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sábado, 18 de junho de 2016

O Canon do novo testamento (1)


                     INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO 

                      E O CANON DO NOVO TESTAMENTO



Novo Testamento é o nome que se dá ao conjunto de vinte e sete livros cristãos que fazem parte da Bíblia Sagrada. O adjetivo “novo” contrasta esta coleção de escritos cristãos com os trinta e nove livros da Bíblia Hebraica, que os cristãos chamam de “Antigo Testamento”.
A palavra “testamento” quer dizer “aliança”. Deus havia feito uma aliança com o seu povo escolhido, o povo de Israel: eles seriam o seu povo, e ele seria o Deus deles (Gn 15.17-20; 17.1-14,21; 28.10-15). Por meio do profeta Jeremias, Deus prometeu  fazer uma nova aliança com o seu povo (Jr 31.31-34), e a sua promessa se cumpriu por meio de Jesus Cristo (Lc 22.20; Hb 9.15). Fazem parte do povo da Nova Aliança todos aqueles que aceitam e proclamam Jesus Cristo como o seu Salvador e Senhor.
Os primeiros seguidores de Jesus eram os judeus, a exemplo do próprio Jesus. E todos eles tinham as Escrituras do Antigo Testamento como a sua Bíblia. Os escritores dos livros do Novo Testamento (“Nova Aliança”) usavam o Antigo Testamento para mostrar que, por meio de Jesus Cristo, Deus havia cumprido as promessas que ele havia feito ao seu povo. O próprio Jesus fez isso, como se vê claramente em Lucas 24.25-37, 44-47.
Todos os Livros do Novo Testamento foram escritos em grego, o grego coinê (“comum”), que era falado em todo o Império Romano. E, quando os autores citavam  o Antigo Testamento, eles se valiam da Septuaginta, a tradução das Escrituras Hebraicas pra o grego que tinha sido feita no terceiro século antes de Cristo. Em vários lugares a Septuaginta diverge do texto hebraico, como mostra, por exemplo, a citação do Sl 40.6 em Hb 10.5.
Os títulos “Antigo Testamento” e “Novo Testamento” só começaram a ser usados pelos cristãos no fim do segundo século depois de Cristo.

Conteúdo do Novo Testamento

Os livros do NT se dividem em quatro grupos:
1- Evangelhos:
 Mateus, Marcos, Lucas e João.
2- Histórico: Atos dos Apóstolos.
3- Cartas (21):
a) Treze cartas de Paulo: Rm; 1 e 2Co; Gl; Ef; Fp; Cl; 1 e 2Ts; 1 e 2Tm; Tt e Fm.
b) A carta aos Hebreus
c) Sete cartas gerais: Tg; 1 e 2Pe; 1,2 e 3Jo; Jd.
4- O Apocalipse

O texto do Novo Testamento

Todos os vinte e sete livros do NT foram escritos em grego, durante a segunda metade do primeiro século da era cristã. O primeiro a ser escrito foi, ao que parece, a Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, lá pelo ano 50 dC. Acredita-se que o último a ser escrito foi o Evangelho de João, perto do fim do primeiro século dC.
Todos os documentos originais (chamados de “autógrafos”, que quer dizer “escrito pelo autor”) se perderam. O que temos são cópias de cópias, feitas à mão. As cópias mais antigas são do segundo século da era cristã. Ao todo, existem mais de cinco mil manuscritos gregos preservados, embora somente uns duzentos sejam cópias completas do NT. Mesmo assim, temos mais e melhores manuscritos do NT do que qualquer outro livro da antiguidade. Isso quer dizer que, no que diz respeito ao texto original, estamos certos em pelo menos 99% do NT.
Para se editar um NT grego, trabalha-se com todos os manuscritos gregos disponíveis. Também se leva em conta as traduções mais antigas feitas para o latim, o siríaco, o copta, o etíope, o armênio e outras línguas. Essas traduções são importantes na medida que refletem o original grego a partir do qual foram feitas. Além disso, há milhares de citações do NT feitas por autores cristãos durante os primeiros três ou quatro séculos da era cristã.

Cânon do Novo Testamento

“Cânon” vem da palavra grega “kanon”, que quer dizer “regra”, “medida”, “norma”. Os vinte e sete livros do NT foram escritos num período de mais ou menos cinqüenta anos, mas demorou bastante tempo até que houvesse um acordo geral sobre quais livros mereciam a confiança e seriam a norma para a fé e a conduta dos seguidores de Cristo.
Pouco a pouco, os livros foram sendo aprovados. Já no segundo século, havia clareza quanto aos quatro Evangelhos e algumas Cartas do apostolo Paulo. No fim do terceiro século, havia um consenso geral quanto ao número dos livros, mas somente no quarto século é que houve unanimidade completa: eram vinte e sete livros, nem mais nem menos, para mostrar o que os cristãos precisam crer e como devem viver.

O mundo do Novo Testamento

Situação Política:
Quando Jesus nasceu, a terra de Israel fazia parte do Império Romano e era governada pelo rei Herodes, o Grande (47-4 aC). Depois da morte de Herodes (Mt 2.19-21), o reino foi dividido entre os seus filhos: Arquelau, tetrarca da Judéia e Samaria (Mt 2.22); Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia e Peréia (Lc 3.1), e Filipe, tetrarca da Ituréia, Traconites e outras regiões orientais do norte (Lc 3.1).
No ano 6 dC, Arquelau foi deposto pelo Imperador Augusto, e dali em diante a Judéia foi governada por Procuradores romanos. Um deles, Pôncio Pilatos, governou de 26 a 36 dC.
Embora as autoridades romanas procurassem fazer um governo justo, para muitos judeus era intolerável que o povo de Deus fosse dominado por pagãos. Os membros do partido de Herodes (Mt 22.16; Mc 3.6; 12.13) queriam que um dos descendentes do rei Herodes governasse, em vez do Governador romano. E os nacionalistas (Lc 6.15; At 1.13) – também conhecidos como “zelotes” – queriam levar os judeus a se revoltarem contra Roma. Finalmente, em 66 dC, estourou a revolta, que durou até o ano 70, quando os romanos destruíram Jerusalém e o Templo.
Diante disso, muitos judeus deixaram a Palestina e passaram a viver no mundo gentio, aumentando assim o número de judeus que faziam parte da “Dispersão” (a Diáspora). Em vez do Templo, as Sinagogas se tornaram o centro principal do Judaísmo, e, antes do fim do primeiro século dC, o cânon da Bíblia Hebraica (AT) foi fixado.
Para os cristãos daquele tempo, o poder de Roma foi um beneficio. As excelentes estradas facilitavam as viagens dos missionários cristãos que saíram a levar o evangelho a todos os povos. As autoridades romanas tinham classificado o Judaísmo como uma “religião lícita” e, por extensão, fizeram a mesma coisa com a religião cristã. Não era contra a lei romana ser um cristão.
Mas, no fim do primeiro século, Roma começou a exigir que todos os cidadãos do Império confessassem que o imperador era divino. Isso os seguidores de Jesus não podiam fazer e, por isso, eles foram perseguidos e mortos. Foi nesse tempo que o último livro do NT, o Apocalipse, foi escrito.

Situação Religiosa

No primeiro século da era cristã, Jerusalém era a cidade de Deus, e o Templo era onde ele se fazia presente entre o seu povo. Ali, os judeus ofereciam os seus sacrifícios. Jerusalém era o palco das grandes festas religiosas, com destaque para a Páscoa, a Festa da Colheita e a Festa das Barracas. Nessas ocasiões, todos os homens judeus deviam ir a Jerusalém e participar dessas festas (Dt 16.16,17).
O Sumo Sacerdote ocupava o mais alto cargo na hierarquia religiosa dos judeus. Ele era o presidente do Conselho Superior, integrado por setenta e um membros, inclusive o presidente. Uma vez ao ano, no Dia do Perdão, ele entrava no Lugar Santíssimo do Templo e ali oferecia sacrifícios para conseguir o perdão dos seus próprios pecados e dos pecados do povo de Israel.
Na época de Jesus, o Sumo Sacerdote era Caifás (de 18-36 dC), genro de Anãs, que tinha sido o Sumo Sacerdote antes dele (Lc 3.2).
Outros membros do Conselho Superior eram os “chefes dos sacerdotes”, membros de famílias sacerdotais importantes.
Os sacerdotes eram descendentes de Arão, bisneto de Levi, filho de Jacó. Eles ofereciam os sacrifícios no Templo de Jerusalém. Os levitas, auxiliares dos sacerdotes, eram descendentes de Levi, mas não de Arão. Além de ajudarem os sacerdotes a oferecer os sacrifícios, eles formavam a guarda do Templo, para manter a ordem e defender o Templo contra qualquer ataque.

Partidos Religiosos e Políticos

Fariseus
Um dos principais grupos religiosos dos judeus. Eles seguiam rigorosamente a Lei de Moisés, as tradições e os costumes dos antepassados (Mt 9.11,14; 12.1,2; 19.3; Lc 18.11,12; At 15.5). Eles foram contra Jesus (Mt 9.34; 12.14; 16.1-12; Jo 9.17; 11.47,48,57), mas alguns deles o trataram com respeito e cordialidade (Lc 7.36-50; 11.37; Jo 3.1; 7.50,51; 19.39,40). O apostolo Paulo foi criado fariseu (At 23.6; 26.5; Fp 3.5,6) e aluno do renomado mestre fariseu Gamaliel, de Jerusalém (At 22.3).

Mestres da Lei
Judeus eruditos que eram mestres das Escrituras hebraicas, especialmente dos livros da Lei de Moisés, os primeiros cinco livros da Bíblia. Estes homens esclareciam dúvidas sobre o que as Escrituras Hebraicas querem dizer, citando opiniões dos famosos mestres judeus do passado. Eram chamados de “Rabi” (ou “Rabôni”), que quer dizer “Meu Mestre” (Mt 2.14; 5.20; 7.29; 15.1,2; 22.25; Mc 1.22; Lc 7.30; 10.25; 11.45,46,52; At 5.34).
Nacionalistas.Partido de judeus que lutavam contra o domínio romano (pagão) na terra de Israel (Lc 6.15 e At 1.13).Nicolaítas.Seguidores de uma seita herética que perturbavam as igrejas em Éfeso e de Pérgamo (Ap 2.6,15).Partido de HerodesJudeus que preferiam ser governados por um descendente do rei Herodes, o Grande,em vez de um governador romano, como Pôncio Pilatos (Mt 22.16; Mc 3.6; 12.13).Saduceus:Um pequeno mas poderoso grupo religioso dos judeus. Faziam partes desse partido os sacerdotes e as pessoas ricas e de influência de Jerusalém (At 5.17). Eles baseavam seus ensinamentos principalmente nos primeiros cinco livros do Antigo Testamento. Não acreditavam na ressurreição, no juízo final ou na existência de anjos (Mt 22.23-33). Os saduceus não se davam bem com os fariseus (Mt 22.23-32; At 23.6-9), mas às vezes se juntaram com eles contra Jesus (Mt 16.1-4).Samaritanos:Pessoas nascidas em Samaria, região que ficava entre a Judéia e a Galiléia. Os judeus e os samaritanos n ao se davam por causa de diferenças de raça, religião e costumes (Mt 10.5; Lc 9.52,53; 17.15-18; Jo 4.7-9,20; 8.48).Fonte:Bíblia de Estudo NTLH

O Cristianismo, nas suas etapas iniciais, considerou o Antigo Testamento como a sua única Bíblia. Jesus, como os seus discípulos e apóstolos e o resto do povo judeu, citou-o como "as Escrituras", "a Lei" ou "a Lei e os Profetas" (cf. Mc 12.24 Mt 12.5 Lc 16.16).

Com o passar do tempo, a Igreja, tendo entendido que em Cristo "as coisas antigas já passaram eis que se fizeram novas" (2Co 5.17), produziu muitos escritos acerca da vida e da obra do Senhor, estabeleceu e transmitiu a sua doutrina e estendeu a mensagem evangélica a regiões cada vez mais distantes da Palestina. Dentre esses escritos foi-se destacando aos poucos um grupo de vinte e sete, que pelos fins do séc. II começou a ser conhecido como Novo Testamento. Eram textos redigidos na língua grega, desiguais tanto em extensão como em natureza e gênero literário. Todos, porém, foram considerados com especial reverência como procedentes dos apóstolos de Jesus ou de pessoas muito próximas a eles.

O uso cada vez mais freqüente que os crentes faziam daqueles vinte e sete escritos (convencionalmente chamados "livros") conduziu a uma geral aceitação da sua autoridade. A fé descobriu, sem demora, nas suas páginas a inspiração do Espírito Santo e o testemunho fidedigno de que em Jesus Cristo, o Filho de Deus, cumpriam-se as antigas profecias e se convertiam em realidade as esperanças messiânicas do povo de Israel. Conseqüentemente, a Igreja entendeu que os escritos hebraicos, que chamou de Antigo Testamento, requeriam uma segunda parte que viesse a documentar o cumprimento das promessas de Deus. E, enfim, após um longo processo e já bem avançado no séc. V, ficou oficialmente reconhecido o cânon geral da Bíblia como a soma de ambos os Testamentos. Divisão do Novo Testamento.Desde o séc. V, o índice do Novo Testamento agrupa os livros da seguinte maneira: 

1. Evangelhos (4): a). Sinóticos (3): Mateus, Marcos e Lucas. b). João 2. Atos dos Apóstolos (1) 3. Epístolas (21):a) Paulinas (13): Romanos, 1Coríntios, 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses, 1Timóteo, 2Timóteo, Tito e Filemom. b) Epístola aos Hebreus (1)c) Universais (7): Tiago, 1Pedro,2Pedro, 1João, 2João, 3João e Judas 4. Apocalipse (1).

Essa catalogação dos livros do Novo Testamento não corresponde à ordem cronológica da sua redação ou publicação é, antes, um agrupamento temático e por autores. Talvez, deve-se ver nesse agrupamento o propósito de apresentar a revelação de Deus e o anúncio do seu reino eterno a partir da boa nova da encarnação (Evangelhos) até a boa nova do retorno glorioso de Cristo no fim dos tempos (Apocalipse), passando pela história intermediária da vida e da incumbência apostólica da Igreja (Epístolas).

A transmissão do texto

É realmente extraordinário o número de manuscritos do Novo Testamento que chegou a nós depois de tantos séculos desde que foram escritos. Ao todo, são mais de 5.000. Alguns são apenas pequenos fragmentos, tão deteriorados pelo tempo e pelas más condições ambientais, que a sua utilidade é praticamente nula. Mas são muito mais numerosos os manuscritos que, no todo ou em parte, se conservaram num estado suficientemente satisfatório para transmitir até o presente a sua mensagem e testificar assim a fidelidade dos cristãos que os escreveram.

Assim sendo, os manuscritos que conhecemos não são autógrafos, isto é, nenhum provém da mão do próprio autor. Todos, sem exceção, são cópias de cópias dos textos originais gregos ou de traduções para outros idiomas. Copistas especializados pacientemente consagrados a esse labor de muitos anos de duração, os produziram nos lugares mais diversos e no decorrer de séculos. As cópias mais antigas até agora conhecidas são papiros que datam do séc. III, procedentes do Egito.
O papiro é uma planta abundantemente encontrada às margens do Nilo. Da sua haste, cortada e prensada, preparavam-se tiras retangulares, que se uniam formando folhas de uns 30 centímetros de largura e vários metros de comprimento. Uma vez escritas, enrolavam-se as folhas com o texto para dentro, atando-as com fios.

Os rolos de papiro eram de fácil fabricação, mas o seu manejo era incômodo. Ademais, tanto a umidade como o calor seco danificavam o material e impediam a sua prolongada duração. Por isso, em substituição ao papiro, entre os séculos II e V, se difundiu o uso de pergaminho, que era uma folha de pele de ovelha ou cordeiro especialmente curtida para poder-se escrever nela. Esse novo material, bastante mais custoso que o anterior, porém muito resistente e duradouro, permitiu, primeiro, a preparação de cadernos e, depois, o de códices, isto é, livros na forma em que os conhecemos atualmente. Entre os diversos códices da Bíblia descobertos até o dia de hoje, os mais antigos e, simultaneamente, mais completos são os chamados Sinaítico e Vaticano, ambos datados do séc. IV.

Palestina romana
Jesus nasceu em fins do reinado de Herodes, o Grande (47 a 4 a.C.) Homem cruel (cf. Mt 2.1-16) e, sem dúvida, inteligente, distinguiu-se pela grande quantidade de terras e cidades que conquistou e pelas numerosas e colossais construções com que as dotou. Entre estas, o templo de Jerusalém, do qual apenas se conservaram uns poucos restos pertencentes à muralha ocidental (o Muro das Lamentações).

Após a morte de Herodes (Mt 2.15-19), o seu reino foi dividido entre os seus filhos Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. Arquelau (Mt 2.22), etnarca da Judéia e Samaria, foi deposto pelo imperador Augusto no ano 6 d.C. A partir de então, o governo esteve em mãos de procuradores romanos, entre eles Pôncio Pilatos, que manteve o cargo desde o ano 26 até 36. Herodes Antipas (Lc 3.1) foi tetrarca da Galiléia e Peréia até o ano 39 e Filipe (Lc 3.1), até 34 o foi da Ituréia, Traconites e outras regiões orientais do Norte (Ver a Cronologia Bíblica). No ano 37, o imperador Calígula nomeou rei a Herodes Agripa e o colocou sobre a tetrarquia de Filipe, à qual logo acrescentou a de Herodes Antipas. Com a morte de Calígula (assassinado no ano 41), o seu sucessor, Cláudio, ampliou ainda mais os territórios de Agripa com a anexação da Judéia e Samaria. Desse modo, Agripa reinou até a sua morte (44 d.C.), praticamente sobre toda a Palestina.

Antipas foi aquele que mandou prender e matar a João Batista (Mc 6.16-29) e Herodes Agripa foi quem perseguiu a igreja de Jerusalém e mandou matar a Tiago e prender a Pedro (At 12.1-19). O Novo Testamento fala também de outro Herodes Agripa, filho do anterior: o rei que, acompanhado da sua irmã e mulher Berenice, escutou o discurso pronunciado por Paulo em sua própria defesa, em Cesaréia (At 25.13-26.32).
Por detrás de todos esses personagens se manteve, sempre vigilante, o poder romano. Roma era quem empossava ou demitia governantes nos países submetidos ao seu domínio, conforme lhe convinha. Durante a vida de Jesus e até à destruição de Jerusalém no ano 70, sucederam-se em Roma sete imperadores (ou césares). Três deles são mencionados no Novo Testamento: Augusto (Lc 2.1), Tibério (Lc 3.1) e Cláudio (At 11.28 18.2). E há um quarto, Nero, cujo nome não é mencionado, a quem Paulo faz tácita referência ao apelar ao tribunal de César (At 25.10-12 28.19).
A Palestina fazia parte do Império Romano desde o ano 63 a.C. Essa circunstância significara a perda definitiva da sua independência nacional. Dois longos séculos de agitação política a tinham levado a um estado de irreparável prostração moral, de que Roma, pela mão do general Pompeu, aproveitou-se apoderando-se do país e integrando-o na província da Síria.

A fim de manter a paz e a tranqüilidade nos seus territórios, Roma atuava geralmente com muita cautela, sem pressionar excessivamente a população submetida e sem forçá-la a mudar os seus próprios modelos da sociedade, nem os seus costumes, cultos e crenças religiosas. Inclusive, às vezes, a fim de pôr uma nota de tolerância e boa vontade, consentia a existência de certos governos nacionais, como os de Herodes, o Grande, e dos seus sucessores dinásticos. O que Roma nunca permitiu foi a agitação política e muito menos a rebelião aberta dentro das suas fronteiras. Quando isso ocorria, o exército se encarregava de restabelecer a ordem, atuando com presteza e com o máximo rigor. Foi isso que aconteceu no ano 70 d.C., quando Tito, filho do imperador Vespasiano, arrasou Jerusalém e provocou a "diáspora" (ou dispersão) de grande parte da população, a fim de acabar de uma vez por todas com as revoltas judaicas iniciadas uns quatro anos antes.

Configuração física da Palestina

O Jordão é o rio da Palestina. Nasce no monte Hermom e percorre o país de norte a sul, dividindo-o em dois: a Cisjordânia, ou lado ocidental, e a Transjordânia, ou lado oriental. Depois de atravessar o mar da Galiléia, corre serpenteante ao longo de uma depressão geológica cada vez mais profunda, até desembocar no mar Morto, a uns 110 km do lugar do seu nascimento e a quase 400 m abaixo do nível do Mediterrâneo.
O mar Morto, de quase 1000 km² de superfície, deve o seu nome ao fato de que a alta proporção de sal e outros elementos dissolvidos nas suas águas fazem nelas impossível a vida de peixes e de plantas. Ao contrário, o mar (ou o lago) da Galiléia, também chamado de lago de Genesaré ou de Tiberíades (cf., p. ex., Mt 4.18 14.34 e Jo 6.1), de 145 km² de superfície e situado igualmente em uma profunda depressão (212 m abaixo do nível do Mediterrâneo), é uma grande represa natural de água doce em que abundam os peixes (cf. Lc 5.4-7 Jo 21.6-11).
A Palestina é uma terra de montanhas. Na época do Novo Testamento, quase todas as suas cidades estavam situadas em algum ponto da cordilheira que desce, desde os maciços do Líbano (3.083 m) e do Hermom (2.760 m) até os limites meridionais do país na região desértica do Neguebe. Essa cadeia só se vê cortada pela planície de Jezreel (Js 17.16), que penetra nela, deixando ao norte os montes da Galiléia e ao sul os desvios das montanhas de Samaria. Alguns nomes do sistema orográfico da Palestina se conhecem pela menção que deles fazem os relatos bíblicos. No lado oriental do Jordão, p. ex., encontra-se o monte Nebo, de 1.146 m de altura e, no lado ocidental, o Carmelo (552 m), o Gerizim (868 m), o monte das Oliveiras (uns 800 m) e o Tabor (562 m).
A Palestina achava-se limitada pelos desertos da Arábia e da Síria ao leste e, a oeste, pelo mar Mediterrâneo, separado das montanhas pelas terras baixas que começam na fértil planície de Sarom (cf. Ct 2.1 Is 35.2), junto ao monte Carmelo.

Populações da Palestina 

Os Evangelhos e Atos dos Apóstolos mencionam um bom número de cidades, vilas e aldeias espalhadas pelo país, especialmente a oeste do Jordão e do mar Morto. Na região da Galiléia se encontravam, às margens do lago de Genesaré, Cafarnaum, Corazim e Magdala e, mais ao interior, Caná, Nazaré e Naim.

Na região da Judéia, a quase 1.150 m acima do nível do mar Morto, eleva-se Jerusalém. Perto dela, ao sul, Belém a leste, sobre o monte das Oliveiras, Betânia e Betfagé e, a oeste, Emaús, mais longe, Lida e, por último, o porto de Jope. A partir daqui, descendo pelo litoral, Azoto e Gaza. O Novo Testamento menciona também algumas cidades e vilas palestinas que não pertenciam à Judéia ou Galiléia: Cesaréia de Filipe, na Ituréia Sarepta, Tiro e Sidom, no litoral da Fenícia Siquém, em Samaria.

Sociedade e cultura no mundo judaico 

Os relatos dos evangelistas oferecem uma espécie de retrato da forma de vida dos judeus de então. As parábolas de Jesus e as ocorrências nos percursos que fez pela Palestina destacam a importância que, naquela sociedade, representavam os trabalhos do campo. A semeadura e a colheita de cereais, o plantio de vinhas e a colheita de uvas, a produção hortícola e as referências à oliveira, à figueira e a outras árvores são dados reveladores de uma cultura basicamente agrária, completada com a criação de rebanhos de ovelhas e cordeiros, de animais de carga e, inclusive, de manadas de porcos. Por outro lado, a pesca ocupava um lugar importante na atividade dos moradores que viviam nas aldeias costeiras do mar da Galiléia. Junto a essas profissões exerciam-se também outras de índole artesanal. Ali se encontravam perfumistas, tecelões, curtidores, carpinteiros (cf. Mc 6.3), oleiros e fabricantes de tendas de campanha (cf. At 18.3) e, certamente, também servidores domésticos, comerciantes, banqueiros e cobradores de impostos (ver Publicanos na Concordância Temática). Nos degraus mais baixos da escala sócio-econômica estavam os peões contratados ao salário do dia, os escravos (cf. Êx 21.1-11), as prostitutas e um número considerável de pessoas que sobreviviam com a prática da mendicância.

Religião e política

A religião e a política caminham juntas no mundo judaico. Eram dois componentes de uma só realidade, expressa no sentimento nacionalista que brotava da mesma fonte, a fé no Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A história do povo de Israel é a história da sua fé em Deus e a sua fé é a fé em que Deus governa toda a sua história. Por isso, o sumo sacerdote em exercício era precisamente aquele que presidia o Sinédrio, máximo órgão jurídico e administrativo da nação. Este consistia num conselho de 71 membros, no qual estavam representados os três grupos político-religiosos mais significativos da época: os sacerdotes, arrolados na sua maioria no partido saduceu os anciãos, geralmente fariseus e os mestres da Lei.

O Sinédrio gozava de todas as competências de um governo autônomo, salvo aquelas em que Roma se reservava os direitos de última instância. O Sinédrio, p. ex., era competente para condenar à morte um réu, mas a ordem da execução exigia o visto da autoridade romana, como sucedeu no caso de Jesus (cf. Jo 19.10). Em relação aos partidos, convém assinalar que os fariseus eram os representantes mais rigorosos da espiritualidade judaica. Com a sua insistência na observância estrita da Lei mosaica e no respeito às tradições dos "pais" (isto é, os antepassados), exerciam uma forte influência no povo. Jesus reprovava o seu exagerado zelo ritual e o afã de satisfazer os mais insignificantes aspectos da letra da Lei, que os fazia esquecer freqüentemente os valores do espírito que a anima (cf. Mc 7.3-4,8-13. Ver 2Co 3.6).

Os saduceus representavam, de certo modo, a aristocracia de Israel. Esse partido, mais reduzido numericamente que o fariseu, era formado, em grande parte, pelas poderosas famílias dos sumos sacerdotes. Na sua doutrina, em contraste com o que ensinavam os fariseus, os saduceus mantinham "não haver ressurreição, nem anjo, nem espírito" (At 23.8). Tradicionalmente, se tem considerado que os zelotes constituíam um grupo judaico nacionalista que se rebelou contra Roma. Eram conhecidos também como cananitas. Com ambos os epítetos se identifica no Novo Testamento Simão, um dos doze discípulos de Jesus (ver Lc 6.15, nota n e cf. Mt 10.4 e Mc 3.18 com Lc 6.15 e At 1.13). Os zelotes desempenharam um papel muito ativo na rebelião dos anos 66 a 70.

À parte desses três grupos, havia outros, como os herodianos, cuja identidade não se conseguiu esclarecer totalmente. É provável que se tratasse de pessoas a serviço de Herodes, embora alguns achem que o nome se adapte melhor aos partidários de Herodes e de sua dinastia. Os escribas, mestres da Lei ou rabinos formavam um grupo profissional e não um partido. Eram os encarregados de instruir o povo em matéria de religião. Não pertenciam, em geral, à classe sacerdotal, mas eram influentes e chegaram a gozar de uma elevada consideração como intérpretes das Escrituras e dirigentes do povo.

Pouco tempo e pouco espaço necessitou Jesus de Nazaré para realizar uma obra cujas bênçãos haveriam de alcançar a todos os seres humanos de todos os tempos e de todos os lugares. O Novo Testamento dá testemunho disso: ele é o registro que, com a mesma singeleza com que o Filho de Deus se manifestou em carne, também fala do amor de Deus e da sua vontade salvadora.
Fonte:iLúmina - A Bíblia do século XXI
  


            Pais da Igreja sobre o cânon do novo testamento 

                 Artigo Normam Geisler  introdução biblica                  

Logo após a primeira geração, passada a era apostólica, todos os livros do Novo Testamento haviam sido citados como dotados de autoridade por algum pai da igreja. Por sinal, dentro de duzentos anos depois do século I, quase todos os versículos do Novo Testamento haviam sido citados em um ou mais das mais de 36 mil citações dos pais da igreja (v. cap. 13). Visto que os testemunhos patrísticos a favor do Novo Testamento já foram verificados (v. cap. 4), não os repetiremos aqui. O diagrama seguinte mostra com exatidão qual pai da igreja citou qual livro como Escritura nos primeiros séculos. No entanto, o leitor deve ser acautelado sobre o caso de um pai primitivo da igreja não ter feito referência a um livro: isso não deixa necessariamente implícita a rejeição desse livro por ser não-canônico. O argumento do silêncio, nesse caso, como ocorre em geral, é bastante fraco. A não citação pode revelar meramente falta de ocasião por parte do pai da igreja de mencionar determinado livro nos escritos que chegaram até nós. Para ilustrar isso, o próprio leitor poderia perguntar-se quando foi que citou pela última vez a carta a Filemom ou 3João. Nem todos os livros do Novo Testamento são citados por todos os primeiros pais da igreja, mas todos os livros são citados como canônicos por pelo menos um desses pais. A conclusão é que esse fato basta para demonstrar que o livro havia sido reconhecido como apostólico desde o início.



Ao Novo Testamento pertencem os 27 livros que foram analisados nesta Introdução. Desde o século IV é costume nas igrejas cristãs de todas as denominações chamar essa lista de escritos de cânon do Novo Testamento.A palavra grega kanon significa vara, cano. Disso surgiu o significado régua ou medida-padrão dos carpinteiros. No sentido derivado, a palavra foi depois aplicada para se designar uma regra ou regulamento.

Quando no século IV a palavra passou a ser adotada para os escritos do Novo Testamento, tratava-se do padrão segundo o qual os escritos eram universalmente reconhecidos como apostólicos e poderiam, portanto, ser lidos nos cultos em todas as igrejas cristãs.Hoje o termo é usado para designar a diferença entre os escritos que são fundamento para a fé, o ensino e a vida das igrejas cristãs, e os outros escritos dos primeiros tempos que servem simplesmente como documentos
 ou da história das heresias.Em seguida queremos descrever os diversos estágios da formação do cânon e apresentar os critérios usados pela igreja antiga nas suas decisões. A última questão trata da importância que esse cânon concluído no século IV tem para as igrejas cristãs de hoje.


1. Sobre o surgimento do cânon do Novo Testamento

Já nos escritos dos pais da igreja Clemente de Roma, Inácio, Policarpo e Papias descobrimos que nas suas discussões se baseavam não somente no Senhor Jesus Cristo, mas também nas
Escrituras. Com Escrituras denotavam não somente o AT, mas também os evangelhos. Os escritos do apóstolo Paulo também eram aceitos como autoridade reconhecida. Mas não havia nenhum indício de um cânon definido naquela época. Mesmo assim, já deve ter existido uma coletânea das cartas de Paulo, pois em 1 Clemente (95 d.C.) já há citações de Romanos e de 1 Coríntios. Possivelmente as cartas de Paulo já foram reunidas antes disso, como parece indicar a observação em 2Pedro 3.16.
Temos informações um pouco mais exatas nos anos 130-140 d.C. por meio de Policarpo e Clemente de Alexandria, que nos seus escritos fazem menção dos
 evangelhos de Mateus e de Lucas. Isso poderia ser uma indicação de que na metade do século II já havia uma coletânea dos quatro evangelhos, que vinham sendo cada vez mais reconhecidos nas igrejas da antiguidade, enquanto também evangelhos apócrifos e tradições orais sobre Jesus eram difundidos.

A primeira definição dos escritos-padrão para a igreja cristã vem de Marcion em 145 d.C. Ele era “paulinista” e por isso só reconhecia 10 cartas de Paulo (excluía as cartas pastorais) e uma versão do
 evangelho de Lucas purificada das influências vétero-testamentárias e judaizantes.No final do século II começa a se delinear o cânon do Novo Testamento nos escritos de Irineu, Tertuliano e Clemente de Alexandria. É um cânon em formação mas ainda não concluído, ao qual pertencem os quatro Evangelhos, Atos dos Apóstolos, 13 cartas de Paulo, 1 Pedro e 1 João, como também o Apocalipse de João.

Nessa época surge também o documento que denominamos de Cânon Muratóri, segundo o bibliotecário L. A. Muratóri, que descobriu o fragmento em 1740 na Bibliotheca Ambrosiana de Mailand. Um desconhecido preparou um registro oficial das escrituras que deveriam ser aceitas e lidas publicamente na Igreja Católica. Infelizmente falta o início. Começa com as últimas palavras de Marcos e denota o Evangelho de Lucas como o terceiro e o de João como o
 quarto evangelho. Evidentemente o trecho sobre Mateus como primeiro evangelho se perdeu. Se comparamos a lista de livros desse Cânon com a lista do Novo Testamento de hoje, notamos que faltam 1 Pedro, Hebreus, Tiago e 3 João. Sobressai o fato de que falta 1 Pedro, que em geral era aceito naquela época. Além disso contém o escrito “Sapientia Salomonis” e o Apocalipse de Pedro, com a observação “… que alguns de nós não querem ler na igreja”.1

De grande valor nesse Cânon é que descobrimos os critérios usados para a delimitação do cânon. Um critério era a autoria apostólica; Marcos e Lucas são reconhecidos como discípulos de apóstolos e, por isso, aceitos. Hebreus não é aceito porque a autoria paulina é questionada. O que importa, portanto, é a proximidade com a revelação trazida ao mundo por meio de Jesus Cristo, que é garantida pelo testemunho ocular. Além disso, outro critério era se o livro era usado e aceito por todas as igrejas; mais tarde esse critério foi formulado explicitamente dessa forma por Orígenes. É surpreendente notar a importância que a igreja do século II dava ao aspecto de Jesus Cristo estar no centro da mensagem do escrito em consideração.

Em relação aos evangelhos, a formação do cânon estava concluída no final do século II. Nas cartas dos apóstolos há clareza em relação às cartas de Paulo. A discussão em relação às
 outras cartas ainda permanece aberta nessa época.

O processo da formação do cânon só chega ao seu final no século IV. A igreja do oriente declara como canônicos, por meio da 39ª carta pascal de Atanásio (367 d.C.), os 27 livros que hoje temos no Novo Testamento. Nessa carta, o termo cânon é usado pela primeira vez para denominar os critérios para os livros aceitos pela igreja. Pela intervenção de Jerônimo, essa definição é aceita pela igreja do ocidente nos sínodos de Hipona Régia (393) e de Cartago (397), ocasião em que a carta aos Hebreus não é colocada entre as cartas de Paulo.

Foram necessários alguns séculos para que se chegasse à definição do cânon que conhecemos hoje. Isso pode ser estranho, mas corresponde ao caráter da Bíblia, a Palavra de Deus transmitida a nós por meio de palavras humanas (2Pe 1.21).
2. Critérios para a formação do cânon.

Quem autorizou a igreja antiga a definir quais escritos seriam Escrituras Sagradas? A apresentação da
 formação do cânon já mostrou que não se tratou da ação arbitrária e autoritária de alguns concílios ou até do resultado de um conflito de poder da igreja antiga. O que aconteceu foi que, por meio de um processo de várias centenas de anos, se cristalizou em consenso de toda a igreja cristã o que deveria estar no cânon e o que não poderia. Esse é um fenômeno admirável, se levarmos em conta as discussões teológicas dificílimas que estavam sendo travadas na mesma época. Por isso, creio que D. A. Carson, D. J. Moo e L. Morris têm razão quando dizem: “It is not so much that the church selected the canon as that the canon selected itself.” (Não foi a igreja que fez a seleção dos livros que iriam para o cânon e dos que não, mas o cânon fez a sua própria seleção).2 No decorrer dos séculos se impuseram aqueles escritos que formavam a base da fé cristã. Devemos isso sobretudo à ação do Espírito Santo, de que Jesus já dissera que conduziria os discípulos a toda a verdade (Jo 16.13).
Quais critérios foram fundamentais nesse processo? A formação da opinião da igreja antiga deixa transparecer três critérios.
2.1 O critério da originalidade

O prólogo de 1 João explica o que isso quer dizer: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo (1Jo 1.1-3). A revelação de Deus em Jesus não veio diretamente a nós. Nós dependemos do relato de testemunhas oculares. Elas fazem a ponte entre a revelação ocorrida e as gerações futuras. O relato das testemunhas oculares é único e insubstituível, porque a revelação de Deus aconteceu na história.

Por isso a igreja antiga adotou o critério da originalidade e com isso queria dizer a
 autoria apostólica. Além desse círculo de testemunhas oculares, só foram aceitos o apóstolo Paulo e alguns discípulos de apóstolos.Entretanto, a simples indicação do autor não era suficiente. Muitos escritos que indicaram um apóstolo como seu autor foram rejeitados. A verificação do conteúdo aguçou a percepção da diferença entre o que era apostólico e o que era apócrifo. Todo aquele que lê os evangelhos apócrifos já se convence disso.3
2.2 A concordância com os fundamentos da fé (a ortodoxia)

Os primeiros séculos da igreja cristã são marcados pela batalha a favor da verdade das afirmações teológicas. As igrejas ameaçadas pelos ensinos dos falsos mestres (gnosticismo, Marcion) precisavam de uma regra de fé (grego: kanon tes pisteos; latim: regula fidei), por meio da qual pudessem diferenciar o “verdadeiro” do “falso”. Os movimentos pela profissão de fé são evidências disso.

Por isso não devemos nos admirar do fato de que, na formação do cânon do Novo Testamento, a pergunta pela concordância com a regra de fé, ou seja, com a fé cristã reconhecida como ortodoxa pela maioria, tenha tido papel fundamental. O Evangelho de Tomé e o Evangelho Veritatis não foram aceitos porque são influenciados pelo gnosticismo.
2.3 Reconhecimento geral

E em terceiro lugar, somente se impuseram os escritos que durante os primeiros séculos tiveram aceitação geral nas igrejas. Na formação do cânon, o que importava não era a imposição de alguns grupos. O cânon do Novo Testamento deveria servir de fundamento para todo o cristianismo. A consideração pelas dúvidas e objeções fez com que se tornasse um processo longo de formação da opinião geral e foi marcado por muita paciência e respeito pelas opiniões uns dos outros.
3. O significado do cânon do Novo Testamento hoje

Na consideração do longo processo da formação do cânon surgem muitas perguntas: Por que a igreja de Jesus Cristo necessita de um cânon dos escritos autorizados? A igreja não está ligada diretamente ao seu Senhor por meio do Espírito Santo, que ainda hoje quer dirigir a igreja a toda a verdade?

Se o processo da formação do cânon levou tantos anos, por que deveria ter terminado com as decisões do século IV? Não seria necessário testar os 27 escritos novamente nos dias de hoje para verificar se são de fato canônicos?

Será o cânon dos escritos do Novo Testamento uma real ajuda para evitar desvios nos ensinos da igreja cristã? O ponto crucial não está na interpretação desses escritos?
Em uma Introdução e Síntese como esta, essas perguntas só podem receber um tratamento muito breve.Se a igreja de Jesus Cristo não tivesse um cânon dos escritos aceitos, os visionários e profetas não poderiam ser provados. Qualquer um pode fazer a reivindicação de que está falando em nome do Espírito Santo. Os 27 livros canônicos do Novo Testamento têm comprovado serem um padrão confiável de discernimento entre revelação de Deus e inspiração humana por quase 2.000 anos de história da igreja. O Espírito de Deus que fala hoje é o mesmo Espírito que dirigiu os autores desses livros e que cuidou de todo o processo de
 formação do cânon. Ele faz a ligação entre a nossa fé e vida e aquilo que Deus, de uma vez por todas, nos revelou por meio de Jesus Cristo.

G. Maier4 se posicionou contra a tentativa de redefinir o cânon, na polêmica com E. Käsemann.5 Maier rejeita a tentativa de se redefinir os limites do cânon com os seguintes argumentos: “Em vista da situação descrita, exegetas e teólogos buscam há mais de 200 anos o cânon dentro do cânon, isto é, a palavra normativa de autoridade divina. Esse empreendimento de 200 anos foi a pique, já que ninguém está em condições de definir o cânon dentro do cânon com convicção e clareza. Visto que cada um define o cânon dentro do cânon de forma diferente e faz isso sem muita fundamentação (leia-se, por livre escolha), subjetividade desmesurada acabe se tornando autoridade sobre aquilo que deve possuir autoridade divina”.6 Por esses motivo, eu também considero desnecessária a discussão sobre os limites do cânon.

É verdade que muito depende da interpretação dos escritos canônicos. Por isso a hermenêutica merece atenção especial. Entretanto, ela seria impossível, se não estivesse definido antes pelo menos o que precisa ser interpretado. O cânon do Novo Testamento ajuda também a verificar se os métodos da hermenêutica são apropriados ou não.Por isso só podemos agradecer a Deus porque mesmo nas igrejas cristãs tão divididas ainda temos hoje um cânon de 27 livros que servem de fundamento para a fé cristã. O objetivo dessa Síntese e Introdução é facilitar a compreensão desses livros. Por isso foi dada tanta atenção à questão da autoria, porque a originalidade, ou seja, a proximidade com a revelação, foi um critério decisivo para a confirmação dos livros como canônicos.


fonte www.mauricioberwaldoficial.blogspot.com

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