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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Prevenção contra falsas doutrinas (2)



  A Heresia Colossenses




O erro que perturbava Colossos envol­veu amplamente elementos judeus e pagãos. Sem dúvida, os elementos judai­cos eram a ênfase aos sábados, à circuncisão, à lei, e, provavelmente, as referências à observância de festivais e dias santos e luas novas; 3:11 e 4:11 também parecem pressupor uma fonte judaica de desacordo.
Indubitavelmente, os elementos pa­gãos incluíam uma "filosofia" que de­pendia de métodos plausíveis de racio­cínio que se baseavam na tradição hu­mana, em vez de numa demonstração lógica e revelação. A adoração de anjos (diferente da crença neles, como se apre­senta em Jubileus, Tobias e Ascensão de Isaías), provavelmente, expressa o temor pagão, disseminado, de seres celestiais, espíritos elementares do universo. De certa forma, o sol, a lua e as estrelas eram corporificações materiais desses elementos, desses seres. Governando a terra, eles podiam ser aplacados, espe­cialmente em suas épocas indicadas, por humilhação e devoções rigorosas.
A proibição de certos alimentos podia ser uma característica judaica, mas a referência à bebida e à sua associação com repressão ascética do corpo sugere um dualismo pagão, como também o fazem expressões como "herança na luz", "domínio das trevas" e "reino do Filho". A ênfase das visões também podia ser judaica (v.g., o livro de Enoque); mas aqueles de quem os heréticos se jactavam (2:18) eram essencialmente sensuais, não espirituais, e pareciam expressar significados ocultos que pre­cisavam de interpretação. Isto faz lem­brar as revelações dadas em transe, e prometidas nas seitas pagas.
A ênfase dada pelos heréticos à sabe­doria assemelha-se a Provérbios, Sabe­doria de Salomão e Siraque; mas o seu exclusivismo (contraditado em 1:26 e ss.; 3:11) e as expressões de menosprezo em 2:4,8 sugerem, pelo contrário, um intelectualismo gnóstico.
O gnosticismo era um clima de pensa­mento tão disseminado quanto a teoria evolucionária o é hoje em dia. Provavel­mente, ele assumiu proeminência no primeiro século, ou antes, e alcançou o seu zênite no segundo século. Combinava especulação filosófica, superstição, ritos; semi-mágicos e algumas vezes um culto fanático e até obsceno. As idéias mais comuns às suas muitas formas são: salvação mediante o conhecimento (gnosis) — os iluminados são "cristãos avança­dos"; dualismo — tudo o que é espiri­tual é por natureza puro, tudo o que é material é por natureza irremediavel­mente mau, inclusive o mundo e o corpo. Portanto, Deus está longe; a brecha entre ele e o mundo é preenchida por uma cadeia de seres de espiritualidade descendente. O corpo, túmulo do espírito, pode ser rigorosamente suprimido ou deixado à vontade indulgentemente, como irrelevante para a vida do espírito puro.
Sendo extremamente intelectualista, e, portanto, individualista, o gnosticismo cultivou uma elite iluminada, para quem somente a salvação era possível, e des­prezava todas as outras pessoas. O antigo gnosticismo reinterpretou o cristianismo e procurou "melhorá-lo", oferecendo-se para tornar os crentes "perfeitos"; mais tarde, o mais amargo antagonismo se desenvolveu.
Indícios adicionais de idéias gnósticas como estas, em Colossos, são achadas em expressões que deviam tornar-se "pala­vras-chave" de sistemas gnósticos poste­riores: o "segredo" ou "mistério", a "plenitude", conhecimento (cinco vezes), e duas ou três outras. As negações gnós­ticas da plena encarnação da divindade em Jesus encontra veemente réplica nos capítulos 1 e 2. Quaisquer sinais de "indiferentismo moral" gnóstico seria bem respondido pelo conselho abrupto de 3:5ess.
Mas o fato de que elementos judaicos e gnósticos devessem aparecer interli­gados em uma única heresia (veja 2:14 e s.) tem constituído assunto para debate durante um século. Porque o gnosticismo a respeito do qual mais informações temos data do segundo sé­culo d.C, e era antijudaico, enquanto o judaísmo ortodoxo resistia veemente­mente a toda a transigência em relação ao paganismo.
Portanto, algumas pessoas negam que haja em Colossenses qualquer referência ao gnosticismo, dizendo que a idéia judaica de que os anjos haviam sido mediadores da lei expressava apenas extrema reverência pela lei e que as declarações da superioridade de Cristo em relação aos anjos meramente enfati­zavam a sua superioridade em relação à lei. Mas a adoração de anjos, no capí­tulo 2, implica em mais do que isto; e a insistência sobre a superioridade de Cris­to em relação a "tronos, domínios e autoridades" sugere que eles são seres pessoais, mais próximos do politeísmo e do dualismo gnóstico.
Atos fala de judeus que praticavam a magia (At. 13:6; 19:13 e ss.) e de Simão, o mago considerado, muito depois, como o pai do gnosticismo. Algumas carac­terísticas da heresia colossense são encontradas misturadas com judaísmo em Gálatas 4:3,9,10, enquanto traços delas, em Timóteo, João, I João e Apo­calipse, revelam idéias gnósticas nas fraldas da comunidade judaica na Ásia Menor, durante a segunda metade do primeiro século.
Em 1875, Lightfoot comparou o erro colossense ao essenismo, que combinava observâncias meticulosas do Tora judaico esabatismo rigoroso com severo asceticismo monástico, adoração do sol e uma elaborada doutrina de anjos. Abbott pensava que os falsos mestres de Colossos diziam ter percepção exclusiva em relação ao mun­do dos espíritos intermediários, mediante o favor dos quais (dadasas requeridas austeridade e humilhação diante dos anjos) novas revelações ("visões") po­diam ser obtidas: "Isso pode ser chama­do de judaísmo gnóstico."
C. F. D. Moule (p. 31), semelhante­mente, fala de uma "teosofia" do tipo judaico-gnóstico. Bruce (p. 166) parece satisfeito com o fato de incipientes for­mas de gnosticismo terem sido comuns dentro do judaísmo no primeiro século d.C. Oscar Cullmann pensa que a heresia colossense tentara misturar espe­culações filosóficas manchadas de gnos­ticismo com o evangelho, pois formas preliminares de gnosticismo existiram, previamente, no judaísmo helenizado. A. M. Hunter encontra fortes evidên­cias disto no Evangelho de João.
Guthrie cita, com aprovação caute­losa, W. D. Davies em relação às "mui­tas características comuns entre a heresia colossenses e a seita de Qumran", e R. M. Wilson, em relação ao caráter dos Rolos como "pré-gnósticos". Qumran pensava que ser "filho da luz" signifi­cava obediência absoluta à lei de Moisés, em um legalismo que excedia até a tradi­ção dos anciãos. Isto pode iluminar 1:13; 2:14; 2:21 e ss.
Neste clima crescente de opiniões, não é surpreendente que R. H. Fuller expresse redondamente a opinião de que a cristologia de Colossenses demonstra tendências contrárias às idéias gnósticas, que a "filosofia" que se lhe opõe é a mitologia sincretista do gnosticismo, que as observâncias de culto referidas lem­bram hierarquias gnósticas e que as proibições ascéticas se originam do dua­lismo gnóstico.
Grande parte desta discussão se reduz claramente à definição que damos ao gnosticismo. Certamente, os sistemas gnósticos desenvolvidos, descritos e antagonizados pelos Pais da Igreja foram um fenômeno do segundo século. Mas um gnosticismo preliminar, umprotognosticismo, era uma atmosfera, um sincretismo variado e amorfo, muito antes de se tornar um sistema racional; e as suas principais idéias eram consideravel­mente antigas.
Por fim, precisamos descrever o erro colossense em termos genéricos, como uma versão da fé cristã distorcida e obscurecida por concepções de tipo gnós­tico, que se haviam infiltrado na igreja por meio de um judaísmo já heterodoxo.
O seu efeito foi afrouxar o apego dos homens para com o Cristo, de quem eles haviam sido ensinados anteriormente (2:19; cf. 2:6,7); obscurecer, e mesmo negar, a unicidade do Senhor que ascen­derá, o único mediador, através de quem eles haviam uma vez entrado na liberdade. A resposta de Paulo é uma cristologia de proporções verdadeiramente cósmi­cas. Ele insiste na plenitude da divin­dade habitando em Cristo; na sua pre­cedência e proeminência na criação sobre tronos, domínios e principados (1:16); no seu senhorio sobre eles quanto à posição (2:10); e na sua vitória sobre eles no Calvário (2:15). O seu argumento é que duvidar da plenitude de Cristo é deixar de entender a plenitude, riqueza e sufi­ciência da vida cristã.



Bibliografia O. White +www.ebareiabranca.com






Inovações e modismos religiosos

“E puseram a arca de Deus em um carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que está em Ceba; e Uzá e Aio, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo” (2 Sm 6.3).

O mundo pós-moderno é pleno de inovações. Mas a Igreja de Cristo não precisa de novidades, e sim, de constante renovação no Espírito Santo.

O tema deste domingo é algo que estamos vivenciando, de maneira tímida em alguns lugares e de forma mais ousada em outros, não obstante, é necessário abordá-lo com embasamento bíblico. A igreja não pode viver de inovações e modismos, mas precisa ser alimentada pela verdadeira Palavra de Deus. Os modismos - como o próprio nome indica - vêm e passam, mas a Palavra do Senhor dura para sempre (Lc 21.33; Jo 6.68; 17.77; Fp 2.16).

Modismo: Aquilo que é transitório e está em moda, tendo, portanto, caráter passageiro.

Os modismos e desvios doutrinários constituem grandes desafios para a igreja destes últimos dias, por contrariarem os princípios doutrinários esposados nas Sagradas Escrituras. É dever de todo crente sincero e temente a Deus, preservar a sã doutrina.


INOVAÇÕES DOUTRINÁRIAS

1. O restauracionismo. Trata-se de uma inovação teológica que procura adaptar, aos dias atuais, os ensinos, ritos e costumes do antigo concerto entre Deus e Israel. É o velho fermento dos fariseus e judaizantes (Mt 16.11; 1 Co 5.6,7; Cl 5.9). Eis os seus principais ensinos:

a) A guarda do sábado. Certos “mestres” ensinam que os cristãos devem guardar o sábado. Essa prática é uma forma de retorno ao judaísmo. A guarda do sábado é um “concerto perpétuo” somente para Israel (Êx 31.14-17; Lv 23.31,32; Ez 20.12,13,20). Lembremos que Paulo exortou os crentes da Galácia sobre o perigo das práticas judaizantes na igreja (Gl 1.6-9; 3.1-3).

b) O ritual da circuncisão. Em Atos dos Apóstolos, lemos que os cristãos judeus tentaram coagir os cristãos gentios a circuncidarem-se, conforme a lei de Moisés. Segundo diziam, a salvação dependia, exclusivamente, desse ato litúrgico (At 15.1). Condicionavam a salvação em Cristo à observação dos rituais mosaicos, considerados nulos pelo Novo Testamento (Hb 8.13; 9.15-17; cf. Mt 9.16,17).

Na Nova Aliança, não há nenhuma necessidade de os crentes circuncidarem-se para serem salvos. A salvação é dada aos homens gratuitamente, por meio da fé na graça redentora de Jesus Cristo. Vejamos o que a Bíblia ensina sobre a circuncisão em Rm 2.28,29; 1Co 7.18,19; Cl 5.6; 6.15.

c) Festas de Israel. Certas igrejas são ensinadas a celebrar as festas dos Tabernáculos (Lv 23.34; Dt 16.13), da Colheita (Êx 23.16; 34.22) e da Páscoa. Tais celebrações, juntamente com outras quatro mencionadas na Bíblia, eram consideradas sagradas e específicas do povo judeu.

A igreja não precisa festejar a páscoa judaica, uma vez que Cristo é a nossa páscoa (1 Co 5.7). Ela deve, sim, celebrar a Ceia do Senhor, que é uma festa genuinamente cristã, e que comemora o Novo Pacto inaugurado com o sangue de Jesus (1 Co 11.20,25; At 2.42).

2. O evangelho da prosperidade material. Os adeptos deste ensino acreditam que todo crente deve ser rico e jamais adoecer. Caso contrário, o cristão está em pecado ou não tem fé. Vejamos alguns desses ensinos:

a) Autoridade espiritual. Essa falsa doutrina afirma que o crente tem autoridade espiritual porque é a própria encarnação de Deus, assim como Jesus o foi. Os proponentes desse ensino chegam ao absurdo de dizer que o cristão não tem um “deus” dentro dele, mas ele mesmo é “um Deus”. Todavia, aprendemos com a Bíblia que a autoridade que Deus concede a seus servos deriva-se de sua Palavra, e não daquilo que os homens ensinam à parte dela.

b) “Pobreza é maldição”. Assim como a riqueza nem sempre é uma bênção (Mc 19.23; Pv 30.9), pobreza não é maldição (Mt 26.11; Mc 14.7; Dt 15.11; Jo 12.8). Segundo as Escrituras, os que desejam ser ricos caem em tentação, laço e muitas concupiscências (1 Tm 6.6-10). Todavia, devemos ser ricos de boas obras (1 Tm 6.18,19), pois Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino (Tg 2.5).

c) Confissão positiva. Segundo os teólogos da prosperidade, se um crente disser que no prazo de um mês conseguirá um carro zero, isso terá de acontecer. Afirmam que para ser curado é só dizer que não aceita a doença. De acordo com essa falsa doutrina, o cristão nunca deve orar pedindo que se faça a vontade de Deus. No entanto, devemos seguir o exemplo de Jesus (Lc 22.42).

3. A verdadeira prosperidade. Não há problema em ser próspero. Na Bíblia, há várias promessas de prosperidade e saúde. Além disso, precisamos ter muito cuidado para não trocarmos a teologia da prosperidade pela teologia da pobreza. Ambas são nocivas à vida espiritual. Vejamos algumas formas de prosperidade mencionadas na Bíblia:

a) A prosperidade espiritual. A prosperidade espiritual deve vir em primeiro lugar (Sl 112.3; Sl 73.23-28). Entre outras preciosas bênçãos, inclui: a salvação em Cristo; o batismo no Espírito Santo; o nome escrito no Livro da Vida e a herança com Cristo (Rm 8.17; Ef 1.3).

b) Prosperidade em tudo. As bênçãos materiais prometidas a Israel no Antigo Testamento estavam condicionadas à obediência a Palavra de Deus (Dt 28.1-14), e não à “confissão positiva”. Da mesma forma, o Senhor tem prometido muitas bênçãos à Igreja, porém, todas elas dependem de nossa submissão às Sagradas Escrituras (Sl 1.1-3; Dt 29.29). Isso não significa, necessariamente, que o cristão enfermo e que passe por necessidades materiais seja infiel a Deus, pois a prosperidade não se restringe aos valores terrestres e passageiros, mas contempla principalmente os valores eternos (Sl 37.5; Pv 30.7-9).

O restauracionismo e o evangelho da prosperidade material são inovações perigosas que conduzem ao erro.

INOVAÇÕES E MODISMOS MINISTERIAIS

1. A síndrome do “carro novo” (2 Sm 6.1-3). Ao trazer a Arca do Senhor para Jerusalém, Davi não atentou para um detalhe importante: nada poderia ser modificado ou inovado em relação ao modo de lidar com aquele objeto sagrado. A despeito disso, a Arca foi colocada sobre um carro de bois em vez de ser conduzida nos ombros dos sacerdotes. Por que essa atitude, aparentemente normal, não teve a aprovação de Deus?

a) A Arca fora conduzida por pessoas não autorizadas. Os que transportavam a Arca do Senhor não eram divinamente chamados para esse ofício (Nm 1.47-52; 4.1-49). Eleazar, filho de Abinadabe, é que havia sido separado para esse ministério (1 Sm 7.1b).

b) A Arca fora conduzida de forma errada. De acordo com a orientação divina, a Arca deveria ser transportada pelos levitas (Êx 25.14; Dt 31.25; Js 3.3), e não por meio de carros puxados por bois. Aquele carro de bois não deveria fazer parte do cortejo sagrado (2 Sm6.6,7).

2. O ministério modernizado. Hoje, em muitos lugares, há aqueles que pregam o evangelho, utilizando-se de “carros de bois”, inserindo inovações e modismos contrários aos ensinos da Palavra de Deus. Tais pessoas têm até boas intenções. Todavia, o que elas realmente desejam é adequar o evangelho à cultura secular. Às vezes, não percebem que estão misturando o sagrado com o profano.

Devemos obedecer aos mandamentos das Escrituras de modo irrestrito, sem as muletas da inovação e dos modismos.

O episódio da transferência da Arca apresenta-nos duas advertências: o perigo de querer fazer as coisas sagradas conforme os modismos e o perigo da modernização ministerial.

INOVAÇÕES LITÚRGICAS

1. O evangelho do entretenimento. O evangelho de Cristo não é entretenimento carnal, mas o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). O “evangelho do entretenimento” exalta o homem e não a Deus. Prega-se o evangelho, mas sem as suas exigências; ensina a graça, mas sem a cruz de Cristo (Sl 93.5).

2. A liturgia no culto a Deus. Através dos salmos de adoração a Deus aprendemos que a liturgia deve ser reverente e santa. Assevera-nos o salmista: "Adorai ao Senhor na beleza da santidade; tremei diante dele todos os moradores da terra" (Sl 96.9; 1 Cr 16.29; Sl 29.2).

O culto deve ser oferecido a Deus de modo santo, reverente e consciente. Não é para o entretenimento do homem, mas para adorar ao Senhor.

CONCLUINDO

É necessário discernir em que direção estamos caminhando. A Bíblia fala de dois caminhos, o da bênção e o da maldição (Dt 11.26), e de duas portas, a estreita e a larga (Mt 7.13). Cuidado com as inovações, pois o que a Igreja de Cristo realmente necessita é de uma constante renovação no poder do Espírito Santo.

“Vento de Doutrinas. Muitas doutrinas e práticas, em nossos dias, têm surgido depois de ‘divinas’ visões e revelações, supostos arrebatamentos ao céu ou ao inferno - individuais ou em grupo -, ‘quedas de poder’, contatos com anjos ou espíritos, além de outras experiências no mínimo estranhas.

Há crentes hoje sendo ‘levados em roda por todo vento de doutrina’, porque não aprenderam a guardar a Palavra de Deus acima de tudo (Ef 4.14). Em Marcos 16.17, está escrito: ‘E estes sinais seguirão aos que crerem’. Porém, muitos têm agido como se Jesus tivesse dito: ‘E estes que crerem seguirão aos sinais’. Mas Paulo ensinou, em suas epístolas, que não devemos ir além do que está escrito (1 Co 4.6)”.
(ZIBORDI, C. S. Evangelhos que Paulo jamais pregaria. RJ: CPAD, 2006. p.25.)

O ser humano tem a propensão de aceitar toda e qualquer inovação. Tudo que foge a normalidade - uma vez que não nos tire de nossa zona de conforto parece exercer atração irrestrita. Infelizmente, até mesmo a Palavra de Deus é vilipendiada pela comunidade cristã que, ávida por mudanças, acaba reproduzindo a dinâmica da sociedade consumista, anticristã e ateísta.

Sejamos, porém, como os crentes de Beréia, recebendo a Palavra de Deus de boa vontade, mas sem deixar de ser criteriosos (At 17.11). Pois, alguns sem conhecimento e outros de forma premeditada a torcem, reservando para si a perdição (2 Pe 3.16).

Bibliografia E. R. de Lima


A Heresia Colossense

O erro que perturbava Colossos envol­veu amplamente elementos judeus e pagãos. Sem dúvida, os elementos judai­cos eram a ênfase aos sábados, à circuncisão, à lei, e, provavelmente, as referências à observância de festivais e dias santos e luas novas; 3:11 e 4:11 também parecem pressupor uma fonte judaica de desacordo.

Indubitavelmente, os elementos pa­gãos incluíam uma "filosofia" que de­pendia de métodos plausíveis de racio­cínio que se baseavam na tradição hu­mana, em vez de numa demonstração lógica e revelação. A adoração de anjos (diferente da crença neles, como se apre­senta em Jubileus, Tobias e Ascensão de Isaías), provavelmente, expressa o temor pagão, disseminado, de seres celestiais, espíritos elementares do universo. De certa forma, o sol, a lua e as estrelas eram corporificações materiais desses elementos, desses seres. Governando a terra, eles podiam ser aplacados, espe­cialmente em suas épocas indicadas, por humilhação e devoções rigorosas.

A proibição de certos alimentos podia ser uma característica judaica, mas a referência à bebida e à sua associação com repressão ascética do corpo sugere um dualismo pagão, como também o fazem expressões como "herança na luz", "domínio das trevas" e "reino do Filho". A ênfase das visões também podia ser judaica (v.g., o livro de Enoque); mas aqueles de quem os heréticos se jactavam (2:18) eram essencialmente sensuais, não espirituais, e pareciam expressar significados ocultos que pre­cisavam de interpretação. Isto faz lem­brar as revelações dadas em transe, e prometidas nas seitas pagas.

A ênfase dada pelos heréticos à sabe­doria assemelha-se a Provérbios, Sabe­doria de Salomão e Siraque; mas o seu exclusivismo (contraditado em 1:26 e ss.; 3:11) e as expressões de menosprezo em 2:4,8 sugerem, pelo contrário, um intelectualismo gnóstico.

O gnosticismo era um clima de pensa­mento tão disseminado quanto a teoria evolucionária o é hoje em dia. Provavel­mente, ele assumiu proeminência no primeiro século, ou antes, e alcançou o seu zênite no segundo século. Combinava especulação filosófica, superstição, ritos; semi-mágicos e algumas vezes um culto fanático e até obsceno. As ideias mais comuns às suas muitas formas são: salvação mediante o conhecimento (gnosis) — os iluminados são "cristãos avança­dos"; dualismo — tudo o que é espiri­tual é por natureza puro, tudo o que é material é por natureza irremediavel­mente mau, inclusive o mundo e o corpo. Portanto, Deus está longe; a brecha entre ele e o mundo é preenchida por uma cadeia de seres de espiritualidade descendente. O corpo, túmulo do espírito, pode ser rigorosamente suprimido ou deixado à vontade indulgentemente, como irrelevante para a vida do espírito puro.

Sendo extremamente intelectualista, e, portanto, individualista, o gnosticismo cultivou uma elite iluminada, para quem somente a salvação era possível, e des­prezava todas as outras pessoas. O antigo gnosticismo reinterpretou o cristianismo e procurou "melhorá-lo", oferecendo-se para tornar os crentes "perfeitos"; mais tarde, o mais amargo antagonismo se desenvolveu.

Indícios adicionais de ideias gnósticas como estas, em Colossos, são achadas em expressões que deviam tornar-se "pala­vras-chave" de sistemas gnósticos poste­riores: o "segredo" ou "mistério", a "plenitude", conhecimento (cinco vezes), e duas ou três outras. As negações gnós­ticas da plena encarnação da divindade em Jesus encontra veemente réplica nos capítulos 1 e 2. Quaisquer sinais de "indiferentismo moral" gnóstico seria bem respondido pelo conselho abrupto de 3:5ess.

Mas o fato de que elementos judaicos e gnósticos devessem aparecer interli­gados em uma única heresia (veja 2:14 e s.) tem constituído assunto para debate durante um século. Porque o gnosticismo a respeito do qual mais informações temos data do segundo sé­culo d.C, e era antijudaico, enquanto o judaísmo ortodoxo resistia veemente­mente a toda a transigência em relação ao paganismo.

Portanto, algumas pessoas negam que haja em Colossenses qualquer referência ao gnosticismo, dizendo que a ideia judaica de que os anjos haviam sido mediadores da lei expressava apenas extrema reverência pela lei e que as declarações da superioridade de Cristo em relação aos anjos meramente enfati­zavam a sua superioridade em relação à lei. Mas a adoração de anjos, no capí­tulo 2, implica em mais do que isto; e a insistência sobre a superioridade de Cris­to em relação a "tronos, domínios e autoridades" sugere que eles são seres pessoais, mais próximos do politeísmo e do dualismo gnóstico.

Atos fala de judeus que praticavam a magia (At. 13:6; 19:13 e ss.) e de Simão, o mago considerado, muito depois, como o pai do gnosticismo. Algumas carac­terísticas da heresia colossense são encontradas misturadas com judaísmo em Gálatas 4:3,9,10, enquanto traços delas, em Timóteo, João, I João e Apo­calipse, revelam ideias gnósticas nas fraldas da comunidade judaica na Ásia Menor, durante a segunda metade do primeiro século.

Em 1875, Lightfoot comparou o erro colossense ao essenismo, que combinava observâncias meticulosas do Tora judaico e sabatismorigoroso com severo asceticismo monástico, adoração do sol e uma elaborada doutrina de anjos. Abbott pensava que os falsos mestres de Colossos diziam ter percepção exclusiva em relação ao mun­do dos espíritos intermediários, mediante o favor dos quais (dadas asrequeridas austeridade e humilhação diante dos anjos) novas revelações ("visões") po­diam ser obtidas: "Isso pode ser chama­do de judaísmo gnóstico."

C. F. D. Moule (p. 31), semelhante­mente, fala de uma "teosofia" do tipo judaico-gnóstico. Bruce (p. 166) parece satisfeito com o fato de incipientes for­mas de gnosticismo terem sido comuns dentro do judaísmo no primeiro século d.C. Oscar Cullmann pensa que a heresia colossense tentara misturar espe­culações filosóficas manchadas de gnos­ticismo com o evangelho, pois formas preliminares de gnosticismo existiram, previamente, no judaísmo helenizado. A. M. Hunter encontra fortes evidên­cias disto no Evangelho de João.

Guthrie cita, com aprovação caute­losa, W. D. Davies em relação às "mui­tas características comuns entre a heresia colossenses e a seita de Qumran", e R. M. Wilson, em relação ao caráter dos Rolos como "pré-gnósticos". Qumran pensava que ser "filho da luz" signifi­cava obediência absoluta à lei de Moisés, em um legalismo que excedia até a tradi­ção dos anciãos. Isto pode iluminar 1:13; 2:14; 2:21 e ss.

Neste clima crescente de opiniões, não é surpreendente que R. H. Fuller expresse redondamente a opinião de que a cristologia de Colossenses demonstra tendências contrárias às ideias gnósticas, que a "filosofia" que se lhe opõe é a mitologia sincretista do gnosticismo, que as observâncias de culto referidas lem­bram hierarquias gnósticas e que as proibições ascéticas se originam do dua­lismo gnóstico.

Grande parte desta discussão se reduz claramente à definição que damos ao gnosticismo. Certamente, os sistemas gnósticos desenvolvidos, descritos e antagonizados pelos Pais da Igreja foram um fenômeno do segundo século. Mas um gnosticismo preliminar, um protognosticismo, era uma atmosfera, um sincretismo variado e amorfo, muito antes de se tornar um sistema racional; e as suas principais ideias eram consideravel­mente antigas.

Por fim, precisamos descrever o erro colossense em termos genéricos, como uma versão da fé cristã distorcida e obscurecida por concepções de tipo gnós­tico, que se haviam infiltrado na igreja por meio de um judaísmo já heterodoxo.

O seu efeito foi afrouxar o apego dos homens para com o Cristo, de quem eles haviam sido ensinados anteriormente (2:19; cf. 2:6,7); obscurecer, e mesmo negar, a unicidade do Senhor que ascen­derá, o único mediador, através de quem eles haviam uma vez entrado na liberdade. A resposta de Paulo é uma cristologia de proporções verdadeiramente cósmi­cas. Ele insiste na plenitude da divin­dade habitando em Cristo; na sua pre­cedência e proeminência na criação sobre tronos, domínios e principados (1:16); no seu senhorio sobre eles quanto à posição (2:10); e na sua vitória sobre eles no Calvário (2:15). O seu argumento é que duvidar da plenitude de Cristo é deixar de entender a plenitude, riqueza e sufi­ciência da vida cristã.

Bibliografia O. White +www.ebareiabranca.com


JA SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA

"Porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia" (2 Tm 1.12b).

Superstição religiosa é um con­junto de crendices apoiadas na ignorância, no desconhecido e no medo. Nada tem a ver com a fé que professamos.

É provável que você conheça algumas pessoas que apregoam "certas verdades" base­adas em crenças infundadas ou que até mesmo utilizem amuletos e usem expressões com o fim de afas­tarem maus espíritos. Muitas des­tas pessoas agem assim por teme­rem aquilo que desconhecem ou ignoram, ou seja, são supersticio­sas.

Superstições são crenças alicer­çadas sobre sentimentos irracionais, que levam as pessoas, em razão de sua credulidade excessiva, a teme­rem o desconhecido, sobrenatural. Quem é supersticioso acredita em presságios, encantamentos, sinais, ritos específicos e tantos outros elementos que repousam sobre a fé em coisas irracionais. A Palavra de Deus reprova vigorosamente as supersti­ções. Atos dos Apóstolos registra um episódio em que Paulo e Barnabé, quando pelo poder de Cristo cura­ram a um coxo em Listra, quase fo­ram idolatrados como Júpiter e Mer­cúrio pelos habitantes daquele país. Os servos de Deus protestaram com veemência contra o ato supersticio­so. No Antigo Testamento, eram proi­bidas as adivinhações (Lv 19.31), a bruxaria, os augúrios a feitiçaria e magia (2 Rs 21.6). Temos de ter mui­to cuidado para que essas práticas não solapem nossa fé e assolem nos­sas igrejas; tais como amuletos, pé de coelho, galho de arruda, ferradura de cavalo, dias especiais, crendices, simpati­as e magias.

A superstição está presente em todas as religiões, novas e velhas. É nociva à fé cristã em razão de levar o indivíduo a temer coisas inócuas e depositar a fé em coisas absurdas. Quem já não viu alguém procurar se proteger com um galho de arruda, com ferradura de cavalo na porta de casa, ou usar uma figa esperando obter sucesso? Os supersticiosos estão inclinados a acreditar em tudo, menos na Palavra de Deus.

ETIMOLOGIA

1. O termo gregoO substanti­vo grego empregado no Novo Testa­mento correspondente à palavra su­perstição é deisidaimoniâ. Essa pala­vra aparece apenas em At 25.19. De modo semelhante, o adjetivo procedente do original significa "piedosos, supersticiosos ou religiosos" (At 17.22). O termo procede de duas pa­lavras gregas cujo sentido é "temor aos demônios, aos espíritos malignos ou as divindades pagãs". Portanto, o vo­cábulo "superstição" designa um sen­timento religioso fundamentado na ig­norância, no medo de coisas sobrena­turais e na confiança em coisas inefi­cazes. Trata-se, por conseguinte, de uma crendice popular baseada em crenças infundadas.

2. O termo em nossas versões. A versão Almeida Atualizada e a Tradução Brasileira traduziram os vocábulos originais por "religião" e "religioso", enquanto a Almeida Cor­rigida, por "superstição" e "supersticioso". Agripa na qualidade de judeu, embora desconhecendo a natureza da questão sobre a ressurreição de Jesus, jamais chamaria essas coisas de mera superstição (At 25.19). O após­tolo Paulo, no areópago em Atenas, como disse alguém, empregou o ter­mo com "amável ambiguidade" (At 17.22).

3. O termo latino. Jerônimo, na Vulgata Latina, traduziu os referi­dos termos por superstitio, (At 25.19) que significa "superstição, religião, culto, excessivo receio dos deuses, adivinhação, arte de predizer o futuro" e superstitiosus, "supersticioso" (At 17.22).

4. O termo no mundo ro­mano. Havia diferença entre reli­gião e superstição no mundo roma­no. O cristianismo, mais tarde, ado­tou essa distinção. Segundo Agosti­nho de Hipona, o homem supersticioso distingue-se do religioso, citando Varrão (Marco Terêncio Varrão [Marcus Terentius Varro], 116 a.C. – 27 a.C., filósofo e enciclopedista romano), afirma que o supersticioso teme os deuses como inimigos, e o religioso reverencia-os como pais. A ideia dessa palavra no mundo roma­no é uma forma antiquada de culto, como deterioração ou algo ultrapas­sado, rejeitado pela religião oficial. Podemos resumir superstição como a crendice do medo (Jr 10.2).

CARACTERÍSTICAS ANIMISTAS

1. AnimismoApesar da su­perstição estar presente em todas as religiões, é no animismo que ela pra­ticamente se confunde. Animismo é a crença que atribui vida espiritual ou alma a coisas inanimadas. Os animistas acreditam que plantas e animais possuem alma, que a natureza está carregada de seres espiri­tuais e que o espírito dos mortos vagueia pelos lugares onde as pes­soas viviam ou costumavam frequentar (Is 34.14). É consequência da Queda no Éden (Rm 1.23, 25, 28).

2. FetichesOs ídolos repre­sentam divindades ao passo que o fetichismo se caracteriza por atri­buir propriedades mágicas ou di­vinas a certos objetos. Em muitos casos, os fetichistas dispensam, a tais objetos, reverência, adoração, gratidão e oferendas, esperando receber graças ou vinganças dessas divindades ou espíritos.

SUPERSTIÇÕES DO COTIDIANO

1. Amuletos e talismãsÉ a crença no afastamento dos maus espíritos apenas pelo uso de certos ob­jetos como galho de arruda, ferradu­ra de cavalo na porta de casa, pé-de-coelho etc. Muitas vezes, são usados como objetos de adornos. O profeta Isaías incluiu os amuletos na lista de adornos femininos, traduzido por "arrecadas" na Versão Almeida Corrigida (Is 3.20). A palavra hebrai­ca, aqui, élahash, também usada para encantamento (Ec 10.11; Jr 8.17). Talismã consiste em letras, símbolos ou palavras sagradas, nomes de an­jos ou demônios com o objetivo de afastar o mal de quem os usa.

2. Rogos do espirro"Saúde!", "Deus te crie!", ou, expressão mais erudita como Dominus caetuml, "o Senhor te crie!", hayiml, "vida!", em Israel; são expressões que ouvimos no dia-a-dia quando alguém espirra. Por que não acontece o mesmo quando alguém tosse? Os antigos acreditavam que o espírito do homem residia na cabeça, e um bom espirro era o sufi­ciente para sua fuga e, ao fazer uma pequena prece, ele permanecia na pessoa que espirrou. Hoje, isso já vi­rou etiqueta social.

3. Sexta-feira 13. O número 13 é tido por alguns como bom agouro e para outros como infortúnio. Há até edifícios em que passam do 12° para o 14° andar temendo desgraças. A sexta-feira 13 é considerada um dia de azar. Uns atribuem a superstição sobre o número 13 aos vikings ou a outros normandos. Há também os que atribuem ao cristianismo, já que sexta-feira foi o dia em que Jesus mor­reu e 13 é uma referência a Judas Iscariotes que, segundo os supersticiosos, era o décimo terceiro homem da reunião da Última Ceia. Mas, não há indício algum para confirmar essa versão.

SUPERSTIÇÕES SUPOSTAMENTE BÍBLICAS

1. Segunda-feira azaradaOs judeus não consideram a segunda-fei­ra um bom dia para negócios, porque no relato da criação, em Gênesis 1, não consta o registro "e viu Deus que era bom", como aparece nos demais dias. Mas, no dia terceiro, aparece duas vezes a expressão "e viu Deus que era bom" (Gn 1.10, 12), por isso é o dia tradicional de cerimônia de casamen­tos e, também, o dia em que se cele­bram grandes negócios em Israel. O costume baseia-se na interpretação incorreta de uma passagem bíblica. A bênção divina para o sucesso, toda­via, não depende do dia em que o evento é realizado, e sim na confian­ça em Deus (Sl 37.3-5).

2. MezuzáPalavra hebraica que significa "portal, umbral, ombreira" (Êx 12.7). Esse termo é usado hoje para identificar o pequeno tubo metálico que os judeus usam no umbral direito da porta, seguindo o prescrito na Lei de Moisés (Dt 6.4-9). Isso não deve ser considerado superstição, pois tem fundamento bíblico, como não é superstição um cristão colocar em seu lar quadros com versículos bíblicos e outros motivos cristãos como identi­ficação de sua fé. Mas os judeus cabalísticos da Idade Média transfor­maram a mezuzá em amuletos e talismãs, como objetos de proteção.

3. O perigo da inversão de valores. Não confundir o Cristo da cruz com a cruz de Cristo. Os hebreus consideravam a simples presença da arca da aliança na guerra como ga­rantia de vitória (1 Sm 4.4-11). Ain­da hoje, alguns crentes creem estar protegidos de infortúnio e mau augúrio só porque mantêm a Bíblia aberta no salmo 91. Isso significa transformar a fé viva no Deus todo-poderoso em mera superstição ou amuleto. A proteção vem da confian­ça em Deus e na obediência à Sua Pa­lavra (Js 1.8; 1 Jo 5.4).

4. Fé cristã não é supersti­çãoOs filhos de Ceva, tendo em vista o misticismo de Éfeso, cuida­ram fosse o apóstolo Paulo um má­gico com uma nova fórmula: o nome de Jesus (At 19.13). Mas eles se equivocaram. Ainda hoje há os que transformam elementos cristãos em superstições. Baseados em lendas de vampiros, muitos supõem que, exi­bindo uma cruz, podem expulsar os espíritos maus. Jesus disse: "em meu nome expulsarão demônios" (Mc 16.17). Ele conferiu essa autorida­de aos seus servos (Mt 10.8). Todos os que usarem o nome de Jesus como amuletos poderão ter a mes­ma decepção dos filhos de Ceva (At 19.16). 


As superstições, independente­mente de sua origem, são nocivas à fé cristã. Crer em coisas triviais, ou nas aparentemente bíblicas, é rejeitar a fé em Deus ou acrescen­tar algo além dEle. Nós cremos num Deus que pode guardar-nos de to­dos os males (2 Tm 1.12).

Não seria o uso de elementos como galhinho de arruda, sal gros­so e copo d'água na liturgia uma volta ao misticismo medieval, tão condenado pelos reformadores? A teologia da maldição hereditária não seria um vilipendio à doutrina da graça e uma superstição religiosa em sua essência? Lamentavelmente, é nítida a existência de casos de superstição entre evangélicos, mas isso é resultado da ausência de orienta­ção bíblica. Nas igrejas onde o povo recebe o ensino sistemático e sadio da Palavra de Deus raramente exis­te isso.

Alguns casos de supersticiosidade entre evangélicos são menores, outros são mais graves. Alguns exem­plos do primeiro tipo são deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para afas­tar desgraças; utilizar a expressão Tá amarrado!' de forma séria, como uma espécie de precaução espiritual; abrir a Bíblia aleatoriamente para 'tirar um versículo' que funciona como a orientação de Deus para to­marmos uma decisão; trocar a leitu­ra sistemática e regular da Bíblia pela 'caixinha de promessas'; reputar que a oração no monte tem mais eficá­cia do que a feita dentro do quarto ou na igreja; dormir empacotado para que Deus, ao nos visitar à noi­te, não se entristeça; e acreditar que objetos ou algum suvenir de Israel (pedrinhas, água do Rio Jordão, fo­lhas) têm algum poder especial.

O protestantismo foi um dos gran­des catalisadores do fim da superstição da Idade Média, que havia sido implementado por um catolicismo cada vez mais decadente. É só reexaminarmos a história e veremos que, antes da Reforma, o mundo me­dieval era cheio de fantasmas, duendes, gnomos, demônios, anjos e santos. O povo era ignorante, extre­mamente supersticioso e não tinha acesso à leitura. A própria Igreja Ca­tólica Romana fomentava e explora­va isso. Foram os evangélicos que combateram tudo isso, inclusive apoi­ados pelos humanistas da época.

Um exemplo de caso grave de superstição é o caso da teologia da maldição hereditária, que declara insuficiente a obra de Cristo na vida da pessoa, pois afirma que, depois de salvo por Jesus, o cristão deve desenterrar o seu passado e o de seus familiares para quebrar uma a uma todas as possíveis mal­dições que acometeram seus ante­passados e que ainda repousariam sobre ele, se não a libertação não será completa. Além de não ter base bíblica (2 Co 5.17), essa teologia defende um princípio quase reencarnacionista, estabelecendo um carma na vida da pessoa a partir de seus parentes. (...) Fujamos de toda a sorte de superstição. Que nossa fé seja absolutamente bíbli­ca.

Bibliografia Ezequias Soares,manual de apologetica,2005,cpad,

Falsos mestres, gálatas inconstantes e a origem do evangelho de Paulo Gl 1.6-10, 11-24

Em todas as outras epístolas, depois de saudar os seus leitores, Paulo continua orando por eles ou louvando e agradecendo a Deus. A Epís­tola aos Gálatas é a única em que não há oração, nem louvor, nem ação de graças, nem elogios. Em vez disso, o apóstolo vai direto ao assunto, com uma nota de extrema urgência. Paulo expressa admira­ção diante da inconstância e instabilidade dos gálatas, e prossegue quei­xando-se dos falsos mestres que estavam perturbando as igreja da Galácia. Daí, então, ele enuncia um anátema solene e terrível contra aque­les que se atrevem a alterar o evangelho.

1. A Infidelidade dos Gálatas (v. 6)

Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos cha­mou na graça de Cristo. Note-se que o verbo está na voz ativa e não na passiva, e que o tempo é o presente, não o passado. Não é "que tenhais sido afastados tão depressa", mas ''que estejais pas­sando tão depressa", ou, como diz a Bíblia na Linguagem de Hoje: "Estou muito admirado de vocês estarem abandonando tão depressa". A palavra grega (metatithêmi) é interessante. Significa "transferir a fidelidade". É usada com referência a soldados do exército que se rebelam ou desertam, e a pessoas que mudam de partido na política ou na filosofia. Um certo Dionísio de Heracléia, por exemplo, que aban­donara os estóicos, tornando-se membro de uma escola filosófica rivai, isto é, um epicurista, era chamado de ho metathememos, um vira-casaca".

É disso que Paulo acusa os gálatas. Eles eram vira-casacas religio­sos, desertores espirituais. E estavam abandonando aquele que os cha­mara para a graça de Cristo e abraçando um outro evangelho. O ver­dadeiro evangelho é, na sua essência, o que Paulo diz em Atos20:24: "o evangelho da graça de Deus". São as boas novas de um Deus cheio de graça para com pecadores indignos. Na graça ele deu o seu Filho para morrer por nós. Na graça ele nos justifica quando cremos. "Tu­do provém de Deus", como Paulo escreve em 2 Coríntios 5:18, signifi­cando que "tudo é de graça". Nada é devido aos nossos esforços, aos nossos méritos ou às nossas obras; tudo na salvação é devido à graça de Deus.

Mas os gálatas convertidos, que haviam recebido este evangelho da graça, estavam agora se voltando para um outro evangelho, um evangelho de obras. Os falsos mestres eram evidentemente "judaizantes", cujo "evangelho" encontra-se resumido em Atos 15:1: "Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos." Eles não negavam que era preciso crer em Jesus para se obtera salva­ção, mas enfatizavam que também era necessário circuncidar-se e guar­dar a lei. Em outras palavras, era preciso deixar que Moisés comple­tasse o que Cristo havia iniciado. Ou, melhor, nós mesmos teríamos que completar, através de nossa obediência à lei, o que Cristo havia começado. Era preciso acrescentar nossas obras à obra de Cristo. Era preciso concluir a obra inacabada de Cristo.

Essa doutrina Paulo simplesmente não podia tolerar. O quê?! Acrescentar méritos humanos ao mérito de Cristo e obras humanas à obra de Cristo? Deus nos livre! A obra de Cristo é uma obra acabada; e o evangelho de Cristo é o evangelho da graça livre. A salvação é só pela graça, só pela fé, sem mistura alguma de obras ou méritos huma­nos. Ela é totalmente devida à vocação graciosa de Deus, e não a qual­quer boa obra de nossa parte.

Paulo vai ainda mais além. Ele diz que a deserção dos gálatas convertidos estava relacionada com a experiência e também com a teolo­gia. Ele não os acusa de desertarem do evangelho da graça com vistas a um outro evangelho, mas de desertarem daquele que os chamara na graça. Em outras palavras, teologia e experiência, fé cristã e vida cris­tã, andam juntas e não podem ser separadas. Afastar-se do evangelho da graça é afastar-se do Deus da graça. Os gálatas que se cuidassem, pois estavam se afastando muito depressa e precipitadamente. É im­possível abandonar o evangelho sem abandonar a Deus. Como Paulo diz mais adiante, em Gálatas 5:4: "da graça decaístes".

2. A Atividade dos Falsos Mestres (v. 7)

O motivo por que os gálatas convertidos estavam se afastando de Deus, que os chamara na graça, era claro: há alguns que vos perturbam (versículo 7b). O verbo grego para "perturbar" (tarassõ) significa "sacudir" ou "agitar". As congregações gálatas haviam sido lançadas pelos falsos mestres em um estado de confusão: confusão intelectual de um lado e facções de lutas do outro. É muito interessante que o Concilio de Jerusalém, provavelmente organizado logo após Paulo ter escrito esta epístola, tenha usado o mesmo verbo em sua carta às igrejas: "Visto sabermos que alguns de entre nós, sem nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras, transtornando as vossas almas..." (Atos 15:24).

Esta perturbação era causada por falsa doutrina. Os judaizantes estavam tentando "perverter" (ERAB), ou "distorcer" o evangelho. Estavam propagando o que J. B. Phillips chama de "uma falsificação do evangelho de Cristo". Na verdade, a palavra grega(metastrepsai) é ainda mais enfática e poderia ser traduzida por "inverter". Neste ca­so, eles não estavam apenas corrompendo o evangelho, mas realmente "invertendo-o", virando-o de costas e de cabeça para baixo. Não po­demos modificar ou fazer acréscimos ao evangelho sem que alteremos radicalmente o seu caráter.

Assim, as duas características principais dos falsos mestres eram que eles estavam perturbando a igreja e alterando o evangelho. Estas duas coisas andam juntas. Falsificar o evangelho resulta sempre em perturbação para a igreja. Não se pode mexer no evangelho e deixar a igreja intacta, pois esta é criada pelo evangelho e vive por ele. Na verdade, os maiores perturbadores da igreja (agora e naquele tempo) não são os que se lhe opõem de fora, que a ridicularizam e a perseguem, mas aqueles que dentro dela tentam alterar o evangelho. São eles que perturbam a igreja. Inversamente, a única maneira de ser um bom membro na igreja é sendo um bom adepto do evangelho. A melhor forma de servir a igreja é crer no evangelho e pregá-lo.

3. A Reação do Apóstolo Paulo (vs. 8-10)

A esta altura, a situação nas igrejas da Galácia é evidente. Falsos mestres estavam distorcendo o evangelho, de modo que os convertidos por Paulo o estavam abandonando. A primeira reação do apóstolo é de surpresa total: Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo (versículo 6). Muitos evangelistas de gerações posteriores ficam igualmente admirados e assustados ao verem com que rapidez e prontidão os convertidos relaxam sua firme­za para com o evangelho que pareciam ter abraçado com tanta convic­ção. Como Paulo escreve em Gálatas 3:1, é como se alguém os fasci­nasse ou enfeitiçasse; e é isto que, de fato, acontece. O diabo perturba a igreja tanto através do erro quanto do pecado. Quando ele não con­segue atrair os cristãos para o pecado, engana-os com falsas doutrinas.

A segunda reação de Paulo é de indignação com os falsos mestres, sobre os quais ele enuncia uma solene maldição: Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema (vs. 8 e 9).

A palavra grega duas vezes traduzida por anátema" é anathema no original. No Antigo Testamento grego ela era usada para indicar banimento divino, a maldição de Deus sobre qualquer coisa ou pessoa que ele destinasse à destruição. A história de Acã é um bom exemplo disso. Deus dissera que os despojos dos cananeus estavam sob sua proscrição - estavam destinados à destruição. Mas Acãroubou e guardou para si o que deveria ter sido destruído.

Assim o apóstolo Paulo deseja que esses falsos mestres sejam colo­cados sob banimento, maldição ou anathema de Deus. Isto é, ele ex­pressa o desejo de que o juízo de Deus recaia sobre eles. Nisso está implícito que as igrejas da Galácia certamente não iriam dar boas-vindas ou atenção a tais mestres, recusando-se a recebê-los ou ouvi-los, por serem homens rejeitados por Deus (cf. 2 Jo 10,11).

O que temos a dizer acerca desse anathema? Devemos esquecê-lo como se fosse apenas o resultado de uma explosão de ira? Devemos rejeitá-lo como se fosse produto de um sentimento incoerente com o Espírito de Cristo e indigno do evangelho de Cristo? Devemos explicá-lo como sendo palavra de um homem que era fruto de sua época e não conhecia outra forma de expressão? Muitas pessoas o fariam; mas pe­lo menos duas considerações indicam que esse anathema apostólico não era uma expressão de aversão pessoal a mestres rivais.

A primeira consideração é que a maldição do apóstolo, ou a maldi­ção de Deus que ele invoca, é de âmbito universal. Ela repousa sobre todo e qualquer mestre que distorça a essência do evangelho e que pro­pague tal distorção. Isto está explícito no versículo 9: Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega..." Não há exceções. No versículo 8 ele a aplica especificamente a anjos e a homens, e então acrescenta a sua própria pessoa: ...ainda que nós...'". Tão desinteressado é o zelo de Paulo pelo evangelho que ele até deseja que a mal­dição de Deus caia sobre ele próprio, caso venha a pervertê-lo. Assim, o fato de ele incluir-se a si mesmo livra-o da acusação de despeito ou animosidade pessoal.

A segunda consideração é que a sua maldição é deliberadamente enunciada e com uma responsabilidade consciente para com Deus. Nota-se que ela é enunciada duas vezes (versículos 8 e 9). Como diz John Brown, comentarista escocês do século XIX: ''O apóstolo a re­pete para mostrar aos gálatas que não era uma declaração exagerada, excessiva, produto de um sentimento apaixonado, mas que era uma opinião calmamente formada e inalterável." Então Paulo prossegue no versículo 10: Porventura procuro eu agora o favor dos homens, ou o de Deus? ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a ho­mens, não seria servo de CristoParece que os seus difamadores o ha­viam acusado de oportunista e bajulador, que adaptava a sua mensagem ao auditório. Mas será que esta condenação sem rodeios dos fal­sos mestres é a linguagem de um bajulador? Pelo contrário, nenhum homem pode servir a dois senhores. E, considerando que Paulo era em primeiro lugar e principalmente um servo de Jesus Cristo, a sua ambição era agradar a Cristo, e não aos homens. Portanto, é como "servo de Cristo", responsável diante do seu divino Senhor, que ele pondera as palavras e se atreve a exprimir este solene anathema.

Vimos, então, que Paulo enuncia o seu anathema imparcialmente (quem quer que fossem os mestres) e deliberadamente (na presença de Cristo, seu Senhor).

Mas talvez alguém pergunte: "Por que ele tem uma reação tão for­te e usa uma linguagem tão drástica?" Dois motivos são bem claros. O primeiro é que a glória de Cristo estava em jogo. Tornar as obras dos homens necessárias à salvação, ainda que como um suplemento à obra de Cristo, é derrogante para a sua obra consumada. É o mesmo que dar a entender que a obra de Cristo foi de certa forma insatisfató­ria, e que os homens precisam acrescentar-lhe algo e aperfeiçoá-la. Na verdade, é o mesmo que declarar a redundância da cruz: "se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão" (Gl 2:21).

O segundo motivo por que Paulo sentiu a questão de maneira tão penetrante é que o bem-estar das almas das pessoas estava em jogo. Ele não estava escrevendo acerca de alguma doutrina trivial, mas sobre algo que é fundamental ao evangelho. Nem tampouco estava fa­lando daqueles que simplesmente têm falsos pontos de vista, mas da­queles que os ensinam e que desencaminham outros com os seus ensinamentos. Paulo se importava profundamente com a alma humana. Em Romanos 9:3 ele declara que preferiria ser ele próprio amaldiçoa­do (literalmente, ser anathema), se com isto outros pudessem ser sal­vos. Ele sabia que o evangelho de Cristo é o poder de Deus para a sal­vação. Corromper o evangelho portanto, era destruir o caminho da salvação, condenando à ruína almas que poderiam ser salvas através dele. O próprio Jesus não enunciou uma solene advertência à pessoa que leva outros a tropeçarem, dizendo que "melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lan­çado no mar" (Mc 9:42)? Parece então que Paulo, longe de contradi­zer o Espírito de Cristo, na verdade o estava expressando. Naturalmente vivemos numa época em que as pessoas que têm opiniões claras e definidas sobre determinados assuntos são consideradas intolerantes e bitoladas, quanto maisaquelas que discordam vivamente de todas as ou­tras. O desejo de que os falsos mestres realmente caiam sob a maldição de Deus e sejam tratados como tais pela igreja é uma ideia incon­cebível para muitos. Mas eu me atrevo a dizer que, se nós nos impor­tássemos mais com a glória de Cristo e com o bem da alma humana, também não seríamos capazes de suportar a corrupção do evangelho da graça.

Concluindo a primeira parte

A lição que se destaca neste parágrafo é que só existe um único evangelho. A opinião popular alega que existem muitos caminhos que le­vam a Deus, que o evangelho muda com o passar dos tempos e que não devemos condená-lo à fossilização do primeiro século d.C.Mas Paulo não endossaria tais ideias. Aqui ele insiste em que só há um evan­gelho e que este evangelho não muda. Qualquer ensinamento que rei­vindique ser "um outro evangelho" não é "um outro" (versículos 6, 7). A fim de esclarecer este ponto ele usa dois adjetivos: heteros ("ou­tro" no sentido de "diferente") e allos ("outro" no sentido de "um segundo"). Poderíamos traduzir este trecho da seguinte maneira: "Vós estais passando para um evangelho diferente - não que exista um ou­tro evangelho." Em outras palavras, certamente existem "evangelhos" diferentes que estão sendo pregados, mas isto é que eles são: diferen­tes. Não há um outro, um segundo; há apenas um. A mensagem dos falsos mestres não era um evangelho alternativo: era um evangelho per­vertido.

Como podemos reconhecer o verdadeiro evangelho? Suas marcas nos foram apresentadas e referem-se à sua substância (o que é) e à sua fonte (de onde vem).

a. A substância do evangelho

É o evangelho da graça, do favor livre e imerecido de Deus. Afastar-se daquele que nos chamou na graça de Cristo é afastar-se do verdadeiro evangelho. Sempre que os mestres começam a exaltar uma pessoa, dando a entender que esta pode contribuir com alguma coisa para a sua salvação através de sua própria moral, religião, filosofia ou respeita­bilidade, o evangelho da graça está sendo corrompido. Este é o pri­meiro teste. O verdadeiro evangelho magnífica a livre graça de Deus.

b. A fonte do evangelho

O segundo teste refere-se à origem do evangelho. O verdadeiro evangelho é o evangelho dos apóstolos de Jesus Cristo; em outras palavras, é o evangelho do Novo Testamento. Leia novamente os versículos 8 e 9. A acusação de anathema é declarada por Paulo contra qualquer pessoa que pregue um evangelho contrário ao que ele pregou, ou "que vá além daquele que recebestes". Isto é, a norma, o critério pelo qual todos os sistemas e opiniões devem ser testados, é o evangelho primiti­vo, o evangelho que os apóstolos pregaram e que se encontra registra­do no Novo Testamento. Qualquer "outro" sistema "que vá além" (ERAB) ou que seja "diferente" (BLH) desse evangelho apostólico deve ser rejeitado.

Este é o segundo teste fundamental. Qualquer um que rejeite o evangelho apostólico, não importa quem seja, será igualmente rejeitado. Pode até vir na forma de "um anjo do céu". Neste caso, devemos pre­ferir os apóstolos aos anjos. Não devemos ficar deslumbrados, como acontece a muitas pessoas, com a personalidade, os dons ou a posição dos mestres na igreja. Eles podem dirigir-se a nós com grande dignidade, autoridade e erudição. Podem ser bispos ou arcebispos, professo­res universitários ou até mesmo o próprio papa. Mas, se nos trouxe­rem um evangelho diferente daquele que foi pregado pelos apóstolos e que se encontra registrado no Novo Testamento, devem ser rejeita­dos. Nós os julgamos pelo evangelho; não julgamos o evangelho por eles. Como disse o Dr. Alan Cole: "Não é a pessoa física do mensagei­ro que dá valor à sua mensagem; antes, é a natureza da mensagem que dá valor ao mensageiro."

Então, ao ouvirmos as multifárias opiniões de homens e mulheres da atualidade, sejam faladas, escritas, irradiadas ou televisionadas, devemos sujeitar cada uma delas a estes dois rigorosos testes. Tal opinião é coerente com a livre graça de Deus e com o claro ensinamento do Novo Testamento? Caso contrário, devemos rejeitá-la, por mais augusto que seja o mestre. Mas, se for aprovada nestes testes, então vamos abraçá-la e apegar-nos a ela. Não devemos comprometê-la como os judaizantes, nem desertar dela como os gálatas, mas viver por ela e procurar torná-la conhecida dos outros.

A origem do evangelho de Paulo

Vimos acima que há um só evangelho, e que este evan­gelho é o critério pelo qual todas as opiniões humanas devem ser testa­das. É o evangelho que Paulo apresentou.

A questão agora é: qual é a origem do evangelho de Paulo para que seja normativo, e para que as outras mensagens e opiniões sejam avaliadas e julgadas por ele? Sem dúvida é um evangelho maravilho­so. Lembremos a Epístola aos Romanos, as Epístolas aos Coríntios e as poderosas epístolas da prisão, como Efésios, Filipenses e Colossenses. Ficamos impressionados com o majestoso ímpeto, profundi­dade e a consistência com que Paulo expõe o propósito de Deus de eter­nidade a eternidade. Mas de onde ele tirou essas ideias? Seriam produ­to de sua própria mente fértil? Ele as inventou? Ou será que eram ma­terial antigo, de segunda mão, sem autoridade original? Será que as plagiou dos outros apóstolos em Jerusalém, que os judaizantes eviden­temente defendiam, uma vez que tentavam subordinar a autoridade de Paulo à dos apóstolos?

A resposta dele a estas perguntas pode ser encontrada nos versícu­los 11 e 12: Faço-vos, porém, saber, irmãos (uma fórmula favorita sua de introduzir uma declaração importante), que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. Eis aí a razão por que o evangelho de Paulo era o padrão pelo qual os outros evangelhos deviam ser medidos. O seu evangelho era (literalmente, versículo 11) "não... segundo o homem"; não era "invenção hu­mana" (BLH). "Eu o preguei", Paulo poderia dizer, "mas não o inventei. Também não o recebi de um homem, como se fosse uma tradição já aceita, passada de uma geração a outra. Também não me foi ensinado, como se o precisasse aprender de mestres humanos." Pelo contrário, ele veio "mediante revelação de Jesus Cristo". Isto provavelmente significa que ele lhe foi revelado por Jesus Cristo. Alternati­vamente, o genitivo poderia ser objetivo, caso em que Cristo é a subs­tância da revelação, como no versículo 16, e não o seu autor. Seja qual for o caso, o sentido geral é explícito. Assim como no versículo 1 ele afirmou ser divina a origem de sua comissão apostólica, agora ele afir­ma ser de origem divina o seu evangelho apostólico. Nem a sua missão nem a sua mensagem derivaram de homem algum; ambas lhe vieram diretamente de Deus e de Jesus Cristo.

A reivindicação de Paulo, portanto, é a seguinte. O seu evangelho, que estava sendo colocado em dúvida pelos judaizantes e abandonado pelos gálatas, não era uma invenção (como se a sua própria mente o tivesse fabricado), nem uma tradição (como se a igrejalho tivesse trans­mitido), mas uma revelação (pois Deus é quem o revelara a ele). Como John Brown diz: "Jesus cristo o tomou sob sua própria e imediata tu­tela." Por isso é que Paulo se atrevia a chamar o evangelho que pre­gava de "meu evangelho" (cf. Rm 16:25). Era "seu", não porque ele o criara, mas porque lhe fora revelado de maneira especial. A magni­tude de sua reivindicação é notável. Ele está afirmando que a sua men­sagem não é sua, mas de Deus; que o seu evangelho não é seu, mas de Deus; que as suas palavras não são suas, mas de Deus.

Após fazer esta surpreendente declaração de uma revelação direta de Deus, sem canais humanos, Paulo prossegue comprovando-a historicamente, isto é, com fatos de sua própria autobiografia. As situações ocorridas antes, durante e após sua conversão foram tais que ele sem dúvida recebeu o seu evangelho diretamente de Deus e não de al­gum homem. Examinemos essas três situações separadamente.

1. O que Aconteceu Antes de Sua Conversão (vs. 13, 14)

Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos na minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.Aqui o apósto­lo descreve a sua situação antes da conversão, quando ele estava "no judaísmo", isto é, quando ainda era um "judeu praticante". O que ele fora naquele tempo todos sabiam. "Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora", diz ele, pois já lhes falara sobre isto antes. Paulo menciona dois aspectos da sua vida antes da regeneração: a perseguição à igreja, que ele agora reconhece ser "a igreja de Deus" (versículo 13), e o seu entusiasmo pelas tradições dos seus pais (versículo 14). Em ambos, diz ele, era fanático.

Consideremos a perseguição à igreja. Paulo perseguia a igreja de Deus "sobremaneira" (ERC) ou "com violência" (BLH). A frase pa­rece indicar a violência, até mesmo selvageria, com que ele se empe­nhava na sua atividade sinistra. O que ele nos conta aqui podemos su­plementar com o livro de Atos. Ele ia de casa em casa em Jerusalém, prendendo todos os cristãos que encontrasse, homens e mulheres, e arrastando-os para a cadeia (At 8:3). Quando esses cristãos eram con­denados à morte, ele votava contra eles (At 26:10). Ainda não satis­feito em perseguir a igreja, ele se sentia realmente inclinado a devastá-la (versículo 13). Estava determinado a acabar com ela.

Ele fora igualmente fanático em seu entusiasmo pelas tradições judaicas. "Fui um dos judeus mais religiosos do meu tempo e procurava seguir com todo o cuidado as tradições dos meus antepassados", descreve (versículo 14, BLH). Ele fora criado de acordo com "a seita mais severa" da religião judaica (At 26:5), ou seja, era um fariseu e vivia como tal.

Esta era a condição de Saulo de Tarso antes de sua conversão: um fanático inveterado, completamente dedicado ao Judaísmo e à perseguição de Cristo e da igreja.

Um homem nessa condição mental e emocional de maneira alguma mudaria de opinião, nem se deixaria influenciar por outras pessoas. Nenhum reflexo condicionado ou qualquer outro artifício psicológico poderia converter um homem assim. Apenas Deus poderia alcançá-lo - e foi o que Deus fez!

2. O que Aconteceu na sua Conversão (vs. 15, 16a)

Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pre­gasse entre os gentios... O contraste entre os versículos 13 e 14, de um lado, e os versículos 15 e 16, do outro, é dramaticamente abrupto. Ve­mo-lo claramente nos sujeitos dos verbos. Nos versículos 13 e 14 Pau­lo está falando de si mesmo: "perseguia eu a igreja de Deus... e a de­vastava... quanto ao judaísmo avantajava-me... sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais." Mas nos versículos 15 e 16 ele co­meça a falar de Deus. Foi Deus, escreve, "que me separou antes de eu nascer", Deus "me chamou pela sua graça", e a Deus "aprouve revelar seu Filho em mim". Em outras palavras, "no meu fanatismo eu me inclinava a perseguir e destruir, mas Deus (que eu havia deixado fora de minhas cogitações) me prendeu e alterou meu impetuoso cur­so. Todo o meu violento fanatismo nada era diante da boa vontade de Deus."

Observe como a iniciativa e a graça de Deus são enfatizadas a cada estágio. Primeiro, Deus me separou antes de eu nascer. Assim como Jacó foi escolhido antes de nascer, em preferência ao seu irmão gêmeo Esaú (cf. Rm 9:10-13), e como Jeremias, designado para ser profeta antes de nascer (Jr 1:5), Paulo, antes de nascer, foi separado para ser apóstolo. Desta forma, se ele foi consagrado apóstolo antes mesmo do nascimento, então é evidente que ele nada tem a ver com isso.

Em segundo lugar, essa escolha antes do seu nascimento levou à sua vocação histórica. Deus me chamou pela sua graça, isto é, por seu amor totalmente imerecido. Paulo estivera lutando contra Deus, con­tra Cristo, contra os homens. Ele não merecia misericórdia, nem a pe­dira. Mas a misericórdia fora ao seu encontro e a graça o chamara.

Terceiro, aprouve (a Deus) revelar seu Filho em mim. Quer Paulo esteja se referindo à sua experiência na estrada de Damasco, ou aos dias imediatamente subsequentes, o que lhe foi revelado foi Jesus Cristo, o Filho de Deus. Paulo perseguia a Cristo porque cria que este era um impostor. Agora o seus olhos estavam abertos para ver Jesus não co­mo um charlatão, mas como o Messias dos judeus, Filho de Deus e o Salvador do mundo. Ele já conhecia alguns dos fatos acerca de Jesus (ele não declara que estes lhe foram revelados sobrenaturalmente, naquele ocasião ou mais tarde, cf. 1 Co 11:23), mas agora percebia o seu significado. Era uma revelação de Cristo para os gentios, pois a Deus "aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios". Fora uma revelação particular a Paulo, mas para uma comunicação pública aos gentios. (Cf. At 9:15.) E o que Paulo foi encarregado de pregar aos gentios não foi a lei de Moisés, como os judaizantes estavam ensinando, mas as boas novas (o significado do verbo "pregar" no versículo 16), as boas novas de Cristo. Este Cristo fora revelado, diz Paulo, "em mim" (literalmente). Nós sabemos que foi uma revelação externa, pois Paulo declara ter visto Cristo ressuscitado (p. ex., 1 Co 9:1; 15:8, 9). Essencialmente, porém, foi uma iluminação interior de sua alma, Deus resplandecendo em seu coração "para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo" (2 Co 4:6). E esta revelação foi tão íntima, tornando-se de tal forma parte dele mesmo, que lhe possibilitou torná-la conhecida aos outros.

A força destes versículos é muito grande. Saulo de Tarso fora um oponente fanático do evangelho. Mas Deus se agradou fazer dele um pregador desse mesmo evangelho ao qual ele antes se opunha tão ferozmente. Sua escolha antes de nascer, sua vocação histórica e a reve­lação de Cristo nele, tudo isso foi obra de Deus. Portanto, nem a sua missão apostólica nem a sua mensagem vinham dos homens.

Contudo, o argumento do apóstolo ainda não está completo. Considerando que a sua conversão foi uma obra de Deus, o que se tornou claro na maneira como aconteceu e pelos seus precedentes, não teria ele recebido instruções depois de sua conversão, de modo que a sua mensagem fosse proveniente de homens? Não. Isto também Paulo nega.

3. O que Aconteceu Depois de sua Conversão (vs. 16b-24)

...não consultei carne e sangue, 17 nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia, e voltei outra vez para Damasco.
18 Decorridos três anos, então subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas, e permaneci com ele quinze dias; 19 e não vi outro dos apósto­los, senão a Tiago, o irmão do Senhor. 20 Ora, acerca do que vos es­crevo, eis que diante de Deus testifico que não minto. 21Depois fui pa­ra as regiões da Síria e da Cilícia. 22 E não era conhecido de vista das igrejas da Judéia, que estavam em Cristo. 23 Ouviam somente dizer: Aquele que antes nos perseguia, agora prega a fé que outrora procura­va destruir. 24 E glorificavam a Deus a meu respeito.

Neste parágrafo um tanto longo a ênfase está na primeira declara­ção, no final do versículo 16: "não consultei carne e sangue". Isto é, Paulo diz que não consultou nenhum ser humano. Sabemos que Ananias foi ao seu encontro, mas evidentemente Paulo não discutiu o evan­gelho com ele, nem com qualquer dos apóstolos em Jerusalém. Agora ele faz esta declaração historicamente. Ele apresenta três álibis para provar que não gastou tempo em Jerusalém e que seu evangelho não foi moldado pelos outros apóstolos.

Álibi 1Ele foi à Arábia (v. 17)

De acordo com Atos 9:20, Paulo ficou algum tempo em Damasco, pregando, o que dá a ideia de que o seu evangelho já estava bastante defi­nido para que pudesse anunciá-lo. Mas deve ter ido logo depois para a Arábia. O Bispo Lightfoot comenta: "Um véu muito espesso cobre a visita de S. Paulo à Arábia." Não sabemos aonde ele foi nem por que foi para lá. Possivelmente não foi muito longe de Damasco, por­que todo o seu distrito naquele tempo era governado pelo rei Aretas da Arábia. Há quem diga que ele foi à Arábia como missionário para pregar o evangelho. Crisóstomo descreve "um povo bárbaro e sel­vagem" que vivia ali, o qual Paulo foi evangelizar. Mas é muito mais provável que ele tenha ido à Arábia em busca de quietude e solidão, pois este é o ponto alto dos versículos 16 e 17: "...não consultei carne e sangue... mas parti para as regiões da Arábia." Parece que ele ficou por lá durante três anos (versículo 18). Cremos que neste período de afastamento, ao meditar sobre as Escrituras do Antigo Testamento, sobre os fatos da vida e morte de Jesus, os quais ele já conhecia, e a experiência de sua conversão, o evangelho da graça de Deus lhe foi re­velado em toda a plenitude. Alguém até já sugeriu que aqueles três anos na Arábia foram uma deliberada compensação pelos três anos de ins­trução que Jesus dera aos outros apóstolos, mas que Paulo não rece­bera. Agora era como se ele tivesse Jesus ao seu lado durante três anos de solidão no deserto.

Álibi 2. Ele foi a Jerusalém mais tarde para uma rápida visita (vs. 18-20)

A ocasião provavelmente é a que se menciona em Atos 9:26, depois que ele foi tirado às escondidas de Damasco, sendo descido pelo muro da cidade em um cesto. Paulo é totalmente franco acerca desta visita a Jerusalém, mas lhe dá pouca importância. Nada havia nela de tão significativo como os falsos mestres estavam obviamente sugerindo. Diversos aspectos dela são mencionados.

Primeiro, ela aconteceu "decorridos três anos" (versículos 18). Is­to significa quase certamente três anos depois de sua conversão, tem­po em que o seu evangelho já fora plenamente formulado.

Depois, quando ele chegou a Jerusalém, avistou-se apenas com dois apóstolos, Pedro e Tiago. Ele foi para "avistar-se" (ERAB) ou "co­nhecer" (BLH) Pedro. O verbo grego (historesai) era usado no sentido de fazer turismo e significa "visitar com o propósito de conhecer uma pessoa" (Arndt-Gingrich). Lutero comenta que Paulo foi visitar esses apóstolos "não porque recebeu tal ordem, mas de sua própria vonta­de; não para aprender alguma coisa com eles, mas apenas par conhe­cer Pedro". Paulo também conheceu Tiago, que parece estar aqui re­lacionado entre os apóstolos (versículo 19). Não viu, porém, nenhum dos outros apóstolos. Pode ser que eles estivessem ausentes, ou ocupa­dos demais, ou até mesmo com medo de Paulo (cf. At 9:26).

Terceiro, ele passou apenas "quinze dias" em Jerusalém. Natural­mente em quinze dias os apóstolos teriam tido tempo par falar acerca de Cristo. Mas o que Paulo está destacando é que, quinze dias não era tempo suficiente para ele absorver de Pedro todo o conselho de Deus. Além disso, não fora este o propósito da visita. Lemos em Atos (9:28,29) que grande parte daquelas duas semanas em Jerusalém foi ocupada em pregações.

Resumindo, a primeira visita de Paulo a Jerusalém deu-se apenas depois de três anos, durou duas semanas, e ele viu apenas dois apóstolos. Portanto, é ridículo sugerir que tenha recebido o seu evangelho dos apóstolos em Jerusalém.

Álibi 3. Ele foi para a Síria e a Cilícia (vs. 20-24)

Esta visita ao extremo norte corresponde a Atos 9:30, onde lemos que Paulo, estando em perigo de vida, foi levado pelos irmãos à Cesaréia, de onde o enviaram para Tarso, que fica na Cilícia. Uma vez que ele diz que também foi "para as regiões da Síria", ele deve ter visitado novamente Damasco e Antioquia a caminho de Tarso. De qualquer maneira, o que Paulo está destacando é que estava lá no extremo nor­te, e não em Jerusalém. Um resultado disso é que ele "não era conhecido de vista das igre­jas da Judéia" (versículo 22). Estas o conheciam apenas de ouvir fa­lar, e o rumor que ouviam era que o seu perseguidor de outrora se tor­nara pregador (versículo 23). Na verdade, ele se tornara pregador "da fé" que havia aceitado e que anteriormente "procurava destruir". Sa­bendo disto, "glorificavam a Deus a meu respeito". Eles não glorificavam a Paulo, mas a Deus em Paulo, reconhecendo que este era um troféu extraordinário da graça de Deus.

Só catorze anos mais tarde (2:1), presumivelmente anos esses após a sua conversão, Paulo tornou a visitar Jerusalém e teve um contato mais demorado com os outros apóstolos. A essa altura dos acontecimentos, o seu evangelho já estava totalmente desenvolvido. Mas durante o pe­ríodo de catorze anos entre a sua conversão e esta entrevista ele fez apenas uma rápida e insignificante visita a Jerusalém. O restante desse tempo ele passou na distante Arábia, na Síria e na Cilícia. Seus álibis provam a independência do seu evangelho.

O que Paulo diz nos versículos 13 a 24 pode ser resumido da se­guinte forma: o fanatismo de sua carreira antes da conversão, a inicia­tiva divina na sua conversão e depois, o seu isolamento quase total dos líderes da igreja de Jerusalém, tudo contribuía para provar que sua men­sagem não era humana, mas divina. Além disso, estas evidências his­tóricas e circunstanciais não poderiam ser contestadas. O apóstolo po­de confirmar e garantir isso com uma solene afirmação: "Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto!" (versículo 20).

Conclusão

Concluindo, retornamos à afirmação que estes detalhes autobiográfi­cos procuraram estabelecer. Os versículos 11 e 12 dizem: Faço-vos, po­rém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segun­do o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem al­gum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. Tendo considerado a falta de contato de Paulo com os apóstolos de Jerusalém duranteos primeiros quatorze anos do seu apostolado, podemos aceitar a origem divina de sua mensagem? Muitos não aceitam.

Há pessoas que, embora admirem o intelecto sólido de Paulo, acham que seus ensinamentos são severos, áridos e complicados; por isso os rejeitam.

Outros dizem que Paulo foi responsável pela corrupção do Cristia­nismo simples de Jesus Cristo. Estava na moda, cerca de um século atrás, estabelecer uma brecha entre Jesus e Paulo. Contudo, de um mo­do geral reconhece-se atualmente que não se pode fazer isto, pois to­das as sementes da teologia de Paulo se encontram nos ensinamentos de Jesus. Não obstante, a "teoria da brecha" ainda tem os seus advo­gados. Por exemplo, Lord Beaverbrook escreveu uma pequena vida de Cristo que ele intitulou The Divine Propagandist (O Propagandista Divino). Ele nos informa que a escreveu "como um homem de negó­cios", e que estava "tentando entender Jesus à luz trêmula de uma in­teligência limitada e uma pesquisa certamente restrita". "Eu vasculhei os evangelhos e ignorei a teologia", ele diz. Seu tema é que a igreja tem entendido mal e representado mal a Jesus Cristo. Quanto ao após­tolo Paulo, a opinião de LordBeaverbrook é que ele foi "incapaz, por natureza, de entender o espírito do Mestre". Ele prejudicou o Cristianismo e deixou suas marcas, eliminando muitos dos traços das pe­gadas do seu Mestre". Mas Paulo não pode ter representado mal a Cristo se estava transmitindo uma revelação especial de Cristo, que é o que ele declara em Gálatas 1.

Outras pessoas acham que Paulo era um homem comum, que participava de nossas paixões e nossa falibilidade, de modo que a sua opi­nião não é melhor do que a de qualquer outra pessoa. Mas Paulo diz que a sua mensagem não é segundo os homens, mas vem de Jesus Cristo.

Outros, ainda, dizem que Paulo simplesmente refletiu a opinião da comunidade cristã do primeiro século. Nesta passagem, porém, Paulo se esforça para mostrar que a sua autoridade não era eclesiástica. Ele foi totalmente independente dos líderes da igreja, e recebeu seus pon­tos de vista de Cristo, e não da igreja.

Este, portanto, é o nosso dilema. Vamos aceitar as palavras de Paulo quanto à origem de sua mensagem, apoiadas como estão por sólidas evidências históricas? Ou será que vamos preferir nossa própria teo­ria, embora não tenha o apoio de qualquer evidência histórica? Se Paulo está certo ao dizer que o seu evangelho não veio de homens, mas de Deus (cf. Rm 1:1), então rejeitar Paulo é rejeitar a Deus.

Bibliografia J. R. W. Stott+ www.ebareiabranca.com
fontewww.mauricioberwaldoficial.blogspot.com


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