APOLOGÉTICA
DEFINIÇÃO
O termo é derivado do verbo grego
apologeomai, significando “dar uma resposta”, '"responder”, “defender a
posição de alguém”, e do substantivo grego apologia. Em seu sentido mais
estrito, significa a defesa da fé do cristão individual. Em um sentido mais
amplo, é a resposta do cristão a ataques sobre si, sua doutrina e sua fé, e
toda a revelação dada nas Escrituras. Em seu sentido total, a apologética é a
defesa e a justificação da fé cristã e da revelação dada nas Santas Escrituras
contra o ataque dos duvidosos e incrédulos, mais o desenvolvimento de uma
apresentação evangélica positiva dos fatos mostrados na Bíblia, a racionalidade
da revelação de Deus ao homem nas Escrituras, e a sua ampla suficiência para
atender as necessidades espirituais completas do homem. A apologética é, então,
não apenas um exercício negativo e defensivo, mas também positivo e ofensivo.
Não é apenas para ser usada na defesa do Evangelho, mas também em sua
propagação, O estudo da apologética. Este pode ser dividido em três períodos
como encontrado em três eras da história da igreja.
1. Apologética do Novo Testamento.
O verbo grego apologeomai é usado para
expressar a idéia de autojustificação e autodesculpa (Rm 2.15; 2 Co 12,19) e
também o substantivo apologia (2 Co 7.11); mas particularmente no sentido de
responder aos ataques sobre a fé e a convicção de alguém, e de oferecer uma
defesa. Atos 7 é frequentemente chamado de apologia de Estêvão quando ele
respondeu ao Sinédrio judeu às acusações de falso testemunho (At 6.11-15).
Paulo fala em ser colocado para “a defesa do evangelho” (Fp 1.6,17), Ele fez
duas “apologias” para a sua posição, a primeira diante de Festo (At 24.10;
25.8; cf. v. 16), e a segunda diante de Agripa (At 26.2). Quando apelou para o
privilégio de fazer o mesmo diante de César (At 25.8-16), seu pedido foi
finalmente concedido. Cada uma destas apologias contém tanto uma defesa
negativa como um elemento evangelístico positivo. Por exemplo, Paulo usou sua
defesa como uma introdução ao Evangelho de uma maneira tão eficaz, que Félix
ficou amedrontado (At 24.25), enquanto Agripa exclamou: “Por pouco me queres
persuadir a que me faça cristão!” (At 26.28). Mesmo considerando uma outra interpretação
deste último versículo. “Você tão facilmente me persuadiria a ser um cristão?”,
o Evangelho positivo na apologia de Paulo ainda pode ser claramente visto no
efeito produzido em Agripa.
2. Apologética na igreja primitiva e
medieval.
Justino Mártir escreveu sua obra
Dialogue With Trypho (em aprox. 150 d.C.), Orígenes respondeu a muitos
argumentos anti-cristãos em sua obra Kata Kelsou (Contra Celsus) (em aprox.
235), e Atanásio publicou sua obra Contra Gentes (em aprox. 315), Mas a
apologia mais importante de todas foi City of God de Agostinho (426 d.C.). Até
a igreja ser reconhecida por Constantino o Grande, ela era acusada de
canibalismo e promiscuidade sexual por ter de se reunir em segredo em lugares
como as catacumbas. Porém, após ser reconhecida imperialmente, ela teve que
enfrentar acusações de mundanismo. Foi para explicar este último que Agostinho
escreveu e tomou como sua tese a “Cidade de Deus” em contraste com a cidade do
mundo. Na Idade Média a apologética lutou com as questões da fé - com relação a
fatos tais como a Trindade e a encarnação, conhecíveis apenas pela fé - versus
a razão, e os fatos da ciência e do mundo material que é receptivo á razão.
Aquinas fez uma síntese parcial que se tornou a posição oficial do romanismo.
Pela razão o homem pode argumentar quanto à existência de Deus e até conhecer a
Deus; mas a Trindade e a encarnação são inacessíveis à razão, dadas pela
revelação e recebidas somente pela fé.
3. Apologética moderna.
Para o propósito de estudo e de uma
análise útil, é valioso considerar a apologética católica romana e a
protestante.
(a) A apologética católica romana é
caracterizada pelo fato de atribuir tanto a origem quanto a (infalível)
interpretação das Escrituras à igreja; e pelo fato de ensinar que a teologia
racional é possível e existe tanto
quanto a teologia revelada, pelo uso da
razão humana o homem pode chegar ao conhecimento da pessoa e da existência de
Deus e até à salvação. A razão pela qual o homem falha em chegar à verdade pela
teologia racional não é a sua condição decaída, mas sim a indolência daqueles
qne sâo mentalmente capacitados a atingi-la por este meio, e a inabilidade
racional dos demais. Por causa desta preguiça por parte de alguns e da
inabilidade dos outros, Deus escolheu, em sua graça, dar a revelação. A igreja
católica romana desenvolveu uma apologética própria muito completa. Começando
em 1908, o papa indicou comissões contínuas para investigar completamente e
emitir relatórios sobre o problema Deutero- Isaías, a teoria J.E.D.P., form-Geschiehte
etc. Habilidosos escritores da igreja produziram livros eficazes sobre a
apologética como The Faith of Our Fathers (do cardeal James Gibbons), uma
defesa da igreja católica romana; e Katkolieke Geloofsverdediging (do cardeal
Brocardus Meijer), uma obra muito completa e habilidosa sobre a apologética em
geral, em holandês. Como resultado das comissões eruditas de Roma e de uma obra
tão completa em apologética como a de Meijer, os católicos romanos estão
apresentando uma defesa convincente de sua fé, que está ganhando muitos da ala
modernista, onde não foi expressa nenhuma defesa semelhante da fé cristã.
(b) Apologética protestante.
Há um forte elemento de apologética
presente na obra Institutes, de Calvino, onde ela é apresentada em combinação
com a teologia. As obras mais famosas e eficientes de apologética propriamente
dita, no entanto, antes da nossa época, são Analogy of Religion, de Joseph
Butler (1736) e Apologetics or Christianity Defensively Stated - de A, B. Bruee
(1892). Esta última foi a obra ortodoxa padrão em inglês durante muitos anos.
Grande parte de seu lugar foi tomado, ultimamente, pelos escritos de Edward
John Carnell. An Intro
Introduction to Chrístian Apologetics e A Phílosophy ofthe Chrístian Religion,
e de Bemard Ramm, Protestant Chrístian Evidences, Types of Apologetic Systems,
e The Chrístian View of Science and Scripture. Enquanto Carnell e Ramm lideraram a
causa evangélica em apologética com um trabalho admirável em muitas áreas deste
campo, ambos tiveram dificuldades em certos pontos, particularmente no que diz
respeito à absoluta infalibilidade da Bíblia na escrita original, a ponto de
outros terem que vir em seu auxílio neste ponto.
O valor e o lugar da apologética.
Considerando sua extensão, o AT faz
relativamente pouco uso da apologética. Em Jó 32-37, no entanto, está uma
repreensão de Eliú às falsas ou inadequadas opiniões de Jó e de seus três
amigos a respeito de Deus e da teodicéia que é a doutrina da justiça divina). O
próprio Senhor responde a Jó para convencê-lo de sua soberania, e, ao
mesmo tempo, da incapacidade de Jó (Jó 38-41). Vários Salmos recorrem à
atividade de Deus, ao seu cuidado providencial (por exemplo, Salmos 104 e 107)
e histórico (Salmos 105 e 106), para evocar o louvor e a confiança, e mostrar a
loucura da idolatria (Salmo 115). Dentre os profetas, especialmente Isaías
proclamou a apologia de Deus contra as divindades pagãs, desafiando os gentios
adoradores de ídolos a provarem a realidade e o poder de seus deuses por meio
do teste das profecias e seus respectivos cumprimentos (Is 41.21-29; 43.813;
44.6-20; 45.18-25; 46.1-11; 48.1-6), O NT dá à apologética um lugar muito mais
importante. Os patriarcas da igreja primitiva eram constantemente chamados a
defender a sua fé contra filósofos pagãos, agnósticos e hereges. Na
apologética, somos chamados a mostrar a racionalidade da fé cristã e sua
revelação como dada na Bíblia. Isto é realizado por meio de comparação da
ciência com as Escrituras, uma consideração da arqueologia com a história e
fatos bíblicos, um apelo ao cumprimento de profecias preditas, um estudo das
provas da inspiração e infalibilidade da Bíblia, e uma aplicação da razão à
questão da existência e da natureza de Deus.
Os apologistas protestantes não
ensinam que uma teologia completamente natural seja possível meramente pela
aplicação da razão humana na formulação de cinco ou mais provas teísticas
(provas da existência necessária e real de Deus). Antes, tão longe quanto possa
ir a razão humana - e isto inclui a formulação de argumentos teísticos, ou
seja, o cosmológico (a existência do mundo), ontológico (a existência de uma
ideia de Deus), o teológico (a existência e a manifestação da criação e
propósito no mundo e no homem) - é apenas racional concluir que uma Pessoa
racional, intencional e moral exista e seja a causa tanto do universo quanto do
homem. A Bíblia declara por revelação que tal é o caso e, em Romanos 1.18ss,
aprendemos que Deus considera o homem como o responsável por chegar à conclusão
de que Ele existe. Portanto, o apologista protestante nem se baseia
completamente na razão - como os católicos romanos com a sua teologia natural,
nem rejeita completamente o lugar da razão - como alguns aos protestantes
extremamente ortodoxos (por exemplo, Abraham Kuyper em sua obra Principles of
Sacred Theology e Cornelius Van Til em sua obra The Defense of the Faith, que
enfatizam a impotência da mente humana em pecado e a necessidade do poder
renovador do Espírito Santo), Ao invés disso, reconhecendo a fragilidade da
razão humana desde a queda do homem, ele dá uma função comprobatória,
subsidiária à revelação. Em outras palavras, as leis da lógica, os fatos da
vida e do cosmos, e as revelações proposicionais encontradas na Bíblia devem
receber seu lugar próprio na obtenção da verdade final e na formulação do
nosso sistema apologético.
Métodos apologéticos.
Torna-se muito importante desenvolver
um método apologético completo e satisfatório. Isto é de tudo o mais
necessário, uma vez que o cristão deve se defender não apenas contra as teorias
passageiras da ciência, mas também contra os erros da filosofia mundana.
Nenhuma defesa bem-sucedida é possível até que alguém seja capaz não apenas de
enxergar o erro ou os erros contra os quais discute, mas também compreender
seus fundamentos filosóficos. Portanto, a nossa causa é grandemente fortalecida
quando insistimos no fato de que temos uma filosofia cristã de existência, ou
seja, uma explicação para (a) a origem da realidade, consistindo do mundo e do
homem; (b) a realidade em si, consistindo de objetos (res extensa), ideias ou
pensamentos res cogitata) - duas das quais claramente definimos e distinguimos;
(c) o destino do mundo e do homem. Todos os filósofos são chamados a dar suas
próprias explicações sobre estas três questões. Uma defesa praticável e
completa do ponto de vista cristão sobre qualquer opinião procurada, portanto,
inclui o seguinte: (1 ) uma descrição justa e completa da opinião de um
adversário; (2) uma apresentação do valor da opinião que alguém tenha; (3) uma
consideração de sua base filosófica e uma apresentação clara de suas falácias,
com bases tanto lógicas quanto filosóficas; (4) um exame da opinião à luz das
confissões e credos da igreja; (5) um exame para ver que vantagens teológicas
ela pode oferecer e que problemas teológicos ela pode levantar; (6) uma
apresentação da opinião bíblica sobre o assunto em discussão e a prova de sua
racionalidade, e uma descrição clara de como a opinião bíblica foge dos
problemas filosóficos e teológicos levantados por uma visão errada. Além das
obras principais em apologética já mencionadas, houve muitos livros muito
valiosos sobre aspectos específicos da fé, tais como o nascimento
virginal, a ressurreição, milagres, a infalibilidade das Escrituras etc. Estes
podem ser prontamente encontrados em extensas bibliografias anexadas por
Carnell e Ramm aos livros mencionados acima.
O objetivo da apologética.
Este inclui: (1) fazer contato com
aqueles que tenham uma opinião errada ou perigosa, ou que ataquem a revelação e
fé cristãs; (2) encontrar uma área na qual o problema possa ser discutido
imparcialmente, e provar a fraqueza da opinião em questão primeiro em alguma
área neutra comum a todos, tais como a filosofia ou a lógica; (3) mostrar os
problemas teológicos levantados; (4) expor as convicções da igreja em suas
confissões e credos, e interpretar o que as Escrituras ensinam, enquanto se
apresenta a racionalidade de tudo isso, A base comum buscada para o diálogo com
o adversário, não tem de impor qualquer transigência, tal como tentado por
alguma apologética recente, nem forçar as Escrituras sobre o duvidoso ou o
agnóstico. Considerar cada aspecto de um problema antes de entrar no mérito das
próprias Escrituras, abre a mente do adversário para considerar a própria
posição e respostas de Deus.
Bibliografia:
A. B. Bruce, Apologetics, Edinburgh. T. & T.
Clark, 1892.
E. J.Carnell,
An Introduction to Chrístian Apologetics, Grand Rapids. Eerdmans,1952;
A Philosophy of
the Chrístian Religion, Grand Rapids. Eerdmans, 1952.
Robert Flint,
Agnosticism, New York, Scribner’s, 1903;
Anti-Theistic
Theories, Edinburgh. Blackwood. 1879.
BrocardusMeijer,
Katholieke Geloofsverdediging, Roermond. Romen & Zonen, 1946.
Bernard Ramm,
Protestant Chrístian Evidences, Chicago. Moody Press, 1953;
Types of
Apologetic Systems, Wheaton, III.. VanKampen Press, 1953;
The Chrístian
View of Science and Scripture, Grand Rapids. Eerdmans, 1954.
fonte Dicionário Bíblico Wycliffe,
CPAD, págs. 158-16
fonte www.sigogospel.blogspot.com
FONTE
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