IMPORTÂNCIA DA TEOLOGIA NA APOLOGÉTICA
Já há algum tempo, o renomado apologista Jan Karel Van Baalen, em sua
importante obra, O caos das seitas, nos alertou acerca de um problema que a
igreja evangélica no mundo vem enfrentando. Notadamente, Van Baalen ressalta o
desconhecimento das doutrinas bíblicas fundamentais por parte dos cristãos em
contraposição ao empenho incansável dos adeptos das seitas no estudo metódico
de suas doutrinas e também das doutrinas daqueles a quem pretendem convencer.
Todo aquele que já teve a experiência de dialogar com um sectário pôde perceber
que ele domina os fundamentos de sua crença, e também a doutrina dos
divergentes. Raramente esse quadro é pintado de outra forma.
Confirmando os apontamentos de Van Baalen, verificamos que muitos membros de
nossas igrejas se esquivam da abordagem aos adeptos de seitas pela admitida
incompetência de dialogar com eles, a fim de ganhá-los para Cristo. Paulo,
entretanto, observou a importância do estudo bíblico quando recomendou:
“Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja
poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os
contradizentes”(Tt 1.9; grifo do autor).
A expressão “a fiel palavra, que é conforme a doutrina” pode ser interpretada
como um fruto gerado pelo conhecimento teológico. E a expressão “convencer os
contradizentes”, pode ser interpretada como um ato de evangelizar pessoas que
professam uma fé distinta do genuíno cristianismo.
Será que somos hábeis em conduzir um sectário a Jesus por meio da Bíblia? Qual
é a importância da teologia na apologética? Vejamos:
A relação entre a teologia e a apologética
A apologética cristã é uma disciplina da teologia cuja finalidade é defender os
princípios bíblicos por ela (teologia) expressos. Assim, a apologética visa
combater os desvios doutrinários identificados nas diversas disciplinas
teológicas, especialmente nas doutrinas essenciais, como a natureza divina
(Pai, Filho e Espírito Santo) e a encarnação, morte e ressurreição de Cristo,
entre outras.
Observando esta relação, podemos concluir que a apologética atua em função da
teologia. É porque os princípios doutrinários existem e são distorcidos que a
apologética é necessária. Logo, todos os elementos da apologética dependem e
convergem para a teologia. Com isso em mente, entendemos que a apologética será
conduzida de acordo com a teologia que quer defender. Portanto, se alguém
possuir algumas doutrinas distorcidas como base, sua apologética seguirá a
mesma tendência. Diante destes pressupostos, vejamos algumas categorias da
apologética e como essas categorias se relacionam com as doutrinas teológicas:
Apologética clássica
Este tipo de abordagem trabalha com o principal pressuposto teológico, isto é,
a existência de Deus. É essa linha apologética que vai explorar os argumentos
comprobatórios da existência divina. Os principais argumentos são:
a.) Cosmológico: uma vez que cada coisa existente no Universo, deve ter uma
causa, deve haver um Deus, que é a última causa de tudo.
b.) Teleológico: existe um objetivo, um propósito para a criação do Universo e
do ser humano.
c.) Ontológico: Deus é maior do que todos os seres concebidos porque existe na
mente do homem um conhecimento básico da existência de Deus.
Os teólogos que se destacaram como apologistas clássicos foram: Agostinho, Anselmo
de Cantuária e Tomás de Aquino.
Apologética evidencial
Como já podemos inferir do próprio nome, esta linha apologética procura
defender as doutrinas teológicas ressaltando as evidências que as envolvem,
tais como: a infalibilidade da Bíblia, a veracidade da divindade de Cristo e
sua ressurreição, entre outras. Um teólogo que representa bem esta classe de
apologistas em nossos dias é Josh McDowell, autor do livro (um best seller)
Evidências que exigem um veredicto.
Apologética histórica
Esta classe de apologética enfatiza as evidências históricas. Seus
representantes acreditam que a existência de Deus pode ser provada com base
apenas na evidência histórica, porém, isso não significa que não lancem mão de
outros artifícios. Geralmente, o fundamento deste tipo de abordagem são os
documentos do Novo Testamento e a confiabilidade de suas testemunhas. Podemos
encontrar teólogos expoentes da apologética histórica nos primórdios da igreja,
como Justino Mártir e Tertuliano.
Apologética experimental
Este tipo de apologética, geralmente, é apresentada por fiéis que arrogam para
si experiências religiosas pessoais e, às vezes, exclusivas. Assim, alguns
apologistas rejeitam este tipo de abordagem por seu caráter excessivamente
místico e alegam que tais experiências são comprobatórias apenas para os que
nelas crêem ou delas compartilham. Em suma, a apologética experimental se apóia
na experiência cristã como evidência do cristianismo e está relacionada à
teologia do leigo; ou seja, à teologia que não é acadêmica, mas popular.
Um ponto negativo desta abordagem é que ela se apresenta de forma um tanto
quanto subjetiva. Ou seja, é difícil sentenciá-la como verdade ou fraude. O seu
ponto positivo, porém, é que a nossa crença precisa, de fato, ser vivida,
experimentada, do contrário não passará de teoria.
Apologética pressuposicional
Esta abordagem é chamada assim porque parte de uma pressuposição para construir
sua defesa... O “pressuposicionalismo” pode ser assim classificado:
a.) Revelacional: todo o entendimento da verdade parte da pressuposição da
revelação de Deus e da legitimidade da Bíblia em expor esta revelação.
b.) Racional: a pressuposição básica gira em torno da coerência do argumento.
Se o cristianismo arroga para si a posição de única verdade, então isso implica
em dizer e provar que todos os demais sistemas são falsos.
c.) Prático: a pressuposição aqui é a de que somente as verdades cristãs podem
ser vividas.
Os teólogos que se destacaram como apologistas “pressuposicionalistas” foram:
Cornelius Van Till e John Carnell.
A teologia como um baluarte contra o erro
Como podemos confirmar, independente do tipo de apologética que esteja sendo
exercido, o fato é que todas se relacionam com os fundamentos da teologia.
Sabemos que a grande ocorrência da apostasia em nosso meio envolve seitas
pseudocristãs, ou seja, aquelas que mais se assemelham com o cristianismo. Isto
se deve ao emprego distorcido dos fundamentos teológicos facilmente aceitos
entre os crentes incautos. É como se fosse um disfarce do cristianismo, uma
maquiagem para a verdade cristã.
Quando um crente encontra-se desabilitado para defender sua fé, ele fatalmente
está propenso ao engano. Disse Charles Hodge: “Que ninguém creia que o erro
doutrinário seja um mal de pouca importância. Nenhum caminho para a perdição
jamais se encheu de tanta gente como o da falsa doutrina”. A tragédia
espiritual de inúmeros crentes é que eles não atentam para isso!
O apologista Walter Martin também alertou que é conhecendo a verdadeira nota
que conseguimos identificar a falsa. É possível ser um teólogo e não ser
apologista, embora isso não seja plausível. Entretanto, é impossível ser um
apologista sem ser um teólogo! O conhecimento das doutrinas fundamentais da
Bíblia é o maior baluarte contra o erro. Todo o engodo está na deturpação das
Escrituras, na distorção da doutrina. Uma teologia voltada para a apologia
certamente evitaria os modismos que têm causado escândalo entre os evangélicos
em nosso país. Vejamos o que o apóstolo Paulo orientou a Timóteo: “Tem cuidado
de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te
salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1Tm 4.16; grifo do autor). A
Tito, ele declarou: “Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina,
mostra incorrupção, gravidade, sinceridade” (Tt 2.7; grifo do autor).
O nosso desejo e oração é para que, assim como Paulo, os líderes de nossas
igrejas também se dediquem em orientar e conscientizar seus colaboradores sobre
a importância da teologia na defesa da fé de seus membros. Somente assim, e com
o auxílio do Espírito Santo, conseguiremos manter singelas as verdades eternas
da Palavra de Deus.
fonte icp
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