(N.6) ESTUDO E COMENTARIO
DE HEBREUS
Hebreus 5.11-14;
6.1,2,4-6,10,13,16-20.
Os cristãos hebreus haviam sido uma vez iluminados
através da revelação de Deus em Cristo. Haviam experimentado o dom celestial, o
Espírito Santo, e a boa Palavra de Deus, o evangelho de Cristo, pregado entre
eles com toda manifestação de poder e milagres. Para essas pessoas, caso se
desviassem, seria impossível serem renovadas outra vez para arrependimento, uma
vez que deliberadamente rejeitaram a Cristo, declarando que a sua crucificação
não possuía mais o sentido que antes lhe atribuíam.O escritor aos hebreus
sentiu bem de perto o perigo que aqueles crentes nessas circunstâncias
enfrentavam, por isso os advertiu.
1. O crente por sua falta de fé, deixa de levar
plenamente a sério as verdades, exortações, advertências, promessas e ensinos
da Palavra de Deus (Jo 5.44,47).
2. Quando as realidades do mundo chegam a ser maiores
do que as do reino de Deus, o crente deixa paulatinamente de aproximar-se de
Deus através de Cristo (Hb 7.19,25).
3. Por causa da aparência enganosa do pecado, a pessoa
se torna cada vez mais tolerante com ele na sua própria vida (1 Co 6.9,10).
4. Por causa da dureza do seu coração (Hb 3.8,13) e da
sua rejeição dos caminhos de Deus, não faz caso da repetida voz e repreensão do
Espírito Santo (1 Ts 5.19-22).
5. O Espírito Santo se entristece (Ef 4.30); seu fogo
se extingue e seu templo é profanado (1 Co 3.16). Finalmente, Ele afasta-se
daquele que antes era crente (Hb 13.14) (Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD,
pág. 1903).
Quando o cristão estaciona na fé e não se aprofunda no
conhecimento das coisas de Deus, corre o risco de ser levado por ventos de
doutrinas (Ef 4.14) e apostatar, vindo a perder-se eternamente por não se
arrepender. O tema desta lição, por seu expressivo conteúdo doutrinário, merece
cuidadosa análise à luz da Palavra de Deus.
I. INFÂNCIA ESPIRITUAL
1. Negligentes para ouvir (5.11). É próprio das
crianças em geral serem negligentes para ouvir. Faz parte da sua estultícia (Pv
22.15). Aqui o escritor dirige-se aos cristãos que já deviam “ser mestres pelo
tempo”, ou seja, pessoas que não eram mais neófitas na fé. Aliás, os novos
convertidos, vistos como crianças espirituais, normalmente são os melhores
ouvintes.
2. Necessitados de leite (vv.12,13). O crente “menino”
não se desenvolve por não saber ouvir a Palavra de Deus. Os leitores da
Epístola aos Hebreus ainda careciam dos ensinamentos rudimentares da fé cristã:
precisavam “de leite, e não de sólido alimento”. Aliás, em nossos dias,
observa-se muita “meninice” em diversas igrejas. Trata-se de “movimentos
estranhos”, embusteiros e perigosos, que não têm base na Palavra de Deus.
Essa gente precisa, se quer mesmo crescer e ser adulto
na fé, do leite puro da Palavra de Deus para crescimento, fortalecimento e
imunização espiritual.
II. OS RUDIMENTOS DA DOUTRINA
1. Arrependimento e fé (6.1). Constituem os dois
pilares da doutrina da salvação. São elementos fundamentais que não podem
faltar no ensinamento e formação do novo convertido.
O escritor fala de “arrependimento de obras mortas”.
Sendo eles judeus convertidos ao cristianismo, provavelmente ainda queriam
reviver os velhos conceitos da lei, tais como a guarda do sábado, a
implementação dos sacrifícios, a observância das luas novas, etc, esquecendo-se
da salvação somente pela graça, mediante a fé.
2. Batismos e imposição de mãos (v.2). A doutrina dos
batismos faz parte do início da fé, e não dos estágios mais avançados do
desenvolvimento espiritual. Hoje, ainda há “meninos”, ensinando que só se deve
batizar em nome de Jesus, e não na forma trinitariana como Jesus ordenou (cf.
Mt 28.19). Quanto à imposição das mãos, nos moldes do Antigo Testamento, que
consistia num gesto simbólico de transmissão de bênçãos (como fez Jacó), os
crentes daquela ocasião não deveriam mais preocupar-se. Agora, com Cristo, o
gesto de impor as mãos, no nome de Jesus, propicia a cura divina (Mc 16.18; At
28.8).
3. Ressurreição e juízo (v.2). Todo crente em Jesus,
desde o início de sua fé, em seu discipulado básico, deve saber que Cristo
morreu por nossos pecados, mas ressuscitou para nossa justificação (Rm 4.25), e
para um dia julgar o mundo com justiça (At 17.31).
III. O GRAVE PERIGO DA APOSTASIA
1. O que é apostasia. Do gr. apostásis, afastamento,
abandono da fé. Apostatar significa abandonar a fé cristã de modo premeditado e
consciente. No texto em apreço o escritor adverte quanto ao perigo da
apostasia.
2. O arrependimento impossível (vv.4,5). O capítulo em
estudo contém uma solene advertência contra a apostasia deliberada e
insensível. Nele são apresentados cinco motivos pelos quais um apóstata empedernido
não pode mais arrepender-se:
a) “Já uma vez foram iluminados”. Jesus é a luz do
mundo (Jo 8.12); os que o aceitam de verdade, experimentam seu perfeito fulgor,
e reconhecem que outrora encontravam-se nas trevas, no mundo, sem Deus e sem salvação.
Agora não são mais novos convertidos. São crentes que sabem diferençar as
trevas do Diabo da luz de Cristo.
b) “Provaram o dom celestial”. O texto não se refere a
neófitos na fé, com limitada convicção do evangelho. Refere-se, sim, a crentes
que tiveram uma experiência real com Cristo (ver 1 Pe 2.1-3), provando a
salvação que, pela fé, é dom de Deus (Ef 2.8,9).
c) “E se fizeram participantes do Espírito Santo”.
Aqui a advertência é severa para aqueles que foram pelo Espírito Santo imersos
no corpo de Cristo. O apóstolo Paulo diz que “todos temos bebido de um
Espírito” (1 Co 12.12,13). Fica claro que o escritor dirigia-se a pessoas que
conheciam muito bem o significado da comunhão com o Espírito Santo.
d) “E provaram a boa palavra de Deus”. O escritor
repete o verbo provar, referindo-se a crentes que tiveram um conhecimento mais
que superficial das verdades de Deus, expressas em sua Palavra. Não apenas
sentiram o “cheiro”, mas “comeram” a Palavra, experimentando-a e confirmando-a
como verdadeira (cf. Jo 17.17).
e) “E (provaram) as virtudes do século futuro”. Os
leitores da carta eram crentes que além da vasta experiência espiritual,
puderam, ainda no presente, experimentar as bênçãos e as virtudes do porvir.
Jesus disse: “E curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: É chegado a vós
o Reino de Deus” (Lc 10.9); “... o Reino de Deus está entre vós” (Lc 17.21).
3. A recaída no fosso da apostasia (v.6). O escritor
diz que para aqueles que possuíam as experiências descritas nos vv. 4 e 5, e
recaíssem, seria “impossível” (v.4a) serem “outra vez renovados para
arrependimento” (v.6a). Não se trata de um crente que se afasta da igreja local
por pecados relativamente comuns entre os homens. Quase sempre essas pessoas se
arrependem e pedem perdão a Deus e à igreja. A impossibilidade de
arrependimento referida pelo escritor, diz respeito a crentes que, mesmo
providos das experiências mencionadas acima, abandonam a Cristo, negando-o e
renegando-o de modo proposital e deliberado. Trata-se de uma pessoa que chegou
a um estágio tão escrachado de desvio, que sua consciência encontra-se
cauterizada (conforme 1 Tm 4.2), ficando insensibilizado a qualquer advertência
por parte do Espírito Santo.
É uma situação tão difícil que a pessoa acaba
blasfemando contra o Espírito de Deus, não tendo mais condições de obter o
perdão do Pai (cf. Mt 12.31). Este é o “pecado para a morte” de que trata o
apóstolo João em sua epístola (1 Jo 5.16b).
4. Expondo Cristo ao vitupério.
a) Voltam a crucificar o Filho de Deus. A morte de
Cristo foi por Deus preordenada para ocorrer apenas uma vez, como de fato
aconteceu. Os sacerdotes do Antigo Testamento ofereciam muitas vezes
sacrifícios, inclusive por si mesmos (Hb 9.26). Mas Cristo ofereceu-se uma
única vez “para tirar os pecados de muitos” (Hb 9.28). Quem o conhece,
experimentou sua salvação, e mesmo assim, peca proposital e deliberadamente,
volta a crucificá-lo, expondo-o ao vitupério.
b) Terra maldita. Usando uma trágica metáfora, o
escritor dá a entender que o coração de quem tem conhecimento de Cristo e o
despreza, apostatando da fé, é como uma terra antes boa, mas tornando-se
reprovada, “produz espinhos e abrolhos”, e só presta para ser queimada.
IV. A FIDELIDADE DE DEUS
1. Deus não é injusto (v.10). O escritor considera os
destinatários de sua carta como pessoas amadas, de quem espera “coisas
melhores, e coisas que acompanham a salvação...”. Isso prova que, embora a
apostasia os ameaçasse constantemente, eles não tinham caído nela: estavam
sendo advertidos. Em seguida, ele diz que “Deus não é injusto” para se esquecer
da obra, do trabalho e da caridade deles para com os santos, a quem serviam.
2. Deus cumpre suas promessas (v.13). Deus fez
promessa a Abraão e, como não tinha alguém maior por quem jurasse, jurou por si
mesmo, prometendo abençoá-lo e multiplicá-lo na terra, ainda que sua esposa
fosse estéril. E o patriarca alcançou a bênção, porque esperou com paciência
(vv.14,15).
3. É impossível que Deus minta (vv.16-20). Deus quis
mostrar a “imutabilidade de seu conselho aos herdeiros da promessa”, fazendo um
juramento. Certamente Deus não precisa jurar, mas para que os homens não
tivessem dúvida, Ele “se interpôs com juramento”. O escritor enfatiza que “é
impossível que Deus minta” e, por isso, devemos “reter a esperança proposta, a qual
temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até o interior do
véu”, onde está Jesus, nosso mui amado e eterno Sumo Sacerdote.
Aqueles que têm a experiência gloriosa da salvação
precisam cuidar-se para não caírem no engano do Diabo. É indescritível o
prejuízo de quem apostata da fé, negando a eficácia do sangue de Cristo para a
salvação dos pecadores. Tais desafortunados podem chegar à situação de
arrependimento impossível, e se perderem eternamente.
“Neste ponto, o autor
poderia ter procedido a comparação de Cristo com Melquisedeque. Mas, temendo que o
leitor não alcançasse o seu significado, uma vez que seria contrária às
opiniões correntes judaicas, ele formula um aviso e só retoma o argumento a
partir do capítulo 7.
Nos versículos 11-14 (Cap. 5), o autor alerta quanto
aos perigos de estacionar na vida espiritual e menciona as possíveis
consequências. A vida espiritual é semelhante à natural: em todos os seus
estágios depende de fatores sem os quais não poderá ser mantida. Um crescimento
sadio dá ao cristão condições de se apropriar do que seria impossível num
estágio anterior e inferior. Contudo, essa constatação traz sérias
responsabilidades:
a) O período de infância espiritual pode ser
prorrogado de forma abusiva, como fizeram os hebreus, mantendo-se como
‘criancinhas’ — estágio esse que já deveriam ter passado (vv.11,12).
b) Como consequência do primeiro item, a pessoa pode
não estar preparada para a instrução mais madura (‘sólido mantimento’), em tudo
necessária, quando ministrada a seu tempo (vv.13,14).
Os hebreus eram ainda ‘criancinhas’ quando, pelo tempo
de convertidos, deveriam ter alcançado certa maturidade. Já era tempo de serem
mestres e não de estarem buscando instrução elementar. Eram inexperientes,
imaturos e despreparados para participar das discussões sobre problemas de
grande vulto do pensamento cristão.
Segue-se uma exortação para avançarem na busca de um
conhecimento mais elevado a que o autor os conduz, convicto de que o
acompanharão (6.1-3): ‘Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo,
prossigamos até a perfeição’. Os crentes hebreus precisarão de maior percepção
espiritual, uma vez que o autor irá demonstrar que o sacerdócio de Cristo
significa a abolição da Antiga Aliança.
Não se consegue a maturidade cristã retornando aos
padrões dos primeiros estágios da instrução cristã. Para que o edifício
espiritual seja concluído, é mister ir além dos alicerces — o arrependimento
das obras mortas pela fé em Deus” (Comentário Bíblico Hebreus. CPAD, págs.
136,137).FONTE CPAD
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