PARTIDARISMO
NA IGREJA?
1 Coríntios 1.10-13;
3.1-6.
1 Coríntios 1
10 - Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós
dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer.
11 - Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi
comunicado pelos da família de Cloe que há contendas entre vós.
12 - Quero dizer, com isso, que cada um de vós diz: Eu
sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo.
13 - Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por
vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo?
1 Coríntios 3
1 - E eu, irmãos, não vos pude falar como a
espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.
2 - Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda
não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis;
3 - porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós
inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais
segundo os homens?
4 - Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu,
de Apolo; porventura, não sois carnais?
5 - Pois quem é Paulo e quem é Apolo, senão ministros
pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?
6 - Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o
crescimento.
A Igreja do Senhor Jesus Cristo é descrita no Novo
Testamento por meio de figuras instrutivas que acentuam a natureza e a unidade
do povo de Deus. Ela nos é apresentada como "corpo" (1 Co 12.12),
"edifício" (1 Co 3.9), "templo" (1 Co 3.16), e
"família" (Ef 2.19). Esses emblemas salientam a mais completa união
entre os santos do Senhor. O apóstolo Paulo, usado por Deus, exorta a Igreja à
unidade, à concórdia e à comunhão entre os irmãos. Todavia, é uma grande
lástima ver aqui e acolá os ditos salvos e santos em guerra uns contra os
outros. Será que estes são a continuação dos "falsos irmãos"
descritos em Gálatas 2.4?
I. UMA IGREJA, QUATRO PARTIDOS (1 Co 1.10-12)
Antes de exortar pastoralmente a igreja de Corinto,
Paulo, com sabedoria, reconheceu e destacou as bênçãos divinas sobre aqueles
irmãos e o que havia de bom entre eles: 1) Eram "santificados em
Cristo" (v.2); 2) Chamados "santos" (v.2); 3) Alvos "da
graça de Deus" (v.4); 4) Enriquecidos espiritualmente na palavra e no
conhecimento (v.5); 5) Tinham todos os dons espirituais concedidos pela graça
de Deus (v.7); 6) Tinham a certeza da volta de Cristo (v.7).
1. O partido de Paulo: "Eu sou de Paulo"
(v.12). O apóstolo foi o fundador da igreja em Corinto (At 18.8-11). Esse
partido, composto principalmente por gentios, era o grupo dos
"fundadores". Este grupo era formado pelos que se converteram através
da pregação de Paulo, o "apóstolo dos gentios" (Rm 11.13). Paulo
jamais incentivou qualquer divisão, pelo contrário, ensinava os crentes a
amarem a todos, e a respeitarem a consciência dos mais fracos (1 Co 8.10-13).
2. O partido de Apolo: "Eu sou de Apolo"
(v.12). Apolo era um servo de Deus, "eloquente e poderoso nas
Escrituras" (At 18.24-28). Ele ministrou na cidade de Corinto depois da
partida de Paulo para a Síria (At 18.18; 19.1). Era natural de Alexandria,
Egito, um eficaz expositor das Sagradas Escrituras, e um fluente orador (At
18.28). O "grupo de Apolo" era formado pelos crentes elitistas,
intelectuais, filósofos e sábios de Corinto (1 Co 1.20-23; 2.1-6; 3.18,19).
Embora um partido se formasse em torno de seu nome, Apolo não apoiava qualquer
facção na igreja local. Quando Paulo insiste para que ele vá a Corinto, Apolo
não se apressa em atender aquela igreja, talvez com receio que sua presença
estimulasse ainda mais as divisões (1 Co 16.12).
3. O partido de Cefas: "Eu sou de Cefas"
(v.12). Cefas era o nome de Pedro no aramaico (Jo 1.42). Não há qualquer
registro de que este apóstolo tenha ido a Corinto, mas seu renome como um dos
três discípulos mais chegados a Cristo (Mt 17.1; Mc 5.37), e "apóstolo dos
judeus" (Gl 2.7,8) era conhecido por todos os cristãos. O "partido de
Cefas", o qual deu muito trabalho a Paulo, era composto por judeus
legalistas. É possível que esses judeus tenham se convertido em Jerusalém,
através da pregação do apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, e depois, formado
na igreja local um grupo a favor da liderança deste apóstolo.
4. O partido de Cristo: "E eu de Cristo"
(v.12). Este grupo da igreja era exclusivista. Ele se considerava o único
partido legítimo. Não se submetia a nenhum pastor humano. Só Cristo servia.
Era, sem dúvida, o mais nocivo dos divididos.
Contudo, essas facções estavam cometendo um grave
pecado contra a unidade do Corpo de Cristo, a Igreja. Os de Paulo, liberais na
doutrina e nos costumes cristãos, achavam que podiam exercer a liberdade em
Cristo acima da lei do amor (1 Co 13) - seu pecado era a libertinagem. Os de
Cefas, legalistas, erravam ao unir a lei com a graça (Jo 1.17; Rm 10.4; Cl
2.14) - seu pecado era unir duas alianças distintas. Os de Apolo, intelectuais,
com seu racionalismo filosófico, acreditavam que a lógica e a razão humanas
eram tudo o que precisavam para entender as coisas do Espírito - seu pecado era
aceitar as escolas de pensamento humano em vez do Espírito. Os de Cristo,
exclusivistas, por causa do seu orgulho, carnalidade e imaturidade crônica, não
se submetiam a nenhuma liderança pastoral - seu pecado era a insubordinação.
Esses mesmos pecados ainda hoje continuam a estragar e
corromper os crentes e suas respectivas congregações: libertinagem, legalismo,
exclusivismo, dependência da sabedoria e capacidade humanas.
II. A IGREJA E A DIVERSIDADE DE SEUS MINISTÉRIOS (1 Co
3.1-10)
Nossos ministérios ou serviços para Deus, na sua obra,
devem ser interagentes e completivos; não rivais. Nesta passagem veremos, em
resumo, alguns desses obreiros e seus ministérios.
1. Obreiro plantador de semente da Palavra (vv.6-8).
Ele lida com a semente da Palavra de Deus (Lc 8.11), e ao mesmo tempo com os
diferentes tipos de terrenos, que são os corações humanos (Mt 13.1-8). Há
sementes parecidas, mas não são do celeiro do Senhor.
2. Obreiro regador da planta (vv.6-8). Este cuida da
plantinha com desvelo; água, adubo, limpeza, poda, higidez. Muitas plantas não
vingam, nem crescem porque não houve regador.
3. O obreiro cooperador com os demais (v.9). Não se
trata aqui de um mero ajudante ou auxiliar; mas de alguém devidamente
capacitado e experiente, que trabalha com seus pares unindo forças para maior
rendimento do trabalho comum.
4. Obreiro edificador (v.10). Edificar não é
exatamente o mesmo que construir. No sentido estrito da palavra, edificar é
esmerar-se nos mínimos detalhes da obra. Nos materiais: referência, qualidade,
procedência, durabilidade, resistência. Na mão de obra: perícia,
especialização, prática. Na planta: exame, precisão, aprovação. Sempre que a
Bíblia fala da Igreja do Senhor e de seus membros, o termo empregado é edificar
e não simplesmente construir. Construir para exibir volume de trabalho é fácil,
rápido e barato; edificar em qualquer sentido custa muito. As igrejas novas que
de um dia para outro se agigantam, geralmente são simples construções,
temporárias e aparentes. Edificação também tem a ver com acabamento, que é caro
e demorado. A Palavra adverte: "Veja cada um como edifica" (v.10).
5. Obreiro destruidor (v.17). O texto refere-se
especificamente àquele que destrói o templo do seu corpo (que pertence ao
Senhor), com fumo, bebida, drogas, glutonaria, trabalho sem descanso, sexo
ilícito, etc. Todavia, a referência geral à diversidade de trabalhadores na
causa do Senhor perpassa todo o capítulo 3. Outras passagens que também tratam
deste assunto são: Mt 9.37,38 (obreiro ceifador), e Jo 15.2 (o obreiro
podador).
6. Um alerta profético (vv.12-15). O fundamento da
Igreja é nosso Senhor Jesus Cristo (v.11; Mt 16.18; 1 Pe 2.6). Contudo, Paulo,
"como sábio arquiteto", pôs o "fundamento", mas outro
"edifica sobre ele" (v.10). De que forma pôs o fundamento? Pela
inspiração divina ele continuamente pregava e ensinava a Cristo, crucificado e
ressurreto, como o perfeito e suficiente Salvador da humanidade.
Sobre a edificação da Igreja e seu fundamento
inabalável que é Cristo, o apóstolo do Senhor alerta: "Veja cada um como
edifica sobre ele" (v.10). Esta admoestação é de caráter profético:
"o Dia a declarará" (v.13). Paulo refere-se à reunião dos santos no
Tribunal de Cristo, que galardoará cada um "segundo o seu trabalho"
(vv.8,14).
As obras reprovadas pelo justo Juiz não resistirão ao
julgamento divino representado pelo fogo: madeira, feno, palha; enquanto as
aprovadas resistirão ao juízo celestial: ouro, prata e pedras preciosas (v.12).
"Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo,
todavia como pelo fogo" (v.15).
Entra hoje no trabalho do Senhor! O Senhor precisa de
ti! Se tu não entrares, alguém fará o teu trabalho, mas não como tu o farias,
por isso somos diferentes uns dos outros. "Olha, faze tudo conforme o
modelo que, no monte, se te mostrou" (Hb 8.5; Êx 25.40).O partidarismo
divisionista na igreja enfraquece e combate a unidade do Espírito pelo vínculo
da paz (Ef 4.3). Cada crente tem a sua parte na preservação da comunhão e da
unidade cristãs. A vontade do Senhor Jesus é que, todos, sem exceção, cheguem à
perfeição desta dádiva celeste.
"Apenas Cristo
(1 Co 3.5-11)
Nestes versículos, a Bíblia apresenta o ministério
conjunto de Paulo e Apolo sobre o 'edifício e lavoura de Deus': um plantou, o
outro regou, mas Deus deu o crescimento (vv.6,9,10; 1 Co 4.15). O crédito não é
do pregador, muito menos do mestre, mas do Senhor (v.7). Em 1 Co 4.6-13, o
apóstolo retoma mais uma vez a discussão iniciada em 3.5, afirmando que ele e
Apolo servem de 'figura' à unidade cristã, pois, embora a igreja esteja
dividida, os dois ministros desfrutam de comunhão e serviço sacrifical em favor
do evangelho. Uma vez que o fundamento inamovível sob o qual a Igreja está
edificada é a pessoa de Cristo (v.11), eles são apenas 'cooperadores de Deus'
(v.9). Nem Paulo, nem Apolo têm a proeminência, mas Cristo. 'Portanto, ninguém
se glorie nos homens; porque tudo é vosso' (v.21).
O templo de Deus e a verdadeira sabedoria (1 Co
3.16-23). Anteriormente, Paulo ilustrou a igreja por intermédio das imagens do
edifício e da lavoura (v.9), agora, emprega a figura do templo (vv.16,17). O
Novo Testamento utiliza-se de dois termos para templo: hieros, usado para
descrever todas as áreas do templo; e naos, especificamente, o santuário, a
morada da divindade. Nesta passagem Paulo usa naos para designar que a Igreja é
o lugar vivo da presença divina. O 'templo de Deus' é a comunidade dos
redimidos habitada pelo Espírito Santo (vv.16,17)."
Paulo usa linguagem forte em 1.27,28. As coisas loucas
do mundo irão envergonhar os sábios e as coisas fracas do mundo irão
envergonhar os fortes".(HOOVER, T. R. Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios.
RJ: CPAD, 1999, pp.25-26.)
Paulo atribui os problemas da igreja de Corinto à
carnalidade e imaturidade dos crentes (1 Co 3.1-5). Essas duas qualidades
negativas contrastam com a espiritualidade e maturidade cristãs. Eles eram
carnais, meninos, invejosos, contenciosos, facciosos, soberbos, transgressores
e andavam "segundo os homens" (v.3; 1 Co 4.6). Portanto, jamais
compreenderiam "as coisas do Espírito", que se discernem
espiritualmente (1 Co 2.14,15; 3.3). Eles se apresentavam como
"espirituais" e "maduros", mas na realidade eram
"infantis" e "mundanos". Ainda hoje, alguns
"grupinhos" costumam dividir e causar tumultos nas igrejas locais.
Não apresentam estes a mesmíssima natureza carnal e imaturidade dos crentes coríntios?
FONTE CPAD
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