SUBSIDIO JUVENIS N.5 LIÇÃO
MUSICA NO CULTO CRISTÃO
Nossas vidas estão
repletas de oportunidades para um contato íntimo com Deus. A natureza, com suas
diversas manifestações de maravilha, o desenrolar concatenado dos planos
divinos, ou mesmo a Bíblia, são meios pelos quais podemos ouvir a voz de Deus e
cultivar aquela partícula divina que nos foi dada na criação do mundo.
Os salmistas,
particularmente Davi, tiveram profundas experiências do amor de Deus, e o culto
que suas almas prestaram a Ele ainda serve de exortação aos crentes, por meio
do livro dos Salmos que eles nos deixaram. Foi movido por esse sentimento
espontâneo de louvor e gratidão a Deus que os fiéis do passado se reuniam para,
juntos, expressarem seus louvores, contarem uns aos outros as maravilhas
divinas, e exaltarem esse grande Benfeitor. Mais tarde esse reconhecimento a
Deus pela sua bondade e o engrandecimento do seu nome foi deixando de ser
espontâneo e foi tomando formas mais definidas e formais. Com o desenvolvimento
da música, a mesma passou a ter um papel importante nas formas de expressão pelas
quais os fiéis, de maneira mais organizada, exprimem seus louvores e suas ações
de graças.
Ainda é atual, porém, e
sempre será, a exortação do salmista, que nos convida a expressar de maneira
audível o nosso júbilo ante a contemplação das obras de Deus, das maravilhas da
sua palavra, e dos planos incompreensíveis, mas maravilhosos, que Ele coordena.
É muito importante também que cantemos bem e com inteligência, pois é o
salmista mesmo que nos diz: “Posto que Deus é o Rei de toda a terra, cantai
louvores com inteligência” (Salmo 47:7) e, também: “Cantai-lhe um cântico novo;
tocai bem e com júbilo” (Salmo 33:3).
Falando-se de modo geral,
a música, como as demais artes, possui algo de espiritual, abstrato e elevado,
o que a faz quase que sacra e religiosa per se. A música deve ser cultivada
porque é um dom divino e nos ajuda a perceber as atmosferas espirituais. Foi
por isso que Charles Landon assim se expressou: “A música é o melhor dom de
Deus ao homem, a única arte do céu dada à terra, e a única arte da terra que
levaremos ao céu. Mas a música, como todos os nossos dons, nos é dada em germe.
Cabe a nós desenvolvê-lo e desdobrá-lo pelo cultivo e pelo estudo.”
Mesmo Lutero, o grande
reformador, como grande músico que era, fez muito pelo pelo restabelecimento do
canto congregacional e, assim, se expressou com referência à música: a música é
uma linda e gloriosa dádiva de Deus, tão elevada quanto a teologia. Esta bela
arte deve ser ensinada diligentemente e continuamente aos meninos e meninas,
porque ela realiza um serviço importante fazendo deles pessoas hábeis e
polidas. A música é capaz de tornar as pessoas mais modestas, gentis e
razoáveis. A música é uma arte suprema porque as notas dão vida ao texto. Ela
afugenta o espirito de tristeza, os pesares e a aflição.
Joseph Ashton, no seu
famoso livro “A Música no Culto”, deixa bem claro o propósito da música no
culto. Assim se expressa ele: O propósito da música é animar e nutrir a nossa
vida religiosa. Ela não deve chamar atenção a si mesma, mas, sim, ao texto.
Santo Agostinho, já no ano 394 AD, se preocupava com a importância do texto e
escreveu o seguinte: “Quando acontece que sou movido mais com a voz do que com
as palavras que canto, confesso que peco”.
João Wesley, o fundador
do Metodismo, com seus irmãos Carlos e Samuel, muito fez pelo desenvolvimento
da música sacra. Carlos Wesley escreveu mais de 6.500 hinos, mais de 4.000
tendo sido publicados. O próprio João Wesley nos deixou uma lista de
observações que devem sempre ser relembradas quanto ao uso dos hinos:
1 – Aprenda a música.
2 – Cante os hinos como
estão escritos.
3 – Cante o hino inteiro.
Se isso for uma cruz, tome-a e a achará uma bênção.
4 – Cante vigorosamente e
com animação.
5 – Cante modestamente e
não grite.
6 – Cante no compasso
certo, não corra adiante e nem fique atrás.
7 – Acima de tudo, cante
espiritualmente.
Em cada palavra que
cantar tenha Deus em sua mente. Procure agradar mais a Deus que a si próprio ou
a outra criatura qualquer. Para isto, preste atenção cuidadosa no sentido do
que está cantando e tenha certeza de que seu coração não está sendo levado pela
beleza do som que está produzindo, mas, sim, que o seu canto seja uma oferta
contínua a Deus.
Nem sempre a beleza da
música sacra corresponde ao seu valor genuíno. É Ashton quem ainda afirma: “O
valor da música sacra não está baseado na gratificação estética, ou na beleza
que ela oferece”, e, mais além, continua: “Beleza não é a coisa principal;
porém, deve-se procurá-la, quando for apropriada.”
Vamos ser bem cuidadosos
a respeito da música que usamos em nossos cultos. Há uma grande tendência em
nossas igrejas de fazer do coro, ou da música em geral, um elemento de
recreação e deleite aos ouvidos. No entanto, o que é mais importante é o que
por ela expressamos, a mensagem que ela traz, ou a reverência que cria.
Quanto à reverência,
também, temos muito que melhorar aqui no Brasil. É inestimável o valor do
silêncio na Casa do Senhor. Pelo menos três dos profetas menores nos exortam a
silenciar diante de Deus e da sua tremenda majestade: “O Senhor está em seu
Santo templo: cale-se diante dele toda a terra” (Hab.2:20 e também Sof. 1:7;
Zac. 2:13.)
Muitas vezes reclamamos
que o culto foi vazio e que dele pouco aproveitamos, mas mal sabemos que a
falta é inteiramente nossa, se nada contribuímos para que a atmosfera do mesmo
fosse de verdadeira adoração e reverência. Mesmo que não sintamos o espirito de
reverência, não temos direito algum de prejudicar ou interferir na comunhão que
outros estão obtendo com Deus. Na solidão podemos muitas vezes sentir Deus bem
perto, mas, quando o conseguimos numa reunião coletiva, alcançamos uma experiência
rara em nossa vida, e nos sentimos mutuamente ligados uns aos outros e a Deus
pelos laços de amor cristão. Tal experiência comum do contato das almas com
Deus vale mais do que muitos sermões, se for adquirida num ambiente
convenientemente espiritual.
Há muitos fatores em um
culto que são constantes tentações para impedir o nosso contato com Deus. É por
isso que as partes técnicas do culto devem ser muito bem preparadas, as
leituras estudadas, os hinos escolhidos apropriadamente, as orações previamente
solicitadas e as seqüências das diferentes partes bem organizadas. Qualquer
parte do culto que chame a atenção para si mesma em vez do todo dificulta e
pode servir de empecilho ao propósito do culto, que é Deus.
A música, a poesia, as
figuras de linguagem ou mesmo a arquitetura do templo, se forem usadas como
atração ou mera satisfação intelectual, não se ajustam em um culto a Deus. Se,
porém, essas artes estiverem enraizadas no sentido religioso e forem usadas
como ajuda direta da expressão religiosa, ou para associações também idênticas,
elas serão instrumentos incomparáveis em nossas mãos, para servir de elo entre
nós e Deus.
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