O CONCÍLIO DE JERUSALÉM
Artigos Mauricio Berwald
Contexto.A conversão dos
gentios; a tensão entre judeus e gentios; a insistência dos crentes judaizantes
tradicionalistas para que os gentios adotassem o estilo de vida judaico; o
combate violento de Paulo contra o evangelho judaizante; a necessidade de uma
resolução que legislasse sobre o tema.
A questão levantada.Para os gentios
serem salvos, era necessário se tornar um judeu? Atualmente, é necessário
alguma outra coisa, fora de confessar a Cristo, para ser salvo?
O debate.De um lado os
fariseus cristãos apoiavam a visão dos judaizantes; do outro, Paulo e Barnabé
enfatizavam que Cornélio e sua família foram aceitos por Deus como gentios.Em
harmonia com as Escrituras, a contribuição do apóstolo Tiago foi preponderante
para a resolução apostólica em conjunto com a igreja: 1) não se devia pedir aos
gentios que adotassem a “cultura” judaica, pois isto “perturbaria” (15.19) a
liberdade em Cristo; 2) As recomendações estabelecidas foram: não comer carne
sacrificada a ídolos; não ingerir sangue e não comer carne sufocada; não
praticar relação sexual ilícita. Estas resoluções deixam patentes a verdadeira
liberdade que há em Cristo Jesus e o verdadeiro princípio de respeito à vida
que Deus exige de nós!
Sob as instâncias de Paulo e Barnabé,
os apóstolos convocam o Concílio de Jerusalém, para tratar de uma questão que
vinha perturbando os crentes gentios: Deveriam estes também observar os costumes
e ritos judaicos? Isto porque, “alguns que tinham descido da Judeia ensinavam
assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não
podeis salvar-vos” (At 15.1).
As decisões desse concílio, realizado
no ano 48, foram mais do que vitais à expansão do Cristianismo até aos confins
da terra.
O QUE É UM CONCÍLIO
Definição. Originária do
vocábulo latino concilium, a palavra concílio significa conselho,
assembleia. O concílio, por conseguinte, é uma reunião de representantes da
Igreja, cujo objetivo é deliberar acerca da fé, doutrina, costumes e disciplina
eclesiástica.
Os concílios no Antigo
Testamento. O primeiro concílio da velha aliança deu-se quando Moisés
congregou os anciãos de Israel para declarar-lhes o plano de Deus para libertar
os hebreus do Egito (Êx 4.29). A partir daí, muitos foram os concílios
convocados quer pelos reis, quer pelos profetas, para tratar das urgências
nacionais e das crises que surgiram ao longo da história de Israel no Antigo
Testamento (2 Cr 34.29: Ed 10.14; Ez 8.1).
Os concílios em o Novo
Testamento. Os apóstolos reuniram-se em três ocasiões distintas, para decidir
sobre pendências na comunidade cristã. A primeira vez para eleger Matias em
lugar de Judas Iscariotes e aguardar a chegada do Consolador; a segunda para
instituir o diaconato; e a terceira, para discutir as imposições que os
judaizantes buscavam impor sobre os cristãos gentios (At 1.12-26; 6.1-15;
15.6-30).
A IMPORTÂNCIA DO CONCÍLIO DE
JERUSALÉM
A terceira reunião dos apóstolos, que
viria a ser conhecida como o Concílio de Jerusalém, foi tão importante e vital
à Igreja de Cristo que dela dependia o futuro do Cristianismo. Se os apóstolos
houvessem cedido à pressão dos judaizantes, a religião do Nazareno
extinguir-se-ia em mera seita judaica. Mas os dirigentes da Igreja,
instrumentalizados pelo Espírito Santo, houveram-se com sabedoria e firmeza,
possibilitando que o Reino de Deus, transcendendo as fronteiras de Israel, se
universalizasse até aos confins da terra.
O Concílio de Jerusalém foi modelar
desde a convocação até as suas derradeiras decisões.
Convocação. O Concílio de
Jerusalém foi convocado pelos apóstolos sob as instâncias de Paulo e Barnabé.
Enviados pelas igrejas de Antioquia, Síria e Cilícia, requeriam eles fosse
tomada uma resolução urgente quanto a este problema: deveriam os gentios
observar também os costumes e ritos judaicos, incluindo a circuncisão?
Presidência. Sendo a
figura de Pedro preponderante entre os santos da circuncisão, conclui-se tenha
ele presidido o Concílio de Jerusalém. Em todos aqueles acalorados debates, o
apóstolo agiu com sabedoria, moderação. Tudo fez por preservar a unidade da
Igreja no Espírito Santo.
Debates. As discussões
são acaloradas. Extremados na defesa do farisaísmo, exigiam os judaizantes: “É
necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (At
15.5 — ARA).
Em seguida, Pedro levanta-se e põe-se
a historiar como os gentios, por seu intermédio, vieram a converter-se a
Cristo. Para calar a boca aos adversários, indaga o apóstolo: “Agora, pois, por
que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos
pais puderam suportar, nem nós? Mas cremos que fomos salvos pela graça do
Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (At 15.10,11 — ARA).
Depois da exposição de Pedro, os
também apóstolos Paulo e Barnabé tomam a palavra. Faz Lucas esta observação:
“Então toda a multidão silenciou, passando a ouvir a Barnabé e a Paulo, que
contavam quantos sinais e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios”
(At 15.12 — ARA).
O pronunciamento decisivo de
Tiago. Apesar de sua reputação conservadora, sai Tiago irmão do Senhor,
em defesa dos santos gentios e da universalidade da igreja de Cristo: “Pelo
que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se
convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos
ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e
do sangue” (At 15.19,20 — ARA).
A CARTA DE JERUSALÉM.Encerrados os
debates, decidem os apóstolos enviar uma encíclica às igrejas de Antioquia,
Síria e Cilícia, por intermédio de Paulo, Barnabé, Judas e Silas, expondo as
resoluções tomadas no Concílio de Jerusalém (At 15.27-30). Resoluções estas,
aliás, que se fizeram universais tanto em relação ao tempo quanto ao espaço;
tornaram-se contemporâneas dos cristãos de todas as eras. Em resumo, o
documento trata dos seguintes temas:
Da salvação pela graça. Deixam os
apóstolos bem patente o seu apoio ao evangelho que Paulo proclamava aos
gentios: a salvação pela graça (At 15.11).
Da comida sacrificada aos
ídolos. A carta circular dos apóstolos é bem clara: “Que vos abstenhais
das coisas sacrificadas aos ídolos” (At 15.29). Terá essa recomendação alguma
serventia para nós hoje? Além das festas juninas e dos doces distribuídos no
dia de Cosme e Damião, há muitos banquetes consagrados aos deuses das riquezas,
às divindades do poder corrupto e corruptor, e aos demônios da permissividade
moral e do relativismo ético. Outrossim, cuidado com os restaurantes que, logo
na entrada, expõem a sua divindade como se fora um mero folclore. Não é
folclore; é demônio mesmo.
Da ingestão de sangue e de carne
sufocada. Parece uma recomendação banal? Nada na Bíblia pode ser banalizado.
Ouçamos e obedeçamos à encíclica apostólica: “Que vos abstenhais [...] do
sangue, da carne de animais sufocados” (At 15.29 — ARA). Receitas culinárias
que empregam o sangue como um de seus ingredientes contrariam as leis divinas.
Leia Gênesis 9.4.
Das relações sexuais ilícitas. Num século tão
promíscuo e leniente como este, a recomendação dos santos apóstolos não haverá
de ser esquecida: “[...] que vos abstenhais das relações sexuais ilícitas” (At
15.29). O que é uma relação sexual lícita? É a praticada no âmbito do casamento
entre um homem e uma mulher. Logo, o sexo antes e fora do casamento é ilícito e
pecaminoso (Êx 20.14; Ap 22.15). Pecado também é o homossexualismo tanto
masculino quanto feminino (Lv 18.22; Rm 1.26-27; 1 Co 6.9).
A voz dos apóstolos não pode ser
calada pela “lei da mordaça”.Que o exemplo dos santos apóstolos mova a Igreja
de Cristo a livrar-se de toda briga local, a fim de mostrar a sua vocação
universal e eterna. O mesmo Espírito que dirigiu o Concílio de Jerusalém faz-se
presente no meio de seu povo, inspirando os ministros do Evangelho a tomarem
decisões de conformidade com a Bíblia Sagrada. Interessante, o concílio
convocado para combater o legalismo judaizante tornou a Igreja de Cristo mais
santa e pura.
“A decisão do Espírito Santo.‘Na verdade pareceu
bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas
coisas necessárias: que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do
sangue, e da carne sufocada, e da fornicação [relações sexuais ilícitas — ARA];
das quais coisas fazeis bem se vos guardares’ (At 15.28,29). A expressão
‘pareceu bem ao Espírito Santo’ significa: O Espírito Santo, na sua atuação
entre os gentios já testemunhara que estes foram libertos do jugo da Lei
mosaica (At 10.44-48). O Espírito Santo, cuja orientação foi prometida aos
apóstolos e outros líderes [e à Igreja], já testemunhara ao coração deles que
os gentios deviam ser livres do fardo (Mt 18.20; Jo 16.13). [Ou seja] Os
gentios foram isentos da obrigação de observar os costumes judaicos. [...]
Estes convertidos já possuíam a vida e a liberdade espiritual. Por que enterrar
esta vida com formulários mortos?”
(notas PEARLMAN, M.Atos. E a Igreja
se fez Missões. 1.ed. RJ: CPAD, 1995, pp. 169-70).
As viagens
missionárias de Paulo
A Igreja Primitiva cumpriu
a Grande Comissão enviando Paulo e Barnabé para a obra que o
Senhor os chamara. Assim, Paulo alcançou as nações de sua época. Nós, como
Igreja do Senhor, também devemos fazer a nossa parte, pois ainda existem muitas
nações e povos que precisam ser alcançados com o Evangelho de Cristo.
Atualmente na “Janela 10x40” existem milhares de pessoas que se encontram em
trevas espirituais. Como elas ouvirão o Evangelho se não há quem pregue? (Rm
10.14). E como pregarão, se a Igreja do Senhor não enviar e sustentar os
missionários? (Rm 10.15). Ouçamos a voz do Espírito Santo, pois Ele continua a
falar à sua Igreja: “Separai meus servos para a obra que os tenho chamado”.
A Igreja Primitiva evangelizou o
mundo gentio em aproximadamente trinta anos. O imperativo missionário de Atos
1.8 era, e sempre será, uma demanda que não admite contestação ou indolência.
Movidos pelo Espírito Santo, os discípulos saíram a evangelizar e a discipular
a todos os povos. Nenhuma nação deixou de ser contemplada.
A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 13
— 14)
De Antioquia a Chipre (At
13.1-12). A primeira viagem missionária de Paulo ocorre logo após ter sido
ele comissionado pelo Espírito Santo (vv.2,3). Orientado pelo mesmo Espírito, o
apóstolo, juntamente com Barnabé, embarca em Selêucia, porto marítimo de
Antioquia, em direção à Ásia Menor (v.4). Com isto, Lucas demonstra ser o
Espírito de Cristo o verdadeiro protagonista de Atos dos Apóstolos (v.9).
Já em Chipre, cidade natal de Barnabé
(At 4.36), desembarcam em Salamina, onde havia uma considerável população
judaica. Ali anunciam a Palavra do Senhor à sinagoga local. Depois, viajando em
direção à ilha de Pafos, proclamam o Evangelho de Cristo às suas aldeias e
povoados.
De Chipre a Antioquia da Pisídia (At
13.13-52).
De Pafos, subindo o rio Cestro, Paulo chega a Perge, região da
Panfília, cuja população era devota de Diana (Ártemis). Após uma viagem de 160
quilômetros, o apóstolo chega a Antioquia da Pisídia, onde havia uma grande
comunidade judaica e um posto militar romano.
Na sinagoga local, Paulo proclama o
evangelho aos judeus da Diáspora, conduzindo muitos à conversão. Não poucos
prosélitos também aderem à fé. No sábado seguinte, uma grande multidão
congrega-se, a fim de ouvir a Palavra de Deus. Os judeus incrédulos, porém,
saem a blasfemar e a incitar a cidade contra o apóstolo.
De Icônio ao regresso a Antioquia (At
14.1-28).
Localizada no entroncamento de Éfeso, Tarso e Antioquia, era
Icônio uma cidade mui estratégica à difusão do evangelho. Como de costume, Paulo
põe-se a evangelizar os judeus da dispersão. Muitos crêem. Outros, porfiando em
sua incredulidade, incitam as gentes contra os apóstolos.
Temendo por suas vidas, Paulo e
Barnabé deixam Icônio e dirigem-se a Listra e a Derbe, cidades da Licaônia.
Em Listra, que tinha como padroeiro a
Zeus, o maioral dos deuses gregos, os apóstolos pregam e restauram a saúde a um
coxo de nascença. Abismados pelo milagre, os licaônios atribuíram o prodígio à
manifestação de Zeus e Hermes (At 14.11,12). E já completamente fora de si,
puseram-se a oferecer sacrifícios aos apóstolos que, energicamente,
impediram-nos (At 14.15).
Logo em seguida, os que eram adorados
como deuses são tratados como a escória da humanidade. Uma multidão, procedente
de Antioquia e Icônio, incita as pessoas a apedrejarem a Paulo, que é dado como
morto (At 14.19). No entanto, a semente ali plantada haveria de florescer e
frutificar.
A SECUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA (At
15.36 — 18.28)
Em direção à Ásia (15.36 —
16.8).
Após a ruptura com Barnabé, prossegue Paulo na companhia de Silas,
que também era profeta (At 15.32). Em Listra, une-se a eles um jovem
greco-hebreu — Timóteo, a quem o apóstolo escreveria duas epístolas.
Deixando Antioquia, passaram pela
Síria e Cilicia. Confortando as igrejas na fé, informando-as acerca da
resolução do Concílio de Jerusalém (16.4,5). Em ato contínuo, atravessam a
região da Frígia e da Galácia. Mas o Espírito Santo, sempre na direção dos atos
de seus apóstolos, interrompe-lhes a jornada, conduzindo-os por um itinerário
que haveria de mostrar-se vital à expansão do Cristianismo.
Em direção à Europa (16.12 —
18.18). Em Trôade, Paulo é orientado, numa visão, a seguir para a
Macedônia. Rumo a Filipos, passa pela Samotrácia e por Neápolis, até chegar a
Filipos. Esta foi a primeira cidade da Europa a receber o evangelho. E Lídia, a
primeira européia a receber a Cristo, constrange os apóstolos a hospedarem-se
em sua casa.
Nessa cidade, Paulo expulsa o
espírito de adivinhação de uma jovem que, por intermédio desse artifício, dava
grandes lucros a seus senhores (At 16.16-18). Vendo estes que a fonte de seu
ganho secara, incitaram a cidade contra os apóstolos que, levados ao tribunal,
foram postos em prisão.No cárcere, Paulo e Silas adoravam a Deus quando um
terremoto abriu-lhes as portas da cadeia. O episódio constrangeu o carcereiro e
toda a sua família a converterem-se a Cristo (At 16.31). Já libertos, seguiram
eles a Tessalônica, passando por Anfípolis e Apolônia. E dali, prosseguiram a
pé por 64 quilômetros até a cidade.
Regresso (18.18-22). De Atenas,
dirigiu-se Paulo a Corinto, a mais importante metrópole da Grécia. Na cidade,
fez contatos com Áquila e Priscila. Aos sábados, consagrava-se ele a proclamar
o evangelho aos judeus e gentios ali residentes. Seu grande esforço resultou na
conversão do principal da sinagoga — o irmão Crispo. A permanência de Paulo em
Corinto foi de um ano e seis meses. Despedindo-se da igreja ali estabelecida,
dirigiu-se a Éfeso, na província da Lídia. Em seguida, retorna a Antioquia via
Jerusalém.
TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At
18.23 — 28.31)
De Antioquia a Macedônia (18.23
— 20.3). De Antioquia, Paulo dirigiu-se a Éfeso, objetivando confirmar a
igreja local. Como alguns discípulos nada sabiam sobre o Espírito Santo, pôs-se
o apóstolo a doutriná-los acerca da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Em
seguida, orou para que o Espírito de Deus sobre eles viesse. Imediatamente,
começaram a falar noutras línguas e a profetizar.
Como resultado de seu trabalho, a
superstição é vencida na cidade.
De Filipos a Jerusalém (20.6 —
21.17). Nessa seção de Atos, Paulo encerra a sua terceira viagem
missionária. Visita a Macedônia e a Grécia. Logo a seguir, retorna a Ásia
(20.1-6). Alguns fatos marcaram-lhe o regresso: seu longo discurso, a
ressurreição de Êutico e o comovente discurso aos anciãos de Éfeso. Apesar de
alertado divinamente sobre os perigos que o aguardavam em Jerusalém, chega à
Cidade Santa.
Paulo em Jerusalém. Em Jerusalém,
Paulo reúne os anciãos da Igreja em casa de Tiago e narra o que Deus fizera aos
gentios através de seu ministério. Ante o relato, os presbíteros preocupam-se
com a reação dos judeus a respeito de Paulo. O temor não era infundado: Paulo é
acuado e agredido pela multidão. Todavia, o Senhor preserva-lhe a vida,
providenciando para que seja levada a Roma, onde era mister que proclamasse o
evangelho.
Nas viagens missionárias de Paulo,
vemos clara e meridianamente os Atos do Espírito Santo. Sim, o Espírito Santo
continua a operar maravilhas no campo missionário, fazendo o evangelho chegar
aos confins da terra. Quando intimado pelo Senhor, não se furte. Responda:
“Eis-me aqui, envia-me a mim”.
A Primeira Viagem Missionária.Como pôde o apóstolo
Paulo, em tão pouco tempo, evangelizar os principais centros do Império Romano
e, finalmente, instalar-se em Roma com a irresistível mensagem do Evangelho? Ou
melhor: como pôde um único homem revolucionar toda a sua época? A resposta não
exige muita abstração. Em primeiro lugar, era Paulo um mensageiro
extraordinário do Senhor, através do qual foi o evangelho universalizado. Além
disso, utilizou-se ele da infra-estrutura do império para viajar de cidade em
cidade, de província em província e de reino em reino.
Providencialmente, não precisava de
nenhum passaporte especial: era um cidadão romano. Somente um Deus, que é a
mesma sabedoria, haveria de predispor todas as coisas a fim de que a mensagem
da cruz chegasse aos confins da terra. [...] Em Antioquia, o apóstolo Paulo
desempenhou uma importante etapa de seu ministério. E daqui, partiu ele para a
sua primeira viagem missionária. Após o Concílio de Jerusalém, retornou à
cidade com as resoluções tomadas pelos apóstolos e anciãos (At 15.23). Sua
segunda viagem missionária também teria Antioquia como ponto de partida.
Atualmente, Antioquia não passa de uma modesta povoação. Para nós, no entanto,
será conhecida sempre como a igreja missionária por excelência”
(notas ANDRADE,
C. Geografia Bíblica. 11.ed. RJ: CPAD, 2001, pp.227-29).
Paulo testifica de Cristo em
Roma
A respeito da viagem de Paulo a Roma.
Veremos que essa não foi uma viagem fácil. Paulo enfrentou grande perigo,
todavia o Senhor o guardou e o levou em segurança até o seu destino final. Em
Roma, Paulo ficou em prisão domiciliar e teve a oportunidade de se reunir com
os líderes da comunidade judaica, testemunhando de Cristo e dando
continuidade à obra do Senhor.
O apóstolo Paulo não era
prisioneiro de César ou de Roma; era-o de Cristo (Ef 3.1; Fm 9). Do relato
lucano, concluímos: os fatos que o conduziram a Roma não eram incidentais, mas
propositais, pois foram dirigidos por Deus (At 23.11). Se era urgente fosse o
evangelho anunciado em Jerusalém, a capital religiosa dos judeus, era premente
que a palavra da salvação alcançasse Roma, a capital política do Império.
Assim chega o evangelho à capital do
Império Romano. O mensageiro na verdade achava-se preso, mas a mensagem da cruz
tinha livre curso em Roma, Ninguém era capaz de detê-la. A Palavra de Deus
avançava sem impedimento algum.
VIAGEM DE PAULO A ROMA (At 27.1
— 28.10)
Constrangido a apelar para César, o
apóstolo Paulo é conduzido agora pelas autoridades romanas à capital do
império. O que parecia um simples traslado de preso, haveria de ser registrado
pela história como o início da maior expansão do Cristianismo que, conquistando
toda a Europa Ocidental, não tardaria a chegar aos pontos mais ignorados do
planeta.
De Cesareia a Roma (27.1-44). Em sua
viagem, o apóstolo conta com a assistência de Lucas e de um crente macedônio
chamado Aristarco (ver 19.29; 20.4; Cl 4.10; Fm 24). Como diz o sábio rei de
Israel, é na angústia que nasce o irmão (Pv 17.17; 18.24). Além disso, o
centurião que lhe cuida da segurança, trata-o com deferência e humanidade.
Permite-lhe inclusive que visite a igreja em Sidom. Quando Deus nos envia, até
os inimigos fazem-se amigos e os amigos tornam-se irmãos.
Açoitada pela voragem do mar, segue a
nau lenta e dificultosamente até Mirra, na Lícia. Desta cidade, zarpam em
direção da Itália em um navio procedente de Alexandria. Embora prisioneiro, o apóstolo
mantém o controle da situação. Mostra uma autoridade moral e espiritual que
viria a surpreender a todos naquela nau. Haja vista a advertência que faz ao
centurião quanto aos perigos que os aguardavam em seu trajeto a Roma. O
militar, que de início prefere ouvir o piloto a Paulo, ver-se-á mais adiante
obrigado a reconhecer a oportunidade de seu conselho.
Paulo na ilha de Malta (At
28.1-10). Forçados a desembarcar em Malta, localizada ao sul da Sicília,
todos são tratados com singular bondade pelos naturais da terra. Ali, opera o
Senhor, por intermédio de Paulo, sinais e maravilhas. Aquele que se mostrara
imune à víbora que se achava oculta nos gravetos, cura o pai de Públio,
magistrado local, e recupera a saúde a muitos ilhéus. Dessa maneira, semeia Paulo
uma igreja que não tardaria a florescer. Apesar das dificuldades que você
enfrenta, querido missionário, Deus quer operar o sobrenatural por seu
intermédio.
Paulo chega a Roma (At 28.11-15). Decorridos
três meses, o navio que conduziria Paulo a Roma, zarpa generosamente suprido
pelos malteses. Desembarcam em Siracusa, chegam a Régio e aportam em Putéoli.
Aqui, instados pelos irmãos, o apóstolo juntamente com seus companheiros
hospedam-se por sete dias.
Já em Roma, encontra-se com alguns
irmãos na praça de Ápio. O Senhor jamais abandona os seus mensageiros, mesmo
distantes da pátria querida, faz-nos Ele sentir-nos em casa. Você passa por
alguma provação? Parece que o trabalho não avança? Não se deixe abater. A
Palavra de Deus jamais voltará vazia. Você ficará surpreso com o que o Cristo
está para realizar através de seu ministério.
O EVANGELHO É PROCLAMADO NA
CAPITAL DO IMPÉRIO (At 28.16-31)
Se o Senhor decretou fosse o
evangelho conhecido em toda a Roma, por que manteve encarcerado o seu maior
campeão? Neste momento, talvez esteja você aprisionado a entraves burocráticos
dentro e fora de nossas fronteiras. Não se desespere. Ninguém haverá de algemar
a mensagem da cruz. Não há protocolo capaz de barrar a vontade de Deus.
Prisão domiciliar (28.16). Como não
recaía sobre Paulo nenhuma acusação de crime capital, era-lhe permitido morar
por sua própria conta. Apesar de vigiado por um soldado, tinha liberdade de
ler, escrever, receber visitas e, naturalmente, evangelizar. Terá aquele
militar se convertido a Cristo? Não tenho dúvidas. Mesmo sem liberdade, o
Senhor deixa-nos livres para realizar a sua obra.
Apologia entre os judeus
(28.17-22). De sua prisão domiciliar, Paulo convoca os líderes da comunidade
judaica para expor-lhes os eventos que o trouxeram sob algemas a Roma. Como
apóstolo dos gentios, aproveita ele para anunciar que Jesus era, de fato, o
Messias de Israel. Alguns deixam-se persuadir, outros preferem continuar na
incredulidade. Entre os gentios, contudo, o evangelho põe-se a expandir até mesmo
na elite romana. Na exposição da Palavra de Deus, seja um autêntico apologeta.
Apresente, com mansidão e firmeza, as razões da esperança cristã.
Progresso do evangelho em Roma
(28.23-31). Roma era o centro político, econômico e cultural do mundo. Apesar
de sua grandeza e não obstante a sua importância, a cidade fizera-se notória
pela lassidão moral e pela degenerescência de seus costumes. Em seus termos, os
cultos mais extravagantes e as mais exóticas religiões. E os deuses
encontradiços em cada praça e logradouro?
Gente de toda parte misturava-se
pelas ruas de Roma. Berço de notáveis oradores, políticos, generais e juristas,
era a cidade marcada pela injustiça, ignorância e por uma soberba tola e
animalesca. Haja vista as deferências cultuais que recebiam imperadores como
Nero e Calígula.Todavia, ali estava um poder que haveria de sobrepor-se sobre a
todos os mais afamados símbolos e potentados romanos: o Evangelho de Cristo
Jesus. Haveria este de avançar com muito mais determinação do que as mais aguerridas
legiões romanas. Avançaria sim e conquistaria nações sem impedimento algum.
Se Lucas deixa em aberto os Atos dos
Apóstolos, por que iríamos nós fechar as portas que o Espírito Santo nos abre
todos os dias? Sim, portas à evangelização nacional e portas às missões
transculturais. Aproveitemos, pois, o Centenário das Assembleias de Deus no
Brasil, para dar continuidade à evangelização dos povos. Atos 1.8 é uma
ordenança que não pode ser esquecida. Se nos dispusermos a ir, todos os
impedimentos ser-nos-ão tirados.
Paulo em meio à tempestade.“A experiência de
Paulo na tempestade, dentro da vontade de Deus, contrasta com a de Jonas, que
estava em desobediência. Comparando as duas, notamos: Paulo viajava para
cumprir sua sagrada vocação. Jonas fugia da chamada que recebeu. Este se
escondeu e dormiu durante a tempestade. Aquele dirigia as operações e
encorajava os passageiros.
A presença de Jonas no navio era a causa da
tempestade. O navio em que Paulo viajava seria preservado de todo dano se os
tripulantes respeitassem seu aviso (At 27.9,10). Jonas foi forçado a dar
testemunho acerca de Deus (Jn 1.8,9). Paulo, com boa vontade e coragem, falou
acerca da sua visão e do seu Deus. A presença de Jonas no navio ameaça a vida
dos gentios. A presença de Paulo era uma garantia para a vida dos seus
companheiros de viagem. O navio em que Jonas viajava recebeu alívio quando ele
foi jogado no mar. A conversão de Paulo salvou a tripulação do navio no qual
era prisioneiro. Há muita diferença em atravessar uma tempestade dentro e fora
da vontade de Deus! Paulo, andando segundo o querer de Deus, em comunhão com
Ele tornou-se bênção para todos quantos atravessavam o perigo com ele. Conforme
Paulo anunciou, todos escaparam ilesos para a terra. Ficaram na ilha durante o
inverno, um período de três meses. Mais uma vez foi manifestada a presença de
Deus através de Paulo”
(notas PEARLMAN, M. Atos. 1.ed., RJ: CPAD, 1995, pp. 248-49).
(notas PEARLMAN, M. Atos. 1.ed., RJ: CPAD, 1995, pp. 248-49).
• Malta —
“A ilha e pequena, com cerca de 29 quilômetros de extensão e 13 de largura.
Está situada entre a Silícia e a costa africana. Provavelmente, seja o local
identificado como a ‘baía de São Paulo’. Na época de Paulo, Augusto alojou, no
local, veteranos aposentados do exército. A população falava, além do grego,
sua língua original fenícia”
(notas RICHARDS. L. O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 1.ed., RJ: CPAD. 2005, p.733).
(notas RICHARDS. L. O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 1.ed., RJ: CPAD. 2005, p.733).
• Roma —
“Antiga rainha do mundo, acha-se edificada às margens esquerdas do Rio Tibre,
sobre sete colinas. A cidade é mencionada nos Atos, na Epístola de Paulo aos
Romanos e na Segunda Epístola a Timóteo.
No tempo de Pompeu, muitos foram os
judeus levados a Roma como cativos. Para eles, o governo reservara um
território na margem direita do Tibre. Apesar de desfrutarem dos favores de
Júlio César e Augusto, foram os judeus perseguidos por Cláudio que resolveu
expulsá-los da capital do império (At 18.2).Muitos, todavia conseguiram
permanecer em Roma, pois quando Paulo aqui chegou, como prisioneiro do Império,
encontrou uma considerável colônia judaica (At 28.17)”
(notas ANDRADE, C. Geografia
Bíblica. A geografia da Terra Santa é uma das maneiras mais
emocionantes de se entender a história sagrada. 11.ed., RJ: CPAD, 2001,
p.248)
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PAZ DO SENHOR
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