Tertuliano
Artigo Mauricio Berwald
Fonte Wikipédia
Nome completo Quintus Septimius
Florens Tertullianus
Nascimento 160,Cartago na província romana da África, Morte 220
Cartago na província romana da África
Tertuliano (em latim: Quintus Septimius Florens Tertullianus; ca. 160 —
ca. 220 (60 anos)) foi um prolífico autor das primeiras fases do Cristianismo,
nascido em Cartago na província romana da África.[2] Ele foi o primeiro autor
cristão a produzir uma obra literária (corpus) em latim. Ele também foi um
notável apologista cristão e um polemista contra a heresia.
Embora conservador, ele organizou e avançou a nova teologia da Igreja
antiga. Ele é talvez mais famoso por ser o autor mais antigo cuja obra
sobreviveu a utilizar o termo "Trindade" (em latim: Trinitas)[a] e
por nos dar a mais antiga exposição formal ainda existente sobre a teologia
trinitária É um dos Padres latinos.
Algumas das ideias de Tertuliano não eram aceitáveis para os ortodoxos e,
no fim de sua vida, ele se tornou um montanista.
Vida
Tertuliano
Pouquíssima informação confiável existe sobre a vida de Tertuliano. A
maior parte do que sabemos sobre ele vem de seus próprios escritos.
De acordo com a tradição, ele foi criado em Cartago e acreditava ser o
filho de um centurião romano, um advogado treinado e um padre ordenado. Estas
assertivas se baseiam principalmente em Eusébio de Cesareia na sua História
Eclesiástica (livro II, cap 2[) e em São Jerônimo, em De Viris Illustribus
(cap. 53 ). Jerônimo alegou que o pai de Tertuliano tina a posição de centurio
proconsularis no exército romano na África. Porém, não está claro se esta
posição sequer existiu nas forças militares romanas.
Adicionalmente, acredita-se que Tertuliano foi um advogado por causa do
uso que ele faz de analogias legais e de uma identificação dele com o jurista
Tertulianus, que foi citado no "Digesta seu Pandectae". Embora
Tertuliano utilize conhecimentos da lei romana em seus escritos, seu conhecimento
legal não é — de forma demonstrável — superior ao que se esperaria de um romano
com educação suficiente.[9] Dos escritos de Tertulianus, um advogado com o
mesmo cognome, existem apenas fragmentos e eles não demonstram uma autoria
cristã. E Tertulianus só foi confundido com Tertuliano muito depois, por
historiadores cristãos. Finalmente, também é questionável se ele era ou não um
padre. Em suas obras sobreviventes, ele jamais se descreve como ordenado[8]
pela Igreja e parece se colocar como leigo em trechos de "Exortação à
Castidade" (7.3 ) e "Sobre a Monogamia" (12.2 ).
A África era famosa por ser terra de oradores. Esta influência pode ser
percebida no estilo de Tertuliano, permeado de arcaísmos e provincialismos,
suas imagens brilhantes e o seu temperamento apaixonado. Ele era um estudioso
de grande erudição, tendo escrito pelo menos dois livros em grego. Neles, ele
se refere a si mesmo, mas nenhum sobreviveu até hoje. Sua principal área de
estudo era a jurisprudência e sua forma de raciocinar revela algumas marcas de
um treinamento jurídico mais formal.
Conversão
Sua conversão ao cristianismo aconteceu por volta de 197–198 (de acordo
com Adolf Harnack, Bonwetsch e outros), mas seus antecedentes imediatos são
desconhecidos, exceto o que pode ser conjecturado a partir de seus escritos. O
evento deve ter sido repentino e decisivo, transformando de uma vez sua própria
personalidade. Ele escreveu que não podia imaginar uma vida verdadeiramente
cristã sem um ato consciente e radical de conversão:
“ós somos da mesma laia e natureza: cristãos são feitos e não nascidos ”
— Apologia, Tertuliano .
Dois livros endereçados à sua esposa confirmam que ele foi casado com
cristã.
No meio de sua vida (por volta de 207 d.C.), ele foi atraído pela
"Nova profecia" do Montanismo e parece ter deixado o ramo principal
da Igreja. No tempo de Santo Agostinho, um grupo de "tertulianistas"
ainda tinham uma basílica em Cartago que, nesta mesma época, passou para a
Igreja. Não sabemos se esta é apenas uma outra denominação para os
montanistas[b] e se significa que Tertuliano rompeu também com os montanistas e
fundou seu próprio grupo.
Tertuliano tinha um temperamento violento e enérgico, quase fanático,
lutador empedernido e muitos dos seus escritos são polémicos. Este
temperamento, impressionado com o exemplo dos mártires, que o levou à
conversão, permite compreender a sua passagem ao montanismo.
Jerônimo diz que Tertuliano morreu
com idade bastante avançada, mas não há outra fonte confiável que ateste sua
sobrevivência além do ano estimado de 220 d.C.. À despeito de seu cisma com a
ortodoxia da Igreja, ele continuou a escrever contra as heresias, especialmente
o Gnosticismo. Assim, através de suas obras doutrinárias que publicou,
Tertuliano se tornou professor de Cipriano de Cartago e o predecessor de Santo
Agostinho que, por sua vez, se tornou o principal fundador da teologia latina.
Obras
Podemos dividir o conjunto das suas obras em três grandes grupos:
Escritos apologéticos (de defesa da fé contra os opositores): Aos pagãos,
Apologeticum (a sua obra mas conhecida), O testemunho da alma, Contra Escápula,
Contra os judeus.
Escritos polémicos: A prescrição dos hereges, Contra Marcião, Contra
Hermógenes, Contra os valentinianos, O baptismo, Scorpiace, A carne de Cristo,
A ressurreição da carne, Contra Práxeas, A alma.
Escritos disciplinares, morais e ascéticos: Aos mártires, Os
espectáculos, O vestido das mulheres, A oração, A paciência, A penitência, À
esposa, A exortação da castidade, A monogamia, O véu das virgens, A coroa, A
fuga na perseguição, A idolatria, O jejum, A pudicícia, O manto.
Teologia
Apesar de ser considerado por muitos o fundador da teologia ocidental, a
verdade é que tal designação é exagerada, porque Tertuliano não tem
propriamente um sistema teológico. De facto, para isso faltou-lhe o equilíbrio
necessário para organizar os vários artigos da fé, assim como a preocupação
pela coerência, pois não era do seu interesse conciliar a fé com a razão
humana.
A fé e a filosofia
Para Tertuliano, a questão das relações entre a fé e a filosofia nem
sequer se colocavam, pois entre ambas nada existia de comum. A filosofia era
vista como adversária da fé, e os filósofos antigos como patriarcas dos
hereges. Para ele, de facto, fé e razão opõem-se, e podemos encontrar na
filosofia a origem de todos os desvios da fé. No entanto, é forçado a
reconhecer que algumas vezes os filósofos pensaram como os cristãos, e denuncia
algumas influências de correntes filosóficas antigas, nomeadamente do
Estoicismo.
É bem conhecida a frase "credo quia absurdum". Apesar de ela
não se encontrar nos escritos de Tertuliano, mas apenas algumas semelhantes,
ela condensa bem o seu pensamento acerca da razão. Note-se que o seu
significado é não apenas "creio embora seja absurdo", mas sim
"creio porque é absurdo". A verdadeira fé tem de se opor à razão.
A teologia e o direito
Tertuliano era jurista, advogado, e isso se refletiu em sua teologia e em
seus escritos de duas maneiras:
quanto ao método argumentação:
Nascia na Igreja a procura de uma argumentação precisa e cerrada, sem
falhas, à imagem daquela usada nos tribunais. Foi Tertuliano que usou contra os
hereges o argumento da prescriptio, que mostrava que apenas a Igreja unida a
Roma provinha das origens, enquanto todos os outros teriam surgido depois e
seriam, por isso, falsificadores;quanto à linguagem:Tertuliano introduziu na teologia latina, e na da Igreja em geral, uma
série de termos e conceitos provenientes do direito. Concebeu a vida cristã e a
salvação à semelhança de um processo penal, em que Deus é o legislador, o
Evangelho a lei, quem obedece recebe a compensação, quem desobedece torna-se
culpado e é castigado. Tertuliano introduziu ou consagrou algumas distinções
importantes, como por exemplo a de preceito e conselho evangélico.
A regra da fé
Para Tertuliano, a regra da fé constitui-se como lei da fé. Nos seus
escritos encontramos fórmulas de dois elementos, com menção do Pai e do Filho,
e outras de três, que acrescentam o Espírito Santo. As várias fórmulas
apresentadas por Tertuliano, semelhantes entre si na forma e no conteúdo,
mostram a existência dum resumo da fé próximo do símbolo baptismal.
A Trindade
A "Apologia" de Tertuliano no Códice Balliolensis.
O maior contributo de Tertuliano para a teologia foi a sua reflexão
acerca do mistério trinitário. Criou um vocabulário que passou a fazer parte da
linguagem oficial da teologia cristã. Foi ele que introduziu a palavra
“Trinitas”, como complemento da “Unitas”. Segundo Tertuliano, Pai, Filho e
Espírito Santo são um só Deus porque uma só é a substância, um só estado
(status) e um só poder. Mas, por outro lado, distinguem-se, sem separação, pelo
grau, pela forma e pela espécie (manifestação). Tertuliano introduz assim o
termo “pessoa”, (persona), para significar cada um dos três, considerado
individualmente.
Este vocabulário passou a vigorar,
até hoje, para referir as realidades trinitárias. No entanto, Tertuliano deixa
transparecer alguma influência subordinacionista. Ao falar da geração do Filho,
sem querer comprometer a sua divindade, admite uma certa gradação, desde uma
fase anterior à criação, em que o Logos de Deus se contempla a Si mesmo, para
passar a contemplar a economia salvífica, e é engendrado de forma imanente em
Deus, até à criação, em que a Palavra se realiza como tal ao ser proferida.
Cristo é, assim, o primogénito do Pai, gerado antes de todas as coisas, mas não
é eterno. O Filho é como que uma porção ou emanação do Pai.
Tertuliano, apesar de ter dotado a teologia trinitária dum vocabulário
preciso, e de ter procurado a exactidão, não se livrou de algumas ambiguidades
e deficiências.
Cristologia
Tertuliano formulou algumas doutrinas relativas à pessoa de Cristo, que
haviam de ser reconhecidas mais tarde em concílios, de tal modo que podemos dizer
que a sua cristologia tem os méritos da sua teologia trinitária, sem os seus
defeitos. Tertuliano afirma com clareza as duas naturezas de Cristo, sem
confusão entre as duas, nem redução de alguma delas. Nisso, proclama já o que
mais tarde havia de ser solenemente afirmado no Concílio de Calcedónia (451).
.
Eclesiologia
Tertuliano considera a Igreja como Mãe, numa expressão de extremo
respeito e veneração. Tal como Eva foi formada da costela de Adão, também a
Igreja teve a sua origem na chaga do lado de Cristo. A Igreja é guardiã de Fé e
da Revelação. Assim, as Escrituras pertencem-lhe, e só ela mantém o ensinamento
dos Apóstolos e pode transmiti-lo. Esta concepção, do período católico de
Tertuliano, é ortodoxa, e semelhante à defendida por Ireneu de Lyon. Na sua
fase montanista, porém, torna-se visivelmente herege, concebendo a Igreja como
um corpo puramente espiritual, de tal modo que bastam dois ou três cristãos
para que se possa dizer que se manifesta a totalidade da Igreja una. Essa seria
a Igreja do Espírito, oposta à “Igreja dos bispos”. É por esta teoria que
Tertuliano, já herege, substitui a da sucessão apostólica.
A Eucaristia
Tertuliano emprega vários nomes para referir a Eucaristia. São contudo
poucas as suas referências explícitas a esse mistério. Ao falar dos sacramentos
da iniciação cristã, diz que “a carne é alimentada com o Corpo e Sangue de
Cristo, para que a alma seja saciada de Deus (De resurrectione mortuorum, 8).
Isto manifesta a sua fé na presença real de Cristo na Eucaristia. O mesmo se
torna patente quando manifesta a sua indignação por alguns se aproximarem
indignamente do Corpo do Senhor.
Tertuliano testemunha também o carácter sacrificial da Eucaristia. Fá-lo
ao referir o temor que alguns tinham de quebrar o jejum ao receberem o pão
eucarístico. Tertuliano refere o costume de levar a espécie eucarística para
casa e tomá-la privadamente. É esta uma das mais antigas alusões à reserva
eucarística.
Apesar de algumas palavras ambíguas, Tertuliano manifesta a fé na
presença real, que acontece mediante as palavras da instituição, mas salvaguarda
a sua natureza sacramental pois refere as espécies como sinal e representação
(no sentido de tornar presente). A fé nessa presença real exprime-se ainda na
condenação daqueles que negam a realidade do corpo crucificado de Cristo, mas
celebram a Eucaristia: tal comportamento é absurdo, pois tratam-se da mesma
coisa.
Escatologia
Tertuliano admite a ideia duma penitência da alma após a morte. Somente
os mártires escapam a ela. Todos os outros têm um tempo de espera até ao juízo
final, e só a intercessão dos vivos lhes pode valer. Tal como os milenaristas,
Tertuliano considera que, no fim, os justos, ressuscitados, reinarão durante
mil anos com Cristo. Depois do juízo final, os justos estarão com Deus,
enquanto que os ímpios irão para o fogo eterno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PAZ DO SENHOR
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.