Por que é importante compreender o Cristianismo como uma visãode mundo abrangente.
O Cristianismo é uma
mundividência que diz respeito a todas as áreas da vida (Charles Colson).
Muitos
imaginam que compreender o Cristianismo como uma visão integral de mundo é algo
muito teórico e filosófico, e por isso deveria ser assunto somente para
pastores e eruditos.
Mas não
é. Desenvolver uma cosmovisão cristã deve ser uma preocupação de todo e
qualquer crente, seja ele erudito ou não, pastor ou membro da igreja, pois é
algo que afeta diretamente nossa espiritualidade e como colocamos em prática
nossas principais crenças no dia-a-dia. O evangelho diz respeito a nada menos que todas as coisas (Cl. 1.16-20), e a missão da igreja diz
respeito a nada menos que todas
as coisas. Desse modo, o Reino de Deus, que é revelado na pessoa de Jesus
Cristo, deve se manifestar em cada aspecto da vida de um “cidadão do Reino”,
seja na vida devocional, na comunhão no trabalho, no mercado público, na escola
na universidade, no lazer, na família.[i]
Por
essa e outras razões podemos enumerar uma série de fatores que atesta a
importância de compreender o Cristianismo como uma visão de mundo.
Compreender
o Cristianismo como uma cosmovisão é importante porque evita que os cristãos
sirvam a “outros senhores”
Jesus
disse certa feita que não podemos servir a dois senhores, pois haveremos de
odiar a um e amar ao outro (MT. 6.24). Nesse sentido, a compreensão do
Cristianismo como uma visão de mundo tem como um de seus objetivos exatamente
evitar que os cristãos sirvam a “outros senhores”, isto é, filosofias e
concepções que contrariem as doutrinas primordiais da fé cristã; pois aqueles
que não olham a sociedade, a cultura e os sistemas de ideias pelas lentes da
cosmovisão cristã, sem se aperceberem, são seduzidos por ideologias espúrias e
antibíblicas, em virtude da incapacidade de denotarem as forças ocultas e os
princípios morais e/ou religiosos que se escondem por detrás de algumas ideias
aparentemente inofensivas, porém destruidoras. O desenvolvimento de uma visão
de mundo cristã habilita o crente a refletir sobre as pressuposições
elementares de toda e qualquer linha de raciocínio e concluir se tais pressuposições
são ou não compatíveis com a Bíblia.
O fato
de vivermos em um momento histórico de pluralismo, diversidade e tolerância,
com a crescente multiplicação de pontos de vistas, teorias, doutrinas e
religiões de todos os tipos e origens, bem como os conflitos morais, teológicos
e ideológicos que disso resultam, compreender o Cristianismo como uma
cosmovisão torna-se ainda mais relevante, para o fim de discernir as vozes do
nosso tempo e destruir os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o
conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de
Cristo (2 Coríntios 10:5).
Compreender
o Cristianismo como uma cosmovisão é importante porque conduz ao entendimento
de que a fé cristã não é algo somente privado, mas público
Influenciados
por uma forte tendência de secularização, muitos cristãos estão a aceitar a
falsa ideia de que a fé é algo eminentemente privado e que por isso deve ser
vivida e expressada somente no âmbito pessoal e religioso, sem a possibilidade
de influenciar as questões públicas. Como vaticinou Dinesh D´Souza: “Muitos
cristãos renunciaram a essa missão [participação efetiva no mundo], buscando um modus vivendi viável e confortável no qual concordam em
deixar o mundo secular em paz se o mundo secular concordar em deixá-los em
paz”.[Com efeito, essa dicotomia sagrado/secular, religião/ciência,
fé/razão, tem afastado cada dia mais a perspectiva cristã dos debates sociais e
das questões públicas. No livro A mente
cristã Harry Blamires aborda
essa questão e ressalta como os cristãos estão se deixando influenciar pela
mente secular. Ele diz:
“Não
existe mais uma mente cristã. Ainda há, é claro, uma ética cristã, uma prática
cristã e uma espiritualidade cristã. Como seres morais, os cristãos modernos
podem subscrever um código do dos não cristãos. Como membros de igrejas, eles
podem aceitar obrigações e observações ignoradas por não cristãos. Como seres
espirituais, em oração e meditação, eles podem se esforçar para cultivar uma
dimensão de vida inexplorada por não cristãos. Mas como seres pensantes, os
cristãos modernos sucumbiram à secularização. Eles aceitam religião – sua
moralidade, sua adoração, sua cultura espiritual; mas eles rejeitam a
perspectiva religiosa da vida, a perspectiva que vê todas as coisas terrenas
dentro do contexto do eterno, a visão que relaciona todos os problemas humanos
– sociais, políticos, culturais – aos fundamentos doutrinais da Fé Cristã, a
supremacia de Deus e da transitoriedade da terra, em termo de céu e inferno”.
Por outro lado, o entendimento do Cristianismo como uma visão de mundo desfaz
esse equívoco, ao defender a inexistência de separação entre o sagrado e o
secular, e que os princípios cristãos possuem densidade suficiente para abordar
todas as áreas da vida humana.
Dentro
dessa compreensão, para além de uma mera experiência ou devoção pessoal, o
Cristianismo genuíno é a interpretação de toda a realidade, o que implica dizer
que nenhuma área da vida humana escapa da soberania divina. O Apóstolo Paulo
escreveu que em Cristo foram criadas todas as coisas que há nos céus e na
terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam
principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para Ele (Colossenses
1:16). Em outra oportunidade, o apóstolo dos gentios disse que a terra é do
Senhor e toda a sua plenitude (I Coríntios 1.26).
O
Cristianismo, como adverte Francis Schaeffer, não é apenas um monte de
fragmentos e pedaços – há um começo e um fim, todo um sistema de verdade - este
sistema é o único que resistirá a todas as questões que nos serão apresentadas,
à medida que somos confrontados com a realidade da existência. Trata-se,
portanto, de uma religião de integridade e plenitude, em que a graça de Deus
habita cada espaço da vida. Por essa razão, o Senhor disse aos discípulos:
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro
mandamento (Marcos 12:30).
Compreender
o Cristianismo como uma cosmovisão é importante porque nos prepara para a
defesa da fé
Cada
dia mais me convenço que a compreensão do Cristianismo como uma visão de mundo
ajuda-nos a fazer uma defesa mais consistente do Cristianismo. Afinal, para
termos uma visão profunda e abrangente de nossas crenças, precisamos escavar
com mais dedicação rumo aos alicerces de nossa fé. Quanto mais escavamos, mais
conhecemos; quanto mais conhecemos, mais fortalecemos a razão da nossa
esperança (I Pedro 3.10).
Em
outras palavras, compreender o Cristianismo como uma cosmovisão ajuda-nos a
utilizar a apologética cristã. Embora
muitos a usem com essa finalidade, não é objetivo da apologética cristã
simplesmente ganhar debates ou discussões no âmbito filosófico, científico ou
teológico. Muito ao contrário, a intenção primordial é cumprir o Ide do
Senhor Jesus, pregando o evangelho a toda a criatura, por meio de argumentos
lógicos e plausíveis ao intelecto.Isso não quer dizer que os cristãos tenham
que fugir dos debates. De forma alguma. Charles Colson afirma que “debater pode ser algumas vezes
desagradável, mas pelo menos pressupõe que há verdades dignas de serem
defendidas, ideias dignas de se lutar por elas. Em nossa era pós-moderna,
todavia, as suas ‘verdades’ são as suas ‘verdades’, as minhas ‘verdades’ são as
minhas, e nenhuma é significativa o suficiente para alguém se apaixonar por
ela. E se não há verdade, então não podemos persuadir um ao outro através de
argumentos racionais. Tudo o que resta é puro poder”.
Além
disso, essa visão cristã ampla leva-nos ao estudo das demais cosmovisões, para
avaliar seus fundamentos e consequências. Ao fazermos isso, encontramos
argumentos suficientes para demover os falsos pressupostos das ideias
contrárias ao Cristianismo, ressaltando suas falhas lógicas e consequências
absurdas.
Compreender
o Cristianismo como uma cosmovisão é importante porque nos incita a usar a
mente para os propósitos do Reino
A mente
e a intelectualidade deveriam ocupar lugares de destaque na igreja evangélica,
pois, conforme escreveu John Stott, subestimar a mente é soterrar doutrinas
cristãs fundamentais. Por essa razão, o estudo direcionado da cosmovisão cristã
nos incita a usar o dom divino da inteligência com o objetivo de cumprir a
grande Comissão de Cristo. Somos compelidos a pensar de forma cristã, pensar
biblicamente ou com a mente de Cristo.
Ocorre
que vivemos um período turbulento em que muitos cristãos abandonaram a razão e
estão a utilizar somente a emoção religiosa, fazendo surgir o mal do
antiintelectualismo dentro de algumas igrejas. De acordo com o sociólogo
cristão Os Guinness, “o antiintelectualismo é uma disposição em não levar em
conta a importância da verdade e a vida da mente. Vivendo numa cultura sensual
e numa democracia emotiva, os americanos evangélicos da última geração têm
simultaneamente revigorado seus corpos e embotado suas mentes. O resultado?
Muitos sofrem de uma forma moderna do que os antigos estóicos chamavam de
“hedonismo mental” – possuem corpos saudáveis e mentes obtusas”Com efeito, a
cosmovisão cristã ajuda a resgatar a verdade bíblica de valorização do
intelecto para o cumprimento dos propósitos divinos, afinal o apóstolo Pedro
disse para crescermos na graça e no conhecimento (2 Pedro 3.18), e o próprio
Senhor Jesus enfatizou que devemos amar a Deus de todo o nosso coração, de toda
a nossa alma e de todo o nosso entendimento (Mateus 22.37).
Compreender
o Cristianismo como uma cosmovisão é importante porque contribui para que a
evangelização e o discipulado sejam mais eficazes
A visão
abrangente do Evangelho serve também como ferramenta de evangelização, como
meio de anunciar as boas novas (Marcos 16.15). Aliás, nunca podemos perder de
vista que o “Ide” do Senhor Jesus é o ponto chave do Cristianismo abrangente,
que de modo algum pode ser ofuscado ou deixado de lado. Isso porque, o
Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos
1.16).
Igualmente,
a visão cristã de mundo é extremamente útil para o discipulado, para informar e
amadurecer um verdadeiro adorador de Cristo com relação às implicações e
ramificações da fé cristã. Ela oferece ao novo discípulo um patamar através do
qual entendemos o mundo e toda a realidade, mediante a perspectiva divina, para
assumir um estilo de vida de acordo com a vontade de Deus.
CARDOSO
LEITE, Cláudio Antônio & Fernando Antônio. Cosmovisão cristã e transformação – Viçosa, MG: Ultimato, 2006; p. 22.
D´SOUZA,
Dinesh. A
verdade sobre o Cristianismo: por que a religião criada por Jesus é moderna
fascinante e inquestionável; [tradução Valéria Lamin Delgado
Fernandes]. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008; p.14.
BLAMIRES,
Harry. A mente
cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2006; p. 11/12.
SCHAEFFER,
Francis. O Deus
que intervém: São Paulo. Cultura Cristã, 2009; p. 249.
COLSON,
Charles. E Agora
como Viveremos- Rio
de Janeiro. CPAD, 2000.
Citado
por James Sire, Hábitos da
Mente – a vida intelectual como um chamado cristão. São
Paulo, SP. Editora Hagnos. 2005. p. 19.
MACARTHUR,
John e outros. Pense
Biblicamente –
Recuperando a visão cristã de mundo - São
Paulo: Hagnos, 2005; p. 20.
O que dá acreditar no darwinismo
Dois
autores, professores universitários, defendem a idéia de que o estupro não é
uma patologia biologicamente falando, mas sim uma adaptação evolucionária,
Muitas
pessoas não conseguem compreender como a adoção da teoria darwinista pode
afetar drasticamente a forma como encaramos a vida. Essas pessoas são cegas
ante a evidência de que a entronização da teoria de Darwin possui implicações
para além do “âmbito científico”, capaz de jogar por terra vários aspectos
éticos dentro da esfera social.
Nancy
Pearcey escreveu em seu blog [1] que não há nenhuma parte da vida, ao que
parece, onde o darwinismo não está sendo aplicado hoje. Ela cita livros que
abrangem temas como “uma visão evolutiva das mulheres no trabalho” e “uma visão
darwiniana do amor parental” e até mesmo uma abordagem darwiniana para a
filosofia política de esquerda.
Entretanto,
a citação mais interessante de Pearcey é sobre o livro “The Natural History of
Rap” em que os dois autores, professores universitários, defendem a idéia de
que o estupro não é uma patologia biologicamente falando, mas sim uma adaptação
evolucionária, uma estratégia para maximizar o sucesso reprodutivo. Para o
autores, o estupro é biológico, “um fenômeno natural produto da herança
evolucionária humana”, como “manchas de leopardo e de pescoço alongado da
girafa”. Em outras palavras, como escreveu Nancy, alguns homens podem recorrer
à coerção para cumprir o imperativo reprodutivo.
Conforme
Nancy Pearcey: “O que esses exemplos nos lembram é que o darwinismo não é
apenas uma teoria científica, mas também a base de uma visão de mundo – e isso
tem implicações na forma como define a natureza humana e moral”.
E isso
ocorre por uma razão muito evidente. Ao retirar Deus do cenário, o darwinismo
retira também os princípios que deveriam norteam a vida do homem, sobrando tão
somente o acaso, impulsos biológicos e materialismo, de modo a tornar legítimo
até mesmo o estupro, como um fenômeno natural produto da herança evolucionária
humana.
A
grande verdade é que o darwinismo é um atentado contra a dignidade da pessoa
humana. Earl Aagaard observa muito bem [2] que até mesmo alguns evolucionistas
chegaram a essa conclusão. Segundo ele, James Rachels, no livro Created from
Animals: The Moral Implications of Darwinism (Criado Como Descendente de
Animais: As Implicações Morais do darwinismo, New York: Oxford University
Press), conclui que o darwinismo subverte a doutrina da dignidade humana. Os
seres humanos não ocupam um lugar especial na ordem moral; somos apenas outra
forma de animal.
Aagaard
escreve ainda: “Em “Quão Diferentes são os Seres Humanos dos Animais?” Rachels
conclui que o darwinismo destrói qualquer fundamento para uma diferença
moralmente significante entre seres humanos e animais. Se o homem descende de
símios por seleção natural, ele pode ser fisicamente diferente de símios, mas
não pode sê-lo de modo essencial. Certamente não pode ser em qualquer aspecto que
dê aos homens mais direitos do que a qualquer animal. Nas palavras de Rachels,
“não se pode fazer distinções em moralidade onde nenhuma existe de fato”. Ele
chama sua doutrina de “individualismo moral”, e rejeita “a doutrina tradicional
da dignidade humana” junto com a idéia de que a vida humana tenha qualquer
valor inerente que os seres não humanos careçam“.
Infelizmente,
como disse, grande parte das pessoas não conseguem compreender as implicações
do darwinismo que, tal qual uma cosmovisão, uma forma de ver o mundo, afeta a
ética, a educação, a família, a política etc. E tal afetação, como visto, é
completamente prejudicial, capaz de inocentar ações criminosas e desculpar
desvios morais.
O anti-intelectualismo religioso
Qual a
letra que mata?
Infelizmente,
em pleno século XXI ainda existe uma turma dentro de nossas igrejas que se
manifesta contra o estudo secular e a busca pelo conhecimento. Em alguns
lugares, o cristão estudioso é tido como rebelde, frio, calculista, modernista,
liberal e inveterado insurgente. James Sire chama isso de versão popular do
intelectual.
De modo
recorrente é dito que a igreja não precisa de mais conhecimento ou de doutores,
já que historicamente ela foi levada adiante por pessoas que nunca estudaram, e
que, portanto, a intelectualidade é desnecessária e sobretudo perigosa.
E
alguns, para fundamentar, lançam mão do texto de II Cor. 3.6: “... porque a
letra mata e o espírito vivifica”.
É um
erro grosseiro de interpretação dizer que a palavra “letra” no texto de II Cor.
3.6 esteja se referindo ao conhecimento. Não é preciso muito conhecimento
teológico para se depreender do texto sob análise que Paulo está fazendo
referência à letra da lei, e não ao conhecimento. Veja-se que o capítulo em que
o versículo está inserido tem como tema principal a diferença entre o
ministério do Antigo e do Novo Testamento, fato este que pode ser plenamente
verificado nos versículos posteriores, onde Paulo escreve: “O ministério que
trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas este ministério veio com
glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por causa
do resplendor de seu rosto, ainda que desvanecente” v. 7 – NVI
A
infeliz verdade é que ainda existe um pensamento de anti-intelectualismo dentro
de alguns círculos religiosos. O escritor Os Guinnes chama isso de hedonismo
mental. Já John Stott denomina de cristianismo de mente vazia.
De
fato, a Bíblia alerta sobre o perigo da arrogância do conhecimento e da
sabedoria carnal (II Co. 1.12). Todavia, é preciso ressaltar que a arrogância
atinge não somente os estudiosos, mas também aqueles que não buscam
conhecimento. E o que existe de crente que se arroga da sua própria ignorância
não está escrito, como se no céu fossem receber de Deus uma coroa pela burrice
exercida na terra.
A
Bíblia diz: “O coração do entendido adquire o conhecimento, e o ouvido dos
sábios busca a sabedoria.(Pv. 18.15)
Não
quero com isso dizer que o cristão intelectual é superior ou inferir àquele que
não aprecia o estudo ou a leitura. Não, não e não!
Quero
simplesmente ressaltar que a vida intelectual não é sinônimo de arrogância ou
de desvio doutrinário, e que tanto estudioso quanto não estudioso estão
sujeitos aos mesmos erros. É claro que a vida cristã não pode pautar-se jamais
pelo grau de conhecimento que possuímos, mas sim pela dependência plena à
Cristo.
Como
escreveu Paulo: “A minha linguagem e a minha pregação não consistiram em
palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do Espírito de poder;
para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de
Deus” (I Co. 2:5,6).
A sociedade contemporânea pelo enfoque
cristão
Olhando
o mundo pelas lentes das Sagradas Escrituras
A
sociedade do século XXI tem experimentado transformações cada vez mais
catastróficas. Os novos e estranhos valores familiares, religiosos,
ideológicos, políticos e educacionais nos mostram que o homem (sem Deus) do
tempo presente se assemelha a uma nau à deriva, sem rumo, sem propósito e
desprovido de uma âncora firme que lhe dê sustentação.
Em
leitura pertinente, John MacArthur (“Como educar seus filhos segundo a Bíblia”,
Cultura Cristã) observou muito bem que parece óbvio para qualquer pessoa
comprometida com a verdade das Escrituras que nossa sociedade está numa célere
desintegração moral, ética e, sobretudo, espiritual. Ressalta ele que “os
valores assimilados pela sociedade atual como um todo estão completamente fora
de sintonia com a ordem divina”.
Nesse
cenário, a instituição familiar tem a sua morte quase decretada. O psiquiatra
britânico Davi Cooper, por exemplo, sugeriu em seu livro Death of the family [A
morte da família] que é tempo de destruir totalmente a família. A feminista
Kate Millet, de modo parecido, em seu manifesto de 1970,Sexual Politics [Política
Sexual], alegou que as famílias, juntamente com todas as estruturas
patriarcais, precisam acabar, porque elas nada mais são do que instrumentos
para a opressão e a escravização da mulher.
No
âmbito da religião, dois fenômenos antagônicos, porém igualmente perigosos,
ditam hoje o tom da conexão entre homem e espiritualidade.
Em um
extremo, o secularismo tenta apagar qualquer vestígio da prática religiosa
dentro do ambiente social. Busca-se a todo custo relegar a expressão da
religiosidade ao âmbito simplesmente privado, de modo a se impedir, por
exemplo, orações em escolas (como nos Estados Unidos) ou ainda negar a
manifestação dos cristãos em assuntos relacionados às políticas públicas. Com
isso, o Estado laico vai se transformando em Estado ateu.
Na
outra vértice, vislumbra-se uma espiritualidade pluralista, politicamente
correta e sem compromisso com a Bíblia. Como escreveu Stephen Mansfild no livro
“O Deus de Barack Obama”, “com relação à religião, a maioria dos jovens dos
Estados Unidos tem uma postura pós-moderna, o que significa dizer que eles
encaram a fé de um modo parecido ao jazz: informal, eclético e, muitas vezes,
sem um tema específico. Basicamente, costumam rejeitar uma religião organizada,
privilegiando uma mescla religiosa que funcione para eles. Para esses jovens, não
há nada de mais em construir a própria fé juntando tradições de religiões
totalmente diferentes, e muitos formam sua teologia da mesma maneira como pegam
um resfriado: por meio de contatos casuais com estranhos”.
Não
bastasse tudo isso, as políticas públicas tornam-se cada vez mais pragmáticas:
focam em números e resultados em desprezo à ética e à moralidade. E a mídia,
por sua vez, intensifica escancaradamente a banalização da sexualidade, a
promoção da promiscuidade e o emburrecimento social.
Dentro
desse (triste) estado de coisas está a igreja cristã, chamada para ser o sal da
Terra e a luz do mundo (Mt 5.13). Mas, para isso, o cristão precisa estar apto
a fazer a leitura da própria sociedade. Entender os acontecimentos. Verificar
os fatos. Refletir sobre o cenário. Analisar o contexto segundo as lentes das
Sagradas Escrituras. Afinal, como escreveram Charles Colson e Nancy Pearcey (“E
Agora, Como Viveremos?”, CPAD): "A forma como vemos o mundo pode mudar o
mundo".
Jesus,
ao chamar os seus primeiros discípulos, disse: "Vinde e vede" (Jo
1.38). Em outra oportunidade, o Mestre alertou: "Olhai, vigiai e orai;
porque não sabeis quando chegará o tempo" (Mc 13.33). Nesses dias
difíceis, somos também chamados a olhar o mundo e a fazer a sua leitura
consoante a perspectiva bíblica. Somos chamados a diagnosticar um mundo caído,
em estado terminal, bem como apresentar a cura eficaz.
Nesse
sentido, gostaria de convidá-lo(s) para juntos, neste espaço, observarmos a
sociedade contemporânea pelo enfoque cristão, de modo a dialogar e debater
sobre os acontecimentos que envolvem educação, mídia, família, política,
sexualidade e outros assuntos, a fim de podermos responder com mansidão e temor
a todo aquele que nos pedir a razão da nossa esperança (1Pe 3.13).
FONTE CPAD NEWS
A mídia e os perigos do falso
entretenimento
Os
estragos produzidos pela mídia ímpia
Sob o
disfarce do entretenimento e da cultura popular de massa, crianças,
adolescentes, jovens e até mesmo adultos estão sendo seduzidos e negativamente
influenciados pela mídia ímpia – aquela descompromissada com os valores morais
e familiares. Prova disso é que nos últimos meses uma quantidade significativa
de pesquisas sérias e imparciais trouxe à tona os efeitos nefastos efetivamente
provocados por programas que incentivam a sexualidade precoce, a infidelidade
conjugal e o consumo de álcool.
Apesar
de o senso comum já ter detectado essas verdades há muito tempo, tais estudos
(divulgados no site Hypescience.com) ratificam o fato de que algumas ditas
"produções artísticas" possuem poder de fogo suficiente para levar à
bancarrota o senso ético dos espectadores contumazes.
Para
começar, estudo publicado na revista científica Pediatrics, concluiu que jovens
que têm altos níveis de exposição a programas de televisão com conteúdo sexual
tem o dobro da chance de se envolverem em uma gravidez na adolescência nos três
anos seguintes do que aqueles que assistem poucos destes programas.
Outro
estudo, realizado por cientistas da Universidade de Radboud, Holanda, sugere
que as pessoas tendem a consumir álcool quando vêem pessoas bebendo em filmes
ou em comerciais enquanto assistem à TV. Os pesquisadores monitoraram o
comportamento de 80 jovens enquanto eles assistiam televisão e descobriram que
os que viam mais referências a bebidas alcoólicas bebiam duas vezes mais do que
os que não as viam.
Ainda,
pesquisa patrocionada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sugere
uma ligação entre as populares novelas da TV Globo e o aumento no número de
divórcios no Brasil nas últimas décadas. Na pesquisa, foi feito um cruzamento
de informações extraídas de censos nos anos 70, 80 e 90 e dados sobre a
expansão do sinal da Globo – cujas novelas chegavam a 98% dos municípios do
país na década de 90. Além disso, descobriu-se que esse efeito é mais forte em
municípios menores, onde o sinal é captado por uma parcela mais alta da
população local.
Na
esfera musical, em pesquisa realizada na Universidade de Pittsburgh
constatou-se que jovens que ouvem músicas que contenham referências sexuais e degradantes,
começam a fazer sexo mais cedo (ou investem nas preliminares). As pesquisas
foram feitas com 711 jovens de três grandes escolas em uma metrópole. Dos
participantes que eram expostos a, em média, 14 horas de músicas
"sexuais" por dia, um terço já havia feito sexo. Outro terço já havia
tido "preliminares", mas nunca havia praticado o coito, em si.
Os
números dessas pesquisas são somente alguns indicativos que comprovam os males
provocados por programas que se escondem atrás das "cortinas do entretenimento"
e da cultura popular de massa, que trazem em seu conteúdo forte apelo sexual e
uma gritante indiferença à instituição familiar, demonstrando que, ao contrário
do que muitos imaginam, os meios de comunicação possuem influência direta no
comportamento das pessoas, principalmente jovens, adolescentes e crianças, os
quais, em razão da exposição contínua acabam incorporando os valores e as
idéias propagadas pelos programas.
Sem
prejuízo de outros elementos, o ponto de discórdia é que tais publicações ainda
continuam sendo classificadas como "arte", "cultura" e
"entretenimento". Historicamente existe uma explicação para tal
concepção. Segundo Charles Colson & Nancy Pearcey, "quando a ciência
foi ungida como o único caminho para a verdade (cientificismo), a arte foi
degradada à fantasia subjetiva e os artistas foram colocados na defensiva. Eles
responderam criando uma filosofia que consequentemente lança a arte como
ferramenta de subversão, uma maneira de enfiar o nariz na sociedade
convencional". Segundo os autores, "essa filosofia de
arte-como-rebelião migrou da Europa para a América", e "como essa
nova filosofia de arte ganhou superioridade, o implacável ataque às crenças e
aos valores tradicionais desenvolveu-se por um fervor de profanidade e
perversidade, de modo que hoje temos letras que glorificam a morte e a
violência".
No pano
de fundo, o grande problema é que a sociedade tem pago um preço alto demais por
essa arte subversiva e por tal cultura irresponsável. Além de provocar um
"emburrecimento", a mídia ímpia ainda induz as pessoas a uma visão de
mundo desregrada e libertina, cujos resultados não afetam somente a própria
pessoa, mas toda coletividade. Prova disso é a gravidez indesejada; a AIDS; o
aborto e a violência gratuita, que cada dia crescem mais e mais.
Nesse
contexto, é claro, cumpre aos cristãos se posicionarem com voz ativa, crítica e
de modo inteligente, baseado naquilo que Paulo escreveu em Rm. 12.2: "E
não vos conformeis com este mundo...". No entanto, o simples inconformismo
não é suficiente, tanto é assim que o apóstolo dos gentios vai além, dizendo:
"...mas, transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".
No que
se refere à mídia, porém, trata-se de um grande desafio. Para Colson &
Pearcey o chamado para redimir a cultura popular é certamente um dos desafios
mais difíceis para a fé cristã hoje; pois, graças à moderna tecnologia de
comunicação, a cultura popular tornou-se uma intrusa em todas as partes. É
impossível evitar a influência da cultura através das propagandas, fitas, CDs,
televisão, rádio, filmes, revistas, jogos de computador, galeria de vídeos e da
Internet. Assim, a cultura popular está em todos os lugares, moldando nossos
gostos, nossa linguagem e nossos valores.
Nesse
sentido, os pais parecem sempre em desvantagem em relação à TV no que diz
respeito à influência sobre seus filhos. Enquanto os pais educam, programas da
MTV, realitys shows, bandas de rock e vídeos games violentos (des)educam.
Por
outro lado, os escritores Kennedy e Newcombe, no livro As portas do inferno não
prevalecerão, observam que a mídia de péssima qualidade deve ser combatida por
mídia de boa qualidade. Precisamos, afirmam eles, nos conscientizar de que o
ataque ao Cristianismo que ocorre em nossa cultura resulta, em parte, de uma
atitude mal orientada que os cristãos tiveram, no início deste século. Durante
décadas, nos mantivemos afastados de nossa cultura. Deixamos a mídia, em sua
maior parte, para os ímpios.
Nesse
mesmo foco, tendo com esteio os princípios da cosmovisão cristã, os escritores
afirmam a necessidade de termos mais âncoras, redatores de notícias, editores,
produtores e diretores cristãos, já que estas pessoas estão em posição de
influenciar muitos outros, em nossa cultura. A transformação da mídia através
dos cristãos, dizem eles, não acontecerá da noite para o dia, se é que vai
acontecer, mas sim ao longo de décadas. E nem pensem que é fácil para os
cristãos entrar nessa área".
Por
isso, eles propõem – acertadamente - o desafio de sua igreja assumir como meta
um jornal, uma emissora de televisão ou uma estação de rádio e começar a orar e
testemunhar por eles, afinal, eles afirmam, "acabou o tempo de apenas
reclamarmos entre nós sobre o ataque ao Cristianismo nos filmes e na TV. É
tempo de agir. É tempo de fazermos nossas vozes audíveis por aqueles que estão
envolvidos na perseguição contra os cristãos. É tempo de escrever aquelas
cartas ao editor. É tempo de demonstrarmos nosso apoio de uma forma prática, não
apenas falando, mas investindo. É tempo de orar pelos que estão na mídia e de
levar mais pessoas a Cristo, inclusive aqueles que estão na mídia. Enfim, é
tempo de os cristãos entrarem corajosamente nos meios de comunicação".
Em
outras palavras, é tempo de vencer com o bem"(Rm 12:21).
O poder destrutivo das novelas
Apesar
da certeza do poder destrutivo dos folhetins, os noveleiros continuam
escrevendo enredos que acertam em cheio a célula mater da sociedade
Dizer
que as novelas prestam um grande desserviço à sociedade não é nenhuma novidade.
Tanto é assim que estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
realizado há pouco tempo sugeriu uma ligação entre as populares novelas da TV
Globo e o aumento no número de divórcios no Brasil nas últimas décadas.
Entretanto,
apesar da certeza do poder destrutivo dos folhetins em relação à família, os
noveleiros continuam escrevendo enredos que acertam em cheio a célula mater da
sociedade. Nesse sentido, conforme matéria da Folha de S. Paulo, na
novela "Passione", da Globo, Estela vai trair o marido, Saulo (Werner
Schunemann), com "uns nove [homens] diferentes" até o 23º capítulo da
novela, segundo a intérprete da personagem, Maitê Proença. Diz ainda: "É
tudo muito objetivo: sexo. Ela olha, mostra que quer, os homens veem. Não tem
frufru, charminho nem trejeito. Mas isso sem ser vulgar", explica a atriz.
Caros
leitores, essa notícia é de estarrecer qualquer pessoa de senso moral mediano.
Impressiona como a Globo tem a capacidade de se superar no quesito destruição
familiar e indignidade sexual.
E o
mais absurdo ainda é que a própria atriz não vê nenhum tipo de vulgaridade no
enredo, mesmo que a sua personagem traia o marido nove (9) vezes em apenas
vinte e três (23) capítulos. A Bíblia chama isso de “mente cauterizada” (I Tm.
4.2).
O
problema maior é que tais enredos são criados exatamente para atender uma
demanda social. Novela só da audiência se tiver imoralidade. Ao ser
entrevistado pela revista Veja, o noveleiro Silvio de Abreu confessou: “Como
sempre acontece na Globo, realizamos uma pesquisa com espectadoras para ver
como o público estava absorvendo a trama e constatamos que uma parcela
considerável delas já não valoriza tanto a retidão de caráter. Para elas, fazer
o que for necessário para se realizar na vida é o certo. Esse encontro com o
público me fez pensar que a moral do país está em frangalhos
De
fato. A moral do país está em frangalhos, e os noveleiros contribuem ainda mais
para isso (...)
A
verdade é que sob o disfarce do entretenimento e da cultura popular de massa,
nossas crianças, adolescentes, jovens e até mesmo adultos estão sendo seduzidos
e negativamente influenciados pela mídia ímpia, descompromissada com valores
morais e éticos.
Apesar
de tudo, tais publicações continuam sendo classificadas como “arte”, “cultura”
e “entretenimento”. Historicamente existe uma explicação para tal concepção.
Charles Colson & Nancy Pearcey observam que “… quando a ciência foi ungida
como o único caminho para a verdade (cientificismo), a arte foi degradada à
fantasia subjetiva e os artistas foram colocados na defensiva. Eles responderam
criando uma filosofia que consequentemente lança a arte como ferramenta de
subversão, uma maneira de enfiar o nariz na sociedade convencional” (E Agora,
Como Viveremos, p. 544).
Infelizmente,
porém, a sociedade tem pago um preço alto demais por essa arte subversiva, por
essa cultura irresponsável e, sobretudo, por esse entretenimento bestial.
Como
escreveu o jornalista (e amigo) José San Martin: “A natureza humana
decaída sempre desejará mais concessões. Vai querer sempre mais do pior que
puder alcançar. O ser humano rebelado contra os princípios do Criador vai
invariavelmente desejar agradar a si mesmo e nunca a Deus. Assim, de abismo em
abismo, todas as instâncias sociais vão sendo cooptadas, a exemplo do atual
governo com militantes liberais infiltrados em toda sua estrutura.”
Ele
finaliza: “Esta é crônica de um país que avança a cada dia para a tragédia.
Crônica de um mundo que tomou um caminho sem volta, o caminho da licenciosidade.
O caminho da luxúria. Um mundo que já está julgado e vive inconscientemente sob
uma terrível expectativa de destruição. Mas ainda há uma saída a tantos quantos
queiram romper as cadeias da escravidão espiritual, imposta por Satanás, o
inimigo de Deus. Hoje Deus oferece gratuitamente este escape.
FONTE CPAD NEWS
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