A TEOLOGIA DA ASCENSÃO DE CRISTO (2)
Artigo Mauricio Berwald
No âmbito da Teologia Cristã,
primeiro temos o fato, depois, o dogma. Doutra forma, repetimos, não teríamos
uma doutrina, mas uma inconsistência histórico-teológica. Eis que podemos
confiar no ensino da ascensão de nosso Senhor. Vejamos, em primeiro lugar, o
que é a ascensão de Cristo.
Ascensão de Cristo. Subida
corpórea e física do Cristo ressurreto e glorioso aos céus, para junto do Pai,
após haver cumprido o seu ministério terreno. Sua ascensão foi, de fato,
corpórea, porque a sua ressurreição foi física e não aparente. É claro que o
seu corpo, à semelhança do que ocorrera no Monte da Transfiguração, foi elevado
aos céus já revestido de glória, poder e celestialidade. Quando do
arrebatamento, teremos um corpo semelhante (1 Co 15.50-58; 1 Jo 3.2).
Teologicamente, a ascensão de Cristo
acha-se ligada a duas importantes doutrinas: a paracletologia e a escatologia.
A perspectiva paracletológica. Antes de
ascender aos céus, prometeu o Senhor Jesus aos discípulos, ainda preocupados
com a restauração do Reino de Israel, que seriam eles revestidos pelo Espírito
Santo (At 1.8). Aos que buscavam a libertação política de um país, o Rei dos
reis entrega, como herança, todas as nações da terra. Não mais um império na
terra, mas o Reino de Deus no mundo. E isso no poder do Espírito Santo.
A perspectiva escatológica. A narrativa
da ascensão de Cristo traz, em si, o cerne da escatologia cristã. A sua subida
aos céus é uma consequência teológica tanto de sua morte quanto de sua
ressurreição. E acreditar nesta implica, para o cristão, esperançar-se no
retorno do Senhor que, estrugida a última trombeta, ressuscitará os que nEle
morreram e os que nEle vivem (1 Ts 4.14-17).
A sua ascensão foi sucedida por uma
declaração escatológica. Aos discípulos que, maravilhados, observavam a
elevação do Filho de Deus, prometem os dois seres angelicais: “Varões galileus,
por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em
cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.11).
A ASCENSÃO DE CRISTO EM NOSSA
DEVOÇÃO
Além de sua beleza e sublimidade
teológica, a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo enleva-nos a devoção,
estreitando-nos a comunhão com o Senhor. Vejamos, pois, alguns fatores devocionais
que nos proporcionam o Cristo que ascendeu aos céus.
A posição do Cristo que
ascendeu. Ascendido às alturas sob os olhares interrogativos e desolados de
seus discípulos e apóstolos, o Senhor Jesus assentou-se à destra do Pai. Ao
registrar-lhe a ascensão, o evangelista Marcos garante tratar-se não de um
engenho fantasioso, mas de um evento histórico: “Ora, o Senhor, depois de lhes
ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus” (Mc 16.19).
Vários autores sagrados fazem menção ao acontecimento (At 2.33; 7.56; Hb 10.12;
12.2; 1 Pe 3.22).
Cristo está à destra de Deus.
Alegremo-nos. Junto ao Todo-Poderoso encontra-se um que nos compreende. À nossa
semelhança, Ele sabe o que é padecer (Is 53.3). Eis porque está sempre a
interceder por nós como o Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl
110.4). Não se desespere, Cristo o compreende.
A eficácia salvífica do Cristo que
ascendeu aos céus. À destra de Deus, o Senhor Jesus atua como o mediador da nova
aliança firmada em seu sangue, através da qual obtivemos eterna salvação (Hb
5.9). Sim, somente em seu nome é que o ser humano logra a redenção de sua alma,
como reafirmou o apóstolo Pedro: “E em nenhum outro há salvação, porque também
debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos
ser salvos” (At 4.12).
À destra de Deus, o Senhor Jesus
salva e justifica o pecador, proporcionando-lhe a bem-aventurança de ser
adotado pelo Pai como filho (Rm 5.1; Ef 1.5).
Cristo assunto, nosso Advogado. Consola-nos
saber que, à destra de Deus, temos um advogado sempre pronto a defender-nos as
causas junto ao Juiz de toda a terra. Eis como o discípulo do amor descreve
essa função do Senhor: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o
Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos,
mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2).
Se você pecou, não se desespere.
Arrependa-se e confie no Advogado que temos, junto, ao Pai.A ascensão de Nosso
Senhor Jesus Cristo é um fato comprovadamente histórico. Como é bom saber que,
junto ao trono do Todo-Poderoso, temos um intercessor e advogado sempre pronto
a interceder por nós. Amém! E um dia, mais rápido do que supomos, virá o Senhor
arrebatar-nos, para que estejamos sempre com Ele nos céus ao lado do Pai.
Amém!
“A Teologia da Ressurreição de
Cristo.Soteriologia da ressurreição. Para que o pecado do homem seja
expiado, deve haver uma vida perfeita de justiça, vivida em completa obediência
à santa lei de Deus, para ser oferecida ‘sem mácula’. Cristo realizou esta
importante obra através de sua vida (Rm 5.19; 10.4; Hb 4.15; 5.8,9). [...] Deus
mostrou sua absoluta satisfação com a obediência ativa e passiva de Cristo,
ressuscitando o seu Filho dos mortos, e assim atestando que sua obra que visava
alcançar a nossa justificação foi aprovada e aceita (Rm 4.25).
Escatologia da ressurreição. A
ressurreição revela a vitória completa e final sobre a morte e o pecado, e
sobre os seus efeitos no homem e na criação. Pelo fato de Cristo ter
ressuscitado, os crentes também ressuscitarão em corpos transformados (1 Co
15). Por meio deste mesmo fato, a natureza também será libertada da maldição.
Esta é a explicação da ressurreição do crente ou a manifestação dos filhos de
Deus através da ‘redenção do nosso corpo’, e a remoção da ‘servidão da
corrupção’ na segunda vinda de Cristo serem mencionados como ocorrendo
simultaneamente em Romanos 8.18-23”.
(NOTAS Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ:
CPAD, 2009, p.1669)
“A Ressurreição.Além de 1 Coríntios 15, há mais de
uma dúzia de outras referências à ressurreição de Cristo nas incontestáveis
epístolas paulinas, escritas antes dos anos 50 (Rm 4.24,25; 6.4,9; 8.11,34;
10.9; 1 Co 6.14; 2 Co 4.14; 5.15; Gl 1.1; 1 Ts 1.10; etc). Em segundo lugar,
não há alternativa que explique adequadamente por que os primeiros cristãos
judeus (isto é, não apenas gentios) alteraram o seu dia de adoração de sábado
para domingo, especialmente quando a sua lei fazia da adoração no sábado (Sabbath)
um dos Dez Mandamentos invioláveis (Êx 20.8-11). Alguma coisa objetiva,
assombrosamente significativa e com data de alguma manhã de domingo em
particular deve ter gerado a mudança. Em terceiro lugar, em uma cultura em que
o testemunho das mulheres era frequentemente inadmissível em um tribunal, quem
inventaria um ‘mito’ relacionado à fundação, em que todas as primeiras
testemunhas de um evento difícil de crer eram mulheres? Em quarto lugar, os
relatos contidos do Novo Testamento diferem dramaticamente das bizarras
descrições apócrifas da ressurreição, inventadas no século II e depois.
Em
quinto lugar, nos primeiros séculos do cristianismo, nenhum sepulcro jamais foi
venerado, separando a resposta cristã à morte do seu fundador de praticamente
todas as outras religiões da história da humanidade. Finalmente, o que teria
levado os primeiros cristãos judeus a rejeitar a interpretação que lhes foi
dada como herança de Deuteronômio 21.23, de que o Messias crucificado, pela
própria natureza da sua morte, demonstrou que Ele estava se colocando em uma
posição de maldição diante de Deus? Novamente, é mais fácil crer em um evento
aceito como sobrenatural do que tentar explicar todos estes fatos estranhos
através de alguma outra lógica”.
(NOTAS BLOMBERG, C. L. Questões Cruciais do
Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2010, pp.66-67)
O
derramamento do Espírito Santo no Pentecostes
A plenitude do Espírito Santo é
chamada de “a promessa do Pai”. Há muitas promessas no texto bíblico,
mas esta promessa específica tem a ver diretamente com o derramamento do Santo
Espírito. Profetas como Ezequiel (39.29), Joel (2.28), Isaías (32.15; 44.3) e
João Batista (Mt 3.11; Lc 3.16), proclamaram, durante seus ministérios, um
futuro derramamento do Espírito Santo sobre a casa de Israel,
e sobre toda a carne, como o evento que marcaria os últimos dias. Essa promessa
foi corroborada pelo Rei dos reis e o maior de todos os profetas: Jesus Cristo
(At 1.4-8).
Atualmente diversos estudiosos, com
pressupostos cessacionistas, negam o batismo com o Espírito Santo com a
evidência inicial de falar em outras línguas, bem como a atualidade dos dons
espirituais. Porém, as supostas provas apresentadas por eles não se sustentam
ante a hermenêutica bíblica. No Centenário das Assembléias de Deus no Brasil,
urge reafirmarmos este artigo de fé que nos tem caracterizado desde Daniel Berg
e Gunnar Vingren: “Cremos na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos
dons espirituais” Como não admitir uma realidade bíblico-teológica tão
evidente? E como desprezar a experiência de milhões de crentes que, desde o
Pentecostes, vêm recebendo o batismo com o Espírito Santo com a evidência
inicial e física do falar em outras línguas?
O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
O teólogo pentecostal inglês, Donald
Gee (1891-1966), testemunha-nos acerca de sua experiência pentecostal: “Um
louvor crescente afluia agora em minha alma, até que comecei a falar em outras
línguas publicamente. Cantava muito em línguas. Toda a minha experiência cristã
foi revolucionada”. Mas o que é o batismo com o Espírito Santo?
O batismo com o Espírito Santo. Prometido
pelo Senhor Jesus Cristo, o batismo com o Espírito Santo é o
revestimento de poder que nos introduz numa nova dimensão espiritual,
habilitando-nos a proclamar o evangelho com mais eficácia, a devotar a Deus um
amor mais ardente e sacrifical e a ter uma vida mais santa e irrepreensível (Lc
24.49; At 1.8).
A evidência inicial e física do
batismo com o Espírito Santo. O batismo com o Espírito Santo
é evidenciado pelo falar noutras línguas. Lucas realça o fato em pelo menos
três ocasiões distintas (At 2.1-3; 10.45-48; 19.1-7).
FUNDAMENTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO
SANTO
Ao contrário do que supõem os
inimigos da Obra Pentecostal, o batismo com o Espírito Santo não é uma prática
destituída de doutrina; acha-se assentada num forte e inamovível fundamento
bíblico-teológico. Os escritores do Antigo e do Novo Testamento referem-se ao
derramamento do Santo Espírito nestes últimos dias que começaram no
Pentecostes.
Moisés. Pressionado
pelos encargos de sua missão, Moisés queixa-se a Deus para que o alivie daquele
insuportável fardo (Nm 11.24,25). Responde-lhe o Senhor, então, que haverá de
repartir-lhe o Espírito entre setenta varões idôneos e incorruptíveis.
E os setenta puseram-se a profetizar,
inclusive Eldade e Medade, que se encontravam fora do arraial. Josué, porém, já
enciumado pelo profeta, fez-lhe uma recomendação carente de oportunidade acerca
de ambos: “Senhor meu, Moisés, proíbe-lho” (Nm 11.28). Voltando-se para seu
valoroso servo, o servo de Jeová repreendeu-o: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara
que todo o povo do SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu
Espírito!” (Nm 11.29).
Nesta passagem de Números, os
israelitas já podiam ter um vislumbre, embora pálido, do que seria o
Pentecostes.
Isaías. Conhecido
como o evangelista do Antigo Testamento, Isaías vaticina a efusão do Espírito
Santo: “Porque derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca;
derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os
teus descendentes” (Is 44.3).
Joel. Ele recebe o
justo epíteto de profeta pentecostal, descerra a História da Salvação e mostra
a descida do Espírito Santo como a inauguração do período conhecido como os
derradeiros dias: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre
toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos
terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Há de ser que todo aquele que
invocar o nome do SENHOR será salvo” (Jl 2.28,32a).
João Batista. O predecessor
de Nosso Senhor Jesus Cristo prediz o batismo com o Espírito Santo: “E eu, em
verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após
mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele
vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
Jesus. O Filho de
Deus promete a efusão do Espírito: “E, estando com eles, determinou-lhes que
não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que
(disse ele), de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas
vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At
1.4,5).
O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO NA
HISTÓRIA DA IGREJA
O batismo com o Espírito Santo não é
um modismo teológico nem uma criação eclesial do Século 20. É uma promessa
feita pelo Pai, ratificada pelo Filho e operada pelo Consolador. A história da
Igreja Cristã mostra que, do Pentecostes em Jerusalém, aos dias de hoje, houve
continuidade na dispensação dessa tão inefável promessa.
Eis o testemunho de Agostinho
(354-430): “Nós faremos o que os apóstolos fizeram quando impuseram as mãos
sobre os samaritanos, pedindo que o Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos
que os convertidos falem novas línguas”.
Poderíamos citar outros testemunhos.
Mas falta-nos espaço. O que diremos de Lutero? Wesley? Finney?
OS OBJETIVOS DO BATISMO NO ESPÍRITO
SANTO
William W. Menzies, um dos mais
notáveis teólogos das Assembléias de Deus dos Estados Unidos, leciona acerca da
experiência pentecostal: “O batismo com o Espírito Santo permite-nos
experimentar uma plenitude espiritual (Jo 7.37-39; At 4.8), uma reverência mais
profunda por Deus (At 2.43; Hb 12.28) e uma intensa consagração por Cristo, por
sua Palavra e pelos perdidos” (Mc 16.20).
Poder e unção a fim de
proclamar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. O
evangelista, missionário e teólogo metodista Stanley Jones é incisivo
(1884-1973): “A vida do cristão começa no Calvário, mas o trabalho eficiente,
no Pentecostes”.
Os apóstolos do Cordeiro, antes do
Pentecostes, andavam de timidez em timidez. Já revestidos de poder, correram a
alcançar Jerusalém, a Judeia e os confins da terra com o evangelho. E o que
diremos de Daniel Berg e Gunnar Vingren que, intrépida e corajosamente,
percorreram o Brasil empunhando a flama pentecostal? (At 1.8).
Reverência diante das coisas de Deus. A efusão do
Espírito Santo levou os discípulos, agora como Igreja, a devotar uma reverência
ainda maior ao Senhor Jesus Cristo: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos,
e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e
muitos prodígios e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42,43).
O autêntico avivamento pentecostal
plenifica nossa reverência a Deus.
A experimentação da plenitude
espiritual. Não podemos conformar-nos com a nossa vida espiritual. Deus tem
muito mais a dar-nos, conforme promete o Senhor Jesus: “Se alguém tem sede, que
venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva
correrão do seu ventre. E isso disse Ele do Espírito, que haviam de receber os
que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus
não ter sido glorificado” (Jo 7.37-39).
“Falar em Línguas (Glossolalia)
‘Glossolalia’ é um termo
técnico freqüentemente utilizado para o falar em línguas; é uma forma combinada
das palavras gregaslalia (‘discurso’, ‘fala’) e glossa (‘língua’,
‘linguagem’). O fenômeno de falar em línguas, ao contrário do vento e do fogo,
é integral para os discípulos que são cheios do Espírito. ‘E todos foram cheios
do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia a verbalização inspirada’ (At 2.4 — [tradução do autor]).
O registro diz que os discípulos
‘começaram [archomai] a falar noutras línguas’ (At 2.4). Não existe
indicação de que os discípulos tenham iniciado, ou de que eles mesmos
‘começaram’ o falar em línguas. [...] O significado de ‘eles começaram a falar
em línguas’ é simplesmente ‘eles falaram em línguas’. [...] Os discípulos em Pentecostes
falaram em línguas ‘conforme o Espírito ia dando-lhes verbalização inspirada’
[tradução do autor], não sob o próprio ímpeto deles. A expressão ‘conforme’ (kathos)
pode ser traduzida como ‘na medida em que’ (Ver Mc 16.17; At 2.4; 10.46; 19.6;
1 Co 12.10,28,30; 13.8; 14.2,4-6,13,14,18,19,22,23,26)”.
(NOTAS PALMA, A. D. O
Batismo no Espírito Santo e Com Fogo. Os Fundamentos Bíblicos e a
Atualidade da Doutrina Pentecostal.1.ed. RJ: CPAD, 2002, pp.61-63)
O Testemunho Pessoal de Donald Gee.“[...] numa noite
de quarta-feira, em março de 1913, toquei órgão no culto de meio de semana na
igreja Congregacional (que terminava às 21h pontualmente), e depois corri para
desfrutar do restante da reunião de Highbury New Park. Depois do término da
reunião (aproximadamente às 22h30min), o irmão que vinha dirigindo o culto, um
respeitável pastor irlandês, colocou-me à prova numa espécie de catecismo.
— Tem certeza da salvação?
— Sim.
— Já é batizado? — Sim.
— Já é batizado com o Espírito Santo?
— Não.
— E por que não?
Expliquei-lhe minha aversão a
‘esperas’ que pareciam uma eternidade. Ele incentivou-me dizendo que isso não
era necessário. E, abrindo sua Bíblia, leu para mim Lucas 11.13, e depois
Marcos 11.24. Então perguntou-me se eu acreditava nesses versículos. Garanti-lhe
que sim e, no momento em que demonstrei-lhe minha fé, era como se Deus jorrasse
do Céu para o interior do meu coração, uma certeza absoluta de que essas
promessas estavam sendo realmente cumpridas em mim. [...]
Desde aquele instante, minha alegria
e satisfação foram intensas, [...]. Experimentei uma nova plenitude acima das
palavras, e descobri que tornava-me cada vez mais difícil adequar à minha voz
todo o louvor existente em minha alma. Essa situação continuou durante duas
semanas aproximadamente [...].
Um louvor crescente afluía agora em
minha alma, também nas reuniões, até que comecei a falar em outras línguas
publicamente. Cantava muito em línguas também quando a pequena congregação era
levada pelo Espírito Santo a esse fim durante nossos momentos de oração e
adoração. Toda minha experiência cristã foi revolucionada. Eu não procurava
mais aqui e ali por uma satisfação espiritual — eu a havia encontrado. Todo meu
prazer estava na oração, no estudo da Bíblia e nos irmãos em Cristo. Isso
aconteceu apenas seis semanas antes do meu casamento, e um velho pastor
batista, que veio para tentar questionar-me sobre minha recente bênção, teve de
admitir que nunca havia conhecido um rapaz tão próximo de um acontecimento
feliz, e ainda assim tão interessado nas coisas espirituais. Minha esposa,
felizmente, sentia tudo da mesma forma que eu; e nós nos alegrávamos
juntos”.
(NOTAS GEE, D. Como receber o Batismo no Espírito Santo. Vivendo
e testemunhando com poder. 1.ed. CPAD, 2001, pp.13-15)
Comunhão na Igreja
Um dos sinais da atuação do Espírito
Santo na Igreja Primitiva era a comunhão entre os seus membros. Mais que
oferecer parte ou o todo dos bens que possuíam, os cristãos mantinham-se unidos
por um vínculo comum: eles pertenciam ao corpo místico de Cristo — a Igreja de
Deus. A comunhão faz da Igreja um organismo espiritual perfeito de homens e
mulheres que, apesar de suas procedências étnicas e diversidades culturais,
sentem-se e agem como irmãos. Somente seremos reconhecidos como filhos de Deus
se cuidarmos uns dos outros e mutuamente nos socorrermos.
A comunhão levou aqueles crentes a
partilharem o que tinham, abrindo as portas para a atuação do Espírito Santo.
Assim, ia o Senhor acrescentando o número dos santos tanto em Jerusalém, como
em toda a Judeia e Samaria até os confins daquelas terras.
A COMUNHÃO DOS SANTOS
A comunhão observada na Igreja de
Cristo não é um mero fenômeno social. É o resultado da ação direta do Espírito
Santo na vida daqueles que recebem a Jesus como o seu único e suficiente
Salvador (Ef 2.19). É uma comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da
congregação dos filhos de Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se
fossem um só homem (Jz 20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível,
no Espírito Santo e assim estará para todo o sempre.
O que é a comunhão. A comunhão é
o “vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os
cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo”.
(NOTAS Dicionário Teológico,
CPAD).
A palavra grega koinonia traz a ideia de cooperação e
relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão da Igreja Primitiva era
completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas também reuniram-se para
socorrer os mais necessitados.
A comunhão de sua igreja tem como
modelo os cristãos de Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento social?
A unidade do corpo de Cristo. Eis um dos
mais preciosos capítulos da doutrina da Igreja: sua unidade. O apóstolo Paulo
tinha uma perfeita compreensão desse mistério (Ef 4.1-7). Somente pelo Espírito
Santo podemos compreender a unidade de judeus, árabes, gregos e bárbaros que,
apesar de suas diferenças culturais e étnicas, não apenas sentem-se e agem como
irmãos, mas acham-se espiritualmente vinculados num só corpo pela ação direta e
distintiva do Espírito Santo.
Cada membro, neste corpo, tem uma
função específica, mas todos trabalham pelo bem comum: “Porque, assim como o
corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só
corpo, assim é Cristo também” (1 Co 12.12). Quando um de seus membros sofre,
todos sofrem com ele. Por isso, preocupamo-nos uns com os outros e mutuamente
nos socorremos (Ef 4.1-6). Você tem preservado a unidade do Corpo de Cristo? Ou
tem promovido divisões e dissensões entre os santos?
A comunhão da Igreja agrada a
Deus. Deus quer e exige que seu povo permaneça unido (1 Co 1.10). Em sua
oração sacerdotal, o Senhor Jesus roga ao Pai pela unidade de seus discípulos
(Jo 17.11). Portanto, se mantemos o vínculo da comunhão, agradamos a Deus (Ef
4.3). Sim, esse é o vínculo da perfeição que tem como base o
amor, conforme ensina o apóstolo Paulo: “com toda humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4.2).
A COMUNHÃO CRISTÃ CARACTERIZA-SE PELA
UNIDADE
A comunhão cristã constitui-se num
grande mistério. É algo que a própria sociologia não pode explicar. Nem o
próprio Israel de Deus, no Antigo Testamento, logrou alcançar tamanha perfeição
e excelência. Aliás, as diferenças entre as doze tribos tornou-lhes impossível
a unidade (1 Rs 12.1-16). Vejamos, pois, em que consistia a comunhão da Igreja
Primitiva. Que este seja o nosso modelo até que o Cristo de Deus venha
buscar-nos.
Unidade doutrinária. Não pode
haver perfeita união sem unidade doutrinária. Informa-nos Lucas que os cristãos
primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Não era uma
doutrina qualquer; tratava-se do ensinamento emanado do colégio apostólico
constituído pelo Senhor Jesus Cristo. Paulo, ao discorrer sobre o mistério do
corpo de Cristo, fala de uma só fé (Ef 4.5) que deve ser preservada zelosamente
pelos santos (Jd v.3).
Na autêntica comunhão cristã, por
conseguinte, não há lugar para heresias nem apostasias. Estejamos, pois, sempre
alertas. Nestes últimos dias, muitos aparecerão em nosso meio dissimulando suas
inverdades doutrinárias, com o único intuito de destruir a comunhão dos santos
(2 Ts 2.3; 2 Pe 2.1).
Unidade na própria comunhão. A unidade
doutrinária conduz a uma comunhão perfeita. Isto significa que não pode haver
genuína comunhão cristã com dois ou três pensamentos teológicos díspares e
contrastantes. As seitas aparecem quando um indivíduo, ou grupo, apresenta uma
doutrina contrária aos profetas e apóstolos de Nosso Senhor. Lembra-se da
doutrina de Balaão? (Jd v.11; Ap 2.14). E dos ensinos de Jezabel? (Ap 2.20).
Muitos são os que mergulham nas profundezas de Satanás e apresentam-se como
especialistas no conhecimento de Deus (Ap 2.24).
Se quisermos, portanto, uma comunhão
perfeita, lutemos por manter a sã doutrina. A heresia causa divisão. Ou melhor:
a heresia em si já é uma divisão. Esta recomendação de Paulo não deve ser
esquecida: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt
3.10).
Unidade no partir do pão. Os crentes
primitivos mantinham uma comunhão tão intensa entre si que se reuniam com
alegria e singeleza de coração para celebrar a Santa Ceia. Era o seu “partir do
pão” (At 2.42). Eles em Cristo e Cristo em cada um deles. Pode haver comunhão
mais plena? Não era simplesmente uma cerimônia; era a festa na qual lembravam a
morte e ressurreição de Jesus — a expressão mais sublime do amor divino.
Voltemos a participar, ou melhor, a
celebrar a Santa Ceia como a reunião mais importante e solene da Igreja. Todas
as vezes que nos congregamos com essa finalidade, lembramo-nos de que Cristo
morreu e ressuscitou e certificamo-nos de que, em breve, virá Ele
arrebatar-nos.
Unidade nas orações. Informa-nos Lucas,
também, que a comunhão da igreja Primitiva tinha como base a oração. O autor
sagrado é enfático: “e nas orações” (At 2.42). Isto significa que as reuniões
de clamor e intercessão eram-lhes frequentes e poderosas. Haja vista que, certa
ocasião, a força da oração daqueles santos chegou a abalar a estrutura do
prédio em que estavam reunidos (At 4.31). Sem oração, a comunhão da Igreja
perde a sua força e influência. Sua igreja é uma comunidade de clamor e
intercessão? Ela ainda move o coração de Deus? É hora de clamar!
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