Chegamos agora a dois capítulos de espanto excepcional. Tendo examinado
os instigadores da horrível iniquidade da terra, passamos agora ao juízo
terrível das taças. Castigos severos e finais estão prestes a ser infligidos em
sucessão aguda e rápida. Assim como o pecado alcançou seu clímax com o homem da
iniquidade como já vimos em ebdareiabranca, também agora os juízos de Deus
hão de cair do Deus do juízo sobre uma terra culpada. Nos capítulos que agora
examinamos temos detalhes concernentes aos juízos de Deus que precedem seu
grande dia de ira. Como veremos, o derramar da sétima taça completa a
ira de Deus.
O preparo (15:1-8).
1. Vi no céu outro sinal grande e admirável, sete anjos tendo os
sete últimos flagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus. A
palavra traduzida “sinal” significa milagre ou aparição maravilhosa, como
em 12:1,3. Com o simbolismo das sete trombetas João retratou uma série de
castigos divinos, na forma de pragas e tormentos, para acordar a humanidade
para a verdadeira realidade de Deus. Esta série agora alcança seu clímax; com
os flagelos das sete taças, Deus terá derramado totalmente sua cólera no
contexto particular das pragas que antecipam o julgamento final. O
significado destas palavras não é que a ira de Deus acabou; a besta, o falso
profeta e todos os que persistirem na maldade ainda serão lançados no lago de
fogo, na manifestação derradeira da cólera de Deus contra o pecado. Temos de
tomar estas palavras em seu contexto escatológico particular: a cólera de Deus
durante a grande tribulação é uma tentativa de fazer com que os adoradores da
besta se inclinem diante da soberania de Deus.
2. Vi como que um mar de vidro, mesclado de fogo, e os
vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome. Instantes
antes das últimas pragas João tem uma visão proléptica dos que venceram a
besta. Estes são os santos-mártires mortos pela besta por sua perseverança sob
perseguição, sua obediência firme aos mandamentos de Deus e sua fé em Jesus
(14:12). Eles venceram a besta por meio do seu martírio, pois nem na morte eles
negaram o nome de Jesus. Recusaram adorar a besta, inclinar-se diante da sua
imagem (13:15), e receber o número do seu nome. Apesar de a besta tê-los morto,
foram eles que a venceram, permanecendo fiéis a Jesus; frustraram o propósito
dela. Temos de presumir que a perseguição dos santos pela besta
continua durante o período dos sete flagelos.
Não há razão suficientemente forte para não interpretarmos o mar de
vidro como sendo aquele que estava diante do trono de Deus (4:6). O pensamento
central deste simbolismo é que estes vencedores da besta estão diante do
trono, na presença de Deus. A besta pensou que os venceria matando-os; mas sua
morte somente os transportou da terra para o céu. A vitória
final foi deles. O mar de vidro mesclado com fogo provavelmente é um
símbolo de que este período é de julgamento dos que vivem na terra; pode também
se referir à perseguição sangrenta pela qual os vencedores passaram. As harpas
de Deus que eles tinham em suas mãos são outro símbolo da sua vitória. Harpas
expressam louvor e adoração a Deus (5:8; 14:2); os vencedores expressam sua
alegria pela vitória cantando hinos de louvor.
3. E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do
Cordeiro. Os exegetas estão discutindo se isto quer dizer que eles
estão cantando dois cânticos ou somente um. Gramaticalmente parece que eles
estão cantando dois: um de Moisés e outro do Cordeiro. Pelo contexto a ideia é
que os vencedores cantam um hino de triunfo, que tanto os santos do Antigo
Testamento como os do Novo sabiam cantar, porque todos cantam da libertação
pelo mesmo Deus. Talvez o cântico de Moisés seja o da libertação do Êxodo,
quando os israelitas louvaram a Deus por tê-los tirado do Egito. O cântico do
Cordeiro, no contexto, não é um hino de salvação pessoal; é um hino pela libertação
do ódio e da hostilidade da besta. Da mesma maneira como Deus libertou Israel
do Egito, mesmo derramando pragas sobre os egípcios, ele também libertou os
santos de adorar a besta, derramando seus juízos sobre os que a adoram.
O hino não fala de redenção espiritual, mas exalta os poderosos feitos
de Deus. Isto forçosamente inclui os meios que Deus usa para manifestar sua
cólera contra os que perseguiram os santos. O hino está quase totalmente
expresso em linguagem do Antigo Testamento, porque Deus é o Deus que liberta o
seu povo. Suas obras são grandes e admiráveis (veja Sl 92:5; 111:2; 139:14).
Ele é o Senhor Deus, Todo-poderoso, à luz de quem os poderes da besta têm
limites. Seus caminhos, mesmo permitindo que os santos sofram, são justos e
verdadeiros. Ele é realmente o Rei das nações. A versão “Rei dos santos”
(ARC), é de um texto grego mais recente e não tem muito apoio. Outra
versão possível é “Rei dos séculos” (IBB). Neste tempo de grande tribulação,
quando parece que a besta tem poder ilimitado para executar seus propósitos
demoníacos contra os homens e perseguir os santos — na hora mais escura da
história da humanidade, quando parece mesmo que Satanás é o deus deste século
(2 Co 4:4), os mártires cantam um hino de louvor a Deus, reconhecendo que
ele é o Deus vivo e verdadeiro. Eles exaltam o nome de Deus porque, ao
contrário de evidências externas, ele é de fato o Rei, de todas as nações e
todas as épocas, inclusive durante o tempo de martírio. Este hino é uma das
expressões de fé mais comoventes de toda a literatura bíblica.
4. Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó
Senhor? pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e
adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos. Fora
do contexto estas palavras podem ser interpretadas no sentido de salvação de
todas as nações. Nas cartas de Paulo também há trechos correspondentes que soam
a salvação universal, tirados do contexto. É plano de Deus “fazer convergir
nele todas as coisas” (Ef 1:10). “Para que ao nome de Jesus se dobre todo
joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus
Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2:10-11). E “por meio dele
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas que sobre a terra, quer nos céus”
(Cl 1:20). Afirmações como estas, porém, devem ser compreendidas dentro do
plano bíblico. A Bíblia está sempre olhando no futuro para um dia em que Deus
reinará na terra, cercado somente pelos que têm seu prazer em adorá-lo. “Todas
as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti, Senhor, e
glorificarão o teu nome” (Sl 86:9). “Irão muitas nações, e dirão: Vinde, e
subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó. ...Ele julgará entre os
povos” (Is 2:3-4; cf. 66:23). “Desde o nascente do sol até ao poente é grande
entre as nações o meu nome” (Ml 1:11). É esta a meta do Apocalipse:
estabelecer uma cidade onde todas as nações encontrarão cura (22:2). Isto
não significa salvação universal: somente que o Reino de Deus será constituído
de uma união de pessoas de todas as nações, que alegremente se entregam para
adorar e cultuar a Deus.
É digno de nota que os mártires não cantam de si mesmos nem de como
venceram a besta: eles estão ocupados totalmente com a soberania, além
disto não há nenhum vestígio de vingança pessoal contra os inimigos que
são atingidos pelo castigo divino.
Os atos de justiça que se fizeram manifestos são as sentenças judiciais
de Deus em relação às nações, de misericórdia ou de condenação. Para Babilônia
e seus habitantes que adoram a besta elas significam ira de Deus; mas as
pessoas reconhecerão que “verdadeiros e justos são os teus juízos” (16:7).
5. Depois destas coisas olhei, e abriu-se no céu o santuário do
tabernáculo do testemunho. As sete últimas pragas estão por começar, e
são retratadas pelo esvaziar de sete taças que estão na mão de sete anjos que
vêm da presença de Deus. O santuário de Deus já apareceu algumas vezes no
Apocalipse. João viu, em uma visão proléptica, o santuário de Deus no céu
aberto, com a arca da aliança (11:19). Isto foi para lembrá-lo da fidelidade
de Deus às promessas de sua aliança. Aqui a fidelidade de Deus também exige o
julgamento do mal.
Este versículo mistura duas referências históricas: a tenda do
testemunho, no deserto, e o templo que mais tarde foi construído em Jerusalém.
O tabernáculo no deserto era chamado de “tabernáculo do testemunho”
(Êx 38:21; Nm 10:11, 17:7; At 7:44). Ele se tornou modelo para o templo,
quando este foi construído em Jerusalém, e o templo, por sua vez, foi usado
como modelo para a habitação de Deus no céu.
6. E os sete anjos que tinham os sete flagelos saíram do
santuário, vestidos de linho puro e resplandecente, e cingidos ao peito com
cintas de ouro. Geralmente João não descreve a aparência dos muitos
anjos que aparecem em seu drama escatológico. A vestimenta destes anjos tem o
objetivo de destacar o esplendor destes seres celestiais. Não há razão para
pensar que as cintas de ouro indicam funções sacerdotais.
7. Então um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete
taças de ouro, cheias de cólera de Deus. Os quatro seres viventes
estavam perto do trono de Deus (4:6); isto é a maneira simbólica de dizer que
os sete flagelos estavam integralmente autorizados por Deus. Taça era um prato
raso usado para beber e derramar libações. A mesma palavra é usada para as
taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, nas mãos dos
vinte e quatro anciãos (5:8). Pode haver aqui uma alusão deliberada às taças
que contêm o incenso da oração. As orações dos santos têm a função de trazer
sobre o mundo a manifestação derradeira da justiça e da ira de Deus. A ênfase
na eternidade de Deus — aquele que vive pelos séculos dos séculos — lembra que,
apesar de parecer que o mal domina os acontecimentos da história humana, Deus é
eterno e ninguém pode se interpor aos seus planos, nem mesmo a maldade satânica
e demoníaca.
8. O santuário se encheu de fumaça, procedente da glória de
Deus e do seu poder, e ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não
se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos. No Antigo Testamento
quando Deus se manifestava aos homens ele costumava aparecer em uma glória tal
que ninguém podia ficar de pé diante dele. “Moisés não podia entrar na tenda da
congregação, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor enchia o
tabernáculo” (Êx 40:35). Os sacerdotes não conseguiram entrar no templo de
Salomão quando este foi dedicado, porque a glória da presença divina enchia a
casa (1 Rs 8:10). Quando Isaías teve a visão de Deus no templo, cercado de
serafins, os fundamentos da construção tremeram à voz divina e o Santuário se
encheu de fumaça (Is 6:4). Ezequiel caiu sobre sua face quando teve a visão do
templo cheio da glória do Senhor (Ez 44:4). A ênfase não é tanto sobre a
impossibilidade de se aproximar de Deus, mas sobre sua majestade e sua glória,
em comparação com tudo que é humano e mundano.
Há certas semelhanças entre as pragas trazidas pelas sete taças e as
trazidas pelas sete trombetas, e ambas as séries têm semelhanças com as
pragas do Egito. As pragas das sete taças, no entanto, são bem mais intensas e
devastadoras. As pragas das primeiras quatro trombetas atingem primeiramente o
ambiente do homem e não tanto a este próprio, mas o primeiro flagelo atinge os
homens diretamente. Temos de ver estas pragas no contexto da luta titânica
entre o Reino de Deus e o reino de Satanás, retratada com traços tão vívidos no
capítulo 12. Estas pragas não são a expressão da ira divina contra o pecado em
geral, mas são o castigo por más ações individuais. A ira de Deus é
derramada sobre aquele que quer frustrar o plano divino para o mundo — a besta
— e sobre os que são leais a ela.
Entre os primeiros seis selos e o sétimo houve um interlúdio, e também
entre as seis primeiras trombetas e a sétima. Nesta terceira série não há
interrupção; o sétimo flagelo é a destruição de Babilônia, que veremos na
próxima lição — a capital do império do Anticristo. O que o sétimo flagelo
anuncia é descrito em detalhes nos dois capítulos seguintes. Estes flagelos são
a resposta de Deus ao último e maior esforço de Satanás para derrubar o governo
divino.
Então começa a ira do Cordeiro.
A ira de Deus
Sete anjos e sete pragas formam os meios de expressão da ira de Deus. A
expressão “ira de Deus” ocorre seis vezes no Apocalipse (14:10, 19; 15:1, 7;
16:1, 19), é deveras medonha e devia infundir terror nos corações de todos os
não-salvos da terra.
“Sete anjos” (distintos dos sete anjos altamente honrados e relacionados
com as trombetas) saem do santuário (15:6), a residência imediata de Deus e dos
anjos. Do santuário de outrora saíram os sacerdotes como ministros da graça.
Agora os anjos emergem dele como ministros do juízo.
O tabernáculo do testemunho é uma frase sugestiva. Para Israel este era
o símbolo da presença de Deus e de sua provisão para seu povo. Agora, porém, a
santidade de Deus exige castigo do ímpio, e portanto, temos as
“testemunhas” do juízo, segundo a natureza de Deus contra a besta e contra
todos os inimigos de seu povo. David Brown diz: “Aqui entra em campo, de
maneira adequada, o tabernáculo do testemunho, onde a fidelidade de Deus vinga
seu povo com juízos sobre seus inimigos; juízos que estão prestes a se
desencadear. Precisamos dar uma olhada no Santo dos Santos a fim de compreender
a mola secreta e o fim do trato justo de Deus.”
Estes sete anjos estão vestidos de maneira condizente com o caráter
justo de sua missão, e também de maneira que se parece com o Senhor (1:13).
Comparando com 19:8 descobrimos que o linho puro indica justiça, enquanto os
cintos de ouro, à altura do peito, (não na cintura) sugerem a obra do juízo
compatível com a natureza santa de Deus.
As “sete últimas pragas” sugerem finalidade e término, e assim a
aparição do número sete é especialmente adequada. Chegamos ao
ciclo final da visitação do juízo. É claro que as taças não trazem o fim da ira
divina, como já vimos em ebdareiabranca, uma vez que mais ataques de
vinganças devem ocorrer quando Cristo vier em pessoa (19:11-21). O que temos a
esta altura é a conclusão dos juízos providenciais de Deus. Estas taças estão
“cheias da ira de Deus”. “Cheias” significa terminado ou consumado. Para Deus o
futuro é tão certo como se fosse passado, cuja realização é tão segura como a
sua Palavra.
As Harpas de Deus
Este prefácio aos últimos juízos devastadores de Deus inclui uma linda
descrição dos mártires vitoriosos que estão com o Senhor. O parágrafo de 15:2 a
15:4 é tomado de vitória, louvor e adoração.
Louvores corais celestes são representados pela harpa, que com sua combinação
de notas solenes e grandes, acordes suaves e ternos indica o louvor e a
adoração de Deus (1 Cr 25:6). As harpas de Deus (significando que os
instrumentos, músicos e tema são dele) eram partes dos instrumentos
do céu, usados somente para o louvor de Deus. Parece que os dois grupos
celestes de cantores e harpistas mencionados em Apocalipse 14:2 e 15:2
representam a mesma hoste vitoriosa.
O palco no qual os harpistas se encontram é comparado a um mar de
vidro misturado com fogo. No mar de vidro Walter Scott vê um estado fixo de
santidade, de pureza interior e exterior. O mar sugere vastidão e
vidro sugere calma sólida ou paz assentada e quieta.Diz Wordsworth:
“Um mar de vidro [expressa] suavidade e brilho; e este mar celeste é de
cristal (4:6), declarando que a calma do céu não é como a dos mares terrenos,
perturbada por ventos, mas cristalizada numa eternidade de paz.” Apresentada
como se estivesse em pé sobre o mar de vidro, a companhia de mártires chegou ao
seu descanso e também a esta nova posição como adoradores que venceram.
O mar de vidro misturado com fogo introduz outro
elemento. Estes santos emergiram vitoriosos de sua tribulação de fogo. Temos
três inimigos a enfrentar: o mundo, a carne e o diabo, mas os cantores tinham
um quarto inimigo a derrotar: a besta. Foi alcançada a vitória sobre a besta,
sobre sua imagem, sobre sua marca e sobre “o número do seu nome”, e agora eles
triunfam por causa de uma vitória total e completa.
O cântico que acompanha as harpas tem o som de um grande poema. E um
cântico de vitória como o de Moisés depois de atravessar o mar Vermelho. Dois
cânticos são combinados: o cântico de Moisés, servo de Deus,
e o cântico do Cordeiro. O cântico de Moisés é o triunfo sobre
o mal pelos juízos de Deus. É um cântico que celebra a derrota de Faraó e de
suas hostes no mar Vermelho (Êx 15). (Este cântico mosaico não deve ser
confundido com o cântico profético de Deuteronômio 32:1- 44.) O cântico de
Moisés, magnífico como é, celebra apenas a redenção terrestre. A
graça e glória do cântico que foi apresentado à margem leste do mar Vermelho
eram associadas com o poder sobre os inimigos de Israel no Egito, pelos juízos
de Deus.
O cântico do Cordeiro, entretanto, possui natureza diversa. Este
cântico, dirigido pelo Cordeiro como Capitão de nossa salvação, implica a
exaltação do Messias rejeitado, daquele que sofre. Cantado pelo remanescente
fiel que morreu dentre o Israel infiel e apóstata, este cântico dos sofredores
vitoriosos no céu celebra a Deus e ao Cordeiro.
Ao examinarmos os assuntos deste cântico duplo encontramos Deus exaltado
de várias maneiras. Primeiramente, louvam-se as suasobras. A frase
“grandes e admiráveis” é repetida em 15:1, 3, indicando a vingança da
justiça de Deus, de modo que possa ser glorificado no grande final de suas
lides. No título divino combinado Senhor Deus Todo-poderoso temos
um vasto reservatório de poder—consolo para os santos e presságio para os
inimigos de Deus.
Os caminhos de Deus são exaltados como “justos e
verdadeiros”. Ao castigar seus inimigos Deus agirá em harmonia com
seu próprio caráter. Este juízo imparcial será distribuído pelo “Rei dos
séculos”. O ponto em questão da controvérsia do Senhor com a
terra é se ele ou o homem de Satanás, a besta, é o rei das nações. Na
véspera de as taças descerem sobre o reino da besta, os cantores vitoriosos
saúdam o Senhor como o verdadeiro Rei das nações.
A adoração de Deus também contribui para este cântico
admirável. Dão-se as razões pelas quais o Senhor deve ser glorificado: “Pois
só tu és santo!”
Os cantores sobre o mar de vidro celebram a santidade de Deus. Eles o
temem e glorificam-no como o único digno de ser chamado santo. A besta
colocou-se como Deus, mas o coro vitorioso escolheu a santidade em face de um
mundo tomado pelo pecado e agora está onde reina toda a santidade verdadeira.
“Por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti.” Os juízos de Deus infundirão temor em seus
inimigos. Antecipando o domínio universal do Senhor, os santos celebram o
reconhecimento mundial de sua supremacia. Vemos aqui o cumprimento de
profecias tais como o Salmo 148; Isaías 2:2-4; 56:6, 7; Zacarias 14:16,
17.
“Porque os teus juízos são manifestos!” O plural, juízos, indica a
manifestação dos atos justos do julgamento. E por ser ele justo ainda quando
dispensa julgamento e vingança, deve ser glorificado. Estas são deveras
palavras lindas que vêm dos que passaram pelos horrores do tormento da besta.
Comentando esta cena única, F. B. Meyer diz: “Os que foram criados na
dispensação de Moisés e os seguidores do Cordeiro na presente dispensação,
juntos com todas as almas dos santos que venceram, constituirão um vasto coro.
Contudo, por mais que se examine o cântico de Moisés, não se conseguirá
encontrar uma nota que iguale a este em sublimidade. Aqui estão os santos de
Deus, treinados para distinguir as belezas do governo e comportamento justo e
santo, capacitados do seu ponto de vantagem na eternidade a examinar a história
inteira das lides divinas, adorando-o como Rei dos séculos, e reconhecendo que
todos os seus caminhos foram justos e verdadeiros. Que confissão! Que
reconhecimento!”
A Glória de Deus
A seção final deste notável capítulo (15:5-8) é também introduzida por
outro “eis” (omitido em várias versões). Este parágrafo se inicia com a
habitação de Deus e se encerra com a glória divina. Visto como tudo no
parágrafo está ligado com a glória de Deus, examinemos estes versículos com
essa ideia em mente.
William Newell argumenta a favor de um santuário literal de
Deus no céu, mas achamos que a palavra “santuário” é usada pelo que representa
simbolicamente—a saber, habitação de Deus, onde pode ser encontrado e adorado.
Do santuário saem os sete anjos com as sete pragas, que representam a visitação
final de Deus de juízos sobre as nações.
A apresentação das taças aos anjos por um dos seres viventes indica que
esses seres viventes são os executores do governo judicial de Deus. Sendo
“cheios de olhos”, esses seres dignificados compreendem profundamente os
propósitos de Deus, e portanto, apresentam aos anjos acontecimentos
horríveis. Já foi salientado haver três passos na obra do juízo de Deus:
1. Os anjos são comissionados e
equipados no santuário (15:6).
2. Os anjos recebem as taças de ouro
cheias da ira de Deus de um dos seres viventes (15:7).
3. Os anjos não podem dar um passo no
ato do juízo até que Deus, com autoridade, dê a ordem (16:1).
Tudo isto sugere que as obras e caminhos de Deus ainda no juízo são
calmos e medidos. E isto é o que esperaríamos daquele que “vive pelos séculos
dos séculos”. É o Deus eterno que está prestes a lançar praga
sobre a terra culpada, devastando-a com sua fúria. Nunca nos devemos esquecer
de que ele é glorificado tanto no juízo como na graça.
Antes de deixarmos este capítulo preparatório somos apresentados à nuvem
de fumaça de Deus que cobre tudo no santuário por um pouco de tempo. A fumaça,
é claro, simboliza a presença de Deus (Êx 19:18; Is 6:4). Ninguém podia
entrar no santuário por causa da presença de Deus manifestada em glória e poder
durante a execução dos juízos das taças. Fumaça da glória e poder de Deus
enchia o santuário. Moisés não podia entrar na tenda do testemunho (nem os
sacerdotes entrar no santuário) por causa da glória do Senhor (Êx40:34,
35; 1 Rs 8:10, 11). O que temos aqui não é a glória em si mas a fumaça da
glória de Deus. Não é o incenso que enche o santuário, mas fumaça, que é a
glória de Deus manifestada em juízo. Certamente que há uma finalidade nesta
cena toda que nos enche os corações do mais intenso assombro! Deus está prestes
a lidar com os rebeldes da terra.
O versículo que abre o capítulo 16 é rico em significação. Primeiro
temos “vinda do santuário, uma grande voz”, que tem sido interpretada de
várias maneiras. É possível que se refira à voz de Deus, uma vez que agora
chegamos às taças da sua ira. Cristo não é mencionado até que Deus,
pessoalmente, execute o juízo. Como já sugerimos, o Apocalipse é o livro
da voz, e sempre que se encontra a palavra “voz”,
subentende-se uma compreensão inteligente do assunto em questão. Lemos de uma
grande voz, de uma alta voz e de uma forte voz. Tais adjetivos descrevem o
caráter da voz e também a natureza do anúncio.
Aqui, a grande voz sai do santuário, vinda do Santo dos Santos. Por
exigir a santidade de Deus o juízo sobre um mundo apóstata, a ira de Deus
queima com ardor feroz: “Ide. . . derramai sobre a terra as sete taças da
ira de Deus.” Foi dada a Cristo uma ordem diferente ao se preparar para deixar
os seus: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda a criatura.” Mas
agora a graça é retirada. Já não é a taça da salvação mas a taça da
ira de Deus.
O Pentecoste testemunhou o derramamento do Espírito e com tal
efusão houve a manifestação de uma bênção. Mas agora chegamos a outro
derramamento: fúria sem mistura está prestes a descer sobre a terra. A
plenitude da ira divina é esvaziada em cada taça, que por sua vez é derramada
sobre um mundo culpado. A oração do remanescente judaico sofredor é respondida
nas terríveis sete pragas prestes a cair: “E aos nossos vizinhos, deita-lhes no
regaço, setuplicadamente, a injúria com que
te injuriaram, Senhor” (Sl 79:12).
Temos, nas taças de ouro, um pouco mais de vislumbre da ira de
Deus. A palavra para “taças” é “tigelas” ou “copos” e representa os vasos de
boca larga usados no santuário, e que eram cheios de incenso aromático. Agora
os vasos, santificados pelo uso do templo e serviço, estão cheios da ira justa
de Deus e estão destinados ao juízo. E a largura da boca dos vasos tenderia a
fazer com que seu conteúdo fosse derramado de uma só vez, implicando
a rapidez avassaladora dos ais.
Desta ira dupla, diz William Newell: “Lembre-se constantemente que
o próprio Cristo deve vir, afinal, e pisar o lagar sozinho em sua ira (Is
63:3-5). A ira de Deus é geral, mundial e à vista da iniquidade e idolatria do
homem. A ira do Cordeiro é particular, contra o anticristo e seu rei, e contra
os exércitos unidos com o duplo propósito de impedir Israel de ser uma nação
(Sl 83:4) e de determinar guerra contra o Cordeiro (Ap 19:9; Zc 12:10) a
fim de impedir que ele resgate o Israel sitiado.”
Estes dois capítulos devem ser estudados em conjunto porque provêm
detalhes para o que se afirma em termos gerais nas palavras de abertura
de 11:18: “Iraram-se, na verdade, as nações; então veio a tua ira e o
tempo de serem julgados os mortos. . .” no capítulo 15 são-nos dadas as
preparações para as taças e no capítulo 16 a execução delas.
O sinal ou maravilha do capítulo 15 estende-se até o final do capítulo
16. De fato, 15:1 é resumo de tudo o que se segue. Os anjos, na realidade, não
recebem as taças até 15:7, mas no versículo inicial são vistos, por
antecipação, como já as possuindo. Neste grande e maravilhoso sinal que João
viu temos a finalização de um trio de sinais. O “grande sinal” da mulher
(Israel) é apresentado em 12:1. “Outro sinal”, do dragão, o antagonista de
Cristo e seus conselhos, é apresentado em 12:3. E aqui temos “no céu
ainda outro sinal, grande e admirável”. Os três sinais são vistos no céu, o
lugar da habitação imediata de Deus. O terceiro sinal (mais solene do que os
dois primeiros por causa de sua associação com a ira de Deus sobre a besta) é
“grande” em que algo de importância enorme deve ser revelado. “Admirável”
indica que a paciência divina se esgotou, e que a visitação
terrível do juízo divino está prestes a sobrevir aos apóstatas da
terra.
Parece que o conteúdo do capítulo 15 gira em torno de três frases de
peso: a ira de Deus (15:1, 7), as harpas de Deus (15:2)
e a glória de Deus (15:8).
fonte comentario Normam R. Champlin, novo testamento
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