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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Estudo livro de Exôdo (16) מחקר שמות



                                                    CONTINUAÇÃO     
                        CELEBRAÇÃO DA PRIMEIRA PASCOA                        
                                              ERVAS AMARGAS

No hebraico, merorim amargores e palavra usada apenas por três vezes no A. T. (Êxo. 12:8; Núm. 9:11 e Lam. 3:15). O hebraico diz apenas «amargores», uma palavra tio geral que agora não sabemos quais ervas poderiam estar em foco. Alguns têm pensado em verduras como a chicória, a alface, a acelga, a azeda, etc. Alguns pensam no agrião. Nos tempos modernos, os judeus empregam a escarola e outras verduras, em um total de cinco espécies, para conseguirem uma salada amargosa. Alguns intérpretes supõem que, nos livros de Êxodo e Números, as ervas amargas eram apenas a hortelã.

Uso de Ervas na Páscoa. Nas Escrituras o amargor» simboliza aflição, miséria e servidão (Exo. 1:14; Rute 1:20; Pro. 5:4), a iniquidade (Jer. 4:18) e também o luto e a tristeza (Amôs 8: 10). Em face desses significados simbólicos, os israelitas receberam ordens para celebrar a páscoa utilizando-se de ervas amargas para relembrarem a amarga escravidão que haviam sofrido no Egito (Êxo. 12:8; Núm. 9:11). Os documentos escritos que chegaram até nós, provenientes  do antigo Egito, mostram que eles usavam várias ervas amargosas em suas saladas, e é bem possível que Israel tivesse empregado algumas delas na celebração da cerimônia da páscoa (ver o artigo).CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 431-432.

Êx 12.8 A carne assada no fogo. Alguns têm pensado que o rito, antes de fazer parte da páscoa, consistia em comer carne crua. Mas essa prática teria sido descontinuada por Israel. 0 trecho de Deuteronômio 16.7 parece sugerir que carne cozida era uma alternativa para a carne assada. A proibição ao consumo de sangue não permitia que a carne fosse comida ema. A Mishna diz que o cordeiro era assado mediante 0 uso de um espeto de madeira de romãzeira, que atravessava a carcaça. Não eram permitidos nem metais e nem grelhas. Em suas condições primitivas, no deserto, 0 povo de Israel podia assar o cordeiro com mais facilidade do que usar qualquer outra forma de cozimento. Posteriormente, porém, os cordeiros eram cortados em pedaços e cozidos (I Sam. 2.14,15).
“Originalmente, o matzoth, a festa dos pães asmos, era distinto da páscoa” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Porém, havia uma festa preliminar e primitiva dos pães asmos, em conjunção com a páscoa. Todos esses ritos desenvolveram-se em tempos posteriores, e todos eles, em alguma forma primitiva, provavelmente antecederam o evento do êxodo e da páscoa.
Ervas amargas. Essas ervas simbolizavam os sofrimentos de Israel antes de sua libertação, e, como tipo, apontavam para os sofrimentos de Cristo. A Mishna (Pesahim, 2.6) dá os ingredientes necessários, sobre os quais comentamos no artigo acima referido.CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 349.

Êx 12.8 As ervas amargas (de variedade não especificada e, portanto, provavelmente apenas uma nomenclatura geral; talvez alface selvagem seja o que se quis dar a entender) eram provavelmente um tempero primitivo, embora mais tarde os judeus as considerassem um símbolo do amargor da escravidão de Israel. O evangelista pode ter visto aqui a chave para a “ mirra” amarga que foi misturada com o vinagre oferecido a Cristo na cruz (Mc 15:23), especialmente tendo-se em vista que Ele era considerado a vítima pascal (1 Co 5:7).R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 103.

AS ERVAS AMARGAS

Vemos nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar os pães asmos, a significação e mesma utilidade moral. Não podemos desfrutar da participação dos sofrimentos de Cristo sem recordarmos o que tornou necessários esses sofrimentos, e esta recordação deve, necessariamente, produzir um espírito de mortificação e submissão, ilustrado, de um modo apropriado, nas ervas amargosas da festa da páscoa. Se o cordeiro assado representa Cristo sofrendo a ira de Deus em Sua Própria Pessoa na cruz, as ervas amargosas mostram que o crente reconhece a verdade que Ele sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).Por causa da leviandade dos nossos corações é bom compreendermos a profunda significação das ervas amargosas. Quem poderá ler os Salmos 6,22,38,69,88, e 109, sem compreender, em alguma medida, o significado dos pães asmos com ervas amargosas1?- Uma vida praticamente santa, unida a uma profunda submissão de alma, deve ser o fruto da comunhão verdadeira com os sofrimentos de Cristo, porque é de todo impossível que o mal moral e a leviandade de espírito possam subsistir na presença desses sofrimentos.

Mas, pode perguntar-se não sente a alma um gozo profundo no conhecimento que Cristo levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente, por nós, o cálice da ira justa de Deus? Por certo que é assim. E este o fundamento inabalável de todo o nosso gozo. Mas, poderemos nós esquecer que foi" por nossos pecados" que Ele sofreu Poderemos perder de vista a verdade, poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de Deus inclinou a Sua cabeça sob o peso das nossas transgressões? Certamente que não. Devemos comer o nosso cordeiro com ervas amargosas; as quais, não se esqueça, não representam as lágrimas de um sentimentalismo desprezível e superficial, mas sim as experiências profundas e verdadeiras de uma alma que compreende com inteligência espiritual o significado e efeito prático da cruz.

Contemplando a cruz, descobrimos nela aquilo que elimina a nossa culpa e dá doce paz e gozo. Porém, vemos que ela põe de lado, inteiramente, também, a natureza humana— representa a crucificação da "carne" e a morte do "homem velho" (veja-se Romanos, 6:6; Gl. 2- .20; 6:14; Cl. 2:11). Estas verdades, nos seus resultados práticos, implicam muitas coisas "amargosas" para a nossa natureza: exigem a renúncia própria, a mortificação dos nossos membros que estão sobre a terra (Cl 3:5), e a consideração do "homem velho" como morto para o pecado (Rm 6). Todas estas coisas podem parecer terríveis de encarar; porém, uma vez que se há entrado na casa cujas portas estão manchadas com o sangue veem-se de uma maneira muito diferente. As mesmas ervas que, para o gosto de um egípcio, eram, sem dúvida, tão amargosas, formavam uma parte integral da festa de redenção de Israel. Aqueles que são remidos pelo sangue do Cordeiro, e conhecem o gozo da comunhão com Ele, consideram como uma "festa" tirar o mal e ter a velha natureza no lugar da morte.C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.

3. O cordeiro (Êx 12.3-7).

Deveria ser um animal macho, de um ano, sem manchas no corpo e sem defeitos físicos. Esses eram requisitos para a celebração da Páscoa, mas a colocação do sangue nos umbrais da porta é que foi eficaz para que o anjo da morte não passasse nas casas dos israelitas: “E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12.13).
Observe que obedecer à ordem de Deus integralmente fez a diferença na Páscoa. De nada adiantaria separarem o cordeiro perfeito, prepararem-no como uma refeição que deveria ser comida nos moldes designados e simplesmente se esquecerem de que o sangue vertido do cordeiro deveria ser colocado na porta da casa. Essa ordem era de pouca valia? Pense você mesmo: Se fosse pai ou mãe judeu com vários filhos e, ao se esquecer desse pequeno detalhe, perdesse seu primeiro filho? Portanto, os israelitas levaram a sério essa ordem divina.
Aprenda que quando Deus dá detalhes para que sigamos em uma empreitada, esses detalhes devem ser seguidos com rigor, sob pena de perdermos algo muito custoso para nós mesmos. O sangue do cordeiro deveria estar na porta das casas. Ele impediria a morte no lar da família que temia ao Senhor.COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 41.

PÁSCOA, CRISTO COMO A

"...Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado» (I Cor. 5:7). No seu contexto, essa declaração tem um sentido moral. Deveríamos desvencilhar-nos de todos os elementos estranhos à espiritualidade, visto que Cristo fez o seu grande e eterno sacrifício, que é o agente de nossa purificação moral. Cumpre-nos abandonar nossa velha maneira de viver.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 102.

Êx 12.3 Congregação de Israel.  Aos dez deste mês. Dia da instituição e observância da páscoa. A páscoa era uma observância de cada família, e 0 cordeiro pascal era a figura central. No livro de Deuteronômio o caráter doméstico é substituído por um feriado religioso nacional. Finalmente, tornou-se um dos sacrifícios efetuados no templo. Ver Eze. 45.21-25; Lev. 23.5; Esd. 6.19,20; II Crô. 30; 35.1-19; Jubileus 49.
As orientações aqui dadas, a escolha do cordeiro no décimo dia do primeiro mês etc., de acordo com a Mishna (ver a respeito no Dicionário), aplicavam-se somente ao rito original, o qual sofreu modificações em tempos posteriores.

Um cordeiro.

 No hebraico, seh, filhote da ovelha ou da cabra. Ambos os filhotes eram usados durante a páscoa, mas acabou prevalecendo, por costume, o cordeiro, de acordo com uma antiga tradição. Segundo a casa dos pais. A nação de Israel estava organizada por famílias, clãs, tribos e príncipes. Essa observância era importante para as famílias, e, então, para a nação, em todas as suas expressões. Um cordeiro era selecionado para cada família, a menos que esta fosse muito pequena, quando então duas famílias podiam reunir-se para celebrar juntas a páscoa. Estavam envolvidas razões econômicas (ver o vs. 4).

Êx 12.4 Compartilhando a Páscoa. 

Sacrificar um cordeiro era um evento econômico avantajado. Uma família ou casa pequena podia compartilhar um cordeiro com outra família. Josefo diz-nos que dez pessoas era 0 número mínimo de uma casa (Guerras, vi.9.3). Esse número tornou-se 0 padrão para a organização de uma congregação ou minis sinagoga judaica. Quando duas famílias se uniam para celebrar a festa, elas ficavam separadas no aposento, de costas uma para a outra, e assim era preservada a unidade doméstica, apesar da cooperação. Um cordeiro pascal precisava ser consumido inteiro, e uma família dificilmente poderia fazer isso em uma única refeição. Ver Êxo. 12.10. Nenhuma pessoa podia comer sozinha do cordeiro pascal. A festa não tinha valor no caso de uma pessoa isolada. Era uma festa doméstica, uma observância comunal. A espiritualidade sempre se manifesta melhor em um esforço grupal, o que não isenta o indivíduo de outras práticas e observâncias solitárias, mas o convida a participar do espírito de comunidade.Por aí calculareis quantos bastem. Em outras palavras, cada cordeiro seria morto para um certo número de pessoas, as quais, juntas, deveriam observar a páscoa.

Êx 12.5 O cordeiro será sem defeito.

 Não poderia haver nenhum tipo de defeito físico, deformação, enfermidade etc. Como é óbvio, isso fala da impecabilidade do Cordeiro de Deus. Ver I Ped. 1.19 e João 1.29.
Macho de um ano. Ou um animal que já tivesse completado seu primeiro ano de vida, ou que ainda estivesse dentro de seu primeiro ano de vida, sem ter ainda atingido essa idade. A Septuaginta fala em um ano completo, 0 que tem levado a maioria dos estudiosos a pensar em uma idade exata do animal a ser sacrificado. Mas há quem suponha que a prática original fosse abater um cordeiro ainda bem novo, talvez com apenas algumas semanas de nascido. Uma vida preciosa era sacrificada com esse propósito religioso. Todas as vidas preciosas pertencem a Deus Pai; e é Sua responsabilidade cuidar de todas elas. Oh, Senhor, concede-nos tal graça!
Um cordeiro ou um cabrito. Portanto, originalmente, qualquer desses filhotes podia ser usado, embora depois fosse tradicional servir um cordeiro. Os Targuns mostram que a preferência era dada ao cordeiro, embora também se usasse, ocasionalmente, um cabrito.

Êx 12.6 Décimo quarto dia. 

O animai a ser sacrificado era separado do rebanho no décimo dia do mês, e, então, guardado para o sacrifício por quatro dias. Os rabinos alistam quatro coisas supostamente derivadas dessa exigência, a qual acabou não sendo preservada senão no começo da história de Israel, a saber: 1. Originalmente, os cordeiros foram consumidos na terra de Gósen, na residência de cada família israelita. 2. O cordeiro era separado no décimo dia do primeiro mês. 3. O sangue do cordeiro abatido era usado para lambuzar ambas as ombreiras e a verga da porta de entrada de cada casa. 4. O cordeiro era comido às pressas.

Quando foi descontinuada a exigência acerca do décimo dia, naturalmente também foi eliminada a exigência referente ao décimo quarto dia. Talvez aquele período intermediário de quatro dias desse ao povo tempo amplo para que as pessoas se certificassem de que o animal não tinha defeito. Essa questão não podia ser tratada de modo superficial. Em tipo, de acordo com alguns intérpretes, isso mostra Cristo preservado em Sua infância, enquanto estava sendo preparado para Sua missão expiatória.

Todo o ajuntamento da congregação de Israel. 

No começo, isso indicava que cada família cumpriria o seu dever religioso. Todas as famílias, em seu conjunto, formavam a congregação de Israel. Posteriormente, passou a haver um sacrifício comunal, quando a questão se tornou parte da adoração no templo. Os chefes de família reuniam-se em um só lugar para efetuar o sacrifício comunal. Os críticos veem aqui uma referência a esse costume posterior, e não à forma primitiva da observância. A Mishna entende que três grupos de famílias entravam sucessivamente no átrio do templo, para matar os cordeiros escolhidos. Nesse caso, para preservar a exigência original de que o sangue fosse aspergido, os chefes de família formavam uma espécie de brigada com baldes, apanhando 0 sangue dos animais sacrificados e, então, aplicando-o às ombreiras e às vergas das portas de cada casa. Ou, então, o sangue era derramado ao pé do altar, que assim veio a substituir, posteriormente, as portas de entradas das residências.

No crepúsculo da tarde. Era o horário do sacrifício. 

Logo, tratava-se de uma festa noturna, celebrada durante o tempo da lua cheia (vs. 8; ver também Isa. 30.29). De acordo com a ortodoxia judaica, o abate do animal ocorria ao aproximar-se a noite. A Mishna diz-nos que era apropriada qualquer hora depois do meio-dia para esse abate. Os samaritanos, os caraítas e os saduceus especificavam o crepúsculo, antes de as trevas absolutas cobrirem a terra. A prática original por certo era consumir o cordeiro pascal durante a noite. Josefo explanou que, em seus dias, o sacrifício tinha lugar entre a nona e a décima primeira horas (entre as 15 horas e as 17 horas, Guerras, 1.6, see. 3). Jesus foi crucificado à hora nona (Mat. 26.17).

Tomarão do sangue. 

Ou seja, aquela porção do sacrifício que, de acordo com a antiga crença, destinava-se ao poder divino. Ver Lev. 1.5. Originalmente, o sangue foi aplicado às ombreiras e à verga da porta de cada casa, ou seja, a parte ais santa e dedicada da casa (Lev. 21.6; Deu. 6.9). No dia da matança dos primogênitos no Egito, isso atuou como uma medida protetora contra o anjo destruidor, que, vendo o sangue aplicado, passaria por sobre a casa assim protegida. V« os vss. 22 e 23 deste capítulo, como também Êxo. 4.24, e as notas expositivas 3á existentes.No Dicionário ver os artigos Sangue e Expiação (quanto a este seus pontos quinto e sexto). Ver também ali os verbetes Expiação e Expiação pelo Sangue. E na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia ver 0 artigo Expiação pelo Sangue de Cristo.
Alguns estudiosos supõem que o uso do sangue, conforme aparece na primeira páscoa, realmente antecedeu o evento, como um rito antigo que apelava aos poderes divinos em busca de proteção contra forças espirituais malignas, para que fosse preserva a paz na família. A porta, como entrada que dava acesso à casa, seria o lugar lógico onde era aplicado o sangue protetor.

Vida ou Morte. 

O mesmo anjo destruidor (o Anjo de Yahweh) que matou os primogênitos do Egito também foi o anjo protetor de Israel. Assim foi e assim será sempre: escolhemos como o Poder Divino haverá de relacionar-se conosco. No caso dos israelitas, o cordeiro era morto em lugar dos filhos primogênitos, o que aponta para o poder vicário do sacrifício de Cristo.
Talvez o sangue também simbolizasse um laço que congregava a família e a comunidade, tendo-se tornado assim um sinal do pacto que todos eles compartilhavam com Yahweh.

Expiação. 

O sangue do cordeiro pascal fazia uma expiação simbólica pelos membros da família que se protegesse com o sangue aplicado à porta de sua casa. Isso os protegeu da ira divina que estava à solta naquela noite.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 348-349.

Êx 12.3. Toda a congregação de Israel. 
Esta é a primeira ocorrência no Pentateuco do que viria a ser um termo técnico para descrever Israel em sentido religioso {‘êdãh ocorre frequentemente com este sentido; em Deuteronômio e livros mais recentes a forma preferida é qãhãl) e que subjaz o uso da palavra ekklêsia (igreja) no Novo Testamento. A palavra “ congregação” não é um termo abstrato: implica no ajuntamento da nação de Israel, normalmente com propósito religioso.
Aos dez deste mês. É provável que os israelitas primitivos, tal como os chineses, dividissem o mês em três partes de dez dias cada, sendo a primeira destas a “ entrada” e a última a “ partida” . Nosso conceito de “ crescente” e “ minguante” é semelhante, embora baseado numa divisão do mês em duas partes. Tal como a Páscoa, o Dia de Expiação caía no décimo dia de um outro mês (Lv 23:26,27). Esta explicação é preferível à suposição de que o número dez era tido como sagrado. A noite do décimo quarto dia (quando o cordeiro devia ser morto, v. 6) seria exatamente a metade do mês, quando presumivelmente haveria lua cheia.
Um cordeiro. O termo hebraico, êeh, é neutro e deveria ser traduzido “ cabeça de gado (miúdo)” , aplicável igualmente a ovelhas e cabras de qualquer idade. Os israelitas, tal como os chineses, pareciam considerar qualquer distinção entre ovelhas e cabras uma subdivisão sem importância.
Talvez por causa disso, “ separar os bodes das ovelhas” veio a ser uma expressão proverbial para indicar o discernimento divino ao tempo do Novo Testamento (Mt 25:32). Quem conhece as ovelhas da Ásia, pequenas, de cor marrom ou preta e com pelo curto e crespo, sabe bem da dificuldade em distingui-las, exceto pelas caudas. Além disso, o seh poderia ser de qualquer idade: o versículo 5 diz que deveria ser “ filho de um ano” , expressão que pode significar “ do primeiro ano” , ou seja, “ nascido há um ano ou menos” . Era assim, pelo menos, que entendiam os rabis. As traduções modernas, que contêm a expressão “ macho de um ano” , estão provavelmente forçando ideias ocidentais de cronologia a um texto asiático. Em qualquer caso, porém, é apenas esta descrição de sua idade que nos mostra que o sacrifício deveria ser um “cordeiro” e não uma “ ovelha” adulta.
Para cada família. A Páscoa era uma comemoração doméstica e familiar, o que demonstra sua origem antiga. Aqui não há templo, nem tenda da congregação, nem altar nem sacerdote: a ideia de representação, porém, se não mesmo substituição, é claramente sugerida.
Êx 12.4. Por aí calculareis. Em dias mais recentes, o número mínimo de pessoas que poderia comer um cordeiro era dez adultos; este número, porém, foi alcançado através de uma exegese artificial. No principio, parecia ser questão de apetite, ou do tamanho do cordeiro, ao invés de teologia.
Êx 12. 5. Macho de um ano. O sacrifício deveria ser um macho jovem e sem defeito algum, presumivelmente representando a perfeição da espécie. Se já tivesse realmente um ano de idade, já estaria plenamente desenvolvido.
Êx 12.6. No crepúsculo da tarde. Literalmente, “ entre as duas noites” . Estudiosos judeus não chegam a um acordo quanto ao significado exato da frase. A expressão é usada para descrever a hora do sacrifício vespertino regular (29:39) e a hora em que as lâmpadas da tenda da congregação eram acesas (30:8). O pietismo ortodoxo do judaísmo farisaico entendia a frase como uma referência ao período da tarde entre a hora em que o calor do sol começava a diminuir (digamos 3 ou 4 horas) e o pôr-do-sol. Outros grupos preferiam o período entre o pôr-do-sol e a escuridão, ou outras explicações semelhantes.
7. Tomarão do sangue. Dificilmente se poderia classificar a Páscoa como um sacrifício, no sentido mais recente da palavra. Não era diretamente ligada a pecado, embora fosse “ apotropaica” no sentido de evitar o “ golpe” divino, havendo portanto um ritual cruento a ela associado.
O fato de haver um ritual cruento não é em si mesmo digno de nota: notável mesmo é o não haver qualquer associação de sacerdotes com um tipo de rito que mais tarde seria estritamente limitado à sua participação.
É claro, portanto, que esta cerimônia surgiu antes do estabelecimento do sacerdócio “ profissional” em Israel. Como presumivelmente acontecia no período patriarcal, o chefe da família fazia as vezes de sacerdote.
Todavia, a despeito deste resquício de tradição patriarcal, as ombreiras e vergas sugerem vida sedentária, tal como Israel vivia em Gósen. Embora, estritamente falando, não haja aqui o conceito de “ expiação” , o princípio básico do sacrifício cruento é o mesmo: representa uma vida que foi sacrificada (Lv 17:11).R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 101-103.

A Instituição da Páscoa. A Festa dos Pães Asmos w. 1-20

Moisés e Arão aqui recebem do Senhor aquilo que deveriam posteriormente transmitir ao povo com relação à celebração da páscoa, para a qual é pré-fixada uma ordem, um novo estilo a ser observado quanto ao seu calendário (w. 1,2): Este mesmo mês vos será o princípio dos meses. Até aqui eles haviam começado o seu ano a partir de meados de Setembro, mas daqui por diante eles deveriam começá-lo a partir de meados de Março, ao menos em todos os seus cálculos eclesiásticos. Note que é bom começar o dia, e começar o ano, e especialmente começar a nossa vida, com Deus. Este novo cálculo iniciava o ano com a primavera, que renova a face da terra, e era usada como um símbolo da chegada de Cristo, Cantares 2.11,12. Nós podemos supor que, enquanto Moisés estava trazendo as dez pragas sobre os egípcios, ele estava orientando os israelitas a se prepararem para a sua partida que poderia acontecer a qualquer momento. É provável que ele tivesse acabado com a dispersão deles reunindo-os gradualmente, pois aqui são chamados de ‘A congregação de Israel” (v. 3). Além disto, aqui as ordens são enviadas a uma congregação.
O espanto e a pressa deles, é fácil deduzir, eram grandes. Ainda mais agora que eles devem se dedicar à observância de um rito sagrado, em honra a Deus. Note que não devemos nos esquecer da nossa religião, nem mesmo quando nossas mentes estiverem repletas de preocupações, e nossas mãos estiverem repletas de trabalho. Também não devemos permitir que haja em nós qualquer tipo de indisposição para com os atos de devoção.
Deus determinou que, na noite em que eles sairiam do A Egito, eles deveriam, em cada uma de suas famílias, matar um cordeiro, ou que duas ou três famílias, se fossem pequenas, comessem juntas um cordeiro. O cordeiro deveria ser preparado quatro dias antes, e, naquela tarde, eles deveriam matá-lo (v. 6) como um sacrifício. Não de forma estrita, pois este não era oferecido no altar, mas como uma cerimônia religiosa, reconhecendo a bondade de Deus para com eles, não apenas ao protegê-los das pragas infligidas aos egípcios, mas libertando-os através delas. Veja a origem da religião em família, E perceba a conveniência da reunião de pequenas famílias para a adoração religiosa para que esta possa se tornar mais solene.No cordeiro morto desse modo, eles deveriam comer assado (nós podemos supor, em seus vários alojamentos), com pães asmos e ervas amargosas, porque deveriam comê-lo apressadamente (v. 11), não deixando nada para o dia seguinte. Pois eles dependeriam de Deus para o pão de cada dia, e não deveriam se inquietar pelo amanhã. Aquele que os conduzia os alimentaria.

Antes de comerem a carne do cordeiro, eles deveriam borrifar o sangue sobre as ombreiras das portas, v 7. Através disso, suas casas seriam distinguidas das casas dos egípcios, e assim os seus primogênitos estariam protegidos da espada do anjo destruidor, vv. 12,13. Uma obra terrível seria realizada nesta noite no Egito. Todos os primogênitos, tanto dos homens quanto dos animais deveriam ser mortos, e julgamentos seriam executados contra os deuses do Egito. Moisés não menciona o cumprimento neste capítulo, mesmo assim ele fala sobre isso em Números 33.4. É muito provável que os ídolos que os egípcios adoravam tenham sido destruídos, os de metal derreteram, os de madeira foram consumidos, e os de pedra foram feitos em pedaços, de onde Jetro deduz (cap. 18.11): O Senhor é maior que todos os deuses.
 O mesmo anjo que exterminou os seus primogênitos aniquilou os seus ídolos, que não eram menos queridos para eles. Foi-lhes ordenado que aspergissem o sangue do cordeiro sobre as ombreiras das portas para a proteção de Israel, um gesto que seria aceito como um exemplo de sua crença nas advertências divinas e de sua obediência aos preceitos divinos. Note que: 1. Se em tempos de calamidade geral, Deus protege o seu próprio povo e coloca um sinal sobre as pessoas, elas serão escondidas no céu ou debaixo do céu, e serão protegidas do impacto dos julgamentos ou ao menos de seus aguilhões.

2. O sangue da aspersão é a segurança do justo em tempos de calamidade geral; é isso que os marca para Deus, tranquiliza consciências, e lhes dá ousadia e acesso ao trono da graça. E assim se torna um muro de proteção em volta deles e uma parede divisória entre eles e os filhos desse mundo.Esta ordenança deveria ser observada anualmente em suas futuras gerações como uma festa do Senhor, ao qual a festa dos pães asmos foi acrescentada, e durante a qual, por sete dias, eles deveriam comer apenas pães sem fermento, como um memorial por estarem inevitavelmente limitados a esse tipo de pão por muitos dias após a sua saída do Egito, w. 14-20. Esse compromisso é imposto para sua melhor orientação, e para que eles não pudessem se enganar com respeito à páscoa. E também para despertar a uma diligente observância deste ritual aqueles que, no Egito, tinham se tornado tolos e descuidados nos aspectos da religião. Agora, sem dúvida, havia muito do Evangelho nessa celebração. Ela é frequentemente mencionada no Novo Testamento, e através dela nos é pregado o Evangelho. Esta pregação também se estendia a eles, que não podiam olhar firmemente para o fim dessas coisas. Hebreus 4.2; 2 Coríntios 3.13.

1. O cordeiro pascal era uma tipificação do Salvador. Cristo é a nossa Páscoa, 1 Coríntios 5.7. (1) Deveria ser um cordeiro. E Cristo é o Cordeiro de Deus (Jo 1.29), frequentemente chamado no Apocalipse de “O Cordeiro”, manso e inocente como um cordeiro, calado ante os tosquiadores, diante dos açougueiros. 
(2) Deveria ser um macho de um ano (v. 5), uma primícias; Cristo se ofereceu no meio de seus dias, não na infância com os bebês de Belém. Isso denota a força e a suficiência do Senhor Jesus, em quem está o nosso auxílio. 
(3) Deveria ser um cordeiro sem mácula (v. 5), simbolizando a pureza do Senhor Jesus, um cordeiro imaculado, Hebreus 7.26; 1 Pedro 1.19. O juiz que o condenou (como se o seu julgamento fosse feito apenas como a inspeção que era feita no tocante aos sacrifícios, para verificar se eram sem mácula ou não) o declarou inocente. 
(4) Deveria ser separado com quatro dias de antecedência (w. 3,6), indicando a designação do Senhor Jesus para ser o Salvador, tanto no propósito quanto na promessa. Podemos observar que, como Cristo foi crucificado durante a páscoa, Ele entrou solenemente em Jerusalém com quatro dias de antecedência, no mesmo dia em que o cordeiro pascal era separado.
 (5) O cordeiro deveria ser morto, e assado no fogo (w. 6-9), o que simbolizava os sofrimentos intensos do Senhor Jesus, até a morte, e morte de cruz. A ira de Deus é como fogo, e Cristo se fez maldição por nós. 
(6) Deveria ser morto por toda a congregação no entardecer, entre os dois dias, isto é, entre três e seis horas da tarde. Cristo sofreu no fim do mundo (Hb 9.26) pela mão dos judeus, uma multidão deles (Lc 23.18), e pelo bem de todo o seu Israel espiritual. 
(7) Nenhum osso do cordeiro deve ser quebrado (v. 46), o que é expressamente relatado como uma profecia que foi cumprida em Cristo (Jo 19.33,36), simbolizando a força inquebrantável do Senhor Jesus.HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 260-261.

III - CRISTO, NOSSA PÁSCOA.
1. Jesus, o Pão da Vida (Jo 6.35,48,51).

Um pão pode ter mais de um sabor. Pode ter mais de uma forma. Pode ser feito com diversos ingredientes. Pode ser barato ou caro. Pode ser mais leve ou mais pesado. Mas sua função mais importante é saciar a fome. É para isso que eles são feitos. Por que Cristo é considerado o pão da vida?
Porque Ele mesmo disse isso: “Eu sou o pão da vida; (' aquele que vem a mim não terá fome” (Jo 6.35). Ele promete saciar a necessidade humana no que concerne às questões da vida e à relação com Deus, ao perdão dos pecados e à vida eterna. A fome que temos de Deus é saciada em Cristo Jesus.COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 41-42.

PÃO DA VIDA, JESUS COMO
«Eu SOU o pão da "'da...» (Joio 6:35).

«Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna... » (João 6:54).
«...isto é o meu corpo...isto é o meu sangue... » (Mateus 26:26,28).
«..o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede... » (João 6:35).«Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta, por mim viverá» (João 6:57).
«Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo" (João 5:26),«  os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão" (João 5:25).

Em torno desses versículos gira o ensino de Jesus como o Pão da Vida. Crentes sinceros têm atribuído aos mesmos grande variedade de interpretações, e muitíssimas disputas se têm originado de tais explicações. Parece que uma das dificuldades da interpretação deriva-se do fato de que a mensagem central que essas passagens procuram nos transmitir é muito mal compreendida pela igreja cristã, sendo algumas vezes totalmente desconhecida e, ocasionalmente, até mesmo combatida. Por causa dessas condições, apesar de que certas porções da ideia correta do que aqui é ensinado são retidas por uma ou outra denominação, com algumas variações, contudo, a própria ideia, em sua inteireza e majestade, é percebida apenas em parte, obscuramente. Essa profunda ideia do cristianismo, que «Jesus, como o Pão da Vida», oferece aos homens, está contida nas Escrituras de forma dispersa. As alusões a esse conceito aparecem no evangelho de João; em alguns trechos das epístolas paulinas, sobretudo no oitavo capitulo da epístola aos Romanos e no primeiro capítulo da epístola aos Efésios; em 11 Coríntios 3:18 e em II Pedro 1:4.

Na tentativa de descobrir e lançar luz sobre o assunto, examinaremos os seguintes particulares:
1. A orientação espiritual de João é mística, e não sacramental.
2. O modo de expressão de João.
3. As interpretações centrais do sexto capítulo do evangelho de João: a interpretação simbólica, a sacramental e a mística.
4. A Ceia do Senhor, em seu «símbolo» e na «verdade simbolizada».
5. Indicações existentes no sexto capitulo do evangelho de João sobre a veracidade da interpretação «mística».

Passemos, pois, à exposição de cada uma dessas particularidades:A Orientação Espiritual de João é Mística, e Não Sacramental.

Dentre os quatro evangelhos, o de João é o mais místico e o menos sacramental; assim sendo, apesar do evangelho de João ser o mais usado, provavelmente é o menos compreendido dos quatro. Notemos que no trecho de João 1:29-34, o lugar onde poderíamos esperar a história do batismo de Jesus, por João Batista, não há qualquer menção ou descrição sobre o batismo em água, conforme se lê nos demais três evangelhos. Obviamente, se trata da mesma cena, e é indubitável que devemos compreender ali que Jesus foi batizado por João Batista; porém, não há qualquer alusão à própria cena do batismo. No entanto, encontramos nesse trecho a menção especifica do batismo do Espírito Santo, em que Jesus aparece tanto como o Cordeiro de Deus quanto como o Filho de Deus. Nessa seção do evangelho de João, pois, o batismo é de natureza mística, e não-sacramental.
Ainda mais surpreendente que essa instância é a daquela outra passagem onde poderíamos esperar uma descrição sobre a instituição da Ceia do Senhor ou eucaristia, a saber, João 13:1-20. Pois, apesar de ser evidente que essa passagem se refere à páscoa, sendo paralela aos trechos de Mat. 26:7-30; Mar. 14:17-26 e Luc. 22:14-39, contudo, nem ao menos há alusão à instituição da Ceia do Senhor, ao passo que lemos ali uma longa descrição da cerimônia do lava pês, que os demais evangelhos nem mencionam, e que poderíamos julgar comparativamente sem importância, em relação à Ceia do Senhor. Não obstante, nesse trecho do evangelho de João, nos é ensinada uma verdade mística, o que também era muito característico do autor do quarto evangelho; e por causa dessa verdade mística, essa passagem obviamente se revestia de grande importância para o seu autor sagrado.
Poderíamos asseverar, por conseguinte, que o autor do quarto evangelho nem ao menos registra ou descreve um evento tão importante como foi a instituição da Ceia do Senhor, ao passo que os outros três evangelistas lhe conferem um tão conspícuo lugar? Não, isso não seria verdade, pois o sexto capitulo do quarto evangelho encerra o registro sobre essa instituição da Ceia; no entanto, foi escrito não para descrever um sacramento e, sim, para servir de expressão acerca de uma elevada doutrina mística.
Devemos observar, por igual modo, que nesse sexto capitulo do evangelho de João não há qualquer descrição acerca do modus operandi da cerimônia da Ceia do Senhor, porquanto isso não se revestia de importância, aos olhos do autor sagrado; pelo contrário, nos é exposto, com abundância de pormenores, o sentido espiritual retratado por essa cerimônia; e esse sentido espiritual é uma profunda verdade mística.
O evangelho de João, portanto, aborda tanto o batismo como a Ceia do Senhor de maneira mística, e não sacramental.

Modo de Expressão de João

A fim de ilustrar a natureza da pessoa de Cristo, bem como a sua relação para com o mundo, mais do que os outros evangelistas, o apóstolo João se utiliza de termos simbólicos. Ê João quem chama o Senhor Jesus de «a Luz», «a, Água», «o Pão», «o Pastor» e «a Porta». E embora o evangelho de João não lance mão da expressão especifica, «Este é o meu corpo» (em que Cristo se referiu ao pão da Ceia) contudo, no sexto capitulo do mesmo é óbvio que uma terminologia assim seria perfeitamente apropriada (ver João 6:54,55). Todavia, esse pão (que simboliza o corpo) é declarado como algo que desceu do céu (ver João 6:32,58), o que mostra que, antes de tudo, não está em vista alguma alusão ao corpo físico de Jesus; antes, ele se refere a um tipo celestial de «pão», a um principio espiritual, a uma comunicação e participação mística na vida divina, o que, na realidade, é um conceito transcendental, e não uma ideia sacramental.

Por semelhante modo, quando falamos na «água», devemos ter em mente a infusão da vida espiritual, recebida mediante a fé, e não algum elemento sacramental. Isso fica demonstrado pelo fato de que a grande passagem joanina sobre a «água da vida» (o quarto capitulo do evangelho de João), que nos fornece maiores detalhes sobre a significação tencionada acerca dessa «água», é registrada em um trecho totalmente separado do capítulo que versa sobre o batismo do Senhor Jesus. Ali a «água da vida» figura como a comunicação do Espírito Santo à alma humana (ver João 4:23,24), em que essa água «mana» como uma fonte eterna, uma ação continua e toda possessiva, e não uma ação momentânea, como se verifica no caso de qualquer rito. Além disso, deve-se notar que no trecho de João 7:39 o próprio autor sagrado interpreta o símbolo da água, ao dizer:
«... Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem... » Torna-se evidente, portanto, que vocábulos como «pão», «água», «porta», etc., são expressões que indicam elevadíssimas verdades espirituais, místicas quanto à sua natureza, e não sacramentais. Fica suposto com razão, neste sexto capitulo do evangelho de João, segundo acredito, que o «sangue» de Cristo, que é «...verdadeira bebida... ,. (João 6:55), tem um sentido equivalente ao atribuído à «água», nos capítulos quarto e sétimo do evangelho de João, e que abordamos aqui a transmissão da vida divina, por intermédio do Espírito Santo.O modo de expressão do evangelho de João, portanto, é místico, e não-sacramental.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 43-44.

Este versículo faz um paralelismo exato com João 4:14.26.
 O sentido espiritual completo é finalmente trazido à luz. Temos aqui o primeiro dos grandes ·Eu sou», proferidos por Jesus, neste quarto evangelho: Eu sou o pão do céu (ver o vs. 32). 0 pão de Deus (ver o vs. 33). O pão da vida (ver o vs. 35), o pão vivo(ver o vs. 51). Tudo isso deve ser destacado em seus diversos aspectos, quais sejam: (Ver notas completas sobre o tema, Jesus, pão da vida, João, 6:48).

1. A mensagem de Cristo é proveniente do céu e é transmitida por autoridade celestial, porquanto ele vive em união com o Pai.
2. O caráter distintivo da pessoa de Cristo, que é o Filho de Deus, o único capa/ de dar a vida eterna. Fica subentendido, por extensão, 0 caráter distintivo do cristianismo.
3. Tudo quanto Cristo c cm si mesmo, a sua Filiação especial e suas qualidades especiais como doador da vida. E Cristo quem dá e sustenta a vida eterna, e nenhum desejo insatisfeito pode frustrar permanentemente ao crente.
4. A exclusividade de sua doação, porque ele é o Filho do único, sendo o único que pode fazer tais reivindicações. Por conseguinte, essa vida reside exclusivamente nele.
5. Alguns intérpretes (com Robertson, in loc.) também veem aqui o grande tema da vida «independente» ou ·necessária», com a qual já nos encontramos e que explicamos, no trecho de João 5:26. Isso é uma inferência correta, posto que João 6:57, em desenvolvimento desse tema. aborda esse aspecto. O Pai tem vida em si mesmo, porquanto não depende de outrem para a sua existência. Assim sendo, o Pai possui vida independente. E o mesmo que a vida necessária, por tratar-se da forma da vida que não pode cessar de existir. Essa forma de vida o Pai deu ao filho, quando de sua encarnação; e o Filho de Deus. por sua vez, a dá a todos os homens que dele se aproximam. Aqui. portanto, é declarada a participação, por meio dos que creem cm Cristo, na vida eterna, que é divina, necessária, independente.

O que vem a mim jamais terá fome...o que crê em mim jamais terá sede...·. Com essas palavras é frisada a necessidade de fé, conversão e regeneração, conforme também isso foi vividamente salientado no terceiro, quarto e quinto capítulos deste evangelho. O pão natural (maná) não satisfazia necessidade alguma a menos que fosse apropriado, recolhido e ingerido. É mister que o indivíduo seja impelido pela fome para comer, e pela sede, para beber. Aquele que não sente fome ou sede espiritual, não se interessa por satisfazer essas condições. Isso. naturalmente, serve de símbolo da necessidade e dos anelos da alma. E esses anelos são ao mesmo tempo naturais para a alma -razão pela qual as Escrituras dizem que os homens creem em Cristo, e são inspirados e produzidos por Deus, na alma. através da ação do Espirito Santo -motivo por que as Escrituras ensinam que os homens são dados ao Filho, pelo Pai, ou são atraídos ao filho mediante as operações do Pai, conforme vemos nos vss. 37 e 39 deste mesmo capítulo.

A fome e a sede são símbolos aptos para os anseios espirituais, pois essas são experiências comuns a todos os seres humanos. O homem reconhece, instintivamente, o que significam essas condições. Os aldeões galileus estavam bem familiarizados com tais condições e costumavam passar longas horas de trabalho árduo, a fim de satisfazerem a essas necessidades básicas. O Senhor Jesus, pois, salientou o fato de que é necessário que os homens sintam fome e sede dos valores espirituais, c, mais especialmente ainda, que devem querer diligentemente a vida eterna.
A fé figura aqui, uma vez mais como o agente da conversão. Pois a conversão consiste na fé c no arrependimento; c isso é o começo da regeneração, bem como a fonte originária de tudo que é a ·vida eterna*. Todas essas questões são abundantemente comentadas neste quarto evangelho c o leitor deveria examinar as seguintes referências: Sobre a «fé», em João 3:16 e Heb. 11:1: sobre a «conversão·, em João 3:3; sobre o «arrependimento», em Mat. 3:2 e 21: 29; sobre a «regeneração», em João 3:3; e sobre a «vida eterna», em João 3:15.

« Monteliore, embora tivesse permanecido sempre um judeu convicto, concedeu francamente originalidade a Jesus Cristo. E, juntamente com muitas outras linhas, diz como segue: ‘Coube a Jesus transformar esse quadro da atividade divina em um ideal de atividade humana; c é admirável pensarmos quão maravilhosos e frutíferos resultados se tem seguido às dúzias ou vintenas de versículos, onde esse ideal é destacado e impressionado ». Ou ainda: «Em meio aos mistérios e milagres, parece emergir um personagem diferente de qualquer personagem do Antigo Testamento ou herói rabínico».
Por semelhante modo. Rudolf Otto, cm seu estudo simpático e mesmo entusiasta acerca das religiões da índia, admite francamente que o eixo inteiro, em volta do qual a vida gira. tanto em ação como em pensamento, é inteiramente diferente no cristianismo, em confronto com essas outras fés.CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 359.

O Verdadeiro Pão” (6.35-40).

 Jesus agora lhes declarou abertamente aquilo que ficara oculto no sinal e no simbolismo. Se realmente quisessem o pão que Ele lhes daria, precisariam saber que Ele era aquele pão. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede (35; cf. 4.14; 6.48,58; 7.37- 38). Até agora, no Evangelho de João, a expressão Eu sou já ocorreu duas vezes em declarações diretas de Jesus sobre a sua divindade (4.26; 6.20). Aqui começa o uso de metáforas fortes e expressivas. Elas aparecem dezessete vezes e os exemplos mudam: por exemplo, Eu sou o pão da vida; “Eu sou a luz do mundo” (8.12); “Eu sou a porta” (10.9). Westcott escreve: “Os exemplos com que se conecta [Eu Sou] fornecem um estudo completo da obra do Senhor”.

Os verbos vem e crê no presente retratam uma ação continuada e persistente, e são importantes nesta seção. A implicação é que deixar de vir ou de ter fé também significa a descontinuidade da satisfação da fome e da sede.O povo tinha pedido um sinal (6.30) e agora Jesus lhes diz que eles têm um sinal — a Encarnação — embora não acreditem. Já vos disse que também vós me vistes e, contudo, não credes (36).

Nos versículos 37-40, há dois temas principais.
Primeiro, a vontade de Deus se torna efetiva para o homem por meio do Filho, e tem como resultado a vida eterna. O Filho realiza a vontade do Pai — porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (38; cf. Mt 26.39, 42). Graças ao perfeito desempenho do Filho em realizar a vontade do Pai, o plano de Deus para o homem é: 1. uma completa comunhão com Cristo (37); 2. orientação e graça para aqueles que vêm (37) e assim “continuam tendo fé nEle” (lit., 40); 3. a vida eterna, i.e., a vida no seu nível mais elevado, aqui e agora — a vida santificada (cf. 1 Ts 4.3). Posteriormente, haverá a transformação completa (cf. 2 Co 3.18) com a participação na sua ressurreição. A frase eu o ressuscitarei no último Dia (40) aparece como um tipo de refrão por toda esta seção (39-40,44,54).
O segundo tema é que a vida eterna, tanto no seu significado presente quanto no escatológico, está aberta para o homem. Isto não se deve ao mérito do homem, mas somente à graça de Deus. A interpretação negativa da frase Tudo o que o Pai me dá virá a mim (37), como base para uma doutrina de reprovação, significa o retorno à lógica inflexível. Gossip comenta: “Existem coisas mais verdadeiras do que isso na vida... tudo o que ela diz é que se somos cristãos, então somos dele não por causa de alguma coisa que tenhamos feito... mas unicamente porque Deus se propôs a nos ganhar”Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag.71-72.

Agora Jesus faz uma declaração clara e franca.

Não lhes dissera que lhes daria o pão maravilhoso que desceu do céu, mas lhes afirmara que este pão milagroso que desceu do céu tinha o poder de dar a vida eterna. Ele em pessoa é esse Pão da vida. Não importa, quem quer que vem a ele, já não mais sofrerá fome, assim como aquele que bebe da água viva de sua salvação jamais será incomodado por sede. Vir a Jesus significa crer nele como o Salvador do mundo. Nele e em sua misericórdia todos os desejos e anseios da alma encontram sua plena satisfação. Mas, mesmo que o Filho de Deus e uma tão perfeita satisfação foram trazidos tão próximo dos judeus, eles ainda assim não creram nele.
Viram-no em seu ministério de milagres, e ouviram as palavras da vida que nestas ocasiões provinham de sua boca, mas recusavam-se a crer. Por isso, que soubessem, que tudo o que Pai dá ao Filho virá a ele. Vir a Jesus é crer; fé é um vir espiritual. O coração e a vontade duma pessoa vão a Cristo, são unidas a Cristo. 
Todas aquelas pessoas, realmente, vem a Jesus, as quais o Pai lhe deu como seus. A fé é o resultado da seleção misericordiosa de Deus. Esta é uma vocação e uma seleção de graça, e, por isso o senhor não lançará fora nenhum daqueles que vem pela fé a ele. Os pensamentos de Deus são tão somente pensamentos de paz e de misericórdia. Ele não tem qualquer desejo pela morte de qualquer pecador. Jesus veio ao mundo para cumprir este propósito misericordioso e terno de seu Pai celeste. A vontade do Pai é que Jesus não perca nenhum daqueles que o Pai lhe deu. Todos são igualmente preciosos aos seus olhos, tendo sido adquiridos valiosamente demais, para serem perdidos. Aqueles, por isso, que o Pai deu ao Filho como propriedade, o Filho iria ressuscitar da morte no último dia para lhes dar o pleno gozo das bênçãos e da glória que são sua herança. Jesus, para acentuar a clareza e ênfase, repete o mesmo pensamento. A vontade do Pai, que enviou o Filho ao mundo, é que todo aquele que na fé olha ao Filho, ou seja, que o aceita como o Filho de Deus e o Salvador do mundo, esse, sem falha, terá a vida eterna, se tornará participante das glórias do céu na e pela ressurreição. Em Cristo fomos escolhidos para a vida eterna.KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora Concordia Publishing House.

João 6.35 Isso apenas pode ser verificado quando Jesus agora progride para a última revelação e confirma, por meio de uma automanifestação direta, que esse pão maravilhoso não é ―algo‖, mas uma pessoa, ele, o próprio Jesus. Será que os galileus realmente querem ter o pão sobrenatural? Pois bem, então ouçam: ―Jesus lhes declarou: Eu sou o pão da vida.‖
Como em todas as outras vezes, nessa palavra de Jesus a ênfase recai sobre o poderoso ―Eu‖. Por essa razão é novamente destacado com ênfase no idioma grego. Jesus não visa descrever a riqueza múltipla que sua pessoa abrange e que ele é, além de muitas outras coisas, também o pão da vida. Não, quando pessoas compreenderam o que é esse verdadeiro pão e quanta necessidade elas têm dele, e agora indagam onde podem encontrá-lo, então Jesus somente pode responder: ―Esse pão maravilhoso, procurado e imprescindível – sou Eu.‖ Esse pão não existe desvinculado de Jesus. Ele em pessoa é esse pão. Por isso o pão não está presente numa coisa qualquer que pode estar relacionada com Jesus, sem sê-lo pessoalmente. Nenhuma doutrina sobre Jesus, por mais correta que seja, nenhum sacramento por ele instituído como tal, tampouco a ceia do Senhor, ―é‖ esse pão. A poderosa afirmação ―Eu sou o pão da vida‖ exclui todo o resto. Precisamos ter a Jesus pessoalmente se quisermos ter de fato esse pão da vida.

Merece consideração que as duas automanifestações de Jesus mencionam ―água‖ e ―pão‖. ―Água e pão‖ são os elementos imprescindíveis para a vida, de que precisamos para realmente permanecer vivos. Jesus não concede luxo, um adicional religioso embelezador e aprazível, mas os ―víveres‖ imprescindíveis.
Simultaneamente podemos ver essa auto-revelação de Jesus no contexto de toda a mensagem da Bíblia. Após cair no pecado, o ser humano foi cortado da ―árvore da vida‖ e, consequentemente, da vida eterna, ficando refém da morte (Gn 5.22-24). Agora isso é anulado por Deus, ao enviar do céu o pão da vida e oferecê-lo ao ser humano. A plenitude daquilo que segundo Ap 2.7 e 22.2 estará um dia consumado já foi iniciada com Jesus.
Visto que o ―pão da vida‖ consiste de uma pessoa, por enquanto Jesus ainda evita usar as metáforas correlatas do ―comer‖. Ele se atém às expressões simples e, mesmo assim, cabalmente expressivas: ―Vir a ele‖, ―crer nele‖. Quem ―vem a Jesus‖, solta-se de si mesmo e desvencilha-se de toda a sua vida anterior. 
E quem ―crê em Jesus‖ se confia integralmente a ele. Desse momento em diante sua vida reside tão somente em Jesus. Agora Jesus promete que o pão, ―que dá vida ao mundo‖, é verdadeiramente acolhido e comido dessa maneira e causa seus efeitos. ―Quem vem a mim com certeza jamais terá fome, e o que crê em mim com certeza jamais terá sede.‖ Naquele tempo Jesus assegurou isso aos galileus com certeza absoluta. Mil e novecentos anos de história de sua igreja confirmaram o quanto isso é verdadeiro. Contudo, somente poderá experimentá-lo aquele que realmente vem ao próprio Jesus e se entrega a ele.
João 6. 51 Quando a pergunta onde, afinal, esse pão pode ser encontrado, é suscitada novamente diante da extraordinária importância do mesmo, então Jesus tão somente pode voltar a assegurar: ―Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente.‖ ―Eternamente‖ tem o sentido literal de: ―para dentro do éon‖. Ele não perecerá no deserto como os pais, mas chegará a ―Canaã‖, o novo éon e o novo mundo, porque já traz dentro de si a vida desse novo mundo pela fé em Jesus.
Com essas palavras Jesus repetiu o que já havia afirmado. Agora, porém, acrescenta uma frase que leva seu diálogo com os galileus (e conosco!) a um progresso significativo, a saber, de forma semelhante ao que aconteceu também no diálogo com Nicodemos. Do mesmo modo como na pergunta pelo ―renascimento‖, a pergunta pelo ―pão da vida‖ não pode ser respondida sem uma guinada para a cruz. ―E o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo.‖ Sem dúvida Jesus é em sua pessoa o pão da vida, mas apesar disso não pode ser simplesmente recebido da maneira como agora se encontra perante os galileus, como pão criador da vida. Antes cumpre-lhe ―dar‖ outra coisa, a única pela qual o ―mundo‖ obtém a dádiva redentora. ―Para a vida do mundo‖ é preciso pagar um resgate, ofertar um sacrifício. Porque o mundo é realmente é ―mundo‖, existência separada de Deus, rebelada contra Deus, presa em pecado, trevas e morte. Será que o mundo de fato é capaz de encontrar vida divina e chegar ao novo éon? Acaso vemos o quanto isso é ―impossível‖? Para que essas coisas impossíveis se tornem possíveis, é preciso que aconteça algo cuja magnitude corresponda a toda essa ―impossibilidade‖. Unicamente através desse acontecimento é que se pode unir esse contraste total de ―mundo‖ e ―vida divina‖. É o acontecimento da cruz. 
O Filho dá a ―sua carne‖, sua existência total como ser humano, para sacrifício propiciatório em favor do ―mundo‖.Os galileus se escandalizavam com a ―carne‖ de Jesus, sua condição humana real, por meio da qual ele partilhava a existência deles, sendo como um deles. Como todos nós, eles ansiavam pelo ser ―sobre-humano‖, por um salvador divino que deixasse para trás a fraqueza e humildade da ―carne‖ e brilhasse em ―glória‖. Rejeitam a Jesus porque ele trazia a carne tão nitidamente em si. Como ele, que era ―carne‖, haveria de ser o pão da vida eterna? Não lhe deram crédito nisso. Veem em sua mensagem nada mais que uma palavra presunçosa. Jesus, porém, lhes diz que apenas através dessa ―sua carne‖ ele é capaz de ser o verdadeiro pão. Somente porque ele se tornou ―carne‖, tem condições de andar o caminho sacrificial do sofrimento e da morte. É óbvio que, se agora já se escandalizam com sua carne e por isso não conseguem crer nele, como será quando sua carne estiver dependurada no madeiro maldito, dilacerada, torturada e desfigurada?Werner de Boor. Comentário Esperança Cartas aos Filipenses. Editora Evangélica Esperança.

2. O sangue de Cristo (1 Co 5.7; Rm 5.8,9)

Há uma semelhança clara, no estudo da Páscoa, entre o cordeiro oferecido no Egito e o Senhor Jesus Cristo, nosso Cordeiro Pascal.
Da mesma forma que o cordeiro pascal foi sacrificado, o Senhor Jesus Cristo também o foi. A diferença reside no fato de que o cordeiro de Êxodo não foi voluntário para verter seu próprio sangue. Jesus Cristo se ofereceu para esse sacrifício:Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.

Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tomar a tomá-la. Ninguém má tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai. (Jo 10.14-18).O sacrifício de Cristo nos trouxe vida, da mesma forma que o sacrifício do cordeiro no Egito preservou a existência dos primogênitos israelitas. A diferença é que o sacrifício de Cristo oferece vida não apenas aos filhos mais velhos de cada família, mas a todos que aceitarem pela fé o sacrifício de Cristo, se arrependerem de seus pecados e nascerem de novo.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 42.

SANGUE

Aquele fluido viscoso e vermelho, essencial à vida biológica, que flui pelo organismo inteiro através do sistema circulatório, levando oxigênio e nutrientes aos tecidos, e, ao mesmo tempo, removendo o dióxido de carbono e outros materiais decompostos. Nesse sentido literal, o sangue é frequentemente mencionado nas Escrituras (ver Gên. 37:31; Exo. 23:18 ss; II Sam. 20:12; I Reis 18:28; Luc. 13:1) onde a alusão é ao sangue tanto de seres humanos quanto de animais irracionais.

1. Ideias das Culturas Antigas. Nos estágios iniciais de quase todas as culturas, o sangue é encarado com certo ar de respeito, o que tem provocado as noções mais estranhas. Alguns atribuem ao sangue um poder misterioso, pelo que os guerreiros bebiam o sangue de suas vítimas, a fim de adquirirem as energias vitais dos inimigos mortos. Alguns pensavam que era perigoso tocar no sangue. Outros supunham que o sangue derramado nas batalhas, o sangue da menstruação das mulheres, ou o sangue perdido por ocasião do parto, poderia transmitir um contágio qualquer, pelo que deveria ser lavado.
Os antigos semitas (ver o artigo), identificavam o sangue com a princípio ativo da própria vida biológica. Por essa razão, proibiam a ingestão de sangue, derramavam sangue sobre altares consagrados, cobriam o sangue com terra, nos lugares sagrados, ou aplicavam o sangue a pedras que representavam deuses. Segundo eles imaginavam, desse modo os perigos e maravilhas do sangue podiam ser controlados e utilizados. O sangue podia ser visto como perigoso ou benéfico. Por isso mesmo era aspergido sobre os batentes das portas, para que a casa fosse protegida. Ou então os idosos tomavam sangue, a fim de recuperar a vitalidade da juventude. E o sangue também era empregado nas cerimônias de purificação e expiação. Alguns povos antigos chegavam a usar sangue, ao invés de água, em ritos batismais,
As pessoas que se consideravam íntimas bebiam um pouco do sangue uma da outra, como ato de união e dedicação mútua. O ato algumas vezes servia de selo confirmatório de algum pacto ou acordo, feito entre duas pessoas, ou mesmo entre duas nações. Os estrangeiros eram admitidos como cidadãos pela troca mútua de sangue, ou pela ingestão mútua de sangue.
2. O Sangue Usado como Alimento. Muitas culturas antigas e modernas têm usado o sangue como alimento. Uma das mais vigorosas tribos africanas, os zulus, bebem o sangue de seu gado. Algumas vezes, a prática é ou era vinculada às ideias expostas no primeiro ponto. Além de servir de alimento, esperava-se que o sangue provesse ao seu consumidor alguma espécie de virtude. Dentro da cultura dos hebreus, era estritamente proibida a prática da ingestão de sangue (Gên. 9:4; Lev. 3:8; 7:26), especificamente diante do fato de que a vida da carne está no sangue. Em outras palavras, o sangue revestir-se-ia de virtudes misteriosas, tornando-se sagrado. Portanto, não servia como artigo próprio para a alimentação.
3. O Sangue e os Hebreus. No Antigo Testamento, a palavra hebraica dam, «sangue», aparece por 362 vezes, das quais 203 como descrições de mortes violentas, e 103 vezes, em alusão a sacrifícios cruentos. Em três passagens do Antigo Testamento, o sangue é diretamente vinculado ao princípio da vida (Gên. 9:4; Deu. 12:23 e Lev. 17:11). Também já verificamos que os povos semitas se apegavam a essa ideia. 0 texto de Levítico mostra que, por causa desse conceito, surgiu a ideia da expiação pelo sangue. Mas, visto que o uso do sangue requer a morte de alguma vítima, o sangue também era associado à morte, na antiga cultura dos hebreus. De modo geral, pois, temos nesses sacrifícios alguma vida oferecida a Deus, envolvendo o supremo sacrifício da vítima, ou seja, a sua morte. Em tudo isso fica subentendida a seriedade do pecado, porquanto o pecado requer um remédio radical. A expiação é obtida através da morte da vítima, mas igualmente, por sua vida, oferecida no sangue.
4.0 Sangue no Novo Testamento. o vocábulo grego aima, «sangue», além de referir-se à morte sacrifical de Cristo, indica as ideias de reinado (João 1:13); da natureza humana (Mat. 16:17; I Cor. 15:50); de morte violenta (vinte e cinco trechos diferentes); e de animais sacrificados (doze referências, como se vê em Heb. 9:7,12 etc.) onde se enfatiza a perda da vida das vítimas, um conceito destacado no Antigo Testamento. Quanto ao sangue de Cristo e o valor expiatório do mesmo, há referências como Colossenses 1:20. Ver o artigo separado sobre esse assunto, que provê certa variedade de referências e ideias. Os intérpretes têm debatido se é a morte ou a vida perdida do animal que obtém a expiação. Penso que se trata de ambas as coisas, pois, afinal de contas, é a vida de Cristo que nos salva (Rom. 5:7) dando a entender a sua ressurreição e ascensão, em virtude do que ele tornou-se o Salvador medianeiro permanente. Aquele mesmo contexto, no nono versículo, afirma que o seu sangue nos justifica, o que nos fez pensar tanto em sua vida como em sua morte e ressurreição. A vida que Jesus viveu também faz parte de nossa inquirição espiritual, com vistas a nossa salvação final; porque, quando procuramos imitar a vida de Cristo, passamos a compartilhar de sua natureza metafísica, mediante operações do Espirito Santo (II Cor. 3:18). Como é que alguns teólogos separam essas ideias inseparáveis, como se fossem categorias distintas e valores isolados? Dentro do programa a e salvação a vida e a morte de Jesus são fatores inseparáveis, embora em sentidos diferentes.

5. Sentidos Metafóricos, a. Temos visto como os sacrifícios cruentos simbolizavam tanto a vida quanto a morte e como é óbvio, os sacrifícios do Antigo Testamento simbolizavam a morte expiatória de Cristo. A Epístola aos Hebreus tem isso como um de seus temas principais. Ver Heb. 7:27, quanto a uma declaração geral. b. Estar no próprio sangue indica que um estado imundo e destituído, uma condição de perdição (Eze. 16:6). c. Beber sangue indica ter a perversa satisfação de haver assassinado alguém (Eze, 39:8; Isa. 49:26; Núm. 23:24). d. Ter de beber sangue, significa ser morto como retribuição por ter-se deleitado em derramar sangue (Apo. 17:7; Eze. 16:38). e. A vingança divina é retratada pelo ato de mergulhar os próprios pés no sangue (Sal. 58:10; 68:23). f. Um homem de sangue é uma pessoa cruel (II Sam. 16:7). g. O plural, sangues, aponta para homicídios repetidos (Gên. 4:10; II Sam. 3:28). h. Tirar o sangue da boca e das abominações significa libertar alguém do poder dessas coisas e de sua inclinação para o homicídio. (AM ID S Z.)
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 5239-5240.

1 Cor 5.7 Na igreja não existia ―um pouco de fermento‖ apenas no maléfico caso de impureza. Nos capítulos subsequentes Paulo ainda evidenciará suficiente “fermento da maldade e da malícia”. Por isso ele convoca agora para uma purificação abrangente e profunda da igreja: “Varrei fora o velho fermento, para que sejais nova massa, de conformidade com os asmos que sois” [tradução do autor]. Espera-se da igreja um agir consciencioso e persistente. Paulo dificilmente pensou que a igreja pudesse, num esforço único, acabar para sempre com o “fermento” e, sem lutar, ser permanentemente uma ―nova massa‖. Essa hipótese é contrariada pela palavra aos gálatas em Gl 5.16s. A carne com sua ―concupiscência‖ permanece.
 O ―andar no Espírito‖ constantemente precisa impedir que essa concupiscência atinja o alvo. O ―velho fermento‖ aparecerá repetidamente e precisa ser repetidamente ―varrido fora‖. No entanto, Paulo agora não diz ―para que vos torneis nova massa‖. Isso seria ―idealismo‖, que tão somente redundará em fracasso. Não, ele escreve: “para que sejais nova massa, de conformidade com os asmos que sois.” Paulo enfatiza o ―ser‖. O ―ser‖ presenteado é o fundamento do ―fazer‖ bem-sucedido; mas não torna obsoleto esse ―fazer‖, e sim necessário. De forma palpável verificamos aqui a natureza da ética cristã, da concretização da vida cristã. 
O princípio, a regra fundamental é: ―Seja o que você é‖ ou ―Torne-se integralmente o que você é.‖ É óbvio que isso é sumamente ―ilógico‖. O pensamento lógico sempre dirá: se eu sou algo, então não preciso vir a sê-lo; se devo tornar-me algo, então eu ainda não o sou. Consequentemente, também a atitude cristã de vida oscila com bastante frequência entre atividade sem fé, que tenta conquistar tudo pessoalmente, e passividade ―crente‖, que ―tem‖ tudo pela fé e por isso pensa que não precisa mais agir. Paulo, porém, sintetiza os dois aspectos de forma ilógica e vivamente verdadeira.
No entanto, como é que os coríntios já possuem o ―novo ser‖? Como é que já são “asmos”, “nova massa”? Não podem sê-lo por si mesmos. Sua realidade de fato, afinal, é justamente tal que precisam ser exortados com muita insistência, para varrer fora o velho fermento. Somente o são ―em Cristo‖, a partir do sacrifício de Jesus. “Pois foi imolado também o nosso passá, Cristo” [tradução do autor]. Na noite antes da saída dos filhos de Israel do Egito a ira do santo Deus percorreu o país com o juízo e vitimou seus primogênitos. As casas dos israelitas não estavam ―automaticamente‖ isentas do juízo. Não há acepção da pessoa diante da justiça de Deus. A morte é a punição pelo pecado, também para Israel. Agora, porém, foi possível entre os israelitas que um cordeiro sangrasse e morresse vicariamente por eles, e o sangue do cordeiro pascal na porta cobria a casa e seus habitantes diante do juízo. A igreja de Jesus não perde para Israel. Não, “foi imolado também o seu passá, Cristo”. Sim, Cristo é de fato o verdadeiro Cordeiro de Deus. Todos os cordeiros pascais imolados no passado no Egito e até hoje em Israel são apenas uma ―sombra‖, antecipada, do verdadeiro Cordeiro (Hb 10.1; Cl 2.17), são indício provisório do sacrifício realmente válido, do sangue realmente purificador, do feito de fato libertador na cruz. Em Cristo todos os que nele creem são ―asmos‖, ―nova massa‖, ―pães doces‖, apesar de todo velho fermento que ainda esteja apegado a eles.
Werner de Boor. Comentário Esperança 1 Cartas aos Coríntios. Editora Evangélica Esperança.(estudalicao.blogspot.com).
fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com

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