DOUTRINA DA GRAÇA
A
salvação, ou a palavra que descreve o seu significado, tem sua raiz no
vocábulo grego ("sõtēria"), ocorrendo em ambos os Testamentos com
profundo significado e infinito alcance. Por toda a extensão das Escrituras
Sagradas ocorre uma vez no plural (2 Sm 22.51) - Edição Revista e
Corrigida.
Do
ponto de vista divino de observação, "salvação" é um termo,
inclusive, que abrange dentro de seu escopo muitos aspectos. Por exemplo, há a
salvação do passado, no presente e para o futuro; seja, salvação do espírito na
regeneração, da alma na santificação, e do corpo na
glorificação.
DEFINIÇÃO
DE SALVAÇÃO
De
acordo com o doutor C. I. Scofield, são incluídas nesses diversos aspectos
as doutrinas fundamentais que, teologicamente falando, constituem aquilo que
chamamos de SOTERIOLOGIA ou seja, "doutrina da salvação". O
vocábulo português que aparece em nossas versões e traduções se deriva do
latim, "salvare". "salvar", de "salus",
"saúde", "ajudar", e traduz o termo hebraico
"yeshua" e cognatos: "largura, facilidade,
segurança, etc".
a. Em
o Novo Testamento, o verbo "salvar" e o substantivo
"salvação" aparecem por mais de 150 vezes, correspondendo mais 100
vezes ao verbo, ora no ativo, ora no passivo. Porém, o Novo Testamento conhece
também o significado mais comum do verbo; salvar no grego clássico deriva de
"são" e significa devolver a saúde ao doente (sentido elementar), a
segurança ao ameaçado (sentido geral), e arrancar da morte o moribundo (sentido
individual) (Cf Mt 8.25; 14.30; 27.40,42,49; Mc 3.4; Lc 6.9; Jo
12.27; At 27.20; Hb 5.7). Sendo porém, ampla e objetiva em todos os seus
aspectos.
b. No
que diz respeito à sua origem, a salvação teve (e tem) seu ponto inicial
no coração de Deus. Segundo se diz, ela foi criada por Ele; manifestada aos
homens por meio de Jesus Cristo e, evidentemente, executada no coração humano
através do Espírito Santo (Lc 1.68,69; Jo 12.48,49; 16.7-14 etc). A obra
propiciatória de Jesus Cristo nosso Senhor é a maior revelação do grande
propósito de Deus no plano da redenção em salvar a humanidade.
Foi
nele que todos os matizes da salvação plena tiveram seu encontro de
expansão (Hb 2.3).
O ALCANCE
DA SALVAÇÃO
A
encarnação e a propiciação de Jesus constituem a maior prova da boa vontade de
Deus. Observemos a soberania de Deus em relação à salvação do homem e a sua
iniciativa na obra da redenção. Vimos que Deus deseja a salvação de todos e
tomou essa iniciativa, dando origem à salvação com este fim em mira.
Assim
sendo, a origem da salvação e a sua manifestação está em Deus e não
no homem. Se Ele não tivesse tomado tão sublime decisão primordial na salvação
da criatura, ninguém seria salvo. Assim este ato criador de Deus, não é apenas
uma manifestação da sua vontade, mas também, a sua satisfação, pois Ele é amor
e, como tal, ama e deseja o bem-estar de todos.
a. A
salvação era primeiramente vista como uma libertação material e concreta; diz
respeito à vida do homem ou do povo nas múltiplas peripécias em que ocorre
perigo. Ser salvo equivale a sair ileso de uma situação perigosa, uma derrota
ou a morte. O israelita sobre o campo da batalha (Dt 20.4), ou o fiel atacado
pela doença ou a angústia moral (Sl 6.5; 69.2 etc), voltava-se para o seu
Senhor em procura de libertação ou de saúde. Assim, no Artigo Testamento,
muitas vezes, a salvação era concebida mais como libertação coletiva e nacional
do que individual.
b. No
Novo Testamento, porém, a salvação é vista e analisada mais do ponto de vista
divino e interiormente. Ela é, então, salientada, contendo os atos e processos
que ressaltam todos os elementos da fé cristã.
Para
sua introdução na pessoa humana, se fazem necessárias a "fé e a graça";
enquanto que, para seu aperfeiçoamento, são necessários os demais dispositivos
que envolvem todo o plano da redenção. Estes dispositivos são;
A
justificação
A
regeneração
A
expiação (para dar certeza)
O
perdão
A
redenção
O
arrependimento
A
santificação e,
A
adoção de filhos.
É
evidente que todos esses matizes da salvação são revelados no Evangelho de
Deus ou de Cristo. A palavra "evangelho" em si significa
"boas-novas"; por isso o Evangelho é alguma coisa essencialmente
diferente de qualquer ensino filosófico anterior. Por isso em qualquer época ou
lugar, este Evangelho é chamado:
De
"Deus" (Rm 1.1), porque origina-se no
seu amor, tendo como fonte a plenitude de sua bondade;
De
"Cristo" (2 Co 10.14), porque dimana do seu sacrifício
e porque Ele é o único objeto de fé para salvação do mais vil pecador que em
penitência olha para o Filho de Deus;
Da "graça de
Deus" (At 20.24), porque salva aquele que a Lei condena sem nenhuma
trégua;
Da
"glória" (2 Co 4.4; 1 Tm 1.11), porque diz
respeito Àquele que está na Glória, e que leva muitos filhos à Glória, (Hb
2.10);
Da "Nossa
salvação" (Ef 1.13), porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele
que crê (Rm 1.16);
Da
"Circuncisão" (Gl 2.7), porque, diante do
poder deste Evangelho, "não há grego nem judeu, circuncisão nem
incircucisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos"
(Cl 3.11);
Da
"incircucisão" (Gl 2.7), porque salva
inteiramente, à parte de formas e ordenanças;
Da "paz" (Ef
6.15), porque por Cristo por meio do Evangelho estabelece paz entre o pecador e
Deus, e dá uma paz inteiramente também. E, deste modo, Deus e o pecador se
encontram em paz (Ef 2.15);
Do
"reino" (Mt 4.23), porque anuncia "as
boas-novas" que Deus propôs estabelecer na terra em cumprimento às suas
promessas de ambos os Testamentos".Assim, prezado leitor, segue-se que o
homem precisa ser espiritualmente despertado e iluminado, a fim de poder receber
e aprender as coisas pertencentes a Cristo e aceitá-lo pela fé. Nesta
conjuntura, pois, é que se verifica a operação necessária do Espírito Santo,
para a criação da nova vida.
Assim
sendo, percebe-se que Deus, ao traçar um plano para a recuperação moral e
física do homem, estabeleceu contato vital em cada ponto sucessivo. Não há
falhas, não há lacunas na obra da graça redentora, desde o princípio até o fim.
Tudo foi vitalizado; tudo é orgânico do Éden ao Trono divino.
MEDIANTE
A FÉ
O
sentido da fé na justificação do homem torna-se o primeiro princípio, como é
afirmado por Paulo e outros escritores do Novo Testamento. "Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé..." (Ef 2.8a). Fé: nesse sentido é
confiança em Jesus como Salvador do pecado mediante o perdão. Essa confiança
é incondicional e irrestrita submissão da
alma a Cristo. É um tipo de confiança que só se pode exercer corretamente
em relação a Deus. Salvação do pecado é obra divina. O pecado é contra Deus.
Só Deus pode perdoar pecados. Neste sentido os censores de Jesus não estavam
errados (Mc 2.7). Quando, porém, isso é efetuado, se dá por meio de Cristo,
"... ninguém vem ao Pai, senão por mim" (Jo
14.6b); "...tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo
mesmo por Jesus Cristo... Isto é, Deus estava em Cristo, reconciliando consigo
o mundo... Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis
com Deus" (2 Co 5.18-20).
Por
isso Jesus podia arrogar para si o poder de perdoar (Mc 2.5). Se Cristo teve
essa pretensão, Ele era divino. Confiar nele para salvação é confiar em Deus.
Observemos alguns casos sobre isso em vários elementos doutrinários das
Escrituras:
a. Analisemos
o mesmo fato noutra perspectiva, pela fé um homem encontra o amor de Deus em
Cristo. Como diz Paulo em Romanos 5.5: "...porquanto o amor de Deus
está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".
Isto se verificou pela fé em Cristo. Quando um homem exerce fé em Cristo, ele
encontra o amor de Deus. A partir daí, permanecem a fé, a esperança e a
caridade... (1 Co 13.13). Isto não é uma inferência, mas é matéria de
imediata experiência espiritual. Um ser humano sabe disto tão imediatamente e
tão certamente como conhece qualquer outra coisa por experiência. É o amor de
Deus que um ser humano encontra em Cristo que faz um homem amar outros homens,
para o seu bem.
Quando
alguém se aproxima de Cristo em fé, ele está cônscio de que encontra
a Deus. O clamor de Filipe exemplifica o clamor dos homens em todas as
épocas:"...Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta" (Jo 14.8b).
E a resposta de Jesus é a única resposta que satisfará
aos anelos do coração humano: "...Quem me vê a mim vê
o Pai") (Jo 14.9). A obra de Cristo, então, em salvar, é
a mesma obra de Deus. É submissão a Ele como Senhor.
A autoridade salvadora e o senhorio de nosso Senhor são inseparáveis. A
fé do Novo Testamento envolve o reconhecimento do senhorio de Jesus e
submissão a essa autoridade. Paulo fala da obediência da fé (Rm 1.5).
Significa isto a obediência que brota da fé ou a obediência que é fé? Fé,
então, é não somente receber Cristo como Salvador, mas dar de si mesmo a
Cristo.
b. Um
homem sabe que Cristo é divino tanto quanto sabe que há um
Deus, isto é, pela percepção da fé. No mesmo ato de fé em que conhecemos Deus
nós também conhecemos Cristo como divino. Isto é verdade porque é em Cristo que
conhecemos a Deus. E nisto está a confirmação dá vida eterna: "E
a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). Neste intercâmbio, divino, duas
coisas existem a respeito da vida religiosa do homem que confirmam este ponto
de vista:
A primeira. É o
senso que homem tem da sua dependência a Deus. Este é um elemento fundamental
e essencial em religião. Não é o todo da religião, como o
definiuSchleiermancher, mas é um elemento componente. Este senso de dependência
dá testemunho ao fato de que o homem não pode viver sem Deus. O outro lado da
mesma coisa é o espontâneo impulso de reconhecer Deus como o doador de todo o
bem e lhe render graças por esse bem. Deste modo é ele reconhecido como estando
presente em toda a vida.
A segunda. É a
reconhecida presença de Deus na experiência cristã. Em nossa comunhão com Deus
em Cristo temos indisputável evidência de que Deus é real para
a vida humana.
Agostinho
invoca a imediata presença de Deus para que tivesse paz. "Senhor Deus, concede-nos
a paz, tu que tudo nos deste. Concede-nos a paz do repouso, a paz do sábado
(repouso do trabalho), uma paz sem ocaso. Essa belíssima ordem de coisas muito
boas, uma vez cumprido o seu papel, toda ela passará; porque terão um amanhecer
e uma tarde (Gn 1.5,8,13,19,23,31).
"O
sétimo dia, porém, não tem tarde nem repouso, porque o santificaste para
permanecer eternamente".
Aquele
descanso, com que repousaste no sétimo dia depois de tantas obras muito boas
que realizaste sem cansaço é um anúncio que nos vem pela palavra da
tuaEscritura: também nós descansaremos em ti, no sábado da vida eterna, depois
dos nossos trabalhos, que são bons porque os concedeste a nós (Hb 4.3
e ss).
c. Em
Deus repousamos. O descanso almejado por Agostinho e os demais cristãos não se
refere ao repouso do "sábado semanal", que era o quarto mandamento da
Lei e, sim, o repouso eterno que somente em Deus, através de Cristo, o homem
encontrará. "Porque nós, os que temos crido, entramos no
repouso..."(Hb 4.3). Este repouso existe porque Deus repousa em nós.
"Também então repousarás em nós, de maneira que agora agem em nós. Este repouso
será teu por nós, como são tuas essas ações por nós. Tu, porém, Senhor,
estás sempre ativo e estás sempre em repouso. Não vês no tempo, não te moves
no tempo, não repousas no tempo, e todavia crias a nossa visão no tempo, o
próprio tempo, e o repouso depois do tempo".
d. Em
Deus encontramos a verdade. Uma das características da lei de Deus é a
verdade. Sabemos de bem pouco, mas aquilo que sabemos é imensamente
importante. A Lei veio para revelar o caráter de um Deus verdadeiro e imutável.
Deus é o Deus da verdade (Dt 32.4; Sl 31.5). Cristo é a verdade (Jo 14.6).
Cristo estava repleto de verdade (Jo 1.14); Cristo falou a verdade (Jo 8.45).
O Espírito
Santo é o Espírito da verdade (Jo 14.17); Ele nos guia em toda a verdade (Jo
16.13).
A
Palavra de Deus é a verdade (Dn 10.21; Jo 17.17); Deus encara a verdade
favoravelmente (Jr 5.3).
Os
juízos divinos são segundo a verdade (Sl 96.13; Rm 2.2).
Os santos
deveriam: adorar a Deus em verdade (Jo 4.24); servir a Deus na verdade
(Js 24.14; 1 Sm 12.24); andar diante de Deus na verdade
(1 Rs 2.4; 2 Rs 20.3); observar as festividades religiosas
na verdade (1 Co 5.8); estimar a verdade como preciosíssima (Pv
23.23); regozijar-se na verdade (1 Co 13.6); falar a verdade uns para os outros
(Zc 8.16; Ef 4.25); meditar sobre a verdade (Fp 4.8); escrever a verdade sobre
as tábuas do coração (Pv 3.3); Deus deseja a verdade no coração (Sl 51.6); o
fruto do Espírito se verifica na verdade (Ef 5.9).
Os
ministros deveriam: falar a verdade (2 Co 12.6; Gl 4.16); ensinar a
verdade (1 Tm 2.7); ser aprovados pela, verdade (2 Co 4.2; 6.7,8; 7.14).
Os
magistrados deveriam ser homens caracterizados pela verdade, sinceros (sem
cera) (Êx 18.21; Jó 1.1).
Os reis
são preservados pela verdade (Pv 20.28).
Os que
dizem a verdade exibem a retidão (Pv 12.17); serão firmados (Pv 12.19);
serão deleitáveis para Deus (Pv 12.22).
Os ímpios
são destituídos de verdade (Os 4.1); não dizem a verdade (Jr 9.5); não
sustentam a verdade (Is 59.14,15); não pleiteiam a verdade (Is.59.4); não são
corajosos em defesa da verdade (Jr 9.3); serão punidos por não terem a verdade
(Jr 9.5,9; Os 4.1).
O
Evangelho, como a verdade, veio por Cristo (Jo 1.17); Cristo dá testemunho da
verdade (Jo 18.37); ela se acha em Cristo (Rm 9.1; 1 Tm 2.7); João
deu testemunho da verdade (Jo 5.33).
O que a
verdade é: ela é segundo a piedade (Tt 1.1); ela é a santificadora (Jo
17.17,19); ela é purificadora (1 Pe 1.22); ela faz parte da armadura
cristã (Ef 6.14); ela é revelada abundantemente aos santos (Jr 33.6); ela
permanece com os santos (2 Jo 2); ela deveria ser reconhecida (2 Tm 2.25); ela
deveria ser crida (2 Ts 1.12; 1 Tm 4.3); ela deveria ser obedecida (Rm 2.8; Gl
3.1); ela deveria ser amada (2 Ts 2.10); ela deveria ser corretamente manuseada
(2 Tm 2.15).
Os ímpios
afastam-se da verdade (2 Tm 4.4); os ímpios resistem à verdade (2 Tm 3.8);
os ímpios estão destituídos da verdade (1 Tm 6.5).
O
Diabo é despido da verdade (Jo 8.44).
A
Igreja é a coluna e a firmeza da verdade (1 Tm 3.15). A verdade é
comprovada nas vidas daqueles que são transformados segundo a "imagem de
Cristo". É necessário poder para que isso se concretize, e o que é bom
traz consigo a verdade!
Certa
feita Aristóteles declarou: "A verdade é que os homens se vão tornando
menos e menos dogmáticos à proporção que envelhecem, reconhecendo cada vez
mais a vastidão da verdade; e isto certamente é o caso da verdade de Deus, pois
essa é infinitamente ampla e não pode ser contida por qualquer credo ou
denominação religiosa, porquanto é impossível alguém cercar Deus com uma
sebe".
Jesus
Cristo disse: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade"
(Jo 17.17). Se o leitor ainda não é uma pessoa liberta pelo sangue de Jesus,
ouça o que diz a Bíblia: "Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus
discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Amém!
FONTE
ARTIGO Bibliografia SEVERINA PEDRO DA SILVA,SÃO PAULO
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PAZ DO SENHOR
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