmente contrárias ao núcleo
irredutível do ensinamento bíblico -, embora estudiosos modernos e
contemporâneos reconheçam inequivocamente que a primeira era mais «atribuída a
Orígenes (por outros) do que propriamente defendida por ele».
Segundo o renomado livro sobre a História da Filosofia, de Reale e
Antiseri,[4] a condenação de algumas doutrinas de Orígenes se deu muito pelos
exageros cometidos pelos seus discípulos, os origenistas.
Ao contrário do que afirmam certos teosofistas - como, por exemplo Geddes
MacGregor no seu livro de 1978 "Reincarnation in Christianity: A New
Vision of the Role of Rebirth in Christian Thought" -, Orígenes era
totalmente contrário à doutrina da metempsicose (renascimento do ser humano em
animais). Profundo conhecedor deste conceito a partir da filosofia grega,
afirma que a metempsicose (transmigracão) "é totalmente alheia à Igreja de
Deus, não ensinada pelos Apóstolos e não sustentada pela Escritura"
("Comentário ao Evangelho de Mateus" XIII, 1, 46–53).
Orígines, embora não duvidando de que o texto sagrado seja
invariavelmente verdadeiro, insiste na necessidade da sua correcta
interpretação. Assim, teve a suficiente percepção para distinguir três níveis
de leitura das escrituras: 1- o Literal 2- o Moral; 3- o Espíritual, que é o
mais importante e também o mais difícil. Segundo Orígenes, cada um destes
níveis indica um estado de consciência e amadureciamento espiritual e
psicológico.
Santíssima Trindade
Orígenes como é comum nos escritores cristãos influenciados pelas
doutrinas derivadas de Platão coloca as Idéias platônicas na Mente Divina, na
Sabedoria de Deus. O Filho de Deus, Segunda pessoa da Trindade, é a Sabedoria
biblica: Mente de Deus, substancialmente subsistente:
[…] Deus sempre
foi Pai, e sempre teve o Filho unigênito, que, conforme tudo o que expusemos
acima, é chamado também de sabedoria (…) nesta sabedoria que sempre estava com
o Pai, estava sempre contida, preordenada sob a forma de idéias, a criação, de
modo que não houve momento em que a idéia daquilo que teria sido criado não
estivesse na sabedoria…(Orígenes. Os princípios, livro I, 4, 4-5.).Influenciado
pelo medioplatonismo e pelo inicio do neoplatonismo Orígenes admite certa
subordinação do Filho ao Pai, é importante ressaltar que tal subordinação foi
exagerada por seus adversários. E que apesar de discordar da perfeita paridade
entre o Pai e o Filho, na História da Filosofia de Giovanni Reale afirma que
Orígenes defende que o Pai e o Filho possuem a mesma essência.
Ao contrário dos homens que tornaram-se filhos de Deus pela adoção do
Espírito: "Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para
viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual
clamamos: Aba! Pai!" (Romanos 8,15).
Orígenes afirma que Cristo é Filho por natureza, "o Filho unigênito
do Pai". (Orígenes. Os princípios, livro I, 4, 4-5).
O que vai configurar o pensamento do Primeiro Concílio de Niceia, com a
ressalva que Cristo Se fez menor do que o Pai quando Se encarnou até a morte na
cruz, quando ressuscita ao terceiro dia e Se senta segundo Suas palavras à
direita do Poder (Mt 26, 64).
Batismo
Orígenes também atesta que a Igreja como sempre fez[carece de fontes]
deve batizar as crianças: "A Igreja recebeu dos Apóstolos a tradição de
dar batismo também aos recém nascidos". (Epist. ad Rom. Livro 5,9).
A Contra Celso e a exegese alegórica
Orígenes dedicou uma de suas obras contra Celso, considerado um dos
primeiros críticos da doutrina do cristianismo. Do que sabemos de Celso foi o
próprio Orígenes quem nos deu a conhecer, inclusive a sua obra a Alêthês Lógos
(O logos verdadeiro) e o livro "Discurso contra os Cristãos", obra em
que Celso coloca claramente a forma como o judaismo e Cristianismo se tornaram
cópias de outras religiões, tanto na questão dos mitos da arca de Noé como a
circuncisão onde Celso firma que os Judeus receberam essa tradição dos
egípcios.
A partir de Orígenes, sabemos ainda apenas que ele é do século II, e que
escreveu a sua obra por volta de 178, e, portanto, sob o reinado do imperador
Marco Aurélio (que se deu de 161 a 180). A Alêthês Lógos, de Celso, coloca em questão vários assuntos
da crença relacionados à criação e à unidade de Deus, à encarnação e
ressurreição de Jesus, aos profetas, aos milagres, etc. Ela questiona também
assuntos da vida religiosa, não só sobre a moral, mas também sobre a
participação da Igreja e dos cristãos na vida política e social.
—
Na seqüência, Spinelli analisa esses vários pontos que a Contra Celso de
Orígenes se propõe a combater. A obra exegética de Orígenes se concentra
sobretudo no tratado que ele desenvoleu Sobre os princípios (Perì archôn). A
exegese difundida e aplicada por ele está apoiada no que o judeu Fílon de
Alexandria (20 a.C a 42 d.C.) concebeu como intepretação alegórica dos textos
sagrados do judaísmo.
Filon era de opinião de que o texto bíblico, de um modo geral, carecia de
ser interpretado historicamente (no sentido da crítica das fontes, da origem do
texto e de seu contexto). Dado que as palavras tinham um sentido escondido, mas
admirável e profundo, era necessário adentrar-se nessa profundeza, a fim de
trazer à tona, além do sentido magnífico, todo o seu valor… É nessa mesma
perspectiva de Fílon (representante da Escola Bíblica Judaica), e no ambiente
das escolas exegéticas de Alexandria… que se desenvolveu a exegese de Orígenes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PAZ DO SENHOR
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.