O Avivamento do País de Gales
Parte 1– A Confissão que Acendeu a Chama
De acordo com
alguns estudiosos, o avivamento no País de Gales, um minúsculo principado da
Grã-Bretanha, que ocorreu de 1904 a 1905, foi um dos maiores avivamentos na
história, dado o curto tempo de duração e o impacto que causou, não só nas
regiões circunvizinhas, mas através do mundo inteiro. Sem dúvida alguma, foi um
dos grandes acontecimentos que viriam a marcar significativamente o início do
século XX. Nesta série de artigos, o foco principal será como Deus usou
instrumentos comuns para trazer acontecimentos extraordinários.
O País de Gales é
um principado do Reino Unido, menor ainda que o estado brasileiro do Sergipe.
No início do século XX, tinha uma população de pouco mais de um milhão de
pessoas. A maioria trabalhava nas minas de carvão ou em metalúrgicas.
Era uma região
cheia de igrejas e capelas. Quase todos freqüentavam uma igreja regularmente.
Havia grandes pregadores que viajavam, anunciando o evangelho. Numa época em
que não havia rádio nem televisão, os cultos eram um acontecimento importante
na sociedade. Admiravam-se as boas pregações que atraíam grandes audiências.
Entretanto, algo
estava faltando nessas pregações. A mensagem havia-se perdido no meio da
preocupação com sua forma de transmissão. O culto era bem preparado, as
pregações eram aperfeiçoadas, como uma obra de arte, e havia entoação de hinos
no final. Porém, algo estava errado. Faltava um elemento importante – a paixão
pela mensagem. Aos poucos, algumas pessoas começaram a notar isso.
Uma dessas pessoas
era um homem chamado Dean Howell. Em 1903, ele escreveu um artigo conclamando o
povo galês a buscar Deus por algo novo.
“A maior
necessidade da nação galesa hoje”, ele escreveu, “é avivamento espiritual; não
apenas transformação social, mas avivamento espiritual, algo que alcance as
profundezas do coração.”
“Se fosse a última
coisa que eu pudesse dizer a esta nação”, ele concluiu, “eu gostaria de dizer
que precisamos de avivamento”. Três semanas depois, Dean Howell morreu.
De repente, as
pessoas começaram a clamar por Deus. Era algo realmente notável. Muitas pessoas
estavam orando por avivamento, reconhecendo que o estado espiritual em que
estavam não era o que deveria ser.
Enfrentando o
Senhorio de Jesus
Um outro líder que
sentiu a carga de buscar o avivamento era Joseph Jenkins. Em uma pequena vila
de Cardinganshire chamada New Quay, esse pastor estava profundamente preocupado
com a falta de unção na sua própria pregação, o que o compeliu a buscar intensamente
uma vida mais profunda em Cristo. Ele sentiu cada vez mais o fardo por causa da
indiferença entre os cristãos ao seu redor e a apatia dos jovens na sua própria
igreja. Exortou-os seriamente a obedecer ao Espírito. Na passagem de ano, de
1903 para 1904, ele organizou uma conferência sobre a vida espiritual, em que
testemunhou como o Espírito Santo havia inflamado sua vida como que através de
uma chama de fogo.
Depois de um culto
de domingo à noite, em fevereiro de 1904, uma adolescente chamada Florrie Evans
veio pedir conselho ao pastor. Ela estava profundamente incomodada, com falta
de paz interior.
O pastor lhe fez
uma pergunta sábia: “Como você está em relação ao senhorio de Jesus Cristo?”
“Não estou muito
bem”, ela respondeu. “Tenho medo de que, se eu me entregar totalmente, ele me
peça algo muito difícil.”
Naquela noite,
porém, ela enfrentou seus temores e entregou sua vida inteiramente a Jesus como
Senhor. Que coisa maravilhosa poder resolver essa questão tão cedo na vida –
ela tinha apenas uns dezesseis anos – e não ter de esperar até a fase adulta,
com tantas complicações a mais!
O Que Jesus
Significa Para Você?
Uma semana depois,
Joseph Jenkins estava numa reunião com os jovens da sua igreja. Era um domingo
de manhã. Os jovens, embora não muito dinâmicos, eram moralmente decentes e
bem-comportados.
“O que Jesus
significa para vocês?”, Jenkins perguntou.
Houve um longo e
pesado silêncio. Finalmente, um garoto se manifestou: “Jesus é a Luz do Mundo”,
ele disse.
“Não”, respondeu
Jenkins, “não é isso que quero. Quero saber o que Jesus significa para vocês.”
Outro silêncio
pesado.
Foi aí que Florrie
Evans se pôs de pé. “Eu não sei exatamente o que posso dizer esta manhã”, ela
disse com voz trêmula e hesitante, “mas eu amo o Senhor Jesus com todo meu
coração. Ele morreu por mim.”
Palavras simples,
sem nada de muito especial. Muitos de nós poderíamos ficar em pé e dizer as
mesmas palavras, com sinceridade, e nada aconteceria. Mas não foi apenas o
queela disse, mas como o disse.
Deus estava
preparando combustível espiritual há algum tempo, através de várias vidas. Só
estava faltando a faísca, que chegou com essa confissão feita por uma
adolescente tímida que tivera uma experiência genuína com Deus uma semana antes
e que agora estava obedecendo a um toque interior do Espírito Santo.
Algo foi iniciado
ali mesmo, naquela reunião. Houve um silêncio diferente, um senso da presença
de Deus. Os jovens sentiram o impacto do toque do Espírito Santo, sentiram que
suas vidas não estavam em ordem diante de Deus. Houve a profundidade do
verdadeiro arrependimento e, depois, a alegria de conhecer o perdão dos
pecados.
À medida que a
bênção em New Quay foi divulgada em outros lugares, as portas começaram a se
abrir. Levado pelo seu pastor, este grupo de jovens, a maioria entre dezesseis
e dezoito anos de idade, conduziu reuniões por todo o sul do país. Oravam pelas
pregações e cantavam no final. Convenções e conferências brotaram em todo o
País de Gales, enfatizando a santidade de coração e a vida no Espírito.
Transformando Fé
Mental em Experiência Viva
Nos outros artigos
desta série, queremos descrever um pouco mais como essa faísca se transformou
em explosão. Mas é importante observar como Deus iniciou aquele mover, o
ambiente em que nasceu. Muitos sabiam a respeito de Deus, eram religiosos,
freqüentavam os cultos, mas não conheciam a Deus. Isso lhe parece familiar?
Estamos vivendo
dias em que milhares dizem que crêem em Deus, no entanto lhes falta a realidade
prática de andar no dia-a-dia com Jesus, de ter um relacionamento vivo com
Deus. No avivamento do País de Gales, uma das coisas que mais aconteceu foi o
toque de Deus em pessoas que já criam nele, mas que só tinham uma fé mental,
cultural. E uma das palavras chaves do avivamento era segurança, certeza. As
pessoas descobriam que Deus as amava, que havia feito algo permanente em suas
vidas. Algo de que podiam ter certeza.
Deus transforma!
Ele ama – não somente o mundo, mas ama a mim! É claro que ele ama o mundo, mas
ele também me ama e me transforma. E posso saber que ele me ama. É a passagem
da religião à realidade espiritual.
É possível ouvir
pregações fantásticas, pregações profundas e bem elaboradas, pregações que
cativam e conquistam os ouvidos, como havia naquela época – e não ter o coração
tocado. Por outro lado, não é necessário nem estar numa reunião especial para
entregar sua vida totalmente ao controle de Jesus. Florrie Evans, que era uma
adolescente comum, fez essa entrega e foi usada como uma pequena faísca para
detonar uma grande explosão no seu país e no mundo. Anos mais tarde, foi como
missionária para o interior da Índia.
O
Avivamento do País de Gales – Parte 2 – Deus Prepara um Instrumento
De acordo com
alguns estudiosos, o avivamento no País de Gales, um minúsculo principado da
Grã-Bretanha, que ocorreu de 1904 a 1905, foi um dos maiores avivamentos na
história, dado o curto tempo de duração e o impacto que causou, não só nas
regiões circunvizinhas, mas através do mundo inteiro. Sem dúvida alguma, foi um
dos grandes acontecimentos que viriam a marcar significativamente o início do
século XX. Nesta série de artigos, o foco principal será como Deus usou
instrumentos comuns para trazer acontecimentos extraordinários.
Antes de Deus
acender a chama, ele precisava preparar um instrumento para guiar e cuidar do
avivamento. Por isso, no nosso relato, precisamos voltar um pouco no tempo e
falar a respeito de um homem que Deus começou a preparar vários anos antes dos
acontecimentos descritos na Parte I.
Quando Deus começa
um avivamento, ele não trabalha primeiro com a igreja como um todo. Ele escolhe
uma ou duas pessoas com paixão, com encargo, que geralmente estão “fora do
arraial”, num certo sentido. Estão fora dos programas normais da igreja. Estão
carregando um fardo que os outros não conseguem compreender.
Volte às Escrituras
e veja os exemplos. Deus escolhe um simples pastor, longe dos centros de
atividade, e faz dele um rei. Ou toma homens comuns (como Amós, um homem do
campo – Am 7.14) e os chama para serem profetas. Deus não escolhe os fortes, os
capacitados. Ele procura os simples, os disponíveis.
Imagine o que Jesus
faria se estivesse iniciando o cristianismo agora, no século XXI. Se ele
tivesse de escolher doze homens e dizer: “Estou confiando a estes homens o
futuro da Igreja Cristã, a mensagem do Reino de Deus”, imaginaríamos que
procuraria nos melhores seminários, que escolheria as mentes mais brilhantes,
os comunicadores mais dinâmicos.
Mas não foi isso
que fez no início da era cristã. Sabe o que ele faria hoje? Iria a uma obra de
construção, a uma fábrica qualquer ou aos trabalhadores rurais e chamaria seus
discípulos. Porque foi isso que fez quando escolheu pescadores e outros homens
comuns nos evangelhos.
A Preparação de
Evan Roberts
Quando se fala do
avivamento de Gales, o nome mais conhecido hoje é o de Evan Roberts. Mas,
quando foi chamado por Deus, ele era desconhecido, um trabalhador comum, sem
cursos ou títulos. Evan nasceu em 1878, perto do rio Loughor. Sua família era
metodista e, desde cedo, levava as coisas espirituais a sério. Converteu-se com
treze anos de idade.
Seu pai, como a
maioria dos homens naquela região, era um mineiro de carvão e trabalhava nos
túneis escuros embaixo da terra. Com apenas nove anos de idade, Evan precisou
começar a trabalhar, porque seu pai quebrara a perna na mina. Com doze anos,
ele saiu da escola para assumir o trabalho definitivo nas minas de carvão. Era
um trabalho muito perigoso e, mais de uma vez, escapou por pouco da morte.
Em uma das
ocasiões, houve uma explosão na mina, mas, como não era o seu turno, ele não
estava no local. Sua Bíblia, porém, havia ficado lá e ficou queimada exatamente
na página de 2 Crônicas 6, na oração do rei Salomão. Evan guardou essa Bíblia
como memorial por muitos anos.
Ao contrário da
maioria dos cristãos em Gales, que eram indiferentes e acomodados, Evan estava
sempre insatisfeito com o nível de vida espiritual que tinha, sempre buscando
ansiosamente por algo maior. Ao ver a sede do jovem, um diácono de sua igreja o
aconselhou a não perder uma reunião de oração sequer, pois poderia acontecer de
o Espírito Santo chegar quando ele não estivesse presente. Por isso, todas as
noites da semana, Evan estava em uma reunião de oração ou estudo bíblico nas
redondezas. Durante treze anos (da idade de 13 até os 26 anos), ele fez isso,
orando com perseverança por um avivamento.
Com a idade de
dezenove anos, Evan estava numa montanha em Gales, contemplando o vale embaixo
e recitando a oração do Pai-Nosso em voz alta. Quando chegou às palavras:“Venha
o teu reino”, ele ficou tão comovido que não conseguiu mais falar. Ficou
parado ali, enquanto as palavras martelavam no seu interior: “Venha o
teu reino, venha o teu reino”. Seu coração era assim sensível ao toque de
Deus.
Durante os treze
anos em que manteve o compromisso de buscar ao Senhor, havia dois temas
principais nas suas orações. O primeiro era por um enchimento pessoal do
Espírito Santo. Ele clamava a Deus para enchê-lo com sua presença. Em segundo
lugar, ele pedia por um avivamento nacional. “Aviva Gales!”, ele suplicava. Na
Bíblia da família, a passagem de 2 Crônicas 7.14 estava marcada como a base de
seu clamor a Deus.
Uma noite em 1903,
Evan ajoelhou-se para orar antes de dormir. De repente, a presença de Deus o
envolveu de tal forma que começou a sacudir-se fortemente, balançando até a
cama. Sentiu-se totalmente inundado pela presença de Deus. Seu irmão, na cama
ao lado, achou que ele estava doente e, levantando-se, abraçou-o e tentou
ajudá-lo.
Depois da oração,
Evan foi dormir. Porém, pouco tempo depois, à uma da manhã, Deus o acordou. Até
às cinco da manhã, ele permaneceu em oração. Durante os três ou quatro meses
seguintes, Deus o acordava nesse mesmo horário, todas as madrugadas, e ele
ficava em intercessão até às cinco. Em muitas ocasiões, sentia fortes
visitações do Senhor, com tremores incontroláveis. Quando seus familiares
perguntavam o que estava acontecendo, ele só respondia que era algo
indescritível.
Já fazia algum
tempo que Evan sentia que Deus o queria no ministério. Alguns meses antes
desses encontros de madrugada com o Senhor, ele havia se matriculado numa
escola preparatória a fim de ter condições de passar no exame de admissão do
seminário. Essa escola era localizada na região oeste de Gales, próxima a New
Quay, onde Deus estava se movendo entre os jovens, como vimos na Parte I desta
série.
Uma Oração Incomum
Uma outra pessoa
que teve uma parte importante no início do avivamento foi um evangelista
presbiteriano, chamado Seth Joshua. Preocupado com a ênfase que era dada ao
conhecimento acadêmico e com a falta de vida espiritual, ele começou a orar
para que Deus mandasse um avivamento a Gales. Muitos anos depois, seu filho
Peter contou como teve oportunidade de ouvir a oração do pai.
Um dia, resolvi
matar aula e fui para um parque para brincar. Chegando lá, vi meu pai andando
no parque e escondi-me por trás dos arbustos. Quando ele se aproximou, fiquei
assustado por ver que estava chorando (algo que achei que ele jamais faria).
Ele estava dizendo: “Por favor, Deus, dá-me Gales”, e continuou repetindo essa
súplica enquanto eu podia ouvi-lo.
Porém, além de
pedir um avivamento para Gales, Seth Joshua estava fazendo uma outra oração a
Deus por algo bastante incomum. Ele estava pedindo para que Deus levantasse um
moço das minas de carvão ou dos campos de lavoura, não de Cambridge ou Oxford
(assim como chamara a Eliseu enquanto lavrava a terra), para despertar o povo
de Deus e levá-lo de volta à sua presença. Nem imaginava que ele mesmo teria um
papel neste chamado.
Em 1904, quando
Evan Roberts estava estudando na escola preparatória, Seth Joshua foi pregar na
igreja de Joseph Jenkins, em New Quay, onde Florrie Evans havia feito sua
confissão e onde havia agora um grupo de jovens avivados. O ambiente espiritual
estava muito favorável, e Deus estava operando poderosamente em muitas vidas.
As reuniões se prolongavam até mais de meia-noite. Numa das reuniões, depois de
meia-noite, Seth tentou encerrar o culto com uma oração. Mas, durante a oração,
o Espírito começou a agir novamente, e o povo não quis ir embora. Isso se repetiu
por diversas vezes. Seth Joshua testemunhou depois que nunca antes vira tamanha
manifestação do poder do Espírito.
Depois disso, Seth
foi para Newcastle Emlyn, para a escola preparatória, onde Evan Roberts estava.
Eram todos jovens preparando-se para o ministério, mas o ambiente era frio e
indiferente. Nas primeiras reuniões, Evan não estava presente porque estava
doente. No terceiro dia, porém, um grupo de jovens de New Quay veio. Não houve
pregação, somente cânticos, testemunhos e exortações. O fogo começou a arder,
corações se derreteram e muitos começaram a pedir misericórdia de Deus por suas
próprias vidas.
A Grande Reunião de
Blaenanerch
Ao ouvir e ver o
que Deus estava fazendo em New Quay, Evan Roberts sentiu que chegara o momento
para a resposta às suas orações. Quando Seth Joshua seguiu para uma outra
cidade próxima, Blaenanerch, para pregar, Evan pediu permissão do diretor da
escola para ir para lá com mais alguns colegas e participar das reuniões.
Era uma
quinta-feira, 29 de setembro de 1904. Evan Roberts saiu de Newcastle com um
grupo de dezenove colegas da escola, às seis horas da manhã, para estar na
primeira reunião que começaria às sete. Já pelo caminho, o grupo sentia a forte
presença do Espírito ao cantar: “Está vindo, está vindo o poder do Espírito
Santo; eu o recebo, eu o recebo, o poder do Espírito Santo”.
Ao chegarem lá,
participaram da primeira reunião. No final da pregação, antes de dar um
intervalo para tomar o café da manhã, Seth Joshua fez uma oração em que usou as
palavras: “O Arglwydd, plyg ni”, palavras em galês que significam:
“Senhor, dobra-nos”. Estas palavras atingiram Evan como se fossem uma flecha no
seu íntimo. Ele sentiu uma profunda agonia como uma dor de parto e testificou
mais tarde que o Senhor lhe sussurrou nos ouvidos: “É disso que você precisa”.
Esta palavra em
galês, plyg (dobrar), tem um sentido
muito mais profundo do que nossa palavra em português. Significa derreter,
moldar, dar forma (como barro nas mãos do oleiro) – além de dobrar ou quebrantar.
Evan não quis tomar
café. Quando voltaram para a reunião às nove horas, ele sabia que precisava
fazer essa mesma oração em público. Enquanto esperava que outros terminassem de
orar, ele disse:
Senti uma força ou
energia viva entrando no meu peito. Perdi o fôlego, minhas pernas ficaram
trêmulas. Caí de joelhos, suava muito, e as lágrimas jorravam – achei que
estava até sangrando. Era terrível por uns dois minutos. Então clamei:
“Dobra-me, dobra-me, dobra-me! Oh! Oh! Oh!” Senti que era Deus enviando o seu
amor para me dobrar e eu não compreendia o que havia em mim para ser amado.
Depois que fui “dobrado” (quebrantado), uma onda de paz encheu meu interior. Ao
mesmo tempo, a congregação cantava com entusiasmo: “Estou chegando, estou
chegando, Senhor, a ti”. O que veio à minha mente depois disso era o dia do
juízo final quando as pessoas serão dobradas contra sua vontade. Senti meu
coração cheio de compaixão pelas pessoas que serão obrigadas a se dobrarem
diante de Deus no dia do juízo. Desse dia em diante, a salvação das pessoas
pesava muito sobre mim.
Essa foi a
experiência crítica na vida de Evan Roberts. Ele sempre se lembraria da grande
reunião de Blaenanerch. Como os caminhos de Deus são insondáveis! Seth Joshua
pedira Gales a Deus, mas Deus não lhe deu Gales – ele lhe deu Evan Roberts. E
depois deu Gales a Evan Roberts!
Um Novo Homem
Quando Evan
levantou-se daquela oração, ele era um homem transformado. Sentiu-se inflamado
com o desejo de ir por toda a extensão de Gales para falar do Salvador.
Ao voltar para
Newcastle, para a escola, não conseguiu mais concentrar-se nos estudos. Passou
muito tempo orando e conversando com o colega de quarto sobre o desejo de ver
Deus mover-se em todo o seu país. Começaram a conversar com outros jovens para
formar equipes de evangelização.
Certa noite, depois
da meia-noite, Evan voltou para o quarto depois de um período de oração. Seu
colega de quarto, Sydney Evans (que depois casou-se com a irmã de Evan Roberts
e foi para a Índia como missionário), viu que seu rosto estava brilhando e
perguntou o que havia acontecido.
“Oh, Sydney”, ele
respondeu, “acabei de ter uma visão de todo o País de Gales sendo elevado ao
céu. Estamos para ver o maior avivamento que este país já experimentou, e o
Espírito Santo está chegando. Precisamos estar prontos!”
Em seguida, Evan
Roberts olhou para ele com um olhar penetrante nos seus olhos, do qual Sydney
nunca mais pôde esquecer, e perguntou-lhe: “Você acredita que Deus possa nos
dar CEM MIL ALMAS?”
É preciso lembrar
que, nessa época, Evan Roberts era uma pessoa totalmente desconhecida. Ninguém
tinha ouvido falar dele. Mal começara a se preparar para entrar num seminário
(que nunca chegou a fazer). Mas, a partir desse dia, passou a acreditar
firmemente no avivamento e na grande colheita de cem mil almas que Deus daria.
E os relatórios confirmam: nos primeiros seis meses do avivamento, cem mil
pessoas foram alcançadas por Jesus no País de Gales!
O Avivamento do País de Gales – Parte 3 – Quando o Fogo Caiu
De acordo com
alguns estudiosos, o avivamento no País de Gales, um minúsculo principado da
Grã-Bretanha, que ocorreu de 1904 a 1905, foi um dos maiores avivamentos na
história, dado o curto tempo de duração e o impacto que causou, não só nas
regiões circunvizinhas, mas através do mundo inteiro. Sem dúvida alguma, foi um
dos grandes acontecimentos que viriam a marcar significativamente o início do
século XX. Nesta série de artigos, o foco principal será como Deus usou
instrumentos comuns para trazer acontecimentos extraordinários.
Depois da “grande
reunião de Blaenanerch”, em 29 de setembro de 1904, que foi descrita na Parte
II desta série, Evan Roberts tentou voltar para os seus estudos em Newcastle.
Mas o fogo que Deus acendera no seu coração, quando o “dobrou” aquele dia,
continuou a arder, e tanto ele como seu colega de quarto, Sydney Evans, tiveram
dificuldades para se concentrar nas suas lições de grego. Um desejo ardente de
ganhar almas os consumia.
O diretor da escola
preparatória (para o exame de admissão para o seminário), Evan Phillips, era
veterano de um outro avivamento, muitos anos antes, em 1859. Descrevendo os
acontecimentos daqueles dias, ele disse: “Evan Roberts era como uma pedra
radioativa no nosso meio. Havia um fogo que emanava dele e que consumia, tirava
o sono, desentupia os canais de lágrimas e impelia as pessoas à oração”.
Deus Fala em Visão
Num certo domingo à
noite, no mês de outubro, durante o culto na capela, Evan teve uma visão
insistente.
Vi, claro como se
estivesse diante dos meus olhos, a sala de aula da minha antiga escola na vila
onde fui criado. Lá, sentados em fileiras, estavam alguns ex-colegas junto com
muitos outros jovens, e eu estava discursando para eles. Impaciente, tentei
apagar a visão, sacudir minha cabeça e voltar à realidade, mas ela insistia em
voltar vez após vez. Ouvi, então, uma voz no meu ouvido interior, tão clara
como qualquer voz que já ouvira, dizendo: “Vá falar com essas pessoas”.
Durante muito
tempo, eu não quis aceitar. Contudo, a pressão foi aumentando e aumentando. Não
consegui ouvir uma palavra do sermão daquele culto. Finalmente, não consegui
mais resistir e respondi a Deus: “Bem, Senhor, se for a tua vontade, irei”.
No mesmo instante,
a visão desapareceu, e toda a capela ficou cheia de uma luz tão ofuscante que
mal conseguia distinguir o pastor no púlpito. Entre mim e ele havia uma glória
como a luz do sol no céu.
Logo depois, Evan
foi conversar com o diretor da escola, Evan Phillips. “Estou ouvindo
continuamente uma voz, dizendo que devo voltar para casa e falar com os jovens
de lá sobre Cristo. Será que é a voz do Espírito ou a voz do diabo?”
“O diabo não traz
tais pensamentos para nós”, aconselhou-o sabiamente o diretor. “Você ouviu a
voz do Espírito.”
Uma Recepção Fria
Evan Roberts chegou
em casa numa segunda-feira, dia 31 de outubro de 1904. Ninguém o estava
esperando.
“O que você está
fazendo aqui?”, os pais lhe perguntaram. “Você não deveria estar na escola?
Está doente?”
“Eu vim aqui para
fazer umas reuniões especiais com os jovens”, ele respondeu.
“Mas estivemos no
culto ontem à noite, e o pastor não disse nada a respeito”, contestaram.
“Ele ainda não
sabe”, foi a resposta de Evan.
Em seguida, foi
conversar com o pastor. Contou-lhe que viera trazer uma palavra de Deus para os
jovens. O pastor foi um pouco relutante. Disse que o solo era cheio de pedras e
que não seria uma tarefa fácil. Se ele quisesse, porém, poderia conversar com
aqueles que se dispusessem a permanecer depois da reunião de oração, naquela
mesma noite.
Era uma reunião de
oração. Assim que o pastor despediu as pessoas, Evan se levantou. Apenas
dezessete pessoas ficaram, talvez em parte por sentirem pena do moço que estava
em pé, desajeitado, lá na frente.
A reunião não foi
muito fácil. Evan contou sobre a visão que tivera, sobre as suas experiências e
sobre sua convicção de que logo Deus enviaria um poderoso avivamento. As
pessoas não correspondiam muito, e Evan parou para orar três vezes durante seu
longo apelo. Apesar da relutância que os ouvintes tinham em confessar
publicamente a sua fé, quando a reunião foi encerrada às dez horas da noite,
todos haviam levantado e confessado a Cristo, inclusive um irmão e três irmãs
da sua própria família.
O resultado foi uma
grande mudança no ambiente em sua casa. Começaram a fazer o culto doméstico e,
uma semana depois, durante uma reunião de oração, o pai de Evan orou em voz
alta pela primeira vez. Um dos maiores avivamentos da história estava
alcançando, logo no começo, a própria família daquele que seria o seu maior
líder.
O pastor ficou tão
impressionado com a primeira reunião que convidou Evan para falar novamente na
terça. E assim continuou durante toda aquela semana, com um número de
participantes cada vez maior.
Uma Palavra de Deus
Que Virou Fundamento
Na quarta-feira,
depois do culto, um grupo ainda continuou com ele até mais tarde. “Eu tenho uma
palavra de Deus para vocês”, Evan lhes declarou.
A palavra tinha
quatro pontos. Naquela noite, com certeza, ele não imaginava que esses quatro
pontos passariam a ser o fundamento e a linha mestra de todo o avivamento que
estava prestes a irromper em Gales. Os quatro pontos eram estes:
1. Arrependa-se de todo pecado conhecido
e abandone qualquer hábito duvidoso. É preciso haver confissão e
arrependimento. Se houver alguma coisa em sua vida que cause dúvida, se não tem
certeza se está certa ou errada – então, elimine-a imediatamente!
2. Reconcilie-se, se houver alguma
barreira com qualquer pessoa. Restitua, se tiver causado prejuízo a alguém.
Acerte qualquer mal, não deixe nenhuma sombra. Não podemos ser perdoados por
Deus, se não perdoarmos nosso irmão.
3. Obedeça ao Espírito imediatamente.
Faça o que o Espírito o inste a fazer. Se quisermos a presença dele, devemos
oferecer-lhe obediência pronta, implícita, inquestionável.
4. Confesse a Jesus publicamente. Não é
um ato único, após a conversão. É um estilo de vida.
Eram pontos simples
e objetivos. Ele estava descrevendo a essência do cristianismo. Você pode ser
livre dos seus pecados. Você pode ter certeza de que seus pecados foram
perdoados. Depois, comece a andar com Deus. Ouça o que ele vai lhe dizer.
Obedeça-lhe. E, finalmente, fale com os outros a respeito do que ele fez em sua
vida.
A Vinda do Espírito
Na sexta-feira
daquela primeira semana, o culto estava cheio. Havia jovens e velhos, pessoas
de várias igrejas e denominações. Evan descreveu o que aconteceu nessas
primeiras reuniões da seguinte forma:
A grande marca
desta obra de Deus é que as pessoas estão sendo despertadas e estão aprendendo
a obedecer. Aquelas que já eram religiosas tiveram uma experiência nova e muito
abençoada. Nunca imaginaram a alegria que vem quando se confessa Jesus
abertamente.
Solicitei essas
reuniões para falar com jovens, mas os adultos e velhos estão correndo para
participar também.
No domingo, o
pastor pediu a Evan para continuar por mais uma semana. À noite, ele falou com
o povo sobre a importância da obediência. Ele enfatizou:
Estou entregando
esta reunião nas mãos do Espírito Santo. Lembre-se: o Espírito Santo não é
“alguma coisa”, é uma pessoa. Quando entrego a reunião nas suas mãos, estou
entregando nas mãos de uma pessoa.
Durante a reunião,
que durou seis horas, Evan circulou entre as pessoas, instando com elas para
confessarem a Jesus. No final, ele pediu que apenas as sessenta e tantas
pessoas que haviam confessado a Jesus ficassem mais um pouco. Por volta da
meia-noite, ele lhes pediu que orassem, uma após outra: “Envie o
Espírito Santo agora, por amor a Jesus”. Cada pessoa fazia essa oração
em voz alta. Depois que todos oraram, começaram outra vez, orando assim: “Envie
o Espírito Santo agora, com mais poder, por amor a
Jesus”.
Enquanto oravam
assim, duas mulheres foram batizadas no Espírito Santo e gritavam de alegria.
Em seguida, houve um derramamento geral. Alguns clamavam por misericórdia.
Outros ficavam prostrados em agonia de convicção, ou até desmaiavam. O barulho
era uma mistura de choro, clamor, cânticos e louvor; jamais se ouvira algo
semelhante naquele lugar. Eram mais de três horas da manhã quando Evan
finalmente chegou em casa. E assim terminou a primeira semana do grande
Avivamento de Gales.
Reuniões de Poder e
Reuniões de Batalha
Segunda-feira, dia
7 de novembro, era o dia da reunião de oração. Como em tantas outras igrejas,
era uma das reuniões menos freqüentadas da semana. Mas, naquele dia, a capela
estava superlotada pela primeira vez na sua história. Evan Roberts pregou sobre
o último capítulo de Malaquias.
Mas para vós outros
que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas
asas… (Ml 4.2)
Evan espantou os
ouvintes ao declarar com ousadia que essa Escritura seria cumprida
imediatamente no País de Gales. Era como Jesus, quando leu Isaías 61.1-3 na
sinagoga no início do seu ministério (Lc 4.21) e declarou que aquela profecia
havia se cumprido diante dos olhos deles. Evan Roberts também era um jovem,
conhecido por todos em sua cidade como simples trabalhador nas minas de carvão.
Como o povo acreditaria em suas palavras?
Deus, entretanto,
tratou de confirmar sua presença. Novamente, Evan levou as pessoas a orar, uma
após outra, para “Deus enviar o Espírito Santo agora, por amor a Jesus”.
Depois de completar uma rodada completa, começaram de novo. Antes de completar
a segunda vez, a congregação inteira sentiu uma “influência irresistível”.
Alguns ouviram um forte estrondo, “o lugar ficou temível”. Muitos clamavam e
choravam em agonia. O senso da presença do Espírito estava muito forte.
Porém, na noite
seguinte, terça-feira, o ambiente ficou pesado na reunião. Dispuseram-se a
orar, mesmo assim, e perseveraram até às quatro da manhã. A mãe de Evan foi
embora antes do final, reclamando que estava muito tarde e que todos teriam de
trabalhar logo de manhã. No outro dia, porém, Evan e seu irmão encontraram a
mãe em agonia, chorando em desespero, por ter perdido uma oportunidade de
vigiar junto com seu Senhor. Ela sentiu a dor e a solidão de Jesus no
Getsêmani, pouco antes da cruz, quando seus discípulos não conseguiram
permanecer com ele. Era como se ela tivesse abandonado o Senhor num momento
crítico semelhante àquele.
Deus estava
ensinando ao povo que nem todas as reuniões são de gozo e poder, como na noite
anterior. Às vezes, ele precisa trabalhar no silêncio, na batalha, na
aprendizagem da perseverança.
Ao mesmo tempo que
isso estava acontecendo em Loughor, a cidade de Evan, Deus estava operando simultaneamente
em vários outros lugares em Gales. De forma totalmente independente, sem um
instrumento humano para levar de um lugar para outro, o Espírito estava agindo
soberanamente, visitando vidas, trazendo arrependimento e profundas conversões.
As chamas realmente estavam espalhando-se rapidamente.
Um “Caos
Organizado”
De acordo com um
dos historiadores do avivamento, as reuniões deste ponto em diante poderiam ser
descritas como um “caos organizado”, controlado pelo Espírito. Não havia ordem
humana, nem tentavam mais dar abertura à reunião ou fazer um planejamento. Eram
caóticas, em termos da lógica humana, mas havia uma perfeita ordem do Espírito.
Uma pessoa se
levantava para citar uma passagem bíblica, enquanto outras sentiam-se tocadas
pelo Espírito e clamavam por misericórdia, em arrependimento. Depois, como se
alguém tivesse dado um sinal, todos começavam a cantar.
Evan não pregava no
sentido convencional. Talvez sentisse uma certa repulsa pela retórica humana da
maioria dos pregadores da época, que era muito popular nas igrejas. Ele se
comunicava com o povo em sua própria linguagem.
“Este é o caminho”,
ele dizia. “O que eu experimentei, você também pode receber. É possível, você
poder receber o que eu tenho. É excelente, é maravilhoso, é brilhante. Transformará
sua vida”.
Ele era muito real
e prático. Suas palavras geravam uma ressonância no coração deles; o calor, a
simplicidade, a intensidade os cativava. Era impressionante como as pessoas
correspondiam, como gente de todas as idades e de todas as denominações vinha e
era tocada por Deus.
Ao ver alguns
confessando os pecados, outros percebiam que Deus podia perdoar-lhes também e
transformar suas vidas. Enquanto clamavam a Deus, as emoções cresciam.
Tudo isso era
mesclado com a trilha sonora dos hinos galeses. Quando os galeses cantavam seus
grandes hinos, agora com o entusiasmo e o fogo do Espírito Santo, não havia
nada igual. Eram composições e letras, em grande parte, dos metodistas do
século dezoito. Faziam parte, podemos dizer, do próprio DNA do povo galês.
Agora, porém, incendiadas pelo Espírito Santo, as pessoas estavam percebendo,
pela primeira vez, o verdadeiro significado da letra que haviam cantado por
décadas.
Um grande mover de
Deus estava nascendo. Como Evan Roberts e os outros líderes enfrentariam o
enorme poder contido nesse mover e os perigos que o acompanhariam?
Continuaremos a seguir a sua trajetória no próximo capítulo.
O Avivamento do País de Gales Parte –6 Efeitos do Avivamento
De acordo com
alguns estudiosos, o avivamento no País de Gales, um minúsculo principado da
Grã-Bretanha, que ocorreu de 1904 a 1905, foi um dos maiores avivamentos na
história, dado o curto tempo de duração e o impacto que causou, não só nas
regiões circunvizinhas, mas através do mundo inteiro. Sem dúvida alguma, foi um
dos grandes acontecimentos que viriam a marcar significativamente o início do
século XX. Neste último capítulo na série de artigos, examinaremos os efeitos
do avivamento, tanto imediatos quanto de longo prazo. Foi mero “fogo de palha” ou
causou algum impacto mais duradouro?
Nem sempre é
possível colocar uma data precisa para o início de um avivamento. Geralmente o
associamos a uma reunião especial ou a uma ocasião em que Deus começou a agir
de modo especial. Contudo, se pesquisarmos, sempre encontraremos uma série de
acontecimentos anteriores, como preparação de instrumentos e oração individual
ou coletiva, que estavam em andamento muito antes da explosão maior vir à tona.
Mais difícil ainda
é identificar o final de um mover divino. Afinal, um avivamento não é uma mera
campanha ou série de reuniões especiais, como às vezes o termo é usado, e não
pode ser programado, iniciado e encerrado de acordo com planos humanos.
Um mover de Deus
geralmente não acaba instantaneamente; vai perdendo fôlego pouco a pouco, até
que as pessoas concluam: “Parece que agora tudo está voltando ao normal”.
E, quando se procura descobrir o que aconteceu, vários motivos podem ser
apontados: tentativas humanas para organizar a obra do Espírito, orgulho, falta
de sabedoria e discernimento no uso de dons, ênfase exagerada na busca por
experiências, divisões.
O Avivamento de
Gales Acabou Muito Rápido?
De acordo com a
maioria dos historiadores, o avivamento em Gales durou aproximadamente dezoito
meses, de novembro de 1904 a abril de 1906. Embora tentasse não ocupar uma
posição de liderança ou centralidade no avivamento (como vimos no capítulo
anterior), Evan Roberts foi o instrumento que Deus usou para acender as chamas
e para mantê-las acesas durante o período em que se alastraram pelo país. Ele
não foi o único instrumento, mas era o principal e mais conhecido.
Alguns meses depois
do início do avivamento, a intensidade das viagens e reuniões começou a
desgastar a saúde física de Evan Roberts. Já em março de 1905, havia sintomas
problemáticos. Mesmo assim, ele continuou ativo até abril de 1906, quando,
próximo de uma crise nervosa, retirou-se do ministério público para
recuperar-se na casa da família Jesse Penn-Lewis. Nunca mais voltou ao cenário
público, mas dedicou-se a uma vida de intercessão.
Na verdade, o
avivamento ainda continuou por mais algum tempo sob a liderança de vários
outros evangelistas e homens de Deus, tais como Seth Joshua (que vimos na Parte
II), mas não com o mesmo ímpeto de antes.
Quando se pergunta
por que o avivamento de Gales acabou em tão pouco tempo, há pelo menos duas
respostas. A primeira, mais óbvia aos observadores humanos, foi realmente o
fato de Evan Roberts ter-se retirado da cena de ação. Mesmo em moveres
sobrenaturais, como avivamentos, Deus usa instrumentos humanos. Limitações
humanas podem afetar um mover de Deus.
A segunda, menos
evidente, mas não menos importante, é a seguinte: Avivamentos não são a vida
normal da igreja. São intervenções divinas que podem afetar poderosamente um
país ou época na história. Entretanto, nunca foram planejados por Deus para
continuarem indefinidamente. Nas palavras de Kevin Adams, historiador do
Avivamento de Gales, “um avivamento vem para vivificar e despertar a igreja;
depois, ela precisa continuar cumprindo sua missão divina”.
O aspecto mais
importante de um avivamento não é a duração do fenômeno ou visitação em si – é
o impacto que gera na igreja e na sociedade e a permanência dessas mudanças.
Efeitos Imediatos
do Avivamento
Nos primeiros seis
meses do avivamento, estima-se que mais de 100.000 pessoas foram convertidas.
Algumas já eram membros de igreja, mas nunca tiveram uma verdadeira experiência
viva com Deus. Outras eram mais facilmente identificadas como “pecadoras”,
gente que antes não queria saber de Deus ou da igreja.
O efeito nas vilas,
aldeias e locais de trabalho em todo o País de Gales era muito marcante. O
ambiente nas minas de carvão, onde grande parte dos homens da região
trabalhava, mudou completamente. Os mineiros, que já tinham de se levantar
muito cedo para começar o trabalho, chegavam meia-hora antes para a reunião de
oração. Às vezes, havia 200 pessoas ou mais, lá embaixo na mina, participando
de uma reunião de avivamento. Os chefes e supervisores estavam lá também. Havia
alegria e entusiasmo no ar. Os homens cantavam durante o trabalho e conversavam
com colegas sobre arrependimento e conversão.
Há várias histórias
registradas sobre a mudança de clima nas minas. Um empregado estava com medo de
perder o emprego, porque sua tarefa era cuidar dos cavalos e, agora, todos os
mineiros convertidos estavam cuidando com muito mais responsabilidade, cada um
do seu próprio cavalo. Mas isso não era o “pior”: os cavalos também estranharam
a mudança. Acostumados a serem tratados com aspereza, palavrões e agressões, de
repente ninguém mais gritava ou dava chicotadas. Os homens haviam sido
“amansados” pela operação do Espírito, e os cavalos não lhes obedeciam mais –
não estavam acostumados a serem tratados com mansidão!
O grande vício do
povo na época era a bebida alcoólica. Os bares foram esvaziados. Muitos faliram
e foram obrigados a fechar as portas. Com a queda na bebida, houve queda
marcante nos índices de criminalidade. A vida nas famílias foi transformada,
porque os homens ficavam em casa e davam mais atenção para esposas e filhos.
No Avivamento de
Gales, pelo que sabemos, não houve curas ou milagres. Não aconteceu nenhuma
transformação de água em vinho, mas houve uma outra transformação, mais sutil,
porém tremendamente sobrenatural: a transformação de cerveja em roupas e
alimentos para as famílias carentes que antes passavam necessidade por causa do
vício da bebida.
Um médico foi
entrevistado por um jornalista durante o avivamento. “O que o senhor está
achando do avivamento?”
“Estou achando
maravilhoso”, respondeu o médico. “As pessoas estão acertando todas as suas
dívidas antigas. Contas que achei que nunca mais receberia estão sendo pagas.”
Um batismo de
honestidade, um batismo de perdão, um batismo de reconciliação. Nos tribunais
de justiça, às vezes não havia casos para serem julgados. A polícia ficava
ociosa e, em um lugar, passou a formar quartetos para cantar nas igrejas, para
ocupar seu tempo.
Efeitos Duradouros
Embora o avivamento
tenha acabado em menos de dois anos, seus efeitos continuaram por muito tempo.
Mesmo os críticos admitiram que, depois de cinco anos, 80% dos convertidos
ainda se encontravam firmes nas igrejas. Não foi um “fogo de palha”, como
tantas vezes se tem visto, em que os números desaparecem logo após o fim dos
fenômenos sobrenaturais.
Outro ponto
importante a notar é que os efeitos do avivamento não foram limitados à região
imediata de Gales. As chamas foram se espalhando, transportadas por pessoas que
viajavam ou se mudavam para outras partes da Grã-Bretanha ou do mundo. Muitos
missionários saíram de lá, alcançando lugares distantes, como a Índia ou a
África. Avivamentos começaram em vários outros países, diretamente
influenciados pelas chamas que saíram de Gales, entre os quais o Avivamento
Azusa nos EUA (1906) e o Avivamento na Coréia (1907).
Muitos efeitos
nunca poderão ser avaliados ou conhecidos. Como exemplo da transformação
permanente que resultou do avivamento, podemos citar Jessie Davis, que foi
entrevistada pelo historiador Kevin Adams quando já estava com mais de 80 anos,
muito tempo depois do avivamento.
“Muitas pessoas
dizem que o avivamento acabou em pouco tempo. Como a senhora, que se converteu
nesse avivamento, responde a essa crítica?”
“Quero dizer isto”,
ela respondeu, “a chama que foi acesa no meu coração em 1906, quando eu era
jovem, nunca mais se apagou. Está acesa ainda hoje!”
E estava mesmo,
pois ela ainda mantinha uma reunião regular de oração na sua casa. Sem dúvida
alguma, milhares e milhares de pessoas conheceram e se apaixonaram por Jesus na
lua-de-mel de 1904, mas continuaram amando-o até o fim de suas vidas.
Isso não aumenta
sua fome e sede por uma genuína visitação de Deus nos nossos dias?
fonte JORANAL
ARAUTO DA SUA VINDA
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