A selagem dos mártires (Ap 7:1-8).
Consideremos os fatos abaixo enumerados, conforme os encontramos nas
Escrituras, em favor da ideia que a igreja terá de atravessar a Grande
Tribulação:
1. O livro de Apocalipse foi escrito
para confortar à igreja sob perseguição. Historicamente,
isso se aplicava aos próprios dias do autor sagrado, à perseguição movida por
Domiciano e pelos imperadores que se seguiram, cujos atos foram antecipados.
Profeticamente, porém, isso se aplica à igreja que
viverá na terra nos tempos do anticristo, o qual promoverá a mais cruel de
todas as perseguições religiosas que o mundo já terá visto ou poderá ver. Ver a
igreja ausente durante esse tempo é negar o propósito mesmo com que este
livro foi escrito.
2. Os mártires do
trecho de Ap 6:9-11 têm de ser mártires cristãos, já
que será somente perto do fim do período da Grande Tribulação que Israel será
salva como uma nação. O vidente João não escreveu este livro a fim de
consolar os mártires de Israel; escreveu para uma igreja perseguida, que já
contava com muitos mártires sob Nero. Domiciano foi apelidado «segundo Nero», e
o Apocalipse foi escrito durante o tempo de Domiciano, pouco antes do
fim do primeiro século de nossa era. Por conseguinte, foi para «mártires
cristãos» que João escreveu. Eles é que aqui pedem vingança a Deus, contra a
ímpia Roma. Estão em foco mártires cristãos, que terão sofrido sob
os selos segundo a quarto, e que farão o mesmo clamor contra o
anticristo; e esse é o aspecto «profético» do trecho de Ap 6:9-11.
3. Porém,
antes do golpe final da Grande Tribulação, ou melhor, antes de
desencadear-se a «ira» de Deus, no julgamento inaugurado pela vinda de Cristo
(ver Ap 4:17), os mártires serão selados, e, portanto, aceitos na
presença de Deus, de tal modo que a ira divina não poderá atingi-los
prejudicialmente. O capítulo que temos à nossa frente descreve isso. Esse
capítulo garante-nos que o martírio e todas as temíveis provações da Grande
Tribulação não poderão prejudicar àquele que está firme em Cristo. Seu
propósito é indestrutível, a despeito da ira do homem. Os mártires em potencial
serão selados, e, portanto, protegidos de todo o dano, até que chegue o
momento, dentro da vontade de Deus, de oferecerem o seu sacrifício. Se fosse da
vontade de Deus, alguns crentes ou mesmo todos eles, seriam capazes de desafiar
ao anticristo, até ao fim mesmo da Grande Tribulação. Mas a verdade é que os
crentes, em vastos números, sofrerão o martírio (ver Ap 6:9-11 e
7:9). Observemos quão avantajado é o número deles. É impossível que pudesse
continuar havendo na terra tão «inumerável» companhia de crentes, se a igreja
tivesse de ser arrebatada antes da Grande Tribulação. A «selagem» protegerá os
corpos deles enquanto Deus assim quiser fazê-lo: mas, principalmente, a ideia
dessa selagem é que estarão protegidos da ira de Deus, que se seguirá
imediatamente à Grande Tribulação, bem como estarão protegidos da ira de Deus
que será desfechada durante a Grande Tribulação, a qual meramente será predição
daquela ira maior que se seguirá. Seja como for, esse grupo representa o Israel
espiritual, protegido em meio aos horrores da Grande Tribulação, e não
retirados do meio dela.
4. Tudo
isso pode ser confrontado com o trecho de Mt 24:29-31. Será somente
«após a tribulação» que os anjos serão enviados para recolher os eleitos, de
uma à outra extremidade dos céus, de uma à outra extremidade da terra. Esses
estarão «selados» até que tenha lugar esse recolhimento; e isso só terá lugar
«após a tribulação daqueles dias». É impossível ver aqui a nação de Israel, já
convertida, como se fosse ela, exclusivamente, quem está focalizada no quadro,
embora seja verdade que a conversão de Israel antecederá à batalha de Armagedom
por um bom tempo. Contudo, o trecho de Ap 7:9 e ss. certamente
descreve a igreja cristã. Nesta passagem, o «Israel espiritual», embora inclua
judeus convertidos, certamente é a igreja cristã. Do ponto de vista do vidente João,
somente o Israel espiritual pode estar em foco; porém, do ponto de vista
profético, a nação de Israel, futuramente convertida
a Cristo, provavelmente também está em foco. O vidente João, ao
exaltar os mártires cristãos, chama-os de «Israel espiritual». Porém, embora
ele não pudesse saber disso em seus dias, uma vez que a nação de Israel se
converta, sem dúvida haverá a selagem dos mártires em potencial entre eles, de
tal modo que possam escapar ao poder do anticristo. A exposição abaixo aborda o
problema que indaga se o Israel espiritual ou a nação de Israel é que está aqui
em foco, ou se ambos são focalizados neste ponto. A maioria dos intérpretes da
herança da literatura cristã tem opinado que está em pauta o Israel espiritual,
de princípio a fim.
Certo
número de intérpretes supõe que o trecho de Ap 7:1-8 fala da nação
literal de Israel, ao passo que os versículos nono em seguida, desse mesmo
capítulo, falam dos cristãos gentílicos, ou seja, da igreja. Outros acreditam
que o mesmo grupo —a igreja— está em pauta, embora apresentada sob
diferentes condições e perspectivas. Outros eliminam totalmente a
possibilidade da igreja estar presente, preferindo pensar apenas na nação
literal de Israel, que então terá se convertido a Cristo, uma vez que a igreja
já foi arrebatada, supostamente devido ao testemunho de Israel. Esse último
ponto de vista é de origem relativamente recente, dentro da história dos
estudos escatológicos, não sendo aprovado pela herança geral da literatura
cristã dos séculos. Tal posição moderna idealiza o arrebatamento da igreja
antes da tribulação, o que é ponto de vista extremamente duvidoso, embora se
tenha tornado popular em certas esferas do protestantismo evangélico de nossa
época. Também supõe, essa posição, que a nação de Israel, uma vez que
a igreja tenha sido arrebatada, passará a prestar testemunho ao mundo, quase
desde o início da tribulação predita. Mas isso é altamente improvável, ou
melhor, impossível, porque Israel, como nação, só se converterá nos estágios
finais da Grande Tribulação, e não nos seus primeiros desenvolvimentos.
Conforme se dá com outras porções do Apocalipse, há um grande número de
interpretações acerca deste sétimo capítulo. Apesar de não sermos capazes de
dar resposta a muitas das questões que então se apresentam, porque somente
o cumprimento dos acontecimentos preditos fornecerá a resposta exata para tudo,
cremos que podemos fornecer um quadro geral do que é aqui
tencionado.
O sétimo capítulo é considerado um parêntesis por muitos
eruditos, como se fosse uma pausa entre o sexto e o sétimo selos. Mas
outros estudiosos veem aqui certos aspectos do sexto selo, ainda sob
consideração. O trecho de Ap 6:17 promete a ira divina contra os
rebeldes. Este sétimo capítulo mostra que essa ira não poderá descarregar-se contra os selados, os quais
estão justificados em Cristo. Este capítulo, pois, representa uma interrupção
no ritmo e no estilo do sexto capítulo. Mas é ponto relativamente destituído de
importância se o mesmo faz parte ou não da descrição do sexto selo.
O principal problema que envolve o capítulo à nossa
frente é a identificação dos cento e quarenta e quatro mil. Isso é
discutido de modo breve mais acima, e mais amplamente nas notas expositivas
sobre o quarto versículo deste capítulo, onde são expostas as principais
opiniões dos intérpretes. O que quer que digamos sobre os cento e quarenta e
quatro mil, este capítulo certamente retrata a igreja de Cristo durante a
Grande Tribulação, sofrendo sob a ferocidade do anticristo, o qual promoverá a
pior perseguição religiosa de todos os séculos.
7:1 Depois disto vi
quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da
terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sabre o mar, nem
contra arvore alguma.
«...Depois
disto...» Essas palavras são um artificio
literário do autor sagrado, a fim de identificar uma mudança de assunto ou o
desenvolvimento do mesmo assunto. Algumas vezes a expressão aparece em forma
plural, «depois destas coisas», e às vezes em forma singular, como aqui. Os
manuscritos minúsculos 1, 27, 30, 33, 47 e os latinos g e n apresentam
aqui o plural, no grego, «tauta»; mas sem dúvida isso é secundário.
A forma singular aparece aqui nos mss Aleph, acp, 046
e na maioria das versões.
«...vi...»
Em visão
Esperaríamos
uma descrição sobre o «sétimo» selo, mas a narrativa faz
uma pausa
a fim de dizer-nos como os verdadeiros crentes, durante a Grande Tribulação,
serão ou protegidos, ou então, como, a despeito do seu martírio, não serão
atingidos pela ira de Deus. Esses são os que podem «resistir» no dia da ira do
Senhor, sem sofrerem qualquer dano. Pouco ou nada importa se considerarmos este
sétimo capítulo como a continuação da descrição sobre o sexto selo, ou se o
considerarmos como um parêntesis, uma interrupção na narrativa dos selos.
«...em pé...»
Trata-se de uma visão. Pois nenhum anjo é grande bastante para dar a impressão
que está apoiado sobre o globo terrestre. Quando há tal simbolismo na
Bíblia, como podemos presumir em dizer que a interpretação «simbólica» ou
«mística» prejudica nosso entendimento sobre o Apocalipse? Bem pelo contrário,
se sempre tentarmos interpretar este livro literalmente, nossa compreensão
deste livro será fatalmente distorcida, porquanto o Apocalipse certamente é um
documento de natureza «mística», devendo ser interpretado como tal. Somente a
prosaica mente ocidental é que procura interpretar um livro místico de forma
literal «sempre quepossível», conforme dizem alguns eruditos. A consulta das
«fontes informativas» do Apocalipse, especialmente das fontes informativas dos
vários apocalipses do período helenista, nos convencerá que devemos ter extremo
cuidado com a interpretação literalista. Como exemplo, disso,
em Ap 8:8, há um «monte» que atinge incendiado o mar, o qual poderíamos
identificar de imediato como um cometa que atingirá o oceano, ou seja, um
objeto físico literal. Ao assim dizermos, teremos simbolizado toda a questão,
porquanto um meteorito não é um monte. E assim teremos preservado um objeto
literalmente físico, como se estivesse aqui em foco. Então, ao consultar outra
literatura apocalíptica, como se vê em I Enoque 18:13, onde há uma cena
similar, poderíamos pensar estar confirmada essa interpretação literal. Mas,
prosseguindo até I Enoque 21:3 e 108:3-6, descobriremos que esse monte é,
na realidade, um anjo caído, isto é, um dos sete que cairão no mar, por terem
sido expulsos por Deus dos lugares celestes, devido à sua desobediência. A
terra estremecerá ante a vinda desses anjos. Talvez, então, nesse caso, o
«oceano» represente as nações. Em outras palavras, o ensino pode ser que anjos
caídos, ou poderosos seres demoníacos, estão sendo enviados para vexar os
homens, e isso como castigo devido àquilo que os homens merecem. Quão diferente
é essa interpretação daquela outra que vê aqui um meteorito a mergulhar em
algum de nossos oceanos! Outrossim, a tentativa de interpretarmos o Apocalipse
de maneira literal, «sempre que possível», com facilidade nos desviará para
longe da verdade.
«...quatro
anjos...» Consideremos os pontos abaixo, a
esse respeito:
1. O
termo «anjo» pode implicar em seres angelicais literais, dotados de alguma
missão especial a ser realizada na terra. O terceiro versículo deste capítulo
mostra que eles têm missões de juízo a efetuar. Esses anjos tiveram de ser
entravados por um outro anjo, «...que subia do nascente do sol...»
(no segundo versículo). Supomos, pois, que aquilo que têm de fazer deve ser
incorporado dentro do sétimo selo, talvez os juízos das «trombetas», porquanto
aquilo que são impedidos de fazer (no terceiro versículo) é mais ou menos
paralelo àquilo que é realmente feito (em Ap 8:7); e, de modo geral,
no restante das trombetas, porquanto trarão «dano contra a terra». É possível
que esses quatro anjos pertençam ao número dos sete anjos que farão soar as
trombetas, mas não se pode afirmar isso com confiança absoluta. São em número
de «quatro» porque exercem controle sobre as «quatro extremidades» da
terra e sobre os «quatro ventos». Em cada caso, todavia, o número «quatro» fala
de algo completo. A terra «inteira», pois, está debaixo do controle desses
anjos, até ao ponto que Deus lhes determinar.
2. Outros
eruditos creem que o termo «anjo», neste caso, simboliza as operações de Deus,
de sua providência, nada tendo a ver com seres celestes literais.
3. É possível
que o autor sagrado aluda aqui aos «quatro anjos da natureza», as forças
naturais que controlam o meio ambiente terrestre, sob direção divina.
4. Alguns
eruditos supõem que esses anjos são maus, forças espirituais malignas que
invadirão a terra nos últimos dias; mas certamente essa interpretação erra
totalmente o alvo, ainda que aquela invasão também seja predita na Bíblia.
5. As
interpretações históricas veem aqui quatro impérios mundiais; mas estão
equivocadas, sem dúvida alguma.
Pouca
dúvida pode haver que a alusão é ao trecho de Zc 6:5, «...os quatro ventos
do céu...» Isso pode ser comparado aos quatro seres viventes de Ap 4:6,7, e aos
quatro cavaleiros.
«...quatro
cantos da terra...» Os antigos pensavam que a terra
fosse quadrada, e, portanto, dotada de quatro cantos. Os filósofos gregos
jônicos (600 A.C.) modificaram isso, pensando ser a terra um disco; mas a
maioria dos antigos, desde os tempos babilônicos, aceitava a ideia de uma terra
com «quatro cantos». O vidente João contempla a terra do alto de seu ponto
visionário, vendo a terra como um plano retangular, havendo um imenso anjo de
pé sobre cada um de seus cantos. É indagação inútil se o vidente João cria ou
não em uma terra quadrada. Sem dúvida ele assim cria, mas isso em nada
prejudica a mensagem de sua visão, ainda que inclua o que agora é uma ideia
cosmológica obsoleta. É tão inútil isso como tentar «modernizar» o autor
sagrado, e supor que, enquanto ele escrevia, usando ideias antigas, ele mesmo
sabia melhor do que elas. A questão inteira, sobre o que o vidente João pensava
sobre o formato da terra, não tem peso algum para a fé, pelo que é inútil a
discussão sobre a mesma, positiva ou negativamente.
A
expressão quatro cantos, inteiramente à parte do fato se
expressa ou não o formato da terra, diz-nos que esses anjos controlam a terra
inteira, de todo o ponto de vista, de todos os ângulos, até ao ponto onde Deus
lhes dá permissão. Portanto, podem provocar vastos juízos, se assim lhes for
dado fazer. E quando soarem as trombetas, assim realmente farão; por
enquanto, porém, são impedidos de agir, até que sejam selados os mártires em
perspectiva.
«...para
que nenhum vento soprasse sobre a terra...» Os anjos que se acham nos
quatro cantos da terra, conservam presos os quatro ventos. Não lhes é permitido
soprar e nem destruir. Também se vê nas cosmologias babilônica e outras da
antiguidade, a ideia que seres angelicais ou espirituais, controlam os quatro
ventos, mantendo-os sob controle desde o seu posto, nos quatro cantos
da terra. Assim sendo, o vidente João uma vez mais se utiliza de uma expressão
da cosmologia antiga, a qual agora nos é estranha, mas que não o era para os
leitores originais do Apocalipse. Em Dn 7:2,3, vemos os quatro ventos do
céu irrompendo sobre o mar, provocando destruições imensas. É óbvio que esses
ventos não são literais, e, sim, alguma força cósmica e espiritual, que tem o
poder de produziracontecimentos horrendos sobre a face da terra, mediante
forças humanas e sobre-humanas.
Assim,
pois, se insistirmos em uma interpretação «literal», fazendo com que esses
ventos sejam quatro ventos literais, estaremos nos afastando da
verdade. No Apocalipse Siríaco de Pedro, há uma advertência da parte de Deus,
no sentido que quando ele soltar os quatro ventos, haverá saraiva antes do
vendaval, um fogo consumidor diante do vento sul, enquanto montanhas e rochas
serão partidas pelo meio pelo vento ocidental. Mas nada é dito ali sobre o
quarto vento. No Apocalipse do Pseudojoão 15, a promessa de Deus é
que os quatro ventos deixarão o mar limpo de todo o pecado. Por igual modo,
nas Perguntas de Bartolomeu 4:31-34, aos quatro anjos será
dado o poder de restringir aos quatro ventos, para não liberarem sua força
destruidora sobre a terra. De modo bem geral, pois, o versículo ensina-nos que
Deus controla a terra inteira; que os seus juízos são administrados como e
quando ele quiser, e através dos instrumentos e eventos que melhor lhe
agradarem. Outrossim, ele restringe seus julgamentos a fim de proteger os seus
servos. Além desse significado geral, é perfeitamente possível que nada mais
seja aqui ensinado, e que os objetos da visão, como os anjos, os quatro cantos
e os quatro ventos, sejam apenas imagens necessárias para dar-nos um quadro
interessante, mas que não têm qualquer significado literal ou metafísico. O
número «quatro», entretanto, retém seu simbolismo de algo «completo». A terra
inteira, com todos os seus acontecimentos, são controlados pela providência
divina.
Outras ideias sobre o primeiro versículo do sétimo capitulo:
1. Notemos
que os ventos não poderão soprar sobre a «terra», o «mar» ou as «árvores», em
que o número «três» entra em ação. Esse é o número divino. Assim, por
conseguinte, Deus se relaciona à terra, e esta, finalmente, estará
totalmente vinculada ao Senhor. De maneira geral, a terra (a parte seca), o mar
(as águas) e as árvores (a vegetação) representam as várias condições
existentes em nosso globo terrestre literal, que podem sofrer dano dos ventos
(ou julgamentos) de Deus.
2. Este
versículo, tal como grande parte do Apocalipse, diz-nos claramente que Deus
pode intervir e realmente fará intervenção na história humana. Os homens se
destruiriam totalmente se Deus assim não fizesse. Mas uma intervenção divina
devolverá aos homens o bom senso. O novo ciclo, o milênio,
seguir-se-á aos terríveis juízos da Grande Tribulação. Alguns desses sofrimentos serão produzidos pelos homens, mas outros
procederão de levantes naturais da natureza, e outros virão de uma direta
intervenção divina. Isso expressa aposição do «teísmo», a ideia que o Criador
continua presente conosco, pois faz intervenção e castiga ou galardoa aos
homens. Em contraste com isso, o «deísmo» afirma que o criador se divorciou do
seu próprio universo, deixando que as leis naturais o governassem em seu lugar,
pelo que também não faria intervenção direta e nem estaria interessado em
galardoar ou punir aos homens.
3. Deus protegerá certo número de
mártires em potencial, a fim de que sejam testemunhas por toda a terra e
desafiem com sucesso ao anticristo. Lembremo-nos do caso de Jó. Deus o
protegeu, até onde lhe pareceu melhor. Nenhum dos esquemas de Satanás conseguiu
prejudicá-lo de modo contrário à vontade divina. O nono versículo
deste capitulo mostra-nos que haverá um imenso número de mártires, embora isso
venha a suceder por permissão de Deus. Os mártires receberão privilégios
espirituais especiais, conforme se vê em Ap 6:9-11; e a ira de Deus
não os atingira. Portanto, na realidade, serão tanto protegidos como altamente
privilegiados. Todas as obras de Deus são boas, e eventualmente haveremos de
perceber isso. Nesse ínterim, as provações demonstrarão que muito podemos
sofrer com elas.
4. «O desentendimento chega a
proporções fantásticas quando alguém se propõe a interpretar literalmente a
símbolos alegóricos, e quando, por outro lado, a explicação regular dessas
figuras alegóricas é denominada de interpretação alegórica. Com igual justiça,
poder-se-ia dizer que o ‘semeador’ do decimo terceiro capitulo de Mateus, e um
semeador literal, e que devemos interpretar espiritualmente a sua pessoa, como
uma exposição alegórica. Por mais abortivas que sejam quase todas as
interpretações de tais figuras alegóricas, assim sucede porque não dão
suficiente importância para a chave que lhes é oferecida pelo estilo de
expressão poética e profético-simbólico» (Lange, in loc.). Esse
autor, ao assim falar, quer dizer que devemos interpretar simbólica ou
alegoricamente livros como o Apocalipse, os quais nos transmitem sua mensagem nesse
estilo. O fato que muitas interpretações falsas são apresentadas por esse
método não e contrário ao fato que a verdadeira interpretação deve, sem dúvida
alguma, provir desse método. Deixar de compreender isso é ignorar a tradição
inteira da literatura apocalíptica, a qual, até onde as expressões dizem
respeito, forma a base deste livro.
5. Há interpretações alegóricas que
provavelmente estão equivocadas, no
tocante a este versículo: a. O mar seriam as nações, e a terra seria Israel: b.
o mar seria a Europa e a terra seria a Ásia, ao passo que as árvores seriam a
África; c. as árvores seriam os poderes elevados e a grama seria as
autoridades secundárias. Essas interpretações estão equivocadas porque podem
chegar à mensagem correta sem entrarmos em particulares ridículos.
6. Também
não devemos tentar ver aqui a luta entre o paganismo, a heresia ou Roma, por um
lado, e os ministros do evangelho e a igreja, por outro lado. Antes, temos aqui
um quadro sobre a ira de Deus, que espera atingir a terra inteira, visando
especialmente os que se mostram rebeldes contra Deus.
7. O
vento sacode e derruba por terra os figos temporãos, fora da estação certa,
produzindo assim uma contradição da natureza (verAp 6:13). Assim também os
juízos de Deus, os ventos, têm o poder de produzir muitas formas de catástrofes
contra os homens que rejeitam o seu devido destino em Cristo.
8. «Quem
pode resistir?» (Ap 7:17). Aqueles que estão solidamente fixados no solo
do evangelho de Cristo são aqueles que serão selados, e, portanto, resistirão
aos ventos do juízo divino. Diz o trecho de Jr 49:36,37: «Trarei
sobre Elão os quatro ventos dos quatro ângulos do céu, e os
espalharei na direção de todos estes ventos. ...farei vir sobre
os elamitas o mal o brasume da minha ira, diz o
Senhor...» (Isso também pode ser comparado ao trecho de Dn 7:2: «Eu estava
olhando, durante a minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu
agitavam o Grande Mar»), «Mas essas tempestades não surgirão, para sacudir uma
única folha, enquanto não estiver completa a selagem dos servos de Deus»
(Carpenter, in loc.).
7:2 E vi outro anjo
subir do lodo do sol nascente, tendo o selo do Deus vivo; e clamou com
grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado que danificassem a terra e o mar,
«... outro anjo
que subia do nascente do sol...» Há uma cena similar a esta, em
II Baruque 6:4 - 8:1. Ali há quatro anjos que estão prestes a
incendiar a cidade de Jerusalém, com o propósito de impedir
que caia na idolatria, devido à influência dos babilônios. Um quinto
anjo veio impedi-los em suas intenções, até que objetos sagrados fossem
retirados do templo. Então a cidade foi incendiada. Por igual modo, aqui, o
quinto anjo impede que quatro outros lancem terrores sobre a terra. É de
presumir-se que os juízos das trombetas sejam esses terrores, os quais, tal
como no segundo livro de Baruque, finalmente tiveram permissão de ocorrer,
mas não sem que primeiro alguns propósitos divinos fossem realizados.
Identificação
do quinto anjo, o refreador. 1. Alguns estudiosos pensam que o próprio Cristo
está aqui em foco. 2. Mas outros pensam em algum ser angelical literal, guiado
por ordem de Cristo. 3. Outros supõem que esse anjo é totalmente simbólico,
representando a providência de Deus, que dispõe de muitos meios e métodos de
operação.
«...nascente
do sol...» O grego é aqui literalmente traduzido, embora seja mais provável
que esteja em foco apenas o «oriente». Não sabemos dizer por que razão essa
direção específica foi indicada. Talvez a ideia seja que assim como o sol nasce
e inaugura um novo dia, renovando as esperanças, assim também, em meio aos mais
aterrorizantes juízos, haja alguma esperança na providência de Deus, que faça o
sol brilhar sobre os favorecidos do Senhor.
«...grande voz...» Uma expressão favorita do vidente João, expressando uma
«mensagem autoritária», que chama a atenção e realiza tudo quanto tenciona
fazer. Isso pode ser comparado aos trechos de Ap 5:2,12; 6:10; 7:10;
8:13; 10:3; 12:10; 14,7,8,15,18 e 19:17.
«...tendo
o selo do Deus vivo...» Esse
anjo tem a tarefa de «selar» aos cento e quarenta e quatro mil, a fim de
protegê-los dos horrores desfechados pelo anticristo, os quais são aplicados no
terceiro versículo. Não nos é revelado que tipo de «selo» será esse. O trecho
de Is 44:5 menciona a «inscrição» do nome de Yahweh sobre as mãos dos fiéis,
para identificá-los como pertencentes a ele. (Ver um paralelo disso
em Ap 14:1. E talvez este versículo também seja um paralelo). Esse é
um dos tipos de selos. II Esdras 6:5 mostra-nos como os fiéis foram selados
antes da criação, a fim de assegurar sua bem-aventurança durante os tempos
messiânicos. A passagem de Ez 9:1-8 ,encerra cena similar a esta, quando seis
anjos são retratados como preparados para destruir os habitantes de Jerusalém, quando
então um sétimo anjo fá-los estacar por um momento, a fim de «assinalar as
testas» dos justos, a fim de não serem prejudicados. E em Salmos de Salomão
15:8, os justos recebem uma marca sobre a testa, a fim de serem preservados das
pragas, da fome, da espada e da pestilência, julgamentos que serão lançados
contra os ímpios. No Talmude (Shabbath 55a) os justos são marcados
a tinta, ao passo que os ímpios trazem a marca de sangue, impressa sobre eles.
O trecho de II Esdras 2:38 é o mais próximo paralelo que existe da
presente passagem, onde aparecem «confessores» ou «testemunhas», assinalados de
tal modo que permanecem até ao final de grandes provações, sem sofrerem dano.
Esse selo,
essa marca na terra, é o equivalente contrário da marca da besta, no que diz
respeito aos justos, ao passo que a marca do anticristo identifica os
seguidores de uma religião e de um sistema político iníquos.
(Ver Ap 13:16 e 14:9 acerca disso).
«...Deus
vivo...» Temos aqui um título frequente
de Deus, no A.T. e nos escritos judaicos helenistas, salientando o fato que
Deus é a única deidade verdadeira, em contraste com os «ídolos mortos» ou
«imaginários», que não têm vida, e portanto, não têm poder. O Deus vivo confere
vida aos homens, a saber, a sua própria modalidade de vida, de tal modo que os
remidos virão a participar da imagem e natureza do Filho (ver Rm 8:29).
Sobre
o Deus vivo, no N.T., ver Jo 6:69; At 14:15; Rm 9:26; II
Co 3:3; 6:16; I Ts 1:9; 4:10; 6:17; Hb 3:12; 9:14; 10:31; 12:22.
Bibliografia
R. N. Champlin,comentário do novo testamento,2010,+
ww.ebareiabranca.com V.1-8
fonte
www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com
fonte
www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com
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PAZ DO SENHOR
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