VERDADEIRA HISTÓRIA DOS HINOS DO PASTOR JOTINHA
HISTÓRIA ORIGINAL DOS HINOS
“CHUVAS DE GRAÇA” (Nº 1)
“Ó DESCE, FOGO SANTO” (Nº 5)
“CRISTO, O FIEL AMIGO” (Nº 8)
“O GRANDE ‘EU SOU’ ” (Nº 84)
“DEIXA PENETRAR A LUZ” (Nº 96)
E
“MAIS PERTO, MEU DEUS, DE TI!” (Nº 187)
DA HARPA CRISTÃ
Tendo em vista o crescente número de telefonemas,
e-mails e contatos pessoais, nos últimos meses, solicitando-me confirmação da
veracidade histórica das afirmações do Sr. José Rodrigues, conhecido como
Pastor Jotinha(1), "nascido em 1910", vivendo atualmente no Estado do
Espírito Santo, de que são de sua autoria os seguintes hinos da Harpa Cristã:
“Chuvas de Graça” (Nº 1), “Ó Desce, Fogo Santo” (Nº 5), “Cristo, o Fiel Amigo”
(Nº 8), “O Grande ‘Eu Sou’ ” (Nº 84), “Deixa Penetrar a Luz” (Nº 96) e “Mais
Perto, Meu Deus, de Ti!” (Nº 187), apresento abaixo as seguintes informações
históricas colhidas por mim até este momento como pesquisador da história das
Assembleias de Deus há 28 anos e como autor do Dicionário do Movimento
Pentecostal e 100 mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus no
Brasil (CPAD). (OBS.: Um resumo deste documento foi publicado no jornal
Mensageiro da Paz em fevereiro de 2009.)
Informações Gerais
1. Nenhum dos seis hinos acima constou entre os 44
hinos do Cantor Pentecostal publicado em 1921 e usado pela Assembleia de Deus
de Belém (PA), antes do lançamento da 1ª edição da Harpa Cristã.
2. Nenhum dos seis hinos acima constou entre 220
hinos do pequeno hinário Saltério Pentecostal, publicado em junho de 1931 por
Gunnar Vingren, no Rio de Janeiro, para suprir uma carência de exemplares da
Harpa Cristã.
3. Na 2ª edição da Harpa Cristã, publicada em 1923 e
também na 4ª edição de 1932, somente cinco desses seis hinos acima referidos
podiam ser encontrados entre os seus 300 hinos. O “Chuvas de Graça” é o Nº 11;
o “Cristo, o Fiel Amigo” é o Nº 20 com o título “Só Jesus”; o “Ó Desce, Fogo
Santo” é o Nº 21 com o título “Consagração”; o “O Grande ‘Eu Sou’ ” é o Nº 22
com o título “Victoria do Crente”; e o “Deixa Penetrar a Luz” é o Nº 43 com o
título “A Luz de Deus”. Em todos eles aparecem a sigla J.R. (José Rodrigues)
como o autor das letras em português para a Harpa Cristã. O hino Nº 187, “Mais Perto, Meu Deus, de Ti!”
não consta nas edições da Harpa Cristã acima referidas.
A seguir, a
história original e específica de cada um dos seis hinos comparada com a
"versão histórica" apresentada pelo Pastor Jotinha em seus
testemunhos, os quais estão disponíveis também na Internet.
Nº 1, “Chuvas de Graça”
O hino Nº 1, “Chuvas de Graça”, foi escrito
originalmente em inglês pelo norte-americano Daniel Webster Whittle (D.W.W.) em
1883, sob o título “There Shall be Showers of Blessing”, sua música é de James
McGranahan (J.M.) e foi publicado no hinário Gospel Hymns sob o Nº 4. Na
América ficou conhecido apenas como “Showers of Blessing”. Foi traduzido para o
português em 1890, por Salomão Luiz Ginsburg ao chegar ao Brasil como
missionário. Em 1923, constava no hinário da Igreja Evangélica Congregacional,
Salmos e Hinos, 4ª edição, sob o N° 331.
Pastor Jotinha, no vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=W6W9NWU1oac, afirma que ele escreveu este hino
ao ser inspirado em oração num monte quando uma irmã usou da palavra (em
profecia) “eu enviarei à minha igreja chuvas de graça; eu darei fortaleza aos
meus servos e às minhas servas; darei ricas bênçãos sem par”. Ele, então, pegou
o lápis, escreveu e Deus lhe deu o hino “Chuvas de Graça”. Em seguida, ele deu
o hino para o evangelista Adriano Nobre que disse para ele que iria colocar
como o hino Nº 1 da Harpa Cristã. Adriano teria dito ainda que ele fosse orar
mais, pois Deus lhe daria outros hinos.
- Realmente, foi o então evangelista Adriano Nobre
quem editou a primeira Harpa Cristã em 1922.
- Mas, desde 1883 o original em inglês usa a palavra
“chuva” como idéia central da abundância de bênçãos do Senhor, ainda que a
versão da nossa Harpa Cristã peça “bênçãos do Consolador”. A letra da primeira
versão em português feita em 1890 pelo missionário batista Salomão Luiz
Ginsburg, no Salmos e Hinos, mantém a
palavra “chuva”. Portanto, antes mesmo
de Jotinha ter nascido já existia este hino usando justamente a palavra “chuva”
como idéia-central da mensagem que ele diz ter ouvido da boca da tal irmã num
monte.
Compare as letras:
Letra original inglês escrita por Daniel Webster
Whittle, em 1883
“There Shall be Showers
of Blessing”
There shall be showers of
blessing:
This is the promise of
love;
There shall be seasons
refreshing,
Sent from the Savior
above.
Refrain
Showers of blessing,
Showers of blessing we
need:
Mercy drops round us are
falling,
But for the showers we
plead.
There shall be showers of
blessing,
Precious reviving again;
Over the hills and the
valleys,
Sound of abundance of
rain.
Refrain
There shall be showers of
blessing;
Send them upon us, O
Lord;
Grant to us now a
refreshing,
Come, and now honor Thy
Word.
Refrain
There shall be showers of
blessing:
Oh, that today they might
fall,
Now as to God we’re
confessing,
Now as on Jesus we call!
Refrain
There shall be showers of
blessing,
If we but trust and obey;
There shall be seasons
refreshing,
If we let God have His
way.
Refrain
- O “Chuvas de Graça” consta na 2ª edição da Harpa
Cristã e não se sabe se ele entrou na 1ª edição, pois não há nenhum exemplar
dessa edição nos arquivos da CPAD. O Nº
dele na 2ª edição da Harpa Cristã e nas edições seguintes é 11. Só a
partir da edição de 1941, organizada
pelo pastor Paulo Leivas Macalão, com os tradicionais 524 hinos, que ele se
tornou o Nº 1. Antes, o hino Nº 1 das primeiras edições da Harpa Cristã era o “Glória”
de autoria do pastor Manoel Higyno de Souza.
- Foi feita também uma versão deste hino, do inglês
para o sueco e foi publicada no hinário sueco Segertoner, sob o Nº 16, conforme
cópia abaixo:
- Jotinha afirma no início do vídeo que Gunnar
Vingren e Daniel Berg chegaram à cidade onde vivia, Santa Maria(2) e o
encontrou pastor na igreja batista local. Os dois missionários visitantes lhes
falaram do batismo com o Espírito Santo, ele creu e foi batizado. Também,
Gunnar Vingren e Daniel Berg foram à igreja batista local, todos ali aceitaram
a doutrina pentecostal e a igreja passou a se chamar “missão missionária
apostólica da fé”. Bem, primeiro, não há registro documental nenhum que nos
informe qualquer visita de Gunnar Vingren ao Estado do Rio Grande do Sul.
Daniel Berg é possível, pois ele viveu no Brasil até 1962. O Estado mais ao
extremo sul que Vingren visitou durante seus 22 anos no Brasil foi Santa
Catarina (fez duas viagens, uma em 1920 e outra em 1931). Todas as suas viagens
estão registradas em seu livro O Diário do Pioneiro e nas suas agendas-diário
que estão guardadas nos arquivos da CPAD no Rio de Janeiro. Essas
agendas-diário cobrem informações de mais de 70% do tempo em que Vingren passou
no Brasil.(3)
Segundo, na história pentecostal de Santa Maria não
consta este “episódio extraordinário” de toda uma membresia batista ter se
tornado pentecostal. O primeiro culto pentecostal aconteceu num lugar chamado
Arroio do Só em 1º de dezembro de 1929 com a chegada do missionário sueco
Gustav Nordlund ao Rio Grande do Sul. (4) .
Fato reafirmado pelo presbítero da AD
de Santa Maria, Davi Martins Correa, crente antigo e com parentesco com os
primeiros crentes pentecostais daquela cidade. Irmão Davi asseverou-me, em
conversa por telefone, que nunca houve em Santa Maria tal episódio narrado pelo
Pastor Jotinha.
Terceiro, ele afirma no referido vídeo que, nessa
época, ele era pastor batista. Cruzando este vídeo com outro em que ele conta a
história da chegada da sua família a Santa Maria da Boca do Monte, dá-nos a
entender que, nessa época, quando os dois pioneiros o encontraram e o convidou
para acompanhá-los, ele era um pastor batista com mais ou menos 15 anos de
idade!
Quarto, Gunnar Vingren tinha o hábito de anotar
todos os seus passos, tudo o que ele fazia, em suas agendas-diário. Vingren era
extremamente meticuloso, detalhista. Ele menciona o nome de todas as cidades e
lugares que visitava, anotava o nome de cada pessoa que ele conhecia pela
primeira vez, quem o acompanhava em suas viagens missionárias e evangelísticas,
quem era seus cooperadores, e até anotava trivialidades como, por exemplo, “fui
passear com os meus filhos em Icaraí [uma praia de Niterói]” ou “[hoje] arrumei
alguns livros”. Então, é muito estranho
não constar em nenhuma de suas agendas-diário o “encontro histórico” dele com o
tão prodigioso jovem pastor batista Jotinha no Sul do país.
Quinto, o ocorrido em Santa Maria (o encontro dos
dois pioneiros com Jotinha e a “conversão pentecostal” de toda uma igreja
batista) certamente ficaria registrado nos primeiros periódicos das Assembleias
de Deus (Boa Semente, O Som Alegre e Mensageiro da Paz), porém, não há menção a
nada disso neles. Nem Emílio Conde
registrou nada disso quando escreveu sobre o início pentecostal em Santa Maria
na primeira edição do livro História das Assembleias de Deus no Brasil,
publicado em 1960 (veja pp. 328, 329 e 331-333).
Notícias de igrejas e pastores batistas que se
tornaram pentecostais, inclusive no Rio Grande do Sul, não deixaram de ser
registrados em nossas fontes históricas pela repercussão que o fato provocava
(leia, por exemplo, a história do ex-pastor batista, gaúcho, Paulo Malaquias no
Dicionário do Movimento Pentecostal, p. 444).
Sexto, Jotinha afirma que foi dado à novel igreja
pentecostal de Santa Maria o nome “igreja missionária apostólica da fé” e que
era o nome da Assembleia de Deus na época. Aqui, dois erros históricos: O nome
correto é “Missão Fé Apostólica” (veja abaixo a página da agenda de Gunnar
Vingren de 1913 onde ele informa este nome) e este nome não mais era usado na
época em que Jotinha conheceu Vingren e Berg, pois dá-nos a entender a
narrativa de Jotinha que seu encontro com os pioneiros ocorrera por volta de
1925. O nome “Missão Fé Apostólica” deixou de ser usado bem cedo por volta de 1915,
ocasião em que se passou a utilizar o nome atual “Assembleia de Deus” e o
registro oficial deste nome ocorreu em 1918. (5)
Nº 5, “Ó Desce, Fogo Santo”
O hino Nº 5, “Ó Desce, Fogo Santo” foi originalmente
escrito pelos norte-americanos Mrs. James, sob o título “My All Is On The
Altar” e a música foi dada pela pianista metodista Phoebe Palmer Knapp
(1839-1908). Consta no hinário Redemption Songs, sob o Nº 609. Foi incluído na
2ª edição (1889) do hinário da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e
Hinos, sob o título “Consagração Pessoal” (Nº 332, antigo Nº 232) com tradução
para o português de João Gomes da Rocha, em 1888.
N° 8, “Cristo, o Fiel Amigo”
O hino N° 8, “Cristo, o Fiel Amigo”, foi escrito
originalmente em inglês pelo norte-americano Johnson Oatman Junior (J.O.Jr.) em
1895, sob o título “There’s not a friend like the lowly Jesus”, que foi
musicado por George C. Hugg (G.C.H.). Em 1923 este hino podia ser encontrado no
hinário Sacred Songs e Solos sob o N° 904. A primeira versão em português foi
feita pelo missionário batista Albert Lafayette Dunstan (1869-1937) e foi
publicada no hinário batista Cantor Cristão sob o título “Amigo Incomparável”
(Nº 81). O mesmo original americano foi traduzido para o sueco e incluído no
Segertoner de 1929 sob o título Ingen lik Jesus (Ninguém como Jesus) (Nº 68).
Foi feita uma versão para cantá-lo nas Assembleias de Deus com o título “Só
Jesus”.
N° 84, “O Grande ‘Eu Sou’ ”
O hino N° 84, “O Grande ‘Eu Sou’ ”, foi escrito pelo
pastor norte-americano Edgar Page Stites (E.P.S.) em 1876 sob o título “Beulah
Land”, inspirado em Isaías 36.17. Sua música é do professor de música
presbiteriano John Robson Sweney (J.R.S.). Foi adaptado para o português em
1891 pelo missionário metodista Justus Henry Nelson e, em 1919, constava na 4ª
edição do hinário da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e Hinos, sob o N°
401 com o título “Bela Terra”. Na edição
atual do Salmos e Hinos é o 585.
Mais informações sobre a versão deste hino para a
Harpa Cristã estão no tópico final deste artigo, “Quem é o ‘José Rodrigues’
registrado na Harpa Cristã?”
N° 96, “Deixa Penetrar a Luz”
O hino N° 96, “Deixa Penetrar a Luz”, foi escrito
pela norte-americana Ada Blenkhorn (A.B.) em 1885 sob o título “Let the
Sunshine In” e recebeu música por Charles Hutchison Gabriel (C.H.G.). Em 1923
podia ser encontrado no hinário Sacred Songs e Solos sob o N° 795. Consta no hinário
da Igreja Evangélica Congregacional, Salmos e Hinos, sob o N° 302, com o título
“Deixa o Sol em Ti Nascer” e tradução para o português de Antonio Querino
Lomba, em 1900.
Nº 187, “Mais Perto, Meu Deus, de Ti!”
O hino Nº 187, “Mais Perto, Meu Deus, de Ti!”, foi
escrito pela norte-americana Sarah Flower Adams (S.F.A.) em 1841 sob o título
“Near, My God, to Thee”. A música foi escrita por Lowell Mason em 1856.
Sarah era compositora e, um dia quando estudava a
Bíblia, ficou tão impressionada com a história do Gênesis, da visão de Jacó, em
Betel, a escada que alcançava o céu, e os anjos que desciam e subiam por ela
(Gn 28.10-19).
Sarah legou-nos outros 12 hinos.
Lowell Mason, músico sacro, deixou registrado na
história que, em uma noite de 1856, depois de despertar de um sono, com olhos
aberto na escuridão, na solidão da sua casa, veio a ele, pela manhã, a melodia
para a letra escrita por Sarah Adams. (6)
Sua versão em português foi feita em 1888 pelo Dr.
João Gomes da Rocha e foi publicado no hinário da Igreja Evangélica
Congregacional, Salmos e Hinos, sob o N° 219, com o título “Mais Perto Quero
Estar” (atual Nº 360).
Jotinha afirma no vídeo “Mais Perto Quero Estar”
(www.youtube.com/watch?v=fPMu_LEOH9U) que ele escreveu este hino para um “irmão
boadeiro” que lhe pediu um hino para também entrar na primeira edição da Harpa
Cristã que seria “fechada” com 100 hinos.
Então vejamos o seguinte:
- As iniciais J.G.R. no hino 187 é de João Gomes da
Rocha conforme o índice de autores nas páginas finais da Harpa Cristã.
- João Gomes da Rocha fez esta versão em 1888 para o
Salmos e Hinos e foi utilizada a mesma versão (há pequenas variações) na Harpa
Cristã, não somente a melodia. É tanto que o nome de João Gomes da Rocha foi
mantido.
Interessante é que a letra vertida em português por
João Gomes da Rocha é quase uma tradução direta do original em inglês de 1841. e ler a letra e colocar para tocar a melodia. É todo igual ao que é hoje desde
o século 19.
Compare abaixo:
Letra original em inglês, escrita por Sarah F.
Adams, em 1841:
Nearer, my God, to Thee,
nearer to Thee!
E’en though it be a cross
that raiseth me,
Still all my song shall
be, nearer, my God, to Thee.
Refrain
Nearer, my God, to Thee,
Nearer to Thee!
Though like the wanderer,
the sun gone down,
Darkness be over me, my
rest a stone.
Yet in my dreams I’d be
nearer, my God to Thee.
Refrain
There let the way appear,
steps unto Heav’n;
All that Thou sendest me,
in mercy given;
Angels to beckon me
nearer, my God, to Thee.
Refrain
Then, with my waking
thoughts bright with Thy praise,
Out of my stony griefs
Bethel I’ll raise;
So by my woes to be
nearer, my God, to Thee.
Refrain
Or, if on joyful wing
cleaving the sky,
Sun, moon, and stars
forgot, upward I’ll fly,
Still all my song shall
be, nearer, my God, to Thee.
Refrain
There in my Father’s
home, safe and at rest,
There in my Savior’s
love, perfectly blest;
Age after age to be,
nearer my God to Thee.
Refrain
Abaixo, a letra da versão feita em 1888 pelo Dr.
João Gomes da Rocha para o Salmos e Hinos:
- Quem foi João Gomes da Rocha? Foi o médico nascido
em 1861 no Rio de Janeiro e falecido em 1947, filho de pais português, mas
filho adotivo do casal Robert e Sarah Poulton Kalley, missionários fundadores
da Igreja Congregacional no Brasil e da Escola Dominical. João Gomes estudou e
se formou em Medicina na Inglaterra e seguiu os passos de seus pais adotivos na
Igreja Congregacional e na música cuidando do hinário Salmos e Hinos até sua
morte. Ele passou a maior parte da sua vida na Inglaterra, mas ele visitou o
Brasil várias vezes e falava bem o português.
No Salmos e Hinos contam, entre versões e composições, 67 hinos com o
seu nome. (7)
Este hino só
passou a constar na Harpa Cristã a partir de 1941 quando saiu o hinário com os
tradicionais 524 hinos organizados por Paulo Leivas Macalão. Portanto, não
constou em nenhumas edições anteriores, muito menos na primeira, como dá a
entender pela narrativa de Jotinha no vídeo no Youtube.
- Se foi Jotinha quem escreveu este hino, então ele
tinha em torno de 12 anos de idade quando o compôs, pois a primeira edição da
Harpa Cristã com 100 hinos foi publicada em 1922 em Recife (PE) e ele nasceu em
1910. Além disso, como ele afirma que o tal “irmão boadeiro” se referia a ele
como pastor, então ele tinha esta ordenação aos 12 anos!
- Se foi Jotinha quem escreveu este hino e a
orquestra do Titanic o tocou enquanto o navio naufragava, então, Jotinha o
compôs quando tinha 1 ano e 10 meses de idade!!! (Jotinha afirma ter nascido em
24 de junho de 1910 e o Titanic afundou em 15 de abril de 1912.)
- Pergunto: Como foi Jotinha o autor deste hino se,
em 1901, William Mckinley, presidente dos Estados Unidos, à beira da morte,
suas últimas palavras foram: “Mais perto quero estar meu Deus de Ti, mesmo que
seja a dor que me una a Ti – foi minha constante oração”, segundo relatos do
médico que o assistiu, no momento de dor, o Dr. M. D. Mann? E mais, na tarde de
5 de setembro de 1901, após 5 minutos de silêncio, várias bandas de música de
Nova Iorque, tocaram este hino em memória do presidente. Segundo Jotinha afirma, o seu nascimento se
deu em 1910. Portanto, nove anos depois da morte de Mckinley.
- Ainda no vídeo “Mais Perto Quero Estar”, Jotinha
conta como eram escritos os hinos para constar na Harpa Cristã (dá-nos a
entender que eram para a 1ª edição de 1922) e, então ele disse o seguinte: “Eu
fui debaixo de um pé de pitomba, estava a irmã Frida Vingren, a esposa do
missionário fundador da Assembleia de Deus. Estava fazendo um hino, aí ela
disse assim: Jotinha estou fazendo um hino aqui. Ai eu vi ela escrevendo,
‘Bem-aventurado os que confiam no Senhor...’ Ela estava fazendo aquele hino...
ela fez o 126”. Dois problemas aí: Este hino não consta em nenhuma edição da
Harpa Cristã antes de 1941. Exceto no hinário Psalterio Pentecostal, publicado
em 1931, no Rio de Janeiro, pelo missionário Gunnar Vingren. O Nº dele é 120 e
foi uma tradução do hino 174 do hinário sueco Segertoner, editado em 1929 por
Lewi Pethrus. No lado direito do Nº 120 vem escrito “MUS. SEGERT. 174”,
conforme pode ser visto na cópia abaixo.
Abaixo cópia do hino 174 “Bem-aventurados os que
confiam no Senhor”, em sueco no hinário Segertoner (1929). O autor foi o sueco
Emil Gustafson e a melodia adotada foi a folkmelodi (melodia popular). A
missionária Frida Vingren, como musicista que era, apenas traduziu a letra e
fez uma versão que foi incluída na Harpa Cristã a partir de 1941.
Quem é o “José Rodrigues” registrado na Harpa
Cristã?
Quem é o “José Rodrigues” registrado na Harpa Cristã
como o autor das letras dos seis hinos tratados aqui? Para tentar obter a
resposta, consultei dois estudiosos da história da Harpa Cristã. Conversei
demoradamente sobre este assunto com o maestro e juiz de Direito, Abner
Apolinário, da Assembléia de Deus de Recife (PE), profundo conhecedor e amante
da Harpa Cristã. Maestro Abner declarou-me que nada conhece a respeito do José
Rodrigues da Harpa Cristã e nunca havia ouvido falar do “Pastor Jotinha”.
Consultei também o maestro e pastor João Pereira, que trabalhou durante anos chefiando
o extinto Setor de Música da CPAD e que também fez parte da Comissão que, de
1979 a 1992, revisou e atualizou a Harpa Cristã. A resposta do maestro João
Pereira foi a mesma do maestro Abner Apolinário.
Um dos mais antigos obreiros das Assembléias de
Deus, conhecido nacionalmente e ainda bastante lúcido, pastor José Pimentel de
Carvalho, presidente da Assembleia de Deus de Curitiba (PR), segundo
informou-me o irmão Tadeu Costa (secretário de educação cristã da AD Curitiba),
quando consultado recentemente a respeito de José Rodrigues (Pastor Jotinha),
disse que não o conhece e nunca ouviu falar sobre ele. (Pastor José Pimentel de
Carvalho faleceu em 24 de fevereiro de 2011, aos 95 anos.)
Fiz também contato com Eliézer Cohen, pesquisador e
historiador das Assembleias de Deus há mais de 30 anos. Ele, então, informou-me
sobre um “José Rodrigues” mencionado em duas edições do extinto jornal Boa
Semente, publicado pela Assembleia de Deus de Belém do Pará, de 1919 a 1930, e,
em seguida, enviou-me cópias das referidas edições.
O que Eliézer Cohen e eu descobrimos foi o seguinte:
Na edição de 16 de abril de 1919, pastor Gunnar Vingren, diretor do Boa
Semente, no Expediente, página 1, faz um pedido de oração aos leitores para um
irmão chamado “José Rodrigues” nas seguintes palavras:
Orem pelo nosso amado irmão José Rodrigues, nosso
auxiliar para que o Senhor lhe dê graça, força e saúde, para que ele continue a
dar-nos tão importante auxílio como o que nos vem prestando.
Nesta mesma edição de 1919, foi publicado um hino
sob o título “Victoria do Crente”. Abaixo do título aparece, entre parênteses,
“Musica: Psalmos e Hymnos, n° 401”. Após a última estrofe, aparecem as
informações “Pará-1919” e “José Rodrigues”. A letra não é a mesma criada por
Justus Nelson e que fora publicada há alguns anos no hinário Salmos e Hinos,
mas por meio da informação citada abaixo do título, obviamente, a música é a
mesma do N° 401 do Salmos e Hinos, que, por sua vez, tinha a música do “Beulah Land”
escrito pelo pastor norte-americano Edgar Page Stites em 1876. A menção “José
Rodrigues” no final do texto dá-nos a entender que é o nome de quem criou a
nova letra em português e intitulou o hino de “Victoria do Crente”. Esta letra
é a mesma que aparece na 2ª edição da Harpa Cristã, publicada em 1923 e a mesma
impressa nas atuais edições, com pequenas diferenças, sob o título “O Grande
‘Eu Sou’ ”, N° 84, que o “Pastor Jotinha” afirma ser o autor.
Três meses após a essas duas menções do nome “José Rodrigues”
no Boa Semente de abril, no Expediente da edição do mesmo jornal em 27 de julho
de 1919, pastor Gunnar Vingren dá a notícia de que o irmão “José Rodrigues”
para o qual ele havia pedido orações anteriormente, morrera no dia 2 de junho
daquele ano. Eis a nota do jornal:
Em nosso penúltimo número deste jornal pedimos as
orações de todos os crentes em Jesus Cristo pelo nosso auxiliar, o irmão José
Rodrigues, que o Senhor lhe desse graça, força e saúde para continuação de tão
importante auxílio que nos vinha prestando. Mas aprovou a Deus tomar para si o
nosso irmão, que dormiu alegre no Senhor no dia 2 de junho. Agora nós viemos
pedindo aos nossos irmãos orar ao Senhor nos dê outro auxiliar para suprir a
falta do nosso amado irmão em tão importante serviço que nos prestava.
Parece-me, pelas duas notas transcritas, que o
“irmão José Rodrigues” havia sido um importante auxiliar de Gunnar Vingren e
dos outros recém-chegados missionários, para a redação do jornal Boa Semente.
Pois estes, nessa ocasião, ainda dependiam muito de brasileiros para lhes
ajudar a redigir corretamente textos e hinos no idioma português. Por esta
razão, também parece a mim e a Eliézer Cohen que este “José Rodrigues”, que
morreu, bem pode ter sido o mesmo “José Rodrigues” que aparece como autor da
letra do hino “Victoria do Crente” impresso na edição de 16 de abril de 1919 do
Boa Semente, e, por sua vez, também autor das versões dos hinos 1, 5, 8 e 96.
Por outro lado, se este autor “José Rodrigues” é o mesmo José Rodrigues (Pastor
Jotinha), "nascido em 1910", que vive atualmente no Espírito Santo,
ele, então, com apenas nove anos de idade, compôs uma bela letra e fez todo o
trabalho de adaptação à métrica da música “Beulah Land”, para que os crentes
assembleianos viessem a cantar uma versão em português deste hino americano.
Além disso, ele conta em seu testemunho gravado em vídeo na Internet que, por
volta de 1915, com 5 anos de idade, retornou com os seus pais para Israel, mas
não informa quando voltaram para o Brasil .
São estas as informações que possuo no momento sobre
este assunto. Reitero, aqui, o meu rigor técnico-científico, imparcial e
impessoal, com o qual tenho pautado todo o meu trabalho de pesquisas e de
redação de textos, conforme vem sendo comprovado pelos milhares de leitores da
minha obra, o Dicionário do Movimento Pentecostal.
José Rodrigues é judeu,
nascido em Cafarnaum, Israel, em 24 de junho de 1910, com o nome Josefus
Rerullu. Em 1911, seus pais vieram refugiados para o Brasil. Tornou-se, então,
um dos pioneiros das Assembléias de Deus, tendo sido amigo de Gunnar Vingren e
Daniel Berg. Segundo ele afirma, compôs muitos hinos da Harpa Cristã que levam
as iniciais J.R., entre eles os números 1, 5, 8, 84 e 96. Também afirma ser
autor de diversos corinhos cantados nas Assembléias de Deus, como o “Eu quero
ser Senhor amado como um vaso na mão do oleiro”, que compôs 1950. Afirma ainda
nunca ter se casado e nunca ter sequer uma namorada, dedicando-se inteiramente
à obra de Deus. Seria o único pioneiro da 1ª geração da AD que permanece vivo.
É presidente de honra do Ministério da Assembléia de Deus do Ibes, Espírito
Santo, liderado pelo pastor Levi Aguiar de Jesus Ferreira. Ele viaja pelo país
afora dando testemunhos de suas experiências. Há CDs com sua história, filmes
na Internet e fotos de divulgação.
Para ler mais sobre “Pastor Jotinha”,
(3) Viagens de Gunnar Vingren feitas durante seus 22
anos (1910 a 1932) no Brasil
1914
Ceará
1915
Alagoas
1915/1916/1917
EUA/Suécia/Noruega/EUA
1920 (3 meses de viagens)
Ceará/Rio Grande do
Norte/Paraíba/Pernambuco/Bahia/Espírito Santo/Rio de Janeiro/São Paulo/Santa
Catarina
1921/1922/1923
Suécia
1923 (3 meses de viagens)
Alagoas/Espírito Santo/Rio de Janeiro
1924 (Mudança de residência, de Belém para o Rio)
Rio de Janeiro
1926
Minas Gerais
1928
Minas Gerais/Pernambuco/Paraíba/Alagoas
1929
Minas Gerais/São Paulo/Pernambuco/ Paraíba/Alagoas
1930
Bahia/Suécia/Portugal/Rio Grande do Norte/São Paulo
1931
Santa Catarina/São Paulo
1932
Suécia
(4) O início
da Assembléia de Deus em Arroio do Só se deu em 1928, com Norberto Flores,
conforme reportagem publicada no Mensageiro da Paz de março de 1944, p. 7. Para
informações históricas da Assembléia de Deus de Santa Maria, visite o site
http://www.adsantamaria.org.br/história.html e leia as páginas 117 a 120 do
livro Despertamento apostólico no Brasil, publicado em 1934, onde o missionário
Gustav Nordlund conta como foi o início da Assembléia de Deus em Arroio do Só
(Santa Maria).
(5) A ordenação do Pastor Jotinha pela Cadeeso é
recente e o seu registro na CGADB é 43.610. Se ele é um pastor tão antigo, por
que só há pouco tempo ele foi reconhecido?
(6) Para maiores informações sobre o nome “Fé
Apostólica” e a mudança para “Assembléia de Deus”, veja Dicionário do Movimento
Pentecostal, pp. 40, 41.
(7) Duas boas fontes históricas do hino 187 são o
livro Histórias de Hinos, de Ethel Dawsey Ream, publicado em 1939, pp. 50, 51,
e a revista Novas de Alegria, de setembro de 2006, seção “Hinologia”, escrita
pelo pastor Torcato Lopes, sob o título “Mais perto, meu Deus, de Ti”, p. 18.
(8) A história do Dr. João Gomes da Rocha está no
livro Música Sacra Evangélica no Brasil de Henriqueta Rosa Fernandes Braga,
publicado em 1961, pp. 332, 333.
Fontes consultadas:dic. movimento pentecostal 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PAZ DO SENHOR
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.