CONTINUAÇÃO
Êx 2. 10. Moisés, mõseh, seria o particípio ativo do verbo hebraico mãsâh, “ tirar, retirar” . Uma vocalização diferente nos daria o particípio passivo, “ retirado” , mas não há necessidade de forçar esse significado. Como ocorre frequentemente no Velho Testamento, este nome não é um exercício filológico perfeito, mas um trocadilho baseado numa assonância.
Possivelmente a filha de Faraó escolheu o nome egípcio que aparece na segunda metade de nomes como Tutmoses, Amoses e muitas outras formas semelhantes. É impossível saber se o nome “ Moisés” era considerado uma abreviatura de alguma forma mais longa, mas isso não tem importância. A Bíblia, além de indicar que o nome de Moisés é capaz de sustentar tal trocadilho (que para o israelita era rico em significado espiritual), sugere que o nome foi escolhido deliberadamente por causa desta capacidade. Nada há de impossível aqui; dialetos semitas ocidentais eram amplamente entendidos, e mesmo falados, na área do delta. Uma patroa egípcia podia muito bem entender e usar a língua de seus empregados para dar suas ordens, como as “ mensahib” do Império Britânico em dias mais recentes.R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 56-57.
Moisés é honrado como filho da filha de Faraó (v.10). Parece que os seus pais não tinham em vista apenas a necessidade, ao cuidarem dele para a filha do Faraó, mas estavam muito felizes pela honra feita, desse modo, ao seu filho. Porque os sorrisos do mundo são tentações mais fortes do que as suas caras fechadas, e mais difíceis de resistir. A tradição dos judeus diz que a filha de Faraó não tinha filhos, e que era a filha única de seu pai, de forma que quando ele foi adotado como seu filho, passou a ter direito à coroa. Embora seja certo que ele estivesse destinado a desfrutar tudo o que a corte tivesse de melhor no momento devido, neste ínterim Moisés teve a vantagem de receber a melhor educação e o melhor desenvolvimento que a corte poderia oferecer.
Este preparo, aliado a uma grande capacidade pessoal, fez com que Moisés se tornasse mestre em todo o conhecimento legítimo dos egípcios, Atos 7.22. Observe: 1. A Providência às vezes se alegra ao levantar os pobres do pó para colocá-los entre os príncipes, Salmos 113.7,8. Muitos que, por seu nascimento, parecem marcados para a obscuridade e a pobreza, através de eventos surpreendentes da Providência são trazidos para se sentarem na extremidade superior do mundo. Assim os homens passam a saber que o Céu governa todas as coisas. 2. O precioso Deus sempre conhece a maneira mais adequada para qualificar e preparar com antecedência aqueles que Ele nomeia para lhe prestai1 grandes serviços. Moisés, sendo educado em uma corte, é o homem mais adequado para ser um príncipe e rei em Jesurum. Tendo recebido a sua educação em uma corte instruída (pois assim era a corte egípcia naquela época), Moisés era o homem mais capacitado para ser um historiador. E pelo fato de ter sido educado na corte egípcia, Moisés é o homem mais adequado para ser empregado, em nome de Deus, como um embaixador para esta corte.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 228.
2. O preparo de Moisés (Êx 3.9,10).
Deus escolhe pessoas capacitadas para fazer a sua obra? Com certeza. Não há referências na Palavra de Deus que indiquem que Ele despreza talentos pessoais ou a experiência adquirida por seus servos. Saulo era versado em três línguas diferentes, e as utilizou para falar de Jesus em suas viagens missionárias. Mateus era um cobrador de impostos, e utilizou seus conhecimentos para escrever seu Evangelho. Davi era um combatente, mas também era um poeta que compôs diversos cânticos de adoração ao Senhor. Daniel era um profeta, mas também era um estadista. Portanto, entenda que Deus utiliza nossos recursos em prol do seu Reino.
Deus capacita pessoas para a sua obra? Com certeza. Ninguém pode dizer que está totalmente pronto para dar passos definitivos na caminhada com Deus. Elias, o tisbita, ressuscitou um menino morto, mas para isso teve de passar uma temporada no anonimato em Querite, sendo mantido por corvos, e depois que o ribeiro secou, foi direcionado por Deus para ficar uma temporada sendo mantido por uma viúva pobre em Sarepta, uma localidade de Sidom, terra natal de Jezabel. Ele foi capacitado por Deus para os desafios que enfrentaria. O mesmo se deu com Moisés: sua formação no Egito e o tempo no deserto, pastoreando as ovelhas de seu sogro, fizeram dele o homem escolhido por Deus para uma obra sem igual. Como cristãos, somos desafiados a usar nossos talentos pessoais em prol do Reino de Deus, e isso inclui buscar uma formação sólida e coerente.
Há uma frase que circula em adesivos de carros que diz: “Deus não chama os capacitados, mas capacita os escolhidos”. É uma frase estranha, ao menos em minha ótica, pois Deus não costuma desprezar a nossa experiência de vida, como se nada em nossa existência prestasse. Deus pode usar qualquer pessoa em sua obra, mas ao longo do texto bíblico Ele chama pessoas capacitadas, ainda que limitadamente, para servi-lo. Na prática, Deus utiliza nossos dons, estudos e demais recursos que adquirimos ao longo da vida para serem utilizados em prol do seu Reino. Portanto, quanto mais recursos obtemos ao longo da vida, mais eles poderão ser usados no serviço do Mestre. E é nossa função estar capacitados dentro de nossas forças para prestar o melhor ao Senhor. Em sua sabedoria, Ele complementará o que nos falta.
Deus sempre tem um objetivo quando chama um de seus servos para que exerça alguma função ou ministério e tem sua forma própria de preparar seus escolhidos, como aconteceu com Moisés. Na prática, nunca estaremos sempre prontos para atender à voz de Deus. Sempre faltará alguma atitude da qual só teremos ciência quando estivermos no meio da jornada. Ainda assim, em sua paciência, Deus nos pede que andemos confiando nEle, e não que acumulemos a bagagem de conhecimento e experiência antes para depois decidir que vamos obedecer.
Quando foi chamado por Deus, Moisés estava apascentando as ovelhas de seu sogro. Após ter passado quarenta anos no Egito como membro da corte de Faraó, tendo recebido uma educação própria de sua classe social, Moisés foge do Egito por ter matado um egípcio. Ele passou a próxima temporada de quarenta anos auxiliando seu sogro a cuidar de ovelhas em uma região desértica, onde aprendeu os caminhos do deserto, a forma como sobreviver nele, os tipos de animais existentes na região e questões relacionadas ao clima. Eram questões simples para quem tivera uma educação de ponta no Egito, mas foi dessa forma que Deus preparou Moisés. A sabedoria dos egípcios ele já possuía. Ele precisava agora aprender como viver fora da corte egípcia e a depender de Deus em uma jornada que duraria anos.
Dwight L. Moody comentou sabiamente que “Moisés passou seus primeiros quarenta anos pensando que era alguém. Os segundos quarenta anos, passou aprendendo que era um ninguém! Os últimos quarenta anos ele os passou descobrindo o que Deus pode fazer com um ninguém” (citado por Charles Swindoll).COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 13-15.
Êx 3. 10. Eu te enviarei. Davies aponta esta passagem como a comissão apostólica de Moisés. Não há contradição entre o envio de Moisés e a intenção declarada de Deus de realizar pessoalmente a obra, Deus normalmente trabalha através da obediência voluntária de Seus servos, realizando Sua vontade. Cristo pode ter tido esta passagem em mente quando deu uma comissão apostólica semelhante a Seus discípulos (João 20:21).R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 65.
O plano divino (3.7-10). Deus se envolveu na situação difícil do seu povo. Ele disse: Tenho visto atentamente, tenho ouvido e conheci (7). Pode ter esperado muitos anos, mas sabia o tempo todo. Estas palavras garantem que Deus ouve atentamente os clamores de tristeza e conhece os apuros humanos.
Deus sempre está agindo no mundo, “porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28). Interfere na história em ocasiões especiais para se revelar e realizar sua vontade. Ele disse a Moisés que desceu para livrar seu povo do Egito (8). Havia um lugar preparado para eles numa terra boa, larga e que mana leite e mel. Esta descrição não significa que Canaã era mais fértil que o Egito, mas que era uma terra boa, frutífera e suficientemente espaçosa para Israel. Tratava-se de uma terra identificada pelos nomes dos povos cuja iniqüidade estava cheia, tendo de renunciar a terra a favor dos escolhidos de Deus (Gn 15.16-21).19 Embora Deus pudesse ter livrado Israel diretamente por uma palavra, preferiu fazer sua obra por seu servo. Disse Deus a Moisés: Eu te enviarei a Faraó (10). Este homem, outrora autodesignado libertador, tinha de ir à presença do orgulhoso rei e tirar Israel do Egito sob a direção de Deus.
Identificamos “O Envolvimento de Deus com o seu Povo” em cinco declarações: 1) Tenho visto atentamente, 7; 2) Tenho ouvido, 7; 3) Conheci, 7; 4) Desci, 8; 5) Eu te enviarei, 10.Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 146.
Moisés passou os primeiros quarenta anos de sua vida (At 7:23) trabalhando para o governo egípcio. (Alguns estudiosos acreditam que ele estava sendo preparado para tornar-se Faraó.) O Egito parece o lugar menos provável para Deus começar a treinar um líder, mas os caminhos do Senhor não são os nossos caminhos. Ao capacitar Moisés para seu serviço, Deus usou várias abordagens.
Educação. "E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras" (At 7:22). O que fazia parte dessa educação? Os egípcios eram uma civilização extremamente desenvolvida para sua época, especialmente nas áreas de engenharia, matemática e astronomia. Graças a seus conhecimentos de astronomia, desenvolveram um calendário de precisão extraordinária, e seus engenheiros planejaram e supervisionaram a construção de estruturas que existem até hoje. Seus sacerdotes e médicos eram mestres na arte de embalsamar, e seus líderes possuíam grande competência em organização e administração. Aqueles que visitam o Egito hoje em dia inevitavelmente se impressionam com as realizações desse povo da Antiguidade. O servo de Deus deve aprender tudo o que puder, dedicar esse conhecimento a Deus e servi-lo fielmente.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 236.
3. A fuga de Moisés (Êx 2.11-22).
Êx 2.12 Matou o egípcio. Isso seguia 0 princípio de “vida por vida” (Êxo. 21.23), uma espécie de defesa em favor da vida, embora o texto não diga que o egípcio estava prestes a tirar a vida do israelita. Moisés exagerou, não havendo como desculpar o crime. Uma de minhas fontes informativas fala em uma “ultrajante” combinação de precipitação e prudência. Moisés agiu por sua própria autoridade, mostrando uma audácia singular. Mas a coragem audaciosa, por si só, não é uma virtude. O diabo é audaz; resolveu enfrentar o próprio Deus. Mas isso não faz dele um ser justo.
Conta-se como David Livingstone se sentiu revoltado diante do tratamento brutal dado aos escravos em um mercado árabe de escravos. Muitos homicídios sem base estavam sendo cometidos contra os escravos, sem motivos suficientes. E Livingstone confessou que sua primeira reação foi “atirar nos assassinos com sua pistola” (Encyclopaedia Brittanica, em seu artigo sobre Livingstone). Mas a vingança vem do Senhor, e não deve provir de algum indivíduo. A lei promove a vingança divina; e a vindicação que não ocorre, a vontade de Deus cuida disso, afinal. Não há erro que não venha a ser corrigido. Ver Rom. 13.1 ss. e 12.19. A violência parece inevitável, pelo menos em algumas ocasiões, mas ela sempre envolve um erro. Muitos pais castigam seus filhos tomados por uma ira violenta, usualmente por causa de alguma inconveniência trivial que sofreram.
“Os comentadores judeus geralmente apreciavam o ato [de Moisés], ou mesmo elogiavam-no como uma ação patriótica e heroica. Mas sem dúvida foi um feito precipitado, efetuado em um espírito indisciplinado” (Ellicott, in loc.).
Êx 2.13 Provocação. Moisés ocultara as evidências de seu crime; mas a questão não terminou com o egípcio sepultado na areia. No dia seguinte, Moisés tentou interromper uma briga entre dois hebreus. Mas acabou sabendo, da parte de um dos antagonistas, que seu ato homicida tinha sido visto e, sem dúvida, discutido entre os observadores. Isso significava que, em breve, a história inteira seria descoberta, e Moisés passaria a ser caçado pela justiça do Faraó. Talvez o hebreu tencionasse matar ao outro; mas afinal isso foi o que Moisés tinha feito. Ver II Sam. 14.6. A desintegração social e psicológica havia tomado conta do escravizado povo de Israel, e eles estavam abusando uns dos outros. O espírito de Moisés, pois, vexava-se diante do que via entre sua própria gente. Seu coração estava sendo preparado, mas um longo tempo seria necessário até tornar-se o instrumento devido do poder de Deus. Ver Atos 7.26 quanto ao paralelo neotestamentário deste versículo.
Êx 2.14 O autor sacro segredava aqui que não chegara ainda o tempo de Moisés receber autoridade. Os israelitas ainda não estavam preparados; o próprio Moisés também não estava preparado. Moisés era um príncipe no Egito, por ser filho adotivo da filha do Faraó, e seu pai adotivo sem dúvida era também homem de grande autoridade (vs. 10). Para os hebreus, porém, ele nada significava. Não lhe cabia decidir quem estava com a razão e quem estava errado, ainda que, posteriormente, ele se tivesse tornado o grande legislador a quem todo o povo de Israel devia obediência. No Antigo Testamento, a justiça (no hebraico, mishpat! não era um conhecimento positivo nem um princípio metafísico, como se dá com a filosofia ética. Era a lei imposta pelo Deus vivo. Os atos potencialmente altruístas de Moisés, sua preocupação com os oprimidos, não foram bem acolhidos, e isso deve ter parecido difícil para o jovem Moisés (então com quarenta anos de idade). Uma lição que devemos aprender de início é não esperar aplausos. A maioria das pessoas teme as verdades recém-descobertas que ameaçam os dogmas tradicionais.
O Erro Fatal de Moisés. Moisés tinha aplicado a violência; tinha assassinado; tinha perdido 0 respeito dos outros. Agora seria preciso muito tempo para ele vencer essa situação.
Êx 2.15 Moisés fugiu da presença de Faraó. Este estaria agora ouvindo a notícia ou em breve a ouviria, de que Moisés matara a um egípcio. E então mandaria executar Moisés. Nisso consistia o maior temor de Moisés. E assim Moisés fugiu para seu exílio de quarenta anos, na terra de Midiã, o segundo grande ciclo de sua vida. Ver o vs. 11. Ele começara a tornar-se uma figura ameaçadora, intervindo onde não devia, agitando o povo. Alguns intérpretes veem neste texto um esforço abortado de emancipação. Mas o autor sacro apresenta 0 episódio como um simples passo na preparação divina do caminho de Seu servo. Este precisava internar-se no deserto por quarenta anos. Tudo isso fazia parte de sua preparação.
Terra de Midiã. Moisés fugiu na direção sudeste, afastando-se de onde vivia talvez quatrocentos quilômetros. Midiã tinha sido um dos filhos de Abraão e Quetura (Gên. 25.1-6). Assim, os midianitas eram parentes distantes de Moisés, uma tribo árabe que vivia na região ao sul do Sinai e na porção noroeste da Arábia. Esse deserto diferia muito da favorecida região de Gósen, no Egito, que era onde estava 0 grosso da população israelita. Ver Gên. 45.10. Os midianitas eram seminômades. Seu centro ficava às margens do golfo de Ácaba. O local tradicional do monte Sinai ficava naquela região, Os nabateus, mui provavelmente, foram os sucessores dos midianitas na região, tendo sido os que edificaram a famosa cidade de Petra (ver a respeito no Dicionário).
Junto a um poço. Local muito valorizado em uma terra ressequida. Ver no Dicionário os artigos intitulados Poço e Cisterna. Moisés armou sua tenda nas imediações. Havia perdido sua exaltada posição de filho da filha do Faraó, e agora era tão sem importância quanto antes era importante.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 310.
Êx 2:11-15. Rejeição e fuga de Moisés. 11. Sendo Moisés já homem. Atos 7:23 afirma que Moisés tinha quarenta anos na época. Exodo afirma somente que ele tinha oitenta anos quando se apresentou perante Faraó (7:7) e que passara muitos dias em Midiã (2:23). É possível que quarenta anos seja representativo de uma geração, que para o mundo ocidental é um espaço de trinta anos. Atos 7:22 está absolutamente correto ao afirmar que “ Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios” , uma vez que fora criado com outros príncipes. Este era o outro lado da preparação divina. Com as possíveis exceções de Salomão, Daniel e Neemias, nenhum outro personagem do Velho Testamento recebeu treinamento semelhante (cfDn 1:4). Os códigos de direito da época provavelmente faziam parte de tal treinamento. O Código de Hamurábi, por exemplo, era amplamente estudado e comentado por escribas egípcios, de modo que Moisés possivelmente o conhecia bem.
E viu seus labores penosos. Esta frase significa mais do que simplesmente ver. Significa “ ver com emoção” , quer com satisfação (Gn 9:16) ou, como aqui, com tristeza (Gn 21:16). Moisés partilhava das emoções do coração de Deus. Deus também via o que os egípcios estavam fazendo aos israelitas e estava prestes a intervir (3:7,8). Não era o impulso de Moisés em salvar a Israel que estava errado, mas a ação em que ele se empenhou. Espancava, “ matou” (12) e “ mataste” (13) são três formas diferentes do mesmo verbo hebraico. Isso dá à narrativa uma continuidade que não é possível reproduzir em português. Comunica também a impressão de “ olho por olho, dente por dente” (21:24). Talvez o egípcio fosse um dos odiados feitores de obras; e, se hebreu tem mesmo o significado amplo sugerido acima, então a frase um do seu povo é uma restrição necessária, para indicar um verdadeiro israelita. Êx 2.12. E o escondeu na areia. Eis aqui um toque de colorido local. Não havia areia na maior parte de uma terra rochosa como Israel, e seria muito mais difícil ocultar um cadáver na Palestina do que no Egito.
Êx 2.13. E disse ao culpado.
Temos aqui um termo jurídico. Compare a descrição que Faraó faz de si mesmo, como sendo culpado (ARC “ injusto” ) enquanto Deus é chamado “justo” (9:27). Simples percepção psicológica foi o que fez o culpado rejeitar Moisés, em termos que o próprio Faraó pode ter usado mais tarde (5:2). Sem dúvida, o outro hebreu, o inocente, aceitou alegremente a ajuda de Moisés, tal como os publicanos e pecadores receberam a Cristo com alegria séculos depois (Mt 9:10).
Êx 2.15. A terra de Midiâ.
A localização é bastante incerta, mas sem dúvida ficava além das fronteiras do Egito, para o leste. Algumas partes da Península do Sinai, ou da Arabá (a região do sul do Mar Morto), ou ainda a parte da Arábia a leste do Golfo de Aqaba são localizações possíveis. Nos dias de Ptolomeu, a terra de “ Modiana” ficava localizada ao leste do golfo. Se, como em Gênesis 37:25, os midianitas viajavam extensamente, quer por razões comerciaisou pastoris (3:1) ou ainda bélicas (Jz 6:1), todas essas regiões poderiam ser cobertas. Pelo fato de, mais tarde, os israelitas terem se tornado inimigos mortais dos midianitas, é inadmissível que a tradição da peregrinação de Moisés por Midiã tenha sido inventada. É possível que “ ismaelitas” (Gn 37:25) e “ queneus” (Jz 4:11) fossem nomes tribais usados em Midiã. Por outro lado, Juízes 8:24 pode sustentar o ponto de vista de que o termo “ ismaelita” era bem mais amplo que “ midianita” ; o mais provável, porém, é que os termos eram usados de maneira bem livre. Junto a um poço. Onde quer que houvesse um poço no deserto, lá haveria uma povoação; e para os que lá viviam, aquele seria sempre “ o poço” . O poço de aldeia era o lugar natural onde encontrar o estranho ou visitante. Encontros semelhantes foram narrados em Gênesis 29:10 (Jacó) e João 4:6,7 (Jesus); nos três casos, oferece-se ajuda (quer material quer espiritual) a quem é indefeso e incapacitado, um retrato daquilo que Deus mesmo irá fazer.
Êx 2:16-22. Moisés em Midiã. 16.
O sacerdote de Midiã. Alguns estudiosos buscam apoio nesta frase para a chamada “hipótese quenita” , que presume que a religião mosaica se originou na de Midiã, e no sogro de Moisés em particular. Os midianitas, por tradição, pertenciam à mesma árvore genealógica de Israel, com raízes em Abraão (Gn 17:20) e é altamente improvável que Moisés tivesse aprendido com eles algo que já não conhecesse da “ lei comum” dos semitas ocidentais. Além disso, o relato bíblico deixa bem claro que a nova revelação foi entregue a Moisés no “ monte de Deus” (3:1) e que seu sogro só a aceitou posteriormente, quando a viu validada pelos acontecimentos (18:11). Sete filhas.
Novamente o número ideal ou sagrado; pode bem ter sido usado literalmente neste caso. As mulheres árabes (nunca os homens) ainda apanham água nos poços em Israel e na Jordânia, enquanto os rebanhos são normalmente vigiados por meninos e meninas.
Êx 2.18. Reuel.
Talvez signifique “ amigo de Deus” ou “ pastor de Deus” , este último um significado muito apropriado numa sociedade pastoril. Um significado menos provável seria “ Deus é pastor/amigo” . Assim como há dúvidas quanto à localização de Midiâ e até mesmo do Monte Sinai, há também dúvidas quanto ao nome exato do sogro de Moisés. O nome Reuel é uma forma de boas possibilidades, e em Gênesis 36:4 aparece como um nome edomita. Em 3:1 o mesmo homem é chamado de Jetro, a forma nominativa de um nome árabe relativamente comum. Em Números 10:29 aparece um Hobabe, o filho de Reuel de Midiã: o texto não deixa claro qual dos dois é o sogro de Moisés. Hobabe é um simples nome semita e Juízes 4:11 certamente descreve Hobabe como o sogro de Moisés. Isso significa que, ou várias tradições sobreviveram quanto â identidade do sogro de Moisés, ou então ele tinha pelo menos dois nomes. Evidentemente não há problemas em supor que ele tivesse dois (ou mais) nomes, já que nomes duplos são conhecidos de fontes da Arábia Meridional. Em tais casos o editor bíblico às vezes especifica ambos os nomes, como em “ Jerubaal (que é Gideão)” (Jz 7:1): às vezes porém, os dois são usados independentemente no espaço de uns poucos versos (Jz 8:29). O assunto não tem importância teológica e é melhor presumir que o nome significava tão pouco para Israel que tal incerteza era possível. A tradição, contudo, é unânime em afirmar que Moisés se casou com a filha de um sacerdote semita da região desértica oriental, e lá viveu por período consideravelmente longo.
ÊX 2. 21. Zípora. Pode ser traduzido como “ canora”, ou menos polidamente, “ pipilante” ; é o nome de uma pequena ave da região. Compare com os nomes igualmente simples de Raquel (ovelha) e Léa) (novilha) em Gênesis 29.
Êx 2. 22. Gérson. Este nome contém um trocadilho por assonância, pois foi traduzido como se fosse a expressão hebraica gêr sãm, “ um peregrino ali” . Filologicamente, é provavelmente um antigo nome derivado do verbo gãras, com o significado de “ expulsão” ; o sentido geral é, assim, aproximadamente o mesmo. Como é frequente no Velho Testamento, a observação é mais um comentário sobre o significado do nome do que uma tradução exata (cf 2:10). Consultar Hyatt quanto à sugestão de que Gérson é o ancestral do clã levita de Gérson “ Gersan” (Nm 3:21-26), com a mudança da última consoante.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 57-59.(estudaalicao.blogspot.com).
fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com
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