A importância da
disciplina na Igreja
Artigo Mauricio Berwald
Numa igreja descompromissada com a sã
doutrina, crentes como Ananias e Safira seriam até homenageados por sua
“liberalidade e altruísmo”. Mas numa igreja que prima pelo ensino, não
subsistiriam. Haveriam de ser desmascarados, repreendidos e fulminados pelo próprio
Deus, pois Ele sonda-nos a mente e o coração. A falta de doutrina, pois, acaba
por induzir toda uma congregação à hipocrisia e à mentira.No episódio de
Ananias e Safira, Lucas destaca o valor da disciplina na Igreja de Cristo. Por
conseguinte, vejamos porque o ensino é imprescindível ao povo de Deus.
A DISCIPLINA E SUA NECESSIDADE
Definindo a disciplina. O que é
disciplina senão ensino? Mas possui ela também o seu lado grave: a correção (Pv
15.10). Seu objetivo é conscientizar-nos quanto às consequências de nossas
atitudes (Gl 6.7). A falta de disciplina pode conduzir à morte. Foi o que
aconteceu a Ananias e a Safira.
A disciplina no Antigo
Testamento. Por intermédio de seus profetas, Deus mostra ao seu povo o valor e
a imprescindibilidade da disciplina (Jó 5.17). Ele requer que todos os seus
filhos sejam ensinados na Lei e nos Profetas (Sl 25.8). A disciplina é tão
preciosa quanto à própria vida (Pv 6.23). Eis o que diz Salomão: “O que ama a
correção ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é um bruto” (Pv
12.1).
Nestes tempos tão difíceis e
trabalhosos, nós pais somos coagidos a não aplicar a disciplina aos nossos
próprios filhos. É claro que também somos contra os maus tratos impingidos às
crianças. Mas que estas têm de ser disciplinadas, não o podemos negar. A
recomendação é do próprio Deus: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o
que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24 — ARA). Por que os educadores
contrários à educação cristã, ao invés de nos constrangerem com as suas impropriedades,
não saem em defesa das crianças abandonadas e prostituídas que fervilham nossas
cidades? É necessário e urgente resgatar a infância abandonada e
proporcionar-lhe uma vida digna e segura.
A disciplina em o Novo Testamento. Embora
vivamos sob os termos da Nova Aliança, Deus em nada mudou quanto ao padrão
disciplinar de seu povo. Haja vista o Sermão do Monte. Agora, além de o Senhor
ratificar o sétimo mandamento, por exemplo, requer tenhamos nós um coração puro
(Mt 5.27,28). Por conseguinte, viver sob a lei do Espírito requer uma
disciplina ainda maior.
Por quebrarem a disciplina, Ananias e
Safira foram severamente punidos pelo Senhor.
A OFERTA DE ANANIAS E SAFIRA
Disposto a dedicar-se integralmente
ao cumprimento da Grande Comissão, Barnabé vende a sua propriedade e entrega
todo o dinheiro aos apóstolos. Lucas, ao registrar o fato, realça o
desprendimento daquele levita natural da ilha de Chipre, que haveria de prestar
relevantes serviços ao Reino de Deus (At 4.36,37).
Ananias e Safira, imitando a Barnabé,
também vendem a sua propriedade. Ao contrário deste, o casal retém parte do
dinheiro, e repassa o restante aos apóstolos, como se aquele depósito
representasse o valor total da propriedade. Eles, porém, seriam desmascarados,
repreendidos e mortalmente punidos. Não se pode mentir a Deus.
O pecado contra o Espírito
Santo e a Igreja. O pecado de Ananias e Safira não foi um requinte social como eles
supunham; constituiu-se numa ofensa contra o Espírito Santo (At 5.9). Ajamos,
pois, com muito cuidado, porque o Senhor chamar-nos-á a prestar contas de todas
as palavras frívolas que proferirmos (Mt 12.36).
Se formos disciplinados na Palavra de
Deus, jamais cairemos no erro de Ananias e Safira: mentira, hipocrisia e roubo.
Como vem você agindo? Tem se dado à mentira? Cuidado. Os mentirosos não terão
guarida no Reino de Deus (Ap 22.15).
Uma oferta como a de Caim. Nossa atitude
diante do Senhor é sempre mais importante do que a nossa oferta. Vejamos a
história de Abel e Caim. Ambos trouxeram o fruto do seu trabalho a Deus. O
primeiro teve a sua oferenda aceita, pois justo era o seu coração. Quanto ao
segundo, por ser iníquo, foi rejeitado (Gn 4.6,7). Antes de atentar para a
oferta, o Senhor contempla o ofertante.
Ananias e Safira poderiam ter vendido
a propriedade pelo valor que bem entendesse e haver dado todo o montante, ou
parte deste, à Igreja. Pedro deixou-lhes isso bem patente (At 5.4). Mas como o
casal, buscando a própria honra, não mentiram somente a Pedro, mentiram também
ao próprio Deus (At 5.3).
O EXTREMO DA DISCIPLINA
Ananias e Safira conheciam muito bem
a doutrina dos apóstolos e não ignoravam o Antigo Testamento. Nas sinagogas,
ouviam sábado após sábado, a leitura da Lei, dos Escritos e dos Profetas.
Chegaram eles a conhecer a Jesus? É bem provável. Por conseguinte, não foram
eles punidos inocentemente. Ao mentirem a Pedro, sabiam estarem ofendendo o
Espírito Santo. Eles sabiam que esse pecado era gravíssimo (Mt 12.32).
A sentença de morte. Confrontado
pelo apóstolo Pedro, Ananias viu-se desmascarado. Naquele momento, aliás, vê-se
ele diante do tribunal divino e do Senhor recebe a sentença pela boca do
apóstolo: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao
Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava
para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em
teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5.3,4).
Informa Lucas que, ouvindo a
reprimenda de Pedro, Ananias caiu por terra fulminado. O mesmo aconteceria à
sua esposa três horas depois (At 5.10). O casal que contra o Senhor peca unido,
unido também perecerá. Não poderiam eles andar no temor e na disciplina divina?
A maldição é retirada do
arraial dos santos. Se Ananias e Safira não houvessem sido confrontados e punidos, a
Igreja de Cristo, como um todo, sofreria por causa do anátema. Lembra-se do
caso de Acã? Quando o pecado é revelado e a liderança não faz uso da
disciplina, segundo os padrões bíblicos, toda a igreja sofre debaixo da
maldição do pecado. Leia com atenção e temor o capítulo sete de Josué. Tomemos
cuidado, pois Deus não mudou. Ele continua o mesmo. Aliás, vejamos esta
advertência de Pedro: “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de
Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são
desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pe 4.17)
“O tolo despreza a correção de
seu pai, mas o que observa a repreensão prudentemente se haverá” (Pv 15.5). A
disciplina é uma prova de amor. Deus requer que seus filhos andem de conformidade
com a sua Palavra. Se errarmos, Ele certamente disciplinar-nos-á. No entanto,
cuidado: Deus não se deixa escarnecer.
Ananias e Safira, simulando uma
justiça que não possuíam, mentiram para o próprio Deus. Por isso foram
mortalmente punidos. Andemos, pois, no temor do Senhor. “O delito de Ananias
não foi reter parte do preço do terreno; poderia ter ficado com tudo se
quisesse; seu delito foi tentar impor-se sobre os apóstolos com uma mentira
espantosa unida à cobiça, com o desejo de ser visto. Se pensarmos que podemos
enganar a Deus, fatalmente enganaremos a nossa própria alma. Como é triste ver
as relações que deveriam estimular-se mutuamente às boas obras, endurecerem-se
mutuamente no que é mau! Este castigo, na realidade foi uma misericórdia para
muitas pessoas. Ele faria as pessoas examinarem a si mesmas rigorosamente, com
oração e terror da hipocrisia, cobiça e vanglória, e a continuarem agindo
assim. Impediria o aumento dos falsos crentes. Aprendamos com isto quão odiosa
a falsidade é para o Deus da verdade, e não somente evitar a mentira direta,
mas todas as vantagens obtidas com o uso de expressões duvidosas e de
significado duplo em nosso falar”.
(notas HENRY, M. Comentário Bíblico. 1.ed.
RJ: CPAD, 2002, p.891)
O Pecado de Acã.“Certamente Acã descobriu
que o pecado é uma emoção passageira. Houve a emoção de obter alguma coisa
secretamente. Ele teve a emoção de conhecer uma coisa que os outros não
conheciam. Ele teve a emoção de ser procurado. Finalmente, chegou a emoção de
ser o centro das atenções, de ser ‘a manchete do dia’. Há pessoas dispostas a
trocar suas vidas por essas compensações.
Mas a emoção teve vida curta. O que
ele fizera foi logo descoberto por todos. O que ele havia escondido foi
rapidamente manifesto a toda a sua nação. Aquilo que ele considerou valioso
mostrou-se impotente para ministrar-lhe. Aquilo que ele teve orgulho tornou-se
sua vergonha. Sua alegria transformou-se em tristeza. Sua emoção momentânea
terminou numa morte violenta. Com ele pereceu tanto aquilo que ele havia roubado
quanto o que era legitimamente seu. Ele recebeu o salário do pecado. Ele foi
‘sem deixar de si saudades’ (2 Cr 21.20).
Este evento evidencia o princípio de
que somente aqueles que vivem vidas submissas diante de Deus recebem ajuda do
Senhor. Acã recusou-se a se submeter ao plano de Deus. Ele carecia da santidade
que daria permanência ao seu programa de vida.
O fato de que ‘nenhum de vós vive
para si e nenhum morre para si’ (Rm 14.7) é ilustrado pela vida de Acã. Um
homem pode contaminar uma comunidade tanto para o bem como para o mal. Paulo dá
a essa ideia um cuidadoso desenvolvimento em sua carta aos coríntios. Ele
conclui: ‘De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com
ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele’ (1 Co
12.26).
A vida de Acã também nos ensina que o
pecado nunca está oculto aos olhos de Deus. O Senhor sabe o que os olhos veem,
o que o coração deseja e o que os dedos manipulam. Ele também sabe dos inúteis
esforços do homem de tentar enganá-lo. Mais cedo ou mais tarde, um ser humano
deverá encarar seus atos e prestar contas de todos eles.
Outra verdade importante é encontrada
no fato de que, assim que o pecado foi expiado, a porta da esperança se abriu.
O povo sentiu mais uma vez a segurança de que poderia avançar. Esta verdade
continua em ação. Aquele que aceita o sacrifício de Cristo pelo pecado
imediatamente olha para a vida com esperança e segurança”.
(notas MULDER, C. O. et
al. Comentário Bíblico Beacon. 1.ed. Vol.2. RJ: CPAD,
2005, p.45)
Assistencia Social.
O diaconato foi instituído a partir
de uma contingência. Tudo aconteceu quando os crentes de expressão grega,
inconformados por estarem suas viúvas sendo preteridas na distribuição diária,
puseram-se a murmurar contra os hebreus. Buscando extinguir a dissensão,
propuseram os apóstolos à “multidão dos discípulos” a escolha de sete homens
notáveis por sua reputação, para que se encarregassem daquele “importante
negócio”. Dessa forma, poderiam os pastores da Igreja dedicar-se à oração e ao
ministério da Palavra de Deus. O que parecia um problema local redundou numa
solução universal.
Se evangelizar e fazer discípulos são
a incumbência primária da Igreja Cristã, socorrer aos necessitados não lhe é
tarefa secundária. Aprendamos, pois, com os santos apóstolos a cumprir
integralmente a missão que nos confiou o Cristo de Deus. Tem você se ocupado
com os mais carentes? Jesus não os esqueceu. Ordena-nos o Senhor ainda hoje:
“Dai-lhes vós de comer”.
AS DORES DO CRESCIMENTO
No Dia de Pentecostes, quase três mil
almas converteram-se ao Senhor (At 2.14-39). Apesar de um crescimento tão
surpreendente, os discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na
comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2.42). O que isso evidencia? A
completa dedicação da liderança ao discipulado e à sã doutrina. Tem você se
consagrado à evangelização e ao ensino? Somente assim pode a sua igreja
crescer. Esteja, contudo, preparado para os incômodos e as dores que acompanham
o crescimento. Foi o que experimentou a Igreja em Jerusalém.
A urgência da assistência
social. Em razão do crescente número de conversos, os apóstolos não mais
tiveram condições de atender devidamente às demandas sociais da Igreja (At 4.4;
6.1). Era necessário organizar o ministério cotidiano. Se de início não havia
necessitado algum, agora já apareciam as queixas de um segmento muito
importante da irmandade: os gregos. Eram estes, segundo podemos depreender,
israelitas provenientes da Diáspora.
A Igreja em Jerusalém sentia, agora,
as dores do crescimento. Somente as igrejas que não crescem são poupadas de
tais desconfortos.
Como está o trabalho de assistência
social de sua igreja? Todos estão sendo socorridos? O ideal é que, em nosso
meio, ninguém seja esquecido (At 4.34).
A murmuração dos gregos. Os crentes de
expressão grega puseram-se a reclamar de que suas viúvas estavam sendo
preteridas na distribuição diária (At 6.1). Fez-se murmuração o que era
queixume. Para esvaziar aquele clima de insatisfação que já começava a
generalizar-se, os apóstolos foram divinamente orientados a instituir o
diaconato. Por que permitir que seja a discórdia espalhada entre os irmãos?
Busquemos a sabedoria do alto. E assim teremos condições de pacificar os ânimos
e manter a unidade do povo de Deus.
A INSTITUIÇÃO DO DIACONATO
Com a murmuração dos gregos a
ressoar-lhes aos ouvidos, os apóstolos reuniram a “multidão dos discípulos”,
objetivando solucionar aquele problema. Por que deixá-lo avolumar-se e enfermar
toda a congregação?
A participação da Igreja nas
decisões. Os apóstolos, convocada a Igreja, propuseram a escolha de sete
varões, para se encarregarem da assistência material e social aos santos.
Requeria-se fossem os candidatos homens de “boa reputação, cheios do Espírito
Santo e de sabedoria” (At 6.3). Afinal, iriam eles lidar com o povo de Deus. Em
sua Primeira Epístola a Timóteo, Paulo destaca a importância desse ministério:
“Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e
muita confiança na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13).
O ministério diaconal. Apesar de o
capítulo seis de Atos não mencionar uma única vez a palavra “diácono”, não
resta dúvida de que o ofício foi instituído naquela ocasião. É mister ressaltar
o destaque de dois daqueles obreiros: Estêvão e Filipe (At caps. 6, 7 e 8). Não
fossem os diáconos, como haveriam os apóstolos de se dedicarem à edificação do
corpo de Cristo?
Há que se mencionar o diácono
Atanásio (295-373) que, na História da Igreja Cristã, é honrado como o pai da ortodoxia.
Que o Senhor nos dirija na escolha de
homens íntegros, sábios e cheios do Espírito Santo, para que nos auxiliem no
exercício do pastorado.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Era imperioso aos apóstolos
devotarem-se à oração e ao ensino da Palavra de Deus. Doutra forma, como
haveriam de edificar a Igreja na sã doutrina? Todavia, estavam eles mais do que
cientes: as obras de misericórdia são também importantes. Que os crentes, pois,
sobressaiamos igualmente pelas boas obras (Mt 5.16; At 9.36; Ef 2.10). Não
alerta Tiago que a fé sem as obras é morta? (Tg 2.17). A assistência social na
Igreja Cristã não será menosprezada.
O “importante negócio”. O trabalho
assistencial foi considerado pelos apóstolos um “importante negócio” (At 6.3).
Por isso houveram-se eles com diligência na escolha dos melhores homens para
exercê-lo. Na Igreja de Cristo, o socorro aos necessitados também é visto como
prioridade.
Havendo incumbido os diáconos de
zelar pelo socorro aos pobres, a Igreja Primitiva demonstra ser possível
exercer o serviço cristão em sua plenitude. Em sua despensa havia tanto o pão
que desce do céu como o pão que brota da terra. Que exemplo às igrejas de hoje!
A ordem do Senhor não será esquecida: “Dai-Ihes, vós mesmos, de comer” (Mt
14.16).
Servindo à Igreja de Cristo. Tanto os doze
apóstolos como os sete diáconos porfiaram em servir à Igreja. Os primeiros com
a oração e a Palavra; os segundos, com o ministério cotidiano. Um não pode
subsistir sem o outro. Sanada a dificuldade com a assistência às viúvas gregas,
informa-nos Lucas: “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava
o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7
— ARA).
“A Comunhão Quebrad.Os crentes se
dedicam a formar uma comunidade de comunhão (At 2.42), que acha expressão em
compartilhar as possessões com os necessitados. Como exemplo positivo de
comunhão, Lucas chamou atenção a Barnabé (At 4.36,37); em contraste, Ananias e
sua esposa são exemplos negativos (At 5.1-11). No capítulo 6, Lucas informa um
desarranjo na comunhão causado pela negligência da comunidade para com suas
viúvas gregas. No meio de tremendo progresso da Igreja, este problema coloca a
unidade eclesiástica em sério perigo. Nesta época, a comunidade cristã consiste
em dois grupos: os judeus gregos (hellenistai, ‘crentes de fala grega’)
e os judeus hebreus (hebreaioi, ‘crentes de fala aramaica’). Os judeus
gregos de Atos 6 são crentes que foram fortemente influenciados pela cultura
grega. [...] Os cristãos de fala aramaica são mais fortes nas tradições
religiosas palestinas e mostram mais restrição em atitude para com a lei
judaica e o templo. Sendo mais agressivos na abordagem, os judeus helenísticos
provocavam raiva. Em pelo menos uma ocasião a pregação agressiva de um crente
de fala grega na sinagoga helenista em Jerusalém termina em apedrejamento. Os
judeus helenistas apresentavam o evangelho com tal zelo que eventualmente os
oponentes os compelem a fugir de Jerusalém para salvar a própria vida (At
8.1-3)”
(notas Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. RJ:
CPAD, 2004, p.657).
“O Descontentamento Social.Afirma o eminente
teólogo da Universidade de Salamanca Lorenzo Turrado: ‘A queixa dos helenistas,
a julgar pela iniciativa tomada pelos apóstolos, parece que tinha sério
fundamento’. A situação que se desenhava deixou os apóstolos mui preocupados.
Como israelitas, sabiam eles que a injustiça e a desigualdade sociais eram
intoleráveis aos olhos de Deus (Dt 15.7,11). Não foi por causa da opressão que
o Senhor desterrara a Israel? A palavra de Ezequiel não tolera dúvidas: ‘O povo
da terra tem usado de opressão, e andado roubando e fazendo violência ao pobre
e ao necessitado, e tem oprimido injustamente ao estrangeiro’ (Ez 22.29).
Infelizmente, a questão social continua a ser descurada por muitos ministros do
Evangelho. Acham eles que a desigualdade social é um problema que cabe apenas
ao governo resolver. Mas a Bíblia não ensina assim. Embora a Igreja de Cristo
seja um organismo espiritual e desfrute da cidadania celeste, ela é vista como
uma comunidade administradora de uma justiça que tem de exceder a do mundo (Mt
5.20). O comentário é de Broadman: ‘Os cristãos têm infligido quase tantas
feridas à comunhão quanto os perseguidores externos, abrigando em si preconceitos
raciais, religiosos e de classe. Esse preconceito leva à discriminação, e a
discriminação destrói a unidade dos crentes. Estas distinções não deviam ter
entrado na Igreja, naquela época, e não devem entrar hoje’” .
(notas ANDRADE, C. Manual
do Diácono. 1.ed. RJ: CPAD, 1999, pp.17,18).
As implicações de Atos 6.“Paternalismo. Talvez
a primeira lição que deva ser aprendida é a de que a liderança espiritual da
igreja precisa evitar o paternalismo. A maneira de se desenvolver uma igreja
amadurecida não é impor soluções ‘de cima para baixo’, mas envolver a
congregação na solução do problema, e confiar aos membros um papel
significativo na tomada de decisões.
Confiança. Teria sido
tão fácil tornar-se defensivo e argumentar em quem se deveria ou não colocar a
culpa. Em lugar disso, a congregação concentrou-se no problema e os cristãos de
fala aramaica demonstraram confiança em seus irmãos, ao fazer os cristãos de
fala grega responsáveis pela distribuição a todos.
Prioridades. Os líderes
espirituais da igreja precisam concentrar sua atenção ‘na oração e no
ministério da palavra‘ (6.4). Mas as preocupações materiais dos crentes também
precisam de atenção. E aqueles que lidam com as ‘coisas práticas’ precisam ser
pessoas ‘cheias de fé e do Espírito Santo’.
Flexibilidade. Precisamos
estar prontos para reagir às necessidades. Frequentemente, nossas igrejas estão
encerradas em antigos programas ou antigos cargos. Em lugar de procurar com
criatividade satisfazer as necessidades à medida que elas surgem, nós lutamos
para manter o mecanismo da igreja. Este incidente na vida da Igreja Primitiva
nos lembra de que as pessoas são mais importantes do que
as constituições de nossa igreja, e que a inovação não é uma
palavra feia”
(notas RICHARDS, L. O. Comentário Histórico Cultural do Novo
Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2007, pp.263-64).
Quando a Igreja de Cristo é
perseguida
eremos que os crentes da Igreja
Primitiva enfrentaram forte oposição por parte das autoridades, todavia,
aqueles irmãos não deixaram de testemunhar e proclamar o evangelho de Cristo.
Eles não tinham suas vidas por preciosas, por isso, não temiam testemunhar de
Jesus. Os crentes demonstravam, por intermédio do testemunho pessoal, o que
Jesus havia feito em suas vidas. Não podemos nos esquecer de que fomos chamados
para sermos testemunhas de Cristo. Muitas são as oportunidades que o Senhor tem
nos dado para proclamarmos sua Palavra. Que não venhamos a ficar intimidados,
deixando de testemunhar de Cristo, mesmo diante das críticas, maus
exemplos de alguns ou qualquer tipo de perseguição. Sigamos de
perto a postura dos primeiros crentes.
CONSEQUÊNCIAS DO MARTÍRIO DE ESTÊVÃO
• Jornada
evangelística de Filipe (8.4-40); • A
conversão de Saulo (9.1-30);
• A
viagem missionária de Pedro (9.32—11.18);
• A
fundação da Igreja em Antioquia da Síria (11.19).
Semeado em Jerusalém, o sangue de
Estêvão frutifica a vocação universal da Igreja de Cristo. O que parecia mais
uma seita judaica extrapola as fronteiras de Israel como Reino para conquistar
o império. Nesse processo, Saulo de Tarso antagoniza um importante papel.
Perseguindo, espalha a chama do evangelho. Mais tarde, já converso e
perseguido, leva esta mesma flama até aos extremos da terra.
O martírio de Estêvão não foi em vão.
Mais tarde, testemunharia Tertuliano (155-222), um dos mais importantes
apologetas eclesiásticos: “Quanto mais nos esmagardes, tanto mais cresceremos,
que é semente o sangue dos cristãos”.
Neste momento, a Igreja de Cristo é
perseguida em todo o mundo. Sim, perseguem-nos não apenas física, mas cultural
e institucionalmente. À semelhança dos cristãos primitivos, quanto mais tentam
reprimir-nos localmente, mais universalmente nos espalhamos.
OS EFEITOS DA MORTE DE ESTÊVÃO
O teólogo inglês Matthew Henry
(1662-1714), um dos maiores comentaristas das Sagradas Escrituras, escreve mui
sábia e apropriadamente: “Algumas vezes Deus levanta muitos ministros fiéis
sobre as cinzas de um deles”. Haja vista o martírio de Estêvão. Se aos olhos
humanos era uma simples execução, à vista divina aquela morte foi o caminho que
conduziu muitos à vida, inclusive um homem fero e irreconciliável como Saulo de
Tarso. Somente a história haveria de avaliar os efeitos do assassinato daquele
justo.
Sobre Paulo. Como ouvir um
discurso como o de Estêvão e não curvar-se às evidências do evangelho? Embora
teimasse em não reconhecer a Jesus como o Messias de Israel, Saulo de Tarso não
pôde ficar indiferente às palavras e ao martírio daquele santo. É o que
depreendemos destas palavras do próprio Senhor: “Saulo, Saulo, por que me
persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (At 26.14). Aliás,
o mesmo Saulo o confessa: “E, quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se
derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as
vestes dos que o matavam” (At 22.20).
A evangelização de Saulo teve início
com o sermão de Estêvão, em Jerusalém, sendo complementada, em Damasco, por
Ananias. Muito em breve o que localmente perseguira a Igreja, universalmente
haveria de expandi-la de Antioquia a Roma.
Sobre a Igreja. Com os termos
da Grande Comissão a ecoar-lhes nos ouvidos, sabiam os santos apóstolos que a
Igreja não poderia circunscrever-se a Jerusalém (Mt 28.19,20). Mas quando sair
à Judeia? Quando alcançar Samaria? E quando atingir os mais distantes lugares
da terra? Estando ainda estas perguntas por se responder, eis que o martírio de
Estêvão precipita a dispersão da Igreja de Jerusalém.
Ao relatar o evento, escreve Lucas:
“Mas os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra” (At
8.4). Por conseguinte, quando aqueles piedosos varões puseram-se a sepultar o
corpo de Estêvão, não sabiam eles estarem, na verdade, semeando uma
semente que, de imediato, multiplicar-se-ia dentro e fora dos termos de Jacó.
Não foi exatamente isto o que ensinara o Senhor: “Na verdade, na verdade vos
digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se
morrer, dá muito fruto” (Jo 12.24). Mais tarde, confirmaria o doutíssimo
Tertuliano as palavras do Cristo: “O sangue dos mártires é a semente da
Igreja”.
As perseguições à Igreja não ficaram
no passado. Este sistema, que jaz no maligno, tudo faz por sufocar a Noiva do
Cordeiro. Está você preparado a defender a sua fé? Morreria por amor a Cristo?
Não podemos fugir a essa pergunta. Que a nossa confissão seja tão firme quanto
à de Jan Hus (1369-1415), reformador protestante da antiga Boémia: “Com a maior
alegria confirmarei com meu sangue a verdade que tenho escrito e pregado”.
QUANDO A IGREJA É PERSEGUIDA
Quem ainda não leu o excelente
livro Torturado por Amor a Cristo? Escrito pelo pastor romeno
Richard Wurmbrand (1909-2001), mostra-nos o quanto a Igreja de Cristo sofreu
nos países comunistas. Atrás da cortina de ferro, eram os cristãos perseguidos
física, cultural e institucionalmente.
Perseguição física. Neste exato
momento, muitos são os missionários, pastores e leigos que, torturados e até
mortos por causa da santíssima fé, fazem boa e ousada confissão ante o verdugo
(1 Tm 6.13). Se pudéssemos ouvir-lhes o clamor! Oremos por nossos irmãos na
China, na Coreia do Norte, em Cuba e nos países muçulmanos. Em cada uma dessas
nações, há uma igreja de Esmirna (Ap 2.8-11). Deixemos, pois, o conforto de
Laodiceia e saíamos a espalhar a boa semente do Evangelho.
Perseguição cultural. Embora
vivamos num contexto cultural, não podemos nos conformar, sob hipótese alguma,
com a cultura do presente século (Rm 12.1,2). Então, como devemos agir? Se, de
fato, somos o sal da terra e a luz do mundo, transformemos a cultura que nos
busca envolver através da proclamação da Palavra de Deus (Mt 5.13).
As manifestações culturais deste
mundo apregoam sutil e quase que, imperceptivelmente, o relativismo moral, a
substituição dos valores bíblicos por uma ética leniente e permissiva e a entronização
do homem no lugar que pertence exclusivamente a Deus. Como não podemos nos
conformar com tais coisas, somos alijados da vida cultural da sociedade. Não
agiam assim os gregos em relação ao Evangelho (1 Co 1.22-24). O que os
inquisidores deste mundo não sabem é que a loucura de Deus é mais sábia do que
os homens (1 Co 1.25).
Perseguição institucional. Os interesses
do Reino de Deus jamais se coadunarão com os deste mundo. Por isso, levantam-se
alguns potentados, buscando amordaçar a Igreja de Cristo. Tentam eles, sob o
apanágio de um humanitarismo falso e aparatoso, impedi-la de protestar, por
exemplo, contra o homossexualismo. Outros buscam descriminalizar práticas como
o aborto e o uso de drogas. E outros ainda afadigam-se em varrer das escolas qualquer
vestígio do criacionismo bíblico.
Diante de todos esses ataques
institucionais, lembremo-nos da exortação do pastor batista norte-americano,
William S. Plumer (1759-1850). Alerta-nos ele: “Perseguição não é novidade... a
ofensa da cruz jamais cessará”.
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PAZ DO SENHOR
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