SUBSIDIO (2) JOVENS PAZ
NA COMUNIDADE E
HARMONIA
Havia sérias divergências entre os crentes de Roma
sobre a ingestão de carne. Uns achavam que deviam comer somente legumes; outros
supunham não haver nenhum problema em se consumir até mesmo os alimentos que
ofendiam os cristãos de origem judaica.
A questão, explica Paulo, não estava no ato de comer
em si, mas na postura pessoal entre eles. Por isso, devemos ter cuidado com o
julgamento que fazemos de nossos irmãos em Cristo.
O que o apóstolo desejava, em outras palavras, é que
os cristãos romanos não julgassem uns aos outros por causa dessas coisas, mas
se aceitassem mutuamente conforme Cristo ensinara.
I. DEVEMOS NOS ACEITAR MUTUAMENTE
1. Cristo nos aceita do modo como somos. Paulo ensina
que judeus e gentios devem amar uns aos outros assim como Cristo amou a ambos:
“recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para a glória de
Deus” (Rm 15.7).
Isto significa que, na comunidade dos santos, não há
lugar para prejulgamentos: “Quem és tu que julgas o servo alheio?”. Todos somos
iguais perante Cristo, e somente Ele, por meio de sua graça redentora, pode
firmar os fracos (v.4).
2. Somos imperfeitos. Se desejamos, de fato, crescer e
alcançar a perfeição exigida pela Palavra de Deus, devemos acrescentar
diariamente à nossa fé a virtude, e à virtude o conhecimento (2 Pe 1.5).
Ora, se ainda não chegamos à estatura de varões
perfeitos, como poderemos julgar nossos irmãos por causa de coisas insignificantes
como acontecia entre os crentes romanos?
3. Somos membros de uma mesma família. Como filhos de
Deus, devemos cuidar uns dos outros e nos amarmos com o amor que nos concedeu o
Pai (1 Jo 3.1). A Bíblia nos ensina que somos um só corpo: o corpo de Cristo (1
Co 12.27) que está sendo edificado (Ef 4.12-15). Portanto, acima de nossos
direitos e desejos está o bem comum, o cuidado dos outros e o crescimento da
Igreja do Senhor.
II. TIPOS DE CRISTÃOS
Um ponto interessante a ser destacado, no texto em estudo,
é a diferença entre os vários tipos de crentes na igreja de Roma. Isto
significa que há, entre os filhos de Deus, diferentes níveis de conhecimento e
de fé. Há os crentes meninos, os maduros, os carnais, os espirituais, os
fracos, os fortes etc. (Ef 4.14; 1 Co 3.11; 1 Co 8.11).
Todos somos crentes, nascidos de novo. No entanto,
cada um de nós tem um modo próprio de vivência cristã e de enfrentar os
problemas e as necessidades do cotidiano. Todos temos uma reação diferente
diante das mesmas circunstâncias; um jeito peculiar de ver e julgar as
situações.
1. Cristãos fortes. A igreja de Roma enfrentava
problemas semelhantes aos de Corinto e de Colossos (1 Co 8; Cl 2.16-23):
conflitos entre os cristãos fracos e os fortes (1 Co 8.7). Os fortes são os que
conhecem a Palavra de Deus; os fracos ainda não alcançaram o verdadeiro
entendimento das coisas espirituais.
Quando o homem aceita a Cristo, sente imediatamente a
necessidade de crescer no conhecimento da fé que abraçou e de desenvolver-se na
salvação conforme nos ordena a Bíblia: “Operai a vossa salvação com temor e
tremor” (Fp 2.12).
Muitos, infelizmente, negligenciam a busca pelo
crescimento espiritual. O escritor aos Hebreus chegou a dizer que gostaria de
ministrar um ensino mais substancial aos seus leitores; estes, porém, ainda não
podiam receber algo mais substancial devido à sua falta de crescimento (Hb
5.11-14).
2. Cristãos fracos. Em geral, por falta de
conhecimento, os cristãos fracos suscitam uma infinidade de barreiras que
acabam por comprometer o seu crescimento espiritual. Em Roma, por exemplo, os
cristãos de origem judaica achavam que comer carne era pecado; outros, ainda
presos à lei de Moisés, guardavam o sábado e outros dias tidos como sagrados
pelo judaísmo.
Quanto a tais coisas a Bíblia diz: “Estai, pois,
firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos
debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1).
3. Perigos para fortes e fracos. Os fortes correm o
risco de se tornarem arrogantes, desprezando aos que têm menos conhecimento. A
solução, portanto, é que eles se portem com humildade e amor: “Se o manjar
escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão se não
escandalize” (1 Co 8.13).
Os fortes tendem a se portar como o fariseu que,
soberbamente, agradecia a Deus “por não ser como os demais” (Lc 18.11). O
orgulho sempre estará rondando os irmãos mais fortes na fé; eis porque estes
devem revestir-se de humildade.
Julgar os demais é o pecado em que pode incorrer o
irmão mais fraco. Como ele, que não come carne, acha-se no direito de julgar os
que o fazem, condena a postura de seus irmãos na fé por causa de questões
secundárias e que nenhuma importância têm para a fé cristã.
III. VIVENDO A VERDADEIRA LIBERDADE EM CRISTO
Se por um lado, os cristãos não mais estão presos às
ordenanças cerimoniais da Lei de Moisés, isto não significa que possamos levar
uma vida libertina e isenta de limites. Pelo contrário: os filhos de Deus são
exortados a ser santos em toda a sua maneira de viver. Sejamos santos, porque Aquele
que nos chamou é santo.
Infelizmente, muitos cristãos têm a propensão de
carregar consigo certas coisas do passado. Era o que acontecia com alguns
crentes de Roma.
1. A ingestão de carnes. Para os judeus, alguns tipos
de carne eram terminantemente proibidos. Levando-se em conta que, em Roma,
ofereciam-se também carne aos ídolos, os cristãos de origem judaica não somente
a evitavam, como também criticavam os crentes gentios por usarem-na em sua
dieta.
Havia também alguns crentes de origem gentílica que se
abstinham de carne, já que corriam o risco de comer algo sacrificado aos
ídolos.
E o que dizer dos que pregavam o ascetismo? Eles não
somente ensinavam que não se podia comer carne como também punham-se contra o
casamento. Tais ensinamentos foram considerados por Paulo como “doutrinas de
demônios” (1 Tm 4.1-8).
O ensino bíblico quanto a isso é bastante claro. Paulo
afirma que todas as coisas que Deus criou são boas (1 Tm 4.4) e que nada, em
si, é imundo (Rm 14.14). O próprio Cristo asseverou: “nada há, fora do homem,
que, entrando nele, o possa contaminar” (Mc 7.15,18,19).
2. Guardando dias especiais. No Antigo Testamento, os
judeus eram obrigados a observar certos períodos e dias santificados. Além
disso, eles, por si mesmos, introduziram outras ordenanças que, conforme
denunciara o Senhor Jesus, não passavam de mandamentos de homens (Mt 15.8,9).
Por conseguinte, alguns judeus cristãos sentiam-se na
obrigação de guardar sábados e luas novas, não percebendo que, no Novo
Testamento, não nos é imposta nenhuma obrigação nesse sentido.
3. A postura correta. Quanto a estas questões, a
Bíblia contém a devida diretriz:
a) “Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio
ânimo” (v.5). Isto significa que o crente deve agir de acordo com sua própria
consciência, que deve estar alinhada com a Palavra e iluminada pelo Espírito
Santo.
b) Somente Jesus é Senhor e Juiz. Somos todos irmãos,
e não juízes. Isto não significa, porém, que não podemos julgar as questões
surgidas entre nós. Este julgamento, no entanto, tem de ser conduzido conforme
o recomendado por: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta
justiça” (Jo 7.24). Aliás, escreve o apóstolo aos coríntios que os santos hão
de julgar os anjos (1 Co 6.3). Logo, estamos habilitados também a julgar as
coisas desta vida com temor de Deus. Mas que todo julgamento, frisamos, deve
ser segundo a reta justiça.
O objetivo maior de todo o crente deve ser o
crescimento do Reino de Deus e a edificação da Igreja. Tudo o que o cristão
vier a ser, ou a fazer, deve objetivar o desenvolvimento do corpo de Cristo,
nunca para o seu prejuízo.
Toda sua conduta deve ser guiada pelo amor aos demais
irmãos.
“Grande parte da discussão no capítulo 14 diz respeito
a certos tipos de alimento que são imundos. A palavra grega ‘koinos’ (imundo,
impuro) era usada pelos judeus para simbolizar o que era profano ao invés do
que era sagrado (Mc 7.2,5). A proeminência deste conceito em Romanos 14 também
sugere que a disputa dietética entre os crentes romanos estava sendo continuada
entre judeus, que desejavam observar os regulamentos dietéticos, e gentios, que
não tinham interesse em tal restrição de liberdade.
A controvérsia na comunidade cristã em Roma gira em
torno das práticas de comer carne, da observância de certos dias como mais
santos que os outros e do vinho (a última atividade recebe menos ênfase no
texto). Os que comiam carne, bebiam vinho e desconsideravam o valor particular
relacionado a certos dias são chamados de ‘forte’ (Rm 15.1); os que faziam o
oposto são os ‘fracos’ (15.1), ou débeis na fé. A associação dos fracos com os
que se privam de comer carne por causa das categorias de limpo e imundo (Rm
14.2,14) mostra que os judeus eram os que Paulo considerava fraco, e os
gentios, fortes.
Claro que esta é uma simplificação do assunto. As
divisões nas igrejas que se reuniam nas casas romanas não estavam tão
nitidamente delineadas na linha étnica. Certamente havia judeus como Paulo que
apoiavam os ‘fortes’. Reciprocamente, havia alguns gentios convertidos ao
cristianismo que, tendo entrado na Igreja pela sinagoga como pessoas tementes a
Deus ou mesmo como prosélitos judeus, favoreciam a retenção das práticas
judaicas que eles tinham adotado. É natural que estas pessoas teriam esperado
que os outros cristãos seguissem esse mesmo padrão de obediência à lei de Deus.
[...] A preocupação dos fracos era com a preservação
de certas práticas que eles consideravam expressões necessárias da fé cristã. A
questão, como Paulo a vê, não é sobre legalismo — se for entendido como um
sistema no qual certos rituais são observados como meio de se obter a graça —,
porque Paulo aborda os fracos como os que já foram aceitos por Deus (Rm 14.3;
15.7). Em outras palavras, a questão não é sobre como se tornar crente, mas
como agir como tal.
Nas palavras de Cranfield, estes crentes judeus
sentiam que ‘era somente ao longo deste caminho particular que eles podiam
expressar obedientemente sua resposta de fé à graça de Deus em Cristo’. As leis
dietéticas e a observância de dias santos, quer sejam sábados ou dias de festa,
eram marcas identificadoras dos judeus na Palestina e na Diáspora. Era-lhes
difícil conceber que estes identificadores, que tinham sido tão críticos para
eles se verem como o povo do concerto de Deus, agora deviam ser abandonados.”
(Van Johnson. Romanos. In ARRINGTON, F. L.; STRONSTAD, R. Comentário bíblico
Pentecostal. RJ: CPAD, 2003, pp.903-4).
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