O Direito e a cosmovisão cristã
Somente a cosmovisão cristã pode erigir um sistema de justiça, igualdade e
dignidade da pessoa humana
Por que é tão importante ter uma
cosmovisão cristã? Porque o cristianismo nos dá um mapa para a realidade, um
esboço do mundo do jeito que ele realmente é: a ordem moral e física de Deus. E
se nós queremos fazer o nosso caminho de forma eficaz através da vida, para
viver de acordo com a realidade, temos que seguir o mapa, dizia Charles Colson.
Além disso, a cosmovisão cristã nos ajuda a defender a nossa fé, dando-nos a
linguagem para explicar por que a ética cristã é bom para a sociedade, ou a
visão bíblica da natureza humana é essencial para uma boa política pública.
Muitos imaginam que compreender o cristianismo como uma visão de mundo é algo muito teórico e filosófico, e por isso deveria ser assunto somente para pastores e eruditos. Mas não é. Desenvolver uma cosmovisão bíblica deve ser uma preocupação de todo cristão, seja ele erudito ou não, pastor ou membro da igreja, pois se trata de um conjunto de suposições e crenças que utilizamos para interpretar e formar opiniões acerca da nossa humanidade, propósito de vida, deveres no mundo, responsabilidades para com a família, interpretação da verdade e questões sociais. É como um mapa mental que nos diz como navegar de modo eficaz no mundo.
Acrescento ainda que compreender o cristianismo como uma cosmovisão é importante porque conduz ao entendimento de que a fé não é algo somente privado, mas também público. Influenciados por uma forte tendência de secularização, muitos cristãos estão a aceitar a falsa ideia de que a fé é algo eminentemente privado e que por isso deve ser vivida e expressada somente no âmbito pessoal e religioso, sem a possibilidade de influenciar as questões públicas. Como vaticinou Dinesh D´Souza: “Muitos cristãos renunciaram a essa missão [participação efetiva no mundo], buscando um modus vivendi viável e confortável no qual concordam em deixar o mundo secular em paz se o mundo secular concordar em deixá-los em paz”.
O entendimento do cristianismo como uma visão de mundo desfaz esse equívoco, ao defender a inexistência de separação entre o sagrado e o secular, e que os princípios cristãos possuem densidade suficiente para abordar todas as áreas da vida humana. O cristianismo genuíno é a interpretação de toda a realidade, o que implica dizer que nenhuma área da vida humana escapa da soberania divina. O Apóstolo Paulo escreveu que em Cristo foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para Ele (Colossenses 1:16). Em outra oportunidade, o apóstolo dos gentios disse que a terra é do Senhor e toda a sua plenitude (I Co 1.26).
Portanto, nada está fora do alcance do poder do evangelho (Rm 1.16). O Direito, a Economia, a Ciência, a Educação, a Filosofia, o Estado e as Artes, por exemplo, precisam ser vistas pelas lentes da Bíblia. E para que isso aconteça precisamos pensar em termos bíblicos. Necessitamos da mente de Cristo (1Co 2.16).
No caso do Direito, especificamente, somente a cosmovisão cristã pode erigir um sistema de justiça, igualdade e dignidade da pessoa humana. Para tanto, basta observamos o primeiro elemento da tríade bíblica criação-queda-redenção, a qual contraria o pensamento dualista (secular-sagrado) e fornece os elementos necessários para a construção da perspectiva cristã.
A ideia da Criação aponta para o propósito da vida humana, por isso ela tem sentido e significado. O homem é fruto de um desígnio perfeito de um Deus amoroso (Jo 3.16) e sábio. Não somos acidentes e muito menos vivemos à deriva, sem rumo e sem direção.
Ao contrário da cosmovisão cristã, a cosmovisão naturalista pressupõe a inexistência de finalidade para a vida humana. A partir dessa concepção é possível perceber trágicas consequências daí advindas. Se a nossa existência não tem nenhum propósito, logo a vida não tem sentido. Se a vida não tem sentido, resta somente um mundo vazio e desprovido de significado, onde impera o caos, a desesperança e a falta de uma base moral objetiva.
Por essa razão Ravi Zacharias escreve: “Quando alguém tenta viver sem Deus, as respostas à moralidade, à esperança e ao sentido da vida o enviam ao seu próprio mundo para moldar para si uma resposta individualizada. Viver sem Deus significa elevar-se com a ajuda de seus próprios instrumentos metafísicos, seja qual for os meios escolhidos.... Pode então o homem viver sem Deus? Claro que pode, no sentido físico. Pode viver sem Deus de maneira racional? A resposta é: Não!; porque tal pessoa é compelida a negar a lei moral, a abandonar a esperança, a privar-se do significado e a arriscar-se a não se recuperar, se estiver errada. A vida já oferece muita evidência do contrário. Fora do Cristo não há lei, não há esperança e não há sentido. Você, e só você, é aquele que vai determinar e definir estes elementos essenciais da vida; e você e só você, é o arquiteto da sua própria lei moral; você e só você, idealiza sentido para a sua vida; você, e só você, arrisca tudo o que tem baseado numa esperança que você imagina” .
A segunda implicação da doutrina cristã da Criação é a dignidade da pessoa humana. A passagem bíblica de Gn 1.26-27 é paradigmática e estabelece o princípio segundo o qual todas as pessoas devem ser tratadas com dignidade, uma vez que temos a imagem de Deus, as suas “impressões digitais”. A dignidade da pessoa humana não é somente uma ideia cristã, como também um atributo universal próprio do ser humano, de procedência transcendente, que gera uma pretensão universal de reconhecimento, respeito e proteção tendo como destinatários todos os indivíduos e todas as formas de poder político e social.
O jurista português Jónatas Machado lembra que para a visão do mundo judaico-cristã, essa dignidade especial de ser criado à imagem e semelhança de Deus manifesta-se nas peculiares capacidades racionais, morais e emocionais do ser humano, na sua postura física erecta, sua criatividade e na sua capacidade de articulação de pensamento e discurso simbólico, distinta de todos os animais, por mais notáveis que sejam as suas características.
Jónatas destaca ainda que a teologia da imagem de Deus (imago Dei) constitui a base das afirmações de grandes pensadores da história, a exemplo de Francisco de Vitória, Francisco Suareza, Hugo Grócio, Samuel Pufendorf, John Milton, John Lock James Madison e Thomas Jeferson, sobre a dignidade, a liberdade e a igualdade, as quais viriam a frutificar no mundo jurídico, especialmente o direito a liberdade individual e a capacidade de autodeterminação democrática do povo .
Ao contrário da cosmovisão cristã, as demais cosmovisões não possuem uma base firme o suficiente na qual a defesa da dignidade humana possa se apoiar. Qual é a justificativa pela qual as pessoas devem ser tratadas com respeito e justiça se elas são meros acidentes biológicos?
Lembro-me do livro “The Natural History of Rap”, em que os dois professores universitários defendem a ideia de que o estupro não é uma patologia biologicamente falando, mas sim uma adaptação evolucionária, uma estratégia para maximizar o sucesso reprodutivo. Para os autores, o estupro é biológico, “um fenômeno natural produto da herança evolucionária humana”, como “manchas de leopardo e de pescoço alongado da girafa”. Em outras palavras, alguns homens podem recorrer à coerção para cumprir o imperativo reprodutivo.
Esse exemplo mostra que a adoção da cosmovisão naturalista tem sérias implicações contra a dignidade da pessoa humana, pois ao retirar Deus do cenário, o darwinismo retira também os princípios que deveriam nortear a vida em sociedade, sobrando tão somente o acaso, impulsos biológicos e materialismo, de modo a tornar legítimo até mesmo o estupro, como um fenômeno natural produto da herança evolucionária humana.
Outro princípio subjacente da Criação é a igualdade. Se todos provém do mesmo Criador, não há razão e muito menos justificativa para um ser humano seja considerado superior ou inferior ao outro, por isso a premissa judaico-cristã que todos merecem ser tratados sem distinção, independentemente da cor, raça, sexo, etnia ou religião.
O fundamento do tratamento igualitário é o próprio Deus que não faz acepção de pessoas (At 10.34). Nesse sentido, o apóstolo Paulo escreve: Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3.28).
Dinesh D´Souza lembra que “o caráter precioso e a igualdade de valor de cada vida humana é um conceito cristão”. Os cristãos sempre acreditaram que Deus atribui a cada vida humana que cria um valor infinito e que ama a cada pessoa de igual modo. No Cristianismo, você não é salvo por meio de sua família, tribo ou cidade. A salvação é uma questão individual. Além disso, Deus tem uma “vocação” ou chamado para cada um de nós, um plano divino para cada um de nós, conclui D´Souza .
Referências:
1. Disponível em: http://www.religiontoday.com/columnists/breakpoint/colson-s-passion-and-legacy.html.
2. D´SOUZA, Dinesh. A verdade sobre o cristianismo: por que a religião criada por Jesus é moderna fascinante e inquestionável; [tradução Valéria Lamin Delgado Fernandes]. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008, p.14.
3. ZACHARIAS, Ravi. Poder o homem viver sem Deus? – São Paulo: Mundo Cristão, 1997, p. 95-96.
4. MACHADO, Jónatas E.M. Estado Constitucional e Neutralidade Religiosa: entre o teísmo e o (neo) ateísmo. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013, p. 37.
5. MACHADO, Jónatas E.M, p. 38.
6. D´SOUZA, Dinesh, p.90.
Muitos imaginam que compreender o cristianismo como uma visão de mundo é algo muito teórico e filosófico, e por isso deveria ser assunto somente para pastores e eruditos. Mas não é. Desenvolver uma cosmovisão bíblica deve ser uma preocupação de todo cristão, seja ele erudito ou não, pastor ou membro da igreja, pois se trata de um conjunto de suposições e crenças que utilizamos para interpretar e formar opiniões acerca da nossa humanidade, propósito de vida, deveres no mundo, responsabilidades para com a família, interpretação da verdade e questões sociais. É como um mapa mental que nos diz como navegar de modo eficaz no mundo.
Acrescento ainda que compreender o cristianismo como uma cosmovisão é importante porque conduz ao entendimento de que a fé não é algo somente privado, mas também público. Influenciados por uma forte tendência de secularização, muitos cristãos estão a aceitar a falsa ideia de que a fé é algo eminentemente privado e que por isso deve ser vivida e expressada somente no âmbito pessoal e religioso, sem a possibilidade de influenciar as questões públicas. Como vaticinou Dinesh D´Souza: “Muitos cristãos renunciaram a essa missão [participação efetiva no mundo], buscando um modus vivendi viável e confortável no qual concordam em deixar o mundo secular em paz se o mundo secular concordar em deixá-los em paz”.
O entendimento do cristianismo como uma visão de mundo desfaz esse equívoco, ao defender a inexistência de separação entre o sagrado e o secular, e que os princípios cristãos possuem densidade suficiente para abordar todas as áreas da vida humana. O cristianismo genuíno é a interpretação de toda a realidade, o que implica dizer que nenhuma área da vida humana escapa da soberania divina. O Apóstolo Paulo escreveu que em Cristo foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para Ele (Colossenses 1:16). Em outra oportunidade, o apóstolo dos gentios disse que a terra é do Senhor e toda a sua plenitude (I Co 1.26).
Portanto, nada está fora do alcance do poder do evangelho (Rm 1.16). O Direito, a Economia, a Ciência, a Educação, a Filosofia, o Estado e as Artes, por exemplo, precisam ser vistas pelas lentes da Bíblia. E para que isso aconteça precisamos pensar em termos bíblicos. Necessitamos da mente de Cristo (1Co 2.16).
No caso do Direito, especificamente, somente a cosmovisão cristã pode erigir um sistema de justiça, igualdade e dignidade da pessoa humana. Para tanto, basta observamos o primeiro elemento da tríade bíblica criação-queda-redenção, a qual contraria o pensamento dualista (secular-sagrado) e fornece os elementos necessários para a construção da perspectiva cristã.
A ideia da Criação aponta para o propósito da vida humana, por isso ela tem sentido e significado. O homem é fruto de um desígnio perfeito de um Deus amoroso (Jo 3.16) e sábio. Não somos acidentes e muito menos vivemos à deriva, sem rumo e sem direção.
Ao contrário da cosmovisão cristã, a cosmovisão naturalista pressupõe a inexistência de finalidade para a vida humana. A partir dessa concepção é possível perceber trágicas consequências daí advindas. Se a nossa existência não tem nenhum propósito, logo a vida não tem sentido. Se a vida não tem sentido, resta somente um mundo vazio e desprovido de significado, onde impera o caos, a desesperança e a falta de uma base moral objetiva.
Por essa razão Ravi Zacharias escreve: “Quando alguém tenta viver sem Deus, as respostas à moralidade, à esperança e ao sentido da vida o enviam ao seu próprio mundo para moldar para si uma resposta individualizada. Viver sem Deus significa elevar-se com a ajuda de seus próprios instrumentos metafísicos, seja qual for os meios escolhidos.... Pode então o homem viver sem Deus? Claro que pode, no sentido físico. Pode viver sem Deus de maneira racional? A resposta é: Não!; porque tal pessoa é compelida a negar a lei moral, a abandonar a esperança, a privar-se do significado e a arriscar-se a não se recuperar, se estiver errada. A vida já oferece muita evidência do contrário. Fora do Cristo não há lei, não há esperança e não há sentido. Você, e só você, é aquele que vai determinar e definir estes elementos essenciais da vida; e você e só você, é o arquiteto da sua própria lei moral; você e só você, idealiza sentido para a sua vida; você, e só você, arrisca tudo o que tem baseado numa esperança que você imagina” .
A segunda implicação da doutrina cristã da Criação é a dignidade da pessoa humana. A passagem bíblica de Gn 1.26-27 é paradigmática e estabelece o princípio segundo o qual todas as pessoas devem ser tratadas com dignidade, uma vez que temos a imagem de Deus, as suas “impressões digitais”. A dignidade da pessoa humana não é somente uma ideia cristã, como também um atributo universal próprio do ser humano, de procedência transcendente, que gera uma pretensão universal de reconhecimento, respeito e proteção tendo como destinatários todos os indivíduos e todas as formas de poder político e social.
O jurista português Jónatas Machado lembra que para a visão do mundo judaico-cristã, essa dignidade especial de ser criado à imagem e semelhança de Deus manifesta-se nas peculiares capacidades racionais, morais e emocionais do ser humano, na sua postura física erecta, sua criatividade e na sua capacidade de articulação de pensamento e discurso simbólico, distinta de todos os animais, por mais notáveis que sejam as suas características.
Jónatas destaca ainda que a teologia da imagem de Deus (imago Dei) constitui a base das afirmações de grandes pensadores da história, a exemplo de Francisco de Vitória, Francisco Suareza, Hugo Grócio, Samuel Pufendorf, John Milton, John Lock James Madison e Thomas Jeferson, sobre a dignidade, a liberdade e a igualdade, as quais viriam a frutificar no mundo jurídico, especialmente o direito a liberdade individual e a capacidade de autodeterminação democrática do povo .
Ao contrário da cosmovisão cristã, as demais cosmovisões não possuem uma base firme o suficiente na qual a defesa da dignidade humana possa se apoiar. Qual é a justificativa pela qual as pessoas devem ser tratadas com respeito e justiça se elas são meros acidentes biológicos?
Lembro-me do livro “The Natural History of Rap”, em que os dois professores universitários defendem a ideia de que o estupro não é uma patologia biologicamente falando, mas sim uma adaptação evolucionária, uma estratégia para maximizar o sucesso reprodutivo. Para os autores, o estupro é biológico, “um fenômeno natural produto da herança evolucionária humana”, como “manchas de leopardo e de pescoço alongado da girafa”. Em outras palavras, alguns homens podem recorrer à coerção para cumprir o imperativo reprodutivo.
Esse exemplo mostra que a adoção da cosmovisão naturalista tem sérias implicações contra a dignidade da pessoa humana, pois ao retirar Deus do cenário, o darwinismo retira também os princípios que deveriam nortear a vida em sociedade, sobrando tão somente o acaso, impulsos biológicos e materialismo, de modo a tornar legítimo até mesmo o estupro, como um fenômeno natural produto da herança evolucionária humana.
Outro princípio subjacente da Criação é a igualdade. Se todos provém do mesmo Criador, não há razão e muito menos justificativa para um ser humano seja considerado superior ou inferior ao outro, por isso a premissa judaico-cristã que todos merecem ser tratados sem distinção, independentemente da cor, raça, sexo, etnia ou religião.
O fundamento do tratamento igualitário é o próprio Deus que não faz acepção de pessoas (At 10.34). Nesse sentido, o apóstolo Paulo escreve: Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3.28).
Dinesh D´Souza lembra que “o caráter precioso e a igualdade de valor de cada vida humana é um conceito cristão”. Os cristãos sempre acreditaram que Deus atribui a cada vida humana que cria um valor infinito e que ama a cada pessoa de igual modo. No Cristianismo, você não é salvo por meio de sua família, tribo ou cidade. A salvação é uma questão individual. Além disso, Deus tem uma “vocação” ou chamado para cada um de nós, um plano divino para cada um de nós, conclui D´Souza .
Referências:
1. Disponível em: http://www.religiontoday.com/columnists/breakpoint/colson-s-passion-and-legacy.html.
2. D´SOUZA, Dinesh. A verdade sobre o cristianismo: por que a religião criada por Jesus é moderna fascinante e inquestionável; [tradução Valéria Lamin Delgado Fernandes]. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008, p.14.
3. ZACHARIAS, Ravi. Poder o homem viver sem Deus? – São Paulo: Mundo Cristão, 1997, p. 95-96.
4. MACHADO, Jónatas E.M. Estado Constitucional e Neutralidade Religiosa: entre o teísmo e o (neo) ateísmo. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013, p. 37.
5. MACHADO, Jónatas E.M, p. 38.
6. D´SOUZA, Dinesh, p.90.
Por que é importante compreender o Cristianismo como uma visão de mundo
abrangente
O Cristianismo é uma mundividência que diz respeito a todas as áreas da
vida (Charles Colson)
Muitos imaginam que compreender o
Cristianismo como uma visão integral de mundo é algo muito teórico e
filosófico, e por isso deveria ser assunto somente para pastores e eruditos.
Mas não é. Desenvolver uma cosmovisão
cristã deve ser uma preocupação de todo e qualquer crente, seja ele erudito ou
não, pastor ou membro da igreja, pois é algo que afeta diretamente nossa
espiritualidade e como colocamos em prática nossas principais crenças no
dia-a-dia. O evangelho diz respeito a nada menos que todas as coisas (Cl.
1.16-20), e a missão da igreja diz respeito a nada menos que todas as
coisas. Desse modo, o Reino de Deus, que é revelado na pessoa de Jesus
Cristo, deve se manifestar em cada aspecto da vida de um “cidadão do Reino”,
seja na vida devocional, na comunhão no trabalho, no mercado público, na escola
na universidade, no lazer, na família.[i]
Por essa e outras razões podemos enumerar
uma série de fatores que atesta a importância de compreender o Cristianismo
como uma visão de mundo.
Compreender o Cristianismo como uma
cosmovisão é importante porque evita que os cristãos sirvam a “outros senhores”
Jesus disse certa feita que não podemos
servir a dois senhores, pois haveremos de odiar a um e amar ao outro (MT.
6.24). Nesse sentido, a compreensão do Cristianismo como uma visão de mundo tem
como um de seus objetivos exatamente evitar que os cristãos sirvam a “outros
senhores”, isto é, filosofias e concepções que contrariem as doutrinas
primordiais da fé cristã; pois aqueles que não olham a sociedade, a cultura e
os sistemas de ideias pelas lentes da cosmovisão cristã, sem se aperceberem,
são seduzidos por ideologias espúrias e antibíblicas, em virtude da
incapacidade de denotarem as forças ocultas e os princípios morais e/ou
religiosos que se escondem por detrás de algumas ideias aparentemente
inofensivas, porém destruidoras. O desenvolvimento de uma visão de mundo cristã
habilita o crente a refletir sobre as pressuposições elementares de toda e
qualquer linha de raciocínio e concluir se tais pressuposições são ou não
compatíveis com a Bíblia.
O fato de vivermos em um momento
histórico de pluralismo, diversidade e tolerância, com a crescente
multiplicação de pontos de vistas, teorias, doutrinas e religiões de todos os
tipos e origens, bem como os conflitos morais, teológicos e ideológicos que
disso resultam, compreender o Cristianismo como uma cosmovisão torna-se ainda
mais relevante, para o fim de discernir as vozes do nosso tempo e destruir os
conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo (2 Coríntios
10:5).
Compreender o Cristianismo como uma cosmovisão
é importante porque conduz ao entendimento de que a fé cristã não é algo
somente privado, mas público
Influenciados por uma forte tendência
de secularização, muitos cristãos estão a aceitar a falsa ideia de que a fé é
algo eminentemente privado e que por isso deve ser vivida e expressada somente
no âmbito pessoal e religioso, sem a possibilidade de influenciar as questões
públicas. Como vaticinou Dinesh D´Souza: “Muitos cristãos renunciaram a essa
missão [participação efetiva no mundo], buscando um modus vivendi viável
e confortável no qual concordam em deixar o mundo secular em paz se o mundo
secular concordar em deixá-los em paz”.[Com efeito, essa dicotomia
sagrado/secular, religião/ciência, fé/razão, tem afastado cada dia mais a
perspectiva cristã dos debates sociais e das questões públicas. No livro A
mente cristã Harry Blamires aborda essa questão e ressalta como os
cristãos estão se deixando influenciar pela mente secular. Ele diz:
“Não existe mais uma mente cristã.
Ainda há, é claro, uma ética cristã, uma prática cristã e uma espiritualidade
cristã. Como seres morais, os cristãos modernos podem subscrever um código do
dos não cristãos. Como membros de igrejas, eles podem aceitar obrigações e
observações ignoradas por não cristãos. Como seres espirituais, em oração e
meditação, eles podem se esforçar para cultivar uma dimensão de vida
inexplorada por não cristãos. Mas como seres pensantes, os cristãos modernos
sucumbiram à secularização. Eles aceitam religião – sua moralidade, sua
adoração, sua cultura espiritual; mas eles rejeitam a perspectiva religiosa da
vida, a perspectiva que vê todas as coisas terrenas dentro do contexto do
eterno, a visão que relaciona todos os problemas humanos – sociais, políticos,
culturais – aos fundamentos doutrinais da Fé Cristã, a supremacia de Deus e da
transitoriedade da terra, em termo de céu e inferno”. Por outro lado, o
entendimento do Cristianismo como uma visão de mundo desfaz esse equívoco, ao
defender a inexistência de separação entre o sagrado e o secular, e que os
princípios cristãos possuem densidade suficiente para abordar todas as áreas da
vida humana.
Dentro dessa compreensão, para além de
uma mera experiência ou devoção pessoal, o Cristianismo genuíno é a
interpretação de toda a realidade, o que implica dizer que nenhuma área da vida
humana escapa da soberania divina. O Apóstolo Paulo escreveu que em Cristo
foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades.
Tudo foi criado por ele e para Ele (Colossenses 1:16). Em outra oportunidade, o
apóstolo dos gentios disse que a terra é do Senhor e toda a sua plenitude (I
Coríntios 1.26).
O Cristianismo, como adverte Francis
Schaeffer, não é apenas um monte de fragmentos e pedaços – há um começo e um
fim, todo um sistema de verdade - este sistema é o único que resistirá a todas
as questões que nos serão apresentadas, à medida que somos confrontados com a
realidade da existência. Trata-se, portanto, de uma religião de integridade e
plenitude, em que a graça de Deus habita cada espaço da vida. Por essa razão, o
Senhor disse aos discípulos: Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas
forças; este é o primeiro mandamento (Marcos 12:30).
Compreender o Cristianismo como uma
cosmovisão é importante porque nos prepara para a defesa da fé
Cada dia mais me convenço que a
compreensão do Cristianismo como uma visão de mundo ajuda-nos a fazer uma
defesa mais consistente do Cristianismo. Afinal, para termos uma visão profunda
e abrangente de nossas crenças, precisamos escavar com mais dedicação rumo aos
alicerces de nossa fé. Quanto mais escavamos, mais conhecemos; quanto mais
conhecemos, mais fortalecemos a razão da nossa esperança (I Pedro 3.10).
Em outras palavras, compreender o
Cristianismo como uma cosmovisão ajuda-nos a utilizar a apologética cristã. Embora
muitos a usem com essa finalidade, não é objetivo da apologética cristã
simplesmente ganhar debates ou discussões no âmbito filosófico, científico ou
teológico. Muito ao contrário, a intenção primordial é cumprir o Ide do
Senhor Jesus, pregando o evangelho a toda a criatura, por meio de argumentos
lógicos e plausíveis ao intelecto.Isso não quer dizer que os cristãos tenham
que fugir dos debates. De forma alguma. Charles Colson afirma que “debater
pode ser algumas vezes desagradável, mas pelo menos pressupõe que há verdades
dignas de serem defendidas, ideias dignas de se lutar por elas. Em nossa era
pós-moderna, todavia, as suas ‘verdades’ são as suas ‘verdades’, as minhas
‘verdades’ são as minhas, e nenhuma é significativa o suficiente para alguém se
apaixonar por ela. E se não há verdade, então não podemos persuadir um ao outro
através de argumentos racionais. Tudo o que resta é puro poder”.
Além disso, essa visão cristã ampla
leva-nos ao estudo das demais cosmovisões, para avaliar seus fundamentos e
consequências. Ao fazermos isso, encontramos argumentos suficientes para
demover os falsos pressupostos das ideias contrárias ao Cristianismo,
ressaltando suas falhas lógicas e consequências absurdas.
Compreender o Cristianismo como uma
cosmovisão é importante porque nos incita a usar a mente para os propósitos do
Reino
A mente e a intelectualidade deveriam
ocupar lugares de destaque na igreja evangélica, pois, conforme escreveu John
Stott, subestimar a mente é soterrar doutrinas cristãs fundamentais. Por essa
razão, o estudo direcionado da cosmovisão cristã nos incita a usar o dom divino
da inteligência com o objetivo de cumprir a grande Comissão de Cristo. Somos
compelidos a pensar de forma cristã, pensar biblicamente ou com a mente de
Cristo.
Ocorre que vivemos um período
turbulento em que muitos cristãos abandonaram a razão e estão a utilizar
somente a emoção religiosa, fazendo surgir o mal do antiintelectualismo dentro
de algumas igrejas. De acordo com o sociólogo cristão Os Guinness, “o
antiintelectualismo é uma disposição em não levar em conta a importância da
verdade e a vida da mente. Vivendo numa cultura sensual e numa democracia
emotiva, os americanos evangélicos da última geração têm simultaneamente
revigorado seus corpos e embotado suas mentes. O resultado? Muitos sofrem de
uma forma moderna do que os antigos estóicos chamavam de “hedonismo mental” –
possuem corpos saudáveis e mentes obtusas”Com efeito, a cosmovisão cristã ajuda
a resgatar a verdade bíblica de valorização do intelecto para o cumprimento dos
propósitos divinos, afinal o apóstolo Pedro disse para crescermos na graça e no
conhecimento (2 Pedro 3.18), e o próprio Senhor Jesus enfatizou que devemos
amar a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de todo o nosso
entendimento (Mateus 22.37).
Compreender o Cristianismo como uma
cosmovisão é importante porque contribui para que a evangelização e o
discipulado sejam mais eficazes
A visão abrangente do Evangelho serve
também como ferramenta de evangelização, como meio de anunciar as boas novas
(Marcos 16.15). Aliás, nunca podemos perder de vista que o “Ide” do Senhor
Jesus é o ponto chave do Cristianismo abrangente, que de modo algum pode ser
ofuscado ou deixado de lado. Isso porque, o Evangelho é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê (Romanos 1.16).
Igualmente, a visão cristã de mundo é
extremamente útil para o discipulado, para informar e amadurecer um verdadeiro
adorador de Cristo com relação às implicações e ramificações da fé cristã. Ela
oferece ao novo discípulo um patamar através do qual entendemos o mundo e toda
a realidade, mediante a perspectiva divina, para assumir um estilo de
vida de acordo com a vontade de Deus.
CARDOSO LEITE, Cláudio Antônio
& Fernando Antônio. Cosmovisão cristã e transformação –
Viçosa, MG: Ultimato, 2006; p. 22.
D´SOUZA, Dinesh. A
verdade sobre o Cristianismo: por que a religião criada por Jesus é moderna
fascinante e inquestionável; [tradução Valéria Lamin Delgado Fernandes]. –
Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008; p.14.
BLAMIRES, Harry. A mente
cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2006; p. 11/12.
SCHAEFFER, Francis. O
Deus que intervém: São Paulo. Cultura Cristã, 2009; p. 249.
COLSON, Charles. E Agora
como Viveremos- Rio de Janeiro. CPAD, 2000.
Citado por James Sire,
Hábitos da Mente – a vida intelectual como um chamado cristão. São
Paulo, SP. Editora Hagnos. 2005. p. 19.
MACARTHUR, John e outros. Pense
Biblicamente – Recuperando a visão cristã de mundo - São Paulo:
Hagnos, 2005; p. 20.
O que dá acreditar no darwinismo
Dois autores, professores
universitários, defendem a idéia de que o estupro não é uma patologia
biologicamente falando, mas sim uma adaptação evolucionária,
Muitas pessoas não conseguem
compreender como a adoção da teoria darwinista pode afetar drasticamente a
forma como encaramos a vida. Essas pessoas são cegas ante a evidência de que a
entronização da teoria de Darwin possui implicações para além do “âmbito
científico”, capaz de jogar por terra vários aspectos éticos dentro da esfera
social.
Nancy Pearcey escreveu em seu blog [1]
que não há nenhuma parte da vida, ao que parece, onde o darwinismo não está
sendo aplicado hoje. Ela cita livros que abrangem temas como “uma visão
evolutiva das mulheres no trabalho” e “uma visão darwiniana do amor parental” e
até mesmo uma abordagem darwiniana para a filosofia política de esquerda.
Entretanto, a citação mais interessante
de Pearcey é sobre o livro “The Natural History of Rap” em que os dois autores,
professores universitários, defendem a idéia de que o estupro não é uma
patologia biologicamente falando, mas sim uma adaptação evolucionária, uma
estratégia para maximizar o sucesso reprodutivo. Para o autores, o estupro é
biológico, “um fenômeno natural produto da herança evolucionária humana”, como
“manchas de leopardo e de pescoço alongado da girafa”. Em outras palavras, como
escreveu Nancy, alguns homens podem recorrer à coerção para cumprir o
imperativo reprodutivo.
Conforme Nancy Pearcey: “O que esses
exemplos nos lembram é que o darwinismo não é apenas uma teoria científica, mas
também a base de uma visão de mundo – e isso tem implicações na forma como
define a natureza humana e moral”.
E isso ocorre por uma razão muito
evidente. Ao retirar Deus do cenário, o darwinismo retira também os princípios
que deveriam norteam a vida do homem, sobrando tão somente o acaso, impulsos
biológicos e materialismo, de modo a tornar legítimo até mesmo o estupro, como
um fenômeno natural produto da herança evolucionária humana.
A grande verdade é que o darwinismo é
um atentado contra a dignidade da pessoa humana. Earl Aagaard observa muito bem
[2] que até mesmo alguns evolucionistas chegaram a essa conclusão. Segundo ele,
James Rachels, no livro Created from Animals: The Moral Implications of
Darwinism (Criado Como Descendente de Animais: As Implicações Morais do
darwinismo, New York: Oxford University Press), conclui que o darwinismo
subverte a doutrina da dignidade humana. Os seres humanos não ocupam um lugar
especial na ordem moral; somos apenas outra forma de animal.
Aagaard escreve ainda: “Em “Quão
Diferentes são os Seres Humanos dos Animais?” Rachels conclui que o darwinismo
destrói qualquer fundamento para uma diferença moralmente significante entre
seres humanos e animais. Se o homem descende de símios por seleção natural, ele
pode ser fisicamente diferente de símios, mas não pode sê-lo de modo essencial.
Certamente não pode ser em qualquer aspecto que dê aos homens mais direitos do
que a qualquer animal. Nas palavras de Rachels, “não se pode fazer distinções
em moralidade onde nenhuma existe de fato”. Ele chama sua doutrina de
“individualismo moral”, e rejeita “a doutrina tradicional da dignidade humana”
junto com a idéia de que a vida humana tenha qualquer valor inerente que os
seres não humanos careçam“.
Infelizmente, como disse, grande parte
das pessoas não conseguem compreender as implicações do darwinismo que, tal
qual uma cosmovisão, uma forma de ver o mundo, afeta a ética, a educação, a
família, a política etc. E tal afetação, como visto, é completamente
prejudicial, capaz de inocentar ações criminosas e desculpar desvios morais.
O anti-intelectualismo religioso
Qual a letra que mata?
Infelizmente, em pleno século XXI ainda
existe uma turma dentro de nossas igrejas que se manifesta contra o estudo
secular e a busca pelo conhecimento. Em alguns lugares, o cristão estudioso é
tido como rebelde, frio, calculista, modernista, liberal e inveterado
insurgente. James Sire chama isso de versão popular do intelectual.
De modo recorrente é dito que a igreja
não precisa de mais conhecimento ou de doutores, já que historicamente ela foi
levada adiante por pessoas que nunca estudaram, e que, portanto, a
intelectualidade é desnecessária e sobretudo perigosa.
E alguns, para fundamentar, lançam mão
do texto de II Cor. 3.6: “... porque a letra mata e o espírito vivifica”.
É um erro grosseiro de interpretação
dizer que a palavra “letra” no texto de II Cor. 3.6 esteja se referindo ao
conhecimento. Não é preciso muito conhecimento teológico para se depreender do
texto sob análise que Paulo está fazendo referência à letra da lei, e não ao
conhecimento. Veja-se que o capítulo em que o versículo está inserido tem como
tema principal a diferença entre o ministério do Antigo e do Novo Testamento,
fato este que pode ser plenamente verificado nos versículos posteriores, onde
Paulo escreve: “O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em
pedras; mas este ministério veio com glória que os israelitas não podiam fixar
os olhos na face de Moisés, por causa do resplendor de seu rosto, ainda que
desvanecente” v. 7 – NVI
A infeliz verdade é que ainda existe um
pensamento de anti-intelectualismo dentro de alguns círculos religiosos. O
escritor Os Guinnes chama isso de hedonismo mental. Já John Stott denomina de
cristianismo de mente vazia.
De fato, a Bíblia alerta sobre o perigo
da arrogância do conhecimento e da sabedoria carnal (II Co. 1.12). Todavia, é
preciso ressaltar que a arrogância atinge não somente os estudiosos, mas também
aqueles que não buscam conhecimento. E o que existe de crente que se arroga da
sua própria ignorância não está escrito, como se no céu fossem receber de Deus
uma coroa pela burrice exercida na terra.
A Bíblia diz: “O coração do entendido
adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios busca a sabedoria.(Pv. 18.15)
Não quero com isso dizer que o cristão
intelectual é superior ou inferir àquele que não aprecia o estudo ou a leitura.
Não, não e não!
Quero simplesmente ressaltar que a vida
intelectual não é sinônimo de arrogância ou de desvio doutrinário, e que tanto
estudioso quanto não estudioso estão sujeitos aos mesmos erros. É claro que a
vida cristã não pode pautar-se jamais pelo grau de conhecimento que possuímos,
mas sim pela dependência plena à Cristo.
Como escreveu Paulo: “A minha linguagem
e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em
demonstração do Espírito de poder; para que a vossa fé não se apoiasse na
sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (I Co. 2:5,6).
A sociedade contemporânea pelo enfoque
cristão
Olhando o mundo pelas lentes das
Sagradas Escrituras
A sociedade do século XXI tem
experimentado transformações cada vez mais catastróficas. Os novos e estranhos
valores familiares, religiosos, ideológicos, políticos e educacionais nos
mostram que o homem (sem Deus) do tempo presente se assemelha a uma nau à
deriva, sem rumo, sem propósito e desprovido de uma âncora firme que lhe dê
sustentação.
Em leitura pertinente, John MacArthur
(“Como educar seus filhos segundo a Bíblia”, Cultura Cristã) observou muito bem
que parece óbvio para qualquer pessoa comprometida com a verdade das Escrituras
que nossa sociedade está numa célere desintegração moral, ética e, sobretudo,
espiritual. Ressalta ele que “os valores assimilados pela sociedade atual como
um todo estão completamente fora de sintonia com a ordem divina”.
Nesse cenário, a instituição familiar
tem a sua morte quase decretada. O psiquiatra britânico Davi Cooper, por
exemplo, sugeriu em seu livro Death
of the family [A morte da família] que é tempo de
destruir totalmente a família. A feminista Kate Millet, de modo parecido, em
seu manifesto de 1970,Sexual
Politics [Política Sexual], alegou que as famílias,
juntamente com todas as estruturas patriarcais, precisam acabar, porque elas
nada mais são do que instrumentos para a opressão e a escravização da mulher.
No âmbito da religião, dois fenômenos antagônicos,
porém igualmente perigosos, ditam hoje o tom da conexão entre homem e
espiritualidade.
Em um extremo, o secularismo tenta
apagar qualquer vestígio da prática religiosa dentro do ambiente social.
Busca-se a todo custo relegar a expressão da religiosidade ao âmbito
simplesmente privado, de modo a se impedir, por exemplo, orações em escolas
(como nos Estados Unidos) ou ainda negar a manifestação dos cristãos em
assuntos relacionados às políticas públicas. Com isso, o Estado laico vai se
transformando em Estado ateu.
Na outra vértice, vislumbra-se uma
espiritualidade pluralista, politicamente correta e sem compromisso com a
Bíblia. Como escreveu Stephen Mansfild no livro “O Deus de Barack Obama”, “com
relação à religião, a maioria dos jovens dos Estados Unidos tem uma postura
pós-moderna, o que significa dizer que eles encaram a fé de um modo parecido ao
jazz: informal, eclético e, muitas vezes, sem um tema específico. Basicamente,
costumam rejeitar uma religião organizada, privilegiando uma mescla religiosa
que funcione para eles. Para esses jovens, não há nada de mais em construir a
própria fé juntando tradições de religiões totalmente diferentes, e muitos
formam sua teologia da mesma maneira como pegam um resfriado: por meio de
contatos casuais com estranhos”.
Não bastasse tudo isso, as políticas
públicas tornam-se cada vez mais pragmáticas: focam em números e resultados em
desprezo à ética e à moralidade. E a mídia, por sua vez, intensifica
escancaradamente a banalização da sexualidade, a promoção da promiscuidade e o
emburrecimento social.
Dentro desse (triste) estado de coisas
está a igreja cristã, chamada para ser o sal da Terra e a luz do mundo (Mt
5.13). Mas, para isso, o cristão precisa estar apto a fazer a leitura da
própria sociedade. Entender os acontecimentos. Verificar os fatos. Refletir
sobre o cenário. Analisar o contexto segundo as lentes das Sagradas Escrituras.
Afinal, como escreveram Charles Colson e Nancy Pearcey (“E Agora, Como
Viveremos?”, CPAD): "A forma como vemos o mundo pode mudar o mundo".
Jesus, ao chamar os seus primeiros
discípulos, disse: "Vinde e vede" (Jo 1.38). Em outra oportunidade, o
Mestre alertou: "Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o
tempo" (Mc 13.33). Nesses dias difíceis, somos também chamados a olhar o
mundo e a fazer a sua leitura consoante a perspectiva bíblica. Somos chamados a
diagnosticar um mundo caído, em estado terminal, bem como apresentar a cura
eficaz.
Nesse sentido, gostaria de
convidá-lo(s) para juntos, neste espaço, observarmos a sociedade contemporânea
pelo enfoque cristão, de modo a dialogar e debater sobre os acontecimentos que
envolvem educação, mídia, família, política, sexualidade e outros assuntos, a
fim de podermos responder com mansidão e temor a todo aquele que nos pedir a
razão da nossa esperança (1Pe 3.13).
FONTE CPAD NEWS
A mídia e os perigos do falso
entretenimento
Os estragos produzidos pela mídia ímpia
Sob o disfarce do entretenimento e da
cultura popular de massa, crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos
estão sendo seduzidos e negativamente influenciados pela mídia ímpia – aquela
descompromissada com os valores morais e familiares. Prova disso é que nos
últimos meses uma quantidade significativa de pesquisas sérias e imparciais
trouxe à tona os efeitos nefastos efetivamente provocados por programas que
incentivam a sexualidade precoce, a infidelidade conjugal e o consumo de
álcool.
Apesar de o senso comum já ter
detectado essas verdades há muito tempo, tais estudos (divulgados no site
Hypescience.com) ratificam o fato de que algumas ditas "produções
artísticas" possuem poder de fogo suficiente para levar à bancarrota o
senso ético dos espectadores contumazes.
Para começar, estudo publicado na
revista científica Pediatrics, concluiu que jovens que têm altos níveis de
exposição a programas de televisão com conteúdo sexual tem o dobro da chance de
se envolverem em uma gravidez na adolescência nos três anos seguintes do que
aqueles que assistem poucos destes programas.
Outro estudo, realizado por cientistas
da Universidade de Radboud, Holanda, sugere que as pessoas tendem a consumir
álcool quando vêem pessoas bebendo em filmes ou em comerciais enquanto assistem
à TV. Os pesquisadores monitoraram o comportamento de 80 jovens enquanto eles
assistiam televisão e descobriram que os que viam mais referências a bebidas
alcoólicas bebiam duas vezes mais do que os que não as viam.
Ainda, pesquisa patrocionada pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugere uma ligação entre as populares
novelas da TV Globo e o aumento no número de divórcios no Brasil nas últimas
décadas. Na pesquisa, foi feito um cruzamento de informações extraídas de
censos nos anos 70, 80 e 90 e dados sobre a expansão do sinal da Globo – cujas
novelas chegavam a 98% dos municípios do país na década de 90. Além disso,
descobriu-se que esse efeito é mais forte em municípios menores, onde o sinal é
captado por uma parcela mais alta da população local.
Na esfera musical, em pesquisa
realizada na Universidade de Pittsburgh constatou-se que jovens que ouvem
músicas que contenham referências sexuais e degradantes, começam a fazer sexo
mais cedo (ou investem nas preliminares). As pesquisas foram feitas com 711
jovens de três grandes escolas em uma metrópole. Dos participantes que eram
expostos a, em média, 14 horas de músicas "sexuais" por dia, um terço
já havia feito sexo. Outro terço já havia tido "preliminares", mas
nunca havia praticado o coito, em si.
Os números dessas pesquisas são somente
alguns indicativos que comprovam os males provocados por programas que se
escondem atrás das "cortinas do entretenimento" e da cultura popular
de massa, que trazem em seu conteúdo forte apelo sexual e uma gritante
indiferença à instituição familiar, demonstrando que, ao contrário do que
muitos imaginam, os meios de comunicação possuem influência direta no
comportamento das pessoas, principalmente jovens, adolescentes e crianças, os
quais, em razão da exposição contínua acabam incorporando os valores e as
idéias propagadas pelos programas.
Sem prejuízo de outros elementos, o
ponto de discórdia é que tais publicações ainda continuam sendo classificadas
como "arte", "cultura" e "entretenimento".
Historicamente existe uma explicação para tal concepção. Segundo Charles Colson
& Nancy Pearcey, "quando a ciência foi ungida como o único caminho
para a verdade (cientificismo), a arte foi degradada à fantasia subjetiva e os
artistas foram colocados na defensiva. Eles responderam criando uma filosofia
que consequentemente lança a arte como ferramenta de subversão, uma maneira de
enfiar o nariz na sociedade convencional". Segundo os autores, "essa
filosofia de arte-como-rebelião migrou da Europa para a América", e
"como essa nova filosofia de arte ganhou superioridade, o implacável
ataque às crenças e aos valores tradicionais desenvolveu-se por um fervor de
profanidade e perversidade, de modo que hoje temos letras que glorificam a
morte e a violência".
No pano de fundo, o grande problema é
que a sociedade tem pago um preço alto demais por essa arte subversiva e por
tal cultura irresponsável. Além de provocar um "emburrecimento", a
mídia ímpia ainda induz as pessoas a uma visão de mundo desregrada e libertina,
cujos resultados não afetam somente a própria pessoa, mas toda coletividade.
Prova disso é a gravidez indesejada; a AIDS; o aborto e a violência gratuita,
que cada dia crescem mais e mais.
Nesse contexto, é claro, cumpre aos
cristãos se posicionarem com voz ativa, crítica e de modo inteligente, baseado
naquilo que Paulo escreveu em Rm. 12.2: "E não vos conformeis com este
mundo...". No entanto, o simples inconformismo não é suficiente, tanto é
assim que o apóstolo dos gentios vai além, dizendo: "...mas,
transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".
No que se refere à mídia, porém,
trata-se de um grande desafio. Para Colson & Pearcey o chamado para redimir
a cultura popular é certamente um dos desafios mais difíceis para a fé cristã
hoje; pois, graças à moderna tecnologia de comunicação, a cultura popular
tornou-se uma intrusa em todas as partes. É impossível evitar a influência da
cultura através das propagandas, fitas, CDs, televisão, rádio, filmes,
revistas, jogos de computador, galeria de vídeos e da Internet. Assim, a
cultura popular está em todos os lugares, moldando nossos gostos, nossa
linguagem e nossos valores.
Nesse sentido, os pais parecem sempre
em desvantagem em relação à TV no que diz respeito à influência sobre seus
filhos. Enquanto os pais educam, programas da MTV, realitys shows, bandas de
rock e vídeos games violentos (des)educam.
Por outro lado, os escritores Kennedy e
Newcombe, no livro As portas do inferno não prevalecerão, observam que a mídia
de péssima qualidade deve ser combatida por mídia de boa qualidade. Precisamos,
afirmam eles, nos conscientizar de que o ataque ao Cristianismo que ocorre em
nossa cultura resulta, em parte, de uma atitude mal orientada que os cristãos
tiveram, no início deste século. Durante décadas, nos mantivemos afastados de
nossa cultura. Deixamos a mídia, em sua maior parte, para os ímpios.
Nesse mesmo foco, tendo com esteio os
princípios da cosmovisão cristã, os escritores afirmam a necessidade de termos
mais âncoras, redatores de notícias, editores, produtores e diretores cristãos,
já que estas pessoas estão em posição de influenciar muitos outros, em nossa
cultura. A transformação da mídia através dos cristãos, dizem eles, não
acontecerá da noite para o dia, se é que vai acontecer, mas sim ao longo de
décadas. E nem pensem que é fácil para os cristãos entrar nessa área".
Por isso, eles propõem – acertadamente
- o desafio de sua igreja assumir como meta um jornal, uma emissora de
televisão ou uma estação de rádio e começar a orar e testemunhar por eles,
afinal, eles afirmam, "acabou o tempo de apenas reclamarmos entre nós
sobre o ataque ao Cristianismo nos filmes e na TV. É tempo de agir. É tempo de
fazermos nossas vozes audíveis por aqueles que estão envolvidos na perseguição
contra os cristãos. É tempo de escrever aquelas cartas ao editor. É tempo de
demonstrarmos nosso apoio de uma forma prática, não apenas falando, mas
investindo. É tempo de orar pelos que estão na mídia e de levar mais pessoas a
Cristo, inclusive aqueles que estão na mídia. Enfim, é tempo de os cristãos
entrarem corajosamente nos meios de comunicação".
Em outras palavras, é tempo de vencer
com o bem"(Rm 12:21).
O poder destrutivo das novelas
Apesar da certeza do poder destrutivo
dos folhetins, os noveleiros continuam escrevendo enredos que acertam em cheio
a célula mater da sociedade
Dizer que as novelas prestam um grande
desserviço à sociedade não é nenhuma novidade. Tanto é assim que estudo do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) realizado há pouco tempo sugeriu
uma ligação entre as populares novelas da TV Globo e o aumento no número de
divórcios no Brasil nas últimas décadas.
Entretanto, apesar da certeza do poder
destrutivo dos folhetins em relação à família, os noveleiros continuam
escrevendo enredos que acertam em cheio a célula mater da sociedade. Nesse
sentido, conforme matéria da Folha de S. Paulo, na novela
"Passione", da Globo, Estela vai trair o marido, Saulo (Werner
Schunemann), com "uns nove [homens] diferentes" até o 23º capítulo da
novela, segundo a intérprete da personagem, Maitê Proença. Diz ainda: "É
tudo muito objetivo: sexo. Ela olha, mostra que quer, os homens veem. Não tem
frufru, charminho nem trejeito. Mas isso sem ser vulgar", explica a atriz.
Caros leitores, essa notícia é de
estarrecer qualquer pessoa de senso moral mediano. Impressiona como a Globo tem
a capacidade de se superar no quesito destruição familiar e indignidade sexual.
E o mais absurdo ainda é que a própria
atriz não vê nenhum tipo de vulgaridade no enredo, mesmo que a sua personagem
traia o marido nove (9) vezes em apenas vinte e três (23) capítulos. A Bíblia
chama isso de “mente cauterizada” (I Tm. 4.2).
O problema maior é que tais enredos são
criados exatamente para atender uma demanda social. Novela só da audiência se
tiver imoralidade. Ao ser entrevistado pela revista Veja, o noveleiro Silvio de
Abreu confessou: “Como sempre acontece na Globo, realizamos uma pesquisa com
espectadoras para ver como o público estava absorvendo a trama e constatamos
que uma parcela considerável delas já não valoriza tanto a retidão de caráter.
Para elas, fazer o que for necessário para se realizar na vida é o certo. Esse
encontro com o público me fez pensar que a moral do país está em frangalhos
De fato. A moral do país está em
frangalhos, e os noveleiros contribuem ainda mais para isso (...)
A verdade é que sob o disfarce do
entretenimento e da cultura popular de massa, nossas crianças, adolescentes,
jovens e até mesmo adultos estão sendo seduzidos e negativamente influenciados
pela mídia ímpia, descompromissada com valores morais e éticos.
Apesar de tudo, tais publicações
continuam sendo classificadas como “arte”, “cultura” e “entretenimento”.
Historicamente existe uma explicação para tal concepção. Charles Colson &
Nancy Pearcey observam que “… quando a ciência foi ungida como o único caminho
para a verdade (cientificismo), a arte foi degradada à fantasia subjetiva e os
artistas foram colocados na defensiva. Eles responderam criando uma filosofia
que consequentemente lança a arte como ferramenta de subversão, uma maneira de
enfiar o nariz na sociedade convencional” (E Agora, Como Viveremos, p. 544).
Infelizmente, porém, a sociedade tem
pago um preço alto demais por essa arte subversiva, por essa cultura
irresponsável e, sobretudo, por esse entretenimento bestial.
Como escreveu o jornalista (e
amigo) José San Martin: “A natureza humana decaída sempre desejará
mais concessões. Vai querer sempre mais do pior que puder alcançar. O ser
humano rebelado contra os princípios do Criador vai invariavelmente desejar
agradar a si mesmo e nunca a Deus. Assim, de abismo em abismo, todas as
instâncias sociais vão sendo cooptadas, a exemplo do atual governo com
militantes liberais infiltrados em toda sua estrutura.”
Ele finaliza: “Esta é crônica de um
país que avança a cada dia para a tragédia. Crônica de um mundo que tomou um
caminho sem volta, o caminho da licenciosidade. O caminho da luxúria. Um mundo
que já está julgado e vive inconscientemente sob uma terrível expectativa de
destruição. Mas ainda há uma saída a tantos quantos queiram romper as cadeias
da escravidão espiritual, imposta por Satanás, o inimigo de Deus. Hoje Deus
oferece gratuitamente este escape.
FONTE CPAD NEWS
Nenhum comentário:
Postar um comentário
PAZ DO SENHOR
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.