A ira de Deus
Sete anjos e sete pragas formam os meios de expressão da ira de Deus. A
expressão “ira de Deus” ocorre seis vezes no Apocalipse (14:10, 19; 15:1, 7;
16:1, 19), é deveras medonha e devia infundir terror nos corações de todos os
não-salvos da terra.
“Sete anjos” (distintos dos sete anjos altamente honrados e relacionados
com as trombetas) saem do santuário (15:6), a residência imediata de Deus e dos
anjos. Do santuário de outrora saíram os sacerdotes como ministros da graça.
Agora os anjos emergem dele como ministros do juízo.
O tabernáculo do testemunho é uma frase sugestiva. Para Israel este era
o símbolo da presença de Deus e de sua provisão para seu povo. Agora, porém, a
santidade de Deus exige castigo do ímpio, e portanto, temos as
“testemunhas” do juízo, segundo a natureza de Deus contra a besta e contra
todos os inimigos de seu povo. David Brown diz: “Aqui entra em campo, de
maneira adequada, o tabernáculo do testemunho, onde a fidelidade de Deus vinga
seu povo com juízos sobre seus inimigos; juízos que estão prestes a se
desencadear. Precisamos dar uma olhada no Santo dos Santos a fim de compreender
a mola secreta e o fim do trato justo de Deus.”
Estes sete anjos estão vestidos de maneira condizente com o caráter
justo de sua missão, e também de maneira que se parece com o Senhor (1:13).
Comparando com 19:8 descobrimos que o linho puro indica justiça, enquanto os
cintos de ouro, à altura do peito, (não na cintura) sugerem a obra do juízo
compatível com a natureza santa de Deus.
As “sete últimas pragas” sugerem finalidade e término, e assim a
aparição do número sete é especialmente adequada. Chegamos ao
ciclo final da visitação do juízo. É claro que as taças não trazem o fim da ira
divina, como já vimos em ebdareiabranca, uma vez que mais ataques de
vinganças devem ocorrer quando Cristo vier em pessoa (19:11-21). O que temos a
esta altura é a conclusão dos juízos providenciais de Deus. Estas taças estão
“cheias da ira de Deus”. “Cheias” significa terminado ou consumado. Para Deus o
futuro é tão certo como se fosse passado, cuja realização é tão segura como a
sua Palavra.
As Harpas de Deus
Este prefácio aos últimos juízos devastadores de Deus inclui uma linda
descrição dos mártires vitoriosos que estão com o Senhor. O parágrafo de 15:2 a
15:4 é tomado de vitória, louvor e adoração.
Louvores corais celestes são representados pela harpa, que com sua
combinação de notas solenes e grandes, acordes suaves e ternos indica o louvor
e a adoração de Deus (1 Cr 25:6). As harpas de Deus (significando que os
instrumentos, músicos e tema são dele) eram partes dos instrumentos
do céu, usados somente para o louvor de Deus. Parece que os dois grupos
celestes de cantores e harpistas mencionados em Apocalipse 14:2 e 15:2
representam a mesma hoste vitoriosa.
O palco no qual os harpistas se encontram é comparado a um mar de
vidro misturado com fogo. No mar de vidro Walter Scott vê um estado fixo de
santidade, de pureza interior e exterior. O mar sugere vastidão e
vidro sugere calma sólida ou paz assentada e quieta.Diz Wordsworth:
“Um mar de vidro [expressa] suavidade e brilho; e este mar celeste é de
cristal (4:6), declarando que a calma do céu não é como a dos mares terrenos,
perturbada por ventos, mas cristalizada numa eternidade de paz.” Apresentada
como se estivesse em pé sobre o mar de vidro, a companhia de mártires chegou ao
seu descanso e também a esta nova posição como adoradores que venceram.
O mar de vidro misturado com fogo introduz outro
elemento. Estes santos emergiram vitoriosos de sua tribulação de fogo. Temos
três inimigos a enfrentar: o mundo, a carne e o diabo, mas os cantores tinham
um quarto inimigo a derrotar: a besta. Foi alcançada a vitória sobre a besta,
sobre sua imagem, sobre sua marca e sobre “o número do seu nome”, e agora eles
triunfam por causa de uma vitória total e completa.
O cântico que acompanha as harpas tem o som de um grande poema. E um
cântico de vitória como o de Moisés depois de atravessar o mar Vermelho. Dois
cânticos são combinados: o cântico de Moisés, servo de Deus,
e o cântico do Cordeiro. O cântico de Moisés é o triunfo sobre
o mal pelos juízos de Deus. É um cântico que celebra a derrota de Faraó e de
suas hostes no mar Vermelho (Êx 15). (Este cântico mosaico não deve ser
confundido com o cântico profético de Deuteronômio 32:1- 44.) O cântico de
Moisés, magnífico como é, celebra apenas a redenção terrestre. A
graça e glória do cântico que foi apresentado à margem leste do mar Vermelho
eram associadas com o poder sobre os inimigos de Israel no Egito, pelos juízos
de Deus.
O cântico do Cordeiro, entretanto, possui natureza diversa. Este
cântico, dirigido pelo Cordeiro como Capitão de nossa salvação, implica a
exaltação do Messias rejeitado, daquele que sofre. Cantado pelo remanescente
fiel que morreu dentre o Israel infiel e apóstata, este cântico dos sofredores
vitoriosos no céu celebra a Deus e ao Cordeiro.
Ao examinarmos os assuntos deste cântico duplo encontramos Deus exaltado
de várias maneiras. Primeiramente, louvam-se as suasobras. A frase
“grandes e admiráveis” é repetida em 15:1, 3, indicando a vingança da
justiça de Deus, de modo que possa ser glorificado no grande final de suas
lides. No título divino combinado Senhor Deus Todo-poderoso temos
um vasto reservatório de poder—consolo para os santos e presságio para os
inimigos de Deus.
Os caminhos de Deus são exaltados como “justos e
verdadeiros”. Ao castigar seus inimigos Deus agirá em harmonia com
seu próprio caráter. Este juízo imparcial será distribuído pelo “Rei dos
séculos”. O ponto em questão da controvérsia do Senhor com a
terra é se ele ou o homem de Satanás, a besta, é o rei das nações. Na
véspera de as taças descerem sobre o reino da besta, os cantores vitoriosos
saúdam o Senhor como o verdadeiro Rei das nações.
A adoração de Deus também contribui para este cântico
admirável. Dão-se as razões pelas quais o Senhor deve ser glorificado: “Pois
só tu és santo!”
Os cantores sobre o mar de vidro celebram a santidade de Deus. Eles o
temem e glorificam-no como o único digno de ser chamado santo. A besta
colocou-se como Deus, mas o coro vitorioso escolheu a santidade em face de um
mundo tomado pelo pecado e agora está onde reina toda a santidade verdadeira.
“Por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti.” Os juízos de Deus infundirão temor em seus
inimigos. Antecipando o domínio universal do Senhor, os santos celebram o
reconhecimento mundial de sua supremacia. Vemos aqui o cumprimento de
profecias tais como o Salmo 148; Isaías 2:2-4; 56:6, 7; Zacarias 14:16,
17.
“Porque os teus juízos são manifestos!” O plural, juízos, indica a
manifestação dos atos justos do julgamento. E por ser ele justo ainda quando
dispensa julgamento e vingança, deve ser glorificado. Estas são deveras
palavras lindas que vêm dos que passaram pelos horrores do tormento da besta.
Comentando esta cena única, F. B. Meyer diz: “Os que foram criados na
dispensação de Moisés e os seguidores do Cordeiro na presente dispensação,
juntos com todas as almas dos santos que venceram, constituirão um vasto coro.
Contudo, por mais que se examine o cântico de Moisés, não se conseguirá
encontrar uma nota que iguale a este em sublimidade. Aqui estão os santos de
Deus, treinados para distinguir as belezas do governo e comportamento justo e
santo, capacitados do seu ponto de vantagem na eternidade a examinar a história
inteira das lides divinas, adorando-o como Rei dos séculos, e reconhecendo que
todos os seus caminhos foram justos e verdadeiros. Que confissão! Que
reconhecimento!”
A Glória de Deus
A seção final deste notável capítulo (15:5-8) é também introduzida por
outro “eis” (omitido em várias versões). Este parágrafo se inicia com a
habitação de Deus e se encerra com a glória divina. Visto como tudo no
parágrafo está ligado com a glória de Deus, examinemos estes versículos com
essa ideia em mente.
William Newell argumenta a favor de um santuário literal de
Deus no céu, mas achamos que a palavra “santuário” é usada pelo que representa
simbolicamente—a saber, habitação de Deus, onde pode ser encontrado e adorado.
Do santuário saem os sete anjos com as sete pragas, que representam a visitação
final de Deus de juízos sobre as nações.
A apresentação das taças aos anjos por um dos seres viventes indica que
esses seres viventes são os executores do governo judicial de Deus. Sendo
“cheios de olhos”, esses seres dignificados compreendem profundamente os
propósitos de Deus, e portanto, apresentam aos anjos acontecimentos
horríveis. Já foi salientado haver três passos na obra do juízo de Deus:
1. Os anjos são comissionados e
equipados no santuário (15:6).
2. Os anjos recebem as taças de ouro
cheias da ira de Deus de um dos seres viventes (15:7).
3. Os anjos não podem dar um passo no
ato do juízo até que Deus, com autoridade, dê a ordem (16:1).
Tudo isto sugere que as obras e caminhos de Deus ainda no juízo são
calmos e medidos. E isto é o que esperaríamos daquele que “vive pelos séculos
dos séculos”. É o Deus eterno que está prestes a lançar praga sobre
a terra culpada, devastando-a com sua fúria. Nunca nos devemos esquecer de que
ele é glorificado tanto no juízo como na graça.
Antes de deixarmos este capítulo preparatório somos apresentados à nuvem
de fumaça de Deus que cobre tudo no santuário por um pouco de tempo. A fumaça,
é claro, simboliza a presença de Deus (Êx 19:18; Is 6:4). Ninguém podia
entrar no santuário por causa da presença de Deus manifestada em glória e poder
durante a execução dos juízos das taças. Fumaça da glória e poder de Deus enchia
o santuário. Moisés não podia entrar na tenda do testemunho (nem os sacerdotes
entrar no santuário) por causa da glória do Senhor (Êx40:34, 35; 1 Rs
8:10, 11). O que temos aqui não é a glória em si mas a fumaça da
glória de Deus. Não é o incenso que enche o santuário, mas fumaça, que é a
glória de Deus manifestada em juízo. Certamente que há uma finalidade nesta
cena toda que nos enche os corações do mais intenso assombro! Deus está prestes
a lidar com os rebeldes da terra.
O versículo que abre o capítulo 16 é rico em significação. Primeiro
temos “vinda do santuário, uma grande voz”, que tem sido interpretada de
várias maneiras. É possível que se refira à voz de Deus, uma vez que agora
chegamos às taças da sua ira. Cristo não é mencionado até que Deus,
pessoalmente, execute o juízo. Como já sugerimos, o Apocalipse é o livro
da voz, e sempre que se encontra a palavra “voz”,
subentende-se uma compreensão inteligente do assunto em questão. Lemos de uma
grande voz, de uma alta voz e de uma forte voz. Tais adjetivos descrevem o
caráter da voz e também a natureza do anúncio.
Aqui, a grande voz sai do santuário, vinda do Santo dos Santos. Por
exigir a santidade de Deus o juízo sobre um mundo apóstata, a ira de Deus
queima com ardor feroz: “Ide. . . derramai sobre a terra as sete taças da
ira de Deus.” Foi dada a Cristo uma ordem diferente ao se preparar para deixar
os seus: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda a criatura.” Mas
agora a graça é retirada. Já não é a taça da salvação mas a taça da ira
de Deus.
O Pentecoste testemunhou o derramamento do Espírito e com tal
efusão houve a manifestação de uma bênção. Mas agora chegamos a outro
derramamento: fúria sem mistura está prestes a descer sobre a terra. A
plenitude da ira divina é esvaziada em cada taça, que por sua vez é derramada
sobre um mundo culpado. A oração do remanescente judaico sofredor é respondida
nas terríveis sete pragas prestes a cair: “E aos nossos vizinhos, deita-lhes no
regaço, setuplicadamente, a injúria com que te injuriaram, Senhor”
(Sl 79:12).
Temos, nas taças de ouro, um pouco mais de vislumbre da ira de
Deus. A palavra para “taças” é “tigelas” ou “copos” e representa os vasos de
boca larga usados no santuário, e que eram cheios de incenso aromático. Agora
os vasos, santificados pelo uso do templo e serviço, estão cheios da ira justa
de Deus e estão destinados ao juízo. E a largura da boca dos vasos tenderia a
fazer com que seu conteúdo fosse derramado de uma só vez, implicando
a rapidez avassaladora dos ais.
A Primeira Taça — Sobre a Terra (16:2)
Há algo de expressivo na execução das sete pragas. As taças, como um
todo, implicam ação rápida. Golpeando, como relâmpago, destroem o reino da
besta, que havia tomado para si mesma o reino do mundo. Destruição repentina sobrevirá
à besta e aos seus adoradores, e não poderão escapar.
Os juízos das trombetas limitam-se, mais ou menos, ao mundo romano, mas
os juízos das taças hão de cobrir a terra e devem constituir a guerra total de
Deus sobre o mundo. As taças são a resposta de Deus a Satanás e destruirão seu
império. Nas trombetas, o poder de Satanás é liberado a fim de dar andamento a
seus objetivos. Nas taças, Deus desencadeia todo o seu poder a fim de pôr termo
à obra sombria de Satanás. Entrega a seus anjos controle direto
sobre todas as forças naturais, e esses anjos, por sua vez,
executam o julgamento que está escrito.
Na primeira taça da ira vemos uma praga parecida com a sexta praga
egípcia (Êx 9:8-12), a primeira a afligir os corpos dos egípcios. David Brown
afirma: “A razão pela qual a sexta praga egípcia aqui é a primeira é
por ter sido dirigida contra os magos egípcios, Janes eJambres, para
que não pudessem permanecer na presença de Moisés; de forma que aqui a praga é
enviada sobre os que na adoração à besta haviam praticado a feitiçaria. Assim
como se submeteram à marca da besta, da mesma forma devem levar a marca do Deus
vingador.”
Neste sentido, ficamos a imaginar se “a chaga ruim e maligna” não
afligirá a parte do corpo que leva a marca da besta—a saber, a fronte e a palma
da mão. “Sofrimento físico, sem dúvida, adicionar-se-á à angústia dos homens,
mas as feições principais e predominantes será o trato judicial com a alma e
com a consciência—sofrimento que excede de muito qualquer aflição corporal.”
Mas certamente não podemos afastar-nos das
chagas literais—feridas ruins, malignas e supuradas!
A palavra usada para “chaga” significa uma úlcera feia que se extravasa
de forma altamente ofensiva. Em Êxodo 9:8 Moisés e Arão jogaram cinzas da
fornalha para o alto, à vista de Faraó, as quais desceram sobre homens e
animais na forma de terríveis tumores. Tanto aquelas pragas como estas devem
ser tomadas literalmente, como prova o fato de as feridas medonhas da primeira
taça ainda estarem sobre os homens na quinta taça das trevas, onde lemos de
“dores e chagas” (16:11). Estas feridas abertas indicam desesperança e
também horripilância; elas são incuráveis (Dt 28:27, 35) e devem ser
suportadas como prenúncio da angústia do inferno.
A Segunda Taça — No Mar (16:3)
Uma feição notável das sete taças não somente é sua semelhança com as
pragas do Egito, mas também com as das trombetas. Nas taças, entretanto, não há
o julgamento limitado das trombetas. Nesta segunda taça da ira temos um quadro
de um homem assassinado e ensopando-se em seu próprio sangue. O mar e tudo o
que nele há tornou-se “como um cadáver deitado em seu próprio sangue coagulado”.
Sob a terceira trombeta apenas a terceira parte do mar tornou-se
em sangue (8:8), contudo aqui a destruição não é parcial, mas completa.
Terminados os juízos, sobrarão poucas pessoas para entrarem no milênio.
E por que o mar cobre maior porção da terra, esta praga será largamente
difundida em seu poder de acarretar a morte. Sangue, a marca vívida e terrível
da morte, foi derramado abundantemente pela besta. Mas agora o sangue dos
mártires há de ser vingado. A besta começa a colher o que semeou.
É sangue por sangue! Não há palavras para descrever a condição terrível
das coisas enquanto milhões de criaturas marinhas mortas cobrem a superfície
dos oceanos. O mau cheiro destas carcaças horríveis e putrefatas será grande
demais. Com todos os seres viventes marinhos mortos, quanto de poluição e
doença conterá tal mar de sangue!
A Terceira Taça — Nos Rios (16:4-7)
O terceiro anjo, presidindo sobre as águas, derrama sua taça nos rios e
nas fontes das águas, isto é, as fontes do mar. Todas as fontes de progresso e
bem-estar nacional entram em juízo porque o comércio e a vida, em geral,
dependem dos rios, canais e fontes. Rejeitamos a aplicação inteiramente
simbólica de “rios” como a vida comum da nação caracterizada por princípios
reconhecidos e aceitos de governo, e “fontes das águas” como as fontes de
prosperidade e bem-estar transformadas em sangue (envenenado moralmente).
Sustentamos que o anjo da guarda que controla as águas as poluirá num instante.
Dois anjos aparecem nesta declaração dos juízos justos, recíprocos
e retributivos de Deus. Primeiro, o anjo das águas (16:4) usa a
expressão peculiar da eternidade de Deus—“que és e que eras”. Como o Justo,
Deus não exagera no mínimo grau a medida justa de juízo estrito. Os apóstatas
haviam derramado o sangue dos santos e dos profetas, e agora a
justiça retributiva opera à medida que os assassinos do povo de Deus
são forçados a beber a água tornada em sangue. Recebem terrível condenação. São
dignos de morte medonha, que agora aparece como amostra da segunda morte no
lago do fogo.
Refere-se ao segundo anjo como o anjo do altar (16:7). Mais
corretamente, é o próprio altar que fala. A primeira parte do versículo 7 pode
ser traduzida por “ouvi o altar [personificado], dizendo”. Neste altar, as
orações dos santos são oferecidas a Deus, e debaixo dele encontram-se as almas
dos mártires que clamam por vingança sobre seus inimigos e sobre os inimigos de
Deus. Assim o anjo e o altar, representando o céu inteiro, admitem que os
juízos de Deus são justos e verdadeiros. Todos, dentro do santuário
celeste, estão do lado de Deus à medida que ele age como o grande vingador dos
seus. Os clamores dos altares desde a época de Abel agora serão vingados para
sempre (Mt 23:35).
A Quarta Taça — Sobre o Sol (16:8, 9)
Sob a quarta trombeta escurece-se a terça parte do sol (8:12), mas aqui
o poder abrasador do sol intensifica-se. “Foi-lhe permitido que abrasasse os homens
com fogo.” Esta há de ser a bomba H de Deus. Não interpretamos o sol
simbolicamente nesta passagem (como autoridade suprema governamental
representada pelo mundo romano revivificado), mas como o sol real, de cujo
calor nada pode escapar (Sl 19:1-6). Tendo controle completo sobre suas obras
criadas, Deus intensifica o calor do sol e com isso causa grande morticínio.
Descrevendo o grande e terrível dia do Senhor, o profeta Joel declarou:
O sol e a lua escurecem, e as estrelas retiram o
seu resplendor (Jl 2:10).
Sob a primeira trombeta as árvores e a relva verde foram queimadas, mas
agora Deus aplica sua política da terra abrasada aos corpos dos homens. Podemos
nós imaginar a angústia terrível que as multidões experimentarão ao serem
abrasadas por esse calor intenso? A versão de Almeida traduz bem a ênfase do
grego, ao dizer: “Os homens foram abrasados com grande
calor”—isto é, aqueles homens que em 16:2 são descritos como possuindo a marca
da besta. Assim como aconteceu com as pragas do Egito, aqui também, nestas
pragas do juízo, o povo de Deus fica imune. Assim como os três jovens hebreus
foram preservados na fornalha de fogo, assim também o remanescente será
protegido por Deus (Ap 7:16; Dn 3:27).
E como o coração de Faraó foi endurecido a despeito da amostra do poder
absoluto de Deus sobre sua criação, assim também aqui o sofrimento físico
extremo falha em produzir qualquer mudança de coração: “Não se arrependeram
para lhe darem glória.” Em vez de serem esmagados pelos juízos de Deus e clamar
por misericórdia, estes homens apenas blasfemaram o seu nome. O castigo
merecido engrossa os lábios e endurece o coração; os fogos dos juízos falham em
purificar. Por ser a bondade da graça que leva ao arrependimento (Rm 2:4), os
homens que não são ganhos por meio da graça jamais serão ganhos.
Podemos apenas especular sobre o que poderia ter acontecido se tivesse
havido arrependimento santo da parte destes homens com sua carne em fogo. Teria
Deus, com autoridade sobre as pragas, parado a tempestade de sua ira e uma
vez mais abençoado os arrependidos com seu favor? A tragédia será a falta
absoluta de humildade e pesar da parte do homem pelo pecado. Um juízo duplo
como o calor abrasador e ausência de água potável falhará em produzir qualquer
mudança de coração. Por ser este povo réprobo por completo, Deus os abandonará.
A Quinta Taça — Sobre o Trono da Besta (16:10, 11)
Nesta quinta taça da ira, o juízo se derrama sobre o trono da besta que
foi erigido em imitação arrogante do trono de Deus. O dragão deu seu trono para
a besta (13:2). A obra-prima de Satanás agora é ferida no centro e sede do seu
poder. A besta, uma pessoa real, como instrumento de Satanás, está condenada. E
está claro que os súditos deste reino de imitação, e também seus executivos,
sentem o golpe da vingança divina. William Newell sugere que o trono
da besta será a Babilônia reconstruída no rio Eufrates—a antiga capital de
Satanás na terra de Sinar, onde a maldade deve receber “uma casa” no final
dos tempos (Zc 5:5-11).
Finalmente o desafio ímpio e insolente: “Quem é semelhante à besta? quem
poderá batalhar contra ela?” (13:4) é para sempre respondido. Sob o domínio da
besta, Satanás constrói um vasto império, mas Deus não há de ficar para trás:
fere o reino da besta com a escuridão. Porque amaram mais as trevas do que a
luz, escuridão tão negra como a da praga dos egípcios (Êx 10:21-23) agora
sobrevêm aos seguidores da besta. Esta horrível escuridão sugere as trevas que
devem suportar para sempre.
Tais trevas sem alívio fazem com que os homens mordam de dor as suas
línguas. Este juízo parece acontecer simultaneamente com os efeitos das pragas
anteriores. As dores e chagas da primeira taça tornam-se mais assustadoras
pelas trevas. William Ramsay lembra-nos que a expressão “mordiam de dor
as suas línguas” é única na Bíblia e indica uma agonia mais intensa e
excruciante. Tal ação sugere ira por causa da desilusão de suas esperanças e da
derrocada de seu governante e reino. Planejam vingança mas não a
podem efetuar; daí a sua fúria. Sofrendo angústia mental e física, mordem os
lábios e línguas.
É interessante notar que a parte do corpo com a qual estes rebeldes
pecaram é a mesma que agora sofre a angústia. Blasfemaram o Deus do
céu, Aquele que controla a luz e a escuridão. Juras terríveis procederam de
seus lábios contra o nome de Deus e contra o próprio Deus. Agora estes
blasfemadores mordem as línguas!
Até mesmo o acúmulo de pragas, em vez de mera sucessão,
falha em produzir mudança de coração, pois lemos de novo que não se
arrependeram de seus feitos. Sua vontade está indomada. Não correm lágrimas de
penitência. Abandonados aos seus feitos malignos, golpes ainda mais pesados
devem descer de Deus a fim de quebrar-lhes a vontade obstinada.
Devemos salientar que esta taça da escuridão não deve ser confundida
com o escurecimento dos corpos celestes logo antes da aparição de Cristo
em 19:11-16. O que vemos nesta quinta taça é um dos sinais que nosso
Senhor deu em sua descrição do período da Tribulação (Lc 21:8-38). Para o
remanescente na terra haverá luz bastante, assim como Israel teve luz em suas
habitações durante as pragas egípcias.
coment. Normam R. Champlin, novo testamento
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PAZ DO SENHOR
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