John Wesley, uma vida longa em poucas
palavras
A vida de um homem que
com sua paixão por Deus mexeu com a vida espiritual dos ingleses e com a
estrutura social de seu país.
04 Out 2011 Escrito
por Christian History & Biography
Publicado em História da Igreja John
Wesley, uma vida longa em poucas palavras
John Wesley nasceu em
1703 e sua infância foi fortemente influenciada por sua mãe, uma mulher rígida
e piedosa. Seu pai era um homem difícil de se agradar. Sua mãe acreditava que
os desejos das crianças deviam ser subjugados e que eles deveriam ser
disciplinados quando não se comportassem. John era o décimo quarto filho. Ele
teria morrido em um incêndio em Epworth Rectory se não tivesse sido arrancado
das chamas por um vizinho. Na época tinha sete anos e depois disso sua mãe o
lembrou várias vezes que ele era “um tição colhido do fogo”. Mais tarde ele
teve a certeza de que tinha sido poupado por um propósito, servir a Deus.
Samuel, o pai de John,
era um erudito, que por muitos anos trabalhou em uma obra monumental sobre o
livro de Jó. Um pregador severo, para não dizer implacável, uma vez exigiu que
uma adúltera andasse nas ruas em sua vergonha. Ele também forçou o casamento de
uma de suas filhas depois que ela tentou fugir com um homem que não era o
escolhido de seu pai. Com seu pai e sua mãe, John Wesley desenvolveu excelentes
hábitos de estudo e também se acostumou com o sofrimento físico.
John Wesley foi para
Charterhouse School em 1714, para Christ Church College, em 1720, e em 1726 foi
eleito membro na Lincoln College em Oxford. Depois de ser pastor auxiliar em
Wroote, Lincolnshire, de 1727 a 1729, ele voltou à Oxford não apenas para
continuar seus estudos, mas também para começar a viver uma vida mais devota e
santa. Muitos outros jovens brilhantes tinham um curriculum como o de Wesley, mas
poucos tinham a sua dedicação. Ele dominava pelo menos sete idiomas e
desenvolveu uma visão verdadeiramente abrangente em todas as áreas da
investigação. Quando ele voltou de Wroote para Oxford, ele assumiu a liderança
de um grupo chamado Holy Club (Clube Santo), iniciado por seu irmão Charles. Lá
era onde eles reforçavam a fé através do estudo das Escrituras e buscavam a
santidade na vida de cada membro.
O Clube Santo fazia muito
mais do que refletir e orar. Eles iam às prisões levar a palavra de salvação
aos prisioneiros. Embora eles fossem ridicularizados por seus companheiros de
Oxford, de seu grupo de uma classe social mais baixa saíram homens que se
tornaram importantes para aquele tempo, particularmente os irmãos Wesley, além
de George Whitefield. O modo de vida de John Wesley exigia jejuns periódicos,
encontros regulares para estudo e auto-avaliação pessoal. Somente muito tempo
depois foi que ele percebeu que seu grupo seguia mais a letra do que o espírito
do cristianismo.
Em 1735 grandes mudanças
atingiram John e Charles Wesley. O seu pai morreu e ambos foram para a colônia
da Georgia, nos Estados Unidos, com a bênção e encorajamento de sua mãe. Lá foi
uma prova para John, que entendeu que realmente não gostava muito dos índios e
sua rigidez não era muito apreciada pelas pessoas da Georgia. Mas importante
que isto, foi o contato de John na sua viagem com um pequeno grupo de morávios.
Estes homens e mulheres destemidamente cantavam hinos durante terríveis
tempestades no mar, ao mesmo tempo em que o próprio Charles se desesperava.
Isso o fez querer conhecer mais sobre a fé que eles demonstravam ter. Em 1737
ele retornou à Inglaterra.
Devemos apreciar a
humildade de John Wesley, pois ele podia ser crítico o bastante consigo mesmo
para parar suas atividades religiosas naquele momento e pensar que era um
ministro experiente demais para examinar sua falta de fé. Peter Boehler, um
morávio, deu-lhe a chave – pregar a fé até que ele a tivesse, e então ele
pregava a fé. John Wesley lutou com sua falta de fé até 24 de maio, uma
quarta-feira, em 1738, no famoso encontro de Aldersgate, foi quando ele teve
uma conversão, uma profunda e inconfundível experiência de fé. Seu “coração foi
estranhamente aquecido”. Então seu verdadeiro trabalho começou.
Como tinha uma mente
brilhante e aberta, John Wesley ainda conseguia retirar os melhores recursos
das melhores mentes do seu tempo. William Law, por exemplo, foi seu professor,
amigo e mentor por vários anos; mas Wesley achou que um ingrediente importante
estava faltando no programa de Law para uma vida devota. Os discípulos de
Platão conseguiram comunicar a Wesley uma estrutura intelectual que era mais
espiritual do que material, mas os hábitos mentais de Wesley estavam moldados
mais pelo modelo de análise de Newton do que pelo platonismo. Os morávios eram
o mais perto de uma síntese de todos os elementos que ele desejava e pôde
encontrar. Ele até mesmo visitou Herrnhut para saber como sua comunidade
trabalhava. Mas algo estava faltando lá, como em todo lugar, e em 1740, ele e
seus seguidores romperam com os morávios, mas não antes que ele tivesse
aprendido a pregar sermões ao ar livre, o que veio a ser mais tarde uma parte
essencial de seu ministério.
John Wesley tinha 37 anos
de idade quando começou a viajar e pregar. Ele freqüentemente exagerava o
número daqueles que vinham ouvi-lo. Muitas vezes, as mesmas pessoas que
precisaram de sua ajuda eram as mesmas que mais o perseguiam. Ele pregava em
púlpitos até que eles fossem fechados para ele, e ele então pregava nos campos
abertos. Ele pregava três vezes por dia, começando às 5 da manhã, uma vez que
os trabalhadores poderiam parar para ouvi-lo enquanto andavam para o trabalho.
Algumas vezes ele andava
60 milhas (mais de 90 quilômetros) por dia a cavalo. As condições do tempo não
importavam; ele fazia seu programa e o cumpria, não importavam as dificuldades.
Ele fugia de uma multidão zangada pulando num lago gelado, nadava para fora
dele e continuava a pregar novamente. E tinha uma certa habilidade de trazer as
pessoas hostis para o seu lado.
Em 1741 foi para Gales do
Sul, para o norte da Inglaterra em 1742, Irlanda em 1747, e Escócia em 1751. No
total, foi à Irlanda quarenta e duas vezes e à Escócia vinte e duas vezes. Ele
retornou à algumas cidades várias vezes. Houve ocasiões em que ele retornava
anos depois de sua última visita e registrava que a pequena sociedade que ele
ajudara ainda estava intacta e fiel. Ele examinava cada membro de cada
sociedade pessoalmente para buscar crescimento espiritual e de fé. As
sociedades então formadas proviam a organização local para seu movimento.
O que Wesley pregava?
Santidade, honestidade, salvação, boas relações familiares, vários outros
temas, mas acima de tudo a fé em Cristo. Ele não pedia aos seus ouvintes para
deixarem suas igrejas, mas para continuarem indo nelas. Ele lhes deu o
refrigério espiritual que eles não achavam. Quando suas décadas de provação
produziram décadas de triunfo, as multidões aumentaram. Ricos e pobres vinham
para ouvi-lo falar. Ele desenvolveu redes de assistentes leigos. Suas
exortações para viver perfeitamente em amor hoje parecem duras, mas considere
os efeitos em suas congregações. Os xingamentos nas fábricas pararam, os homens
e as mulheres começaram a se preocupar com vestimentas limpas e simples,
extravagâncias como chá caro e vícios como o gim foram deixados por seus
seguidores, vizinhos deram um ao outro ajuda mútua através das sociedades.
Wesley ensinou tanto pelo
exemplo como pelos seus sermões. Ele publicou muitos de seus textos para serem
usados em devocionais e direcionou o lucro para projetos, como um local de
ajuda para os pobres. Sua vida pessoal estava além de reprovação. Ele traduziu
hinos, interpretou as Escrituras, escreveu centenas de cartas, discipulou
centenas de homens e mulheres e manteve em seus diários um registro da energia
investida, que dificilmente tem um rival na história ocidental. Sua maneira de
falar na linguagem do homem comum teve um impacto imensurável no surgimento do
inglês moderno, assim como os hinos de Charles Wesley tiveram um grande impacto
na música com suas muitas canções sem mencionar a poesia da subseqüente era
Romântica.
Mas o impacto dos Wesleys
nas classes mais baixas foi além de afetar seus hábitos de vida e modo de
falar. John Wesley proveu uma estrutura religiosa que era local e pessoal, bem
como fortemente moral. Sua teologia não tirava a liberdade e o direito de
ninguém, pois qualquer um podia achar a graça de Deus para resistir ao diabo e
ser salvo, se tão somente buscasse e recebesse. As sociedades que ele formou
preservaram em seus estudos o foco na fé – uma fé que também levou a uma
maneira de lidar com a realidade da vida das classes mais pobres. A religião
não era só para os ricos, mas Wesley também não estava pregando uma revolta
contra o anglicanismo.
O anglicanismo de John
Wesley era muito forte, embora os púlpitos anglicanos tornassem-se totalmente
fechados para ele. Só quando tinha oitenta e um anos ele permitiu uma pequena
divisão entre seus seguidores e a igreja nacional. Tendo já enviado muitos
homens à América, em 1784 ele ordenou mais pessoas para este esforço
missionário e, porque “ordenação é separação”, efetivamente começou uma nova
igreja. O conservadorismo dele era tanto político como religioso. Ele publicou uma
carta aberta às colônias americanas, aconselhando-as a permanecerem leais à
Grã-Bretanha, logo antes da Revolução Americana. Ele não tolerava nenhuma
conversa sobre agitação civil na Inglaterra.
Muito se tem discutido
acerca de que outras forças estavam trabalhando na Inglaterra além de Wesley e
uns outros poucos pregadores. Por exemplo, a Revolução Industrial que estava
vindo progrediu mais rápido na Inglaterra do que em qualquer outro lugar, dando
aos homens novos tipos de trabalho; a justiça do Sistema de Paz e o sistema de
governo com um Primeiro-Ministro eram únicos na sua forma e deram muito mais
poder do que era possível em qualquer outro lugar à classe média local e os
grandes problemas que poderiam de outra forma causar revolução, simplesmente
não estavam presentes na Inglaterra depois de 1750. Ainda assim sem Wesley e
seus seguidores como poderia o ateísmo, tal como existia entre os camponeses
franceses, ser evitado e como poderia uma classe inferior oprimida e dominada
pelos vícios, ter esperança?
John Wesley morreu em 2
de março de 1791, cerca de três anos depois que seu irmão Charles morreu. Até
seus últimos anos, ele colocou a mesma frase de abertura em seu diário, como
fazia a cada ano no seu aniversário, agradecendo a Deus por sua longa vida e
sua contínua boa saúde, afirmando que sermões pregados de manhã logo cedo e
muita atividade ao ar livre o mantiveram em forma para a obra de Deus. Desde o
momento em que ele tornou-se livre de influências, exceto a de Deus, ele teve
cinqüenta anos de serviço constante e fez um bem imensurável à Inglaterra
através da perseverança, resistência e fé. Seu legado não se limitou ao seu
século ou país, mas sobrevive até hoje na fé de milhões em várias igrejas ao
redor do mundo.
A seguinte frase foi escrita
em seu diário em 28 de junho de 1774:
Sendo hoje meu
aniversário, o primeiro dia do septuagésimo segundo ano, eu estava pensando
como posso ter a mesma força que tinha trinta anos atrás? Que a minha visão
esteja consideravelmente melhor agora e meus nervos mais firmes do que eram
antes? Que eu não tenha nenhuma enfermidade da velhice, e não tenha mais
aquelas que tive na juventude? A grande causa é, o bom prazer de Deus, que faz
o que lhe agrada. Os meios principais são: meu constante levantar às quatro da
madrugada, por cerca de cinqüenta anos; o fato de geralmente pregar às cinco da
manhã, um dos exercícios mais saudáveis do mundo; o fato de que nunca viajo
menos, por mar ou terra, do que 4500 milhas (mais de 6.750 km) por ano.
Fonte cristianismo hoje
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