Sete Visões da última
realidade Ap 19:11—21:8
O Milênio
Chegamos, neste contexto de 19:11-21:8, onde esta
localizado o assunto da lição 11, a uma das partes mais difíceis ou, de
qualquer maneira, a uma das mais discutidas partes do livro. Veja o que o
comentarista tem a dizer acerca de Apocalipse 20, e você terá uma ótima ideia
de como ele interpreta o resto do livro. O milênio, os “mil anos”, é palpável
em cada versículo de 20:2 até 20:7; porém o seu lugar no esquema geral da
história cristã é muito menos óbvio. Os intérpretes geralmente se dividem em
três blocos quanto a esta questão. Um corte transversal no comentário acerca do
milênio, no entanto, revela mais do que o mero problema de onde ele se encaixa.
Uma razão por que o assunto é complicado é o fato de estar extremamente cheio
de subdivisões às quais será dispensada apenas uma breve referência. Outra
razão é que a compreensão do milênio não pode ser alcançada independentemente
do estudo do resto do livro, quiçá do resto das Escrituras. Em outras palavras,
as três interpretações do capítulo 20 têm não só galhos como raízes. Porém
nossa atenção estará concentrada nas últimas.
Mesmo despojado de complicações extras, o problema não pode ser
definido sem um bom estudo dos detalhes. Simplificá-lo drasticamente é perder
todo o seu conteúdo. Daremos, portanto, no início, atenção a numerosos
aspectos que devemos ter em mente.
a. Dados do
Problema
Em primeiro lugar, há acordo de que a parousia, a volta de
Cristo em glória, foi descrita pelo menos uma vez antes do capítulo
20: muitos diriam que foi imediatamente antes, em 19:11,12, mas mesmo que não
tenha sido ali, apareceu em outros capítulos anteriores. Em segundo lugar, o
capítulo 21 começa com a descrição da nova era, na qual os variados males do
capítulo 20 não mais existem. Em terceiro lugar, entre aqueles acontecimentos
nós temos o capítulo 20. Satanás é aprisionado, acorrentado, jogado para dentro
e mantido prisioneiro no abismo; durante mil anos ele será incapaz de enganar
as nações (vs. 2, 3). Durante o mesmo período os mártires e os santos fiéis
vivos viverão e reinarão com Cristo: isto é descrito como “a primeira
ressurreição” (vs. 4, 5). No final dos 1000 anos, Satanás é libertado e prepara
um último ataque aos santos (vs. 7-9). Satanás é então derrotado e destruído
(vs. 9,10); o restante dos mortos ressuscitará e será julgado
(vs. 5,12,13); e juntamente com Satanás, a besta, o falso profeta, a
morte, o inferno, e todos cujos nomes não se encontram escritos no livro da
vida são jogados para dentro do lago de fogo que é “a segunda morte” (vs.
10,14, 15). Há uma sequência lógica, pois os eventos são mencionados de acordo
com o tempo em que ocorrem: se antes, durante, ou no fim do milênio. Para
recapitular, haverá o aprisionamento de Satanás, o reinado de mil anos dos
santos, a última revolta e a derrota de Satanás e então o julgamento e o
banimento do mal.
Em quarto lugar, existem vários eventos mencionados em
outra parte do Novo Testamento, alguns dos quais ou todos eles, pertencentes ao
tempo do fim, e estão, portanto, relacionados de alguma maneira, presume-se,
com a sequência de Apocalipse 20. Esses incluem a propagação mundial do
evangelho, a salvação de Israel, a “grande apostasia”, a “grande tribulação”, a
vinda do “homem do pecado” ou Anticristo, e o “arrebatamento” ou remoção dos
cristãos “para o encontro do Senhor nos ares” (1 Ts 4:17).
As três diferentes figuras que podem ser montadas pelas
peças deste quebra-cabeça são conhecidas
como pré-milenismo, amilenismo e pós-milenismo. A razão destes
nomes ficará clara tão logo comecemos a considerá-los de forma mais objetiva.
b. Pré-milenismo
O pré-milenismo está arraigado na crença de que a
verdade do Apocalipse é basicamente uma verdade literal, em dois aspectos. Em
primeiro lugar, a descrição deve
ser aceita pelo seu valor aparente. Não significa necessariamente
um literalismo crasso que envolveria, por exemplo, imaginar Satanás
sendo preso fisicamente (uma vez que pensamos ser ele um espírito) com uma
corrente de metal de verdade. Mas pode muito bem significar mil anos de forma
literal; e certamente o texto quer dizer que Satanás será preso e os santos
reinarão de tal forma que o abandono satânico será inconfundível e a autoridade
dos santos será manifesta de maneira tal como não foi jamais conhecida. Em
segundo lugar, a sequência deve
ser considerada como se apresenta. Na ordem da História, o aprisionamento de
Satanás acontecerá após a parousia, porque na ordem do livro o capítulo 20
segue-se ao 19. Há pleno acordo que este capítulo (20) é o único lugar nas
Escrituras onde a ideia de um milênio depois da parousia parece
ser claramente ensinado. Mas levar esta ordem a sério significa que esta
sequência de eventos, apesar de única, tem tanta autoridade quanto o esboço
dado, por exemplo, em Mateus 24; portanto não deve ser considerada uma mera
ênfase a algumas verdades contidas nos ensinos do Senhor, mas e, sim, uma
adição extra de verdade, omitida pelo Senhor. O ensino da passagem é extensivo e não
intensivo.
A interpretação que resulta dessas raízes é, em resumo, como se segue.
O retorno de Cristo em poder e glória privará Satanás de todo o seu poder,
ressuscitará os cristãos mortos e estabelecerá o reinado dos santos sobre toda
a terra. Depois de mil anos, Satanás reemergirá da sua prisão, e tentará
destruir os santos mais uma vez, falhará e se destruirá. Então virá a
ressurreição do restante dos mortos, o julgamento do grande trono branco, a
destruição final dos perversos e a criação de novos céus e de nova terra. Os
eventos do quarto grupo, mencionados acima (aqueles encontrados em outras
partes do Novo Testamento: o aparecimento do Anticristo, a tribulação, o
arrebatamento, etc.), geralmente se considera que ocorrerão antes da vinda de
Cristo em poder e glória, e esta vinda vem, por sua vez, antes (pré) do
milênio. É daí que procede o nome desta interpretação.
Por causa da interpretação literal,
o pré-milenismo está aberto a dois tipos de perigos. A atitude de
interpretar o Apocalipse de forma tão ingênua levou, no passado, aos excessos
do que ficou conhecido como “quiliasma” que nada mais era do que a expectativa
de um “domínio dos santos” completamente materialista, o qual apelava aos
piores instintos dos homens. As tentativas de estabelecer as sequências do
Apocalipse de modo tão formalista, por outro lado, e construir com elas uma
detalhada cronologia do futuro pode levar a excessos de outro tipo: prolongados
debates sobre se o arrebatamento precede ou não a tribulação, cálculos
detalhados acerca do “tempo dos gentios” ou a duração do “pouco tempo”, uma
visão futurista do livro cuja contribuição para a vida cristã se limita a
conferir-lhe um pouco de emoção vicária, ou conduzir a especulação sobre alguns
pormenores do dispensacionalismo. Onde o quiliasma prometeualimentar
os estômagos dos famintos, tais tipos de ingenuidade alimentam a vaidade da
mente.
Porém o valor positivo do pré-milenismo nos nossos
dias é que ele se recusa a tratar o Apocalipse como um livro preso ou ao misticismo
particular de João ou às remotas circunstâncias históricas do primeiro século.
É bem possível que ele produza uma super-reação contra as velhas noções
liberais que fizeram exatamente isso e, como consequência, mantém o desafio
apresentado pelo livro dentro daquilo que podem alcançar. Mas leva a sério o
Apocalipse como mensagem oriunda de Deus para o nosso próprio tempo e para o
porvir.
c. Amilenismo
A visão do amilenista surge de uma diferente
interpretação sobre em que sentido o Apocalipse é verdade. Sustenta que
nem descrições nem sequências podem ser consideradas superficialmente. Há tanta
descrição no livro (de fato o próprio livro o declara) mais simbólica do que
literal, que ele presume ser esta a regra geral de que João se utiliza, e que
a linguagem não metafórica é de fato a exceção. A corrente e o abismo não são literais;
provavelmente, então, os mil anos também não serão. Ele ainda tem que decidir,
é claro, o que é símbolo e o que não é símbolo e como os símbolos podem ser
explicados. Se ele for sábio, ele o fará, não mediante um julgamento subjetivo,
mas através de uma comparação com o resto das Escrituras.
Esta é, portanto, a única maneira pela qual ele pode
interpretar as sequências do livro. O pré-milenista acredita em um
milênio verdadeiro, o qual, apesar de não ser mencionado em nenhum outro lugar,
permanece, contudo, por méritos próprios, baseado em Apocalipse 20 e,
portanto, deve ser construído pelo sistema de profecias existente.
O amilenista não acredita nisso, e precisa encontrar uma
outra forma de encaixar os mil anos, e (novamente, se ele é sábio) tentará
fazê-lo utilizando-se do resto das Escrituras.
Vamos ver o que cresce dessas raízes. O Novo Testamento
ensina que há somente uma parousia e esta é “o dia do Senhor” o qual porá um
fim em todas as coisas. Este “fim” está descrito no capítulo 19, mas os mil
anos descritos no capítulo 20, mesmo que venham em sequência, dentro do livro,
devem preceder o capítulo 19 na História; resumindo, Apocalipse 20:1-6 é uma
narração de fatos precedentes. A prisão de Satanás, a primeira ressurreição e o
milênio são metáforas que descrevem a situação atual do mundo, cobrindo o
período que vai da primeira até a segunda vinda de Cristo. A última revolta do
mal está ainda por vir, o que se considera como sendo a preparação para outros
eventos preditos, como a grande tribulação e o aparecimento do homem da
iniquidade. Esta terminará com a ruína e o julgamento de Satanás, os quais são
descritos não somente em 20:9-15, mas também em 19:11-21. Deste ponto de
vista Cristo retornará sem (a -)
qualquer milênio do tipo preconizado pelas outras interpretações, isto é, mil
anos que são apenas uma seção da história cristã, distinguida em grande parte
pelos seus extremos do bem e do mal.
O perigo deste tipo de abordagem é que quando certos
símbolos são explicados como verdades gerais eles tendem a perder sua força. As
arestas agudas são arredondadas; o imediatismo e a expectativa
são niveladas para baixo. O amilenista precisa lembrar-se
de que a verdade que ele proclama ver para além das metáforas não são vagas
espiritualizações e, sim, realidades exigentes: não algo menor, porém maior do
que o conteúdo das suas visões.
De fato, é isto que faz sobressair o valor especial da
visão amilenista. O que é mais real: um reino espiritual dos
santos, que é, de fato, a época da igreja, ou um reinado verdadeiro dos santos
na terra depois da vinda de Cristo? O último é concreto, definido, e alimenta a
esperança cristã. O primeiro, porém, pelo próprio fato de ser uma
generalização, desafia a experiência do cristianismo não ontem e amanhã, mas hoje.
d. Pós-milenismo
Vamos supor que você não se sinta capaz de aceitar totalmente
nenhuma destas perspectivas. No que diz respeito à sequência dos eventos, a
simplicidade do esquema de tempo do amilenista, com um simples “dia do
Senhor” destruindo o mal e trazendo a História ao seu final, parece estar mais
de acordo com a objetividade das profecias do Novo Testamento. Você sente que
as complexidades do Apocalipse são muito menos uma extensão do esquema básico
(como tacos colocados no piso de um quarto) e muito mais uma repetição desse
esquema com diferentes palavras (como cobrir com tinta um desenho feito a
lápis). Até este ponto, no que diz respeito à descrição do milênio, você se
encontra ao lado dos pré-milenistas, esperando por um aprisionamento mais
efetivo de Satanás e umreinado
dos cristãos mais objetivo do que este que o
cristianismo através dos séculos parece ter experimentado. Você há de esperar
que perto do fim da História haja um período em que o poder do mal seja
marcadamente menor e a autoridade da igreja marcadamente maior, como nunca
antes. Você é um literalista até
o ponto de querer ver Satanás acorrentado e os santos coroados, senão
fisicamente, ainda assim de uma forma mais evidente do que a vaga forma espiritual de
aprisionamento e coroação da qual o amilenista fala. Se este é o modo
como você interpreta Apocalipse 20, você é um “pós-milenista”. Você leva em
consideração mil anos que podem ou nãoser mil anos literais, porém
certamente é um período especial da história distinguido do resto dela pela
maneira como Deus triunfa sobre o mal. Alguns o entendem como referência a
progressos no campo social; outros, mais leais à ênfase bíblica, esperam por
um grande avanço espiritual, com a conversão de judeus em alta escala (Rm 11:12)
e com a pregação do evangelho “por todo o mundo, para testemunho a todas as
nações; então virá o fim” (Mt 24:14). Haverá um clímax único para a História,
a parousia; e isto terá lugar depois (pós-) do
milênio.
Qualquer que seja o seu ponto de vista sobre a profecia,
todo cristão é otimista, pois sabe que Deus está no controle de tudo. Mas
aceitar o pós-milenismo pode torná-lo mais otimista do que tem direito de
ser, pois tende a concentrar-se nas promessas de sucesso da igreja e a
desprezar as numerosas advertências acerca da tribulação vindoura. O perigo de
estar seguro demais de que as coisas estão inevitavelmente indo para cima é
que se pode tornar-se complacente e esquecer a urgência da convocação do
Senhor para sermos zelosos e para vigiar. O que, todavia, precisa ser dito em
favor do pós-milenismo é que, no seu melhor aspecto, coloca diante de nós
uma visão bastante inspiradora da igreja, como deve de fato ser, onde todos os
membros deveriam compreender o desafio que é a evangelização do mundo. Houve
cristãos que pensaram ter visto a aurora da época de ouro nos dias do
colonialismo do último século, quando o acesso a continentes até então nas trevas foi
seguido por um alastrar sem precedentes de benefícios duplos (é como se
pareciam então) da civilização e do cristianismo. A influência do
pós-milenismo é sensível em muitos dos hinos missionários que herdamos da
época vitoriana. A obscuridade do nosso próprio século fez-nos assumir uma
visão mais realista das dificuldades da tarefa. No entanto, não devemos
desistir de alcançar um ideal, simplesmente porque não conseguimos
compreendê-lo.
e. Conclusão
Cada interpretação de Apocalipse 20 pode ter um
certo valor espiritual. A pergunta permanece: Qual é o valor que
realmente pretendemos encontrar nele? Tendo considerado todas as três, por
qual iremos optar? É questão de voltar para inspecionar suas raízes, e de
perguntar a nós mesmos não somente qual devemos escolher, mas por quê. Em
que sentido entendemos como verdadeiroso
esboço geral e as frases descritivas do capítulo 20?
No que diz respeito à descrição, a posição deste
comentário é que a prática utilizada no resto do Novo Testamento precisa ser
normativa; e as conclusões de um estudo detalhado (para o qual nos falta
espaço) demonstrariam que a igreja apostólica teria entendido a linguagem de
Apocalipse 20 como altamente simbólica e, na sua maioria, desvinculada do
tempo. O que os primeiros cristãos pensavam ser o valor simbólico daqueles
textos será sugerido durante o comentário desta cena. No que diz respeito às
partes do capítulo que eles não considerariam desvinculadas do tempo, mas que
deveriam ser, de alguma forma, encaixadas dentro de um esquema ou
sequência de eventos, aí também o Apocalipse não deveria permanecer por força
própria como uma estrutura independente, mas deveria ser tomado como repetição
em uma linguagem altamente colorida da sequência já suficientemente esclarecida
em linguagem não-simbólica nos evangelhos e nas epístolas. A interpretação
resultante coloca-se, portanto, ao longo das linhas do amilenismo.
Esperamos ter dito o suficiente, durante esta exposição, para recomendar este
ponto de vista, que não é nem fora de tom, nem anti-bíblico, e sim um
método que procura aplicar o ensino do Apocalipse às necessidades espirituais
dos nossos dias.
A
Primeira Visão: O Capitão dos Exércitos do Céu (19:11-16)
Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se
chama Fiel e verdadeiro, e julga e peleja com justiça. 12Os seus
olhos são chama de fogo; na sua cabeça há muitos diademas; tem um nome escrito
que ninguém conhece senão ele mesmo. 13Está vestido com um
manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; 14e
seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras
de linho finíssimo, branco e puro. 15Sai da sua boca uma
espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro
de ferro e pessoalmente pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus
Todo-poderoso. l6Tem no seu manto, e na sua coxa, um nome
inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.
“Se abriram os céus”, diz o profeta Ezequiel no primeiro
versículo do seu livro, “e eu tive visões de Deus”. Praticamente toda abertura
do céu mencionada nas Escrituras revela tais tipos de visões, e o começo da
sétima cena do Apocalipse não é exceção. A semelhança superficial entre o
cavaleiro do cavalo branco desta cena e o da segunda cena (6:2) é desfeita não
somente pelos fatores por nós considerados quando estudamos o capítulo 6, mas
pelo cenário diferente das duas cenas também. Naquele, o cavaleiro é como se
estivesse contido dentro do livro selado, livro este que se encontrava
nas mãos do Cordeiro, e o Cordeiro permanecia no meio de uma vasta
multidão de espectadores. Apesar de todo o espanto que ele provoca, o impacto
do cavaleiro é diminuído pela perspectiva das coisas ao seu redor. Neste, porém,
o cavaleiro irrompe na cena do drama e imediatamente ela se enche com a sua
presença divina.
Sua divindade é anunciada ante nossos olhos por três
vezes: no começo, no meio e no fim da visão. O título “Verbo” (v. 13) é encontrado
também tanto no Evangelho, como na primeira Epístola de João. “Fiel e
Verdadeiro” (v. 11) e “Rei dos Reis e Senhor dos Senhores” (v.16) ocorreram nos
capítulos anteriores do Apocalipse: um na primeira cena e outro na última que
lemos (3:14, primeira cena; 17:14, sexta cena). Todos os três nomes pertencem
ao Senhor Jesus Cristo. Uma comparação entre esta visão e a descrição de Cristo
no capítulo 1 nos mostrará ainda outros pontos de semelhança.
Além dos paralelos que servem para identificar o cavaleiro
com Cristo existem outras reminiscências. Seus seguidores, seu cetro de ferro
e o pisar do lagar do vinho e do furor de Deus, tudo reaparece da quarta cena
(14:4; 12:5; 14:19,20). O joio está sendo ajuntado para ser atado com um
memorável nó!
Muito desta linguagem é tirado de fontes mais antigas.
Podemos voltar para muito além no tempo da visão de Ezequiel quando ele viu o
céu aberto, para a descrição de Isaías 63:1-6 sobre aquele que manchou suas
vestes ao pisar as uvas no lagar, para Isaías 11:3-4 onde alguém julga em
justiça e fere a terra, e Salmo 2:8-9 onde as nações são despedaçadas com um
cetro de ferro. O todo é um quadro de extremo rigor. Há alguma profecia que aqueça
mais o coração do que a que termina em Isaías 11:9 “não se fará mal nem dano
algum em todo o meu santo monte?” No entanto não é bem no coração desta mesma
visão, que apresenta a bondade do Senhor, que lemos a declaração simples de que
“com um sopro dos seus lábios matará o perverso” (v.4)? Os dois lados do
caráter divino “a bondade e a severidade de Deus” (Rm 11:22) são
apresentados de forma plena para todos os que olham para a primeira cena e
encontram que é o Fiel e Verdadeiro que irá premiar a igreja de Filadélfia
(3:7ss.) e rejeitar a igreja de Laodicéia (3:14ss).
Se estes capítulos do Apocalipse possuíssem um esquema no
qual esta passagem se encaixasse, ela poderia ser interpretada como sendo a
descrição do Cristo vitorioso cavalgando para combater a sua última batalha.
No entanto, devemos mencionar que a própria passagem nada diz acerca de
uma última batalha.
Fora a referência do Salmo 2 (“as regerá”), não existe um verbo sequer no
tempo futuro em qualquer destes versículos. Eles não descrevem o que
Cristo vai fazer e
sim o que ele é: um
Rei conquistador, um justo Juiz, o Capitão dos exércitos do céu. É somente na
sua parousia que “todo o olho o verá" assim
(1:7); mas nunca, nem mesmo quando morreu na cruz, ele foi menos do que ele
é. Muitas passagens das Escrituras nos animam a crer que o seu exército
celestial, o qual inclui a nós e aos anjos, está sendo dirigido hoje mesmo para
lutas contra o mal. E que homens estão sendo trazidos mesmo agora aojulgamento, ou “Krisis”
(em grego) da decisão.
A Segunda Visão: a Certeza da
Vitória do Capitão (19:17-18)
Então
vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande voz, falando a todas as
aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de
Deus, 18para que comais carnes de reis, carnes de
comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros,
carnes de todos, quer livres, quer escravos, assim pequenos como grandes.
É quase impossível meditar no Apocalipse sem haver um
“silêncio de meia hora” não somente depois do sétimo selo, mas ao final de
todas as outras cenas também. Cada cena prossegue para um clímax asfixiante, e
nos deixa divagando acerca do que mais poderá ainda ocorrer. Poucas páginas
atrás fomos absorvidos pelo encerramento da sexta cena, a estupenda
sétima palavra: “voz de numerosa multidão, como de muitas águas, e como de
fortes trovões, dizendo; Aleluia! pois reina o Senhor nosso Deus, o
Todo-poderoso! ”. A cena montada por Handel, baseada neste texto, não passa de
um simples eco comparada com a música celestial que ressoa na mente de todos
os que tentam imaginá-la.
Ainda assim a sétima cena contém verdades ainda mais concentradas,
mais poderosamente traçadas. A primeira visão apresentou uma montagem
superposta de Cristo como cavaleiro, tirada de vários pontos das Escrituras; e
agora a segunda visão nos revela “um anjo”
no lugar dos muitos que agiram como bocas da
verdade divina até aqui. É como se todos eles tivessem sido fundidos em um só,
e este está em pé no
sol, onde toda a luz se concentra em um só lugar. Sua mensagem
é que os pássaros do ar podem esperar uma grande festança tão logo a guerra de
Deus termine. O significado desta última batalha será considerado na próxima
seção; para o momento é importante notar que mesmo que eles se refiram à
destruição final dos inimigos de Deus, a segunda e a terceira visões contém
uma referência cronológica, a qual (como já vimos) não pode ser realmente
encontrada na primeira visão. Mas isto será discutido mais adiante. A mensagem
cristalina do anjo, porém, é que o resultado da guerra já foi pré-determinado
por Deus. O anjo faz uma paródia macabra do convite para o outro banquete “as
bodas de seu filho ... Eis que preparei o meu banquete, os meus bois
e cevados já foram abatidos, e tudo está pronto; vinde para as bodas” (Mt
22:2-4; cf. Ap 19:9). Deus fez os preparativos. Não existe discussão acerca de
como as coisas terminarão.
A
Terceira Visão: os Inimigos do Capitão São Destruídos (19:19-21)
E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos,
congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo, e contra
o seu exército. 20Mas a besta foi aprisionada, e com ela o
falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que
receberam a marca da besta, e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram
lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. 21Os restantes foram mortos com a
espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves
se fartaram das suas carnes.
Eis aqui o clímax da guerra em que o campeão de Deus, que
surgiu na primeira cena, faz com que a sua campanha chegue ao fim predeterminado,
o que foi proclamado na segunda visão.
Aqui, também, entrelaçam-se vários temas de partes
anteriores do livro. Da mesma maneira que na pessoa do “Capitão dos exércitos
do céu” vimos emergir o mesmo Cristo que vimos frequentemente em outros
lugares, assim nos líderes das forças rebeldes vemos as familiares figuras da
besta e do falso profeta. Nós não os conhecíamos exatamente por esses nomes,
mas comparando o versículo 20 com 13:11-18, podemos ver que estes dois são
nada mais nada menos do que a besta que procede do mar e a besta que procede da
terra, os dois grandes poderes do mal no conflito cósmico da quarta cena. Também
os encontramos com roupas diferentes na sexta cena, onde a prostituta e a sua
besta demonstraram pelas suas atividades serem outra representação
dos mesmos “dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 6:12). A quarta cena inclui
uma advertência e uma visão prévia da destruição do mal (14:8-11; 17-20); o
mesmo tema foi expandido para preencher quase a totalidade da sexta cena; e é
novamente apanhado aqui e concentrado em três versículos.
Como em muitas profecias, o quadro nestes versículos é
diminuto. Em uma simples sentença (“os dois foram lançados vivos dentro do lago
do fogo...”) estão condensadas as prolongadas dores de morte da Babilônia, que
ocuparam todo um capítulo na sexta cena; e em uma só declaração estão fundidas
as destruições de ambos, ao passo que na sexta cena elas foram diferentes: a
prostituta foi destruída pela besta (17:16) e a besta pelo Cordeiro (17:14).
Mas em certo sentido a síntese aqui apresentada diverge de muitas predições do
Antigo Testamento em um ponto. Quando os profetas da antiguidade olharam para o
vindouro dia do Senhor, eles não podiam distinguir a distância que existia
entre os picos distantes e os montes próximos. Algumas de suas predições
diziam respeito ao julgamento do último dia, outras a alguns julgamentos mais
imediatos que já se realizaram. Os eventos complexos dos quais a visão de João
é uma declaração simplificada não são, no entanto, uma combinação de coisas
próximas e remotas; elas pertencem completamente ao último dia. Pois tanto a
besta como o falso profeta são os próprios princípios do mal em atividade neste
mundo, e quando eles forem atirados para dentro do lago de fogo será o fim da
História. É “na consumação do século”, Jesus nos diz, que seus anjos
“ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os
lançarão na fornalha acesa” (Mt 13:40-42).
A terceira visão, então, refere-se ao futuro de uma forma
que as outras visões não o fazem. A primeira é eterna: desde os dias da encarnação
Cristo é Rei, Juiz e Senhor dos senhores. A segunda é ambivalente: durante
todo o tempo tem sido assim, que toda criatura que se opõe a Deus está
destinada a perecer, apesar do convite para a festa da comilança referir-se de
modo particular ao tempo do fim. A terceira, porém, está colocada firmemente no
ponto final da História.
O versículo 20 prediz a derrota final dos poderes
sobrenaturais do mal, e o versículo 21, de todos “os restantes”. Isso poderia
parecer referir-se a homens, em lugar de demônios, que seguiram a besta e o
falso profeta, por duas razões: eles são a cópia do exército de Cristo, o qual,
como já foi sugerido, tanto pode ser a igreja como as hostes angelicais; e eles
são destruídos pela espada que sai da boca de Cristo, a qual entendemos ser a
sua mensagem (Ef 6:17; Hb 4:12) — e é para homens e não para espíritos,
que a mensagem é principalmente dirigida. Ela promete salvação se eles se
arrependerem, e neste caso eles estarão automaticamente arrolados no exército
do céu, mas serão destruídos caso se rebelem. A carnificina do campo
de batalha descrita aqui é sem dúvida um símbolo, tanto quanto a espada que
mata os rebeldes. Mas se aquilo é uma mero símbolo, como será a
realidade?
A
Quarta Visão: o Diabo (20:1-3)
Então
vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande
corrente. 2Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é
o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; 3lançou-o no
abismo, fechou-o, e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações
até se completarem os mil anos. Depois disto é necessário que ele seja solto
pouco tempo.
As controvérsias acerca desta passagem já foram discutidas
na introdução desta cena. O que consideraremos aqui é o significado do aprisionamento
de Satanás por mil anos, quando visto no contexto do resto das Escrituras.
Pelo que tudo indica, o milênio certamente ainda
não chegou. A televisão, o rádio e os jornais nos relembram diariamente (não
com estas palavras) que Satanás está vivo e ativo em nosso planeta. Como
se pode dizer que ele está preso e encerrado dentro do abismo? Esta quarta
visão deve necessariamente referir-se a algo futuro, tal qual a batalha da
terceira visão.
Mas o que, exatamente, é dito aqui, e o que tem o resto
das Escrituras a dizer acerca disso?
Em primeiro lugar vamos ao ato: Satanás é seguro e preso.
Qualquer que seja a interpretação feita pelos comentaristas ou pelas condições
do mundo ao nosso redor, são as palavras de Cristo que devem pesar mais; e é
aí, nos ensinamentos de Cristo, que encontramos a outra única referência
bíblica acerca do aprisionamento de Satanás. Os evangelhos sinóticos trazem a
parábola acerca do “valente, bem armado, que guarda a sua própria casa” de tal
forma que “ficam em segurança todos os seus bens”. A história prossegue e
descreve a vinda de alguém “mais valente”, cujo objetivo é saquear a
propriedade e os bens do valente. O recém-chegado “vence-o, tira-lhe a armadura
em que confiava”, diz Lucas, e “amarra-o” dizem Mateus e Marcos. Agora sabemos
que esta história foi contada expressamente para ilustrar algo que aconteceu
com Satanás, e
que lhe aconteceu quando
da encarnação. Com a primeira vinda de Cristo veio também o
reino de Deus, e Jesus expelia demônios para provar exatamente isto: que
Satanás, apesar de toda a sua força, foi seguro e aprisionado. Podemos ainda
questionar o que realmente significava o seu aprisionamento, pois parece que
ele continuou em relativa liberdade; não podemos fugir do fato que a mesma
palavra e ação, “o aprisionamento”, unem Apocalipse 20:2 com Marcos3:27.
Em segundo lugar, vamos ao objeto: Satanás foi jogado
dentro do abismo “para que não mais enganasse as nações”. Aqui, novamente,
parece muito pouco provável que Satanás esteja ativamente impedido de enganar
as nações e que ele tenha estado incapacitado de assim proceder desde os dias
de Cristo. Certamente ele ainda engana as nações e será que isso significa que
o milênio está ainda por vir?
Vamos considerar, porém, o que o restante das Escrituras
tem a dizer acerca das nações. A bênção virá para elas através da semente de
Abraão, e a luz através do prometido servo do Senhor; quando Cristo nasceu, o
velho Simeão reconheceu que o bebê em seus braços era a própria Semente e o
Servo, a luz para a revelação às nações e a glória de Israel. Durante a vida
de Cristo na terra, o fato das nações estarem libertas do engodo satânico foi
antecipadamente demonstrado pela visita dos magos e exemplificada pelos
contatos que Cristo teve com o centurião romano, com a
mulher cananita e com a companhia de gregos. O mesmo modelo foi
repetido pela vida da igreja: “homens...de todas as nações debaixo do céu”
voltaram ao berço no dia do Pentecoste e o resultado dos acontecimentos daquele
dia foi a conversão de samaritanos, de romanos e de gregos. Em paralelo com a
predição de Cristo de que o evangelho seria pregado a todas as nações,
geralmente entendida como algo que acontecerá somente quando a vinda do Senhor
estiver bem próxima, temos que considerar a incrível declaração de que, já na
metade do primeiro século, o evangelho foi pregado
“a toda a criatura debaixo do céu”. O que significam essas palavras do
apóstolo? É claro que a evangelização mundial à qual se refere não pode
significar uma verdadeira pregação do evangelho a cada uma das raças, e muito
menos a cada pessoa individualmente. O que aconteceu é que o evangelho foi
colocado à disposição das
nações em geral, em vez de ficar restrito aos judeus. Desde os dias de Cristo
o evangelho tem sido um evangelho universal, de um modo como nunca tinha sido
antes nos “tempos da ignorância” (At 17:30).
Parece estar de acordo com o ensino das Escrituras, então,
considerar o milênio de Apocalipse 20:3 como um período durante o qual Satanás
não tem mais a capacidade de manter sob a sua custódia as nações. Estas estavam
totalmente em seu poder até a vinda de Cristo para amarrá-lo e tomar as nações
de suas mãos. Com isso concorda o elo que Cristo faz entre a expulsão do
príncipe deste mundo (Satanás) e a visita dos inquiridores gregos
(Jo 12:20-32), e entre a queda de Satanás e os bons resultados de uma das
primeiras campanhas de evangelização (Lc 10:17-18). Toda vez que vemos a igreja
acrescida de um novo convertido, sabemos que a incapacidade de Satanás de
enganar as nações está sendo novamente proclamada.
Os mil
anos, que de acordo com a nossa visão começaram na primeira
vinda de Cristo, estão ainda em curso e equivalem aos “três anos e meio”
durante os quais as testemunhas da terceira cena pregam no mundo, e a mulher
sobrevive no deserto. Mas no fim deste período virá um tempo, de acordo com o
versículo 3b, quando por “pouco tempo” Satanás será solto das limitações que a
era da igreja lhe impôs.
Existem paralelos para esta libertação no fim do milênio,
tanto no Apocalipse como em outros lugares, os quais sustentam a interpretação
que temos seguido. Na terceira cena as duas testemunhas de Deus, que pregaram
sem obstáculos durante três anos e meio, são subitamente silenciadas por três
dias e meio. Na quarta cena vimos a besta que emergiu do mar ser revivida
depois de estar mortalmente ferida; e apesar de termos aceito a besta como
representante das perenes características da sociedade satânica alienada de
Deus, não deveríamos nos surpreender ao descobrir que o mesmo acontece no que
diz respeito ao quadro geral da carreira de Satanás. Na sexta cena, o período
das sete cabeças, o qual para João era presente, é seguido pelo período dos dez
chifres que, para João, era futuro e parece, novamente, indicar o ressurgimento
do mal no fim dos tempos. Dá-se o mesmo aqui na sétima cena. “Quando, porém,
se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão” (vs. 7,8).
Paulo descreve em 2 Tessalonicenses 2 o que vai acontecer
imediatamente antes do retorno do Senhor, “...não acontecerá sem que
primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniquidade... ” (v. 3).
No tempo presente um poder divino “o detém”, porém é certo que em alguns
aspectos “o mistério da iniquidade já opera” (vs. 6 e 7). Mas quando aquele que
o detém for afastado, o mundo novamente verá “a eficácia de Satanás...
com todo engano
de injustiça” (vs. 9 e 10). As predições não simbólicas de Paulo concordam de
forma tão marcante com as profecias simbólicas de Apocalipse 20 que é muito
difícil dizer que as duas passagens se referem a circunstâncias diferentes.
Se a passagem de Tessalonicenses que descreve o fim da
época da igreja é, de fato, paralela à do Apocalipse que descreve o fim do milênio,
estabelece-se a relação entre o milênio e a parousia: a passagem de 2
Tessalonicenses diz que a gloriosa segunda vinda de Cristo — “a epifania da sua
parousia” (é como a frase 2 Ts 2:8 pode ser traduzida) — dará fim à última
investida do mal a qual, por seu turno (de acordo com o capítulo à nossa
frente), terminará com os mil anos de restrição da atividade de Satanás.
Novamente torna-se óbvio que a ordem em que João recebe
suas visões não é a ordem dos eventos na História. A terceira visão nos leva
ao fim da era, a quarta visão nos leva de volta ao princípio. O fato de João
ter visto a besta destruída antes de ver o aprisionamento de Satanás não tem
nada a ver com a ordem real dos acontecimentos. Isso precisa ser determinado
pelo que cada visão chega a representar à luz do restante das Escrituras.
Compare-se, por exemplo, o milênio da quarta e quinta visões com os capítulos
de Ezequiel aos quais ele se relaciona pelo uso dos
nomes Gogue e Magogue (20:8). A sequência dos eventos em
Apocalipse 20 é: a derrota de Satanás, a ressurreição dos santos para um
reinado de mil anos, a rebelião de Gogue quando Satanás retorna e a
última batalha seguida no capítulo 21 pelo estabelecimento da Nova Jerusalém.
Os últimos capítulos de Ezequiel trazem um notável paralelo: a derrota
de Erom e a ressurreição de Israel para um período prolongado de paz
(35-37), seguido pela rebelião e derrota de Gogue (38-39),
seguindo-se a visão da Nova Jerusalém (40-48). Uma coisa curiosa é que o
convite lançado aos pássaros que formavam a segunda visão (lá atrás
em 19:17ss., aparentemente “antes” da derrota de Satanás e do milênio) é,
de acordo com Ezequiel, um convite paracomer
a carne e beber o sangue das tropas de Gogue (39:17ss.), depois da última
rebelião da quinta visão. Tanto João como Ezequiel estão menos
preocupados com a cronologia do que muitos dos seus comentadores.
A Quinta Visão: a Igreja (20:4-10)
Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi
dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do
testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não
adoraram a besta, nem tão pouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte
e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. 5Os restantes
dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira
ressurreição. 6Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo
contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele os mil
anos. 7Quando, porém, se completarem os mil anos,
Satanás será solto da sua prisão, 8e sairá a seduzir as nações
que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de
reuni-los para a peleja. O número desses é como a areia do mar.9Marcharam então
pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade
querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu. 10O diabo, o sedutor deles, foi lançado
para dentro do lago do fogo e enxofre, onde também se encontram não só a besta
como o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos
séculos.
A compreensão do versículo quatro na ERAB é um tanto
quanto obscura pois dá a entender tratar-se de dois grupos distintos:
um grupo daqueles “aos quais foi dada autoridade de julgar”, e o outro “dos
decapitados por causa do testemunho de Jesus”. Mas no grego não existe um ponto
final fazendo distinção, e muito menos a expressão “vi ainda”. O que João
escreveu seria mais parecido com: “E eu vi tronos (e eles sentaram
nos mesmos, aos quais foi dada autoridade de julgar) e as almas dos
decapitados, tantos quantos não adoraram a besta; e viveram e reinaram!’ Disto
parece mais provável que os tronos de julgamento são ocupados por um único
grupo, os vivos, e reinantes santos que sofreram execuções e que se recusaram
a adorar a besta.
Mesmo com este esclarecimento o reino milenar dos santos
aqui na quinta visão é, à primeira vista, tão misterioso quanto o aprisionamento
milenar de Satanás na quarta visão. Começa com a primeira ressurreição. Inclui
aqueles que foram decapitados pelo testemunho de Cristo, de tal
forma que sua localização é presumivelmente um mundo além da morte. Neste reino
aqueles santos aparecem como juízes, o
que nos traz à mente a autoridade da igreja sobre homens e anjos mencionada
em 1 Coríntios 6:2-3; e isto, seja lá em que mundo for, pertence
certamente ao futuro. No entanto tudo isso acontece antes da ressurreição geral
do versículo 5a.Visto assim, o reino dos santos, apesar de ser
aparentemente parte integrante do tempo, e não da eternidade, parece de fato
estar muito distante do aqui e agora.
Por outro lado, a quarta visão parecia indicar que o
milênio nada mais é do que um outro símbolo da era atual da igreja.
E se perguntarmos se a descrição nos versículos 4 a 10 necessariamente o coloca
em um mundo distante da nossa experiência atual, a resposta será não. E é bem fácil
entendê-lo em termos deste nosso próprio mundo. Aqui, nesta época, o povo de
Deus já reina como sacerdotes e reis; foi isto que João afirmou em 1:6. Paulo
declara a autoridade futura da igreja (1 Co 6:2-3) precisamente para mostrar
que ela já é competente para “julgar...as coisas desta vida”. A primeira ressurreição é perfeitamente
entendida como uma forma de expressar o que o Novo Testamento descreve em
muitos lugares como a passagem da morte para a vida, a saber, o “novo
nascimento em Cristo”. Os santos são todos aqueles que desfrutam esta nova
vida. Quem sabe João, no versículo 4, está distinguindo entre aqueles que
passaram e aqueles que não passaram pela morte física, os quais apesar disso
estão todos vivos e reinando com Cristo. O versículo 5 pode ser tomado no
mesmo sentido; se Deus não nos “deu vida juntamente com Cristo” nós permanecemos
“mortos em nossos delitos” para o resto desta era, até o dia quando até os
perversos forem ressuscitados — não para a vida eterna — pela voz do filho do
homem. A segunda morte será considerada mais adiante, à luz do versículo
14.
A quarta e quinta visões convergem no versículo 7. Os mil anos,
durante os quais os santos reinaram e o diabo é reprimido, terminam com uma
guerra cataclísmica. Os nomes e os locais são diferentes, mas só pode existir
uma única batalha que tanto pode ser tão universal e tão final como esta aqui.
Deve ser a mesma chamada Armagedom na quinta cena, onde “os reis do mundo
inteiro” são congregados para o “grande dia do Deus Todo-poderoso” (16:14ss);
deve ser o choque entre os dez chifres-reis e o Cordeiro que é o Rei dos reis,
na sexta cena (17:14); deve ser a guerra já descrita na terceira visão da
presente cena, na qual a besta congrega “os reis da terra com os seus
exércitos” para combater contra o cavaleiro do cavalo branco, e perecer com todas
as suas hostes (19:19-21). Em ambos os casos a derrota é bastante completa e
estas passagens nada mais são do que descrições variadas de um mesmo evento, a
última batalha da História. Seja lá qual for o adversário que foi batizado por
“Gogue, da terra de Magogue” na profecia de Ezequiel (38:2), no Apocalipse
ele não pode ser nenhum tipo de poder particular, nem mesmo uma coligação de
poderes: a escala do conflito torna-o impossível. Note-se a dimensão da visão,
a qual vê congregados sob a bandeira de Gogue não somente “os reis do
mundo inteiro” mas “as nações que há nos quatro cantos da terra...
como a areia do mar”. Note-se a profundidade do significado quando duas imagens
poderosas são fundidas em uma só para descrever a igreja — ao mesmo tempo
a cidade celestial
que tem fundamentos e o acampamento destes que são estrangeiros e peregrinos
na terra (Hb 11:9-10,13). Note-se a altura da qual
procede a destruição dos inimigos, quando o próprio Deus intervém, e
a manifestação do Senhor Jesus com os anjos do seu poder (2 Ts 1:7); e note-se
a extensão da punição que se segue à derrocada final de Satanás, “atormentados
de dia e de noite pelos séculos dos séculos”.
Estas são as realidades finais. O nome Gogue de
Ezequiel é estendido a todos “os que não conhecem a Deus... e
não obedecem ao evangelho do Nosso Senhor Jesus” (2 Ts 1:8). É assim
que as coisas são em última análise. No fim temos somente Cristo e Satanás:
Cristo que vive para sempre com os que estão com ele, e Satanás que morre para
sempre com os que estão com ele. É um desses dois que os homens, enquanto
podem, diariamente escolhem.
A Sexta Visão: o Último Julgamento (20:11-15)
Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de
cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. 12 Vitambém
os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então se
abriram livros. Ainda outro livro, o livro da vida, foi aberto. E os mortos
foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos
livros. 13Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e
o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um,
segundo as suas obras. 14Então a morte e o inferno foram
lançados para dentro do lago do fogo. Esta é a segunda morte, o lago do
fogo. 15E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida,
esse foi lançado para dentro do lago do fogo.
Até aqui entendemos que esta cena enfatiza a realidade que
se encontra a um nível mais profundo do que o da quarta cena. Aquela cena
apresentou o “drama da História”, as forças do bem e do mal e o conflito
cósmico no qual elas estão envolvidas. Este conflito está engrenado com o
processo histórico porque o conflito é causado pela velha era, na qual Satanás,
o usurpador, o príncipe
deste mundo,colide com a nova era, a era do reino de Deus; esta
nova era teve início com a primeira vinda de Cristo e se sobrepõe à velha a
qual, por sua vez, terminará com a segunda vinda de Cristo. Tanto a primeira
como a segunda vinda de Cristo podem ser localizadas na História.
Esta cena apresenta o mesmo drama, o início e o fim dos mil anos coincidem com
o início e o fim dos três anos e meio lá. Tudo, porém, é simplificado. O
momento histórico da encarnação de Cristo, no capítulo 12, e as complexas
batalhas dos capítulos 13 e 14 são reduzidas a um esboço mais linear ainda. As
cinco primeiras visões deste “drama por trás” da História mostra simplesmente
Cristo e sua vitória, Satanás e sua derrota, e a igreja, em cuja vida é travada
a guerra entre os dois primeiros. Este é o caráter da sétima cena que combina
bem com nossas conclusões anteriores sobre o significado do número sete, e
também que a sétima cena do Apocalipse deveria tratar de tais assuntos.
A sexta seção desta cena é igual às seções
correspondentes de cada uma das outras cenas, no que diz respeito ao fato de
todas darem ênfase do final de algo. O sexto selo mostra o estertor da morte da
terra; a sexta trombeta, a última advertência de Deus; a sexta visão da quarta
cena, o aparecimento da última praga; o sexto flagelo, a última punição de
Deus, e a sexta palavra, a última menção da Babilônia.
Podemos projetar o ponto de encontro de duas linhas de
pensamento, e esperar ver em 20:11-15 o que em dois sentidos é
definitivo: (1) a realidade fundamental, como é apresentada no restante da sétima
cena; e um ponto final de algum tipo, como nas outras seções. É isto que esta
visão prova ser. Ela apresenta o fim da ordem criada (v. 11), o fim de todos
cujos nomes não estão escritos no livro da vida (v. 15), e o fim do poder da
morte, “o último inimigo a ser destruído” (v. 14; 1 Co 15:26). A última
grande realidade é, básica e necessariamente, o juízo: a destruição de todas as
ofensas e o acerto de todos os erros.
Isto pode esclarecer quem são, exatamente, os mortos que aparecem
diante do grande trono branco.
Eles poderiam ser simplesmente os mortos espirituais os
quais, de acordo com a nossa interpretação da quinta visão, serão ressuscitados
ao fim dos mil anos (20:5). Cristo ensina em João 5:24-29 que se passa da morte para a vida quando
se recebe o evangelho. Toda aquela passagem forma um comentário bastante
esclarecedor da quinta e da sexta visões. Ouvir agora a voz de Cristo, que dá
vida eterna aos espiritualmente mortos (vs. 24-25), poderia ser a primeira
ressurreição. Ouvir, no futuro, a mesma voz, despertará todos os que estão
mortos (vs. 28-29): todos quantos receberam a vida espiritual, mas que
experimentaram a morte física, serão trazidos de volta à vida uma segunda
vez (a ressurreição da vida); e todos os que nunca ressuscitaram da morte
espiritual serão ressuscitados pela primeira e única vez, simplesmente para
receber a condenação (a ressurreição do juízo). Qualquer uma destas pode
ser a segunda
ressurreição, a qual é apresentada como a cópia da primeira.
À medida que os santos são isentos do juízo (v. 24), é bem provável que sequer
precisem permanecer diante do grande trono branco, e que venham a ser julgados
lá. Assim temos que os mortos da sexta visão e os da quinta visão são idênticos,
a saber, os perversos, os espiritualmente mortos.
Outra possibilidade é a sexta visão descrever todos os
mortos, santos ou pecadores, que aparecem diante do julgamento do trono. Este é
o sentido óbvio das palavras quando lidas independentemente da quinta visão.
Elas se ajustam bem às declarações de Paulo, de que todos nós compareceremos
diante do juízo divino (Rm 14:10; 2 Co 5:10); por outro lado permitem
dizer que os santos “não entraram em juízo” no sentido de João 5:24, pois o
aparecimento dos seus nomes no livro da vida anula as acusações anotadas contra
eles nos livros da responsabilidade humana.
Há objeções à segunda opinião; porém há muita sustentação
por tudo que foi dito anteriormente acerca da posição desta passagem no plano
geral do livro. O que ela descreve é fundamental, pois faz parte da sétima
cena; e final, pois é a sexta seção desta cena. Em duas palavras,
apresenta julgamento, e
de forma mais precisa o último julgamento.
Assim sendo, deveríamos esperar que se utilizasse de pinceladas bem largas e
cores mais sangrentas, de tal forma que a explicação mais simples seria
preferível à mais complicada. Talvez estejamos até errando o alvo ao
perguntar quem são os
mortos, talvez João esteja simplesmente querendo nos
mostrar a absoluta verdade de que depois da morte vem o juízo (Hb
9:27).
O único fator adicional, porém de muita importância, é a
base com a qual é feito o julgamento. Em primeiro lugar os livros da responsabilidade
são abertos e os homens “são julgados segundo suas obras, conforme o que se
achava escrito nos livros” (v. 12). De acordo com a regra escrita estabelecida
lá atrás, na primeira cena, Cristo diz: “voz darei a cada um, segundo vossas
obras”. Mas não é somente disto que o destino eterno do homem depende; pois o
livro da vida precisa também ser aberto, e se uma alma humana será ou não
destinada ao lago do fogo, isso depende de seu nome constar ou não neste livro.
Não há subterfúgio para a justiça divina. O julgamento é sempre de acordo com
as obras; a questão é “obras de quem?” O livro da vida pertence ao Cordeiro
(13:8), e todos cujos nomes encontram-se no livro lhe pertencem; a obediência
dele cobre o pecado destes e o seu poder no homem interior produz santidade.
Eles são considerados justos por causa da justiça dele que lhe
é imputada e concedida. No entanto, todos aqueles que não aceitaram
a vergonha do pecado e a glória da salvação, e que nunca tiveram seus nomes
escritos no livro da vida, nada têm a apresentar em defesa própria a não ser a
sua própria justiça. Esta é terrivelmente inadequada para eximi-los da segunda morte, a
morte da alma. A declaração de João em 20:6 significa que existe uma primeira
morte, a qual tem poder sobre os santos e é, presumivelmente, a morte do
corpo; estas duas mortes são, sem sombra de dúvida, o que Cristo tem em mente
quando diz: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei
antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo”
(Mt10:28).
A
Sétima Visão: a Nova Era (21:1-8)
Vi novo
céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já
não existe. 2Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém,
que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para seu
esposo. 3Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo:
Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão
povos de Deus e Deus mesmo estará com eles.4E lhes enxugará
dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem
pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. 5E aquele
que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E
acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. 6Disse-me ainda: tudo está feito. Eu
sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Eu, a quem tem sede darei de graça
da fonte da água da vida. 7O vencedor herdará estas
coisas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho. 8Quanto,
porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos
impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que
lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.
Na mesma proporção em que a sexta seção parece lidar com o
fim dos tempos a maior parte da sétima seção parece olhar para além do fim.
Também tanto a terceira cena (as trombetas), quanto a quarta (as
visões do conflito cósmico), como a sexta cena (as palavras acerca da
Babilônia) terminam com uma antevisão da eternidade, e com os sons da multidão
celestial louvando a Deus pelo término da sua obra. Na quinta cena, que dizia
respeito à punição derramada no mundo dos homens e que, portanto, pouco tinha a
ver com a eternidade, a ruína final do sétimo flagelo é seguida por uma voz que
procede do trono de Deus dizendo: “Feito está”! Mesmo na segunda cena, onde o
silêncio se segue ao rompimento do sétimo selo, o mesmo princípio é aplicável;
pois se cada sétima seção se volta para a eternidade, e a segunda cena diz
respeito às tribulações desta vida somente, naturalmente nada mais haverá para
ser dito quando os seis selos da História tiverem sido abertos.
A sétima cena segue o modelo. Descreveu todo o drama do pecado
e da redenção com os termos mais básicos, e agora na sétima seção volta-se
para as distâncias da eternidade. Aqui está o novo mundo. É ainda um mundo reconhecível,
pois João pode ainda descrevê-lo em termos de um céu e de uma terra — nós não
nos encontraremos em um mundo totalmente alienado da ordem a que estamos
acostumados. Porém será radicalmente modificado; o mar, com tudo o que o
ornamentava sob o domínio de Deus, representado nas antigas mitologias pelos
monstros do caos Tiamate, é sumariamente removido.
Olhando para a frente, desta maneira, a sétima
visão proporciona um exemplo marcante do processo já destacado por nós, no
qual as partes do Apocalipse são colocadas juntas formando um todo, e os temas
são desenvolvidos e expandidos de cena em cena. Pois, comoveremos, a
oitava cena apanha as sétimas seções de quase todas as cenas anteriores e as
mistura formando uma singular, porém complexa, figura da vida do mundo por
vir. É como se tivéssemos passado através de uma série de quartos heptagonais
em cada um dosquais uma das janelas estivesse aberta em direção à
eternidade; num momento sairemos do sétimo quarto e vamos nos encontrar
flutuando no espaço.
Nós ainda não chegamos lá, pois a oitava cena só começa em
21:9. Porém, olhando adiante, não podemos deixar de notar marcantes
acontecimentos mencionados há pouco. Se compararmos a oitava cena com a sétima
trombeta ou a sétima palavra, poderemos ver as semelhanças; elas descrevem os
mesmos acontecimentos. Se, porém, compararmos a oitava cena com a sétima visão
desta cena, não veremos semelhança e sim perfeita identidade. Elas não somente
tratam dos mesmos fatos; elas são o mesmo quadro. Em outras palavras, a
passagem diante dos nossos olhos é uma “pré-estreia”, tanto em detalhes como em
ordem, da última cena do drama, que logo será descortinado.
Ao meditarmos nos elos entre as duas fica muito difícil
concordar com a declaração de Morris de que: “João encerra o livro como uma
série de observações um tanto quanto confusas”, com “conexões de fato tão
soltas que alguns comentaristas sentem que João nunca revisou a última seção do
livro para dar-lhe uma forma final”. O que, ao contrário do que Morris afirma,
será provado como sendo uma das passagens mais organizadas do Apocalipse,
será considerado com detalhes quando atingirmos a oitava cena; para o
momento é suficiente notar a correspondência entre o que vemos aqui e o que
veremos lá.
21:2 = 21:10-21 A
primeira revelação: A cidade de Deus.
21:3 = 21:22-27 A
segunda revelação: A habitação de Deus.
21:4, 5a = 22:1-5 A terceira revelação: O mundo de Deus
renovado.
21:5b = 22:6-10 A quarta revelação: O trabalho
de Deus validado.
21:6a = 22:11-15 A quinta revelação: O trabalho de
Deus terminado.
21:6b = 22:16-17 A sexta revelação: A última bênção de
Deus.
21:8 = 22:18-19 A sétima revelação: A
última maldição de Deus.
FONTE Bibliografia M. Wilcock, comentário bíblico do novo
testamnto
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PAZ DO SENHOR
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