1. Alguns eruditos pensam que esse «selo» representa o batismo em água. Apesar de ser verdade que o batismo é, por assim dizer, um selo, porquanto nos identifica com a morte e a ressurreição de Cristo, transmitindo-nos os benefícios de ambas—pelo que seria símbolo de tal transmissão, é impossível ver como o batismo poderia estar em pauta aqui. Notemos que essa selagem separa os «mártires em potencial», e não todos os crentes. Portanto, não pode estar em pauta o batismo na água, porquanto o batismo não visa somente esse grupo especial.
2. Vários intérpretes veem nesse «selo» a certeza especifica de que os mártires serão imortais, não podendo ser prejudicados espiritualmente pelos terrores do anticristo, isentos de qualquer dano provindo da ira de Deus (ver Ap 6:17). Isso significaria que não serão necessariamente preservados do martírio. Por algum tempo serão testemunhas, desafiando ao anticristo. Se forem mortos, isso não lhes trará nenhuma consequência adversa à alma. Mas outros estudiosos pensam estar em foco a preservação física dos mártires, como algo, pelo menos, incluído. Esses resistiriam aos sucessivos esforços dos malignos poderes do anticristo, até que a segunda vinda de Cristo houver de libera-los de sua tarefa.
3. A bênção preservadora virá do oriente. Será dada por meio do Sol da Justiça, que traz cura em suas asas, segundo se lê em Ml 4:2.
4. Outros intérpretes veem nesse símbolo o sinal da «cruz», aposta na testa dos mártires. O sinal real e sagrado, no livro de Ezequiel, é a cruz ou letra «T», símbolo da vida. No Testamento de Salomão, um espirito maligno declara que enfrenta a destruição vinda da parte do Messias, e que pode ser derrotado por qualquer um que traga o número do Messias inscrito em sua testa.
5. As palavras «do nascente do sol», isto é, o oriente, na opinião de alguns, indicaria a Palestina, que fica a oriente da ilha de Patmos. Assim poderia estar em foco o próprio «Cristo», que como homem nasceu na Palestina, sendo ele o anjo que instruiu os outros quatro anjos a agirem antes da hora. Mas essa interpretação parece um tanto fantasiosa.
6. Em meio às trevas e dos juízos iminentes, a Luz brilha no oriente. Isso simbolizaria a esperança eterna. O trecho de II Tm 2:19menciona duas inscrições possíveis do selo, ou, pelo menos, o que elas significam: «O Senhor conhece os que lhe pertencem»; e: «Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor». Esse é o firme fundamento de Deus. Os antigos atribuíam poderes mágicos às marcas secretas, selos e inscrições. Mas não há qualquer arte mágica no selo de Deus, mas tão-somente esse selo pode realizar a tarefa que lhe é determinada, por causa do poder divino que esta por detrás do mesmo.
7. Alguns intérpretes forçam o presente texto, comparando-o com outros escritos que mencionam selos, conferindo ao versículo a ideia da predestinação dos eleitos. Trata-se de uma doutrina bíblica, embora ela nunca se verifique às expensas do livre-arbítrio humano. Ambas essas ideias fazem parte das Escrituras. O presente texto não parece estar relacionado ao tema da eleição.
7:3 dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as Arvores, até que selemos na sua fronte os servos do nosso Deus.
Este versículo reitera, essencialmente, o que dizem o primeiro e o segundo versículos deste capítulo.
«...Não danifiqueis...» (Ver as notas expositivas sobre essas áreas distintivas no primeiro versículo deste capítulo). É provável que o autor sagrado tencionasse fazer uma descrição completa dos elementos terrestres, as áreas de terras, as áreas marítimas e as áreas de vegetação, e não de áreas geográficas específicas como a Europa, a Ásia e a África, conforme alguns têm proposto. Os juízos que sobrevirão (quando do soar das trombetas) afetarão a terra inteira, bem como todas as áreas ocupadas pelo homem e pelos demais seres da terra. Os «quatro ventos» trarão os desastres necessários.
«...até selarmos...» Essa questão é amplamente discutida nas notas expositivas sobre o versículo anterior.
«...suas frontes...» Isso também é discutido no segundo versículo. O «nome de Deus», a «cruz» ou outro sinal qualquer, como o «número do Messias», etc., será escrito na testa dos referidos santos e em sua «mão direita», se este versículo é paralelo aos trechos de Ap 13:16 e 14:9.
«...servos...» Tradução mais exata seria «escravos». Não há motivo para esse termo ser aqui suavizado. Os discípulos de Deus são escravos, por estarem totalmente sujeitos à sua vontade, não tendo vida própria, exceto aquilo que os ajuda a cumprirem o alvo de sua existência.
Nos tempos antigos, os escravos eram «marcados a fogo», isto é, recebiam o «selo» de seus respectivos senhores. Os escravos que eram guardiães dos templos pagãos, ou mesmo os não-escravos que se devotavam especialmente a algum deus ou culto, com frequência eram marcados com o nome dessa divindade, ou com algum símbolo místico de seu culto. Ptolomeu IV Filopater ordenou que os judeus alexandrinos fossem marcados com uma folha de hera, o sinal de Dionísio, conforme se vê em III Macabeus 2:29. Filo, em de Monarch,repreende os judeus que se permitiram marcar dessa maneira, sem importar quanto lhes custou resistir a tal marca. É a práticas como essas que o vidente João alude; e os leitores originais do livro teriam compreendido perfeitamente o que está envolvido. Existirão algumas pessoas, como os mártires em potencial e as «testemunhas» do período da Grande Tribulação que obterão dedicação absoluta à causa de Cristo, nada havendo que possa separá-los do amor de Deus, que cumprirá neles todos os propósitos divinos relativos àquela época em particular.
Significados desse selo. Isso pode ser melhor percebido através dos pontos seguintes:
1. Proteção, do dano físico ou do dano espiritual, incluindo a ira de Deus (ver Ap 6:17).
2. Segurança, em meio ao período da Grande Tribulação, mas também na vida eterna.
3. Proteção contra os poderes demoníacos, que ajudarão ao anticristo em suas tentativas de sujeitar todos os homens a si mesmo, apagando da terra a memória do Deus vivo. O que tiver de suceder, durante o julgamento das trombetas, deixará isso claro. Ver também o caráter satânico do poder do anticristo, no décimo terceiro capítulo deste livro.
4. A passagem de Ap 13:15 pode indicar que essa proteção será espiritual, e não física; e alguns intérpretes defendem exatamente esse ponto de vista. Todos esses «mártires em potencial» serão, de fato, martirizados. Alguns conseguirão sobreviver por mais tempo do que outros; mas todos sucumbirão (ou, pelo menos, praticamente todos). Não obstante, estarão todos seguros em Cristo. Isso é o que o «selo» lhes garante.
5. Essa selagem preservará os mártires da apostasia espiritual, o que sempre é uma grave ameaça, em tempos de profunda tensão e pressão religiosa.
Outras ideias sobre o terceiro versículo.
1. Os homens podem olvidar-se de Deus, ou abandonar a confiança nele, em meio às tempestades de perseguição. Uma das lições espirituais deste versículo é que isso não é necessário, pois quando a fé é profunda, isso nos assegura a fidelidade ao Senhor, mesmo em meio às piores tempestades. A essência da fé verdadeira é que ela é tão firme que pode manter sua firmeza quando todas as nossas circunstâncias externas contribuem para destruir essa certeza. A fé consiste da outorga da própria alma aos cuidados de Cristo, em que todo valor e preciosidade estão concentrados no outro mundo. A fé é um dos aspectos do fruto do Espirito, Gl 5:22, ou seja, um produto do desenvolvimento espiritual. O indivíduo cujo desenvolvimento espiritual é superficial, sucumbirá em tempos difíceis, porque a sua fé também será, necessariamente, superficial.
2. Não será fácil alguém ousar crer, quando o anticristo passar a promover a pior de todas as perseguições religiosas da história, algo que não terá sido igualado nem mesmo nos tempos de Nero e de Domiciano. Nos e nossos filhos viveremos naqueles dias, o que é pensamento extremamente solene!
3. O selo aposto na testa dos eleitos de Deus pode ser comparado aos trechos de Êx 28:36-38 e Ez 9:4.
4. Nem um único cristão pereceu na destruição de Jerusalém, no ano 70 D.C. Por conseguinte, nisso temos uma lição no sentido que Deus pode preservar aos homens em meio às mais conturbadas situações.
5. No A.T., os «servos» de Deus são seus escravos. Os justos são, automaticamente, «escravos de Deus», porquanto toda vida e existência tem origem e alvo na pessoa de Deus. O simbolismo inteiro do décimo quarto capitulo deste livro é extraído do A.T., tal como se dá com grande parte do Apocalipse. E isso é mesclado, aqui e ali, com pontos extraídos da literatura judaica helenista.
6. A «selagem» é garantida pelo poder espiritual, pelo poder do Espírito de Deus. Ele nos provê proteção e salva do poder do hades e da morte. Entendemos que Deus habita conosco mediante o seu Espírito Santo. Portanto, todas as suas promessas, que foram feitas por estarmos associados como filhos de Deus com o Filho, deverão cumprir-se devidamente.
7:4 E ouvi o número dos que foram assinalados com o selo, cento e quarenta o quatro mil de todas as tribos dos filhos do Israel:
Chegamos agora à dificílima questão da identificação dos cento e quarenta e quatro mil. Há três posições extremadas, que mencionaremos em primeiro lugar, que são as de menor probabilidade de estarem com a razão:
1. A mais ridícula de todas as interpretações, que tem surgido em várias eras da história eclesiástica, é aquela que faz alguma «seita», «grupo» ou «denominação» de Cristãos ser aquela companhia. Dessa forma os homens se têm glorificado estupidamente a si mesmos.
2. É também extremada a posição daqueles que pensam que os cento e quarenta e quatro mil representam exclusivamente a nação de Israel. Isso ignora totalmente a base histórica deste livro, pois, sem dúvida alguma, o vidente João visualizava os «mártires em potencial» como membros da igreja cristã, como o «Israel espiritual».
3. Por igual modo, é extremada a posição dos que pensam estar aqui em pauta somente a igreja, o Israel espiritual. Há muitas predições bíblicas que indicam a futura restauração de Israel, como nação, em que ela se converterá totalmente a Cristo (ver Rm11:26). Os místicos contemporâneos predizem a conversão da nação de Israel nos fins do nosso século XXI, quando o sinal da cruz aparecer no firmamento (que seria o sinal do Filho do homem), o que dará início à intervenção divina que livrará a nação israelita de adversários esmagadoramente superiores em número, que a estarão ameaçando de total extinção. É razoável supormos que após esse acontecimento, Israel se torne testemunha da verdade cristã, subsequente à Terceira Guerra Mundial mas antes da batalha do Armagedom, a qual fará parte ainda de uma outra guerra (subsequente àquela que levará Israel à conversão). Supõe-se que primeiramente haverá a Terceira Guerra Mundial e depois, Armagedom (4a Guerra mundial), na primeira quarta parte do século XXI. Então se seguirá o milênio. Em algum ponto desses acontecimentos uma boa parte da nação de Israel será selada e virá a pertencer ao número dos cento e quarenta e quatro mil, sendo eles testemunhas de Cristo acerca daquele período de agonia.
4. Conjecturamos, pois, que o número «144.000» é simbólico, e não literal, envolvendo alguns elementos da igreja gentílica e outros da convertida nação de Israel, que serão instrumentos especiais da graça de Deus durante o período de Grande Tribulação, como testemunhas, embora não venham a ser necessariamente preservados do martírio, conforme parece indicar o trecho de Ap 13:15, e onde se tem a impressão que nenhum deles escapará ao martírio.
5. O nono versículo deste capítulo pode aludir a um grupo de mártires à parte dos cento e quarenta e quatro mil. Ou então poderia estar ali em foco o mesmo grupo de pessoas, embora sob uma descrição diferente. Todavia, o fato que se trata de uma multidão «incontável», mostra que estão em pauta mais do que os cento e quarenta e quatro mil, embora certamente estejam inclusos naquele número. Os mártires serão mais do que o número específico de cento e quarenta e quatro mil, sendo que esse número determinado tem algum propósito especial divino para a época da Grande Tribulação. Ou então os cento e quarenta e quatro mil são um número que «simboliza» a companhia inteira dos mártires. (Ver o ponto «oitavo», mais abaixo).
6. Rejeitamos aquela interpretação que faz dos cento e quarenta e quatro mil algum «grupo seleto» de crentes, extraídos dentre todas as eras da história da igreja. Pois pertencem aos últimos dias tão-somente.
7. Historicamente falando, o vidente João deve ter tido em mente a igreja cristã. Isso poderia ser entendido de dois modos diversos: 1. Seriam judeus cristãos, que haveriam de sofrer martírio durante o tempo dos imperadores romanos. 2. Ou seria o «Israel espiritual», sem qualquer tentativa de dividir a igreja em judeus e gentios. A última dessas posições é a mais provável e correta. Portanto, supomos que se o vidente João fosse interrogado acerca do que ele quis dizer, responderia tratar-se do «Israel espiritual». Todavia, devemos encarar o texto também de acordo com seu aspecto profético. Desse modo, devemos incluir a nação literal de Israel, em conjunção com a igreja cristã, como testemunha em favor de Cristo, naqueles horrendos tempos do fim que logo nos alcançarão.
8. O vidente João pode ter tido em mente o número de mártires que será preenchido antes do segundo advento de Cristo. (Ver Ap6:11 sobre esse conceito). Os cento e quarenta e quatro mil, pois, representariam um número místico, dotado de algum sentido simbólico, ao referir-se sobre a companhia dos mártires do fim, embora, em seu número real, em muito excedessem aos cento e quarenta quatro mil. Parece que tal cifra indica a multiplicação dos «doze» por «doze», e então por «mil», dando a ideia de «número completo». Acerca do número «doze» Lange, em sua introdução, na página 15, declara: «Doze (3 X 4), número do mundo espiritual; portanto, número do ‘alicerce’, da ‘medição’ e da ‘consumação’ do reino de Deus. Número da plenitude das manifestações carismáticas, bem como número da restauração terminada. Número real e celestial de algo terminado». Esse raciocínio se adapta bem ao conceito do número «necessário» de mártires, conforme se vê em Ap 6:11.
Há ainda outros pontos de vista sobre o simbolismo desse número, a saber:
1. De acordo com alguns, esse número se derivaria do conceito de «setenta», que simbolizaria a totalidade de Israel (ver Gn 46:27); ou se derivaria da igreja, representada em seus líderes (ver o décimo capítulo do evangelho de Lucas; e comparar com as setenta nações do décimo capítulo do livro de Gênesis). A «forma mais completa» poderia ser «setenta e dois», mas a forma mais completa desse simbolismo seria representada por 72 X 1000 X 2 = 144.000.
2. O total de «doze mil», proveniente de cada tribo, simbolizaria igual participação nas graças e na proteção divinas por parte de cada tribo.
3. O doze resulta da multiplicação de três por quatro, ou seja, a ideia divina multiplicada pela ideia da extensão mundial (porquanto quatro é o número simbólico da terra, segundo se vê nas notas expositivas acerca do primeiro versículo deste capítulo). Doze multiplicado por doze, portanto, implicaria em fixidez e número completo. O número mil subentende um mundo perfeitamente permeado pelo ser divino, conforme se verá no «milênio» (ver o vigésimo capítulo deste livro). Pois mil também representa este mundo («dez», ver Ap 13:1), já que é o número «dez» elevado à sua «terceira» potência (pela força divina).
4. Alguns estudiosos abandonam toda a ideia de um simbolismo particular, e aludem aos cento e quarenta e quatro mil apenas como um «grande número representativo»; e o nono versículo deste capítulo talvez represente exatamente isso.
5. O número «doze» representaria testemunho e autoridade: doze patriarcas, doze apóstolos. Portanto, a multiplicação de doze por doze representaria o testemunho especial daqueles futuros e privilegiados mártires.
6. Há também os intérpretes que supõem que o número «doze» representa a igreja inteira, por meio dos seus principais representantes, os apóstolos.
Esses cento e quarenta e quatro mil serão as mesmas pessoas que aquelas que figuram no décimo quarto capítulo do Apocalipse? Cremos que sim, por motivos ali expostos (ver sobre Ap 14:1), embora não possamos afirmá-lo de maneira dogmática.
Outras ideias sobre o quarto versículo:
Quanto ao «Israel espiritual», ver Tg 1:1; I Pe 1:1; Rm 9:6 e Gl 6:16.
1. O vidente João já tinha mostrado que ele considerava a igreja como o «Israel espiritual». (Ver Ap 2:9; 3:9,12 e 21:9 e ss.).
2. O Senhor conhece aqueles que lhe pertencem. Todos eles estão numerados, e serão selados. A esses serão dadas missões especiais, bem como o poder espiritual para cumprirem as mesmas.
7:5 da tribo de Judá havia doze mil assinalados; da tribo de Rúben, doze mil; da tribo de Gado, doze mil;
Comentários gerais sobre a natureza e as peculiaridades dessa lista das tribos da nação de Israel:
É possível que a ordem de menção das tribos não se revista de qualquer significação especial, com a possível única exceção do lato que a tribo de Judá é citada em primeiro lugar, provavelmente devido ao fato que dessa tribo é que proveio o Senhor Jesus, quanto à carne. (Ver Ap 5:5 e Hb 7:14). O A.T. encerra vinte listas diferentes das tribos, e nenhuma ordem específica é ali seguida. (Quanto às várias listas de tribos, no A.T., ver Gn 35:22 e ss.;46:8 e ss., 49; Éx 1:1 e ss.; Nm 1:2; 13:4 e ss.; 26:34; Dt 27:11 e ss.; 33:6 e ss.; Js 13 - 22; Jz 5; I Cr 2 - 8; 12:24 e ss.; 27:16 e ss. e Ez 48). Charles (in loc.) supõe que a desordem da lista que aqui temos se deveu a uma «deslocação» de versículos. Ele propôs que os versículos sétimo e oitavo deste capítulo encabeçassem a lista, e que então deveriam ser postos os versículos cinco e seis. Se assim realmente fosse, então viriam primeiramente os filhos da primeira esposa de Jacó, Lia — Judá, Rúben, Simeão, Levi, Issacar e Zebulom; e então viriam os filhos de Raquel, a segunda esposa—José e Benjamim. Em seguida viriam os filhos da criada de Lia—Gade e Asser. E, finalmente, ao invés dos filhos da criada de Raquel—Naftali e Dã, teríamos aqui, por razões conhecidas somente pelo autor sagrado, Naftali e Manassés. Nesse caso, a ordem de apresentação é a seguinte: a. filhos de Lia; b. filhos de Raquel; c. filhos da criada de Lia; d. filhos da criada de Raquel. Isso, naturalmente, restauraria a ordem de apresentação das tribos, bem como o propósito aparente dessa lista. Todavia, tal remanejamento do trecho não encontra eco nem mesmo nos manuscritos mais antigos que se têm descoberto, não passando de uma conjectura, pois supõe algum erro primitivo no arranjo da lista. Certos estudiosos veem alguma finalidade nesse arranjo sem sentido, a saber, que não existe favor especial e nem ordem na graça que Deus conferirá aos mártires e testemunhas. A graça divina seria conferida a todos, indistintamente, sem respeitar qualquer condição ou ordem.
2. A tribo de Dã foi excluída dessa lista. Irineu, escrevendo perto do fim do segundo século de nossa era, informa-nos sobre uma antiga tradição que supunha que o anticristo provirá dessa tribo (ver Contra Heresias, V.30.2). O Testamento de Daniel 5.6 (uma obra judaica pseudepígrafe) parece ensinar a mesma coisa. E já que esta última obra fora escrita antes do Apocalipse, é possível que o vidente João tivesse consciência dessa tradição. Além disso, Dã esteve associado com o maior de todos os pecados, o da idolatria, um dos sinais característicos do anticristo (ver Jz 18:30; Gênesis Rabbah 43:2; Targum de Jeremias 1, sobre Êx 17:8). E essa poderia seruma outra das razões por que a tribo de Dã não é aqui mencionada, como progenitora de um grupo selecionado de mártires.
3. Efraim é excluído da lista e substituído por José. Supomos que o motivo disso é que a lista visa incluir os filhos de Raquel, talvez como esposa favorita de Jacó. Além disso, em uma lista assim, o nome de José é mais ilustre que o de Efraim. Outros estudiosos afirmam que Efraim deixara de existir como tribo separada, antes da produção do livro de Apocalipse.
4. A eliminação do nome de Dã é compreensível, segundo o que é dito sob o segundo ponto acima; mas é difícil perceber-se por queManassés foi o escolhido para substituí-lo. Manassés foi o filho mais velho de José, nascido no Egito, cuja mãe foi Asenate, filha dePotífera. Talvez por ter sido o primogênito de José, seu nome, acima de qualquer outro, parece ter sido o mais apropriado para substituir a Dã. Alguns eruditos supõem que originalmente Dã se achava no texto sagrado, mas que, por inadvertência, foi substituído pelo nome similar «Man» (forma abreviada de Manassés); mas isso é altamente improvável, não tendo apoio nos manuscritos existentes do livro de Apocalipse.
5. Seja como for, o número «doze» é retido aqui, e isso é um número representativo, indicando número «completo» e «representação» de um grupo, através de seus progenitores ou líderes. (Ver as notas expositivas, no quarto versículo deste capítulo, sobre a identificação dos «cento e quarenta e quatro mil»).
6. Nessa substituição de uma tribo por outra, alguns eruditos veem a ilustração do fato espiritual que, devido à apostasia e o pecado, alguém antes favorecido pode vir a ser rejeitado e substituído. Assim é que o «Israel espiritual» substituiu ao Israel literal na dispensação da igreja. Portanto, aquele que pensa estar de pé cuide para que não caia. E que ninguém diga: «Tenho a Abraão por pai». Deus é capaz de suscitar filhos a Abraão destas pedra. Não é judeu quem o é externamente, na carne, mas aquele que o é internamente, no espírito (ver Rm 2:28,29).
7. Notemos que cada tribo é aqui representada por doze mil testemunhas e mártires escolhidos. Não há favoritismo. A graça de Deus faz provisão igual para todos.
Notas sobre as tribos individuais:
Judá: Essa tribo é mencionada em primeiro lugar porque Cristo, o Messias, era dessa tribo. Judá foi o quarto filho de Jacó, por Lia (ver Gn 29:35, bem como o primeiro ponto, acima). Seu nome significa «louvor de Deus»; e é através do seu Filho maior que esse louvor se torna possível entre todas as nações. (Ver Gn 29:35). O louvor é apropriado para todos os verdadeiros discípulos de Cristo, especialmente para o grupo selecionado de mártires, que são representados por esse nome.
Rúben: Foi o primogênito de Jacó, por Lia. Mas, por causa de seu pecado, perdeu direito à primogenitura. Seu nome significa: «Eis o filho!» (ver Gn 29:32). Nisso se pode perceber certa lição espiritual, porque é ao Filho que nos convém contemplar. A instabilidade deRúbem encontrou cura no Filho maior de Israel, Jesus Cristo. Deus não repele aos instáveis, mas antes, oferece-lhes o remédio da transformação segundo a imagem de Cristo (ver Rm 8:29), mediante o poder espiritual (ver II Co 3:18 e Gl 5:22,23).
Gade: Seu nome significa «tropa» (ver Gn 30:11). Espiritualmente, talvez denote o número incomensurável dos santos, especialmente, no presente contexto, no caso do grupo de mártires selecionados. Esses são aqueles que Deus reservou para si mesmo, com finalidades precípuas, visando o bem-estar de toda a humanidade. Foi ele o sétimo filho de Jacó, através da criada de Lia, Zilpa.
7:6 da tribo do Aser, doze mil; da tribo do Naftali, doze mil; da tribo do Manassés, doze mil;
Asser: Seu nome significa «bendito» (ver Gn 30:13). Espiritualmente significa as bênçãos do Messias sobre todos os discípulos, mas, sobretudo, sobre os mártires e testemunhas do período de Grande Tribulação. Foi o oitavo filho de Jacó, por meio de Zilpa, criada deLia.
Naftali: Seu nome significa «lutas» (ver Gn 30:8). Espiritualmente, pode designar o conflito dos santos, mediante o que serão capazes de ser mais do que vencedores, e isso é especialmente veraz no que diz respeito às tremendas perseguições religiosas promovidas pelo anticristo. Naftali foi o quinto filho de Jacó, nascido de Bila, criada de Raquel.
Manassés: Foi o filho mais velho de José, nascido no Egito e de mãe egípcia, Asenate, filha de Potífera, sacerdote de On (ver Gn 41:51). Substituiu a Dã na lista, e o possível motivo disso é comentado nas notas sobre o quinto versículo deste capítulo, sob os pontos dois e quatro. Manassés significa «esquecimento» (ver Gn 41:51). Espiritualmente falando, isso talvez queira ensinar-nos a olvidar o que fica para trás, buscando novas vitórias em Cristo. Além disso, somos instruídos a esquecer as cebolas e os alhos do Egito, buscando exclusivamente o bem-estar que há em Cristo. Os mártires do período da Grande Tribulação terão de fazer isso se quiserem conquistar em tempos tão adversos. (Quanto a comentários gerais sobre essa lista, com a menção de peculiaridades, ver as notas expositivas sobre o quinto versículo deste capítulo).
7:7 da tribo de Simeão, doze mil; da tribo do Levi, doze mil; da tribo de Issacar, doze mil;
Simeão—Foi ele o segundo filho de Jacó, por meio de Lia (ver Gn 29:33). Seu nome significa «audição». Espiritualmente, isso pode significar que devemos «ouvir» a fim de obedecer, e também que as ovelhas de Cristo ouvirão a sua voz e o seguirão, até mesmo sob as mais difíceis circunstâncias, como sucederá durante a Grande Tribulação, em que o anticristo martirizará a muitíssimos seguidores de Cristo.
Levi: Foi ele o terceiro filho de Jacó, por meio de Lia (ver Gn 29:34). Seu nome significa «reunido», e, espiritualmente falando, isso pode indicar como o amor de Cristo nos confere união no bem-estar, de tal modo que nada é capaz de separar-nos do amor de Deus em Cristo. Isso será algo necessário quando o anticristo perpetrar suas violências ímpias e lançar o caos no seio da igreja, durante o período da tribulação. Nada pode separar-nos da graça de Deus, que opera por meio do amor (ver Rm 8:32 e ss.). A tribo de Levi era a tribo sacerdotal. Deus fez de nós reino e sacerdócio (ver Ap 1:6).
Issacar: Foi o quinto filho de Jacó, por meio de Lia (ver Gn 30:17,18). Seu nome significa «salário» ou «recompensa». Talvez indique, espiritualmente falando, os benefícios e galardões que Deus confere aos seus servos, especialmente para os que se mostram fiéis em tempos difíceis.
7:8 da tribo do Zebulom, doze mil; da tribo do José, doze mil; da tribo de Benjamin doze mil assinalados.
Zebulom: Foi o sexto filho de Jacó, por meio de Lia. Seu nome significa «habitação» (ver Gn 30:20). Lia tinha a esperança que em face dela ter dado seis filhos a Jacó, que assim ela obteria o seu favor, e que ele continuaria a habitar com ela, favorecendo-a acima de Raquel. Cristo habita conosco e nos favorece, por meio do Espírito Santo, ao ponto de fazer de nós a própria habitação ou templo de Deus (ver Ef 2:21,22). Essa habitação nos transforma na própria imagem de Cristo (ver Rm 8:29 e II Co 3:18), de tal modo que compartilhemos de sua própria natureza e também da plenitude de Deus (ver Ef 3:19) vindo a participar da própria divindade (ver II Pe 1:4). E é desse modo que Deus vem habitar supremamente conosco, de modo a favorecer-nos. O Senhor se postará ao lado dos mártires, no período da Grande Tribulação, de tal modo que nenhum dano real e duradouro lhes poderá sobrevir.
José: José foi o décimo primeiro filho de Jacó, por meio de Raquel, sendo o primeiro filho desta (ver Gn 30:24 e 35:24). José foi o filho favorito e mais favorecido de Israel. Foi mimado por Jacó e Raquel; mas, quando foi vendido à servidão, por seus próprios irmãos mais velhos, conseguiu vencer em meio à adversidade, e Deus se postou a seu lado, fazendo redundar em bem o que pareceria ser para mal. Isso ele fará novamente no caso dos mártires do período da Grande Tribulação. O nome José significa «adição» (ver Gn 30:24). Seu nascimento retirou o opróbrio de Raquel, por não ter desistido de sua confiança de que Deus ainda lhe «adicionaria» outro filho, confirmando essa bênção. Portanto, as bênçãos de Deus são adicionadas e multiplicadas em nosso favor, a despeito de todo o opróbrio e de todas as adversidades.
Benjamin: Foi o filho mais novo de Jacó, nascido de Raquel, que faleceu ao dá-lo à luz. Após o desaparecimento de José, Benjamim obteve o favor especial de Jacó. Seu nome significa «filho da mão direita» (ver Gn 35:18). Isso simboliza a importância que Jacó atribuiu ao seu nascimento, pois assim ele obtivera um filho especial. Mas Raquel, quando já falecia, deu-lhe o nome de Benoni, que significa «filho de tristeza». O Senhor Jesus foi pintado segundo o significado de ambos esses nomes, porquanto ele é o Homem de Tristezas, mas também é o Filho especial de Deus, o Filho de seu Poder. Em Cristo, através de ambos esses aspectos, os mártires e testemunhas da Grande Tribulação aprenderão lições espirituais necessárias. Passarão por grandes tristezas, à semelhança de Cristo, mas triunfarão em Cristo, não obstante todos os sofrimentos.
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