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segunda-feira, 20 de junho de 2016

Esdras o lider exemplar


        Esdras: ensinava o que vivia, vivia o que ensinava


Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a lei do SENHOR e para cumpri-la e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos. (Esdras 7.10) 
  
1. O personagem Esdras

O nome Esdras (‘ezrā’, Ed 7.1) é uma forma abreviada de Azarias, um nome hebraico comum que significa “Yahweh tem ajudado”. Seu nome geralmente é seguido de diversos títulos, como “o sacerdote Esdras” (v. 12; 10:10,16; Ne 8:2), “o escriba Esdras” (Ne 8:4,13, 12:36), “o sacerdote e escriba Esdras” (Ed 7:11; Ne 8:1,4,9) e “o sacerdote Esdras, escriba da Lei” (Ed 7:21). Os títulos “escriba” e “sacerdote” revelam que Esdras era um homem instruído, santo, especialista na Lei de Moisés e chamado por Yahweh para servi-Lo junto aos cativos em tempos de crise política e religiosa. As duas funções o estabelece e o autoriza a exercer as importantes funções religiosa e política necessárias à restauração da nação pródiga. Esdras é um paradigma de líder que vive o que ensina e ensina o que vive.
Esdras era um escriba (hb. sōpēr; Ed 7.6), e no contexto bíblico, isso significa mais do que ler, escrever e manter registros. O termo identifica um especialista na Torá que era capaz de ler e interpretar a lei (Jr 8.8). Como um dos cativos na Babilônia, onde talvez tenha nascido, e descendente direto de Arão, tinha grandes responsabilidades para desempenhar diante do Senhor e perante os exilados. Se não fosse a pessoa preparada que era, perito na Lei de Moisés e ungido para o exercício do sacerdócio, provavelmente não teria alcançado o sucesso que lhe fora concedido por Deus.

2. O Caráter de Esdras

O termo "caráter" procede do grego "charaktēr" e significa literalmente "estampa", "impressão", "gravação", "sinal", "marca" ou "reprodução exata". O caráter é a "marca" pessoal de uma pessoa. O "sinal" que a distingue dos outros e pela qual o sujeito define o seu estilo, a sua maneira de ser, de sentir e de reagir. Também pode ser definido como o conjunto das qualidades boas ou más de um indivíduo que determina-lhe a conduta em relação a Deus, a si mesmo e ao próximo. O caráter, por conseguinte, não apenas define quem o homem é, mas também descreve o estado moral do homem (Pv 11.17; 12.2; 14.14; 20.27). Assim, Esdras não apenas ensinava a Escritura, mas moldava sua vida conforme os ensinos da Palavra de Deus. A autoridade de suas palavras brotavam da fidelidade com que vivia o que ensinava.

Esdras certamente é um exemplo de caráter, senão vejamos:
A Bíblia afirma que ele era:

a) escriba perito na Lei de Moisés (TEB): “perito” é a tradução do termo hebraico para “rápido”, “veloz”, “diligente”(4). Ele não era um mero compilador ou revisor da Lei, como o vocábulo sōpēr pode sugerir . O termo “hábil” (arc) sugere velocidade em dominar a Lei completamente e facilidade em movimentar-se nela, capacidades que eram frutos do estudo dedicado (5) (v.10). Como escriba cabia-lhe muitas outras funções administrativas importantes (6) (v. 25). Alguns estudiosos entendem este vocábulo, que está nas perícopes 6 e 11, como uma designação de Esdras como oficial do governo persa. Todavia, provavelmente o vocábulo se refere com mais exatidão a seu papel de mestre e intérprete da Lei na comunidade judaica sem, contudo, excluir alguma função no governo persa (7) (7.26). Embora a Bíblia se refira a Esdras como especialista na Lei, muito provavelmente havia servido à coroa persa como conselheiro, intérprete da cultura judaica, escriba e também em funções administrativas.
b) sacerdote (Ed 7.1-5,21): Esdras era descendente da nobre família de Arão, o sumo sacerdote e, assim, responsável pelo cumprimento da lei levítica e do bem-estar espiritual do qāhāl Yahweh, a congregação do Senhor.
c) a mão do Senhor estava sobre ele (Ed 7.6,28): a “mão do Senhor” (Sl 19.1) é um hebraísmo muito comum na Bíblia para descrever o poder de Yahweh a favor do Seu povo (At 11.21), ou a força do Senhor contra os inimigos de Israel (Jz 2.15; 1Sm 5.6). Esdras 8.22 fornece a chave para interpretar o semitismo (8), enquanto 7.28 “estendeu para mim a sua beneficência [hēsēdh]” (arc) equivale à “mão do Senhor sobre mim” – contraste com o idiotismo “a boa mão do nosso Deus estava sobre nós e livrou-nos da mão dos inimigos” (grifo nosso, cf. 8.33). A fraseologia é usada várias vezes no livro para reafirmar que toda aquela maravilha estava em processo devido ao favor e a força do Senhor sobre Israel. Esdras assim usará essa expressão-chave para acentuar a ação de Yahweh (ver 7.6, 9, 28; 8.18, 22, 31; Ne 2.8, 18).
c) Esdras, conforme a sabedoria do teu Deus (8.25a): “sabedoria”, do hebraico “hokhmāh”, possui muitas aplicações no Antigo Testamento, como por exemplo, “habilidade técnica” (Êx 28.3; 31.3,6). Neste contexto, emprega-se o substantivo para descrever alguma forma de competência administrativa, capacidade para selecionar, organizar e instituir lideranças(9). O termo reúne todas as qualidades e virtudes que acompanham o líder sábio:

a) discernimento, competência, bom senso (no hebracico tevunah; Pv 2.2-3,6,11): O termo hebraico tevunah refere-se à competência em uma habilidade específica ou em uma tarefa relevante para viver de maneira bem-sucedida dentro da sociedade. A palavra não denota uma profunda compreensão intelectual deste mundo ou do pensamento, ideia claramente associada à palavra sinônima binah (entendimento). Antes, tevunah se refere ao conhecimento ligado à habilidade de um artífice (Êx 31:3; 35:31; 36:1; 1Rs 7:14), ao entendimento ligado aos negócios de um rei (Ez 28:4), à inteligência de um artesão de ídolos (Os 13:2) e à habilidade no falar (Jó 32:11). Ela pode se referir à habilidade de discernir os planos e os propósitos de Deus (Dt 32:28), realidades sociopolíticas (Ob 7-8) ou realidades espirituais (Is 44:19). Tanto Davi (Sl 78:72) como Salomão (1Rs 4:29) foram dotados de discernimento para governar com habilidade (cp. Pv 28:16). O discernimento que leva a um viver habilidoso é dom de Deus (Êx 31:3; 1Rs 4:29) e pode ser obtido mediante uma vida longa (Jó 12:12). A pessoa que adquire entendimento é feliz (Pv 3:13), comedida (11:12), paciente (14:29; 17:27), humilde (18:2) e bem sucedida (19:8).
b) conhecimento (no hebraico da’ath; Pv 8.9-10,12): Fundamentalmente, da‘ath (conhecimento) se refere à consciência relacional de pessoas ou objetos obtida por meio dos sentidos. O conhecimento é obtido mediante o envolvimento prático com o objeto de conhecimento, e da‘ath só raras vezes expressa o conceito de conhecimento intelectual abstrato à parte de relacionamentos. Em Provérbios, há duas compreensões de conhecimento. Nas seções 1‒9, o conhecimento concentra-se mais na percepção obtida mediante a reflexão teológica (1:7,29; 2:5,6,10; 3:20; 9:10), enquanto nos provérbios 10‒29, o conhecimento concentra-se primariamente na habilidade de lidar com relacionamentos interpessoais (10:14; 11:9; 12:1; 14:6; 17:27; 19:25; 21:11; 23:12). Em contextos teológicos, Deus possui conhecimento (Jó 10:7; Pv 3:20) e o difunde aos homens (Jó 21:22; Sl 94:10; 119:66; Is 40:14). O temor do Senhor é o princípio do conhecimento (da‘ath; Pv 1:7; 2:5) e a percepção dos planos e dos propósitos do Eterno por meio do relacionamento com Ele é designada também como conhecimento (Is 5:13; 11:2; 58:2; Jr 10:14; 51:17).
d) prepara o coração para buscar e cumpri a Lei e para ensinar em Israel (7.10): o verbo hebraico kûn, traduzido “preparado” (ARC), “disposto” (ara) e “aplicara” (teb), literalmente significa “estar ereto”, “ficar de pé” e daí a ideia “firme ou constante”. Em 2Cr 31.11; Sl 103, 19 e Sf 1.7, quer dizer “preparar para o uso”. Já o verbo “cumprir”, no original ‘āśāh, quer dizer “executar”, “fazer”, ou “realizar”. O verbo, usado com frequência no AT, denota a ideia central de “levar a cabo uma atividade com um propósito distinto, uma obrigação moral, ou um objetivo em vista (Gn 11.6)” (10). O terceiro verbo “ensinar” (heb. lāmadh) procede da raiz “picar”. Em certas passagens denota “treinamento” (Is 2.4), noutras, “partilhar ensinamento” (2Cr 17.7,9).
Este célebre versículo apresenta Esdras como um “reformador-modelo”. Ele:
a) Havia disposto o seu coração a buscar (estudar) o conhecimento da Lei do Senhor;
b) Havia disposto o seu coração para cumprir (conduta) a Lei do Senhor;
c) Havia disposto o seu coração para ensinar (ensino) a Lei do Senhor.
Ele havia vivido o que ensinava e aquilo que vivia tinha averiguado na Lei do Senhor. De acordo com Kidner, “com o estudo, a conduta e o ensino colocados deliberadamente nesta ordem, cada um destes podia funcionar corretamente nas suas melhores condições: o estudo foi livrado da irrealidade, a conduta, da incerteza, e o ensino, da insinceridade e da superficialidade” (11).
Esdras é um modelo de professor-pastor dedicado ao estudo pessoal da Escritura e ao cumprimento de seus ensinamentos. 
notas CPANEWS



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