CRISTOLOGIA (2)
João 1.1-5,9-14.
O termo “Cristologia” procede de duas
palavras gregas, “Christos”, que significa “Ungido”, “Messias”, e “logia”,
traduzido por “estudo”, “ciência” ou “tratado”. Cristologia é o estudo da
pessoa, natureza, obra e ofício de Cristo, segundo as Escrituras. No que diz
respeito à natureza de Cristo, esta é singular, pois ao mesmo tempo em que
Jesus Cristo é Deus, no sentido pleno e absoluto do termo, também assumiu a
natureza humana, com exceção do pecado, era sua totalidade e perfeição. Jesus
era, em sua encarnação, plenamente Deus e completamente humano em todas as
áreas de sua vida. No entanto, duas verdades devem ser afirmadas: 1) as duas
naturezas nunca se confundem; 2) as duas naturezas não implicam duas
personalidades. As naturezas divina e humana coexistem com suas diferenças,
mantendo suas características peculiares em uma mesma pessoa. Assim, Jesus e
perfeito em divindade e perfeito em humanidade; verdadeiro Deus e verdadeiro
homem.
Palavra Chave
Esvaziamento: Do grego ekenōsen,
“esvaziar”. Doutrina que trata da auto-renúncia de Jesus ao assumir a natureza
humana, porém, sem deixar de ser Deus.Discorrendo sobre a dupla natureza de
Nosso Senhor, escreveu admiravelmente J. Blanchard: “Quando Jesus desceu à
terra não deixou de ser Deus; quando voltou ao céu não deixou de ser homem”.
Se não crermos em Jesus como verdadeiro
homem e verdadeiro Deus, como haveremos de recebê-lo como o Nosso Suficiente
Salvador? Ver 2 Tm 2.8; Jo 1.14; Fp 2.7,8.
Nesta lição, entraremos a estudar a
Cristologia: o estudo ordenado e sistemático de Cristo Jesus na Bíblia.
Principiando com as profecias do Antigo Testamento, vai a nossa abordagem até
ao triunfo final do Nazareno. Como não poderemos apresentar uma cristologia
exaustiva, buscaremos expor essa doce e maravilhosa doutrina em sua essência.
I. A ENCARNAÇÃO DO VERBO DE DEUS
A encarnação do Verbo de Deus não é um
mero conceito teológico; é um dos maiores mistérios das Sagradas Escrituras,
sem a qual seria impossível a nossa redenção.
1. O Verbo de Deus. Abrindo o seu
evangelho, escreve João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a
sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo
1.14). Deixa o evangelista bem patente que o Filho de Deus, que se encontrava
no seio do Pai, foi concebido pelo Espírito Santo para habitar entre nós (Sl
2.7; Is 7.14; Jo 1.18;3.16). Por que João denomina-o Verbo de Deus? Sendo
Cristo o executivo do Pai, todas as coisas vieram à existência por intermédio
dEle; sem Ele, nada do que é, existiria.
2. O esvaziamento de Cristo. Em sua
encarnação, o Cristo tornou-se em tudo semelhante a nós, exceto quanto à
natureza pecaminosa e ao pecado (Fp 2.7,8 - ARA).
Em que consistiu o auto-esvaziamento de
Cristo? Certamente não esvaziara-se Ele de sua divindade; porquanto, em todo o
seu ministério terreno, manteve-a incólume. Aliás, foi Ele, em seu estado de
humilhação, reconhecido como Deus (Jo 1.49; 20.28). Consideremos, ainda, a sua
oração sacerdotal no Getsêmane. Ele não reivindica ao Pai a sua divindade,
porquanto esta lhe é um atributo intrínseco; reivindica, sim, aquela
imarcescível e eterna glória (Jo 17.5).
3. A concepção virginal do Filho de
Deus. Na concepção do Verbo de Deus, não houve o que se convencionou chamar de
nascimento virginal; o que realmente se deu foi o mistério da concepção virginal,
conforme profetizou Isaías: “Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um
filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14; Mt 1.25-24; Lc 1.35). Seu
nascimento ocorreu em Belém conforme o registro de Lc 2.3-12.
Maria, como as demais mulheres, sentiu
as dores de parto ao dar à luz a Cristo; e, Jesus, à nossa semelhança, deixou o
ventre materno, natural e não sobrenaturalmente, ao nascer em Belém de Judá.
Portanto, se o seu nascimento foi natural, a sua concepção, frisamos, foi um
ato miraculoso operado pelo Espírito Santo, conforme registra Lucas 1.30-35.
II. OS TRÊS OFÍCIOS DE CRISTO
Escreveu Robert Murray M. Cheyne: “Se
eu pudesse ouvir Cristo intercedendo por mim no quarto ao lado, não temeria um
milhão de inimigos. No entanto, a distância não faz diferença: ele está
intercedendo por mim!”. Além de ser o nosso sacerdote é o Senhor Jesus o
esperado profeta e o Rei dos reis. Somente Ele teve condições de exercer,
concomitantemente, os três ofícios sagrados do Antigo Testamento.
1. O Profeta que havia de vir. Como
profeta, Jesus não se limitou a revelar o futuro. Ele ensinou, repreendeu os
soberbos e realizou sinais e maravilhas, levando a todos a uma singular
admiração (Lc 7.16). Leia Deuteronômio 18.15.
2. O Sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque. Os sumos sacerdotes, segundo a ordem de Arão, quando morriam,
eram substituídos por seus filhos. O Senhor Jesus, contudo, porquanto eterno e
Pai da eternidade, tem um sacerdócio eterno (Sl 110.4; Hb 5.6; 7.21). Morrendo
em nosso lugar e por nós, vencendo a morte pela ressurreição, intercede
ininterruptamente pelos que o recebem como Salvador, garantindo-nos, assim,
eterna salvação (Hb 5.9). O que dizer da oração sacerdotal de Cristo? (Jo 17).
Sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, foi o Senhor Jesus, no
sacrifício vicário do Gólgota, o oficiante e a vítima ao oferecer-se, de uma
vez por todas, para resgatar-nos de nossos pecados (Hb 7.26-28).
3. O Rei dos reis. Após a sua
ressurreição, e já prestes a subir ao Pai, afirmou: “É-me dado todo o poder no
céu e na terra” (Mt 28.18). Naquele momento, assumia Jesus o governo não
somente do mundo, como de Israel e da Igreja. Ele é o soberano dos reis da
terra (Ap 1.5). É o rei de Israel e cabeça da Igreja (Jo 1.49; Cl 1.18). Como
herdeiro do trono de Davi, assumirá o governo do mundo durante o Milênio,
levando as nações remanescentes à plena obediência (Is 11.1-10; Ap 19.16).
III. A MORTE VICÁRIA E A RESSURREIÇÃO
DE CRISTO
De forma enfática asseverou Thomas
Brooks: “O sangue de Cristo é a chave do céu”. Afinal, o que seria o Evangelho
sem a morte de Nosso Senhor? Nem Evangelho haveria; ela é a garantia de nossa
vida eterna.
1. A morte vicária de Cristo. Jesus não
morreu na cruz como se fora um mártir; Ele morreu vicariamente como o único e
suficiente Salvador da humanidade, a fim de garantir-nos a salvação: “Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos
pecados, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3). A morte de Cristo é assim descrita
pelo evangelista: “E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou” (Lc 23.46). Quem, assim,
atesta a morte de Nosso Senhor é o evangelista Lucas, o médico amado. Jesus,
portanto, não sofreu um desmaio como salientam os inimigos da fé; Ele, de fato,
morreu e foi sepultado.
2. A ressurreição de Jesus. A
ressurreição de Cristo é a principal doutrina do Novo Testamento. Ao expor o
seu fato e historicidade, afirmou Paulo: “E, se Cristo não ressuscitou, logo é
vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1 Co 15.14). Diante do exposto
pelo apóstolo, ousamos afirmar: A ressurreição de Jesus foi completa e não
meramente espiritual. Sua ressurreição física pode ser amplamente demonstrada
(Jo 20.24-28).
Em 1 Coríntios 15, conhecido como o
grande capítulo da ressurreição, afiança Paulo que o Senhor ressurreto, além de
ser visto pelos 12 e por mais alguns discípulos, foi contemplado por mais de
quinhentos irmãos. E o testemunho dos guardas romanos? E a comprovação dos
próprios inimigos do Senhor que, contrariados, viram-se constrangidos a admitir
o fato da ressurreição se bem que, em seguida, urdiram a grande mentira? (Mt
28.11-15).
Soube o apóstolo Paulo sintetizar, de
maneira singular a vida de Nosso Senhor em 1 Tm 3.16. “E, sem dúvida alguma,
grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne foi
justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e
recebido acima, na glória”.Esse é o Cristo que pregamos. Verdadeiro homem e
verdadeiro Deus. Somente nEle e através dEle pode o ser humano obter a vida
eterna. Sem Cristo, ninguém chegará a Deus. Amém.
“Jesus uniu na sua pessoa as duas naturezas perfeitas.
1. Jesus teve, no seu nascimento, duas
naturezas distintas. Pela concepção sobrenatural de Maria, Jesus herdou do seu
Pai, pela operação do Espírito Santo (Lc 1.35), a natureza divina com todas as
suas características. De Maria ele recebeu a natureza humana. As suas naturezas
divina e humana se uniram na constituição de sua pessoa de modo perfeito. As
duas naturezas não se misturam, isto é, Jesus não ficou com a sua divindade
‘humanizada’ ou com a sua natureza humana ‘divinizada’. Quando Jesus se fez
homem, continuou sendo Deus verdadeiro, mesmo estando sob a forma de homem
verdadeiro. As duas naturezas operavam simultâneas e separadamente na sua
pessoa. Jamais houve conflito entre as duas naturezas, porque Jesus, como
homem, seja nas suas determinações ou autoconsciência, sempre conforme a
direção do Espírito Santo, sujeitava-se à vontade de Deus, de acordo com a sua natureza
divina (Jo 4.34; 5.30; 6.38; Sl 40.8; Mt 26.39). Assim, Jesus possuía duas
naturezas em uma só personalidade, as quais operavam de modo harmonioso e
perfeito, em uma união indissolúvel e eterna.
2. Ouro e madeira dois símbolos de
Cristo. Essa realidade tem um símbolo maravilhoso na arca do tabernáculo. A
arca era feita de madeira de cetim, coberta de ouro (Êx 25.10-22). A tampa da
arca, chamada de propiciatório, era o lugar onde o sangue da expiação era
aspergido. A arca é um símbolo de Jesus como ‘o nosso Mediador’, que revestido
de glória está no santuário do céu, onde entrou com o sangue da expiação (Hb
9.5-7,11,12,24). Assim como a madeira da arca (símbolo da humanidade de Cristo)
não se misturava com o ouro (símbolo da divindade de Cristo), assim também as
duas naturezas de Jesus permaneciam juntas, formando a nossa arca perfeita.
Glória a Jesus!
3. As duas naturezas operavam lado a
lado na vida de Jesus. Essa operação prova sempre que Ele era homem verdadeiro
e também Deus verdadeiro. Vejamos aqui alguns exemplos:
a) Jesus nasceu em toda a humildade (Lc
1.12; 2 Co 8.9, natureza humana), mas o seu nascimento foi honrado por uma
multidão de anjos, que o exaltaram como Messias (Lc 2.9-14; natureza divina).
b) Jesus foi batizado como outros seres
humanos, sujeitando-se à justiça divina (Mt 3.15, natureza humana), porém Deus
falou naquela ocasião: ‘Este é o meu Filho’ (Mt 3.17, natureza divina).
c) Jesus foi tentado, como todos os
demais homens (Lc 4.1-13; Hb 4.15, natureza humana), mas, tendo Ele vencido, os
anjos o serviram (Mt 4.11, natureza divina).
d) Jesus dormiu de cansaço no barco,
apesar da grande tempestade (Mt 8.24, natureza humana), mas depois levantou-se
e repreendeu o vento e as ondas (Mt 8.26, natureza divina). Se Ele tivesse sido
só Deus, jamais ficaria cansado (Sl 121.4,5).
e) Jesus, cansado de andar, assentou-se
junto à fonte para descansar (Jo 4.6, natureza humana), porém ali Ele descobriu
a situação espiritual da mulher, e lhe revelou o caminho da salvação (Jo
4.7-29, natureza divina).
f) Diante da morte do seu amigo Lázaro,
Jesus chorou (Jo 11.33-35, natureza humana), mas ali orou ao seu Pai, e mandou
Lázaro sair da sepultura (Jo 11.32-43, nature
za divina).
g) No jardim Jesus foi preso por homens
ímpios (Jo 18.1-3,12,13, natureza humana). Porém, quando Ele disse: ‘Sou eu’,
todos os soldados caíram por terra (Jo 18.6, natureza divina), e curou a orelha
do servo do sumo sacerdote, que Pedro havia cortado (Lc 22.51, natureza
divina).
4. Jesus, às vezes, deixou
voluntariamente de fazer uso das virtudes da natureza divina. Para fazer a
vontade de seu Pai e cumprir as Escrituras (Mt 26.54), Jesus se sujeitou à
limitação humana, que havia aceitado. Por exemplo, não quis chamar 12 legiões
de anjos para o livrar (Mt 26.53)”.(BERGSTÉN, E. Teologia Sistemática. 4.ed.
RJ: CPAD, 2005, p.57-9.)
fonte CPAD
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