PANORAMA HISTÓRICO DA REFORMA PROTESTANTE
Artigo Mauricio Berwald
fonte wikipedia
Reforma
Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século
XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31
de outubro de 1517 na porta da Igreja do
Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja
Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios
fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas.
Lutero foi
apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução
religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países
Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu,
principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica
Romana foi o movimento conhecido como Contrarreforma ou Reforma Católica,
iniciada no Concílio de Trento.
O resultado
da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os
católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o protestantismo.
Pré-Reforma
A Pré-Reforma
foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases
ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero.
A Pré-Reforma
tem suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como
valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de
Lyon que se converteu ao cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar
uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo
sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que
repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de
cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de
toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em
grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já
que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que
consideravam como sendo idolatria
John
Wycliffe.
No seguimento
do colapso de instituições monásticas e da escolástica nos finais da Idade
Média na Europa, acentuado pelo Cativeiro Babilônico da igreja no papado de
Avinhão, o Grande Cisma e o fracasso da conciliação, se viu no século XVI o
fermentar de um enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores
valores religiosos fundamentais.
No século
XIV, o inglês John Wycliffe, considerado como precursor da Reforma Protestante,
levantou diversas questões sobre controvérsias que envolviam o cristianismo,
mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras ideias, Wycliffe
queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas,
algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos
cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais,
sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei. Contrário à
rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os
organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lolardos".
Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Huss. Este
pensador tcheco iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe.
Seus seguidores ficaram conhecidos como hussitas.
Razões
políticas na Reforma
A Reforma
Protestante foi iniciada por Martinho Lutero, embora tenha sido motivada
primeiramente por razões religiosas também foi impulsionada por razões políticas
e sociais os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e
governantes das monarquias européias, tais governantes desejavam para si o
poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa muitas vezes para assegurar o
direito divino dos reis;
Práticas como
a usura eram condenadas pela ética católica romana, assim a burguesia
capitalista que desejava altos lucros econômicos sentiria-se mais
"confortável" se pudesse seguir uma nova ética religiosa, adequada ao
espírito capitalista, necessidade que foi atendida pela ética protestante e
conceito de Lutero de que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei
(Romanos 3:28) (Sola fide).
Algumas
causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo da nobreza e dos
príncipes de se apossar das riquezas da igreja romana e de ver-se livre da
tributação papal que, apesar de defender a simplicidade, era a instituição mais
rica do mundo. Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de
extinção em vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses pequenos
nobres desejavam as terras da igreja. Somente com a Reforma, estas classes
puderam expropriar as terras
Durante a
Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império
Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e
mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas] substituindo-os por
religiosos com formação luterana.
Lutero era
radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos anabatistas
liderados por Thomas Münzer,[21] que provocou a Guerra dos Camponeses. Münzer
comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma
sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada, Lutero
por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era
vontade divina, motivo pelo qual eles romperam. Lutero escreveu posteriormente:
"Contras as hordas de camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira,
secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento,
prejudicial e demoníaco que um rebelde".
Na Alemanha,
Suíça e França
No início do
século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, abraçando as ideias dos
pré-reformadores, proferiu três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517.
Em 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Catedral de
Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas. Esse
fato é considerado como o início da Reforma Protestante.
Martinho
Lutero, aos 46 anos de idade, por Lucas Cranach, o Velho, 1529.Essas teses
condenavam a "avareza e o paganismo" na Igreja, e pediam um debate
teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo
traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês se
haviam espalhado por toda a Europa.
Após diversos
acontecimentos, em junho de 1518 foi aberto um processo por parte da Igreja
Romana contra Lutero, a partir da publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com
o exame do processo, que ele incorria em heresia. Depois disso, em agosto de
1518, o processo foi alterado para heresia notória. Finalmente, em junho de
1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de
1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a
esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach,
onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de retiro forçado,
Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso
o Novo Testamento, em setembro de 1522.
Extensão da Reforma Protestante
na Europa.
Enquanto
isso, em meio ao clero saxônio, aconteceram renúncias ao voto de castidade, ao
mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Entre outras
coisas, muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as
missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do
celibato. Ao mesmo tempo em que Lutero escrevia "a todos os cristãos para
que se resguardem da insurreição e rebelião". Seu casamento com a
ex-freira cisterciense Catarina von Bora incentivou o casamento de outros
padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Com estes e outros atos
consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja Romana.
Em janeiro de 1521 foi
realizada a Dieta de Worms, que teve um papel importante na Reforma, pois nela
Lutero foi convocado para desmentir as suas teses, no entanto ele defendeu-as e
pediu a reforma.[28] Autoridades de várias regiões do Sacro Império
Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo
assassinavam sacerdotes católicos das igrejas, substituindo-os por religiosos
com formação luterana.
Toda essa
rebelião ideológica resultou também em rebeliões armadas, com destaque para a
Guerra dos camponeses (1524-1525). Esta guerra foi, de muitas maneiras, uma
resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de
camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na
França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século
XV, e muitas outras até o século XVIII. A revolta foi incitada principalmente
pelo seguidor de Lutero, Thomas Münzer, que comandou massas camponesas contra a
nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e
pobres e sem propriedade privada,[21] Lutero por sua vez defendia que a
existência de "senhores e servos" era vontade divina,[21] motivo pelo
qual eles romperam, sendo que Lutero condenou Münzer e essa revolta.
O Muro dos
Reformadores. Da esquerda à direita, estátuas de Guilherme Farel, João Calvino,
Teodoro de Beza e John Knox.
Em 1530, foi
apresentada na Dieta imperial convocada pelo imperador Carlos V, realizada em
abril desse ano, a Confissão de Augsburgo, escrita por Felipe Melanchton com o apoio da Liga de Esmalcalda. Os
representantes católicos na dieta resolveram preparar uma refutação ao
documento luterano em agosto, a Confutatio Pontificia (Confutação), que foi
lida na dieta. O imperador exigiu que os luteranos admitissem que sua confissão
havia sido refutada. A reação luterana surgiu na forma da Apologia da Confissão
de Augsburgo, que estava pronta para ser apresentada em setembro do mesmo ano,
mas foi rejeitada pelo Imperador. A Apologia foi publicada por Felipe
Melanchton no fim de maio de 1531, tornando-se confissão de fé oficial quando
foi assinada, juntamente com a Confissão de Augsburgo, em Esmalcalda, em 1537.
Ao mesmo
tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos
protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais
profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os anabatistas, cujas
principais características eram a defesa da total separação entre igreja e
estado e o "novo batismo" (que
em grego é anabaptizo).
João Calvino.
Enquanto na
Alemanha a reforma era liderada por Lutero, Na França e na Suíça a Reforma teve
como líderes João Calvino e Ulrico Zuínglio.
João Calvino
foi inicialmente um humanista. Foi integrante do clero, todavia não chegou a
ser ordenado sacerdote romano. Depois do seu afastamento da Igreja romana, este
intelectual começou a ser visto como um representante importante do movimento
protestante.[36] Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para
Genebra em 1533 onde faleceu em 1564.
Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece
desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça. Calvino
publicou as Institutas da Religião Cristã,[38] que são uma importante
referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas.]
Os problemas
com os huguenotes somente concluíram quando o rei Henrique IV, um ex-huguenote,
emitiu o Édito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um
reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito
restritas. O catolicismo romano se manteve como religião oficial estatal e as
fortunas dos protestantes franceses diminuíram gradualmente ao longo do próximo
século, culminando na Louis XIV do Édito de Fontainebleau, que revogou o Édito de
Nantes e fez de Roma a única Igreja legal na França. Em resposta ao Édito de
Fontainebleau, Frederick William de Brandemburgo declarou o Édito de Potsdam,
dando passagem livre para franceses huguenotes refugiados e status de isenção
de impostos a eles durante 10 anos.
Ulrico
Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças.
Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as
confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e
pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em
assuntos de estado em Zurique.No Reino
UnidoO curso da
Reforma foi diferente na Inglaterra. Desde muito tempo atrás havia uma forte
corrente anticlerical, tendo a Inglaterra já visto o movimento Lollardo, que
inspirou os hussitas na Boémia. No entanto, ao redor de 1520 os lollardos já
não eram uma força ativa, ou pelo menos um movimento de massas.
Henrique
VIII, por Hans Holbein, o Jovem, 1537, Museu Thyssen-Bornemisza
Embora
Henrique VIII tivesse defendido a Igreja Romana com o livro Assertio Septem
Sacramentorum (Defesa dos Sete Sacramentos), que contrapunha as 95 Teses de
Martinho Lutero, Henrique promoveu a Reforma Inglesa para satisfazer as suas
necessidades políticas. Sendo este casado com Catarina de Aragão, que não lhe
havia dado filho homem, Henrique solicitou ao papa Clemente VII a anulação do
casamento. Perante a recusa do papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531,
protetor da Igreja inglesa. O Ato de Supremacia, votado no parlamento em
novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja,
nascendo assim o anglicanismo.
Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam
excomungados, perseguidos e executados,
tribunais religiosos foram instaurados e católicos foram obrigados à assistir
cultos protestantes, muitos importantes opositores foram mortos, tais como
Thomas More, o bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e
monges cartuxos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em
1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical
foi imposta diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo romano.
Seguiu-se uma
breve reação romana durante o reinado de Maria I (1553-1558). De início
moderada na sua política religiosa, Maria procura a reconciliação com Roma,
consagrada em 1554, quando o parlamento votou o regresso à obediência ao papa.
Um consenso começou a surgir durante o reinado de Isabel I. Em 1559, Isabel I
retornou ao anglicanismo com o restabelecimento do Ato de Supremacia e do Livro
de Orações de Eduardo VI. Através da Confissão dos Trinta e Nove Artigos
(1563), Elizabeth alcançou um compromisso entre o protestantismo e o catolicismo
romano: embora o dogma se aproximasse do calvinismo, só admitindo como
sacramentos o Batismo e a Eucaristia, foi mantida a hierarquia episcopal e o
fausto das cerimônias religiosas.
John Knox.
A Reforma na
Inglaterra procurou preservar o máximo da Tradição Romana (episcopado, liturgia
e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia
anglicanae, ou seja, A Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da
Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. A Reforma Anglicana
buscou ser a "via média" entre Roma e o protestantismo.
Em 1561,
apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando
seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer
autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na
Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema,
considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como
congregacionalismo.
Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma igreja
congregacional, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres. Por volta
de 1570, ele publicou um manifesto intitulado As Verdadeiras Marcas da Igreja
de Cristo. Em 1580 Robert Browne, um clérigo anglicano que se tornou separatista,
junto com o leigo Robert Harrison, organizou em Norwich uma congregação cujo
sistema era congregacionalista, sendo um claro exemplo de igreja desse sistema.
Na Escócia,
John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o
Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo
estabelecido o presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Igreja da
Escócia (ou Kirk), foi fundada como resultado disso.
Nos Países
Baixos e na Escandinávia
Erasmo de
Roterdão, por Hans Holbein, o Jovem, 1530
A Reforma nos
Países Baixos, diferente de alguns outros países, não foi iniciado pelos
governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos populares
que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de
outras partes do continente. Enquanto o movimento anabatista gozava de
popularidade na região nas primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através
da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde
a década de 1560 em diante.
No início de agosto de 1566, uma multidão de
protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da
França) com a finalidade de destruir as imagens católicas, esse incidente
provocou outros semelhantes nas províncias do norte e sul, até Beeldenstorm, em
que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos para destruir
estátuas e imagens de santos em toda a Holanda, pois de acordo com os
calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos. Duras perseguições
aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo
de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e
eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda, ao norte) da
zona católica (atual Bélgica, ao sul).
Teve grande
importância durante a Reforma um teólogo holandês: Erasmo de Roterdã. No auge
de sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido nas
discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se simpatizou com os
principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o como "uma poderosa
trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que, "É claro que
muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente necessárias.".Lutero
e Erasmo demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em apoiar Lutero
devido a seu medo de mudanças na doutrina. Em seu Catecismo (intitulado
Explicação do Credo Apostólico, de 1533), Erasmo tomou uma posição contrária a
Lutero por aceitar o ensinamento da "Sagrada Tradição" não escrita
como válida fonte de inspiração além da Bíblia, por aceitar no cânon bíblico os
livros deuterocanônicos e por reconhecer os sete sacramentos. Estas e outras
discordâncias, como por exemplo, o tema do Livre arbítrio fizeram com que
Lutero e Erasmo se tornassem opositores.
Catedral
luterana em Helsinque, Finlândia.
Na Dinamarca,
a difusão das ideias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536 [55] na Dieta de
Copenhaga, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo
sido confiscados os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann
Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja
Luterana nacional. A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma conseqüência da
dominação da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela foi
introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 na Islândia, tendo assumido neste último
território características violentas.
Na Suécia, o
movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri.
Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de
Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país estabelecendo-se em 1527.[55]
Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo. Na Finlândia, as
igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi
formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da
Finlândia.
Em outras partes
da Europa
Na Hungria, a
disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que
podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o luteranismo ganhou uma posição
entre a população de língua alemã, o calvinismo se tornou amplamente popular
entre a etnia húngara.[58] Provavelmente, os protestantes chegaram a ser
maioria na Hungria até o final do século XVI, mas os esforços da Contrarreforma
no século XVII levaram uma maioria do reino de volta ao catolicismo romano.
Fortemente
perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e Espanha. Ainda
assim, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em 1557 numa
das ilhas da baía de Guanabara, localizada no Brasil, então colônia de Portugal.
Ainda que tenha durado pouco tempo, deixou como herança a Confissão de Fé da
Guanabara.[60] Por volta de 1630, durante o domínio holandês em Pernambuco, a
Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante na Holanda) instalou-se no Brasil.
Tinha ao conde Maurício de Nassau como seu membro mais ilustre. Esse período se
encerrou com a Guerra da Restauração portuguesa. Na Espanha, as ideias
reformadas influíram em dois monges católicos: Casiodoro de Reina, que fez a
primeira tradução da Bíblia para o idioma espanhol, e Cipriano de Valera, que
fez sua revisão, originando a conhecida como Biblia Reina-Valera.
Consequências
Contrarreforma
Massacre de
São Bartolomeu.
Uma vez que a
Reforma Protestante desconsiderou e combateu diversas doutrinas e dogmas
católicos, e provocou as maiores divisões no cristianismo, a Igreja Católica
Romana convocou o Concílio de Trento (1545-1563),[66] que resultou no início da
Contrarreforma ou Reforma Católica, na qual os jesuítas tiveram um papel
importante. A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Romana foram
igualmente determinantes para evitar que as ideias reformadoras encontrassem
divulgação em Portugal, Espanha ou Itália, países católicos.[69] As igrejas
protestantes por sua vez, ao mesmo tempo em que propagavam a bíblia e suas
ideias graças a invenção da máquina tipográfica de Johannes Gutenberg,[10]
também tornaram proibidos uma série de livros católicos e outros que
contrariavam suas doutrinas. Edward Macnall Burns observou que "do câncer
maligno da intolerância", "não escaparam católicos nem
protestantes".
O biógrafo de
João Calvino, o francês Bernard Cottret, escreveu: Com o Concílio de Trento (1545-1563)…
trata-se da racionalização e reforma da vida do clero. A Reforma Protestante é
para ser entendida num sentido mais extenso: ela denomina a exortação ao
regresso aos valores cristãos de cada "indivíduo". ”
Segundo
Bernard Cottret, diferente da pregação romana que defende a salvação na igreja .
“A reforma cristã, em toda a sua
diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no
cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao indivíduo
do que à comunidade..] ”
Seguiram-se
uma série de importantes acontecimentos e conflitos entre as duas religiões,
como o Massacre da noite de São Bartolomeu, ocorrido como parte das Guerras
Francesas, organizada pela casa real francesa contra os calvinistas franceses
(huguenotes), em 24 de agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em
Paris e depois em outras cidades francesas. Números precisos para as vítimas
nunca foram compilados, e até mesmo nos escritos dos historiadores modernos há
uma escala considerável de diferença, que têm variado de 2.000 vítimas, até a
afirmação de 70.000, pelo contemporâneo e apologista huguenote duque de Sully,
que escapou por pouco da morte.
Nos países
protestantes por sua vez, foi feita a expulsão e o massacre de sacerdotes
católicos, bem como a matança em massa de aproximadamente 30.000 anabatistas,
desde o seu surgimento em 1535, até os dez anos seguintes. Na Inglaterra, por
sua vez, católicos foram executados em massa, tribunais religiosos foram instaurados
e muitos foram obrigados à assistir cultos protestantes, forçando assim sua
conversão ao protestantismo mediante o terror.
Protestantismo
Um dos pontos
de destaque da reforma é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à
Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores (entre eles o
próprio Lutero) a partir do latim para as línguas nacionais. Tal liberdade fez
com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como
denominações. Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram
diversos grupos, destacando o Luteranismo, que foi o grupo originador do
movimento de Reforma da Igreja Católica e as Igrejas Reformadas ou calvinistas
(presbiterianismo e congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras
denominações com destaque para os batistas e os metodistas.
A
seguir, uma tabela ilustrando o surgimento das diferentes correntes ou ramos do
protestantismo através dos séculos.
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